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SOBRE A PROMISCUIDADE NA POLÍTICA -  Marcelo Caetano criou em 1969 a “Conversa em Família” que a RTP transmitia. A coisa deve ter deixado lastro na mente do então muito jovem António Costa, que resolveu transpor a conversa familiar para dentro do Conselho de Ministros a que preside - e onde agora, depois da recente remodelação, estão além de um casal de marido e mulher, também a singela presença de um pai e sua filha. Tudo em família portanto, conversando. Não sei como é que isto se articula com as declarações republicanas e anti- nepotistas dos fundadores do PS mas os actuais detentores da marca deverão certamente saber o que fazem. Este incidente - menor mas significativo - da paisagem política recente é no entanto pouca coisa quando nos lembramos de outros incidentes, mais graves, que marcam um género de actuação que tem outros pontos de contacto com os hábitos, digamos, marcelistas. Vou apontar dois exemplos - a ingerência num relatório da OCDE, apresentado na sua versão censurada pelo Ministro Siza Lápis Azul Vieira, e, mais grave - perante a complacência dos sindicalistas da geringonça - a forma como a greve dos enfermeiros tem sido atacada: desde querer passar um parecer a força de Lei até à ingerência de uma entidade policial (a ASAE) para avaliar como foi feita a recolha de fundos dos grevistas. Se alguma destas actuações tivesse sido tomada por qualquer partido à direita do PS mil vozes se levantariam em nome da luta contra a prepotência. Mas de facto a geringonça tem um poder sedutor e anestesiante. Por falar nisso lembrei-me esta semana, a ver uma interessante série sobre Trotsky na Netflix, como muitas coisas do comportamento do Bloco e do PS se explicam se recordarmos o que a História nos conta. Pronto, era só um desabafo.

 

SEMANADA - Dos 27.367 beneficiários do regime fiscal do não residente habitual, 25 mil são pensionistas e só cerca de dois mil desenvolvem profissões de elevado valor acrescentado; uma mulher que foi morta na Golegã tinha feito queixa do agressor no ano passado, mas o assassino continuava a ser calmamente investigado pelas autoridades policiais sem que nenhuma medida tivesse sido tomada;  na escola António Arroio, encerrada esta semana devido a problemas com a electricidade no edifício, as obras de recuperação que decorriam estão interrompidas desde 2009; um juiz de um tribunal de Braga considerou curada e sem incapacidades uma mulher que ficou com dificuldades graves de locomoção após um acidente de trabalho; o número de famílias sobre-endividadas que procuram a ajuda da DECO voltou a subir no ano passado e totalizou 29.350 casos, maioritariamente de pessoas entre os 40 e 65 anos de idade; só três países da Europa de Leste (Eslovénia, Hungria e Bulgária) são piores do que Portugal em pobreza energética, segundo um estudo europeu que avaliou a capacidade de famílias manterem as suas casas com temperaturas confortáveis e pagar as faturas da energia; há mais de 2,6 milhões de subscritores de seguros de saúde; apenas 37% dos alunos acabam o ensino secundário sem chumbar pelo caminho; a OCDE considera que é preciso melhor o combate à criminalidade económica e  financeira em Portugal, incluindo a corrupção; a área semeada de cereais está a cair há seis anos consecutivos e desde 1918 que Portugal não cultivava tão poucos cereais; se o Independente ainda existisse já tinha um epicurista com vocação de repórter a almoçar frequentemente na Vela Latina para relatar os curiosos encontros que lá ocorrem.

 

CURIOSIDADES AFECTIVAS - Um agricultor de Oliveira do Hospital que perdeu o que tinha num incêndio, em 2017, recebeu do Presidente da República uma cabra, a que chamou Vitória, e deu o nome de Marcelo ao cabrito que agora nasceu.

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PEQUENAS HISTÓRIAS - Susan Sontag foi uma escritora e ensaísta americana, vencedora do National Book Award, colaboradora de revistas como a The New Yorker ou jornais como The New York Times. A sua actividade foi multifacetada, envolveu-se em causas políticas, escreveu romances e um ensaio ainda hoje de referência, “Sobre A Fotografia”. Mas ao longo de toda a sua vida dedicou-se também à ficção curta. “Histórias”, agora publicado pela Quetzal, reúne a totalidade da ficção breve que produziu, 11 textos, traduzidos por Vasco Teles Menezes, originalmente editados em publicações como as já citadas, mas também na Atlantic Monthly, na Harper´s Bazaar e até mesmo na Playboy e foram escritos entre 1963 e 1987. Estas histórias, salienta a nota de capa,  “passam pela alegoria, pela parábola e pela autobiografia, e mostram uma personalidade em confronto com problemas não assimiláveis pelo ensaio, a forma mais praticada por Sontag . Aqui Susan Sontag apanha fragmentos da vida, em relance, dramatiza os seus desgostos e temores mais íntimos e deixa que as personagens se apoderem dela como e quando querem”.

 

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SOLO DE CONTRABAIXO - O contrabaixo, instrumento volumoso e voluptuoso, tem uma sonoridade muito especial e várias formas de ser tocado.  Larry Grenadier é um dos grandes baixistas e o seu nome figura em numerosos discos de jazz e em muitas formações, com destaque para o seu trabalho com Brad Mehldau, Paul Motian, Joshua Redman ou Pat Metheny. Agora, pela primeira vez, e por insistência de Manfred Eicher, o fundador da  sua editora, a ECM, Grenadier fez um disco a solo onde ele é o único músico e o contrabaixo o único instrumento. O álbum chama-se ”The Gleaners”, inclui sete temas originais do próprio Grenadier e uma série de versões de compositores como Coltrane ou Gershwin. O tema inicial, “Oceanic”, é tocado com arco mas no resto do álbum predomina o dedilhar das cordas - entre o ritmo e a harmonia, com uma técnica arrebatadora e uma sensibilidade notáveis que são capazes, por exemplo, de replicar nas cordas o calor e a emotividade da voz de de Rebecca Martin na versão original, cantada, de “Gone Like The Season Does”.  É aliciante ouvir estes 12 temas onde os sons do baixo ocupam todo o espaço, permitindo ter uma ideia mais exacta do talento de Grenadier. “The Gleaners” está disponível em CD, vinil e no Spotify.

 

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A RELAÇÃO ENTRE O DESENHO E A ESCULTURA - Rui Sanches tem uma história curiosa. Começou por frequentar medicina, depois o ARCO e acabou por estudar no Reino Unido e nos Estados Unidos, onde completou a sua formação académica. Quando regressa a Portugal ensina em diversas instituições e desenvolve o seu trabalho artístico. Estamos a falar sobretudo da segunda metade dos anos 80, época em que a sua actividade se desdobra em diversas áreas e durante a qual colabora com vários outros artistas seus contemporâneos, participa em numerosas exposições - e começa a figurar em algumas colecções. Ao longo dos anos o desenho coexiste naturalmente com a escultura, de forma harmónica. No entanto são sobretudo as suas obras escultóricas - onde muitas vezes é patente a influência dos seus estudos de Medicina - que o tornam conhecido. Na escultura há recorrentemente uma evocação da figura humana, que também deixa uma marca nos desenhos, algumas vezes como que explorando a visualização do pensamento. A forma de trabalhar a madeira em conjugação com outros materiais tornou-se numa das suas imagens de marca (na imagem). Na semana passada inaugurou nova exposição de Rui Sanches na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18B, Campo de Ourique, Lisboa) com o título “Os Espaços Em Volta” onde mais uma vez junta a escultura e o desenho.

 

PROVAR - Nestes dias mais primaveris que invernais almoçar num varandim a poucos metros do Tejo e comer um peixe fresquíssimo é um daqueles privilégios lisboetas que fazem a inveja de muita gente. Junto à Doca Seca de Belém ficam uma série de construções, frente ao rio, que inicialmente eram apoios de clubes e associações de vela e que hoje, além dessa função, desenvolveram os restaurantes originais que tinham, remodelaram-nos e criaram uma nova oferta. O mais engraçado é que, sendo ao lado uns dos outros e sendo naturalmente concorrentes, dão-se todos bem. Um deles é sede do Clube Naval de Lisboa e hoje em dia é um dos mais procurados. Em baixo tem uma esplanada para petiscos que funciona ao longo de todo o dia e no primeiro andar tem uma boa sala com varandim fechado, além de uma outra sala, reservada para sócios do clube, onde estão os troféus conquistados pela agremiação, assim como fotografias de episódios da sua História. Sem desfazer na concorrência, a qualidade e frescura do peixe servido no Clube Naval é de facto impressionante - assim como o cuidado posto na grelha. Recentemente tive ocasião de fazer a prova dos nove com um besugo grelhado, peixe injustamente pouco apreciado, aqui obviamente não escalado. Há muito que não comia um peixe assim, fresco, saboroso, suculento, cozinhado no ponto. Antes disso umas belas ameijoas à bulhão pato e um queijo de cabra deram acompanhamento a um pão acima da média no que toca a couverts. Manda o bom senso que se marque mesa, que o sítio é procurado e fica no roteiro dos que por ali andam a passear. Restaurante do Clube Naval de Lisboa, Avenida Brasília, Doca Seca de Belém, telefone 213 636 014.

 

DIXIT - “Se o PSD perder as legislativas será por culpa própria e por incompetência” - Miguel Castro Almeida, vice-presidente social-democrata, para memória futura

 

BACK TO BASICS - “Encaremos os factos: na realidade as pessoas não querem uma broca, querem apenas um furo na parede” - Theodore Levitt



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O ESTADO NÃO GOSTA DE NOVIDADES QUE NÃO CONTROLE - O conflito entre a ADSE e os hospitais privados levanta uma situação curiosa. O Estado quer preços e condições especiais quando usa serviços privados. Mas porventura o Estado cobra menos impostos ou oferece vantagens a quem lhe faz descontos? Na realidade não é isso que se passa: o Estado paga atrasado, para além dos prazos convencionados, altera regras a seu bel prazer, não faz descontos em impostos, aumenta-os quando lhe apetece, muitas vezes cobra abusivamente e põe a máquina fiscal a executar dívidas, a empatar o funcionamento dos tribunais e a contestar as suas decisões de forma sistemática quando é reconhecida razão a privados. O Estado quer que todos sejam cumpridores mas ele próprio não cumpre e não dá o exemplo. Este é um dos principais problemas com que a sociedade portuguesa se debate, a herança do poder absoluto do Estado. Durante todas as décadas que levamos de democracia os partidos do arco do poder e os sindicatos que nele se movimentam acomodaram-se a isto mesmo, fomentaram a situação. E agora todos estão incomodados com aquilo a que chamam movimentos inorgânicos - leiam-se fora do controlo do Estado - quer sejam sindicatos, quer sejam novas organizações políticas. A exercício da cidadania fora dos cânones estabelecidos tornou-se uma heresia. É o retrato de um regime decadente.

 

SEMANADA - Mais de metade dos portugueses com idades entre os 24 e os 75 anos têm pelo menos uma doença crónica; os trabalhadores precários atingiram o valor mais alto desde 2011;  os bancos emprestaram quase 10 mil milhões de euros para a compra de casa em 2018,  27 milhões por dia, um aumento de 19% no crédito à habitação; no crédito ao consumo, em dezembro, foram emprestados 396 milhões de euros, o que compara com os 382 milhões de euros concedidos um mês antes; no total, em 2018, as novas operações de crédito ao consumo ascenderam a 4.660 milhões de euros, mais 10,3% do que em 2017; os portugueses pedem oito milhões de euros de crédito por dia para compra de carro; as dívidas com cartões de crédito atingiram 3,25 mil milhões de euros e há 137 mil devedores em incumprimento;  o número de apostadores em jogos online já ultrapassou o milhão; mais de dois terços dos autarcas portugueses são favoráveis à regionalização a curto prazo; o conselho de administração da Assembleia da República deu parecer negativo a uma proposta de estudos para avaliar a descentralização; João Cravinho, presidente da Comissão Independente para a Descentralização afirmou estar a ponderar a sua demissão; António Costa afirmou que só pretende debater a regionalização na próxima legislatura; o Governo deixou de fixar metas ambientais para veículos do Estado.

 

ARCO DA VELHA - O Parlamento vai passar a ter um Comité de Ética que avaliará a conduta dos deputados mas os partidos são contra a aplicação de multas aos infractores.

 

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A ARTE DE ENSINAR  - Agostinho da Silva é uma das figuras maiores do pensamento português do século XX, bem mais interessante que muitos outros condecorados que por aí andam, carregados de presunção e enfado. Agostinho da Silva era um pensador e um divulgador, alguém que tinha enraizada a noção da importância da transmissão do saber, da divulgação popular do conhecimento. Doutorado na Universidade do Porto em 1929, com apenas 23 anos, vai depois estudar na Sorbonne e regressa para leccionar no ensino secundário em Aveiro. Entre meados dos anos 30 e início dos anos 40 a sua actividade de divulgação é enorme, publicando numerosos ensaios e artigos. “Páginas Esquecidas”, a colectânea agora publicada pela Quetzal a partir de uma selecção de textos de Agostinho da Silva, feita por Helenas Briosa e Mota, permite descobrir essa parte da sua obra. Estes textos são os que deram a conhecer Agostinho da Silva aos portugueses naquela época e que o levaram a ser preso em 1943 pela polícia política - na altura ainda a PVDE. Desgostado com o que se passava em Portugal partiu para o Brasil, onde leccionou, ecreveu e trabalhou até ao seu regresso em 1969, já com Marcelo Caetano no poder e por influência de Adriano Moreira.. Muitos dos textos aqui incluídos foram publicados pela Seara Nova, outros em edição de autor, muitos em pequenos fascículos. Na época realizou conferências e publicou duas centenas de títulos sobre a história da cultura portuguesa, filosofia, literatura e divulgação cultural, nomeadamente nos Cadernos Para A Mocidade, Cadernos de Informação Cultural, e Introdução Aos Grandes Autores. É um formidável legado, como sublinhou Helena Briosa e Mota na introdução à recolha de textos agora publicada. Aqui estão meia centena dos seus textos mais marcantes dessas páginas esquecidas, desde as palestras radiofónicas sobre a História do Mundo, à apresentação da obra de nomes como Van Gogh, Goya ou Cervantes, passando pelo notável “O Sábio Confúcio” e a série dedicada aos construtores do mundo novo e aos clássicos da História.

 

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ADORO IMPRENSA - Sou um apaixonado leitor de imprensa, quer de jornais quer de revistas e gosto de seguir o que se publica. A edição mais recente da revista Time tem por título de capa “The Art Of Optimism” e apresenta 34 pessoas que são relevantes e inspiracionais, na sociedade norte-americana, mostrando o que estão a fazer. A edição é cuidada e permite-nos ter de forma sintética um retrato daquilo que tantas vezes passa despercebido. O conceito editorial foi dirigido por Ava Duvernay, uma realizadora e argumentista norte-americana. Coube-lhe seleccionar os 34 optimistas das mais diversas áreas - actores, músicos, fotógrafos, empreendedores, de diversas gerações. A revista está nos quiosques de todo o mundo e foi a minha companhia no fim de semana passado. É uma prova do que a imprensa pode fazer, criando memória futura ao mesmo tempo que reflecte sobre o presente. Entretanto, a propósito, um estudo divulgado esta semana pela Marktest mostra que em Portugal a imprensa continua a ter um importante papel como fonte de informação para segmentos relevantes da população.  De acordo com a Marktest a audiência média de imprensa no segundo semestre de 2018 foi de 51.3%, que corresponde à percentagem de portugueses que leu ou folheou a última edição de um qualquer título de imprensa analisado. Os jornais registaram 2,6 milhões de leitores neste período enquanto as revistas contaram com 3,3 milhões de leitores. Mas o mais significativo é que as pessoas entre 35 e 44 anos, quadros médios e superiores e os indivíduos das classes mais elevadas são quem tem mais afinidade com este meio, apresentando índices de audiência média de imprensa superiores ao universo.

 

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A BATERIA NO CENTRO DO TRIO  - Este disco é de um baterista, com bons pergaminhos ainda por cima - Bill Stewart. Mas o primeiro som que se ouve é o do saxofone de Walter Smith III, que é o segundo elemento do trio completado pelo baixista Larry Grenadier. Stewart é considerado um dos grandes bateristas contemporâneos e este novo álbum “Band Menu” é bom exemplo das suas capacidades. O diálogo que estabelece constantemente com o saxofone e o baixo é entusiasmante. Nalguns momentos parece que há uma voz que impõe um ritmo mas nunca se esquece da melodia. A forma como toca nos pratos da bateria é de uma enorme elegância. Neste  “Band Menu” há sete temas originais do próprio Bill Stewart, outro de Smith e uma versão de um de Bill Evans (“Re:Person I Knew”, com um notável desempenho do saxofone de Smith). Há uma construção comum, que parte da soma dos três instrumentos, cuja presença se intensifica sem nunca se atropelarem, sempre com a bateria de Stewart a ocupar um lugar central, a coordenar todo o trabalho do trio. Bill Stewart é um daqueles bateristas que desenvolveu um estilo muito próprio e reconhecível, com uma enorme sensibilidade graças a um movimento rápido mas contido das mãos. “Think Before You Think”, a faixa final do álbum, é um exemplo da musicalidade e improvisação que se consegue quando três talentos se juntam no jazz. Disponível no Spotify.

 

ENTRE A EMPADA E A MISTA - Empadas há muitas - mas empadas de vitela exemplares há poucas. Esta semana tive o prazer de descobrir um exemplar dessa espécie em vias de extinção. O recheio de vitela estava perfeito de consistência e tempero, a massa folhada obedecia a todas as regras, era fresca, leve e estaladiça. Trouxe-me à memória sabores antigos. Sabia mesmo a carne de vitela, suculenta, não era uma coisa compacta e sensaborona. A descoberta ocorreu na Fermenta, em pleno Bairro de S. Miguel, Alvalade, no início da  Rua António Ferreira. A Fermenta é um café com fabrico próprio que, além das empadas e de uns bons croquetes apresenta uns croissants muito atraentes, importados da histórica Padaria Ribeiro, do Porto nas suas diversas variantes - com destaque para os amanteigados. Além disso dispõe diariamente de pão da Gleba, nas variedades trigo alentejano, trigo barbela e centeio, além das edições especiais. Aceitam encomendas. Além disso as torradas e tostas mistas da Fermenta são feitas em pão da Gleba - e acreditem que uma tosta mista assim preparada ganha toda uma outra dimensão. No local também está disponível A Tarte e biscoitos da mesma Padaria Ribeiro. O café é italiano, Vergnano, o chá é Ahmad e a cerveja é a artesanal Musa. Telefone 938840236.  

 

DIXIT - “Para Rui Rio, o papel histórico da direita portuguesa reduz-se a isto: permitir ao PS governar sem precisar dos votos do PCP e do BE” - Rui Ramos

 

BACK TO BASICS - “Quando era novo, queria ser mais velho; agora que sou mais velho não tenho tanta certeza disso” - Tom Waits

 

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GREVE & CONSEQUÊNCIA - Em que estação do ano estamos? Se disserem Inverno enganam-se redondamente. A estação do ano em que estamos é o primeiro trimestre pré-eleitoral. Temos ao todo três pela frente, portanto imaginem o que aí vem a seguir. Todas as semanas são publicadas notícias airosas sobre as boas intenções do Governo para com os funcionários do Estado - desde a antecipação das reformas até  aumentos garantidos em 2020, convenientemente anunciados para depois das eleições legislativas. Diversos ministros compram resmas de maquilhagem que aplicam indiscriminadamente para tapar os diversos buracos e para tentarem melhorar o visual. Pelo meio de tanta promessa, há, no entanto, um contratempo. O PCP quer negociar com as armas que tem à mão - que como se sabe têm o seu expoente nas greves que vão sendo realizadas e anunciadas. O que aconteceu de mais curioso nestes últimos dias foi a coincidência entre o incrementar do ciclo grevista por sindicatos do universo CGTP e o surgimento de notícias sobre actos de gestão suspeitos em autarquias dirigidas pelo PCP. Este é um dado novo - não a ocorrência de moscambilhas, mas o seu anúncio público, a sua divulgação, metódica, precisa, a conta gotas, a deixar alastrar suspeitas. É uma espécie de aviso: se continuarem a encravar o futuro da geringonça, alguém põe a boca no trombone sobre o que foi acontecendo ao longo dos tempos e que esteve guardado para os malfeitores de direita não se aproveitarem. Cabe aos guardiões do poder da esquerda gerirem o ritmo das revelações. E se bem conhecemos a espécie hão-de estar cheios de sumarenta investigação. Caíu o manto diáfano da fantasia que garantia que no universo do PCP não há nada de reprovável. Aos poucos a verdade vai vindo ao de cima. Aposto que ainda surgirá com maior intensidade se as greves continuarem a aumentar. São estes os efeitos colaterais das greves. Há um odor a podridão no ar. Por todo o lado.

SEMANADA - Entre 2000 e 2018 Portugal foi ultrapassado pela Estónia, Lituânia, Eslováquia, Eslovénia, República Checa e Malta, em termos de rendimento por habitante, face à média europeia; segundo o Forum para a Competitividade, Portugal baixou de um rendimento de 84% da média europeia, em 2000, para apenas 74% em 2018; os imigrantes em Portugal que mais regressam ao país de origem são os brasileiros; a Câmara de Braga viu as suas contas penhoradas por uma dívida de 3,8 milhões de euros à Soares da Costa, relativa à construção do Estádio concebido por Souto de Moura para o Europeu 2004; o custo previsto do estádio era de 65 milhões de euros e o custo final foi de 180 milhões; a PSP e a GNR detectaram mais de um milhão de condutores em excesso de velocidade ao longo de 2018; um poema falsamente atribuído a Sophia de Mello Breyner tornou-se viral nas redes sociais e foi inclusivamente traduzido em várias línguas; o Facebook fez 15 anos; mais de 10% dos dentistas portugueses exercem no estrangeiro e afirmam não querer voltar; em dois dias da greve dos enfermeiros ficaram por realizar 645 cirurgias; a média de idades dos carros em circulação nas estradas portuguesas é de 21,6 anos; no ano passado o INEM registou 20 mil chamadas falsas que accionaram 7500 viaturas de urgência do serviço; um saco com seis granadas de mão foi encontrado na Rotunda dos Combatentes em Tábua; num ano o Estado apoiou 18 orfãos de violência doméstica; 85% dos casos reportados de violência doméstica não resultam em acusação; o secretário de Estado da Energia afirmou que o Governo “não tem planos para proibir o diesel” dias depois do Ministro do Ambiente se ter pronunciado pelo fim dos carros a gasóleo; Portugal apresentou, em 2017, a menor percentagem de crianças até aos 16 anos em bom ou muito bom estado de saúde (90,2%) da União Europeia,

 

O REI DO DESCARAMENTO - É oficial: votem em Costa que ele promete dar aumentos a toda a função pública em 2020 se continuar Governo após as legislativas  deste ano.

 

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O AMOR EM 366 POEMAS - Vasco Graça Moura era, além de tudo o resto, um coleccionador de poemas. E um grande tradutor. E ele próprio um poeta. Em 2003 atirou-se à tarefa de organizar uma antologia de poemas e escolheu 366 sobre o tema do amor  - o número foi estabelecido tendo em conta os anos bissextos. Na introdução Vasco Graça Moura escreveu que partiu “do princípio de que, sempre ou quase sempre, cada poema de amor seduz por si e vale por si e em si, sem prejuízo das inúmeras relações que, como texto literário, ele possa estabelecer com outros textos, com outras áreas da criação artística e com a nossa própria experiência humana”. Para este colectânea, agora reeditada pela Quetzal, Vasco Graça Moura seleccionou poetas portugueses, poetas brasileiros e uma série de poemas de autores de diversas nacionalidades que ele próprio traduziu para português. “366 Poemas Que Falam de Amor” é o título desta colectânea que em cerca de 560 páginas nos transporta ao universo da escrita sobre a paixão. “Amor não há feito”, destaca Vasco Graça Moura, citando Alexandre O’Neil. “Quem não me deu amor, não me deu nada” - escreveu Ruy Cinatti em “Linha de Rumo”, um dos poemas seleccionados por Vasco Graça Moura. E, já que o dia dos namorados está ao virar da esquina, deliciem-se com a possibilidade de oferecer estes “366 Poemas Que Falam de Amor”.

 

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DAVID LYNCH EM REVISTA - A “Zoetrope-All Story” é uma revista criada por Francis Ford Coppola para promover narrativas que possam aproximar-se da ideia de argumentos para filmes. A revista, que se publica quatro vezes por ano desde 1997, é frequentemente entregue pelos editores na mão de um nome de alguma forma ligado ao cinema. A edição mais recente, marcada como Inverno 18/19, foi colocada nas mãos e na imaginação de David Lynch. A frase que escolheu como nota introdutória diz tudo: “ Não sou já tão rápido como costumava ser, mas não desisto”. A Zoetrope All Story ganhou o National Magazine Award for Fiction em 2018, apresenta-se como uma publicação que só existe em papel e propõe ser o veículo para bons contadores de histórias e designers gráficos inesperados. Lynch cumpre nesta edição os dois papéis. A escolha de fotografias e ilustrações é perturbante, a maioria dos textos aguça o apetite para o que se poderia filmar a partir deles e. depois, há uma secção recorrente, de recuperação de textos antigos que desta vez é dedicada a “The Discipline of DE”, de William S. Burroughs, com nota introdutória de Gus Van Sant. A sério que se lembram de algo mais inesperado que isto? Pode ser encomendada na Amazon.

 

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AS NOVAS AVENTURAS DE JAMES BLAKE - Ao quarto disco James Blake mostra uma nova faceta - menos negra, mais optimista, de certa forma mais próxima. Continua confessional - afinal é esta a imagem de marca das suas canções. “Assume Form” é uma longa carta de amor de Blake a Jameela Jamil, a sua namorada, uma DJ conhecida na rádio britânica, argumentista e até actriz que tem tido uma carreira meteórica. Com este “Assume Form” Blake desvenda as suas relações, as suas emoções, a forma como vê o sexo, até  se aventura por uma perspectiva um pouco cínica da ideia de romance. A faixa final , “Lullaby For My Insomniac” é talvez a que melhor retrata este novo Blake, quando canta “I’ll stay up too/I’d rather see everything/As a blur tomorrow/If you do.” Já na faixa inicial ele tinha-se afirmado “I will be touchable/I will be reachable”. Do ponto de vista musical o disco mostra um compositor cada vez mais depurado, em muitos momentos a ficar perto do gospel, criando ambientes sonoros envolventes. Blake, que para além dos seus discos é um produtor musical de créditos firmados. assegurou colaborações de nomes como Travis Scott e de Metro Boonin, um dos mais reconhecidos nomes do hip hop. Outra curiosidade é a participação de Rosalia, a espanhola que está a trazer o flamenco para a primeira linha da pop, e a quem Blake presta o seu reconhecimento e manifesta o seu claro apoio. Resumo: “Assume Form” é talvez o melhor disco de Blake e um salto em relação à sua produção anterior. CD Universal, disponível no Spotify.

 

UMA BELA PROVA NO RESTELO - Esta semana, em duas ocasiões, fui tapear à noite - quer dizer, petiscar. Nada de jantar a sério, dois dedos de conversa entre amigos enquanto se trinca qualquer coisa. Vou começar pelo que correu mal - péssimo mesmo. No Bar de Tapas do El Corte Inglés nada esteve verdadeiramente bem e o serviço esteve verdadeiramente mal. É local a riscar - tenho saudades do 5Jotas que existia no topo do grande armazém e que era o contrário disto. Agora passemos ao que correu bem. Muito bem mesmo - uma descoberta. Trata-se da Enoteca Prova, no Restelo. Petiscos primorosamente preparados na hora, um serviço atento e simpático, a saber aconselhar, sempre disponível. para além da muito boa qualidade da matéria prima destacou-se a confecção de tudo o que se petiscou - do torricado às favinhas, passando por uma tábua de enchidos e queijos. Tudo acima da média. O local dispõe de uma ampla selecção de vinhos a preços honestíssimos e de uma zona de produtos diversos - bolachas, biscoitos, compotas, queijos, enchidos. Enquanto às tapas do  El Corte não voltarei, aos petiscos da Enoteca Prova regressarei sempre que possível. Fica na Rua Duarte Pacheco Pereira nº9-E, no Restelo, perto do célebre Careca. O telefone é o 215819080 e vale a pena marcar que os lugares não são muitos.

DIXIT - “Quando pela rua contacto os portugueses não peço o cadastro criminal, o cadastro fiscal, nem o cadastro moral” - Marcelo Rebelo de Sousa, em nota da presidência sobre a visita ao Bairro da Jamaica.

 

BACK TO BASICS - “Experiência é o nome que as pessoas dão aos seus erros” - Oscar Wilde.

 





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publicado às 12:45

A EUROPA PARECE UM BARCO À DERIVA

por falcao, em 01.02.19

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CONFIANÇA ZERO -   As próximas eleições para o Parlamento Europeu decorrem sob o duplo signo de uma crise profunda na União Europeia - de que o Brexit e a ascensão dos populismos é apenas a ponta do iceberg e, no caso de Portugal, que este ano acolhe três eleições - as europeias, as regionais dos Açores e Madeira e as legislativas - o ciclo eleitoral decorre perante um descrédito cada vez mais acentuado no funcionamento do sistema político. As eleições para o Parlamento Europeu estão marcadas para 26 de Maio e neste momento ninguém pode garantir se o Reino Unido nessa altura ainda estará dentro da União ou se o Brexit já se terá então concretizado. Melhor dizendo - ninguém neste momento pode garantir que não haverá adiamento, que não haja segundo referendo, que a Europa não engula uma tonelada de sapos e não volte atrás em tudo o que jurou sobre o Brexit. Enfim, o panorama geral é o de que nada está certo e que mais uma vez os políticos meteram os pés pelas mãos ao induzirem os cidadãos em erro e ao não conseguirem encontrar uma solução para a situação que eles próprios fabricaram. Na realidade o perigoso poker jogado por Cameron, quando convocou o referendo sobre o Brexit, transformou-se num pesadelo que assusta o sistema financeiro, cria graves problemas às economias do Reino Unido e de uma série de países da Europa e voltou a colocar na ordem do dia a questão da Irlanda - com a hipótese, até há pouco impensável - de ressurgir nova fronteira de arame farpado entre o norte e o sul da ilha, com todo o provável retomar e agudizar de conflitos que isso trará. Mas, passando para o caso português, uma sondagem, realizada a pedido da União Europeia, conhecida esta semana, indica que apenas 17% dos portugueses confiam nos partidos, somente 37% no Parlamento e só 43% manifestam confiança no Governo. Trocado por miúdos a maioria não acredita em nada disto. É um balanço terrível do funcionamento do sistema, que cada vez se parece mais com um barco desgovernado que partiu amarras e saíu desarvorado sem destino.

 

SEMANADA - Segundo a Provedoria da Justiça os portugueses estão a esperar dez meses para ter a reforma atribuída quando a lei prevê resposta em 90 dias e o número de queixas por atrasos na atribuição de pensões triplicou em 2018; no ano passado os portugueses gastaram 2.431,8 milhões de euros em apostas desportivas e jogos de fortuna e azar online; os preços da banda larga móvel caíram em 2018, mas em Portugal estes custos ainda são mais caros do que a média da União Europeia; 47% dos portugueses não foram ao dentista em 2017; entre 2001 e 2017 o número de pescadores diminuíu 56%; em 2018 foram apreendidos 1938 telemóveis nas cadeias e segundo o sindicato dos guardas prisionais o número não reflete a dimensão real do problema, que é muito maior;  em Portugal cerca de 915 mil mulheres trabalham ao sábado, mais de 538 mil trabalham ao domingo, 382 mil trabalham por turnos e 162 mil à noite, o que lhes dificulta a conciliação do trabalho com a família; o juiz Neto de Moura, conhecido por evitar condenar a violência doméstica, resolveu eliminar as medidas coercivas aplicadas a um homem que rebentou o tímpano da mulher ao soco; mais de 219 mil pessoas receberam o Rendimento Social de Inserção em janeiro, o valor mais elevado dos últimos três meses; o actual Governo efectuou mais cativações financeiras em três anos que o anterior executivo em quatro; esta semana encerrou a Tema, a maior loja de revistas e jornais estrangeiros de Lisboa, localizada nos Restauradores, devido à perda de clientes portugueses que praticamente desapareceram da zona, substituídos por turistas.

 

PENSAMENTOS OCIOSOS- Enquanto a Amazon procura afinar um sistema de entrega por drones, alguns reclusos portugueses já conseguiram introduzir telemóveis e drogas nas prisões precisamente com recurso a drones: Portugal sempre precursor na adopção de novas tecnologias...

 

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UMA EDIÇÃO FRACA - Já se sabe que a revista “Monocle” é uma grande utilizadora criativa do conceito de conteúdos patrocinados, frequentemente dissimulados de forma editorial elegante e sedutora. O grafismo da revista continua contemporâneo apesar de não ter tido muitas evoluções desde que foi lançada em 2007. Em contrapartida o espaço ocupado por conteúdos patrocinados tem vindo sempre a aumentar, por vezes demais, até se chegar a esta edição sobre França que é insultuosamente dedicada a propagandear aquele país quase sem deixar escapatória aos leitores para outros assuntos. Tyler Brulé, um misto de canadiano com nórdico, é um admirador confesso de Macron, deposita nele as esperanças da Europa e fez aliás questão de afirmar que a sua revista vai deixar de ser impressa no Reino Unido por causa do Brexit. Mudou a sede das suas operações para a Suíça e passa a imprimir na Alemanha - desta edição em diante. Talvez por ser excessivamente dedicada a um país que passou o século XX, nos seus grandes conflitos, a claudicar e render-se,  esta edição da “Monocle” é fraca e muito pouco interessante. Não há muitas coisas que me agradem em França, a pose arrogante e o discurso pretensioso de muitos franceses faz-me espécie e provoca-me uma rejeição natural - Macron não é excepção. Uma nota de humor, mas que reflecte algum desleixo editorial, surge numa página dedicada a citar Mário Centeno a propósito do Brexit, com a particularidade de a sua fotografia estar trocada. Ainda pensei que fosse fruto de alguma cativação que lhe tivesse alterado as feições, mas é mesmo erro.

 

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AS VISTAS DO PAÍS - Nos últimos anos têm surgido um pouco por todo o país galerias e centros, muitas vezes ligadas de alguma forma a autarquias, onde com poucos recursos se vai fazendo um trabalho importante de divulgação da obra de artistas contemporâneos portugueses fora do circuito das grandes cidades, dos museus de maior dimensão e das mais activas galerias comerciais. Por exemplo o Centro de Artes de Águeda apresenta trabalhos de Pedro Calapez sob a designação comum “Terra” (na imagem uma das obras) que ali estarão expostos até 17 de Março. “O desenho é uma das formas mais antigas e perfeitas de interpretação e criação do mundo” - este é o mote para o conjunto de exposições designadas por “O Desenho como Pensamento” onde a presente mostra de Pedro Calapez está integrada. Até há poucos dias, no Centro Internacional de Artes José de Guimarães, em Guimarães, esteve patente uma mostra de trabalhos de desenho de Rui Chafes, muitos deles inéditos. E em Famalicão, na Ala da Frente, uma galeria municipal, está uma exposição de 29 desenhos a carvão sobre papel de Alexandre Conefrey, sob o título “Anima Mea”, que ali ficará até 18 de Maio. Bem recentemente esta galeria acolheu trabalhos de nomes como José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Alberto Carneiro, Rui Chafes ou Jorge Molder.

 

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SEMPRE O PIANO - Tenho uma atracção especial pelo som do piano e pela sua utilização no jazz. Esta semana descobri o novo disco do quarteto do pianista alemão Florian Weber, “Lucent Waters”, e fiquei fascinado desde as primeiras notas. Ao longo dos oito temas os músicos criam uma tensão permanente, sempre com o piano em local central a articular o diálogo com os outros instrumentos, criando uma relação próxima com todos, mas destacando de forma especial o trabalho elegante do trompetista Ralph Alessi, sobretudo num belo solo em “Buttelfly Effect”. Destaque também para a discreta baixista Linda May Han Oh em “Honestlee” e para o subtil baterista Nasheet Waits em “Time Horizon”. Finalmente “Fragile Cocoon” é um bom exemplo do entendimento entre todos os músicos deste quarteto. Duas influências marcantes de Weber são Paul Bley e Lee Konitz, detectáveis em vários pontos deste registo. CD ECM, disponível no Spotify.

 

O SABOR DE DOIS MUNDOS - Na avenida Conde Valbom há um restaurante que junta dois mundos: a gastronomia da Índia e a de Marrocos. Quando abriu, há uns anos, o Restaurante Marrakesh dedicava-se só à cozinha de inspiração árabe e era rigoroso: não disponibilizava bebidas alcoólicas aos seus clientes. Entretanto já há uma escolha limitada de vinho, o que sempre ajuda a acompanhar tagines e couscous que continuam cheios de sabor e de aromas. Quando os clientes se sentam à mesa surgem dois menus - o árabe e o indiano. Ambos têm múltiplas escolhas com os pratos mais tradicionais de cada origem. Há um enorme cuidado na confecção. Depois de ter aprovado tagines e couscous em visitas anteriores, esta semana deliciei-me com um prawn karahi, camarão picante num molho intenso, que antecedeu - numa refeição partilhada - um chicken tika, que chegou fumegante e cheio de bons aromas. O arroz basmati foi o acompanhamento escolhido e a refeição terminou com um gelado de gengibre, artesanal, e que tinha mesmo gengibre. Serviço atencioso, paladares intensos, preço honestíssimo para a qualidade. Restaurante Marrakesh, Avenida Conde de Valbom 53, junto à Avenida Miguel Bombarda.

 

DIXIT - “O primeiro-ministro e o ministro das Finanças ora fazem de polícia bom, ora de polícia mau” - Assunção Cristas sobre a estratégia negocial do Governo com os sindicatos

 

BACK TO BASICS - “Gosto de jornais, mas alguns têm um grande problema - não são bem escritos; a sobrevivência dos jornais diários em papel depende muito da forma como as pessoas escrevem” - Karl Lagerfeld.

 

 




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MASCARADA - Este ano temos três eleições: as eleições para o Parlamento Europeu, as regionais dos Açores e Madeira e depois as legislativas nacionais. Para falar claro, isto vai andar num virote. Para além das actividades eleitorais clássicas este ano vamos assistir a uma nova forma de campanha: a proliferação de greves, que pretende moldar a forma como evoluirá o Governo e que é a forma de pré-campanha do PCP. Os sindicatos - já ouvi várias pessoas actualmente envolvidas em negociações laborais dizerem - têm instruções para fazerem greve e para multiplicaram e visibilidade das suas formas de luta. O PCP quer mostrar o peso que tem e não vai perder a oportunidade para fazer valer as suas tropas, procurando afirmar o contraste com o Bloco na contagem de espingardas da coligação. Neste conjunto de eleições há muitas coisas em jogo: a medição da sensibilidade e participação dos eleitores face a uma europa cada vez mais polémica e afastada dos cidadãos; a manutenção dos equilíbrios políticos nos Açores e Madeira; e, mais que tudo o resto, a evolução do PSD, a capacidade de resiliência eleitoral do PCP, as potencialidades dos novos partidos, nomeadamente da Aliança e da Iniciativa Liberal - os outdoors desta última são dos melhores que têm aparecido na propaganda política portuguesa. Vamos ver como isto corre num país onde todas as semanas há novos escândalos que envolvem políticos. Serão as eleições capazes de dar uma varridela no sistema? Ou o sistema vai continuar a viver de um jogo de máscaras?

 

SEMANADA - Em Portugal morreram 19 pessoas nos últimos três meses a tentar aquecer a casa; os entertainers da “Quadratura do Círculo” mudaram-se da SIC Notícias para a TVI24, o programa vai passar a chamar-se “A Circulatura do Quadrado” e Marcelo Rebelo de Sousa será o primeiro convidado; Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que se irá recandidatar;  Portugal é o segundo país da Europa onde o trabalho precário mais subiu; as detenções por violência no desporto dispararam 34% nas duas últimas temporadas; 13 ex-governantes foram gestores da Caixa Geral de Depósitos entre 2000 e 2015 com Santos Ferreira e Faria de Oliveira a terem liderado o banco no período mais crítico, entre 2007 e 2012; Armando Vara recebeu um bónus de 167 mil euros referente ao período em que foram concedidos parte dos créditos de risco que levaram a perdas da Caixa; entre 2008 e 2017, o Estado gastou 16,7 mil milhões de euros com ajudas à banca e há mais 5,5 mil milhões em risco que podem levar o total para 23,3 mil milhões; a Comissão Parlamentar para a transparência está a trabalhar há três anos sem ter ainda divulgado conclusões; Portugal caíu um lugar no indíce da percepção da Corrupção; setenta por cento dos pagamentos realizados em Portugal são feitos em dinheiro; os portugueses consomem por ano 12,3 litros de álcool per capita; Portugal vai exportar carne de cerca de dez mil porcos por semana para a China, com um volume estimado de 100 milhões de euros por ano; o número de efectivos das Forças Armadas caíu 28% na última década e meia e mais de metade dos soldados deixa a tropa antes do fim do tempo previsto.

 

ARCO DA VELHA - O Tribunal de Arouca estava com o alarme avariado há um ano e foi assaltado, tendo os ladrões levado o dinheiro que estava num cofre.

 

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POLITIQUICES - A falta de honradez política, a corrupção, o compadrio - tudo coisas que abundam neste cantinho, são geralmente boa matéria para falar da verdade sob o manto diáfano da ficção. Até a RTP1 se lançou nesta  senda com uma série estreada há dias - “Teorias da Conspiração”. Se se conseguisse perceber o que os actores dizem a coisa podia ser simpática, mas assim só posso apreciar a beleza plástica da fotografia. A série - vamos ver como corre - estreou no momento em que a Operação Marquês entra em nova fase e em que os indícios de que algo não está bem por aquelas bandas se avolumam. Ao mesmo tempo  a editora Guerra & Paz lançou um muito educativo “A Deslumbrada Vida de João Novilho”, um romance passado no imaginário município de Rio Novo de Mil Nomes, onde o autarca João Novilho é um catálogo de muito a que temos assistido em matéria de pouca-vergonhice na actividade partidária e dos múltiplos expedientes que se utilizam com o objectivo único de assumir e abusar do poder, nem que seja transitoriamente. Cito aqui um excerto do livro, numa exemplar fala de Novilho: “Eu sou da ética, sim senhor. E sabes porquê? Porque sou capaz de defender com fundamentação um ponto de vista e o seu contrário. E ética é isso mesmo: uma retórica, a criação de uma sensação que está bem seja lá o que fôr.” Onde é que eu já vi isto?

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AGENDA PLÁSTICA - A partir deste sábado na Galeria 111 (Campo Grande 133) pode ver uma exposição colectiva que assinala mais um aniversário daquele espaço, que já ultrapassou o meio século de existência. Nesta colectiva estão obras de artistas como Costa Martins, João Vieira, Paula Rego, Vieira da Silva, Júlio Pomar, António Palolo, Ana Vidigal, Lourdes Castro, Manuel Batista, Miguel Teles da Gama ou Menez, entre muitos outros. Na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) vale a pena ir ver “Sexo, Escondidas E Uma Parede”, de Rodrigo Oliveira (na imagem uma aguarela que faz parte da instalação). Na Módulo (Calçada dos Mestres 34 ) ainda pode ver até sábado a exposição de novos trabalhos de Marco Moreira. No Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva (Praça das Amoreiras 16)  está até 17 de Março “Da História das Imagens”, de Manuel Casimiro. Com curadoria de Isabel Lopes Gomes, a exposição reúne cerca de 100 obras em torno da imagem fotográfica, que o artista tem vindo a desenvolver desde os anos 70.

 

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OUVIR - Há dias encontrei um dos autores do saudoso programa radiofónico “Praça de Espanha”, Carlos Oliveira Santos, a passear entre robôs numa exposição no MAAT. Palavra puxa palavra e falámos de Rosalia - exactamente porque a conversa caíu logo na música espanhola. Rosalia, meus amigos, é um caso sério. Muito sério mesmo. Rosalía Vila Tobella , assim se chama a voz, tem 25 anos, nasceu na Catalunha e tem por missão explicar ao mundo os encantos do flamenco numa visão contemporânea. Aqui há uns tempos li uma teoria que explicava que no início deste século uma série de novos produtores de música pegaram nas tradições folk de vários países, aplicaram as novas técnicas de produção e mistura e criaram um género baseado no tradicional, mas com sonoridades que evocam pontualmente as pistas de dança, com um acentuar do baixo e percussões eléctricas. Rosalia pode incluir-se nesta área, doseando com cuidado a acústica do flamenco com a electrónica. “El Mal Querer”, o seu segundo disco, é exemplo disso mesmo - combina o flamenco com sonoridades dos rhythm and blues tudo sobre narrativas contemporâneas - onze canções sobre o amor e os desamores, cada uma escrita como se fosse um capítulo diferente do romance com títulos como “Malamente”, “De Aquí No Sales”, “Reniego”, “Maldicion” e, a finalizar, um poderoso “A Ningún Hombre”. Não por acaso certamente Rosalia é uma das vozes convidadas por James Blake no seu novo álbum. “El Mal Querer” está disponível no Spotify.

 

PROVAR - Durante bastante tempo ouvir falar em brócolos provocava-me arrepios. Nem sei mesmo se alguma vez cheguei a prová-los ou se me limitava a dizer que não queria, como os meninos pequenos. Seja como fôr, aqui há uns anos, sem eu perceber bem como, os brócolos entraram na lista de ingredientes vulgares na minha vida. Fui fazendo testes e não precisei de testar muito para perceber que brócolos frescos do mercado são melhores que brócolos ensonsos do supermercado. Depois percebi que a flor do brócolo e delicada e não deve ser cozida demais sob pena de perder toda a graça. Aprendi a preferi-los al dente, para manterem sabor e consistência. Uns tempos depois  passei a usar só a parte florida, tirando os caules - e aí descobri um mundo novo - cozer levemente a parte da cabeça do brócolo, separar as suas flores e misturar com arroz carolino ou, o melhor de tudo, com uma boa massa. A descoberta deste cocktail nasceu quando provei um dos petiscos do Chef Marcello Di Salvatore, do Bella Ciao (Rua de S. Julião 74). Trata-se de um prato de orecchiette com as flores de  bróculos bem separadas, envolvidas num molho de anchovas e queijo grana padrano. Se os brócolos já se tinham tornado comestíveis, nesse dia tornaram-se apetecíveis. E assim passei a gostar de brócolos.

 

DIXIT - “É indelével a sensação de que algo na Justiça não está a correr bem e de que se preparam grandes acções. Ou reviravoltas. Não se esconde a ideia de que a Justiça pode ser fonte de surpresas a breve prazo. É uma questão inescapável: estará em curso um movimento de revisão dos grandes processos pendentes?”  - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Começar é a parte mais importante de qualquer trabalho”  - Platão

 

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