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OS ASSASSINOS DA CIDADE - Nos últimos dias vários amigos que vivem em zonas históricas de Lisboa disseram que estão a ponderar sair das casas onde sonharam viver porque já não aguentam o barulho e a feira permanentemente instalada por todo o lado. Percorre-se a cidade e ela está desfigurada - basta olhar para o que permitiram fazer no Jardim de São Pedro de Alcântara, invadido por barracas horríveis e um barulho constante. Ali deixou de haver miradouro, um dos melhores locais para se apreciar as sete colinas está reduzido a uma feira foleira. Um pouco mais à frente o Princípe Real é o retrato do caos. No ar sente-se tensão, à noite o barulho continua, quem ali mora deseja fugir e os alojamentos locais multiplicam-se a uma velocidade desconcertante. Não vejo isto em nenhuma outra capital e cidades há, como Berlim, onde acabou de ser decretado o congelamento do preço das casas durante cinco anos para tentar travar a especulação imobiliária. Dez cidades (Amesterdão, Barcelona, Berlim, Bordéus, Bruxelas, Cracóvia, Munique, Paris, Valência e Viena) pediram a intervenção da União Europeia para impedir o crescimento explosivo do Airbnb, que está a pôr os habitantes locais para fora de suas casas. Contraste: em Lisboa o executivo municipal parece apostado em fomentar uma política de expulsão dos habitantes da cidade. Como afirmava Ana Margarida Carvalho num texto sobre a situação em Lisboa, a propósito do ruído e da confusão permanentes: “Se calhar, a ideia é mesmo essa: tornar de tal maneira insuportável a vida em bairros residenciais, até que estes deixem de ser residenciáveis.”. A edição mais recente da revista “Monocle” coloca Lisboa na décima posição entre as melhores 25 cidades, mas sublinha: “O fluxo de entrada de pessoas coloca questões sobre o turismo descontrolado, nomeadamente o aumento das rendas de casa, situação particularmente dramática num país que tem o menor salário mínimo da Europa Ocidental”. A Câmara Municipal, sugere a revista, “deveria agir rapidamente para evitar que os habitantes locais, que são quem dá vida à cidade tenham que sair para longe”.
SEMANADA - Segundo um organismo do Conselho Europeu Portugal ignorou a maioria das recomendações para aplicação de medidas anticorrupção relativamente a parlamentares, juízes e procuradores; o Ministro das Finanças disse que as cativações não afectam o Serviço Nacional de Saúde; Marcelo Rebelo de Sousa afirmou-se preocupado com o calendário de “contenção de despesas”; o hospital da Guarda está em ruptura com falta de médicos e equipamentos; a Urgência do Hospital de Santa Maria tem escalas incompletas para 17 dias de Agosto; nas maternidades portuguesas faltam 150 obstetras; a maternidade Alfredo da Costa só tem anestesistas para cinco dias em Agosto; um estudo desenvolvido pela Fundação da Aliança de Democracias indica que Portugal é o terceiro país do mundo onde menos se acredita no governo; a compra de casas a pronto e em dinheiro está a aumentar; os partidos políticos têm um património imobiliário superior a 50 milhões de euros, a maioria isenta de IMI; apesar de proibidos os copos descartáveis continuaram a ser usados nas festas de Lisboa; m 2018 registaram-se 6536 visitas para sexo nas prisões portuguesas; o número de funcionários públicos aumentou 26 mil desde 2016; há quatro mil projectos urbanísticos pendentes na Câmara Municipal de Lisboa, com um atraso considerável e há casos em que as decisões são tomadas de forma mais rápida sabe-se lá porquê.
ARCO DA VELHA - Em Guimarães um conjunto de salas de ensaio equipadas, que custaram cerca de 800 mil euros e se destinavam a apoiar o trabalho de músicos locais, foram demolidas três anos depois de terem sido inauguradas devido a falhas estruturais no edifício.
CONTAR HISTÓRIAS EM IMAGENS - Como Carolina Trigueiros escreve no texto sobre a exposição “Sal Nos Olhos”, que abriu sábado passado na Galeria Diferença, Ana Vidigal “é uma contadora de histórias” que nas suas obras estabelece conexões de pessoas, lugares e momentos. Da mesma forma as obras de Ana Vidigal são histórias, que recorrem à utilização de recortes de imagens e texto, com recurso à colagem e também à pintura, num processo de cruzamento de informação com um enquadramento plástico que faz cada obra transcender o significado inicial das referências que utilizou. São obras de intervenção, mas acima de tudo de observação do mundo à sua volta, sempre com um sentido de humor acutilante. Frequentemente mostram um olhar entre o crítico e o desapontado, mas na maior parte das vezes são uma narrativa crua que se desenvolve como um manifesto das suas ideias. Também na Diferença, em simultâneo com a exposição de Ana Vidigal, Hugo Brazão, um artista madeirense que trabalha em Londres, faz uma incursão entre a ficção e a realidade. Partiu de uma descoberta científica na Ponta de São Lourenço, na Madeira, para especular sobre os efeitos do erro humano no ambiente. “O’Mouse an’Man” de Hugo Brazão e “Sal Nos Olhos” de Ana Vidigal estão na Diferença até 27 de Julho - Rua de São Filipe Neri 42.
ROTEIRO - Hoje destaco uma peça teatral - Sábado e Domingo são os últimos dias para poder assistir a “Gertrude Stein e Acompanhante”, uma peça de Win Wells que desenvolve em cena um diálogo improvável entre a escritora e poetisa americana Gertrude Stein e a sua companheira de 36 anos de vida, Alice B. Toklas, levando-a a falar sobre os seus assuntos preferidos: ela própria, a literatura, a pintura, as artes. O espaço cénico e os figurinos são de António Lagarto e em palco estão Cucha Carvalheiro, Lucinda Loureiro e Nuno Vieira de Almeida. Na sala Mário Viegas do Teatro de S. Luiz. Voltando às exposições destaco “A Chuva Cai Ao Contrário”, uma mostra marcante de João Jacinto na Sociedade Nacional de Belas Artes (Rua Barata Salgueiro 36, até 20 de Julho). Trata-se de um impressionante conjunto de obras de grandes dimensões, numa montagem excepcional num corredor artificial criado no salão nobre da instituição. As 24 obras apresentadas foram aliás propositadamente feitas para este espaço, numa exposição patrocinada pela Fundação Carmona e Costa e com curadoria de Manuel Costa Cabral e Nuno Faria.
CALIFORNIA SOUNDS - Mesmo quando julgamos que Springsteen não nos podia surpreender, eis que, quase aos 70 anos, ele dá de novo sinais de vida. Depois da sua experiência de estar um ano, noite após noite num pequeno teatro da Broadway, o seu novo disco, “Western Stars” salta para os grandes horizontes americanos e entra musicalmente pela música country e por evocações da sonoridade pop dos anos 60 e 70 de uma forma que ele não havia ainda feito. Este é, digamos, um disco californiano - em vez de operários nas fábricas surge a história de um actor secundário cuja fama vem de ter levado um tiro de John Wayne num western. Os arranjos musicais fazem também lembrar a época, há momentos em que se sente quase a presença do som de Phil Spector e nos coros há um trabalho vocal que não se encontra habitualmente nos discos de Springsteen - que se posiciona ele próprio como um actor que está a querer desempenhar um papel diferente do habitual. “There Goes My Miracle” mostra-nos Springsteen a cantar de forma pouco usual e “Hello Sunshine”, quase no fim do disco, é um exemplo perfeito de todo este “Western Stars”, tal como, aliás “The Wayfarer” ou “Drive Fast (The Stuntman)”.
DE ONDE VEM A VIAGEM? - Michel Onfray é um filósofo francês que escreve sobre temas que incluem a gastronomia, a história, a pintura e a geografia, entre outros. Assume-se como um hedonista, numa pose quase libertária e tem cerca de meia centena de títulos publicados. Em tempos “Teoria da Viagem” já havia sido editado em Portugal, mas foi agora recuperado na bela colecção “Terra Incógnita”, que sob a direcção de Francisco José Viegas está a oferecer edições muito interessantes. Publicado em França em 2007, e como refere o editor no preâmbulo, este “Teoria da Viagem” cruza “a literatura propriamente dita com uma aproximação irregular e melancólica à geografia, a poesia com a prosa. O livro fala do desejo de partir, sobre o que nos leva a querer viajar - “Sonhar com um destino é obedecer a um imperativo que, no nosso íntimo, fala uma língua estrangeira.». E que poderemos encontrar nesta obra? - perguntas como qual é a origem do desejo de viajar? Por que razão nos sentimos mais nómadas ou mais sedentários? Porque somos impelidos para o movimento constante, a deslocação, ou amamos o imobilismo e as raízes? O objectivo da colecção "Terra Incógnita" é reunir "títulos e autores que desprezam a ideia de turismo e fazem da viagem um modo de conhecimento".
PROVA ALBICASTRENSE - Volta e meia o acaso leva-nos a um restaurante desconhecido e que nos deixa boas recordações. Numa recente viagem pela Beira Baixa descobri O Palitão, que fica numa urbanização relativamente recente de Castelo Branco e que pratica a gastronomia da região. Em primeiro lugar destaco a simpatia e eficácia do serviço, em segundo lugar o cuidado em pormenores como um pão de boa qualidade, embrulhado em pano como deve ser. Do ritual deste restaurante faz parte um cortejo de entradas que inclui ovos mexidos com farinheira, espargos selvagens, saladas frias de polvo e orelha e grão com bacalhau, além de uma salada de tomate saborosa como poucas. Nos pratos principais provaram-se os filetes de polvo e o laminado de carnes que são propostos com uma variedade de acompanhamentos, incluindo arroz com feijão e migas. O prato do dia era ensopado de borrego, elogiado noutras mesas. A garrafeira é variada, os preços são sensatos e a doçaria inclui bolo rançoso e sericaia. As operações são dirigidas por Frederico Vinagre, que ali se estabeleceu há 14 anos. O Palitão fica na Avenida de Espanha Lote 7, o telefone é o 272 323 608. A casa enche cedo, vale a pena marcar.
DIXIT - A corrupção é uma "epidemia que grassa pela sociedade" e isso em parte deve-se também a um sistema partidário que escolheu a via do "encastelamento", onde "o mérito foi substituído pela fidelidade partidária" e no qual "a administração pública foi colonizada" pelos partidos - Ramalho Eanes.
BACK TO BASICS - “O principal sinal de que a corrupção está bem viva numa sociedade é a ideia de que os fins justificam os meios” - Georges Bernanos
ABUSO CAMARÁRIO - Por estes dias muitos munícipes lisboetas receberam uma carta da Câmara Municipal de Lisboa, assinada pelo seu Vice-Presidente, que paga juros sobre a Taxa Municipal de Protecção Civil criada pelo PS na autarquia e que mais tarde foi considerada ilícita. O Município primeiro devolveu os valores indevidamente cobrados e agora enviou os juros indemnizatórios. Cada carta, recebida através dos CTT, incluía um vale postal com o valor calculado para cada munícipe. O meu tem o valor de 5,06 euros. Por acaso gostava de saber qual foi o encargo global da devolução da taxa indevidamente cobrada e dos juros indemnizatórios através deste processo - algum dos autarcas em exercício devia ser responsabilizado pelo abuso na cobrança e pelos custos que provocou. Imagino que para me devolverem os cinco euros tenham gasto quase tanto no envio do correio e emissão do vale postal. Já aquando do reembolso do valor indevidamente cobrado fiquei a pensar porque é que não tinha sido transferido para a conta bancária de onde foi feito o pagamento - e agora tenho exactamente a mesma dúvida. Mas suspeito que o clã de Fernando Medina aposte na possibilidade de muitos destinatários do vale postal não terem paciência para as intermináveis filas dos CTT ou dos balcões dos bancos e que deixem passar o prazo de um mês em que o vale postal permanece válido. Os expedientes contra os cidadãos são intermináveis na autarquia lisboeta. Quem fez disparate foi a Câmara, quem tem que ir perder tempo são os cidadãos. É o mundo simplex.
SEMANADA - O antigo director de grandes empresas da CGD revelou que Joe Berardo enviou uma carta a Santos Ferreira pedindo um financiamento de 350 milhões para a compra de acções do BCP; Victor Constâncio recebeu Berardo no Banco de Portugal um mês antes da reunião da instituição onde a acta sobre a operação em torno do BCP foi aprovada e na qual esteve presente o Governador; uma fonte próxima de Berardo disse que “o comendador está incrédulo com a falta de memória de Vítor Constâncio acerca de uma reunião a sós, em julho” de 2007; Faria de Oliveira, ex-Presidente da CGD, defendeu que o Banco de Portugal poderia “ter ido mais longe” nos alertas sobre Joe Berardo; o empresário Joe Berardo admitiu poder vir a chamar Constâncio como testemunha no processo que a banca lhe moveu para recuperar 962 milhões de euros em dívida; Duarte Caldeira, o líder do Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil, afirmou que “o Governo não fez a devida avaliação do que ocorreu” nos incêndios de 2017; em três meses registaram-se quase quatro mil casos de agressões a idosos; um homem residente em Valpaços foi apanhado 17 vezes a conduzir sem carta e o tribunal de Guimarães aplicou-lhe pena suspensa; os funcionários públicos têm hoje em média 47 anos, mais 3,4 do que em 2011; apenas 61% dos obstetras do país trabalham no Serviço Nacional de Saúde e os blocos de parto dão sinais de ruptura; Portugal tem 159 idosos por cada 100 crianças.
ARCO DA VELHA - Os CTT são a marca com maior número de reclamações registadas no Portal da Queixa e desde o início do ano, até ao dia 17 de junho, registaram-se 2.743 queixas referentes aos CTT e CTT Expresso.
ARQUIVOS DE IMAGEM - Martin Scorsese diz que a música é uma parte importante da sua actividade criativa e costuma citar o filme “Jazz In A Summer’s Day”, que mostra os bastidores e os palcos do Festival de Newport ao longo de um dia em 1959, como o exemplo de filme sobre o mundo da música que o fascina (este documentário, de Bert Stern e Aram Avakian está disponível no YouTube). Scorsese estreou-se a filmar música com o seu registo “The Last Waltz”, sobre o derradeiro concerto do grupo The Band em 1976 - e foi aí a sua aproximação a Bob Dylan, de quem tinha visto dois ou três concertos até então. Em 2005 Scorsese realizou um documentário sobre Dylan que fez história: “No Direction Home”. E agora foi Bob Dylan que o desafiou para pegar em material inédito filmado em 1975, durante a digressão Rolling Thunder Review, para mostrar o que então se tinha passado. Essa digressão foi pensada pelo próprio Dylan como uma espécie de circo itinerante que iria ser apresentada em pequenas salas na costa leste dos Estados Unidos e no Canadá. Dylan juntou à sua volta uma troupe interessante - músicos como os guitarristas Roger McGuinn (figura central dos Byrds), Mick Ronson, T Bone Burnett, Ramblin´Jack Elliott, o violinista Scarlet Rivera, Joan Baez e Joni Mitchell, mas também o poeta o poeta Allen Ginsberg e o actor e escritor Sam Shepard (que escreveu um diário da digressão durante essas semanas). O próprio Dylan contratou uma equipa de filmagens para seguir e documentar toda a digressão que foi também registada em fotografia por Ken Regan (como a imagem que aqui é reproduzida). O trabalho de Scorsese foi alinhar todo o material de arquivo, construir uma narrativa com as imagens obtidas, confrontar entrevistas da época com entrevistas feitas agora (incluindo a primeira nova entrevista do próprio Dylan em anos) e transformar imagens dispersas de uma digressão atípica numa história - The Bob Dylan Story, subtítulo do imperdível documentário distribuído pela Netflix.
ARQUIVOS SONOROS - Ao mesmo tempo que a Netflix lançava o documentário de Scorsese sobre a Rolling Thunder Review, Bob Dylan trabalhou na edição de uma caixa de 14 CD’s que recupera ensaios, actuações e gravações diversas feitas em espectáculo, em estúdio, ou sessões improvisadas em casa de outros músicos. Algumas destas gravações já tinham aparecido nas “Basement Tapes”, mas muito do material é inédito. Bob Dylan registava de forma sistemática as gravações dos seus trabalhos, do seu processo criativo, até de encontros casuais e fugazes - sendo que um dos momentos mais surpreendentes é o registo de uma sessão em casa de Gordon Lightfoot, no Canadá, onde também aparecem Patti Smith e Joni Mitchell, Este é o registo de sete semanas alucinantes - desde que os ensaios começaram até ao concerto de Montreal, no Outono de 1975. Um dos momentos chave de todos estes registos é a sucessão de versões de interpretação de “Isis”, uma canção de desamores, feita em parceria com Jacques Levy - que foi o responsável pela concepção cenográfica de toda a digressão. O tema apareceu no álbum “Desire”, e o que está nestes registos são os primeiros passos dessa canção, deste uma versão apenas ao piano até várias outras gravações ao vivo e em ensaios até ao concerto de Montreal. Outros momentos de registo são as versões de Hurricane, a canção que Dylan fez em prol da libertação de Ruben Carter. No Spotify podem encontrar uma versão condensada da caixa de 14 CD’s, um sampler que inclui dez temas da “Rolling Thunder Review, The 1975 Live Recordings”.
A POESIA DO TOUREIRO - Frederico Garcia Lorca é um dos nomes mais importantes da literatura espanhola. Nascido no final do século XIX, morreu cedo, em 1936, uma das primeiras vítimas da Guerra Civil de Espanha. Distinguiu-se nas peças de teatro que escreveu (como Bodas de Sangue ou La Casa de Bernarda Alba) e numa vasta obra poética. Dois dos seus poemas mais significativos, Romancero Gitano (1928), e Llanto por Ignacio Sánchez Mejías (1935) foram agora reunidos num único volume, com uma edição bilingue que junta ao original de Lorca a tradução de Vasco Graça Moura. “Romanceiro Cigano” tem um sabor mais popular e o “Pranto por Ignácio Sánchez Mejías”, é uma composição mais elaborada em memória do célebre toureiro, que morreu colhido por um touro na praça de Manzanares El Real, em 13 de Agosto de 1934. Hoje em dia seria politicamente incorrecto enaltecer um toureiro, como Lorca fez mas quero acreditar que mesmo nestes tempos Lorca não se calaria perante os bons costumes. Ignacio Sánchez Mejías, que escreveu ele próprio duas peças de teatro, foi mecenas da chamada geração de 27, pólo de uma vanguarda cultural na Espanha da primeira metade do século XX. Na introdução que deixou escrita a estas traduções, Vasco Graça Moura sublinha que “o Llanto por Ignacio Sanchez Mejías é talvez a mais fascinante evocação do luto de toda a literatura do século XX”.
VISITAR - Em tempos a ideia de ir passar uns dias numas termas não me atraía. Percebi agora que não tinha razão. Estive uma semana no Hotel Fonte Santa, nas Termas de Monfortinho e fiquei rendido - ao hotel, à sua equipa, ao equipamento termal propriamente dito e sobretudo à região. Em tempos estes equipamentos - e o Clube de Tiro Desportivo de Monfortinho - estavam ligados ao banco Espírito Santo. Com o colapso do BES uns foram vendidos outros permanecem no Novo Banco, como o referido Hotel e outros encerraram, como o Astoria. Ambos são exemplares importantes da arquitectura de uma época. O Fonte Santa debate-se com falta de pessoal mas a equipa existente desdobra-se para prestar bom serviço. O Hotel fica colado ao balneário das termas e tem uma piscina com uma implantação perfeita e o terraço do bar proporciona uns belos fins de tarde. Do Balneário das Termas, que não experimentei, só me dizem maravilhas - preferi passar o tempo a ler no silêncio envolvente da região. O Clube de Tiro Desportivo foi entretanto vendido e recuperado. O seu restaurante tem um novo concessionário e os pratos fortes são o polvo grelhado, o arroz de lebre e o bacalhau (este último muito procurado por espanhóis - a fronteira é a dois passos). Mas o Clube de Tiro oferece também um complexo de piscinas aberto ao público e um conjunto de quatro modernos e confortáveis bungalows construídos já pelos novos proprietários, integralmente forrados a xisto, perfeitamente enquadrados na paisagem, projectados por Tomás Ramos da ARC Arquitectura, e que podem ser alugados. Se quiser dar um salto a Espanha a escassa distância fica Coria, com uma interessante zona histórica onde há um restaurante simpático, El Bobo de Coria. Se andar mais uns quilómetros pode experimentar o Pátio, em Cáceres, detentor de estrelas Michelin.
DIXIT - “Nunca me tinha passado pela cabeça sair para o BCP “ - Armando Vara.
BACK TO BASICS - “Quando alguém estúpido relata o que uma pessoa inteligente disse o resultado nunca é rigoroso porque o relator inconscientemente traduz o que ouviu para algo que ele próprio possa compreender” - Bertrand Russell.
O JOGO DAS SOMBRAS - Em geral prefiro o realismo ao optimismo. O optimismo provoca miopia, encarar a realidade torna tudo mais límpido. As cerimónias do 10 de Junho deste ano foram sobre as diferenças de encarar o país, com o Presidente da República a defender o optimismo, o Primeiro Ministro a evitar o tema e o Comissário das Comemorações a traçar um retrato realista das coisas que deve ter deixado muitas individualidades agitadas e incómodas na tribuna de honra. É certo que Portugal é mais que fragilidades e erros, como disse Marcelo Rebelo de Sousa; mas é igualmente certo que temos tendência a protelar a resolução das fragilidades e a empurrar os erros para debaixo do tapete. É este eterno adiar que tem de mudar. O Estado precisa de uma varridela profunda e ela deve começar no desenho de um novo sistema eleitoral que permita que novas formações partidárias surjam e tenham representação parlamentar, para que os cidadãos se sintam mais perto dos eleitos e que os eleitos, a todos os níveis, das juntas de freguesias aos mais altos cargos, sejam exemplos de ética e de responsabilidade - o que implica responsabilizar os partidos pelas escolhas que fazem. A prioridade não pode ser criar novos eleitos na regionalização que alguns pretendem, não pode ser manter o jogo da mentira que tem dominado a política, sobretudo nestes anos mais próximos. A prioridade deve ser criar um sistema mais justo e mais escrutinável, com uma justiça mais rápida nos casos de corrupção política. O tempo é o de proporcionar um sistema eleitoral que traga para a causa pública gente que se interesse pela política sem ser para traficar interesses, de legislação que penalize quem engana e rouba os cidadãos escondido atrás do manto do poder, seja local ou nacional, de partidos que não se limitem a fazer promessas que nunca cumprem. Como disse João Miguel Tavares em Portalegre,“nós precisamos de sentir que contamos para alguma coisa (além de pagar imposto)”.
SEMANADA - Armando Vara pediu escusa de ser ouvido de novo na Comissão de Inquérito à CGD mas o pedido foi recusado; dos 15 presidentes de câmara que foram constituídos arguidos nos últimos dois anos, 11 são do PS; o PSD apresentou um projeto de lei que propõe até 3 anos de prisão para quem matar cães ou gatos, mas não apresentou qualquer nova proposta sobre penalizações em casos de corrupção envolvendo políticos; Francisco Assis, do PS, afirmou que “Victor Constâncio é um homem sério e singularmente qualificado no plano económico, que ao longo da sua vida prestou relevantíssimos serviços ao país”; documentos do Banco de Portugal confirmam que a Administração da instituição, presidida por Victor Constâncio, sabia que Joe Berardo não tinha capacidade financeira para ser accionista qualificado do BCP; a CGD anunciou que vai avançar com a penhora dos salários que Joe Berardo receba por ser administrador de diversas empresas; 19,6% dos trabalhadores portugueses recebem o salário mínimo; o Conselho Superior das Finanças Públicas queixou-se de pelo terceiro ano consecutivo não ter acesso a dados financeiros do Sistema de Segurança Social e o Ministro da tutela, Vieira da Silva diz desconhecer a razão de tal facto; investigadores acompanharam durante dois anos a evolução da habitação numa área de 3,6 hectares à volta de uma rua de Alfama e concluíram que, de 150 apartamentos comprados, apenas um foi destinado à habitação própria; Lisboa é a cidade com maior rácio de casas para alugar a turistas no Airbnb face às principais capitais europeias, com um valor superior a 30 habitações por mil habitantes nesta plataforma.
EFEITO MEDINA - Segundo um estudo internacional Lisboa é, pela terceira vez consecutiva, a cidade mais congestionada da Península Ibérica, acima de Madrid ou Barcelona e os condutores da capital passam em média 42 minutos por dia no trânsito, o que, no final de um ano, representa perto de 160 horas de tempo gasto em deslocações.
ARTE VIRTUAL - Leonel Moura tem trabalhado nos últimos anos na aplicação de tecnologia à criação no domínio das artes plásticas. O percurso percorrido já recorreu a robots e agora propõe uma aplicação baseada em realidade aumentada, disponível gratuitamente na Apple Store e na Google Play, sob o nome Lisboa Viral. Através da aplicação Lisboa Viral o utilizador pode visualizar as 17 esculturas virtuais que se encontram espalhadas pela Grande Lisboa, desde vários pontos da capital até Cascais, Sintra, Ericeira, Sesimbra ou Mafra. Percorrendo os locais com a aplicação, em vez de um jogo onde se descobrem Pokémons, encontram-se as esculturas virtuais que são criadas por um programa generativo, com recurso a realidade aumentada. Esses locais são Torre de Belém, Palácio de Belém, Praça do Comércio, Praça de Camões, Chiado, Rossio, Cais do Sodré (na imagem), Bairro Alto, Alfama, Estação do Oriente, Boca do Inferno, Cascais, Praia dos Pescadores, Cascais, Palácio de Sintra, Cabo da Roca, Sintra, Praia dos Pescadores, Ericeira, Cabo Espichel, Sesimbra e Palácio de Mafra. As obras podem ser visualizadas e também fazerem-se fotos ou vídeos que podem ser partilhados. Estas esculturas existem também fisicamente em pequeno formato, tendo sido realizadas em impressão 3D e algumas já foram vendidas a colecionadores em Portugal e França com o preço médio de 3.000 euros. Leonel Moura está actualmente a preparar uma exposição a realizar em Pequim no próximo ano.
UM SOM NOVO - Fred Pinto Ferreira já foi baterista dos Orelha Negra, Buraka Som Sistema, Os Dias de Raiva, Yellow W Van, Oiaiai, Laia e recentemente, da Banda do Mar, com os brasileiros Marcelo Camelo e Mallu Magalhães. É também um produtor multifacetado de numerosos discos dos mais variados artistas, entre os quais, por exemplo Mafalda Veiga e Luís Represas e já actuou como baterista da fadista Raquel Tavares. Agora Fred decidiu lançar-se a solo com o disco "O Amor Encontra-te no Fim", composto por 15 faixas. Fred encara este projecto como uma terapia musical para se reencontrar consigo próprio e, ao contrário da maioria dos mais recentes trabalhos discográficos portugueses, frequentemente monótonos e desinteressantes, há aqui a procura de alguma coisa nova e não um mero copiar de tendências. Confesso que este é dos discos portugueses deste ano que mais gostei de descobrir e tornou-se numa escuta frequente no Spotify. O nome do disco, com uma base de bateria acústica que é envolvida por electrónica, essencialmente instrumental, é uma homenagem a uma canção de Daniel Johnston, “True Love Will Find You In The End”, evocado em “Para Nunca Mais Cair”, a derradeira faixa do álbum. Amaura, Francis Dale, Marcelo Camelo e Carlão são os convidados de Fred em “O Amor Encontra-te no Fim”.
A GESTÃO DAS EMPRESAS FAMILIARES - Em Portugal, as empresas familiares contribuem para 65 % do PIB e são responsáveis por 50 % do emprego. Luís Parreirão, administrador da MGP SGPS, SA, accionista maioritária da Mota-Engil, analisou os desafios complexos de gestão que se colocam nesse contexto e reuniu as conclusões no livro “Empresas Familiares: Da Governance à Responsabilidade Social”. Como é a governança destas empresas familiares? Baseada na razão ou na emoção? Privilegiam mérito ou preferências individuais? Como são encarados os donos - como sócios ou familiares? E como são tomadas as decisões das maiores empresas familiares em Portugal, que representam 25 % das entidades cotadas na bolsa? Para Luís Parreirão as respostas não são óbvias e muito menos «nestes tempos de incerteza(s)», que impõem às empresas familiares «um mais forte, e mais flexível, planeamento estratégico, quer para si próprias, quer para a(s) família(s) accionista(s)». O autor foca temas como o aumento da espera pela sucessão dos herdeiros do accionista maioritário, resultante do aumento da esperança média de vida : «Será que as novas gerações estarão disponíveis para esperar até mais tarde? Quantos estarão disponíveis para conviver com a “síndrome do Príncipe Carlos”?» Finalmente o autor aborda também, com recurso a dados europeus, o protocolo familiar e a nova realidade dos family offices, permitindo ter uma visão actualizada e prática sobre este universo.
A BELA MASSA - Várias pessoas já tinham elogiado o restaurante italiano que abriu recentemente na Praça da Armada, perto de Alcântara. Na semana passada pude finalmente lá ir com um grupo de amigos, por acaso de várias nacionalidades. O restaurante, que abriu no início deste ano, chama-se Ruvida e é gerido por um casal italiano que se estabeleceu em Lisboa - Valentina Franchi e Michel Fant. Tem uma sala com poucas mesas e cozinha aberta, um grande balcão onde Valentina ao fim da noite prepara a massa fresca para o dia seguinte (um espectáculo digno de se ver) e uma esplanada simpática. A decoração é simples e de bom gosto, infelizmente os arquitectos continuam a não ter cuidado com a acústica das salas de restaurantes - será que os arquitectos apreciam a cacofonia? Acústica à parte a cozinha do restaurante só merece elogios e a qualidade das massas é acima da média. O menu de almoço custa 16 euros e inclui entrada, prato principal, sobremesa, bebida e café - e pode ter a sorte de ser dia de tagliatelle com tomates e alcaparras, uma especialidade. Nas entradas destaco a mousse de mortadela, o tártaro de vitella alla piemonte e as sardinhas fritas marinadas num molho de cebola cozinhada em vinagre, com pedaços de pinhão - uma especialidade veneziana. Na lista das pasta destaco os tortelloni burro e oro, a massa bem no ponto, boa para tomar o gosto do molho de tomate e manteiga, muito suave, que vai às mil maravilhas com o recheio de ricota, parmesão e noz moscada. A lista de vinhos podia ser melhor sem ser maior, mas em compensação o spritz mereceu elogios de um especialista francês que estava na mesa. O serviço na sala pode melhorar um pouco. O Ruvina fica na Praça da Armada 17 e está aberto para almoços e jantares de quarta a sexta e aos sábados e domingos non stop das 12 às 23. Reservas pelo 213 950 977.
DIXIT - “A verdadeira modernidade da Administração, com que tantas autoridades e tantos políticos gostam de rechear os seus discursos, não é a da tecnologia, é a da humanidade e a da igualdade” - António Barreto.
BACK TO BASICS - “Há tipos tão batoteiros que usam cartas marcadas quando jogam solitário” - personagem de um policial de Desmond Bagley.
INTERESSES EM VEZ DE IDEAIS - O caso de Joaquim Couto, o autarca de Santo Tirso que meteu cunhas a outros quatro autarcas recomendando os serviços de consultoria de comunicação de empresas da mulher, é apenas o mais recente de uma longa lista dos pecadilhos abundantes na paisagem política e partidária portuguesa - em todas as áreas ideológicas, como se tem visto. Uma sondagem recente mostra que mais de metade dos portugueses não têm confiança nos líderes políticos e nos deputados e que quase metade dos inquiridos está pouco satisfeita com a democracia. Querem cenário mais preocupante que este? A culpa não é dos eleitores mas de um sistema calculista que deliberadamente procura menosprezar a participação, manter o status quo, e dificultar o aparecimento de novas alternativas. Houve um tempo em que na política entravam homens com ideais e causas; hoje, na maior parte dos casos, está na política gentinha que se move apenas por interesses e vantagens pessoais. O resultado está à vista: todos procuram uma causa para a crise e ela não é segredo nenhum: a corrupção, o abuso de poder, o compadrio. Há quem diga que esta conversa fomenta o populismo, mas a minha sincera opinião é que a causa do populismo está no sistema que permite tudo isto e não se corrige. O problema está nisto: varrer os interesseiros da política significa destruir grande parte dos aparelhos dos principais partidos. E ninguém quer ir por esse caminho, muito menos em ano de eleições.
SEMANADA - Poucas semanas depois de o Governo ter anunciado que queria melhorar o serviço de comboios a Infraestruturas de Portugal decidiu extinguir as equipas especializadas em segurança e manutenção ferroviária; à semelhança de outros serviços de transporte público, depois do anúncio da descida dos preços dos passes sociais, o Metro de Lisboa mandou retirar bancos para caberem mais passageiros, em piores condições de conforto e segurança; a empresa acusada de roubar mantimentos para as messes da Força Aérea e de pagar luvas a militares foi convidada e contratada de novo para fornecer bebidas e aperitivos naquele ramo das Forças Armadas; o concelho de Montalegre tem uma área superior à ilha da Madeira mas é habitado apenas por nove mil pessoas; 21,3% da população portuguesa tem mais de 65 anos, valor apenas superado na Europa pela Itália; Celorico da Beira é o último município do Rating Municipal Português divulgado pela Ordem dos Economistas e todos os 20 piores municípios do ranking divulgado são de pequena dimensão e estão no interior; em ano e meio foram apreendidos 2990 telemóveis nas cadeias portuguesas; um quinto das salas dos hospitais e centros de saúde não têm ar condicionado.
O MURO - No funeral de Agustina foi notória a ausência dos habituais nomes da intelectualidade que se afirma de esquerda, aqueles que não perdem uma oportunidade para prestar vassalagem nas campanhas eleitorais e para coçarem as costas uns aos outros, mas que são incapazes de atravessar o muro da ideologia para reconhecer o génio - que na verdade sempre os incomodou. Como podia aquela mulher escrever tão bem, não sendo da esquerda deles?
REVIVER - Em 2014 a editora Guerra & Paz lançou “ O Livro de Agustina”, uma autobiografia da escritora, com 120 páginas e dezenas de fotografias dos álbuns de família e de recordações avulsas. Podem encontrá-lo na Feira do Livro e nas livrarias. Neste livro revivemos a vida de Agustina Bessa-Luís, contada por ela com enorme humor, escrita na primeira pessoa, e que começa, assim, evocando os avós, para explicar as suas próprias origens: “O avô Teixeira, com todo o ar dostoiewskiano, casou em Março de 1987 com Justina, filha de José Bento de Bessa, do Lugar do Barral. Ele tinha 41 anos quando casou e ela 28, idade que, para uma noiva, era já um pouco avançada, nesse tempo. Explica-se assim porque Justina ficara enamorada desde os sete anos por José, com 20 anos, quando ele a ajudou a passar um ribeiro em dia de invernia e lhe disse que casaria com ela, um dia”. E, já quase no final do livro, Agustina conclui: “ Esta é a minha história que a memória abreviou, quando não é que a modéstia a repreende. Somos sempre muito faladores com o insignificante e muito calados com o que nos assusta. Assusta-nos o íntimo das nossas vidas, por passarmos todas as portas sem pensar que elas se fecham para sempre atrás de nós. Não podemos voltar para compor o inacabado ou as palavras soltas a que faltou a experiência”. São poucos os escritores que conseguem contar assim a sua própria vida.
A VISÃO DO FOTÓGRAFO - A certa altura, em 1951, Fernando Lemos estava em Paris com José Augusto França (um amigo com quem se correspondeu toda a vida) e queria expôr fotografia na capital francesa. Essa exposição nunca se concretizou mas Lemos e França conviveram na altura com Vieira da Silva e Arpad Szenes, em casa de quem conheceram Man Ray, que expunha na cidade por essa altura e cujo trabalho influenciou Lemos. Esta história vem na introdução que Filomena Serra escreveu ao quarto volume da série Ph., uma colecção criada na Imprensa Nacional para publicar o trabalho de fotógrafos portugueses contemporâneos, dirigida por Cláudio Garrudo. A primeira fotografia deste livro é exactamente do jovem José Augusto França, fotografado na Galeria das Quimeras, na Notre Dame. Filomena Serra destaca que “uma das propriedades que Lemos atribui à fotografia é a fusão: fusão de luz e sombra, fusão de formas, de linhas e contornos, que deambulam e desmaterializam os corpos, podendo até surgir o informe”. A primeira fotografia de Fernando Lemos foi feita em 1949, a partir da janela do seu quarto, na Rua do Sol ao Rato, com uma máquina rudimentar e está reproduzida nesse livro. Como Filomena Serra sublinha Fernando Lemos descobre com a fotografia que ”afinal numa fracção de segundo tudo muda”. E começa a fotografar amigos, as pessoas com quem se dava, uma geração de pintores, poetas, escritores, artistas. Neste livro, que inclui numerosas imagens inéditas, estão retratos que Fernando Lemos fez de nomes como Agostinho da Silva, José Viana, Arpad e Vieira da Silva, Mário Cesariny, José Cardoso Pires, António Pedro, Fernando Azevedo e Vespeira, Mécia e Jorge de Sena, Alexandre O’Neill, José Blanc de Portugal ou Sophia de Mello Breyner, todos fotografados entre 1949 e 1952, a época em que mais trabalhou o meio, num testemunho de cumplicidades e na descoberta de técnicas de exploração de luz ou de sobreposição de imagens.
AS MUITAS DIMENSÕES DE FERNANDO LEMOS - Esta é a semana do regresso de Fernando Lemos a Portugal e uma oportunidade única para quem não o conhece descobrir a sua obra multifacetada e pouco conhecida pelos mais novos. Lemos, nascido em 1926, estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e ao longo da sua vida dedicou-se à pintura, à fotografia e ao design gráfico e industrial, para só citar as áreas onde a sua presença é mais marcante. Em 1953, desiludido e em ruptura com o clima político que se vivia em Portugal, foi para o Brasil, onde reside desde então. Para além do livro de fotografia acima referido, editado pela Imprensa Nacional, a partir desta semana pode ser descoberta a sua obra multifacetada e que permanece actual. Comecemos pela exposição dos seus trabalhos em azulejo, que está na Galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2C) até 6 de Setembro, e onde esta fotografia de Fernando Lemos, tendo por fundo um dos seus painéis, foi feita. A exposição da Ratton chama-se “Máscaras do Tempo” e inclui um conjunto de padrões de azulejo mostrados em painéis e um conjunto de 11 desenhos reproduzidos em chapa de alumínio. Na Galeria 111 (Campo Grande 113) está até 14 de Setembro a exposição “Mais a Mais ou Menos” que mostra a diversidade dos suportes que utilizou e inclui fotografias, desenhos a carvão, desenhos em técnica mista sobre papel, cartões postais, aguarelas e acrílico sobre cartão e papel - uma introdução indispensável à obra de Fernando Lemos. Finalmente, por iniciativa do MUDE, no Torreão Poente da Cordoaria Nacional e até 6 de Outubro está “Fernando Lemos Designer”, a é a primeira exposição especialmente dedicada a Fernando Lemos enquanto designer e artista gráfico. Das suas mãos nasceram logótipos, livros (e uma editora de literatura infantil – editora Giroflé), muitas ilustrações, cartazes, azulejos, murais, tapeçarias, estampas para tecidos, pavilhões expositivos. Esta exposição, que está a ser preparada pela equipa do Mude desde 2017 reúne 230 obras, a maior parte delas desconhecidas em Portugal, está documentada num bom catálogo editado pelo MUDE e a Imprensa Nacional e tem ainda a particularidade de permitir perceber o processo criativo do autor e de mostrar, pela primeira vez, trabalhos inéditos que nunca saíram do papel.
ROTEIRO - O Fotobox é o único programa sobre fotografia que existe na televisão portuguesa - passa aos Domingos à tarde na RTP3. Neste próximo domingo Luiz Carvalho revista a reportagem que fez em 1992 sobre o último dia de trabalho da fábrica vidreira Stephens na Marinha Grande, voltando a falar, agora, com operários que fotografou nesse dia. Na edição da semana passada o Fotobox chamou a atenção para a exposição “Fotografia Impressa e Propaganda Visual em Portugal (1934-1974)” , que está até 30 de Agosto na Galeria do Auditório da Biblioteca Nacional (Campo Grande, Lisboa) e revisita a História do Estado Novo português através da fotografia impressa e da propaganda visual, comissariada por Filomena Serra e Paula André. A terminar deixo a sugestão de um disco, “O Amor Encontra-te No Fim”, a estreia a solo de Fred Pinto Ferreira, depois de trabalhar em projectos como os Buraka Som sistema, os Orelha Negra ou a Banda do Mar. Ouçam no Spotify que vale a pena. Petisco guloseima: um gelado artesanal italiano daLuc Duc, ao cimo da Rua de Campolide, esquina com a Marquês da Fronteira.
DIXIT - “Com 16% em Lisboa e 22% no Porto o PSD é agora um partido rural, que vai bem a Rui Rio, um homenzinho autoritário e colérico, que chegou ontem de 1970 e não se distingue pela inteligência política” - Vasco Pulido Valente.
BACK TO BASICS - “O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo” - Agustina Bessa-Luís
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