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A GRANDE CONTRADIÇÃO - Nas últimas semanas assistimos ao anúncio, por Fernando Medina, de uma série de medidas de limitação do trânsito em zonas centrais de Lisboa. As medidas anunciadas vêm na linha das sucessivas barreiras levantadas ao trânsito automóvel com o estreitamento das vias, como na Avenida Defensores de Chaves, onde foram colocados até obstáculos que, além de dificultarem a circulação, colocam em causa a segurança, sobretudo em caso de transportes de urgência. A contradição é também evidente quando se observam obras como as que agora se desenvolvem na Rua de Campolide, onde se projecta alargar as faixas de uma via de entrada em Lisboa. O resultado será maior desconforto para os moradores locais, mais trânsito, ainda mais engarrafamentos no local - em suma mais poluição daquela que se anuncia querer combater. Os maiores problemas do trânsito em Lisboa vêm do enorme número de carros que entram na cidade porque os transportes não funcionam, não são essencialmente provocados pelos carros dos moradores locais. Com esta equipa autárquica Lisboa está a transformar-se numa cidade que é estranha aos seus: uma cidade para visitantes, que prefere não ter os habitantes que lhe deram a aura que os turistas procuram. Ao retirar a população tradicional da cidade, substituindo-a por convidados eventuais, está a derrubar-se um dos pilares de uma cidade viva: ter gente de todas as idades e classes que a habite, no seu centro, e não na periferia. O que a dupla Salgado-Medina fez, aproveitando-se da conivência do simplório e triste Zé, foi fomentar a especulação imobiliária e destruir a diversidade. Agora vivemos numa cidade-montra onde se faz tudo menos tornar a vida mais fácil aos seus habitantes tradicionais. Parece que a cidade foi esvaziada e transformada num cenário. E quem paga os seus impostos na cidade deixou de fazer parte do mapa.

 

SEMANADA - Desde há cinco meses que, por falta de condições, está suspensa a admissão de doentes para transplante de fígado no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; entre janeiro e novembro do ano passado foram comprados nas farmácias 670 milhões de euros de medicamentos, mais 18,5 milhões que em período idêntico do ano anterior; as burlas via sms custam aos consumidores um milhão de euros por ano; as famílias portuguesas gastaram, no ano passado, 9,7 mil milhões de euros em nas compras para casa, incluindo produtos alimentares,  um aumento de 4,8% face ao ano anterior; os portugueses gastaram 890 milhões de euros em novos telemóveis durante o ano passado; as pensões mínimas sobem 54 cêntimos por dia; foi anunciado que o Novo Banco vai pedir mais de mil milhões de euros ao Fundo de Resolução por causa dos prejuízos que registou de novo em 2019;  a Comissão de acompanhamento dos ativos tóxicos do Novo Banco está incompleta há um ano e os seus responsáveis não conseguem encontrar quem se disponibilize a ir para lá; um grupo de generais enviou uma carta ao Presidente da República alertando para “o processo de desconstrução e pré-falência com que as forças armadas se defrontam”; as mortes por enfarte, AVC ou cancro estão nos níveis mais elevados desde 2008; o Ministério da Educação tem recusado dar a listagem das escolas de onde ainda não foi removido amianto.

 

ARCO DA VELHA - A Polónia já ultrapassou Portugal em PIB por habitante, uma evolução de duas décadas, em contraste com quase 20 anos de estagnação em Portugal.

 

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A TRANSFORMAÇÃO DOS MÓVEIS - Neste fim de semana um bom número de galeristas e alguns artistas portugueses estão na ARCO Madrid. Mas por cá pode continuar a ver algumas das exposições que abriram durante o mês de Fevereiro. Comecemos por “Mais do Mesmo”, de Patrícia Garrido, na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). Garrido usou móveis de proveniências diversas que a artista depois cortou em pedaços criando a partir deles novas peças de várias formas, quase como a construção de um puzzle cuja imagem nada tem a ver com a do móvel original. É um campo de trabalho que Patrícia Garrido abriu há cerca de cinco anos e que já a levou a comprar recheios inteiros de casa para transformar em pedaços que criam novas peças. Há um ano, na Fundação EDP do Porto, apresentou uma dessas peças, de grande dimensão, que agora mostra pela primeira vez em Lisboa. A ideia é dar nova vida e nova forma a móveis que fizeram parte de outras vidas e a artista encara este seu trabalho como um olhar para o espaço interior que os móveis habitaram e propor, através da sua manipulação, um novo habitat. Além da peça de chão na imagem Patrícia Garrido expõe igualmente na Miguel Nabinho três pinturas. Outras sugestões: no Centro de Artes Visuais (Pátio da Inquisição 10, Coimbra) estão até 14 de Abril “Invalid Passwords” de Noé Sendas e “Unfinished Past” de Henrique Pavão. Em Lisboa, também até 14 de Abril, Hugo Brazão expõe “Out Of Sight, Out Of Mind” na Balcony, Rua Coronel Bento Roma 12. “Uma lufada de fumo na cara” é uma exposição sobre o ato de camuflar com obras de  Nicky Coutts, Theodore Ereira-Guyer, Mariana Gomes, Jorge Santos, Pedro Valdez-Cardoso e Carmela Garcia, trabalhos de desenho, gravura, xilogravura, fotografia e colagem - na Galeria Diferença, Rua S. Filipe Neri 42  Fora de portas Cecília Costa expôs na Detour,  em Beverly Hills, durante a Frieze Los Angeles. A Detour assume-se como uma plataforma sem local fixo que pretende conectar artistas, instituições e galerias para mostrar novas tendências da criação artística e que acolheu peças de Cecília Costa.

 

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CRIME HISTÓRICO - Não existem muitos romances históricos em Portugal e os poucos que têm sido publicados são essencialmente à volta de figuras de primeiro plano da História. Construir um romance, com base em factos reais, à volta do relato do julgamento e condenação de uma mulher acusada de matar crianças é a base de “A Assassina da Roda”, de Rute de Carvalho Serra , uma jurista que se tem dedicado a estudar a criminalidade em Portugal ao longo dos tempos. Desta vez dedicou-se a contar o que sucedeu em 1772 quando Luiza de Jesus foi acusada de ter assassinado 33 crianças abandonadas e expostas na roda da Misericórdia de Coimbra. O intendente Pina Manique foi o seu julgador e a decisão do tribunal foi a pena de morte -  Luiza de Jesus foi a última mulher executada em Portugal. O romance detalha os meandros da investigação e do julgamento, com os pormenores do interrogatório, violento, com as torturas permitidas à época. Toda a escrita está cheia de detalhe, mostrando como na instrução do processo pesaram os equilíbrios e ajustes do sistema judicial de então. Do romance não sai a certeza da culpa da condenada - cria-se uma dúvida que fica até ao relato da sua execução pública.

 

image.pngMÉTODO ELECTRÓNICO - A carreira de Rodrigo Leão tem sido uma sucessão de evoluções de projectos, desde os Sétima Legião em 1982, passando pelos Madredeus em 1985, até ao início da sua carreira a solo em 1993 com o disco “Ave Mundi Luminari”. Há quase quatro décadas que o trabalho de Rodrigo Leão, nas várias etapas da sua carreira, marca a música portuguesa, quase sempre inovando. Após uma ausência discográfica de cerca de três anos, depois de “A Vida Secreta das Máquinas”, “O Retiro” e “Life Is Long”, eis que surge novo trabalho, “O Método”. Não é nenhuma mudança drástica, mas é uma evolução assinalável, ao lado dos seus companheiros de sempre, Pedro Oliveira e João Eleutério. Desta vez chamou também um músico italiano, Federico Albanese, que trabalhou sobretudo nos arranjos e na utilização da electrónica, e participa em alguns temas (como o que dá o título ao disco). Além disso Albanese foi o responsável pela presença de Casper Clausen, um dinamarquês que integra os Efterlang, e que empresta a voz a uma das composições, aliás a par do próprio Albanese. A russa Viviena Tupikova, a violinista que há uns anos trabalha com Rodrigo Leão, desta vez surge também a cantar num dos temas, “O Cigarro”. Por fim Rodrigo Leão utiliza a técnica de andar para trás na gravação (reverse), para distorcer a voz da própria filha no tema “Bailarina”. De um modo geral a electrónica é mais presente que em registos anteriores, incorporando as influências de compositores como Nils Frahm, Ólafur Arnalds ou Max Richter , como o próprio Rodrigo leão Aponta. Segundo ele o trabalho que fez de ilustração musical para a exposição “Cérebro, Mais Vasto Que o Céu”, na Fundação Gulbenkian, foi um novo ponto de partida que acabou por resultar neste “O Método”, mais minimalista, mais depurado, com maior recurso à electrónica e, com uma energia renovada a que não é alheia a simplicidade de toda a sonoridade. Edição BMG, disponível no Spotify.

 

O SÁVEL - Esta época do ano é a boa altura para tomar o pulso a duas iguarias: sável e lampreia. De lampreia ainda não lhe vi o rasto e tenho algumas dúvidas sobre o que se passa com o ciclópode face à proliferação de letreiros que dizem “há lampreia” num ano em que, segundo os entendidos, as condições climatéricas não foram as melhores para a espécie. Um dia destes tentarei encontrar uma das boas e raras, que não venha congelada de paragens distantes do outro lado do oceano - e depois falaremos. Já do sável só tenho a dizer bem, os vários que provei já este ano estavam todos em boas condições. Permito-me destacar o mais recente, desta semana, no clássico Alfoz, de Alcochete. O sável veio cortado em fatias finíssimas, invulgarmente bem cortado, com uma fritura impecável, estaladiça e seca. Estava verdadeiramente fora de série, acompanhado por uma açorda de ovas que não desmereceu. Outra possibilidade teriam sido ovas de pescada grelhadas, acompanhadas de legumes salteados. Provadas as ovas revelaram-se bem no ponto e saborosas, grelhadas sem terem ficado secas. Massada de garoupa, caldeirada de línguas de bacalhau com ovo escalfado e garoupa à Bulhão Pato são outras opções. O Alfoz continua a servir bem, a ter produtos frescos e a saber prepará-los, oferecendo uma soberba vista sobre o Tejo e Lisboa. Em meia hora está-se lá e a relação qualidade-preço é muito boa. O Alfoz fica na Avenida D. Manuel I, em Alcochete, telefone 212 340 668. 

 

DIXIT - “Não deite nada fora! Mais que um arquivo a Ephemera é um movimento pela memória, logo, pela democracia”- José Pacheco Pereira no décimo aniversário da Ephemera.

 

BACK TO BASICS -  “O poder não garante inteligência” - Vasco Pulido Valente.




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MUDE-SE A LEI AO SABOR DO MINISTRO - Portugal tem um Ministro que pensa ser lícito e normal mudar a Lei a seu belo prazer, para que os seus objectivos sejam cumpridos sem sobressaltos. Esta semana, numa Comissão Parlamentar, o Ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, anunciou que o enquadramento legal da certificação do aeroporto do Montijo tem que ser revisto para impedir que a Lei actual se cumpra. A Lei actual dá direito de veto a autarquias que se sintam prejudicadas pela construção de qualquer estrutura aeroportuária e há pelo menos dois municípios da região que já anunciaram que iriam recorrer a essa Lei. A construção do novo aeroporto do Montijo tem levantado polémicas ambientais e de segurança mas, apesar disso, o Governo quer cumprir o negócio, cadas vez mais suspeito, que fez com a empresa concessionária dos aeroportos nacionais. Com as atenções focadas no debate sobre a eutanásia as declarações de Pedro Nuno Santos passaram meio despercebidas. Mas são graves: mostram que um membro deste Governo pode ignorar a Lei vigente e fazê-la à medida dos seus interesses. Talvez alguma alma caridosa possa explicar a este ambicioso político do PS que o expediente de mudar a Lei para um Governo fazer o que quer é coisa típica de ditadores, é um acto de desrespeito para com a democracia e para com os cidadãos. Com Ministros assim não se pode dormir descansado. Pedro Nuno Santos, que tem feito um bom trabalho na ferrovia, esteve mal neste caso. Muito mal. Convinha que dentro do PS alguém lhe explicasse que convém respeitar a Lei em vez de a mudar porque dá jeito.

 

SEMANADA - Portugueses apostam por dia 9,5 milhões de euros em jogos online; dez antigos gestores bancários, de Ricardo Salgado a Oliveira e Costa, passando por Tomás Correia, acumulam coimas de quase 17 milhões lançadas por supervisores como o Banco de Portugal ou a CMVM;  nos últimos seis anos, o Banco de Portugal lançou coimas de mais de 49 milhões e a CMVM quase 17 milhões, mas estas coimas tendem a arrastar-se em tribunal e acabam muitas vezes na prescrição; a gestão de Tomás Correia no Banco Montepio já levou o supervisor a aplicar coimas no valor de quase nove milhões de euros; em 2019 os portugueses endividaram-se a um ritmo de 20,8 milhões de euros por dia em crédito pessoal, compra de automóvel, cartões de crédito e contas a descoberto num total anual de 7,6 mil milhões de euros, o que constitui um novo recorde; as operações financeiras suspensas por suspeitas de branqueamento triplicaram em 2019 e congelaram em Portugal 2,5 mil milhões de euros; o INEM forneceu máscaras danificadas para as equipas de emergência que atendem casos de suspeita de coronavírus; o Tribunal da Relação de Lisboa proferiu uma sentença onde se aceita que possam ser proferidos insultos contra intervenientes num jogo de futebol; um deputado do PS pediu imunidade parlamentar num processo em que é acusado de insultar um árbitro de uma prova de pesca.

 

ARCO DA VELHA -  O secretário de estado das comunicações, Alberto Souto de Miranda, escreveu um artigo em defesa do aeroporto do Montijo onde, relativamente às dúvidas sobre a preservação da fauna animal no estuário do Tejo, afirma: “os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem”.

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O LABIRINTO E AS CIDADES NO MUSEU BERARDO - Desde a semana passada a arquitectura das galerias do piso -1 do Museu Berardo transformou-se de forma radical. Joana Escoval optou por tratar o espaço como parte da obra em “Mutações, The Last Poet”, a sua exposição que lá estará patente até 19 de Abril, com curadoria de Pedro Lapa. Estou a falar de uma instalação quase labiríntica que se desenvolve numa série de curvas orgânicas onde se vão fazendo descobertas. É como se o visitante percorresse o interior de um organismo vivo onde de repente surgem esculturas, videos, sons, sugestões de desenhos através de fios metálicos ou fotografias. Joana Escoval, 38 anos e expõe desde 2010, tendo feito residências artísticas em vários países. Aqui, numa surpreendente e inesperada exposição, explora o movimento constante de transformação das ideias e formas - daí as Mutações. Ao mesmo tempo, também no Museu Berardo, está patente uma exposição de fotografia de Andreas H. Bitesnich, “Deeper Shades, Lisboa e Outras Cidades”, comissariada por João Miguel Barros. A exposição é o resultado da  residência artística de Andreas H. Bitesnich em Lisboa, em 2019,  e integra a série Deeper Shades: retratos de grandes cidades vistas pelo artista nas últimas três décadas (na imagem). Apesar de o núcleo principal estar centrado em Lisboa, incluem-se ainda imagens dos seus projetos anteriores (Nova Iorque, Tóquio, Paris, Viena e Berlim). Andreas H. Bitesnich combina a fotografia de rua com fotografia de estúdio, oscilando entre o imaginado e o construído. Sábado 22, pelas 16h00, há uma visita guiada à exposição com a participação do autor e do curador.

 

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COUNTRY GREGORIANO - A norte-americana Mackenzie Scott fez três discos para  a etiqueta 4AD e foi despedida. Entrou numa crise criativa e depois de um interregno longo saíu-se com um disco magnífico. Como é seu hábito foi composto, tocado e cantado por ela - mas neste caso com a produção musical ficou também a seu cargo. Assina com o nome Torres, e o disco “Silver Tongues”, lançado recentemente está disponível no Spotify e é uma das minhas descobertas recentes. Musicalmente Torres está algures entre o country contemporâneo e o rock independente, há influências de Anna Calvi ou P.J.Harvey (o que não é espantar porque num dos discos anteriores Mackenzie trabalhou com o mesmo produtor) e nas letras e conceito geral há toques que vão de Ray Bradbury a Kurt Cobain.  E, calcule-se, influências do canto gregoriano - daí a própria dizer que este é um disco “country-gregorian”. O álbum anterior tinha sido editado em 2017 e a sua carreira discográfica, que começou em 2013. é caracterizada por uma sonoridade dura, com a sua guitarra e percussões frequentemente em primeiro plano. O tema do álbum é a estabilidade que Scott sente que o amor lhe proporciona - o disco tem um lado autobiográfico, respeitante à sua relação com a namorada, a artista Jenna Gribbon. No novo disco há menos tensão e dramatismo nos anteriores. “Silver Tongues” é o seu trabalho mais intimista. Destaque para os temas “Good Scare”, “Last Forest” “Dressing America” e o acústico e envolvente “Gracios Day”.

 

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LIÇÕES DA INDÚSTRIA DA MÚSICA - Quando a Apple lançou o primeiro iPod, em 2001, começou a grande reviravolta da indústria discográfica e musical. Ao longo das últimas duas décadas assistimos ao desenvolvimento de uma nova forma de possuir e ouvir música, que culminou com o surgimento do Spotify em 2008 e que desde aí se tem desenvolvido e alargado. A venda de CD’s caíu drasticamente, o modelo de negócio de artistas, produtores de espectáculos e editores discográficos mudou radicalmente. Alan B. Krueger foi um economista americano e esta é a sua derradeira obra, já que ele morreu no ano passado, pouco depois da sua edição. Foi economista-chefe do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos entre 2009 e 2010 e presidiu ao Conselho Económico do Presidente Barack Obama entre  2011 e 2013. Era um apreciador esclarecido e reconhecido de música rock, que fazia parte do seu dia a dia. “Rockonomics” é o livro onde Krueger fala sobre o que a indústria da música nos pode ensinar sobre economia e sobre a vida. Para fazer a interpretação das alterações ocorridas, Krueger realizou entrevistas com músicos, executivos de editoras, agentes de artistas e promotores de concertos e a dados recentes sobre colecta de direitos de autor, receitas de streaming e vendas de merchandise, por exemplo. No livro estão as respostas do autor a questões como estas: como é que uma canção se torna popular? Como pode um novo artista nesta nova economia e paisagem audiovisual? Como podem os músicos e demais trabalhadores ganhar a vida na economia digital? . Nas páginas finais do livro, Krueger reconhece que a música teve um impacto profundo na sua vida e este livro é testemunho disso mesmo. Edição Temas & Debates, do Círculo de Leitores.

 

PETISCOS MOÇAMBICANOS - Uma das boas coisas de Lisboa é que cada vez tem mais restaurantes que representam vários países. Longe vão os tempos em que existiam apenas os chineses, italianos ou os indianos. Já houve algumas tentativas africanas bem conseguidas - e até duas ou três moçambicanas. Mas agora, em plenas Avenidas Novas, surgiu o Chiveve, que neste momento deve ser o expoente da gastronomia de Moçambique em Lisboa. À sua frente está um casal, Edner Abreu a comandar as operações na sala e na cave dos vinhos e a sua mulher, Sheila Abreu, na cozinha.  Há um menu executivo ao almoço, ao competitivo preço de oito euros, com um prato de origem moçambicana e outro português. Mas é na lista do menu que surgem as propostas mais interessantes. Começo por destacar as chamussas de carne, absolutamente impecáveis. Depois surpreendi-me com o caril de camarão com quiabos, tempero no ponto, a evitar abafar o sabor dos camarões, tudo acompanhado de um bom arroz basmati. Ficou para outro dia provar o caril de caranguejo desfiado ou o matapá de peito de caranguejo, com o bicho a ser importado de moçambique - de onde vem também a cerveja que o pode acompanhar. O caril de peixe e gambas é uma receita tradicional, bem conseguida. Como bem conseguido - e elogiado por conhecedores - é o frango à zambeziana, receita clássica, com um piri piri caseiro e enérgico à disposição. Foi provado um bom branco alentejano, o Etc da Herdade do Álamo, feito pela mão de Filipe Sevinate Pinto com uvas das castas Roupeiro, Arinto e Antão Vaz. A sala é confortável, bom serviço, bom ambiente e um busto em bronze de Eusébio a recordar o grande embaixador do futebol moçambicano. O nome do restaurante vem do rio que banha a cidade da Beira e o Chiveve fica na Rua Filipe Folque 19, telefone 218036347.

 

DIXIT - «Convém socializarmos um bocadinho menos, termos alguma distância social, não nos beijarmos tanto, não nos abraçarmos tanto» -  Graça Freitas, Diretora Geral da Saúde.

 

BACK TO BASICS - “Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvidar daquilo que estás a ensinar” - Jose Ortega Y Gasset

 





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publicado às 12:53

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UM CONGRESSO VIRADO PARA O PASSADO - Na semana passado o PSD fez o seu primeiro Congresso após uma grave derrota eleitoral, num panorama de aumento da abstenção, de descrédito generalizado no sistema político e partidário. Quem tivesse ouvido os dirigentes actuais do PSD acharia no entanto que estava tudo bem. Poucas intervenções tiveram a coragem de olhar para a cúpula social-democrata para dizerem: o Rei vai nu (ou o Rio vai seco)... Ironia à parte, a verdade é que faltou uma reflexão séria e organizada pelos poderes vigentes sobre o que provocou a derrota e o que faz com que o PSD tenha cada vez menos votos nas grandes cidades e nos eleitores mais jovens. A intervenção mais incisiva sobre estas matérias foi de José Eduardo Martins que chamou a atenção para a incapacidade demonstrada pelo seu partido em compreender como os tempos têm mudado, quais as aspirações dos eleitores mais novos, o que fazer para conquistar abstencionistas. Dei por mim a ouvir a sua intervenção (curta, sete minutos, disponível no YouTube) e a pensar que José Eduardo Martins é na verdade o líder que o PSD precisava para, como ele afirmou, deixar de “estar entalado entre uma direita reaccionária e uma esquerda folclórica”, desenvolvendo um programa que combata na sociedade “as desigualdades que fazem as pessoas fugirem cada vez mais para os extremos”. José Eduardo Martins não é no entanto um conspirador aparelhístico, é um adepto do reformismo na sociedade e no sistema político e tem ideias claras que exprime de maneira frontal. Isto num partido onde o aparelhismo é premiado transforma-se num problema. Como ele disse, “as pessoas deixaram de votar no PSD porque deixámos de acompanhar os tempos”. Ou o sistema muda, ou tudo vai ter tendência a piorar.

 

SEMANADA - Os empréstimos para compra de casa concedidos em 2019 foram os maiores dos últimos 10 anos e totalizaram 11,6 mil milhões de euros; o preço das casas subiu em dez anos 4,5 vezes mais do que os salários; arrendar uma casa em Lisboa exige uma taxa de esforço na ordem dos 58%, mais do que em Barcelona ou Berlim; nos últimos quatro anos o Governo cumpriu apenas 11% do plano Ferrovia 2020; em Portugal foram importados no ano passado cerca de 80 mil veículos usados a diesel com uma média de idade de 5,5 anos; a idade média dos automóveis ligeiros era de 12,7 anos no final do ano passado; em 2019 ocorreram em Portugal mais mortes que nascimentos pelo 11º ano consecutivo; no ano passado foram recebidas 676 denúncias de pornografia infantil: o tribunal da relação de Coimbra permitiu o regresso ao activo de um comandante da GNR condenado por aliciar uma menor com mensagens eróticas; segundo a Marktest o número de utilizadores de Internet em Portugal é 6 milhões e 387 mil, o que corresponde a 74.6% da população e desde 1997  a percentagem de utilizadores de Internet aumentou quase 12 vezes; também segundo a Marktest há cerca de 5 milhões de ouvintes regulares de rádio, o que corresponde a um crescimento de 5% nos últimos dez anos e entre as classes sociais, foi na média alta que se observou maior incremento de ouvintes.

 

ARCO DA VELHA - Segundo especialistas da área dos transportes e aviação o comprimento mínimo de segurança da pista de um aeroporto deverá ser de 2450 metros e a pista prevista para o Montijo tem um máximo possível de 2140 metros não podendo ser aumentada.

 

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IMAGENS DO FUTURO - Gabriel Abrantes é um caso raro entre os criadores portugueses: as suas raízes estão no cinema, mas faz coexistir as imagens em movimento com pinturas, ilustrações e aguarelas, explorando diversas técnicas. A sua carreira está marcada por curtas-metragens que mostraram um sentido de observação e humor pouco frequentes, várias delas premiadas internacionalmente. O seu trabalho cinematográfico caracteriza-se por se basear numa forma de narrativa inesperada que recorre ao absurdo, ao humor e à observação social e política. Ganhou notoriedade com o filme de longa-metragem “Diamantino”, de 2018, sobre uma das estrelas do futebol português,  mas a sua carreira no cinema começou com uma curta-metragem em 2006, tinha 22 anos. Abrantes nasceu nos Estados Unidos em 1984, estudou arte em Nova Iorque e Paris. Esta semana abriu no MAAT “Melancolia Programada”, onde Abrantes faz coexistir os seus trabalhos enquanto artista plástico com os seus filmes. A exposição abre com uma série de aguarelas, intimistas e autobiográficas, e prossegue com seis ambientes distintos, cada um construído em torno de um dos seus filmes e ainda outra sala onde está a pintura “As Banhistas”. As novas pinturas do artista são realizadas a partir de imagens geradas por programas de animação digital, e mostram a forma como está a trabalhar na intersecção entre animação digital 3D, inteligência artificial e referências da história da arte. Na exposição do MAAT podem ser vistos vários filmes, desde logo o recente, “Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre” que, como voz amiga comentava, é um “nonsense que faz sentido” . Um dos pontos altos do percurso da exposição é a instalação criada para a exibição de “Visionary Iraq”, uma curta de 2008. Outro filme em exibição é Too Many Daddies, Mommies and Babies (2009), que lhe valeu o Prémio Novos Artistas da Fundação EDP. A exposição, com curadoria de Inês Grosso, fica até 18 de Maio e é uma das melhores mostras que o MAAT tem organizado. “Melancolia Programada” está na Central Tejo onde também poderá ver “Unharias Ratóricas” da dupla Von Calhau.

 

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CORPOS IMPREVISTOS - Nádia Duvall tem-se afirmado como uma das mais interessantes novas artistas portuguesas e em 2019 foi uma das vencedoras do prémio internacional Jovem Criação Europeia. Expõe desde 2006 e tem desenvolvido uma linha de trabalho em constante evolução, mas mantendo uma coerência que a leva a desenvolver a exploração de novas técnicas no seu trabalho. Por estes dias apresenta “undressed machine” no  Espaço Cultural das Mercês, Rua Cecílio de Sousa 94, junto ao jardim do Príncipe Real. Esta é uma exposição onde combina o desenho com a pintura, a escultura, a fotografia, a performance e o vídeo, em torno da ideia do corpo e das próteses a que pode recorrer para renascer - o corpo e a sua mutação têm sido um dos territórios recorrentes de trabalho de Nádia Duvall. Aqui a narrativa combina histórias de amor com histórias de guerra e as transformações a que ambas sujeitam o corpo, dando espaço à sua redenção e à sobrevivência. A obra de Nádia Duvall é carregada de referências míticas, de reflexões autobiográficas e da permanente afirmação de um percurso criativo de ruptura e provocação. Outras sugestões da semana: na Galeria Belo Galsterer (Rua Castilho 71 r/c esq)  Rita Gaspar Vieira apresenta “Com A Mão Cheia de Pó” e Pedro Boese apresenta duas séries de gravura sob a designação “In A Row”.

 

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EPISÓDIOS MARXISTAS - Livros que contem histórias de bastidores e relatos sobre o que é a vida interna do PCP não são muito frequentes. Domingos Lopes, advogado, membro do gabinete de Álvaro Cunhal quando o líder comunista foi Ministro de Estado nos governos pós 25 de Abril, publicou agora as suas “Memórias Escolhidas”,  numa edição da Guerra & Paz. No livro relata as lutas académicas de Coimbra e Lisboa, o seu percurso na União dos Estudantes Comunistas, o trabalho no gabinete de Álvaro Cunhal, as suas responsabilidades políticas no Comité Central do partido até às divergências que o levaram a abandonar o PC em 2009. Ao longo de duas centenas de páginas relata vários episódios, a sua vida como funcionário partidário, visitas à Coreia do Norte, à Mongólia e a Nova Iorque no âmbito do seu trabalho na Secção Internacional do PC - “por todo o mundo andei com o ideal às costas”, como afirma. Há muitas pequenas histórias inéditas e uma das mais curiosas reporta-se aos incidentes na Faculdade de Direito de Lisboa que levaram ao saneamento de Cavaleiro Ferreira. Domingos Lopes conta com detalhe o clima de tensão entre os militantes do MRPP, que tinham peso na Faculdade, e os do PCP. Visto a esta distância, o relato do episódio faz sorrir mas é um bom retrato das diferenças existentes. Este capítulo do livro termina com a evocação de uma conversa entre o então estudante Domingos Lopes, da UEC , e o assistente Marcelo Rebelo de Sousa: “O que é que ele tinha para me dizer? uma coisa muito simples, ele estava totalmente do nosso lado, o que nos separava era o leninismo, considerava-se apenas marxista. Fiquei espantado com o desabafo e a rápida conversão de Marcelo ao marxismo”, conta Domingos Lopes. E remata: “Este pequeníssimo episódio diz muito acerca das capacidades de manobra do então futuro Presidente da República. Marcelo, já em 1974, tinha no seu ADN esta faceta de ser o que é preciso em cada momento para surfar sem ir ao fundo, mesmo renegando o que era”.

 

TENDÊNCIAS SONORAS - A revista The Economist analisou recentemente os dados do Spotify, o mais popular serviço de streaming de música sobre as preferências dos seus utilizadores. Actualmente o Spotify tem disponíveis 50 milhões de títulos para os seus 270 milhões de utilizadores em 70 países, a maior parte dos quais na Europa e no continente americano. O sistema tem um algoritmo que analisa a sensação de energia e disposição provocada pela música numa escala de um a cem. Por exemplo “Respect” de Aretha Franklin tem uma classificação de 97 e “Creep” dos Radiohead não passa dos 10. A Economist analisou os dados e chegou à conclusão que Fevereiro é o mês em que os utilizadores do Spotify procuram canções mais tristes e Julho o mês em que as canções mais enérgicas e dançáveis são as mais procuradas. O algoritmo considera por exemplo que “Make Me Feel My Love”, de Adele, está na zona mais tristonha, que “Bridge Over Troubled Water”, de Simon & Garfunkel, fica numa zona de melancolia e que “I Put A Spell On You”, de Nina Simone, está na transição para a energia. “Lucy In The Sky With Diamonds” é claramente vista de forma positiva, mas superada a grande distância em matéria de indução de boa disposição por “Shake It Off” , de Taylor Swift. Os países latinos são aqueles onde a música alegre é mais procurada em qualquer estação do ano e Hong Kong, Filipinas, Estados Unidos e Noruega lideram a música mais melancólica.

 

DIXIT - “A Irlanda votou contra a austeridade que deteriora os serviços públicos, principalmente a saúde. A surpresa que aconteceu lá pode repetir-se em Portugal. PS e PSD que se cuidem “ - André Abrantes do Amaral

 

BACK TO BASICS - Fazer coisas simples é muito complicado - Martin Scorsese

 

 





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publicado às 12:30

O IVA QUE DEU CHOQUE

por falcao, em 07.02.20

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TRABALHOS PARLAMENTARES  - O episódio da guerra sobre o IVA da electricidade trouxe para primeiro plano o que é a realidade política de hoje em Portugal: mesmo quando parece existir convergência de objectivos, os partidos das diversas matizes são depois incapazes de se entenderem em termos práticos e de abdicarem dos pequenos interesses tácticos de cada um. Mas o recente debate parlamentar sobre o Orçamento de Estado teve alguns outros pontos curiosos. Um deles foi o rol de promessas em diversas áreas, entre as quais baixar impostos em 2021. Depois, o mais destacado elemento  da tropa de choque do PS para crises políticas, Carlos César, veio deixar no ar a possibilidade de o Governo se demitir caso o Orçamento fosse desvirtuado. No ar ficou a ideia de que o PS pode mesmo estar disposto a ir a eleições antes do final da legislatura. As promessas visam claramente combater a pequena queda registada pelo PS, e Costa acredita ser possível federar alguns votos resultantes da implosão do Livre e do desgaste do PCP; além disso a grande tentação de António Costa é apostar numa fragmentação maior do espectro à direita, com o Chega a subir, tornando as contas futuras de Rui Rio mais confusas. Um tal cenário futuro possibilitaria ao PS acordos pontuais à esquerda e ao centro direita, facilitando ao mesmo tempo uma renovação do elenco governamental, nomeadamente por causa do factor Centeno. A propósito fica registada uma sibilina sugestão do Presidente da República, que começou a fazer circular a ideia de que o calendário eleitoral ideal para futuras legislativas devia ser antecipado para antes de verão, de forma a evitar que a campanha seja contaminada pelo espectro do orçamento... Será que em 2021 teremos duas eleições em vez de acontecerem apenas as autárquicas?

 

SEMANADA - Em nome do ambiente Medina anunciou a proibição de circulação de automóveis na Baixa lisboeta; por falar em ambiente o ecosistema de 200 mil aves que vivem no estuário do Tejo vai ser profundamente afectado pelo aeroporto do Montijo; ainda sobre ambiente  a poluição provocada por navios é equivalente à causada pelos automóveis nas oito cidades portuguesas com mais carros; na costa portuguesa, as emissões dos navios de cruzeiro foram 86 vezes superiores às dos carros que circularam pelas estradas nacionais.e Lisboa é a sexta cidade europeia mais poluída por paquetes turísticos; em 2018 Portugal só reciclou 12% do plástico que consumiu; em 2018 Portugal recebeu 330 mil toneladas de resíduos perigosos; Azeredo Lopes admitiu em Tribunal ter desvalorizado informações relevantes sobre o roubo de armas em Tancos; em 2019 a Polícia Judiciária fez 50 apreensões de obras de arte falsas de artistas portugueses; 944 pessoas foram detidas em 2019 por violência doméstica; a dívida pública portuguesa voltou a aumentar em 2019 situando-se agora perto dos 250 mil milhões de euros; a Procuradora Geral da República avisou que o seu novo departamento que visa proteger consumidores, a saúde pública, o ambiente, o património cultural e o ordenamento do território nasceu com falta de meios humanos; a proposta de acabar com as isenções fiscais dos partidos políticos, apresentada pela Iniciativa Liberal, foi chumbada pelo PS, PSD e PCP.

 

ARCO DA VELHA - O Banco de Portugal não conseguiu, durante quase três anos, entregar a notificação de várias contra-ordenações ao ex Presidente do Montepio, Tomás Correia, e acabou por ter de fazer as acusações em Edital publicado esta semana na imprensa.

 

GRAVURAS E CERÂMICAS - Nos últimos tempos têm-se realizado diversas exposições que procuram proporcionar o acesso alargado a obras de artistas que não estamos habituados a ver expostos em Portugal. Algumas dessas exposições são organizadas por entidades privadas cuja actividade é promover mostras alargadas que circulam em diversos países, como aconteceu recentemente com as exposições de Escher e de Henri Cartier-Bresson, realizadas em Lisboa e no Porto. Por outro lado entidades ligadas a autarquias, como o Centro Cultural de Cascais ou o Palácio Anjos, em Algés, entraram no roteiro de circulação de exposições internacionais que disponibilizam com acesso gratuito. Em Cascais, por exemplo, realizaram-se mostras de fotografias de Norman Parkinson e de Herb Ritts, nunca antes exibidas em Portugal. E agora, no Palácio Anjos, o Município de Oeiras promoveu a exposição “Picasso, Mestre Universal” que inclui 66 obras de pintura, cerâmica e litografias provenientes de colecções particulares. A exposição, que é de entrada gratuita e estará patente até 30 de Abril mostra peças como a primeira série gráfica de Picasso, a “Suite dos Saltimbancos”, iniciada em 1904 até um exemplar da sua última produção em cerâmica, de Março de 1971 finalizada dois meses antes da morte do artista - a cerâmica foi aliás o suporte mais trabalhado por Picasso nos seus últimos anos de vida. Outra das obras é a série de litografias “Suite Sable Mouvant”, de que aqui se reproduz uma das imagens. Outra sugestão: a série de fotografias “Trinus”, de Cláudio Garrudo, o resultado de uma experiência de viagem a bordo de um navio cargueiro, volta ser exibida, com imagens inédita, na Casa da América Latina (Avenida da Índia 110), até 27 de Fevereiro, por ocasião dos 500 anos da viagem de Fernão de Magalhães.

 

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CANÇÕES DA BALEIA BRANCA - Jaime Fernandes, um amigo que já partiu, e que foi um dos grandes homens da rádio e da televisão em Portugal, ensinou-me a descobrir e a gostar da música country, numa época em que muitos desconsideravam esse género musical. Nos seus programas de rádio dedicados à country e em numerosas conversas o Jaime foi alargando os meus conhecimentos sobre a matéria. Lembro-me do dia em que me falou de Terry Allen e de um dos seus primeiros trabalhos, o magnífico  “Lubbock (On Everything)”. Ao longo da sua carreira Allen já gravou mais de uma dezena de discos de originais, três deles neste século. “Just Like Moby Dick”, é o mais recente e acabou de sair (está disponível no Spotify). O álbum foi gravado em Austin com um grupo de músicos bem conhecidos da área da country e com produção de Charlie Sexton, ele próprio uma lenda musical. A voz grave e quente de Terry Allen percorre histórias por vezes fantásticas, frequentemente irónicas, numa sucessão de episódios que só acidentalmente evocam o Moby Dick de Melville com um fino humor. Allen, que é também um artista plástico reconhecido, fez incluir nos vários formatos da edição desenhos que fez a propósito das suas canções e dos personagens que as habitam. Uma das novidades do disco é a voz de Shannon McNally, sempre presente, e que além de cantar com Allen, faz um dueto fantástico com Sexton. A qualidade de Shannon é bem comprovada no tema em que a sua voz mais se destaca, “All These Blues Go Walkin´By”. Outra novidade é o facto de cinco das canções serem compostas em co-autoria com vários músicos da Panhandle Mistery Band, que o acompanham ao longo dos 12 temas. este Moby Dick é um encanto. Já há quem diga que é o melhor trabalho de sempre de Terry Allen.

 

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O MISTÉRIO DO BARCO VAZIO - A cidade de Lisboa é o ponto de partida de uma das mais brilhantes histórias de mistério que li nos últimos tempos. Em boa verdade eu é que andei distraído - a primeira edição portuguesa data de 2016 e teve então o título de “O Silêncio do Mar”. Este livro, da islandesa Yrsa Sigurdardóttir, uma das grandes escritoras policiais contemporâneas, foi agora reeditado com o título “Lisboa Reykjavik”, numa tradução de Miguel Freitas da Costa. A história é um autêntico mistério - um iate de luxo que havia zarpado de Lisboa com tripulação e uma família como passageira, chega a Reykjavik sem ninguém a bordo. Tudo se passa no período da grave crise financeira que atingiu a Islândia - o barco pertencia a um milionário cujas empresas faliram e os seus bens foram arrestados pelos credores. O iate estava a ser levado de volta à Islândia por ordem de um banco quando de repente os seus ocupantes desapareceram. O livro tem uma escrita sempre em dois planos temporais - o relato da viagem e o relato das investigações que se sucederam ao desaparecimento das pessoas que seguiam no barco. Cada capítulo alterna a narrativa, num ritmo envolvente. A autora, Yrsa Sigurdardóttir vive com a família em Reykjavík, é diretora de uma das maiores empresas de engenharia da Islândia e tem já uma extensa obra publicada onde a luta entre o bem e o mal é uma peça central e onde os conflitos da sociedade e os ódios que geram são uma constante. 

 

MASSA MUITO CASEIRA - Um dos mais interessantes restaurantes italianos de Lisboa, o Ruvida,  comemorou agora um ano de vida. Tem uma esplanada acolhedora e uma sala que tem o benefício de lá se poder seguir o processo de preparação da massa artesanal utilizada no restaurante. Há um menu almoço a 16 euros que muda todos os dias e uma lista com propostas bem variadas, incluindo uma secção dedicada a pratos confecionados com produtos da estação. E é essa a que prefiro. Mas comecemos pelas entradas onde destaco a  mousse de mortadela, ricotta de ovelha, parmesão e pistácio. No Ruvida tudo é feito à mão, sem usar máquinas e o único utensílio utilizado para estender a massa é o tradicional rolo de madeira. Nesta altura do ano, na secção “le proposte del momento” surgem três pratos de pasta de diferentes formatos: passatelli in brodo (massa feita com parmesão, pão ralado e ovos) cozinhada num caldo de vaca e frango capão; outra possibilidade é triangoli di patate su veluttata di funghi di stagione - aqui os triângulos de massa são recheados de batata e azeite aromatizado com louro, sobre um creme aveludado de cogumelos; e, por fim, a minha escolha, que foi gargati ricchi al consiero, uma receita do norte de Itália, da região de Vincenza, que leva uma pasta em forma de macarrões, mas mais curtos, finos e quase maciços, que agarram muito bem o sabor de quatro carnes diferentes,salteadas em banha, e cozinhada com ervilhas tortas, brócolos e abundante salsa picada. O Ruvida fica na Praça da Armada 17 e tem o telefone 213950977.

 

DIXIT - “Em democracia, os políticos não mudam de povo. Mas o povo muda de políticos. Não têm notado o que se passa na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos? “ - João Marques de Almeida

 

BACK TO BASICS - “A aventura consiste em recomeçar sempre de novo, sem nunca olhar para trás” - Corto Maltese



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BRUMAS POLÍTICAS - Vive-se de novo um período de sebastianismo em Portugal, no lado direito do espectro partidário. O efeito combinado da ascensão de novos partidos e da falta de rumo dos históricos criou um vácuo político. Não há-de ser por acaso que uma sondagem revelada esta semana atribui ao Chega a mesma votação que à CDU, ultrapassando pelo caminho o CDS que, ainda por cima, também ficou atrás da Iniciativa Liberal na mesma sondagem. Com as novas lideranças do PSD e CDS a verdade é que o PS pode dormir descansado - basta-lhe gerir as alianças orçamentais com os dissidentes ilhéus do PSD Madeira e os desejos do Bloco de Esquerda, sempre permeável a uma negociaçãozita. No caso do CDS, a vitória de Francisco Rodrigues dos Santos é o comprimido de que Rui Rio precisava para poder dormir descansado. À direita não haverá unidade, o CDS tornou-se persona non grata para o PSD. Na ânsia de se demarcar dos social-democratas o CDS iniciou um caminho que o pode levar a ficar com o Chega como único protagonista possível de um acordo político - autárquico, por exemplo. A situação proporciona ainda um outro cenário a António Costa - o de, no futuro, se necessário, escolher entre dar guarida governamental ao PSD ou ao Bloco, dependendo do momento e dos interesses em jogo. No meio da crise da direita o PS conseguiu tornar-se na charneira do regime e agora pode comandar o barco pela trajectória que lhe aprouver. Fará cedências, claro, dependendo de quem escolher para o noivado. Na realidade no início deste novo ano separaram-se as águas da política nacional e afirmou-se uma nova realidade: há uma direita que está orfã, não se revê nas lideranças actuais, há toda uma base de eleitores do PSD que perdeu referências e não se revê em Rio nem em nenhuma das suas alternativas à direita. Provavelmente as autárquicas vão ser o laboratório das coligações futuras e em Belém Marcelo espreita com inquietação a paisagem que se desenhou, entre a bruma do Tejo.


SEMANADA - Em 2019 verificou-se um aumento de famílias sobre-endividadas que pediram auxílio à DECO; o Tribunal de Contas proibiu alguns hospitais de fazerem compras de medicamentos para o cancro, HIV e algumas doenças raras alegando incumprimento de regras orçamentais; Victor Reis, ex-presidente do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, recordou que Fernando Medina prometeu sete mil fogos de renda acessível para este mandato e ainda não apresentou nenhum; Lisboa é a cidade com pior trânsito da península ibérica;  na actual legislatura o Governo, que se gaba de ter o combate às alterações climáticas como prioridade, anunciou estar a estudar fazer um novo aeroporto civil na base de Monte Real , além do já anunciado para o Montijo; segundo a OCDE nos últimos quatro anos o número de sem abrigo em Portugal aumentou 157%; no último ano duplicou o número de adeptos de futebol proibidos de entrar em estádios por estarem envolvidos em incidentes violentos; as queixas por violência doméstica à PSP e GNR subiram 11,5% em 2019; o juiz Neto de Moura, que ganhou má fama num caso em que justificou o uso de violência doméstica citando a Bíblia e o Código Penal de 1886, passou a assinar as suas decisões como Joaquim Moura para tentar evitar ser reconhecido.

 

ARCO DA VELHA - Os partidos parlamentares fizeram 1272 propostas de alteração ao Orçamento de Estado mas nesta era de contas certas ninguém sabe dizer quanto custam as medidas e alterações propostas.

 

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MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS - “Aos Meus Amores 2.0”, de Álvaro Rosendo, é uma viagem fotográfica às últimas décadas do século passado, centrada na observação privilegiada  do autor, Álvaro Rosendo, em torno da música e em jornais, e na explosão de criatividade em Lisboa nessa época, acompanhando bandas como os Xutos & Pontapés ou os Heróis do Mar, artistas plásticos como Pedro Cabrita Reis, ou vivendo nas redacções do Blitz, Se7e,  Independente e Já. Logo na entrada, na parede frente à porta da Galeria Cisterna, está uma selecção de fotos que evocam esse passado, entre elas pelo menos uma, dos Xutos, que esteve na primeira versão de “Aos Meus Amores”, a primeira exposição a solo de Álvaro Rosendo no início da Galeria Monumental, no final dos anos 80, onde anos depois desenvolveu o projecto pioneiro da escola de fotografia Maumaus. Passada a zona de entrada entra-se na sala abobadada da cisterna onde estão expostas de cada lado da parede cerca de seis centenas de fotografias dos anos 80 e 90, em pequenas impressões a preto e branco e uma grande fotografia colorida já fruto de trabalhos pessoais do autor, mais tarde (na imagem). A exposição levou à recuperação e digitalização de milhares de fotografias, num trabalho de arquivo e curadoria (de Luis Gouveia Monteiro) exemplares. A exposição fica até 29 de Fevereiro, a Cisterna é na Rua António Maria Cardoso 27 e está aberta de terça a sábado entre as 11 e as 19. Nos dias 1, 8, 15, 22 e 29 de Fevereiro Álvaro Rosendo dinamiza ele próprio visitas guiadas à exposição às 15 e 17 horas.

 

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CANÇÕES TRANQUILAS - O primeiro disco de Bill Fay, um cantor e compositor inglês, data de 1970. O segundo disco data do ano seguinte e, depois, há um interregno de edição até 2005. Durante estes anos Bill Fay continuou a compôr e a gravar e em 2005 foi editada uma compilação de originais inéditos datados do final dos anos 70 e início dos anos 80. Depois, novo interregno até 2012, durante o qual foi crescendo um culto em torno das canções simples e arranjos depurados de Bill Fay, da forma como canta as palavras, carregadas de melancolia. Um novo álbum foi editado em 2015 e, agora, acabou de ser publicado novo trabalho, “Countless Branches”, com 10 canções inéditas que reflectem as suas preocupações sobre a situação do mundo. Há uma edição especial que inclui sete faixas bonus, com registos alternativos, alguns com a intervenção de uma banda de suporte em vez das versões acústicas do disco original que têm apenas Fay ao piano, uma característica da sua sonoridade. A maioria das críticas considera que este novo disco é o melhor de toda a carreira de Billy Fay, que agora está com 77 anos. O disco é curto, na sua versão original tem 27 minutos de duração e várias canções marcantes. Uma das causas mais evidentes para o renascer de interesse em torno da obra de Billy Fay vem da admiração que outros artistas têm por ele, nomeadamente os Wilco, que fizeram uma versão do tema “Be Not So Fearful” para o documentário video que produziram em 2002 intitulado “I Am Trying To Break Your Ear”. Neste “Countless Branches”, disponível no Spotify, Billy Fay faz canções místicas, outras bem terra a terra, relata a luta constante entre o Bem e o Mal, ao mesmo tempo que parece cantar para comunicar com diversas gerações. Surpreendente e irresistível.

 

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VIDA SUAVE - A edição de fevereiro da revista Monocle é dedicado a um dos temas mais em voga actualmente: a qualidade de vida. A capa, aqui reproduzida apela a que cada um recomece, defina novos objectivos, adopte uma nova postura, leia mais e se descontraia - em suma, que se viva uma vida mais suave. Esta é uma edição anti stress, focada em combater o imediatismo e a velocidade que pode ser má conselheira no pensamento e na execução. A ideia central da edição é possibilitar que cada pessoa consiga que 2020 corra melhor que o ano passado. Não há-de ser por acaso que aqui estão diversas histórias sobre pessoas que deixaram os seus empregos e procuraram uma vida diferente e mais realizada, de acordo com os objectivos de cada um e com um sentido de utilidade para a sociedade. Entre os artigos desta edição destaque para um trabalho sobre o plano de desenvolvimento e requalificação de Cartagena, na Colômbia, para os ambiciosos planos do novo autarca de Phoenix. O grande tema que passa pelos artigos centrados na capacidade de mudança tem a ver com uma questão básica: como passar dos sonhos para a realidade. como se pode fazer o salto para o desconhecido, fora da zona de conforto, como encarar ideias e debates que ficam de fora da zona do pensamento dominante dos dias que correm. Como se escreve no manifesto “Easy Does It”, vale a pena que cada um se consiga isolar, desaparecer durante alguns momentos e todos os dias fazer uma coisa de que se gosta e não apenas o que tem de se fazer por obrigação.

 

GULODICE - Uma das minhas guloseimas preferidas é uma sábia combinação entre sabores de fruta e chocolate. Nesta área gosto sobretudo de cascas de laranja cobertas com chocolate negro. Há alguns bons sítios para obter o petisco e, até agora, as da Pastelaria Sequeira, ao Saldanha, estavam no topo da lista, muito acima das demasiado sofisticadas ( e pouco frutadas) da Arcádia. Anuncio agora que na lista das melhores cascas de laranja com chocolate negro passaram a estar as que são produzidas nos Açores pela empresa O Chocolatinho, de Rabo de Peixe, São Miguel. As cascas são grossas, levemente cristalizadas, cobertas de abundante chocolate negro e com uma pontinha descoberta da casca de laranja. São simplesmente arrebatadoras. O petisco encontra-se em Lisboa na Mercearia dos Açores, que existem em Lisboa na Rua da Madalena 115 e na Rua Viriato (às Picoas) nº 14. Ali podem ser encontradas outras iguarias do arquipélago, com destaque para as manteigas artesanais do Pico e os vinhos locais, que têm vindo a ganhar notoriedade. 

 

DIXIT - “Um dia não será com dinheiro que se poderá comprar o tempo. Só com mais tempo. O nosso”. - Miguel Esteves Cardoso

 

BACK TO BASICS - “Nada melhor que dar uma aparência de mudança se quiser garantir que tudo fique na mesma” - Giuseppe di Lampedusa





 





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