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QUEM QUER VOTAR NOS INCUMBENTES?

por falcao, em 26.09.19

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AS CAMPANHAS MOBILIZAM ELEITORES NOVOS? - Qual o ponto comum entre as igrejas e os debates na televisão? Ambos perdem audiência. Não há novos fiéis. O resultado de audiências do debate eleitoral entre os actuais seis partidos com assento no parlamento fala por si. Para que conste, no mesmo dia do debate e antes dele, a RTP1 passou a transmissão do Best Fifa Football Awards, que teve uma média de 889 mil espectadores. Logo a seguir, o debate dos seis partidos parlamentares teve uma média de apenas 424 mil espectadores, menos de metade. À mesma hora do debate a SIC passava do milhão e cem mil espectadores com as telenovelas “Nazaré” e “Golpe da Sorte” e a TVI teve 722 mil a verem a novela “Na Corda Bamba”. Continuo sem perceber porque é que há partidos que insistem em defender este modelo de debates que só convencem quem está já convencido. Na realidade naquele debate não houve ideias novas, houve apenas as picardias do costume entre os protagonistas habituais. Este ano a coisa parece aliás ainda mais confusa - dos seis implicados, três confessam-se de inspiração social-democrata em várias variantes: o PSD, o PS e o Bloco de Esquerda. Esta estranha convergência é a única novidade da campanha dos suspeitos do costume. O resto é de uma pobreza confrangedora, onde abundam as promessas e a falta de balanço sobre o cumprimento das que fizeram há quatro anos e, mais grave ainda, sobre o triste balanço da decadência de princípios de deputados e parlamento na legislatura que agora finda.

 

SEMANADAA Comissão Nacional de Protecção de Dados decidiu que não irá aplicar nove artigos da lei aprovada na Assembleia da República que adapta à realidade portuguesa o novo Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD), justificando que os mesmos violam precisamente o diploma original da União Europeia; o roubo das armas em Tancos entrou na campanha eleitoral e quem lhe deu a chave de entrada começou a disparar em todas as direcções; oito em cada dez crianças não têm vagas em creches; cinco associações de doentes oncológicos afirmaram conjuntamente que existe “um agravamento dos cuidados de saúde” nesta área e um “enorme alargamento do prazo para a realização dos exames”; um terço das vagas de ginecologia e obstetrícia fiacaram vazias em Lisboa; o dinheiro gasto em horas extra no SNS em 2018 daria para contratar 7500 profissionais  de saúde, segundo o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares; o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou que os tribunais portugueses violaram em duas sentenças, proferidas em 2012 e 2013, o direito à liberdade de expressão dos cidadãos; não são conhecidas medidas tomadas sobre os juízes autores dessas limitações à liberdade de expressão”; o INE reviu as contas, com números mais favoráveis para o Governo, dias antes do início da campanha eleitoral, proporcionando uma subida das pensões para além da inflação; graças a outra curiosa coincidência temporal a Procuradoria Geral da República divulgou na semana de arranque da campanha o seu parecer sobre negócios de familiares de governantes que afirma não haver incompatibilidade em nada do sucedido.

 

ARCO DA VELHA - O cortejo da queima das fitas da Universidade de Coimbra deixou nas tuas 25 toneladas de resíduos e detritos vários, isto na mesma Universidade que não quer carne de vaca nas cantinas por razões ambientais.

 

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A MEMÓRIA DO MAR - Até 30 de Novembro poderão ver na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18), uma exposição de inéditos de Pedro Cabrita Reis, “Os Desenhos da Maré Baixa”. Trata-se de um conjunto de obras que evocam as tonalidades do mar, numa referência a um dos locais de eleição do artista. Muito curiosamente estes desenhos, que sugerem quer as ondas quer a espuma que elas  deixam na areia, são uma referência a memórias visuais e, como tem sido corrente na obra de Cabrita Reis, também um olhar sobre si próprio, os seus gostos, as suas fixações - como já antes foram desenhos de bosques, auto-retratos ou cenas do seu quotidiano. Outra sugestão: até 7 de Outubro ainda pode ver na Gulbenkian a exposição “Sarah Affonso E A Arte Popular do Minho” que ocorre por ocasião do  120.º aniversário do nascimento da artista, uma pintora portuguesa modernista cuja obra tem sido muito pouco investigada e exposta, frequentemente ofuscada pelo facto de ser casada com Almada Negreiros. Esta exposição centra-se na particular relação de Sarah Affonso com a arte e a cultura popular do Minho, onde passou a sua infância e adolescência. A exposição apresenta, em paralelo, as obras de Sarah Affonso com os objetos cerâmicos, têxteis, de ourivesaria, que formam parte do léxico visual que a inspirou e onde se incluem empréstimos de museus e colecionadores portugueses. Mais sugestões - a exposição Acervo Aberto, de Bettina Vaz Guimarães na Galeria Cisterna (Rua António Maria Cardoso 27). Na Galeria Vera Cortês (Rua João Saraiva 16-1º)  Catarina Dias mostra a sua pintura e escultura na exposição Mamute, até 2 de Novembro.

 

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SETE MOMENTOS DE MEMÓRIA - “Solo” é o primeiro álbum póstumo de Bernardo Sassetti, de um conjunto de nove que irão saindo gradualmente e que registam actuações ao vivo e sessões de gravação do músico. Este “Solo” inclui-se nesta última categoria e recupera sete temas do próprio Sassetti gravados em 2005 num piano Steinway do Teatro Micaelense, piano que o músico apreciava particularmente. Sassetti deslocou-se para uma série de concertos naquela sala açoriana, mas durante três dias esteve sozinho com o técnico e produtor Nelson Carvalho e o afinador do piano. É das gravações solitárias feitas nesses três dias que nasceu este disco. Na altura, o pianista fez uma pré-produção do material gravado, tendo agora Nelson Carvalho e Inês Laginha feito uma segunda seleção, escolhendo apenas os temas mais inéditos, que não estão fixados em outras gravações.  "Solo" inaugura uma série de nove álbuns de material inédito que a Casa Bernardo Sassetti quer editar nos próximos tempos, cumprindo uma das missões desta associação cultural criada em setembro de 2012, quatro meses depois de Bernardo Sassetti ter morrido, aos 41 anos. O segundo disco desta série, a editar em 2020, incluirá temas que Bernardo Sassetti compôs para o espetáculo “A Menina do Mar”, inspirado no conto de Sophia de Mello Breyner Andresen. O mais surpreendente neste “Solo” é conseguir, nos sete temas que inclui nos seus cerca de 35 minutos de música, mostrar toda a subtileza e intimismo de Sassetti, sem exuberâncias, apenas com um enorme sentimento musical.

 

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UMA FESTA ROMANA - Os escritores novos têm um grande ponto comum com os partidos recentes que concorrem às legislativas pela primeira vez: têm uma grande dificuldade em vingar e darem-se a conhecer. Lembrei-me desta comparação ao pegar em “Saturnália”, o romance estreia  de André Fontes, publicado pela Guerra & Paz. Comecemos pelo princípio. A saturnália era uma festividade da Roma Antiga em honra ao deus Saturno que ocorria a 17 de Dezembro e que incluía banquetes e festividades numa atmosfera que derrubava as normas sociais romanas. Catulo, o poeta, chamava-lhe “o melhor dos dias”. António Fausto é a personagem principal deste romance e assume-se como a personificação dos jovens do século XXI, os intelectualmente melhor preparados para a vida, mas emocional e financeiramente mais instáveis. António Fausto encarna o desejo dos jovens de quererem ser grandes e terem uma vida melhor que a dos pais. Mas ao mesmo tempo que tem em si os maiores sonhos, António Fausto tem também os maiores receios: crescer e não sair da banalidade. E, no entanto este não é um livro banal - é provocatório. O seu editor, Manuel S. Fonseca, fez um bom resumo das razões que o levaram a editá-lo:  “Se não fosse imoral não queríamos! Mas o primeiro romance de André Fontes, “Saturnália”, é imoralíssimo e é também o primeiro romance millennial da literatura portuguesa. O romance? Somos nós, é o nosso retrato: bem-vindos a esta Saturnália moderna, carregada de erotismo, boémia e angústias de uma nova geração num mundo igualmente novo. Precária em erário mas abundante em avidez.”


A QUESTÃO DA SANDES -  Para um café ou snack bar português o que é uma sanduíche? A resposta é uma carcaça que evoca a borracha, muito levemente barrada com manteiga mole que muitas vezes caminha para rançosa, uma fatia de fiambre quanto mais fina e transparente melhor ou uma fatia de queijo tipo flamengo do mais barato que exista. Resumo - uma porcaria que não interessa a ninguém. Nas zonas de restauração de alguns centros comerciais ou em alguns novos espaços começam a aparecer boas sanduíches, bem preparadas, com pão estaladiço e recheio condigno. Os estabelecimentos Copenhagen Coffee Lab, do Príncipe Real e de Alcântara, são boas referências na variedade de sandes tradicionais, nas sandes abertas, e nas tostas, com possibilidade de escolha da qualidade de pão pretendida nalguns casos. O recheio é mais abundante que o normal, sem ser no entanto generoso, e há bom senso nas misturas e combinações propostas. Mas sinceramente gostava de conhecer um estabelecimento que se dedicasse a explorar a potencialidade de bom pão fresco com enchidos nacionais pouco usados (chouriço de boa qualidade, paio do lombo, paiola de porco preto, salpicão, morcela e, porque não, farinheira) combinados com queijos como de São Miguel, o de cabra atabafado, ou o serra curado. O pão havia de ser salpicado com bom azeite, combinações possíveis com mel ou doces tradicionais. Carcaça de borracha seria proibida e pão de forma de dois centímetros de espessura e consistência mole idem. E cada vez mais há por aí muito bom pão para iniciarmos uma contenda com essa maravilha americana que é a sanduíche de pastrami.

 

DIXIT - “Porque é que não há uma estratégia para combater a corrupção se ela está na boca de toda a gente? Porque é que um país com 200 kms de largura tem o interior ao abandono?” - João Miguel Tavares

 

BACK TO BASICS - “Não sei qual é a chave para o sucesso, mas sei que a chave para o falhanço é querer agradar a toda a gente” - Bill Cosby.

 

 

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ELEIÇÕES & ILUSÕES - Quando se olha para a campanha eleitoral fica-se a pensar que vivemos num mundo perfeito: belas propostas, ideias soberbas. Mas, vai-se a ver, e quando se confrontam estas ideias com as práticas passadas dos seus autores surge a desilusão. Esta semana um amigo dizia-me que iria votar num dos incumbentes porque assim já sabia ao que ía e dava o desconto do engano. Recusa-se a votar em algum dos novos partidos porque acha que vão acabar iguais aos outros e não cumprirão o que dizem mal puserem o pé no poder. A culpa não é do cepticismo deste meu amigo - a culpa é de um sistema político e partidário que protegeu a mentira e a desresponsabilização dos eleitos face aos eleitores. A culpa é de um sistema em que os resultados provocam situações como esta: a geringonça governou o país com base na vontade de apenas 28% do total de eleitores possíveis. Obteve 2,7 milhões de votos no PS, Bloco e PC num total de quase dez milhões de eleitores inscritos. Metade não vota. o poder acaba por ser exercido por uma minoria que é cada vez mais minoria porque a abstenção vai aumentando e os novos eleitores não acreditam no sistema. Será possível reganhar a confiança dos eleitores? Será possível combater a abstenção entre os novos eleitores? Quem manda fica tranquilo se a maioria dos cidadãos até aos 35 anos ficar fora do sistema, como está a acontecer? Sem mudanças profundas, da lei eleitoral ao modelo de campanhas, nada disto mudará e a crise de falta de representatividade ainda se acentuará mais. Os partidos incumbentes gostam desta situação e todos os anos dizem não querer mudar. Assim como está, com os dois cancros que são o método de hondt e a impossibilidade de círculos uninominais, os partidos que estão em S. Bento mantêm o seu poder e têm uns lugares para distribuir dentro dos respectivos aparelhos. Há muito que desistiram de manter a relação dos eleitos com os eleitores. Basta ver o que se passou com os escândalos no Parlamento nos últimos quatro anos, com o avolumar de casos de corrupção e com a teia de relações familiares nos círculos de poder. Aos incumbentes só lhes interessa o próprio umbigo.

 

SEMANADA - O aumento das rendas de casa nos centros urbanos e periferias está a provocar um crescimento do incumprimento dos empréstimos ao consumo e um aumento dos pedidos de apoio de reestruturação de dívidas financeiras das famílias; até final de Julho já tinham entrado em Portugal cerca de 140 mil turistas brasileiros, o que coloca o Brasil como quinto maior mercado emissor de turistas para Portugal; estudos recentes indicam que no final deste século o Algarve terá menos 83% de água; um número alargado de universidades tem milhões de euros por receber do Estado relativos a projectos de investigação cujo pagamento, acordado, não foi feito; o debate entre Costa e Rio teve menos 600 mil espectadores que o debate de há quatro anos entre os líderes do PS e PSD; como diz um amigo meu, já  nem os reitores de safam: o reitor da Universidade de Coimbra escolheu o período eleitoral, em pleno debate ambiental, para eliminar a carne de vaca das ementas das 14 cantinas sob sua tutela sem sequer ouvir especialistas sobre o tema; o Hospital Amadora-Sintra debate-se com uma praga de baratas; até Junho foram destruídos 5645 ninhos de vespas asiáticas em Portugal; duas dezenas de ambulâncias do 112 compradas em Abril estão paradas com avarias eléctricas; o Governo já perdeu 20 Secretários de Estado e cinco Ministros que deixaram o executivo desde o início desta legislatura; num debate eleitoral radiofónico Rui Rio atacou os jornalistas e o jornalismo que denuncia casos de corrupção em segredo de justiça; Fernando Neves de Almeida, dirigente da empresa de executive search de que Rui Rio fez parte, defende que os Ministros deviam ser escolhidos por head hunters - resta saber o que pensa da escolha de dirigentes partidários, tendo em conta os previsíveis resultados do seu ex-colaborador Rui Rio nas próximas eleições. 

 

ARCO DA VELHA - O Ministério Público considerou que defender publicamente o abate de ciganos não é crime, mas sim opinião. 

 

Galeria Ratton_O caminho das mãos - Azulejos de C

UM BAIRRO CHEIO DE ARTES - Na quinta-feira 19 deu-se o arranque de mais uma série de exposições integradas na iniciativa Bairro das Artes, que este ano assinala o décimo aniversário e que engloba uma série de galerias e espaços expositivos da zona do Bairro Alto. Começo por destacar a incursão de Cristina Ataíde nos azulejos (na imagem) com a exposição “O Caminho das Mãos” na Galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2), até 15 de Novembro. Esta exposição, começada a preparar há cerca de dois anos, apresenta cinco composições com azulejo em relevo e em várias cores. Ao mesmo tempo estão expostas diversas experiências de texturas, cores vidrados e engobes que Cristina Ataíde desenvolveu simultaneamente. Outros destaques desta edição do Bairro das Artes vão para os desenhos de Pedro Proença na Abysmo Rua da Horta Seca 40) , as fotografias do prémio Estação Imagem 2019 na Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca 20), a exposição “Antecâmara” com fotografias de  Inês d’Orey na Galeria das Salgadeiras (Rua da Atalaia 12), para a exposição de fotografia “Futuro Repetido”, de Mário Macilau no Espaço Santa Catarina (Largo António Sousa Macedo 7) e para seis tapeçarias de Cruzeiro Seixas na galeria das Tapeçarias de Portalegre (Rua da Academia Das Ciências). Todas as informações sobre esta iniciativa em bairrodasartes.pt . Finalmente destaque ainda para a exposição "Miguel Palma. (Ainda) O Desconforto Moderno", uma antológica do artista que inclui 54 peças, muitas delas surpreendentes, e que inaugurou esta semana no Museu Colecção Berardo. 

 

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POP INESPERADO - É um Iggy Pop inesperado este que nos surge no seu mais recente álbum, “Free”. Aos 72 anos Iggy Pop mostra a sua vivacidade ao enveredar por um caminho completamente inesperado, concretizado na colaboração com o guitarrista Noveller e o trompetista de jazz Leron Thomas. É um disco contemplativo, no qual Iggy, como ele próprio afirma, deixa outros artistas exprimirem-se por ele, restando-lhe emprestar a sua voz. É preciso recordar que este novo disco é o que se segue a “Post Pop Depression”, feito em 2016 com Josh Homme, dos Queens Of The Stone Age. Esse era um disco que soava àquilo que as pessoas esperam de um disco de Iggy Pop. Este não é assim e agudiza a ideia de que há discos do rocker Iggy Pop e discos do contemplativo James Newell Osterberg, o seu verdadeiro nome. Já agora é preciso recordar as inflexões da actividade dos últimos anos: em 2009 cantou uma versão de “Autumn Leaves” no álbum “Préliminaires”, onde namorou o jazz, enquanto em 2012 se aventurou pelo pop e cantou “Michelle”, dos Beatles, A seguir veio o rocker de “Post Pop Depression”, um curioso nome nesse contexto, e agora chama para título a necessidade de se libertar de formas musicais que o tornaram famoso. Temas deste novo disco como “Love’s Missing”, “James Bond” ou “Dirty Sanchez” têm palavras que Iggy Pop poderia cantar em qualquer fase da sua carreira - sobre amor, dominação ou sexo - mas o conceito musical aproxima-se do jazz e sua forma vocal é a dos crooners -  mas como é Iggy Pop proclama alto e bom som “online porn is driving me nuts”.  

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DÚVIDAS LINGUÍSTICAS - Todos conhecemos as semelhanças entre o galego e o português. Mas serão a mesma língua? Que têm em comum? Marco Neves, professor na Universidade Nova de Lisboa e autor de diversos livros na área da linguística dispôs-se a reflectir sobre o tema no livro “O Galego e o Português São A Mesma Língua?”, que leva como subtítulo “Perguntas portuguesas sobre o galego”. Numa conversa com um hipotético conterrâneo Marco Neves responde com paciência, humor e muita informação às suas perguntas e observações, dissecando também vários preconceitos.  Como está assinalado na contracapa “neste livro vamos encontrar reflexões sobre o funcionamento das línguas e sobre o plurilinguismo, percursos pela História da linguagem humana e desta língua em particular e algumas ideias sobre as relações entre as sociedades da Galiza e de Portugal e entre as suas identidades e os seus falantes”. João Veloso, Professor na Universidade do Porto, autor do prólogo deste livro defende que “o Mundo de língua portuguesa é um espaço a várias latitudes onde os galegos têm culturalmente o seu lugar, juntamente com portugueses, brasileiros, africanos e gente de muitas outras paragens”. O livro foi editado em Compostela pela editora Através.

 

PETISQUICES - Durante alguns anos A Paz foi um dos meus poisos preferidos para almoçar. Ficava no Largo da Paz, na Ajuda, tinha à sua frente o Sr. António, a mulher e uma ajudante na competentíssima cozinha, e os filhos na sala. As postas de garoupa grelhadas eram épicas, mais épica ainda era a cabeça do mesmo peixe, cozida, que vinha para a mesa desmanchada pelo Sr. António para ser partilhada sem trabalho pelos apreciadores. Mas havia também um pernil às segundas e petiscos diversos nos outros dias. As voltas que o mundo dá levaram ao encerramento d’A Paz após a morte do seu proprietário e agora, no mesmo local, há cerca de dois anos, está o Restaurante Mestrias Nova Tasca, uma belíssima petisqueira. A decoração foi refrescada mas não demasiado, as mesas são de tampo de mármore e as cadeiras, salvo erro, são as originais do antecessor, sólidas e confortáveis. No largo em frente, que entretanto teve obras de recuperação, há uma esplanada. Na lista há petiscos como moelas, pica-pau, ovos com farinheira. E nos pratos há bochecha de porco, bitoque, arroz de choco e de polvo, e bacalhau à braz, entre outros. As batatas fritas são às rodelas finas, feitas na hora e o bitoque está acima da média na qualidade da carne. O serviço é atento e simpático, o local é mesmo bom para petiscar. Eu, que gosto de almoçar sozinho, arrependi-me de não ter companhia para petiscar qualquer coisa de entrada e para dividir a honesta tarte de figo e alfarroba que veio no final. Vinhos a copo, entre eles um bom Monte das Servas tinto. Ao almoço é sossegado, ao jantar muitas vezes acolhe grupos. Largo da Paz 22, telefone 913 342 204,  reservas disponíveis nas várias plataformas e no facebook. 

 

DIXIT - “Não corremos para um lugarinho no Governo” - Jerónimo de Sousa em entrevista à CMTV

BACK TO BASICS - “Se tivesse que escolher se devíamos ter um governo sem jornais ou jornais sem o governo, não hesitaria um momento que fosse na segunda opção” -Thomas Jefferson, 1787.

 




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E A CORRUPÇÃO,  NÃO SE FALA DELA? - A campanha eleitoral ainda não começou e já estou enjoado com os preliminares. Reza a tradição que quem faz preliminares enjoativos dificilmente será lembrado por alcançar os píncaros. É espantoso como duas décadas passadas do novo século, com o panorama de consumo dos meios de comunicação todo virado do avesso em relação há meia dúzia de anos  (nem vou mais longe), os políticos, salvo raras e honrosas excepções, actuam como no tempo da idade da pedra comunicacional. Entre os incumbentes do Parlamento a falta de imaginação é galopante, o conformismo é reinante, a amnésia é dominante. As campanhas são baseadas em promessas e, em política, já se sabe que promessas leva-os o vento. Uma vez concluídas as eleições as promessas ficam no saco dos materiais a esquecer. Mas neste ano, nestas eleições para o Parlamento, o que mais me espanta é que não se fale praticamente de corrupção, dos numerosos casos que envolveram deputados, partidos e governantes e que durante meses foram noticiados com destaque e minúcia. Em vez de ouvirem promessas os eleitores deviam olhar para o que os eleitos fizeram com os votos que receberam. O balanço não favorece quem agora pede votos depois de ter estado sentado no Parlamento. Cada vez que ouvirem um deles a fazer promessas recordem-lhes os casos em que andaram directa ou indiretamente envolvidos, as corruptelas a que fecharam os olhos e as trafulhices que permitiram em faltas, viagens, compadrios familiares. A política, nesta campanha, está ao nível do WC.

 

SEMANADA - O apoio do Estado à compra de automóveis eléctricos esgotou a quatro meses do fim do ano; na última década a percentagem de docentes com mais de 50 anos em Portugal saltou de 22% para 41% e o país tem agora uma das classes docentes mais envelhecidas da OCDE; apenas 1% dos professores em Portugal tem menos de 30 anos enquanto nos países da OCDE a média é de 10%; segundo a Organização Mundial da Saúde Portugal é um dos quatro países em que se registou uma diminuição da despesa pública em saúde entre 2000 e 2017; a média comunitária de mortos em acidentes rodoviários é de 49 mortes por milhão de habitantes e em Portugal verificam-se 58 mortes por milhão, o que nos coloca no décimo lugar dos países com sinistralidade mais grave; em Julho as exportações subiram 1,3% mas as importações dispararam 7,9%; a nova versão do filme “Rei Leão” é o filme mais visto em Portugal desde 2004 e já teve cerca de 1,3 milhões de espectadores; as obras de recuperação do Palácio da Ajuda vão custar o dobro do que estava previsto; em Portugal menos de um terço dos inscritos em universidades conclui a licenciatura em três anos e a taxa de abandono no final do primeiro ano é de 12%; no primeiro ano do mandato de Frederico Varandas o passivo do Sporting subiu 42,3 milhões de euros em relação ao exercício anterior e é agora de 324 milhões, o maior da história do clube; segundo a Marktest 74,6% dos portugueses usam internet e 67% fazem-no pelo telemóvel.

 

ARCO DA VELHA - Em Ovar um jovem de 22 anos confeccionou um bolo com folhas de cannabis para partilhar com amigos, mas a iguaria, deixada numa mesa, desafiou a gulodice de familiares que a devoraram e que acabaram intoxicados com sintomas de tonturas e vómitos. 

 

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A ARTE DA LUZ - Em física Lumen é a unidade de medida do fluxo luminoso, em anatomia é a cavidade ou canal dentro de um orgão ou estrutura tubular. E agora, em livro, é a recolha das obras de arte que entre 1992 e 2019 Pedro Cabrita Reis fez, utilizando tubos de neon que trabalha como linhas de luz num desenho, como referiu esta semana na apresentação do livro na Central Tejo. Este livro vem no seguimento da aquisição da colecção Pedro Cabrita Reis em 2015 pela Fundação EDP, e é na realidade um catálogo de 27 anos de trabalhos com luz. A sua capa é precisamente “Central Tejo”, a escultura que o artista fez em 2018 e que está colocada em cima do rio, frente ao MAAT. Markus Richter, que escreveu a introdução ao livro, sublinha que Pedro Cabrita Reis “utiliza a luz, em primeira linha, para definir ou criar espaços” e faz a história da forma como a luz aparece e evolui na obra de Cabrita Reis na década de 90. Richter destaca uma afirmação de Cabrita Reis que enquadra todas estas obras: “Os tubos luminosos estruturam os espaços como um desenho estruturaria um pensamento visual”. Na apresentação que fez do livro Pedro Cabrita Reis afirmou aquele que tem sido sempre o ponto de partida do seu trabalho: “Nada é por acaso, tudo é pensado”. Ao longo das 480 páginas do livro são mostradas mais de 300 obras, todas devidamente identificadas e descritas, muitas delas pouco conhecidas e surpreendentes, que aqui são partilhadas e que estão expostas em colecções particulares, em empresas ou em museus em Portugal (de Lisboa, Porto, Coimbra e Tavira), mas também internacionalmente em Antuérpia, Londres, Paris, Chicago, Buenos Aires, Basel, Nova Iorque, Milão ou Hamburgo, entre outras. O livro LUMEN está à venda na loja do MAAT. 

 

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MÚSICA ITALO-AMERICANA - O trompetista italiano Enrico Lava e o saxofonista norte-americano Joe Lovano são dois músicos de jazz que se distinguem pela sua capacidade de improvisação. Surge agora o seu primeiro disco em conjunto, uma gravação ao vivo realizada Novembro passado no Auditorium Parco della Musica em Roma - a cidade que dá o nome ao álbum, editado pela ECM e disponível no Spotify. Lava e Lovano são acompanhados pelo pianista italiano Giovanni Guidi, o baixista americano Dezron Douglas e o baterista americano Gerard Cleaver. O álbum tem cinco temas, os dois primeiros são composições de Enrico Lava: “Interiors” (do álbum New York Days de 2009) e “Secrets” do álbum homónimo de 1987. Se no primeiro o trabalho de Giovanni Guidi no piano se destaca, no segundo é o diálogo entre o trompete e o sax que se salienta, apoiado pelo baterista Gerard Cleaver. Os outros três temas são de Lovano - “Fort Worth”, de 1992, o original “Divine Timing”, e uma faixa final, de 18 minutos, que arranca com “Drum Song” de Lovano e depois tem incursões em clássicos como “Spiritual” de John Coltrane e na balada “Over de Rainbow” de Harold Arlen, num medley onde a improvisação corre solta até finalizar com um envolvente solo de Guidi naquela que é uma das mais conhecidas baladas do jazz.

 

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O CLÁSSICO E O CONTEMPORÂNEO  - A rentrée nos principais museus e galerias já começou. Comecemos  pelo Museu Nacional de Arte Antiga que expõe “A leitura da sina do Menino Jesus”, uma pequena pintura que foi a última obra de Josefa de Óbidos a ser conhecida. O quadro foi leiloado na Alemanha em maio passado e o Estado português não conseguiu comprar a obra, vendida por 220 mil euros a um negociante de arte argentino que a emprestou ao MNAA, para ser exposta durante um mês antes de atravessar o Oceano.  O museu expõe a peça no Hall principal e recorda: “Revisitada em 2015, numa grande exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, Josefa de Ayalla, dita Josefa de Óbidos, tem vindo a revelar-se como um dos casos culturalmente mais interessantes entre as mulheres pintoras do período barroco. A pintura, datada de 1667,  mostra a leitura da sina do Menino Jesus através da observação da sua mão por uma mulher cigana durante a estadia da Sagrada Família no Egipto.” Passando para um outro registo o MAAT inaugurou esta semana uma nova série de exposições: a colectiva Playmode, onde os artistas participantes se focaram no “poder de transformação do jogo, integrando-o nas suas obras com propósitos distintos – evasão à realidade, construção e transformação social, subversão ou crítica dos próprios mecanismos de brincadeira e jogo”; e M.A.G.N.E.T. - uma encomenda da Fundação EDP para o Video Room do MAAT, feita à artista egípcia Basin Magdy. O filme foi gravado ao longo de um período de quase dois anos em diferentes locais da Europa, entre os quais se incluem uma cratera vulcânica na ilha grega de Nisyros, um laboratório de robótica em Manchester, o Parque Arqueológico do Vale do Côa e o Dino Parque da Lourinhã, “lugares que, retirados dos seus contextos históricos e geográficos, são apresentados enquanto cenários ficcionais que servem a narrativa. O enredo relata a forma como diversas pessoas e comunidades de todo o mundo recebem a notícia do aumento da gravidade da Terra — uma das quatro forças fundamentais da natureza —, descrevendo uma série de situações e acontecimentos inesperados que têm lugar em diferentes lugares e contextos.”

 

COMIDAS POSSÍVEIS - Felizmente vai crescendo em Lisboa um conjunto de restaurantes em locais agradáveis, sem pretensão maior do que a de servir comida bem confeccionada sem exageros nem de forma nem de preço. Nestes dias mais encalorados experimentei dois onde tudo correu bem. Um deles foi no CCB, o Este-Oeste que tem a sua carta dividida entre comida italiana e sushi de fusão. O sushi é acima da média do que por aí se encontra e na comida italiana destaco a boa qualidade da massa das pizzas - fina, crocante e um muito honesto spaghetti putannesca com a receita original e sem modernices escusadas. O outro é o já antigo, mas recentemente renovado Doca de Santo, em Alcântara, onde uma escolha ampla de saladas e de pratos como caril de gambas à tailandesa (com legumes), o bitoque ou croquetes com arroz de tomate são honestos e de bom preço. Nos dois casos há esplanada mas também espaços interiores com bom ar condicionado e muito luminosos que nestes dias quentes, à hora de almoço,  são melhores ainda que uma esplanada. Nos dois casos não falamos de fast food, mas de pratos variados, bem confeccionados, de um serviço simpático e diligente, de uma equilibrada mistura entre comensais portugueses e turistas estrangeiros. Numa altura em que se multiplicam novos restaurantes onde por vezes o pretensiosismo é dominante, e vão fechando sem glória alguns dos clássicos (como a Bica do Sapato), é bom perceber que existe uma categoria intermédia, mas boa, bem localizada e que cumpre o papel básico de um restaurante. Este-Oeste e Doca de Santo são bons sítios para se apreciar o rio enquanto se tem uma muito razoável refeição.

 

DIXIT - “A política sempre foi um jogo de máscaras, mesmo que não a devamos reduzir a isso” - Vicente Jorge Silva

 

BACK TO BASICS - “Acima de tudo a vida de um fotógrafo não pode ser pautada pela indiferença” - Robert Frank




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CASAMENTOS - O dado curioso das próximas eleições legislativas é que só existe um candidato a primeiro-ministro. Ninguém mais se candidata à função, os outros concorrentes apenas procuram votos e lugares clientelares no novo parlamento. António Costa ainda não sabe se vai ter  que arranjar companhia ou se conseguirá ser o noivo que vai sozinho ao altar, prescindindo de arranjinhos. Numa entrevista recente deu umas sapatadas no noivado com o Bloco e,no primeiro debate da televisão, mostrou-se pouco entusiasmado em namorar o PCP, mas cuidadoso para não o afastar. António Costa é um político inteligente, um hábil manobrador que gere com táctica os arrufos e os assomos de paixão com os seus parceiros. Sabe perfeitamente que no dia a seguir às eleições será ele a ditar as regras do jogo que vai ser formar novo Governo e sabe também que ninguém estará em condições de lhe tirar esse prazer. Há quatro anos fez o namoro com Bloco e PCP às escondidas para garantir o poder no dia seguinte às eleições, espantando Passos Coelho, que havia sido o mais votado. Agora, às  claras, espera que o eleitorado lhe dê a possibilidade de se separar da geringonça, namorando caso a caso com quem mais lhe convier. A coisa já esteve mais longe de acontecer. E para tirar o Bloco da equação não será o PCP a a complicar a vida a António Costa.

 

SEMANADA - Até agora, durante o verão, foram detectados 31 mil condutores em excesso de velocidade e 2980 outros a utilizar telemóvel enquanto guiavam; de Janeiro a Agosto morreram 312 pessoas em acidentes de viação; mais de 43 mil portugueses foram apanhados em excesso de velocidade em Espanha;  mais de metade das consultas de neurocirurgia superou o tempo máximo de resposta considerado clinicamente aceitável; o envio pelo SNS de doentes para cirurgias no privado subiu 96% em 2018; as dívidas de hospitais do Serviço Nacional de Saúde ao Instituto do Sangue ultrapassam os 70 milhões de euros e ameaçam o seu funcionamento; a despesa pública com subvenções vitalícias abrange 308 políticos que custam 6,1 milhões de euros por ano; o PS prevê gastar 2,4 milhões de euros na próxima campanha eleitoral, o PSD cerca de dois milhões, a CDU prevê 1,2 milhões, o Bloco quase um milhão e o CDS cerca de 700 mil euros; José Sócrates classificou António Costa como “insuportável”; a aplicação informática para autorização de queimadas registou mais de 300 mil pedidos durante os primeiros sete meses do ano, dos quais 96% foram autorizados; o Tribunal de Contas alertou que a desertificação dos solos afecta dois terços do território e denunciou que os programas de combate à desertificação estão a ser mal executados pelo Governo que obviamente o desmente; um inquérito recente indica que mais de metade dos portugueses (53,5%) diz que a crise não passou e afirma que o desemprego está no topo das suas preocupações.

 

ARCO DA VELHA - Catarina Martins anunciou que “o programa eleitoral do Bloco é essencialmente social-democrata”.

 

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DIGRESSÃO ARTíSTICA - "Contra a Abstracção" é uma exposição colectiva de obras da Colecção da Caixa Geral de Depósitos, comissariada por Sandra Vieira Jurgens, que tem percorrido diversas cidades ao longo dos últimos meses com várias versões de diferentes obras, mas mantendo um núcleo central de artistas em todos os locais onde já passou. É uma boa forma de levar a colecção do Banco Público para fora das austeras portas do seu edifício sede em Lisboa. A exposição   apresenta uma seleção de obras, de diferentes artistas (cerca de 50, a maioria portugueses) e suportes (da pintura à fotografia, passando pelo vídeo, escultura e instalação). O título da exposição evoca o seu tema central - que é o abstracto.  Estão representados artistas como Álvaro Lapa, Ana Hatherly, Ana Jotta,  ngela Ferreira,  ngelo de Sousa, António Ole, António Palolo, Bartolomeu Cid dos Santos, Ernesto de Sousa, Espiga Pinto, Fernanda Fragateiro, Fernando Calhau, Joana Vasconcelos, João Paulo Feliciano, José Loureiro, José M. Rodrigues, Júlia Ventura, Kees Scherer, Leonor Antunes, Luís Demée, Man, Manuela Almeida, Manuel Viana, Nadir Afonso, Pedro Cabrita Reis, Pedro Casqueiro, Pedro Portugal e Rui Sanches, entre outros. A exposição está neste momento patente no Centro de Artes de Sines até 27 de Outubro. Concebido por Francisco e Manuel Mateus o Centro de Artes de Sines é considerado como um edifício marcante da arquitetura portuguesa contemporânea. A exposição está aberta diariamente entre as 14h30 e as 20h00, incluindo ao fim de semana. 

 

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NOVAS CANÇÕES AMERICANAS- Após uns anos sem gravar Lana del Rey surge com o seu quinto álbum de originais que chama para o título Norman Rockwell, um dos nomes incontornáveis da ilustração norte-americana, conhecido pela forma como retratou cenas do quotidiano do sonho americano. “Norman Fucking Rockwell” é o nome do novo disco com 14 canções que mostram uma Lana Del Rey mais madura e mais afirmativa, a desafiar as palavras e a exibir a sua sexualidade, mas também a sua opinião sobre a América deste tempos. O álbum é um somatório de emoções, alternadas com opiniões e afirmações. A faixa inicial, “Venice Bitch”, é uma melodiosa evocação de jogos de sedução e de sexo que se prolonga durante quase oito minutos e que antecede a forte “Fuck It I Love You”, muito autobiográfica, a abrir caminho para o centro geográfico deste álbum que é a Califórnia, evocada numa canção homónima onde o amor perdido é tema, aliás como em “Love Song”. Há canções cujos títulos são já um programa, como “The Next Best American Record” ou o também muito pessoal “Hope Is A Dangerous Thing For A Woman Like Me To Have - But I Have It”, onde até cabe uma referência a Silvia Plath, uma poetisa e escritora norte-americana conhecida pelo seu estilo confessional - um ponto de contacto com este disco de Lana Del Rey. Há ainda uma piscadela a Neil Young, a quem roubou o nome da uma canção, “Cinnamon Girl”, o exibicionismo de “Bartender” e aquela que é talvez a mais forte canção do disco, “Doin’ Time”, que começa por uma evocação do standard “Summertime” e que subitamente parte para outros territórios. No disco há numerosas referências à America de Trump, críticas presentes em quase todas as canções num contraste propositado com a ideia de um paraíso idílico do sonho americano que Norman Rockwell retratou. É este conjunto de citações e de cruzamentos de fontes e influências que faz a força deste disco. CD disponível no Spotify.

 

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SOBRE AS CIDADES - A edição de Setembro da revista “Monocle” vem com muita leitura. O tema de capa aborda a evolução da mobilidade entre a casa e o trabalho e aponta ideias para o replaneamento de cidades num futuro próximo, indicando Helsínquia como uma das mais avançadas, sublinhando que já tem um curso um plano com objectivos traçados até 2050. Os filisteus que habitam na Praça do Município em Lisboa, de todos os partidos aliás, fariam bem em ler este artigo e tomar notas. Passando para outro tema, a cultura, uma das cidades em foco é a norte-americana Tulsa,  que é protagonista de um ressurgimento devido a generosas dádivas de fortunas feitas no petróleo e que desde os anos 30 do século passado contribuíram para edifícios arquitectonicamente marcantes da cidade. Uma das actividades mecenáticas mais recentes tem a ver com a recuperação do Arts District da cidade e com a compra dos arquivos de Woody Guthrie de de Bob Dylan pela universidade de Tulsa, um investimento que ultrapassou os 20 milhões de dólares em grande parte financiado por uma Fundação privada - coisas que a legislação americana permite e incentiva e que aqui são maltratadas. Com ligações claras a esta área está um dos mais interessantes artigos da edição e que tem a ver com a gestão de museus, baseado em entrevistas com responsáveis de instituições em Berlim, Taipé, Nova Iorque e Londres. Aqui estão mais umas páginas que podem ser úteis a algumas pessoas envolvidas no tema em Portugal. Por falar nisso a edição inclui oito páginas de conteúdos patrocinados pelo Turismo de Portugal com 50 lugares essenciais a visitar, de restaurantes a museus, passando por praias ou lojas. Serralves é que deve ter ficado aos saltos porque a sua localização vem… em Lisboa.

 

VOANDO - Andar de avião no Verão dá cabo da paciência a um santo: filas infindáveis, aeroportos cheios, controlos de segurança demorados. Se as coisas correrem bem podemos contar com uma hora entre a entrada no aeroporto e a chegada à porta de embarque. Se falarmos do aeroporto de Lisboa, à hora de ponta, a coisa pode ser ainda pior. Quem está na cidade exaspera-se com o barulho causado pelos aviões, quem está no aeroporto enerva-se com as filas e com a espera. Uma vez chegados à porta de embarque resta aguardar que o voo não esteja atrasado, uma raridade nos tempos que correm, sobretudo na TAP. Depois, uma vez no avião, resta esperar que ele não tenha perdido a sua hora de saída e seja obrigado a ficar à espera de vez. Foi o que me aconteceu num recente voo da Vueling para Barcelona, em que estive quase três quartos de hora à espera que o avião pudesse levantar. O comandante, no entanto, não foi de modas e explicou aos passageiros que, embora o aeroporto de Lisboa fosse já manifestamente insuficiente para o movimento que tem, desta vez a culpa não tinha sido da torre de controlo. Explicou que o atraso se deveu ao handling, classificando-o de desleixado e incompetente. Disse que o avião até tinha chegado adiantado ao aeroporto mas a equipa de handling atrasou-se uma hora e comprometeu todo o resto da operação. Insinuou que isto era frequente com o handling no aeroporto da capital. E os passageiros, maioritariamente estrangeiros, que enchiam o Airbus A320, ficaram assim comuna bela ideia do país.

 

DIXIT - “Desejo firmemente que os “debates” televisivos tenham a audiência que merecem: a pior, abaixo da do pior telejornal. Seria um magnífico sinal de alguma maturidade cívica numa sociedade tão infantil e infantilizada por uma oligarquia política e comunicacional tropical.” - João Gonçalves, jurista

 

BACK TO BASICS - “Ouçam muitos mas falem só com alguns” - William Shakespeare

 

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