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A LIDERANÇA - A crise que vivemos é um desafio à capacidade de nos organizarmos, lutarmos e mudarmos, para garantir um novo futuro. Este não é tempo de profetas, mas é tempo para pensarmos pelas nossas próprias cabeças e vermos onde líderes políticos actuais nos levaram. Esta é a fase em que devemos pensar e preparar a resposta - a resposta que garanta a sobrevivência de pessoas, da economia, da sociedade. Por estes dias li uma entrevista do historiador e filósofo israelita Yuval Noah Harari, autor de “Sapiens: Uma breve história da humanidade”, de “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã” e de “21 Lições para o Século 21”. Dessa entrevista retive dois parágrafos - o que reproduzo no Back To Basics e este, que creio resumir o que se passa: “Devido à falta de liderança, não estamos a tirar o máximo partido da nossa capacidade de cooperação. Nos últimos anos, políticos irresponsáveis têm deliberadamente minado a confiança na ciência e na cooperação internacional. Estamos agora a pagar o preço por isso.” Claro que há mais temas para analisar e reflectir sobre a situação actual, mas a verdade é que o que hoje se passa mostra o desfasamento entre os líderes políticos e as necessidades da sociedade - em termos de estabelecimento de prioridades de investimento em áreas como a ciência e a saúde. Passámos de uma fase em que os Ministros das Finanças faziam com que não houvesse dinheiro para nada, para a fase em que os governos disponibilizam milhões e milhões - esperemos que não seja tarde demais. A situação actual evidencia que é sempre melhor prevenir do que remediar. O remédio, como estamos a ver, é sempre mais caro que a prevenção. Esta é apenas uma das etapas - mas importante - da mudança global de estratégias que tem de ser feita. Fala-se muito de mudança e liderança nas empresas. Aquilo que hoje vivemos mostra que o sentido da mudança e um novo estilo de liderança são também fundamentais na sociedade e na política que é suposto governá-la. O fundamental é melhorar o sistema, e não abandoná- lo.
SEMANADA - O preço da carne subiu; nas lotas os pescadores vendem peixe a metade do preço; foram detectados casos de especulação na venda de produtos como gel desinfectante, máscaras, luvas e até paracetamol; com o fecho dos parques de campismo 13 mil caravanistas ficaram desalojados; um estudo europeu revela que Portugal não tem habitação social suficiente para as necessidades; o mesmo estudo do Conselho da Europa aponta falhas graves na protecção de crianças e jovens; sem o retomar das competições à vista os responsáveis dos jornais desportivos portugueses estão apreensivos quanto ao futuro; 43,7% dos portugueses considera a actuação do governo na pandemia como “pouco eficaz”, 40,9% como eficaz e apenas 5,4% como “muito eficaz”; uma sondagem divulgada esta semana revela um reforço da imagem de António Costa, algum desgaste de Marcelo Rebelo de Sousa, e subidas assinaláveis do Bloco de Esquerda e Chega que ficam, respectivamente, na terceira e quarta posição, logo atrás do PSD e à frente da CDU, PAN e CDS; se a pandemia durar três meses o PIB português pode ter uma quebra de 10%; o valor médio das casas em Portugal subiu 21% em cinco anos; os preços da habitação em Lisboa são 35% superiores à média nacional; o preço de venda das novas habitações subiu cinco vezes mais que o da construção; o Facebook registou esta semana um aumento exponencial de utilização mas as suas receitas publicitárias diminuíram e o maior aumento de utilização verifica-se nas áreas de mensagens da rede social e do whatsapp.
ARCO DA VELHA - Segundo informações da Ordem dos Solicitadores a venda de bens penhorados rendeu 1,6 mil milhões de euros em menos de quatro anos.
ARTES - Desde que as medidas de contenção do Covid 19 foram tomadas todos os espaços públicos foram sendo progressivamente fechados. Entre eles estão as galerias de arte privadas, local de eleição de apresentação de obras de artistas contemporâneos, novos ou consagrados. De um modo geral uma série de actividades culturais que por definição implicam a presença de públicos têm as portas fechadas. Muitos artistas plásticos portugueses preparavam exposições para os próximos meses, em Portugal ou no estrangeiro. Algumas já não se poderão fazer, pelo menos nas datas indicadas. Os artistas plásticos vivem das suas obras que vendem. Se os locais onde as podem mostrar e vender estão encerrados, não há vendas, não há receitas. Não vai ser fácil para muitos. Independentemente das medidas conjunturais que estão a ser tomadas esta é uma boa oportunidade para pensar o que se pode fazer no futuro. E uma das mais simples e evidentes ajudas que o Estado pode dar é criar uma nova Lei do Mecenato , que seja mais fácil de usar para criadores, entidades e mecenas - privados ou empresariais. Há muitos modelos dignos de estudo no mundo e todos passam por uma mesma coisa - incentivos fiscais para os mecenas, taxas reduzidas para os criadores. No caso das artes plásticas há coisas tão absurdas como a dificuldade que é uma empresa comprar obras de arte, podendo considerá~las como custo - tal como outras partes do seu imobilizado. O efeito na receita fiscal do Estado é ridículo, mas esta medida, por si só, permitiria alargar o mercado. É nestas questões que vale a pena pensar para o futuro. Na imagem que acompanha estas palavras está a exposição de Sara Bichão na Galeria Filomena Soares, que foi montada mas nem sequer chegou a ser inaugurada. Podem ver mais em http://gfilomenasoares.com/
PLAYLISTS - Embora em casa, não temos que ficar confinados nem aos nossos discos nem ao que o Spotify nos quiser dar . Sugiro-vos que naveguem pela plataforma Mixcloud, onde DJ’s de todo o lado (incluindo muitos portugueses) e algumas entidades ligadas à música fazem autênticos programas de rádio. A ideia é ouvirem selecções musicais, de vários géneros, playlists bem elaboradas. As possibilidades são imensas, por isso vale a pena explorar bem a plataforma - tem uma aplicação que funciona muito bem em smartphones. Lá poderá descobrir por exemplo o Ronnie Scott Radio Show, preparado pelo lendário clube de jazz de Londres, ou listas de DJ’s portugueses, como a Mixtape Nação Valente de MdeMonica Mendes, ou as Sleeping Dogs Lie de Miguel Santos, a Eclética de Lucinda Sebastião, a Estrada do Guincho de Lucio (José Lucio Duarte) ou ainda as Dance Sessions de João Vaz. Algumas destas listas têm dezenas e até centenas de emissões diferentes, muito moldadas obviamente aos gostos dos seus autores. Em todos estes exemplos a música é boa e as sequências apresentadas são muito bem pensadas. São programas de autor como já é raro ouvir hoje em dia na rádio. Nestes dias tenho acompanhado o trabalho diário de um DJ do Porto, há muito ligado à música e à descoberta de músicos, Pedro Tenreiro. A sua Quarentena Funky tem sempre capas bem escolhidas (como esta que aqui se reproduz) e o que ele propõe é soul e funk do melhor. Muito bom para animar o ritmo destes dias - uma sempre renovada pista de dança em casa.
MISTÉRIOS NÓRDICOS - Bem sei que estes tempos já são bastante misteriosos. Mas por isso mesmo pode ser boa ideia pegar numa boa história dos tempos de guerra, ainda por cima baseada em factos reais. Henry Rinnan é a personagem central de “Léxico da Luz e da Escuridão” e torna-se odiado por ser um agente duplo que mata noruegueses para os nazis. O seu autor, Simon Stranger, é um prestigiado escritor norueguês e o presente livro, agora editado pela Quetzal, com boa tradução de João Reis, foi galardoado com o Prémio dos Livreiros Noruegueses. A história desenrola-se a partir de uma acaso: a família da mulher do escritor, depois da guerra, vai morar para a casa que serviu de quartel general a Rinnan, onde ele próprio vivia e onde os resistentes noruegueses que ele entregava eram torturados. É uma visita a um passado sombrio, um retrato duplo de um traidor criminoso e de uma família que havia sido devastada pela guerra - o bisavô da mulher de Stranger morreu depois de ter sido entregue pelo próprio Rinnan. A família acaba por descobrir a história terrível da casa para onde foi morar, o que cria tensões enormes. Muito bem escrito, o livro é passado na cidade de Trondheim, que quase ficamos a conhecer pela minuciosa descrição dos locais. Envolvente do princípio ao fim, este é um daqueles livros que não se consegue largar até terminar.
OS MERCADOS - Na maior parte dos supermercados e nas grandes superfícies há filas e muitas vezes há falta de produtos, nomeadamente frescos. Nesta semana entrei num mercado tradicional e quase ninguém lá estava, além dos vendedores nas suas bancas. E as bancas estavam bem fornecidas - de peixe, de carne, de fruta, de legumes e até de alguns produtos regionais. Alguém me explicava que muitos restaurantes abastecem-se nos mercados e agora, com o encerramento dos restaurantes, os mercados tradicionais tiveram um decréscimo de actividade. Vale a pena lá ir - comprei peras como ainda não tinha provado este ano e tomate coração de boi absolutamente fantástico. O tomate, maduro, temperado com um pouco de flor de sal fez as minhas delícias e foi um acompanhamento fantástico do peito de frango no forno, temperado com mel. A entrada consistiu nuns bons rabanetes cortados em fatias finas e temperados só com sal. Na mesma ocasião comprei também umas sumarentas laranjas que foram a base de uma salada que brilhou noutra refeição. Por cima das rodelas de laranja descascada coloquei filetes de cavala de conserva a que escorri o azeite. A coisa foi acompanhada por uma boa fatia de pão de mistura cozido em forno de lenha, que também veio do mercado. E as peras garantiram a sobremesa. O regresso aos mercados vale a pena. E quem os mantém vivos bem merece.
DIXIT - “É preciso investir mais. Agilizar mais os procedimentos. É preciso uma estratégia clara a nível europeu, que oriente, apoie e reforce as respostas que estão a ser dadas pelos diferentes países. Temos de subir a parada à escala da ameaça que enfrentamos” - Maria da Graça Carvalho, eurodeputada.
BACK TO BASICS - “A crise realça a fragilidade do nosso sistema global, mas a reacção correcta é melhorar o sistema em vez de abandoná-lo”- Yuval Noah Harari.
A CRISE - Em duas décadas já tivemos três crises severas neste século. A primeira com os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos; a segunda com a crise financeira de 2008; e agora, a terceira, com o COVID 19. No 11 de Setembro de 2001 lembro-me de estar à hora de almoço num restaurante e ver, perplexo, os aviões a derrubar as torres gémeas de Nova Iorque. Nessa tarde, já a perceber melhor o que se tinha passado, pensei que o mundo nunca mais iria ser igual ao que era antes. Não me enganei. A geração que tem agora entre 20 e 30 anos viveu sempre na incerteza e isso explica muito da sua forma de pensar e agir. A crise desencadeada em 2001 gerou medo e insegurança físicas. Anos depois, em 2008, a crise financeira gerou medo e insegurança económica; agora, esta crise do COVID 19 arrisca-se a gerar insegurança e medo físicos e pânico na economia. Esta é a maior insegurança destas crises dos últimos 20 anos, é a primeira vez em que, a milhares de mortes e a uma sensação de impotência do Estado, se junta a hipótese de colapso de uma série de economias de diversos países. O retrato da Europa nestas semanas não é bonito de se ver. A Comunidade responde pouco, o Banco Central Europeu acordou tarde quando comparado com a Reserva Federal Americana e os alemães, mais uma vez, assobiam para o ar à espera que a coisa passe. Mas é certo que os rendimentos vão diminuir, que o consumo vai cair. Tudo vai ser diferente. Este vírus deu cabo de todas as folhas de excel e os burocratas não sabem o que fazer. O que se vai passar a seguir? Adopto a sigla de uma amiga minha, médica, em situações de grande crise: LSV - logo se vê. As prioridades são viver, ajudar, reconstruir.
SEMANADA - Quase dois em três portugueses declaram ser optimistas, revela um estudo da Marktest divulgado esta semana; segundo o Telenews da MediaMonitor, o noticiário sobre o COVID 19 continuou a ser dominante na semana passada, tendo-se registado um total de 1059 notícias e 42 horas de emissão sobre este tema; foram encontradas 1680 caixas de esteroides anabolizantes num descampado em Elvas; o Tribunal de Contas desconfia do regulador da aviação civil que tem à sua frente gestores da maior empresa regulada por esse organismo, a ANA; o Tribunal Constitucional defendeu que facilitar a prostituição não deve ser crime; os resultados líquidos dos CTT subiram 35,8% desde que a empresa mudou de liderança em Maio do ano passado e registaram lucro de 29 milhões de euros; o montante de novos créditos ao consumo aumentou cerca de 13% no final de Janeiro, em relação a igual período do ano passado; o Festival da Eurovisão foi cancelado; o Euro 2020 foi adiado para 21; o debate instrutório da Operação Marquês foi adiado sine die; a Auto-Europa suspendeu toda a produção até 29 de Março; o controlo de fronteiras foi reintroduzido em Portugal; António Costa disse que o país não vai parar; Fernando Medina não disse nada sobre Lisboa.
BOA IDEIA - Na Índia várias operadoras de comunicações substituíram os toques de telefone (ring tones) por mensagens de 30 segundos com conselhos sobre como evitar o COVID 19.
A PINTURA - Não podemos viajar, mas podemos ver belíssimas obras on line. Escolhi esta porque me parece adequada ao nosso estado de espírito. “The Night Watch”, “A Ronda da Noite”, é uma obra de Rembrandt, criada em 1642, e que tem a curiosidade de ser uma das primeiras pinturas a retratar um grupo de pessoas em acção, no caso diversos guardas que se preparam para actuarem. A utilização da luz é extraordinária, a dimensão da obra é imponente. A pintura mede 380 cm de altura e 454 cm de largura e mostra a milícia do capitão Frans Banning Cocq no momento em que este dá a ordem para marchar ao alferes Willem van Ruytenburch. Atrás deles aparecem os 18 integrantes da Companhia. Está exposta em Amsterdão, no Rijksmuseum. Graças à iniciativa da Google Arts & Culture pode não só visitar este e outros grandes museus, mas também, no caso desta obra, pode observar com atenção os pormenores, acompanhados por informação, que ajuda a compreender o tempo em que foi criada. Vale a pena visitar o site artsandculture.google.com, uma iniciativa feita em conjunto com a Unesco, e ver o que oferece em matéria de visitas virtuais a locais históricos, museus, colecções de arte e géneros artísticos, entre muitas outras coisas.
A VIDA - O álbum “async”, de Ryuichi Sakamoto, foi editado em 2017, após quase oito anos sem discos do músico japonês. São 14 temas, muito ambientais, que retratam os anos difíceis de luta contra um cancro da garganta. As canções são sóbrias, como sempre, com produção e arranjos discretos. Há uma canção em particular que é a razão desta escolha, “Life, Life” - um hino tranquilo à necessidade de superarmos os dias mais complicados, pensando na vida. A voz é a de David Sylvian, um colaborador de longa data de Sakamoto. É o décimo sexto álbum a solo do autor, bem diferente da fase mais pop de há alguns anos. Em “async”, disponível no Spotify, melodias e texturas sonoras - a grande matéria prima da obra de Sakamoto - desenvolvem-se de forma natural, colando os temas uns aos outros. Sakamoto, um homem que fez algumas das mais marcantes bandas sonoras para cinema (Merry Christmas Mr. Lawrence, The Last Emperor ou The Revenant), diz que concebeu este disco como uma banda sonora imaginária para um filme de Andrei Tarkovsky. “Life,Life”, a canção que marca o disco, foi feita a partir de um poema do pai do cineasta, o famoso poeta russo Arseny Tarkovsky. Aqui fica um excerto do que Sakamoto escolheu e Sylvian interpretou:
To one side from ourselves, to one side from the world
Wave follows wave to break on the shore
On each wave is a star, a person, a bird
Dreams, reality, death - on wave after wave
No need for a date; I was, I am, and I will be
Life is a wonder of wonders
A VIAGEM - “O Velho Expresso da Patagónia”, uma das obras de referência de Paul Theroux, foi editado em 1979 e chega agora a Portugal pela mão da Quetzal na colecção Terra Incógnita, que a editora criou para reunir “títulos e autores que desprezam a ideia de turismo e fazem da viagem um modo de conhecimento.” Paul Theroux tinha acabado de publicar “O Grande Bazar Ferroviário”, em 1975, quando iniciou a escrita deste livro prodigioso: entrar na estação de metro mais perto de casa arrastando a mala, mudar para o comboio daí a pouco e percorrer dois continentes inteiros, a América do Norte e a América do Sul… até terminar às portas da Patagónia e da Terra do Fogo, onde chegava o pequeno e velho comboio que designa como Expresso da Patagónia”.
Este livro, que chega oportunamente quando viajar está a ficar um prazer proibido, é considerado uma referência central e indispensável que mudou a história da literatura de viagens. A narrativa relata a viagem, de comboio em comboio, de fronteira em fronteira, do México à Costa Rica, do Panamá à Guatemala e aos Andes até à mítica linha ferroviária da Patagónia argentina. «Theroux não embeleza nenhum cenário, não se comove com romantismos literários, não cede nunca: quer procurar histórias e entrevistar gente que não figura nos romances», escreve Francisco José Viegas o editor da Quetzal, na introdução ao livro.
A COZINHA - Estamos pois confinados às nossas casas, façamos o melhor da situação. Esta é uma boa ocasião para vasculhar a dispensa e despachar algumas das coisas que estão por lá. Hoje estou numa de latas e nesta semana dedico-me às conservas e começo pelas de atum. Desde que seja uma das felizmente numerosas boas marcas, qualquer serve e nem tem que ser atum ao natural (o Tenório em azeite é o meu preferido). Ingredientes para quatro pessoas: duas latas de atum, conteúdo escorrido e desfeito; uma lata de tomate em cubos (prefiro) ou triturado; gengibre fresco; alcaparras ou azeitonas aos pedaços; azeite; esparguete ou tagliatelle. Coloque pedaços finos de gengibre fresco no azeite, acrescente o tomate e deixe cozinhar em lume brando, até borbulhar. Não uso propositadamente cebola para a coisa ficar mais leve, mas, se quiserem, experimentem cortar umas rodelas finas de alho francês e usem-no como base, junto com o gengibre, antes de deitarem o tomate. Nessa altura, já a borbulhar deito o atum desfeito e as alcaparras ou azeitonas e mexo tudo bem. Ao lado cozam em água abundante, já a ferver, temperada com sal e um fio de azeite, a quantidade de massa que entenderem necessária durante o tempo recomendado para cada marca (eu tiro-a sempre um minuto antes não só para ficar al dente, mas também para acabar de cozinhar no molho). Depois de escorrida a massa atirem-na para dentro do molho, envolvam-na bem e deixem acabar de cozinhar mais um minuto antes de a levarem para a mesa. Pimenta a gosto, um pouco de cebolinho também não fica mal. É um petisco simples e rápido de preparar. Cozinhar não deve ser um stress - mas sim um momento criativo. Juntem outros ingredientes, usem outras massas, coloquem outras coisas no molho. Divirtam-se.
DIXIT - "Só se salvam vidas e saúde se entretanto a economia não morrer" - Marcelo Rebelo de Sousa
BACK TO BASICS - “No caso de doença generalizada há duas coisas a fazer: ajudar a curar e evitar piorar as coisas” - Hipócrates
Quando este artigo foi escrito a crise gerada pelo COVID 19 só se desenhava. Não retiro uma linha do que escrevi. Mas reforço aqui o apelo a que todos colaboremos para diminuir os riscos de propagação e para aumentarmos o apoio que podemos dar uns aos outros. Reforço aqui a citação da grande investigadora que foi Marie Curie e que é hoje o Back To Basics: “Nada na vida é para ser temido, mas sim para ser compreendido”.
UM PAÍS DESIGUAL - As palavras que se seguem não são minhas, são de uma intervenção de Carlos Guimarães Pinto, ex-líder da Iniciativa Liberal, numa conferência recente sobre “Novas Desigualdades”. É uma análise poucas vezes feita. E certeira. Excertos: “Há uma opção política clara de concentrar o poder político em Lisboa, de concentrar os negócios do estado na capital. Tendo o estado um peso tão grande na economia, esta concentração arrasta inevitavelmente o poder económico, e ambos arrastam o poder mediático. O centralismo garante que o poder no país está concentrado num pequeno círculo de pessoas distante do escrutínio da maioria, facilitando redes de nepotismo e corrupção. (...) Cada vez mais a elite é um círculo fechado controlado por meia dúzia de famílias e dois ou três grupos mais ou menos secretos. A esmagadora maioria das pessoas neste país, por muito bons que sejam, não podem aspirar a chegar a altos cargos na política ou nas empresas. Esta ausência de meritocracia tem implicações graves na forma como o país e as grandes empresas são geridas. Para termos os melhores no topo, o acesso a esses lugares não pode estar restrito a quem tem o apelido certo ou pertence a uma qualquer organização secreta. Para além de aprofundar desigualdades, a concentração de poder faz com que se desperdice muito capital humano. Há um eixo de Braga a Coimbra onde se concentra muita da criação de conhecimento do país e, acima de tudo, onde ainda se vai concentrando uma boa parte da população jovem. Mas nesse eixo, onde se formam os jovens da geração mais bem preparada de sempre escasseiam as oportunidades de crescimento profissional. (...) Mais 5 anos e podemos ser o país mais pobre da Zona Euro. Daqui a 10 ou 15 anos poderemos ser o país mais pobre não só da Zona Euro como da União Europeia. Estamos num país centralista, com elevada carga fiscal onde redes de compadrio e nepotismo se substituem aos mecanismos de concorrência e mercado que deveriam guiar uma economia desenvolvida.” É isto. É este o estado da Nação.
SEMANADA - Mais de 60% dos hotéis do Algarve registam cancelamento de reservas; um quarto dos membros do Governo têm participações directas ou indirectas no capital de empresas e alguns dos casos não foram declarados no registo de interesses; a procura de cursos superiores de curta duração aumentou 21%; a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil emitiu um parecer desfavorável sobre o projecto do aeroporto do Montijo devido ao risco de acidentes com aves e aeronaves; os tempos de espera para marcações de exames e intervenções cirúrgicas levou mais de 700 mil portugueses a escolherem ser tratados em hospitais fora da sua área de residência; em Penamacor o presidente da Câmara forjou contrato com pais e irmãos da sua chefe de gabinete, e ex-vereadora, para dar cobertura a uma obra de quase 150 mil euros feita ilegalmente três anos antes; Portugal é o país da OCDE onde os custos com a habitação mais subiram; a maternidade depois dos 40 anos duplicou entre 2011 e 2018 devido à precaridade laboral; mais de metade dos bebés são filhos de mães solteiras; em Lisboa a esquadra de Turismo da PSP é a que tem mais denúncias de crimes; os transportes públicos de Lisboa são o serviço com os clientes mais insatisfeitos pelo sétimo ano seguido; nos últimos 15 anos centenas de processos da Relação de Lisboa foram distribuídos manualmente, o que agrava as suspeitas de viciação.
ARCO DA VELHA - Segundo o “Correio da Manhã” a PSP está sem dinheiro para reparar viaturas e há agentes do Corpo de Intervenção que trazem papel higiénico de casa já que o mesmo não está por vezes disponível no local de trabalho.
NORTE-SUL - Ana Vidigal faz uma incursão na pintura sobre papel, pouco frequente na sua obra mais recente onde a colagem tem estado mais presente. O resultado é a exposição “amor-próprio” que abre sábado no Porto, no espaço 531 do galerista Fernando Santos. A história é simples - Ana Vidigal aceitou o desafio do galerista e de Pedro Quintas para realizar uma série de trabalhos em pequenos formatos para esta exposição (na imagem). Vidigal não utiliza geralmente esse formato com dimensões de cerca de 100 X 70. Mas desta vez estabeleceu uma dimensão e forçou-se a esse exercício de atelier que pode agora ser visto nesta exposição intitulada “amor-próprio” constituída por 16 pinturas sobre papel de 14 de Março a 02 de Maio de 2020 no espaço 531 da Galeria Fernando Santos, no Porto. Outra sugestão é a exposição de José Pedro Croft, “1 nova, 2 nem tanto” que apresenta três esculturas, todas obras inéditas. A peça central é composta por camadas, evocando a imagem de uma cabana, uma espécie de abrigo primitivo constituído por placas de ferro unidas duas a duas, juntas num ponto, e pintadas. No meio das placas, um conjunto de duas grelhas, recorda os desenhos de Croft e reforça a luz como parte da obra. As outras duas esculturas —uma em madeira, mármore e gesso e a outra em madeira e gesso— são ambas feitas a partir de portas reutilizadas que perderam a sua função original. De 12 de Março a 2 de Maio, na Galeria Vera Cortês, em Lisboa, de terça a sexta das duas às sete e no sábado entre as dez e a uma e dentre as duas e as sete.
POP ROCK - Hoje o tema é música pop, de inspiração electrónica, feita por um duo originário de Brooklyn e que dá pelo nome de Overcoats. O seu segundo álbum é “The Fight”, acabado de publicar e disponível no Spotify. Hana Elion and JJ Mitchell são as duas compositoras e intérpretes que constituem o duo, cuja estreia foi em 2017 com o álbum “Young”. No início basearam-se na conjugação de um pop de instrumentação electrónica com algumas influências do folk, sobretudo na forma de cantar. Neste novo disco os arranjos são bem diferentes, entram guitarras e bateria e sente-se uma produção onde o rock se faz sentir mais presente, como no no tema “The Fool”, que foi o primeiro single Os dez temas do álbum são bastante diversos entre si, incluem uma balada acústica como”New Shoes”, a encerrar o disco, e um envolvente “I’ll Be There”, onde os arranjos vão crescendo ao lado das vozes. Outros temas em destaque: “Apathetic Boys”, “Leave If You Wanna” e “Fire And Fury”.
EPISÓDIOS DA JUSTIÇA - Nos últimos anos ouvi numerosas crónicas de rádio de António Canêdo Berenguel, que, na TSF, contava episódios curiosos e algo rocambolescos da justiça portuguesa ao longo dos séculos. Berenguel é advogado em Portalegre e tem-se cruzado com muitas histórias no exercício da sua profissão - mas foi nos fundos dos arquivos judiciais que encontrou algumas das mais incríveis e surpreendentes, ocorridas nos finais do século XIX e início do século XX. Com o título “Histórias da Justiça”, essa sua rubrica da TSF contava coisas que vão da passagem de notas falsas em ceroulas até casos de barbeiros abortadeiros, passando por furtos de galinha, queijos ou presuntos. Há histórias inacreditáveis como a de um político local que mudou a hora nacional, ou de ex- namorados que foram parar ao tribunal por uma disputa de sabonetes. Os títulos das histórias narradas são por si só um episódio: “A açorda e a morte suspeita”, “O tigre chamado Porfírio vivia no Rossio da vila”, “O porco comeu-lhe a merenda”, “O oficial de justiça apaixonado”, “As cartas da mulher do juiz”, “as mãos por baixo das saias” ou “mordeu a sogra junto à virilha” são alguns deles. O mais delicioso de tudo está nas citações dos registos dos julgamentos, a transcrição de sentenças ou de boletins do registo criminal. É um retrato de Portugal num determinado tempo - mas em muitos momentos estes parecem ser casos de sempre, que se vão repetindo. Na introdução o autor constata que olhando para o país de então e para o país de hoje, muito mudou e interroga-se: O que mudou no essencial? Que povo fomos e somos? Que justiça é esta e foi a outra? Que valores cimentavam os laços sociais? Segundo o autor, «as respostas estão nos processos, um acervo documental único e o retrato fiel do país ao longo de séculos”. Edição Guerra & Paz.
PETISCO - O Folar Limiano é o meu tema desta semana depois de ter levado um que fez sucesso num lanche de amigos há uns dias. Elaborado com carnes seleccionadas e enchidos tradicionais, como o lombo do cachaço, o chouriço de carne, a barriga fumada e o chouriço para grelhar, o seu maior segredo está na massa, regada com vinho verde de Ponte do Lima, que lhe confere um sabor e uma textura inesperados. Este Folar Limiano tem um peso aproximado de 650 gramas, é uma óptima ideia para um petisco de fim de tarde e mantém-se fresco alguns dias. As carnes têm um sabor intenso, a massa tem um paladar delicado numa consistência suave. A receita deste Folar foi criada pelo chef Vitor Lima, que está à frente da Casa do Folar Limiano, em Ponte de Lima. Outra das suas especialidades são os bombons limianos, elaborados a partir de chocolate belga, com recheio de vinho verde, aguardente velha. A casa do Folar Limiano fica na Rua Salvato Feijó em Ponte de Lima mas pode comprar o Folar em Lisboa na Garrafeira Néctar das Avenidas, Rua Pinheiro Chagas 50, nas Avenidas Novas em Lisboa. Aproveite que além do Folar tem lá bons queijos e uma excelente selecção de vinhos.
DIXIT - “O coronavírus vai ser a prova de algodão do Governo de António Costa. Pela qualidade do combate à epidemia se verá se ele é um político de mão cheia” - João Miguel Tavares
BACK TO BASICS - “Nada na vida é para ser temido, mas sim para ser compreendido” - Marie Curie
A CONFIANÇA - “A meio da batalha não se mudam os generais” - disse esta semana o Primeiro Ministro no Parlamento, a propósito das falhas registadas na actuação das autoridades de saúde e da necessidade de se mudarem os seus responsáveis. A situação provocada pelo Covid 19 está a mostrar as grandes lacunas que existem na coordenação, mas também na disponibilização de meios humanos e materiais e na articulação da informação a profissionais da saúde e público em geral. Em última análise a questão é a capacidade de o Estado desempenhar o seu papel em prol dos cidadãos. E, infelizmente como já aconteceu em situações anteriores - recordo apenas a falta de coordenação do combate aos incêndios 2017 - a obstinação de não mudar responsáveis quando surgem problemas não é uma boa ideia. A Ministra da Saúde, que tem tido um desempenho em geral fraco, é, em última análise, a responsável pelo que se está a passar e os seus desencontros com a Direcção Geral da Saúde são um sinal preocupante. O que está em causa aqui é a forma como vamos perdendo a confiança no Estado, como vamos aceitando passivamente que as coisas não funcionam. A resignação face a um Estado ineficaz é uma ameaça ao funcionamento da democracia e é o caminho que abre campo ao populismo. Num país onde o funcionamento da justiça levanta tantas dúvidas, onde as finanças distorcem a realidade e onde a saúde defronta problemas graves, avolumam-se as razões para o descrédito do Estado. E isso nunca é uma boa notícia. O Estado que é omnipotente de um lado e ausente de outro é um perigo para todos.
SEMANADA - Os serviços postais apresentaram 28 mil reclamações em 2019, mais 18% do que no ano anterior e o atraso na entrega foi o motivo que registou uma maior percentagem de queixas; a dívida pública situou-se em 252,1 mil milhões de euros em janeiro, aumentando 2,3 mil milhões relativamente ao final de 2019; ao contrário do que a Lei prevê, as Finanças não publicam os encargos trimestrais do Estado com as PPP desde há um ano; o Sporting já teve 24 treinadores desde 2000 e sob a direcção de Frederico Varandas já teve seis em apenas um ano e meio; o presidente do Tribunal da Relação de Lisboa demitiu-se depois de surgirem suspeitas sobre a viciação dos sorteios de atribuição de processos, possibilitando a escolha de juízes de acordo com o interesse de uma das partes envolvidas; segundo o Eurostat Portugal está entre os países com sinais mais agudos de degradação do mercado de trabalho no arranque de 2020; Portugal tem quinta maior taxa de desemprego jovem da Europa; as chamadas por telefone fixo caíram 15% em 2019, a maior queda dos últimos quatro anos; os grandes contribuintes, com mais de 750 mil euros de rendimento ou património superior a cinco milhões de euros, aumentaram 34% em 2019; José Sócrates afirmou esta semana à saída do tribunal onde foi interrogado, que as perguntas do juiz sobretudo aquelas sobre umas férias no Algarve, eram "perguntas ridículas".
ARCO DA VELHA - Uma médica afirma ter telefonado 44 vezes para a Linha de Apoio Aos Médicos sobre o Covid 19 sem ter conseguido obter qualquer resposta e a linha Saúde 24 não atendeu 25% das cahamadas no pico da crise.
DESENHOS NATURAIS - Esta semana sugiro uma ida à Galeria Monumental, que inaugurou recentemente duas exposições. A primeira mostra desenhos de Bárbara Assis Pacheco (na imagem), fruto das suas viagens, mas também das suas preocupações ambientais, baseadas na observação persistente da natureza. Num texto recente sobre uma das suas exposições dizia-se que Bárbara Assis Pacheco concorda com Goethe quando ele diz que «falamos demasiado — devíamos falar menos e desenhar». A artista é mesmo bastante lacónica e resume-se a si própria em quatro palavras: «Faz desenhos e coisas». A segunda exposição da Monumental tem um título retirado de um poema autobiográfico de William Wordsworth, “...quando as nuvens são pelo vento arrastadas do seu lugar favorito, onde descansam...” e usa livros em mau estado encontrados em alfarrabistas como a matéria prima, sobre cujas páginas a artista trabalhou. As duas exposições ficam patentes na Monumental até 28 de Março (Campo dos Mártires da Pátria 101). Outras sugestões: até sábado dia 7 ainda poderá ver na Fundação Carmona e Costa a exposição ”The I Of The Beeholder” do colectivo Musa Paradisíaca, composto por Eduardo Guerra e Miguel Ferrão (Rua Soeiro Pereira Gomes, Lote 1). Para uma experiência perfeitamente diferente recomenda-se o Museu do Dinheiro, aberto em abril de 2016, distinguido em 2017 como “Melhor Museu do Ano” pela Associação Portuguesa de Museologia e que em 2019, cerca de 75 000 visitantes, interessados em saber mais sobre o dinheiro, a sua história e a sua evolução, em Portugal e no mundo. O Museu abriu agora um novo núcleo, “Compreender”, dedicado a explicar a finalidade do Banco de Portugal, que ganhou relevância nos últimos anos pelos grandes contributos para a crise do sistema financeiro português (Largo de S. Julião).
MÚSICA DARK - Pesadelos, fantasmas, espíritos errantes são os personagens recorrentes das canções de Agnes Obel, uma dinamarquesa com um estilo musical muito próprio, uma voz entre o murmurado e o sinuoso e arranjos instrumentais austeros, com larga utilização de electrónica. Obel tem feito bandas sonoras para algumas séries de televisão dinamarquesas e alemãs, como The Rain e Dark, e até jogos video, como o violento Dark Souls III: The Fire Fades Edition . O seu novo disco, “Myopia”, foi editado pela Blue Note, está disponível no Spotify e foi escrito, tocado, produzido e misturado integralmente pela própria Agnes Obel, que assegurou a voz, piano, teclas, sintetizadores e caixas de ritmos. O primeiro tema do disco dá logo o mote na forma como Obel canta e no clima sonoro que encenou e que se adensa depois. Destaque para “Island Of Doom”, “Roscian”, para a faixa-título “Myopia” e para a última faixa, “Won’t You Call Me”, onde a voz de Obel e o piano se envolvem reforçando um ambiente de mistério, que afinal, é o de todo o disco. Música de câmara pop fantasmagórica é como uma das críticas descreve este “Myopia”, o quarto disco da autora.
RECEITAS & PETISCOS - Desde há bastante tempo que sigo o blogue “O Homem Que Comia Tudo”, do jornalista Ricardo Dias Felner, onde ele vai relatando as suas avaliações sobre restaurantes, petiscos ou coisas tão triviais como iogurtes de supermercado. Aí escreveu guias esclarecedores sobre, por exemplo, o bacalhau que por cá se come e anualmente atribui os prémios Cometa que têm uma extensa lista de nomeações, que vai das melhores sardinhas de conserva até à melhor sobremesa ou melhor empregado do ano. É uma lista incontornável. Agora “O Homem Que Comia Tudo” passou a livro, pela mão da Quetzal, e com o subtítulo “Aventuras culinárias, receitas e restaurantes de Portugal e do mundo”. A nota de introdução ao livro, uma citação de um dos textos de Felner, é por si só todo um episódio: “Se vou em viagem de carro e passo por um boi, começo logo a apreciar os cortes: o lombo, o acém, as abas gordas. No Oceanário toda a gente de volta dos tubarões e dos peixes coloridos e incomestíveis e a única coisa que me detém são as garoupas gordas, as douradas, os pargos”. E depois vem a contextualização da música e da comida, que é uma coisa que me toca muito - de John Cage o autor escolheu a citação “Cheguei à conclusão de que podemos aprender muito sobre música se prestarmos atenção ao cogumelo”; e, de Black Francis, dos Pixies: “ O nosso amor é arroz e feijão e banha de cavalo”. Citações à parte, o livro começa por uma cachupa, passa pelas sardinhas e carapaus e acaba na lagosta, descrita como o insecto aquático da aristocracia”. Há avaliações de lugares, manuais de instrução para cozinhar, um guia de produtos culinários e considerações sobre a arte da restauração e da comida. Corro o risco de dizer que o livro é tão delicioso como as comidas de que fala com o maior empenho.
PÃO COM MANTEIGA - Hoje dedico-me ao pão - e, voltando ao livro de Ricardo Dias Felner acima citado, ele recorda a busca da perfeita baguette em Paris e elogia a baguette da padaria Isco, em Alvalade, na rua José de Esaguy 10. Claro que há outras boas padarias como a incontornável Gleba (Rua Prior do Crato 4, a Alcântara). Mas, voltemos à baguette e à geração de novas padarias que apostam em retomar a tradição da fermentação lenta. Encontrar uma baguette estaladiça é um exercício de perseverança e continuo a considerar que as baguettes são a melhor matéria prima para fazer boas sanduíches. Procurem-nas, então no Isco e já que estão em Alvalade vão ao mercado local, ali perto, e pesquisem queijo ou charcutaria do vosso agrado para rechear a baguette - naquele mercado há das melhores bancas lisboetas para esses produtos - também há bom pão regional, do pão de milho tradicional do norte do país ao pão de centeio. Como curiosidade não resisto a recordar que a CNN considerou recentemente o pão de milho português como um dos 50 melhores pães do mundo e o da Gleba é muito bom. Se não tiver paciência de ir à Gleba ou ao Isco pode experimentar outras possibilidades. Por exemplo, um dos melhores pães alentejanos, que está disponível em vários supermercados, é produzido pela Fermentopão de Beja, tem uma massa saborosa, com o toque ázimo tradicional e é fácil de encontrar em Lisboa. Outra hipótese, de género diferente, mas também de muito boa qualidade, é o Pão da Lagoinha, produzido pela Maranata, em Palmela. São duas variedades de pão feito com recurso às receitas tradicionais das respectivas regiões, cozinhados diariamente sem recurso às massas congeladas que abundam em muitos locais. São óptimos consumidos frescos em fatias finas para petiscar com queijo, boas azeitonas ou presunto e muito bons, no dia a seguir, em fatias mais grossas, para torradas matinais - com manteiga Rainha do Pico, dos Açores, claro.
DIXIT - “Ninguém tira a Nuno Artur Silva o mérito de ter criado as Produções Fictícias e de ter gerido tantos talentos e tantos egos. Mas virtudes passadas não apagam vícios presentes. O equilibrismo que anda a tentar fazer desde 2015 entre cargos públicos e negócios privados não tem defesa possível.” - João Miguel Tavares
BACK TO BASICS - “O silêncio é a virtude dos idiotas” - Sir Francis Bacon.
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