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PS: AUSTERIDADE COMO LINHA POLÍTICA

por falcao, em 29.11.19

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QUEM ANDA À CHUVA, MOLHA-SE - O cartoon de Luis Afonso neste jornal, na passada quarta-feira, era dedicado ao anúncio de que Portugal tem um excedente orçamental de 998 milhões de euros. “Nada mau” - replicava-se a este número. Para a seguir dizer: “Agora é continuar a poupar no Serviço Nacional de Saúde, que se ultrapassa tranquilamente a fasquia dos 1.000 milhões”. Este diálogo imaginado das personagens do cartoon de Luís Afonso sintetiza o estado da nação, melhor que mil discursos. A triste realidade a que todos assistimos é que o Estado falha cada vez mais onde deve mostrar eficácia - saúde, segurança, educação, justiça. Como é patente as contas do país estão melhores porque a austeridade continuou e até se agravou nalgumas áreas. Em vez de o dinheiro existente ser utilizado para políticas sociais foi usado para satisfazer grupos de interesse e comprar apoio eleitoral. O Governo de Passos Coelho criou medidas austeridade, nalguns casos menos agressiva, mas comunicou-a muito mal. Costa e Centeno agravaram a austeridade, prolongaram-na, mas  fazem como se ela não existisse - quando é absolutamente necessário abrem os cordões à bolsa numa área muito específica para calar algumas bocas e obter simpatia. Continuando no universo da banda desenhada há que reconhecer que António Costa é como Mandrake: tornou-se num grande ilusionista, um mágico das aparências, como se provou no debate quinzenal desta semana. Só que quem anda à chuva molha-se e todos os dias cai mais uma chuvada nas ilusões que são a linha política do Governo. Isto vai-nos custar imenso a todos - como já se percebeu a carga fiscal é para continuar a aumentar - não necessariamente para aplicar onde é mais precisa, mas para onde é mais útil aos interesses do PS.

 

SEMANADA -  Foi aprovado o projeto que permite aumentar o tráfego no aeroporto de Lisboa, dos atuais 44 para até 72 movimentos por hora; o orçamento do município de Lisboa para 2020 prevê que as despesas com pessoal subam 12% em 2020; no próximo ano cada lisboeta pagará 545 euros em taxas e impostos municipais; os gastos dos partidos nas eleições europeias derraparam 18%,  o BE, o PS e o CDS foram os que mais gastaram face ao que tinham previsto para a campanha eleitoral e o PSD, a CDU e o PAN gastaram menos face ao orçamentado; o Ministério das Finanças travou um curso para formar 200 GNR prometidos em maio pelo Ministro da Administração Interna; entre 2013 e 2018 o valor das casas em Portugal subiu mais 32% que os salários e Portugal foi o segundo país com a maior diferença na evolução do custo da habitação e o rendimento das famílias; mais de metade das crianças passam 10 a  12 horas por dia em creches; 52,9% dos professores no ensino público têm hoje 50 e mais anos de idade e apenas 1,1% se situam abaixo dos 35 anos; o número de diplomados em educação caíu para metade e os cursos de formação de professores atingiram em 2018 o valor mais baixo da última década; até 2030 mais de metade dos professores do quadro podem aposentar-se devido à idade; em Portugal apenas 33,5% da população entre os 30 e 40 anos tem o ensino superior, abaixo da meta europeia de 40% para 2020; há turnos nos serviços do INEM sem médico coordenador e existem falhas nesses turnos que têm gerado um atraso no encaminhamento correcto de doentes urgentes, colocando em risco a vida das pessoas.

 

ARCO DA VELHA - Joacir Katar Moreira queixou-se do assédio de jornalistas dizendo que tanta pergunta não a deixa trabalhar e pediu para ser escoltada pela GNR dentro do edifício da Assembleia para não ser incomodada por perguntas de repórteres no trajecto para o seu gabinete. 

 

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A MAGIA DAS MÁSCARAS -  Até domingo Bragança torna-se o paraíso das máscaras, com a realização da Mascararte, a IX Bienal da Máscara. Este ano o centro das atenções é a exposição sobre as máscaras da cultura Makonde, de Moçambique. Nesta cultura a paixão pela vida é talhada nas suas afamadas máscaras, elemento central de rituais, como o “Mapiko”, uma dança enérgica, cheia de força e expressividade acompanhada ao som de cânticos e tambores, executada nas principais festas e cerimónias e, sobretudo, nos ritos de iniciação dos jovens homens e mulheres. Outras exposições estão patentes no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira, no Centro de Fotografia Georges Dussaud e no Museu Abade de Baçal. Um ponto alto da IX Bienal da Máscara – Mascararte é o desfile pelas ruas do Centro Histórico de Bragança, em direção ao Castelo, onde acontecerá a Queima do Mascareto, sob o tema “Reencarnação do Diabo, da Morte e da Censura no deus Brahma”, e actuações de um grupo de canto e dança de Moçambique.  Esta edição da Mascararte termina com a inauguração da exposição “Gaitas de Fole do Noroeste da Península Ibérica”, de Pablo Carpintero. Outras sugestões: em Coimbra pode também ver até  31 de Dezembro, na Casa  Municipal da Cultura, e organizada pelo Centro de Artes Visuais,  a exposição Linha de Fronteira baseada na Colecção Encontros de Fotografia e na série de exposições que realizou no decurso dos anos 90 sobre os territórios fronteiriços de Portugal e que incluíram encomendas a vários fotógrafos. 

 

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PIANO FADO - Atenção que este disco pode arrepiar logo no início, quando o piano de Mário Laginha se cruza com a voz de Camané em “Não Venhas Tarde”, o clássico de Aníbal Nazaré e João Nobre que Carlos Ramos cantou. E logo a seguir, no disco, está “Com Que Voz”, o fado composto por Alain Oulman para Amália, baseado num poema de Camões. Oulman compunha ao piano e Amália cantava a seu lado quando preparavam os discos e é impossível não pensar nesses momentos quando se ouve este “Aqui Está-se Sossegado”, penas com voz e piano. Mais à frente aparece outro tema onde Oulman, também para Amália, retomou a lírica de Camões, “Amor É Fogo Que Arde Sem Se Ver”. E há mais uma composição de Alain Oulman, desta vez sobre poema de David Mourão Ferreira, o “Abandono”, que Amália também cantou. Laginha e Camané trabalharam muito tempo neste disco, experimentaram os fados e as canções em concertos por todo o país. O resultado é um disco de emoções e cumplicidades feito de repertório clássico e de alguns originais. Do repertório habitual de Camané aqui estão “Guerra das Rosas” e “Ela Tinha Uma Amiga” (ambos de Manuela de Freitas e José Mário Branco), “Dança de Volta” (de Luiz de Macedo), sobre Fado Bailarico, de Marceneiro e Fado Lopes, de José Lopes), e “Quadras” (de Fernando Pessoa, no Fado Alfacinha, de Jaime Santos). Nos inéditos destaque para “Aqui está-se sossegado”, que dá o título ao CD (um poema de Fernando Pessoa sobre o Fado Espanhol, de Júlio Paiva), “Rua das Sardinheiras”, (de Maria do Rosário Pedreira com música de Mário Laginha) e “Se Amanhã Fosse Domingo”  (de João Monge e Laginha). Finalmente há um instrumental de Laginha, “Rua da Fé”. Ao todo 14 temas neste “Aqui está-se Sossegado” que vai ser interpretado ao vivo dia 20 de Dezembro no Coliseu de Lisboa.

 

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TRÊS IRMÃS PODEROSAS - Jung Chang é uma escritora chinesa, actualmente a viver em Londres, que se tornou conhecida com o livro “Cisnes Selvagens”, que conta a história da sua família ao longo de três gerações (sendo uma a dela própria), vendeu mais de dez milhões de exemplares em todo o mundo e foi proibido na República Popular da China. Outras obras suas que ganharam destaque foram a biografia  “Mao - a História Desconhecida” e a biografia da Imperatriz Viúva Cixi. Desta vez Jung Chang revisita a história de três mulheres que estiveram no no centro do poder da China no século XX, “As Irmãs Soong – A Mais Velha, a Mais Nova e a Vermelha”. O livro percorre a vida de três irmãs de Xangai cuja vida girou em torno de poder, amor, conquista e traição: a Irmã Vermelha, Ching-ling, que se casou com Sun Yat-sen, (o fundador da República Chinesa) e veio a ocupar cargos importantes na estrutura do regime de Mao Tsé-tung; a Irmã Mais Nova, May-ling, que foi a senhora Chiang Kai-shek, primeira-dama da China nacionalista pré- comunista e uma figura política por direito próprio; e a Irmã Mais Velha, Ei-ling, que foi conselheira principal não oficial de Chiang Kai-shek, fez do seu marido primeiro-ministro e foi uma das mulheres mais ricas da China. Esta é a história até aqui pouco conhecida das três irmãs Soong, uma narrativa que envolve exílio, amor, momentos de glória, perigos, intriga, guerra, glamour, desespero, traição e perda – mostrando-nos o século decisivo que a China atravessou e como elas conspiraram, influenciaram e deixaram a sua marca. Arrebatador.

 

OS VINHOS DO DOURO SUPERIOR - Pode um vinho branco ser adequado a estes dias de chuva a meio do outono? A resposta é sim se ele tiver corpo e alma. É o caso do Duorum Colheita Branco de 2018. É um vinho proveniente da Quinta do Castelo Melhor, situada a 500 metros de altitude na zona do Douro Superior, perto de Vila Nova de Foz Côa, em terrenos de xisto. O vinho é elaborado a partir de uvas das castas Castas Rabigato, Gouveio, Arinto e Códega do Larinho.  30% da produção foi fermentada em barricas de carvalho francês e o resto em tubas de inox a temperatura controlada. O resultado é um vinho amarelo dourado, com 13º, com volume e corpo e um final prolongado, com aroma frutado e boa acidez. É um daqueles vinhos que persiste na boca, bom para beber devagar, pessoalmente correu muito bem num fim de tarde entre dois dedos de conversa e umas tapas de queijo de pasta mole. Também se portou bem a acompanhar o peixe da refeição que se lhe seguiu.

 

DIXIT - “Fui eu que ganhei as eleições sózinha e a direcção (do Livre) quer ensinar-me a ser política” - Joacine Katar Moreira

 

BACK TO BASICS - “Como nação temos o dever de preservar os recursos naturais que recebemos para os entregar à geração seguinte” - Theodore Roosevelt.

 



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publicado às 12:00

PARLAMENTO, PRIMEIRO MÊS: UM SUSTO

por falcao, em 22.11.19

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A NEBLINA DO REGIME - Percebe-se que há uma neblina perigosa quando uma maioria de esquerda no parlamento pretende silenciar os pequenos partidos; percebe-se que há uma neblina que desfoca o regime quando o PSD acha boa ideia passar os debates quinzenais com o primeiro-ministro a debate mensal para diminuir os incómodos e os ruídos perigosos e não expôr tanto a sua própria fraca oposição; percebe-se que a neblina passa a muro opaco quando o Presidente da Comissão de Transparência do novo parlamento, Jorge Lacão, admite que as reuniões daquele orgão decorram à porta fechada. Tudo isto se passou no Parlamento no seu primeiro mês de actividade - pode dizer-se que pelo caminho que as coisas levam a Assembleia da República está seriamente empenhada em dar uma má imagem  e em continuar a aumentar o desprestígio da função de deputado - situação que pelos vistos não desagrada aos próprios. Se juntarmos a isto a ideia deixada no ar por António Costa de que os impostos indirectos poderiam subir, que há planos de um englobamento que é apenas um eufemismo para aumento do IRS e se juntarmos as notícias sobre a continuação de dificuldade financeiras na saúde e transportes, temos uma ideia do que prometem ser estes quatro anos da legislatura agora iniciada : areia lançada à ventoinha para iludir os incautos, uma sucessão de promessas feitas em ano eleitoral que de repente entram na zona de amnésia do poder e que na realidade nunca foram anunciadas com a ideia de serem cumpridas. Chegámos ao ponto em que o engano é a arma da política e a ocultação a máscara dos políticos. O mais engraçado de tudo é que o efeito desejado - e que até aqui tem sido bem conseguido - é que aumente o desinteresse pela política para que sejam cada vez menos aqueles que votam de forma a que os eleitos sejam cada vez menos representativos e cada vez menos alvo de escrutínio.


SEMANADA - Em Portugal a sindicalização caíu de 61% para 15% em quatro décadas; há mais de 50 mil doentes à espera de serem operados para lá do prazo legal; o número de hospitais que ultrapassam os tempos máximos nas operações prioritárias ao cancro aumentou de 18 para 22; ortopedia e oftalmologia têm os piores tempos de espera para primeira consulta hospitalar; uma consulta prioritária de ortopedia chega a demorar 3,8 anos; na Guarda uma primeira consulta de cardiologia pode chegar aos cinco anos; há 21 pedreiras em situação de risco sem vedações; a mais antiga bienal de arte portuguesa, de Vila Nova de Cerveira, deixou de ser apoiada pelo Ministério da Cultura; apesar das promessas e anúncios anteriores, o Governo suspendeu 18 obras na ferrovia do Norte e Centro; os alunos da Faculdade de Letras de Lisboa queixam-se de que nas instalações universitárias há ratos e baratas; há quase 42 mil idosos a viver sózinhos ou isolados; o número de pré-avisos de greve até Outubro foi o mais alto dos últimos quatro anos, totalizando 781; desde 2008 a crise e os avanços tecnológicos eliminaram 16 mil postos de trabalho na Banca e fecharam quase dois mil balcões e foram eliminadas três mil caixas multibanco;  Bruxelas continua a incluir Portugal nas oito economias com orçamentos para 2020 que ainda apresentam risco de infringir as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

 

ARCO DA VELHA - Nos últimos dias foram feitos dois anúncios oficiais: a certeza que o pavilhão do gelo em Lisboa acontecerá nesta legislatura contrasta com o reconhecimento de que a ala pediátrica do Hospital de S. João no Porto vai ter de esperar.

 

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A FICÇÃO DA REALIDADE - Edgar Martins é um fotógrafo português que tem vivido fora do país, nomeadamente em Macau e Inglaterra e venceu o BES Photo em 2009. A sua carreira profissional passou pelo foto-jornalismo e em trabalhos publicados em vários grandes jornais, como o New York Times. Um deles provocou polémica porque o jornal entendeu que as fotografias tinham sido manipuladas - o que era verdade e o autor não negou. Edgar Martins argumentou que a manipulação não era para ocultar a realidade mas para a ultrapassar e interpretar. Hoje em dia a pós-produção das imagens fotográficas que regista e utiliza tornou-se quase regra no seu trabalho. A exposição que está na Galeria Filomena Soares é um bom exemplo deste conflito entre a realidade, a ficção e a interpretação do mundo à sua volta,  conflito que cada vez povoa mais a obra de Edgar Martins. “What Photography has in Common with an Empty Vase” é o nome da exposição que mostra um trabalho desenvolvido em colaboração com uma prisão de Birmingham, com os seus presos e respectivas famílias. No centro está a forma como Edgar Martins encara e faz coexistirem a visibilidade, a ética, a estética e a documentação. Perturbante, o trabalho reflecte o sentimento de ausência provocado por uma separação forçada e recorre à ficção para construir uma narrativa que enquadra a tese defendida pela escolha das imagens e da forma de as mostrar

 

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40 ANOS A REMAR - Os  Xutos & Pontapés começaram há 40 anos - até me arrepio a pensar nisto e a recordar-me de como os conheci numa sala de ensaios numa garagem salvo erro perto entre Belém e Algés, antes de a zona estar na moda. Nesse dia percebi que estava ali alguma coisa diferente, uma energia feita de convicção. Uns tempos mais tarde ouvi “Sémen” e tive a certeza que os referenciais da música portuguesa estavam a mudar. Muitas vezes os ouvi no Rock Rendez Vous, assisti a concertos deles  ainda antes de encherem pavilhões. Nunca saí aborrecido de um dos seus concertos, não tenho memória de me ter desiludido. Para assinalar as quatro décadas da banda foi agora organizada uma compilação, sob a forma de duplo CD, que inclui 40 faixas marcantes da carreira dos Xutos, desde o primeiro single “Sémen” até “Mar de Outono” do álbum “Duro”, editado já este ano. Pelo meio estão temas como “Remar, Remar”, “Longa Se Torna A Espera”, “O Homem do Leme”, “Não Sou O Único”, “Vida Malvada”, “Gritos Mudos”, “Para Sempre” ou o “Mundo Ao Contrário”, entre tantos outros. Ouvir o disco é imaginar os últimos 40 anos da história de Portugal - porque cada uma destas canções teve o seu lugar no tempo e não poucas vezes se relacionou com o que se passava no país. As canções estão alinhadas por ordem cronológica e incluem ainda temas como “A Minha Casinha”, “À Minha Maneira”, “Para Ti Maria” ou “Se Me Amas”, por exemplo. E continuo a ouvir tudo isto com o agrado de cruzar memórias. 

 

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CEM ANOS DE HISTÓRIAS - Quem gosta de música e seguia The Band deve ter visto “The Last Waltz”, o filme do concerto final do grupo, em 1976, realizado por Martin Scorsese. A páginas tantas no filme aparece um homem a declamar um poema, “Loud Prayer”. O homem é Lawrence Ferlinghetti, um escritor, poeta e artista plástico norte-americano que completou em Março passado 100 anos. Ele é um dos expoentes da chamada Beat Generation. Criou a editora e livraria City Lights, que publicou o célebre e polémico poema “Howl” de Allen Ginsberg e se viu envolvida numa batalha legal pela liberdade de expressão. As suas ligações a uma geração de músicos cruzam nomes como Bob Dylan, Roger McGuinn, mas também Cindy Lauper e The Residents. O poema “A Coney Island Of The Mind” é porventura a sua obra mais célebre. Este ano, coincidente com o centésimo aniversário do autor, foi publicado em Março nos Estados Unidos a novela “Little Boy”, agora editado pela Quetzal com o título “Rapazinho” na tradução portuguesa. É uma curta novela, autobiográfica, na qual Ferlinghetti revisita a sua vida, sublinhando que o único fio condutor da obra é o relato do seu envelhecimento. Mais do que um  testamento literário, o livro percorre reminiscências biográficas e profecias sobre o que podemos esperar da vida no futuro. Ferlinghetti é uma figura incontornável da cultura contemporânea nos Estados Unidos, uma referência de uma geração e neste “rapazinho” surgem referências a nomes como Jack Kerouac, William Burroughs e T.S. Elliott, entre outros. O livro percorre episódios da infância, da adolescência, da vida durante a segunda guerra, da descoberta de Paris e da forma como se estabeleceu em S. Francisco e influenciou a vida cultural da West Coast. É um pequeno livro maravilhoso, a falar do que se passou sem ser passadista e a deixar muito campo aberto à imaginação. Ferlinghetti, aos cem anos, felizmente continua provocador. 

 

PEIXINHO EM PALMELA - Farto de restaurantes com conceito e sem respeito pelo cliente resolvi visitar a nova morada de um clássico da zona de Azeitão, “O Pescador”. Anteriormente estava na zona de Brejos, agora está perto de Palmela, numa sala maior e com um nome equivalente, “Dom Pescador”. Mas à frente das operações continua o Sr. Manuel, olhar vigilante sobre as mesas, a recordar-se de clientes, mesmo antigos e pouco assíduos. Os trunfos do restaurante são o peixe muito fresco, o bom marisco e uma cozinha cuidada. O serviço é atento e mesmo com a sala cheia as coisas andam com suavidade. Um dos trunfos da casa é a qualidade de percebes e amêijoas. Os primeiros foram de aperitivo, fresquíssimos, gordos, com o mar lá dentro, no ponto certo de cozedura. As amêijoas apareceram voluptuosas, no meio de uma canja de garoupa abundante e absolutamente exemplar. Provou-se também um linguado grelhado, impecável de preparo e de frescura, com um belo feijão verde a acompanhar. Outros petiscos possíveis, dependendo do que aparece no mercado, são salmonetes fritos com arroz de berbigão e pregado frito com arroz de conquilhas. O grande aquário à entrada da sala de refeições é um jardim das delícias com lavagantes e lagostas. Mas mesmo os peixes mais simples são aqui tratados com a atenção que o mar merece. E sem manias.  Rua Dr. Bernardo Teixeira Botelho Nº7, Palmela, telefone 21 210 4641.

 

DIXIT - “ Entre aumentos do IRS "para os ricos" (vulgo classe média) e mais impostos politicamente correctos, o futuro do nosso socialismo é o de todos os socialismos: durar até acabar com o dinheiro dos outros”- José Manuel Fernandes.

 

BACK TO BASICS - “Não são os escritores de canções que mudam sociedades, a sociedade é que muda os escritores de canções” - José Mário Branco

 





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OS FEIRANTES DA POLÍTICA

por falcao, em 15.11.19

 

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ANTIGUIDADES MODERNAS - O que é o PS? O partido que primeiro nega a palavra aos deputados eleitos pelos partidos estreantes no Parlamento? O partido que depois lhes quer dar apenas um minuto como tempo para interpelarem António Costa nos debates quinzenais? Ou o partido que defende que uma autarquia que governa (Lisboa) tenha acesso aos dados privados das viaturas particulares que nela circulam? Ana Catarina Mendes, a líder parlamentar do PS, foi a voz que defendeu o silenciamento dos novos partidos no Parlamento e depois lhes quis dar um minuto de esmola, e Vasco Móra, assessor do Vereador da Mobilidade, Segurança, Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa, foi quem defendeu que a autarquia possa ter acesso a dados sobre circulação na cidade dos sistemas digitais de automóveis particulares. O PS é cada vez mais um paradoxo entre uma organização que se afirma progressista e um feudo conservador,  fechado sobre si mesmo, disposto a tudo para segurar o poder e controlar o que se diz e se faz. Quer queira, quer não queira, com pessoas como Mendes ou Móra, António Costa faz o papel de guardião do Big Brother, ou, mais prosaicamente, o papel de feirante moderno que negoceia em gadgets já desactualizados nas novas feiras de velharias. António Costa é um mestre de ilusionismo - no sentido de pretender fazer passar a ilusão pela realidade. Como se tem visto desde que é Primeiro-Ministro, o país que ele tem na cabeça faz o que ele quer, como ele quer, quando ele quer. As atitudes destes seus dois serventuários são um reflexo da cultura política vigente sob a batuta de Costa.

 

SEMANADA - As queixas dos utilizadores do novo passe Navegantes resumem-se assim: os transportes públicos não estavam preparados para receber mais utilizadores, estão cheios, os atrasos são constantes e os equipamentos são velhos; as autoridades detectam uma média de 20 pessoas por dia a conduzir sem carta; três em cada quatro portugueses usam o telemóvel enquanto conduzem; 10% dos portugueses não têm qualquer dente e mais de 30% dos portugueses não vão ao dentista ou só vão em caso de urgência, alegando não ter capacidade financeira; a pneumonia é a segunda causa de morte em Portugal; entre janeiro e junho deste ano foram trocadas mais 246 mil seringas para drogas do que em igual período do ano passado; até final de outubro foram concedidas cerca de 11 mil autorizações de residência a estrangeiros, mais 18% que em igual período do ano passado; entre 2005 e 2013 a Câmara Municipal de Santa Comba Dão pagou cerca de 700 mil euros por obras que não foram feitas; as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto concentravam, em 2017, mais de metade (52%) do poder de compra do país e representam 44% da população portuguesa; o PAN quer estender a taxa de carbono à produção de carne; quase 600 médicos  ficaram sem acesso à especialidade este ano; cerca de 53 mil toneladas de matérias perigosas, entre as quais amianto, foram importadas para Portugal entre 2016 e 2017.

 

ARCO DA VELHA  - Nas Forças Armadas há mais índios que setas: segundo o Ministério da Defesa em 2018 havia 11 369 praças para 8738 sargentos e 6905 oficiais (num total de 15 643). 

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ARTE AO FIM DE SEMANA - De 15 a 17 decorre a primeira edição do Lisbon Art Weekend em duas dezenas de galerias privadas e espaços públicos de exposição que estarão abertos todo o fim de semana e centrados na arte contemporânea. Nalguns casos há programas especiais (como uma visita guiada por Filomena Molder na exposição de Rui Sanches, na Cordoaria,  sábado pelas 17h00). O programa pode ser consultado no facebook e em lisbonartweekend.com . Os espaços aderentes são  Balcony Gallery, Carlos Carvalho Contemporary Art, Carpintarias de São Lázaro, 3+1 Arte Contemporânea, AZAN, Bruno Múrias, Casa dell’Arte Lisbon, Galeria 111, Galeria Belo-Galsterer, Galeria Cristina Guerra, Galeria Foco, Galeria Francisco Fino, Galeria Graça Brandão, Galeria Vera Cortês, Galerias Municipais/Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria, Madragoa, MONITOR Lisbon, Pedro Cera e Underdogs Gallery. Outros destaques: na Fundação Gulbenkian duas novas exposições merecem visita. “Art On Display, Formas de Expôr 1949-1969” assinala os 50 anos do Museu Gulbenkian e tem como ponto de partida as soluções expositivas pensadas para a sua abertura em 1969 e permite percorrer diversas formas de olhar e de apresentar obras de arte.  A outra exposição da Gulbenkian é “Call To Action - Abril em Portugal” que reúne peças desenhadas por Robin Fior entre as décadas de 60 e 80 para projectos social e politicamente comprometidos. Fior chegou a Portugal em 1973 e por cá se manteve desenvolvendo uma obra de designer gráfico que agora é mostrada pela primeira vez. 

 

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ROUBADOS E BEM CANTADOS - No ano em que celebra 25 anos de carreira Aldina Duarte foi buscar repertório alheio - vários fados mas nenhum dos fados tradicionais, nenhum escrito por si ou para si ao contrário do que tem sido hábito. Aqui estão 12 temas, do “Vendaval” de Tony de Matos a “Rosa Enjeitada” (em dueto com António Zambujo), passando por “Senhora da Nazaré” (de João Nobre), “Porta Maldita” (de Maria da Fé), “Ouça Lá Ó Senhor Vinho” (de Alberto Janes), “Veio A Saudade” (de Beatriz da Conceição) ou “Arraial” (de João Ferreira Rosa).  Por isso mesmo deu a este novo álbum o título de “Roubados” e, para a capa, foi buscar ao baú uma fotografia sua com 21 anos, idade em que se encantou pelo Fado. Aldina Duarte assegurou arranjos e produção musical. As doze músicas que escolheu estão entre as que considera das mais belas de sempre na história da música portuguesa e do fado e a opção foi fazer versões bem diferentes dos originais - muitas vezes levando a sua voz até ao limite, como acontece logo em “Vendaval”, o primeiro tema do disco que tem uma interpretação arrebatadora. Aldina é acompanhada por Paulo Parreira na guitarra portuguesa e Rogério Ferreira na viola.  O CD inclui um portfolio fotográfico de Alfredo Cunha que mostra o trabalho efectuado em estúdio na gravação destas versões. E, como pano de fundo, sempre a voz de Aldina, a sua forma de cantar, a sentir cada palavra que diz.

 

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A HISTÓRIA DA MARQUESA FUTURISTA - A mais recente edição da revista ”Electra” reflecte sobre o crescimento dos movimentos em defesa dos animais com várias colaborações onde se destaca o ensaio sobre a divisão entre o Humano e o Animal pelo professor de neurologia Massimo Filippi. Outro dos temas deste sétimo número da revista editada pela Fundação EDP, e que a partir de agora passa também a ser distribuída no Brasil,  tem a ver com o culto do património e o seu uso político, tendo por base a destruição parcial da catedral de Notre Dame, através das visões de Salvatore Settis, arqueólogo e historiador, Carlo Pùlisci, historiador de arte, e Pedro Levi Bismarck, arquitecto e investigador cujos três ensaios convivem com imagens da Catedral, do fotógrafo André Cepeda. A figura em destaque nesta edição é Luisa Casati, a “marquesa futurista” - como lhe chamou o poeta italiano Marinetti – que adivinhou as atitudes artísticas e culturais do século XX e XXI e cuja fascinante história José Manuel dos Santos conta num belíssimo texto. O portfolio é da autoria da artista holandesa Magali Reus conhecida sobretudo pelo seu trabalho na área da escultura e que aqui apresenta a sua primeira incursão pela fotografia com mais de uma dezena de fotografias sobre o percurso das flores. A entrevista que abre este número é com Hisham Mayet, cineasta, músico, investigador e fundador da editora Sublime Frequencies, em conversa com André Príncipe e José Pedro Cortes que acompanham com um ensaio visual a narrativa, fruto de uma semana em Tânger. Finalmente destaque ainda para um bom texto da historiadora de arte Helena de Freitas sobre duas mulheres artistas, Dora Maar e Berthe Morrison.

 

O PÉSSIMO FAZ FRIO  - Passear hoje em dia no Princípe Real é andar por uma feira de diversões onde a maioria dos restaurantes são feitos para os visitantes estrangeiros, sem preocupações de cativar clientes portugueses que queiram voltar. Alguns destes restaurantes não aceitam reservas e estão no seu direito - não querem correr o risco de atrasos ou faltas e querem manter as mesas disponíveis para quem fôr chegando. Gostam aliás de ter filas à porta, preferem clientes acidentais a clientes regulares. Mas o que nunca me tinha acontecido foi chegar a um restaurante que não aceita reservas, pedir uma mesa para seis pessoas, que me foi dada como disponível e indicada, e sermos impedidos de nela nos sentarmos (estávamos duas pessoas a aguardar a chegada das outras quatro e tínhamos ido mais cedo para “segurar” mesa). O empregado disse que era norma do restaurante só sentar as pessoas se estivessem pelo menos quatro. Quando protestei e questionei o sentido de tal indicação respondeu-me que essa é a política do restaurante. Quando de novo tentei argumentar apareceu um ser, que soube depois ser o dono do local, que se meteu na conversa de forma rude e malcriada, na prática a querer que nos fôssemos embora - como bom burocrata disse que ali era assim e não havia mais conversa - eu tinha a minha opinião, ele tinha a dele (e ficou a rir-se orgulhoso do seu feito). Obviamente saí do restaurante em causa, o antigo Faz Frio, na D.Pedro V junto ao Príncipe Real, outrora uma casa acolhedora, hoje um lugar a evitar. Do antigo mantiveram se as paredes mas perdeu-se a simplicidade e o bom acolhimento. Agora, no Faz Frio, o cliente é gado na fila do matadouro às ordens das regras do proprietário, Jorge Marques, uma pessoa arrogante sem a menor consideração pelas observações dos clientes. Uma breve nota que postei no Facebook sobre este assunto gerou dezenas de observações e vários comentários a denunciar a falta de qualidade da comida e o mau serviço. Evitem dar dinheiro a está gente, o repúdio e a melhor solução. Quem não tem competência não se devia estabelecer - é o caso de quem manda no Faz Frio.

 

 DIXIT - “A própria existência humana tem impacte ambiental” - afirmação do secretário de estado  João Galamba a propósito dos receios de problemas ambientais causados pela exploração de minas de lítio em Boticas.

 

BACK TO BASICS - “Nunca andes pelo caminho traçado. Ele conduz apenas até onde os outros já foram” – Alexander Graham Bell.

 

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publicado às 12:00

A POLÍTICA DA IMPOSIÇÃO DA OPINIÃO

por falcao, em 08.11.19

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OS NOVOS DITADORES - Desde há alguns anos começou a proliferar um conjunto de ideias, aparentemente bondosas, supostamente novas, apresentadas de forma impositiva e que, com o correr do tempo, se enquadraram em mecanismos de acção totalitários. Muitas vezes enfeitam-se sob bandeiras de uma ideologia que se apresenta como sendo de esquerda, como se isso fosse um argumento de pureza e virtude. Esquecem-se os seus propagandistas que algumas das mais cruéis ditaduras do século XX assumiam-se sob o mesmo manto diáfano dessa esquerda, usando na propaganda a igualdade, a liberdade, a defesa de ideais anti-colonialistas, o combate ao desenvolvimento desenfreado e às desigualdades. Como hoje já é patente dois dos mais aguerridos blocos desse passado transformaram-se em regimes onde a corrupção é galopante, a exploração acentuada, o desrespeito pela protecção da natureza é inexistente, o domínio de outras geografias uma obsessão e onde as diferenças sociais são gritantes. Em Portugal o casulo destas ideias começou com o Bloco de Esquerda e organizações satélite, alargou-se para diversas áreas e acabou por ganhar presença parlamentar. Em comum os seus agentes têm o facto de não aceitarem ideias e princípios que não os seus e o de serem crescentemente intolerantes para quem não alinha no seu programa. São organizações que pretendem condicionar o funcionamento da sociedade e impôr as suas opiniões. No fundo são tão totalitários como os fascistas de meados do século XX. Em nome dos seus ideais querem que todos lhes obedeçam. Não admitem a diferença e combatem quem os critica e denuncia. Mascaram-se de politicamente correctos quando são velhos de pensamento e intolerantes de acção. Parecem modernos mas são antigos - antigos, confusos e perigosos. Hoje já os vemos a sair do casulo, dentro em breve começarão a denunciar os que consideram infiéis. Tenho muito claro que a minha liberdade acaba onde começa a do outro. Não quero impôr o que sou e não quero que me imponham o que outros acham que devo ser. 

 

SEMANADA - Segundo a Marktest 2,8 milhões de portugueses possuem ou beneficiam de seguro de saúde, o valor mais elevado dos últimos 16 anos e que equivale a cerca de 30% da população; segundo o INE há 4,5 milhões de pessoas a viver nas 159 cidades portuguesas, o que equivale a 43,4% da população em centros urbanos; um mês depois de finalizada a campanha eleitoral das legislativas continuam na rua a maior parte dos cartazes dos partidos concorrentes; dos 228 deputados eleitos há um mês, 28 já não estão no parlamento por assumirem outras funções; a proposta orçamental da Comissão Europeia prevê que a contribuição de Portugal para a União aumente enquanto os fundos para o país sofrem um corte de 7%; um em cada cinco trabalhadores ganha o salário mínimo; o Tribunal de Contas chumbou a empresa escolhida pela Autoridade Nacional da Aviação Civil para fazer o registo e controlo de drones por suspeitar que a escolhida para este contrato de 1,7 milhões de euros não tem comprovada experiência na área que devia executar; um grupo de especialistas alertou para o facto de Portugal não estar a conseguir avaliar a quantidade e a qualidade dos caudais dos rios que vêm de Espanha; a ameaça de falências volta a crescer no metal, têxtil e calçado e desde janeiro existem 238 empresas da indústria têxtil e da moda que estão em tribunal com processos de insolvência mais 42% face ao período homólogo do ano passado.

 

ARCO DA VELHA -  Durante o seu recente interrogatório pelo juiz Ivo Rosa José Sócrates disse que nunca tinha lido a acusação formulada contra ele.

 

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VENTO DE LESTE - No Museu Berardo inaugurou esta semana a exposição “(Des)construção da Memória”  de Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, que assinam como colectivo YiiMa, e que integra fotografias, vídeos, instalação e performances. Nesta mostra, que  inclui meia centena de obras de grande formato os artistas viajam através da Memória de Macau, dando-lhe um significado inteiramente novo (na imagem). A exposição, com curadoria de João Miguel Barros, é organizada por ocasião dos 20 anos de transferência de soberania de Macau para a RP China e dos 40 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a RP China.  O outro destaque da semana vai para “Estratégia da Aranha - teias e tramas”, de Teresa Segurado Pavão, que está na Casa/Atelier de Vieira da Silva, integrada na  fundação Arpad Szenes Vieira da Silva. A exposição mostra, através de uma multiplicidade de materiais, a ligação entre o trabalho de Teresa Segurado Pavão e a própria origem industrial do local, que fazia parte da Fábrica de Seda antes de ser o espaço de trabalho de Vieira da Silva. A exposição fica patente até 5 de Janeiro de 2020 e pode ser visitada no horário do Museu, sempre que solicitado na recepção. Às quartas-feiras das 15h00 às 17h30 poderá contar com a presença da artista na Casa-atelier. Finalmente, em Coimbra decorre até 29 de Dezembro a bienal de Coimbra, numa dezena de espaços da cidade com trabalhos de quatro dezenas de artistas de diversas nacionalidades e que este ano tem curadoria do brasileiro Agnaldo Farias. 

 

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RÁDIO BYRNE - David Byrne, o fundador dos Talking Heads, continua em grande forma como o seu álbum do ano passado “American Utopia”, e a correspondente  digressão mostraram. Uma das suas facetas que ganhou notoriedade nos anos mais recentes é o trabalho de recolha e divulgação de artistas, canções e músicas de diversos géneros, desde a world music ao pop experimental e ao apoio a artistas como St.Vincent. Nesta área um dos seus trabalhos mais interessantes é a David Byrne Radio, que pode ser ouvida na sua página pessoal (davidbyrne.com) ou na aplicação Mixcloud que tem uma área própria para a rádio de Byrne. Os novos programas aparecem pontualmente no início de cada mês, no dia 1. Em Setembro e Outubro foi a vez de grandes compositores de bandas sonoras de filmes, respectivamente Nino Rota e Bernard Herrmann. Nino Rota trabalhou com Fellini, para outros realizadores italianos e compôs o tema original de “O Padrinho”. Já Herrmann  trabalhou com Hitchcock -são dele os violinos de “Psycho” e a música de “North By Northwest” - e foi também o responsável pela banda sonora de “Twilight Zone” e de “Taxi Driver”. A selecção de Novembro é dedicada ao Indie Pop e inclui 18 temas de artistas como Stolen Jars, Hobo Johnson, Speedway, os próprios Talking Heads, mas também Bon Iver ou Billie Eilish, além de Vagabon, Michael Kiwanuka ou Jamila Woods entre outros. Assim é fácil descobrir a música de que David Byrne mais gosta.

 

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DEFENDER A LÍNGUA - Esta é uma história formidável: “Assim Nasceu Uma Língua - Sobre as Origens do Português” - trata-se de um livro escrito pelo linguista Fernando Venâncio. O autor começa nos primórdios da nossa língua, que remonta há séculos, tão distantes que Portugal ainda nem existia, passando pelos primeiros escritos, até à fala contemporânea que ainda hoje conserva registos, dessa movimentação primordial. É uma aventura que começa nas terras do norte, onde ao lado do galego nasceu a língua portuguesa e que a certa altura saltou os mares e ganhou novas formas em África e no Brasil. Formado em Linguística Geral e docente de língua e cultura portuguesas nas universidades holandesas de Nimega, Utreque e Amsterdão,  Fernando Venâncio, nasceu em Mértola, em 1944. Neste “Assim Nasceu uma Língua”, há espaço para críticas mordazes a todos os que querem «um idioma passadinho a ferro, lindo para encaixilhar», negacionistas da língua como um sistema vivo e, por isso, mutável. Para Fernando Venâncio, o português é um «idioma em circuito aberto», e falar da sua história é falar das origens, influências, elasticidade e ainda das derivações que resultaram, por exemplo, no português do Brasil. Do famigerado Acordo Ortográfico de 1990, o professor Fernando Venâncio garante que foi, no mundo real, um devaneio inútil e dispendioso. Uma edição da Guerra & Paz, um livro que o seu editor, Manuel S. Fonseca, define asim: “Belíssimo e de um humor que beija a inteligência”.

 

COZINHA ORIGINAL - Mesmo em frente à casa Fernando Pessoa está o restaurante Bicho Mau, uma ideia de Rita Gama e Tomás Rocha após vários anos a trabalharem em outros restaurantes dentro e fora de Portugal. Ambos comandam a cozinha e desenham os menus que mudam com frequência, de acordo com as estações e apoiam-se em pequenos produtores e produtos sazonais. As doses são feitas a pensar em experimentar sabores e partilhar diversos pratos. No couvert vem bom pão, manteiga de ovelha e rillettes de pato. O menu é contido na diversidade mas oferece boas possibilidades de escolha quer de peixe, quer de carne. Numa recente visita experimentaram-se umas lulas de anzol com pinhão e eucalipto e um peixe branco fumado. Ficou-me a apetecer experimentar um pastrami de porco sobre brioche e disseram-me que brevemente surgiriam novas propostas na carta como cabeça de xara e pézinhos de coentrada, iguarias que provocam sempre polémica sobre o gosto pessoal dos convivas. Na mesa do lado dava nas vistas uma massa fresca com marisco e manteiga fumada e, para quem quiser, há um curioso petisco de lavagante com camarão e ovo. Para terminar, nos doces,  destacou-se as farófias com fruta e manjericão. Nas bebidas há cocktails, moscatel roxo e propostas de vinhos brancos e tintos nacionais e estrangeiros - uma selecção curta mas cuidada. A sala é pequena, com uma decoração criativa e muito simpática, o serviço é atencioso e eficaz. Um local a repetir, coisa que cada vez é mais difícil de dizer em relação a novos restaurantes. O Bichomau fica em Campo de Ourique, na Rua Coelho da Rocha 21A, com o telefone 211 608 694.

 

DIXIT - “O caso da deputada do Livre (...) é ilustrativo da tendência anedótica que parece querer dominar a cena parlamentar saída das últimas legislativas” - Vicente Jorge Silva.

 

BACK TO BASICS - “Quem pensa pouco, erra muito” - Leonardo da Vinci




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