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A BEBEDEIRA DO PODER - As peripécias deste desconfinamento parecem indicar que a abertura de portas foi muito mais desleixada que o seu fechamento. Todas as importantes e persistentes instruções de meados de Março e do início do confinamento resultaram porque foram claras e precisas; no desconfinamento aconteceu o contrário - pior comunicação, instruções mais difusas, menos preparação, menos acompanhamento, decisões contraditórias, mudanças de rumo frequentes - que ainda por cima é o que pode gerar maior desconfiança e perturbação, até na actividade económica. No final de Maio as pessoas estavam saturadas e era previsível que, a menos que tudo fosse muito salvaguardado, ocorreriam excessos. É dever de quem manda prever este tipo de coisas. Da mesma maneira que elogiei a persistente acção do Governo no confinamento e a forma como Costa acompanhou a situação, desta vez junto a minha voz a todos os que apontam o dedo aos dislates das últimas semanas. Já nem falo da triste cena da cerimónia de regozijo pela vinda da Champions, nem da ofensiva ideia de que aumentar o perigo era uma homenagem ao pessoal da saúde, nem das ridículas posições de Fernando Medina, que, durante os piores momentos não se ouviu nem se sentiu e que agora quer cantar de poleiro. Cito o que Ana Cristina Leonardo escreveu esta semana na sua página do Facebook: “Numa situação como a que estamos a viver, onde por muito cuidado que se tenha não existe risco zero, o inimigo é invisível à vista desarmada e o país é mesmo muito pobre, o equilíbrio entre economia e saúde pública vai ser — está a ser — difícil de gerir (...) E ter autoridade numa situação de crise conta bastante.” Foi essa autoridade que se perdeu neste recente e acidentado percurso. O poder é um vício, que por vezes embebeda e faz perder a noção da realidade, sobretudo quando os cocktails são servidos, como tem acontecido ultimamente, pelo próprio Presidente da República, em constantes happy hours com o Primeiro-Ministro.

 

SEMANADA - O número de casais em que ambos os cônjuges estão desempregados aumentou pelo terceiro mês consecutivo e atingiu em maio os 6.722 casos, uma subida de 1.207 casais face ao mesmo mês do ano passado; na segunda metade de Março verificou-se uma grande queda nas exportações, com efeitos sensíveis no défice externo do primeiro trimestre, que teve um saldo negativo de 544 milhões de euros; segundo a consultora KPMG a pandemia Covid 19 provocou uma desvalorização do plantel das equipas de futebol, que para alguns clubes do top 32 europeu ultrapassa os 20%, e que nos casos de Benfica e FC Porto supera os 15%; o PAN, que foi um dos triunfadores das mais recentes legislativas, atravessa uma intensa polémica interna com acusações de que há colaboradores pagos a falsos recibos verdes, que existem assessores parlamentares dos deputados do partido que são pagos pela Câmara de Lisboa e que as contas partidárias levantam suspeitas; segundo o INE existiam no final de 2019 10 295 909 residentes em território nacional, Lisboa mantém-se o concelho mais populoso do país, com cerca de 510 mil habitantes. Sintra, com 391 mil é o segundo maior e Vila Nova de Gaia o terceiro, com 300 mil, enquanto o Porto, com 217 mil habitantes, ocupa a quarta posição; as reservas de autocaravanas para os meses de verão aumentaram 50%, na sequência da procura de soluções alternativas para férias no contexto Covid 19.

 

CURIOSIDADES DOCES - Segundo a Marktest mais de cinco milhões de pessoas dizem ter consumido tabletes de chocolate no último ano, o que representa 59,5% da população, sendo que o consumo é maior junto das mulheres e que o consumo de  chocolate preto ultrapassa já o do  chocolate de leite.

 

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O PODER DO DESENHO -  Quando se descem os degraus da Galeria Miguel Nabinho e se chega à sala de exposições aquilo que se vê é um conjunto de desenhos que autenticamente se desenrolam por três das suas paredes. Trata-se de “Border Line”, o novo trabalho de Manuel Vieira, com praticamente sete dezenas de desenhos, relacionados entre si, mas cada um com vida autónoma. O papel pardo Kraft é a matéria prima utilizada, assim como a tinta da China e, ocasionalmente, guache. Isto, claro, além da prodigiosa imaginação do artista - onde a atracção pelo fantástico é dominante. A maior parte dos desenhos nasceu no início deste ano e a série ficou finalizada uma semana antes do confinamento - embora haja alguns que foram criados em 2017. O traço rigoroso, um trabalho manual de dimensão apreciável, a miscelânea de personagens, os temas que vão dos pesadelos do amor até viagens imaginárias e tentações variadas, criam na obra, como está exposta, um conceito de narrativa, quase uma banda desenhada gigante. A peça destina-se no entanto, também, a ser vista isoladamente - cada desenho pode ser vendido separadamente e isso introduz uma perspectiva de efémero nesta exposição - onde se sabe que o conjunto será disperso, percebendo que cada desenho acaba por contar a sua própria história. No texto da exposição Manuel Vieira escreve:  “A Arte é a última fronteira e faz-se o que se pode, com o material que se tem”. Não podia ter mais razão. A Galeria Miguel Nabinho fica na Rua Tenente Ferreira Durão 18-B, está aberta de terça a sábado à tarde, entre as 14h00 e as 19h45.

 

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ODE A NEW YORK - Delmore Schwartz, um dos escritores norte-americanos injustamente pouco conhecidos, escreveu “Nos Sonhos Começam As Responsabilidades”  em 1935 e esta colecção de short stories é considerada a sua obra maior, uma ode a Nova Iorque. Na Universidade de Siracusa, onde dava aulas, teve Lou Reed como aluno, que sublinha que Delmore foi a sua inspiração para escrever, não lhe poupando elogios no prefácio que escreveu. Delmore morreu ignorado e na miséria em 1966 e este livro foi publicado em português pela primeira vez em 2012. Nascido em Brooklyn, Delmore Schwartz foi, acima de tudo, um retratista de Nova Iorque e dos jovens heróis à descoberta do seu mundo. Com apenas 21 anos, escreveu este “Nos Sonhos Começam as Responsabilidades”, e mais tarde viria a imortalizar o seu nome como um expoente literário da geração que cresceu entre a Depressão e o começo da II Guerra Mundial. Nestes oito contos a realidade e a ficção misturam-se e, tal como o autor, também o protagonista da história é um jovem de 21 anos. Editado pela Guerra & Paz.

 

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O PODER DA PALAVRA - Em 79 anos já gravou 39 álbuns de originais. Chama-se Bob Dylan e a sua designação como Nobel da Literatura provocou polémica e levantou tempestades. Ouvindo as palavras que usa neste disco talvez os críticos possam entender melhor a razão de ser da distinção que recebeu. Este é um disco mais falado e escrito que os anteriores - “Rough And Rowdy Ways”, lançado há dias, é o seu primeiro álbum de originais em vários anos, o primeiro depois de lhe ter sido atribuído o Nobel. Antes deste novo trabalho andara no cancioneiro americano clássico, Sinatra incluído. Críticos de diversas proveniências já decretaram “Rough And Rowdy Ways” o seu melhor trabalho desde há muito tempo. É certamente aquele que transporta mais ideias, que afirma mais convicções, sobretudo aquele em que Dylan descreve melhor a forma como vê o que hoje se passa nos Estados Unidos. Não deixa de ser curioso que a primeira faixa do disco a ser divulgada, há uns meses, em pleno confinamento, tenha sido “Murder Must Foul”, um épico de 17 minutos que revive os tempos do assassinato do presidente Kennedy e salienta as lutas contra a injustiça que constituem a espinha dorsal da História da América. Ao ouvir o disco muitos criticarão a voz de Dylan, que em muitos pontos fala mais que canta, não muito longe do derradeiro registo de Leonard Cohen. Mas esta maneira de interpretar a sua música dá ainda mais força às suas palavras, coloca as ideias em primeiro plano. E, como sempre, o significado e as intenções de muitas das suas letras provocarão grandes discussões sobre todas as interpretações possíveis. Duplo CD, disponível no Spotify - dez canções, uma hora e dez de grande música. Imperdível.

 

UMA IGUARIA SERVIDA FRIA - Escolher rosbife num restaurante é muitas vezes uma aposta arriscada. Há um sem número de razões para isso: a mais frequente é que a carne não é boa; depois vem o tempero e a confecção - um rosbife fora do ponto e semi-cozido, em vez de mal passado, é fora de jogo completo! E finalmente o corte - um corte grosso e irregular arrisca-se a estragar boa carne bem confeccionada - e já nem falo dos cómicos que perguntam se queremos o rosbife aquecido com molho quente por cima para estragar ainda mais. Por isso há tão poucos sítios onde se possa pedir rosbife à vontade. Nestes dias que começam a ficar quentes, apesar da nossa proverbial ventania de fim de tarde, umas fatias de rosbife frio, de boa carne, bem cozinhado e bem cortado, sabem muito bem. Como eu cada vez gosto menos de experiências mal sucedidas e de surpresas desagradáveis, vou cada vez a menos restaurantes, escolhendo preferencialmente aqueles onde sei que não me desiludem o palato e onde sou bem atendido. Para eu ser fiel a um restaurante, o mesmo tem que ser fiel aos clientes e manter a constância da qualidade. De entre os restaurantes que mais frequento destaco hoje aquele que tem o melhor rosbife - o Salsa & Coentros, em Alvalade. Na lista  o rosbife aparece com uma anotação - “iguaria servida fria”. E de facto é uma iguaria - acompanhado por batatas fritas às rodelas feitas na hora a partir de boa matéria prima tubércula, servido com molho bearnaise e/ou mostarda de Dijon, este rosbife merece uma homenagem especial. Ele e José Duarte, o fundador e proprietário do Salsa & Coentros, sempre atento, sempre a controlar a boa qualidade daquilo que aparece nas mesas - dos vinhos da semana aos pratos tradicionais e às sugestões do dia. Fica na Rua Coronel Marques Leitão, 12, junto à Avenida da Igreja, telefone 218 410 990

 

DIXIT - “Se eu estivesse a escrever o romance da pandemia — Deus me livre e guarde! — garanto-vos que às tantas metia o Medina a dizer isto:  «Ó António! Olhe que os infectados não são meus!»” - Ana Cristina Leonardo, no Facebook

 

BACK TO BASICS - “Por aqui prefere-se o pontapé para a frente. E que o destino resolva o problema”  - Fernando Sobral



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AS NOVAS DITADURAS - Nunca gostei que me dissessem o que não podia ler, o que não podia escrever, o que não devia pensar. Também não me agrada que me digam do que devo gostar. Desagrada-me quem julga ter por missão indiscutível defender valores que podem ser os seus, mas não são os de todos - na religião, na ideologia, na política, nos costumes, na estética ou na ética, para só citar alguns. Prezo a liberdade de poder tomar decisões, arcando com a responsabilidade inerente. Habituei-me a pensar que a minha liberdade acaba onde começa a dos outros e tenho tentado viver assim. E irrita-me que alguém tente entrar na minha liberdade, na minha maneira de encarar a História, na minha maneira de ver os acontecimentos. Por isso, para mim o Livre é tão perigoso como o Chega e os últimos dias têm provado isso mesmo - mas não me ocorre dizer-lhes o que devem fazer. Existem certamente formas de analisar a História. Mas não existem duas Histórias. Existem factos - e depois existem interpretações - e estas são de quem as quiser formular, desde que não pretendam impô-las aos outros. Acontece que desde há uns anos, em todo o mundo, se evolui para uma forma de proto-ditadura que veste as roupagens do politicamente correcto, em que alguns decretam o que está certo e fazem julgamentos por conta própria. Muito facilmente se começou a confundir direitos de uns com pecados de outros e criou-se a tendência de querer que toda a sociedade aceite como verdade inquestionável aquilo que apenas a parte dela interessa. E isto é inaceitável, seja qual fôr o tema. É uma nova forma de ditadura.

 

SEMANADA - O Estado não sabe ao certo quantos prédios tem, nem ideia do valor do seu património imobiliário, revela uma auditoria da Inspecção Geral de Finanças; o Governo construiu o Orçamento retificativo com uma estimativa de contração do PIB de 6,9% e uma semana depois o Banco de Portugal colocou em causa os pressupostos utilizados pelas Finanças, avançando com uma previsão de uma recessão de 9,5%; Portugal é um dos 12 países com taxa de inflação negativa na zona euro; três anos passados sobre a tragédia de Pedrógão Grande o SIRESP continua sem cobrir várias zonas das zonas atingidas; segundo bombeiros da região as florestas dos concelhos onde morreram 66 pessoas estão por limpar; o deputado europeu do PAN abandonou o partido, mas não o seu lugar em Bruxelas, acusando a organização de colagem à esquerda; o mercado português registou a segunda maior quebra na venda de automóveis ligeiros na Europa; foi descoberto um depósito de 30 mil toneladas de resíduos perigosos numa antiga zona industrial de Setúbal, onde estão há mais de 20 anos; segundo a Marktest durante o confinamento aumentou o consumo de pizza e de cápsulas de café; o número de cesarianas realizadas nos hospitais públicos subiu pelo terceiro ano consecutivo atingindo em 2019 cerca de 30% dos partos realizados; o saldo entre nascimentos e mortes em Portugal continua negativo pelo 11º ano consecutivo, mas pela primeira vez nos últimos dez anos regista-se um aumento da população, graças à imigração. 

 

ARCO DA VELHA -  Caso Mário Centeno seja nomeado governador do Banco de Portugal, a sua acção vai ser avaliada por um conselho de auditoria que o próprio nomeou enquanto ministro das Finanças.

 

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MAAT REINVENTADO  -  E pronto, o maat finalmente reabriu após o confinamento e obras de manutenção da estrutura afectada por uma tempestade no Inverno passado. Três destaques: a intervenção arquitectónica Beeline, a experiência sonora Extintion Calls e o PeepShow. As duas primeiras ficam até Janeiro do próximo ano, a última até 19 de Outubro. Beeline é uma intervenção arquitetónica que foi encomendada ao estúdio nova-iorquino SO – IL, e que ocupa a totalidade do edifício do maat. Trabalho de arquitetura efémera, área de eleição daquele atelier até à data, Beeline foi concebido para acolher o maat Mode 2020, um programa público de palestras e outros eventos com uma duração de seis meses lançado pela nova diretora do maat, Beatrice Leanza. Extinction Calls é uma encomenda especial a Cláudia Martinho, na qual a artista usa sons do arquivo para criar um percurso sonoro com espécies de aves extintas e  ameaçadas. A paisagem sonora é espacializada em ressonância com o espaço acústico do maat e da intervenção Beeline criando uma diversidade de pontos de escuta. Peepshow agrupa um conjunto de 15 estruturas portáteis cujo interior pode ser observado por vigias de grandes dimensões e está integrado na Beeline. Estão expostas peças da colecção de arte Fundação EDP e cada uma das intervenções é o ponto de partida para uma série de conversas em torno da relação entre arte e realidade que terão a participação dos artistas representados: Catarina Botelho, Paulo Brighenti, Tomás Colaço, Luisa Ferreira, Horácio Frutuoso, Mariana Gomes, Pedro Gomes, André Guedes, João Louro, Maria Lusitano, João Ferro Martins, Paulo Mendes, Rodrigo Oliveira, Francisco Vidal e Valter Vinagre.

 

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O SOM DA PANDEMIA - Quando a pandemia alastrou o pianista Brad Mehldau estava a meio de uma digressão pela Europa, que foi interrompida. Mehldau, casado com uma holandesa, divide o seu tempo normalmente entre Amsterdão e New York, cidade para onde iria quando tudo se precipitou. Durante meses esteve fechado na sua casa de Amsterdão e compôs 12 temas que integrou num álbum inesperado a que chamou “Suite: April 2020”. O disco evoca o espírito do tempo, do mês de Abril em que a pandemia dominou o mundo. A capa do disco é o texto de uma mensagem do pianista que descreve a música que compôs como um retrato sonoro de um tempo em que todos tiveram de se reencontrar a si mesmos. Os 12 andamentos da suite têm nomes como “Keeping Distance”, “Stopping, Listening, Hearing”, “Remembering Before All This”, “Uncertainty”, “Waiting” e três momentos do quotidiano do confinamento: “In The Kitchen”, “Family Harmony” e “Lullaby”. Há ainda três versões que Brad decidiu fazer de composições de outros músicos, três temas que escolheu como canções adequados ao espírito deste tempo: “Don’t Let It Bring You Down” de Neil Young, “New York State Of Mind” de Billy Joel e “Look For The Silver Lining”, de Jerome Kern. Disponível em edição especial limitada de vinil, em CD e no Spotify.

 

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CRIME E MISTÉRIO -  Comecei a ler policiais pela mão da colecção Vampiro - primeiro emprestados por um amigo, depois religiosamente comprados à medida que iam saindo. Foi ali que descobri os mestres dos policiais e um dos que mais me atraiu foi Raymond Chandler, sempre com o seu detective Philip Marlowe. Chandler nasceu em Chicago em 1888 e era administrador de empresas petrolíferas quando veio a Grande Depressão, em 1932. Foi nessa altura que começou a escrever - primeiro contos policiais e, depois, novelas. Este mês encontrei nas reedições contemporâneas da colecção Vampiro o seu segundo romance, “Farewell My Lovely”, ou “Perdeu-se Uma Mulher”. Voltei a descobrir o prazer da definição de personagens que Chandler fazia. É um estilo bem distante dos modernos policiais nórdicos que ultimamente são a minha paixão e que se baseiam muito na definição do perfil psicológico de polícias e criminosos.  “Perdeu-se Uma Mulher” é o segundo romance de Chandler, originalmente publicado em 1940, a partir da junção de três contos que já tinha publicado em revistas. Mais tarde a história passou a filme, protagonizado por Robert Mitchum. Com uma boa tradução de Paula Reis, “Perdeu-se Uma Mulher” descreve a Los Angeles dos anos 40, os bastidores violentos e corruptos que evidenciam as tensões de uma grande cidade, com um cenário de tráfico de droga, jóias roubadas, mulheres sedutoras e assédios variados. Hoje em dia tudo o que é politicamente correcto cairia em cima do escritor  e dos métodos do seu detective Marlowe. Se tal tivesse acontecido  quando Chandler começou a escrever ter-se-ía perdido um dos grandes autores da literatura policial. Talvez em vez disso se tivesse escrito um outro livro - “Os Crimes do Politicamente Correcto”.

 

O ITALIANO QUE SE APAIXONOU POR SAGRES - Sagres sem vento e com a água do mar a boa temperatura? - Pois é raro, mas acontece. De qualquer maneira foi com esse pano de fundo que passeando pelas ruas do centro, junto à  Pousada, encontrámos o Mum’s. À frente da casa, mal saída ainda do confinamento, está um italiano que há 11 anos trocou o restaurante que tinha em Milão e rumou a Portugal. Apaixonou-se por Sagres, convenceu a namorada, também italiana, a segui-lo e os dois puseram de pé o Mum’s passado um tempo. O foco da casa é a utilização de produtos da região, do azeite a frescos, com destaque para os produtos biológicos de produtores da costa vicentina, passando é claro pelo peixe, escolhido na lota de Portimão. Simão, aliás Simone, sommelier de formação, apaixonou-se pelos vinhos portugueses, de que fala com conhecimento e entusiasmo - sobretudo dos vinhos do Douro. Antes do Covid o Mum’s era conhecido pelos cocktails, servidos no bar e numa pequena esplanada - tinham boa fama os negroni, por exemplo. Agora, com menos mesas e o balcão à espera de melhores dias, o foco está nos jantares. A decoração do Mum’s é simples e imaginativa, Simão é um anfitrião notável, um contador de histórias, e na cozinha está um jovem chef português, de origem ribatejana, Alexandre Fidalgo. O couvert é simples e bom - do pão às azeitonas, passando por uma manteiga fermentada e uma maionese vegan. Nas entradas provou-se com muito gosto cavala fumada em consommé frio de peixe. A  lista apresenta várias sugestões vegetarianas, mas inclui também opções para hereges dessa crença, como um magnífico polvo frito, extraordinário de textura e sabor, acompanhado por cevasotto de lima e aipo, que mais não é que uma variante de risotto em que o arroz é substituído por grãos de cevada. Outras opções, boas são o filete de peixe do dia com puré de aipo, nabo e agrião ou o lombo de bacalhau acompanhado de esmagada de batata com alecrim e espargos verdes. A refeição foi acompanhada por um Vale Pradinhos reserva branco, que cumpriu muito bem. No Mum’s não sei que elogie mais - se o talento da cozinha, se a hospitalidade de Simão. Na próxima ida a Sagres lá voltarei. Mum’s, Rua Comandante Matoso, 917 524 315, aberto aos jantares todos os dias excepto terça-feira.

 

DIXIT - "É perfeitamente desejável que possamos ter um Banco de Portugal acima da conflitualidade política e não como parte do combate político" - António Costa, em 2015, sobre o processo de nomeação do Governador do Banco de Portugal

 

BACK TO BASICS - “Um fanático é alguém que é incapaz de mudar de ideias e que não quer mudar de assunto” - Winston Churchill

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A GRANDE ILUSÃO - Quando olhamos para a lista dos 20  programas mais vistos da televisão portuguesa só vemos dois canais: SIC e TVI. Porquê? A explicação é fácil e baseia-se na táctica da sobreposição da realidade. Passo a explicar: estes dois canais começaram há algum tempo a desdobrar cada um dos seus principais programas em várias emissões, com títulos ligeiramente diferentes. O objectivo é conseguirem ocupar o maior número possível de lugares no ranking. Por exemplo as telenovelas têm “especiais”, o “Isto É Gozar Com Quem Trabalha” fica dividido em duas partes que ocupam de  facto dois lugares da lista, o “Big Brother” idem e o “Quem Quer Namorar Com o Agricultor” ainda mais. Na semana passada, por exemplo, a lista dos 20 programas mais vistos afinal só corresponde a dez programas realmente diferentes. Só o “Quem Quer Namorar Com O Agricultor” tem cinco presenças no top 20 graças a esta técnica dos desdobramentos. A lista assim elaborada dá uma ideia distorcida do que é de facto a realidade e diversidade da televisão em Portugal. Basta dar este pequeno exemplo - sem este truque de multiplicação dos programas a RTP1 também estaria com várias entradas, pelo menos cinco, na lista dos 20 mais da semana passada. É uma perigosa ilusão esta que se cria de fazer crer que só existe a SIC e a TVI quando as duas juntas alcançaram 34,6 por cento da média do total de espectadores da semana passada enquanto o conjunto de canais cabo por si só significou 37,8% .

 

SEMANADA - Mário Centeno afirmou que não falou e não quer falar com Costa e Silva no âmbito do estudo que este está a realizar para o Governo sobre a recuperação da economia; segundo o Conselho das Finanças Públicas o PIB pode cair entre 7,5 e 11,8% e a dívida pode disparar para 141,8% devido aos efeitos da pandemia na economia; o sector das empresas de diversões itinerantes, pirotecnia e música, que trabalham habitualmente nas festas e romarias de verão, estimam perder 50 milhões de euros este ano; um estudo divulgado esta semana indica que as rendas de casa já desceram 20% desde o início da pandemia; os lucros das empresas do PSI 20 caíram 56% desde o início da pandemia; um terço dos alunos do nono ano passa com negativa a matemática; durante o período do confinamento foram usados mais descartáveis e houve um recuo nos hábitos da reciclagem; no final da semana passada estavam operacionais e a voar 12.234 aviões em todo o mundo e continuavam em terra 14.025 à espera de ordem para descolar; Portugal esteve quase 100 dias sem jogos de futebol e na primeira semana de regresso dos jogos começaram logo os casos de violência; Pinto da Costa foi eleito para o 15º mandato consecutivo à frente do Futebol Clube do Porto, que dirige desde 1982, e alcançou 70% dos votos; as autoridades espanholas procuraram um crocodilo que teria sido visto no Douro, na zona de Valladolid - mas afinal era uma morsa.

 

ARCO DA VELHA - Três avaliadores de projectos da Fundação para a Ciência e Tecnologia concorreram e ganharam um apoio, apesar de terem tido acesso antecipado aos critérios de avaliação.

 

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FOLHEAR FOTOGRAFIAS  -  Uma das maneiras de seguir o que de melhor se faz em fotografia é ter acesso a edições de photobooks e revistas - e particularmente a Aperture, editada quatro vezes por ano, sazonalmente, pela Aperture Foundation, de Nova Iorque. Encontrar a Aperture em Portugal não era fácil mas agora já é possível adquiri-la (e folheá-la antes se fôr o caso), numa nova loja,a Photo Book Corner, que abriu na Avenida Marquês Sá da Bandeira, perto da Gulbenkian e praticamente paredes meias com a Under The Cover, uma loja especializada em revistas independentes. Assim se criou ali um pequeno cluster de divulgação e venda de edições difíceis de encontrar noutros locais. A Photo Book Corner dispõe de uma boa selecção de livros de fotografia de autores como Robert Frank, Todd Hido, Nan Goldin ou Martin Parr, entre outros. Além disso expõe ainda fotografia, que vende, apesar do espaço exíguo, mas bem aproveitado. Mas passemos a esta edição da Aperture, da primavera de 2020, que na capa leva o título genérico “House & Home”. A edição explora as formas dos espaços domésticos e as ligações entre arquitectura, design e fotografia. Logo na entrada, e fora deste tema, há dois pequenos artigos interessantes - um sobre a ligação entre a arte, artistas e a utilização das suas obras na publicidade; e outro sobre a crescente utilização de boa fotografia nas capas de livros, nalguns casos porque os seus autores  viram em exposições imagens que lhes pareceram adequadas às obras que tinham escrito e quiseram tê-las na capa. No tema principal desta edição destaco as páginas sobre Robert Adams e as suas fotografias dos anos 70, assim como a revisitação contemporânea do trabalho que Walker Evans fez nos anos 30 do século passado em Pittsburgh. Nesta edição da Aperture há ainda uma dezena de portfolios sobre o tema de capa que merecem atenção. Antes de ter existência física como loja, a Photo Book Corner já existia como uma operação on line - que pode descobrir em  www.photobookcorner.com.

 

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OS TIGRES REGRESSARAM - 22 anos sem deitar um disco cá para fora e agora sai isto: uma pérola. Os Três Tristes Tigres marcaram a última metade dos anos 90, mas desde 1998 que não editavam originais - “Comum” havia sido o seu último registo dessa época, sempre com Ana Deus, Alexandre Soares e as palavras de Regina Guimarães. Nos anos mais recentes tinham-se reencontrado em torno de Osso Vaidoso, um projecto nascido em 2010 entre a guitarra e a voz, desenvolvido por Alexandre Soares e as suas guitarras e Ana Deus e a sua voz. O novo disco, “Mínima Luz”, nasceu de um desafio de revisitação da obra dos Três Tristes Tigres feito pelo Teatro Rivoli. Uma coisa puxa a outra e nos últimos dois anos o novo disco foi nascendo na cabeça dos seus autores, foi ganhando forma. Desta vez Alexandre Soares chamou mais músicos para o seu lado, com destaque para o baterista Fred Ferreira, o baixista Rui Martelo, o percussionista Gustavo Costa e a harpista Angélica Salvi. Ao longo destas últimas duas décadas Alexandre Soares tem trabalhado em bandas sonoras e em composições para dança e teatro. Nos Osso Vaidoso deu asas à guitarra, que neste novo disco dos Três Tristes Tigres ganha electricidade e estabelece um renovado diálogo com os seus sintetizadores. Ana Deus está em grande forma a interpretar as palavras de Regina Guimarães que escreveu para cinco dos nove temas e a própria cantora escreveu um deles (“Surrealina”), Luca Argel outro e Regina Guimarães adaptou também poemas de Langston Hughes -  ‘Life is Fine’ aqui é “À Tona” e de William Blake “The Tyger”. Numa recente entrevista, falando sobre o disco, Ana Deus disse que ele “reflete o desejo de que haja mais luz e mais ciência na informação - hoje em dia, é como se anos e anos de ciência, estudo e conhecimento fossem abafados por lixo e conversas da treta.” “Mínima Luz” é uma edição de autor, em CD e vinil, que podem ser comprados através do email correiodostigres@gmail.com e que pode também ser ouvido no Spotify.

 

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OS DILEMAS DO FIM DA VIDA -  “Reconhecer os limites da ciência e da sua aplicação tecnológica é um acto de maturidade. Cumprir o desejo do doente, não o obrigar a viver através de meios tecnológicos, é respeitar o princípio da autonomia, que é o único princípio da moral, de acordo com Kant. Em nome da moralidade, obrigar um doente frágil a prolongar o seu sofrimento contra a sua vontade, simplesmente porque é possível através de meios tecnológicos, não é aceitável” - quem o afirma é o médico J. Filipe Monteiro, pneumologista e mestre em Bioética, no livro “Testamento Vital - Nos dilemas éticos do fim da vida”, agora editado. O tema da morte assistida foi ganhando relevo e no início deste ano o parlamento aprovou uma série de projectos que abriram o caminho para a elaboração de uma lei que permita e regulamenta a morte assistida. No livro de J. Filipe Monteiro ao longo dos vários capítulos são discutidos e reflectidos, o percurso histórico, os aspectos técnicos e filosóficos, a perspectiva de algumas religiões e organizações médicas. O livro explica ainda em detalhe todo o processo ligado à opção pelo  Testamento Vital ou Directivas Antecipadas da Vida. “A rejeição da obstinação terapêutica é um acto de boa prática médica”, defende o autor, que sublinha: “Todos os intervenientes, dos doentes aos médicos, passando  pela família e pelas instituições gestoras de saúde, devem envidar todos os esforços  para a sensibilização pedagógica do testamento vital”.

 

ELAS & AS ISCAS - Tinha saudades de uma isca, com elas, claro - o nome do prato é só por si um episódio, estimulando a imaginação. Mas adiante. A realidade é que  num take away não se pode comer iscas. A coisa não é simples - o corte tem de ser bem feito e desde as vacas loucas ficámos quase reduzidos às iscas de porco e aí o corte tem ainda de ser mais preciso e afinado - sempre muito fino. Temperá-las é outra arte e o molho outra ainda - um pouco de vinagre a mais ou a menos é a morte do artista. Na Valbom há um restraurante que tem umas iscas acima da média - o Jaguar. A sala é das inviáveis pela pandemia - pequena, cheia de mesas, corredor comprido estreito e balcão, tudo coisas impossíveis. Mas felizmente agora tem uma boa esplanada. Podem vir com elas como devem ser - as batatas cozidas, ou na versão traiçoeira, com batata frita aos palitos. Confesso que não sou ortodoxo e escolho conforme as ocasiões e o apetite do momento. É curioso que a Valbom tem mais abaixo, no clássico Polícia, outro bom local para umas iscas tradicionais. Mas devo deixar aqui uma recomendação: há uma outra hipótese de iscas, que é um petisco e não é frequente conseguir encontrar - iscas de leitão, ainda mais finas e delicadas que todas as outras. Aqui em Lisboa recomendo um sítio que por vezes as tem - é o Apuradinho, na Rua de Campolide. 

 

DIXIT - “O meu sonho é que conseguíssemos ter os cidadãos dos nossos países a mudar as suas vidas para criar uma relação de maior respeito pela natureza e pelos oceanos e que isso tivesse repercussões nas decisões políticas nos próximos anos” - Tiago Pitta e Cunha,presidente da Fundação Oceano Azul

 

BACK TO BASICS - “As nossas vidas começam a acabar no dia em que ficarmos silenciosos face às coisas que mais importam” - Martin Luther King



 

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O SERVIÇO PÚBLICO DA RTP  - Espero que nestes últimos meses alguns dos adeptos da extinção do serviço público audiovisual tenham acompanhado a actividade da RTP, quer na televisão, quer na rádio ou online. A informação dos seus canais de televisão e da rádio, primou por ser exacta sem ser alarmista, didáctica sem ser enfadonha, promoveu debates, chamou especialistas, não foi sensacionalista. Pelo meio foi estreando novas séries, umas melhores que as outras, claro, num caminho longo que tinha que ser começado algum dia. Nestes meses a RTP mostrou o que é serviço público: alternativa, referência, complementaridade. Além disso conseguiu colocar no ar em tempo recorde as emissões escolares para vários graus de ensino, esteve presente sem ser subserviente em todos os momentos de intervenção dos orgãos de soberania na condução do combate à pandemia. Sem futebol as suas audiências desceram, mas a boa notícia é que estabilizaram em valores aceitáveis no caso da RTP1 e seria bom terem um empurrão criativo, na informação, programação e na promoção, no caso da RTP2. A RTP3 no conjunto das emissões de cabo e TDT conseguiu um bom resultado, logo atrás da SIC Notícias e à frente da TVI24 no acumulado desde o início do ano. E a plataforma RTP Play, que funciona em streaming nas emissões da rádio e televisão, permite, além das emissões em directo, recuperar de forma simples e universal conteúdos que na altura em que foram emitidos não se puderam ver, sem pagar qualquer assinatura. Se não tivéssemos um serviço público audiovisual diversificado como o que a RTP disponibiliza teríamos vivido pior estes meses. 

 

SEMANADA - Segundo a PSP em 2029 registaram-se 1526 casos de ataques de cães a pessoas; o mercado automóvel recuou 71,6% em Maio, com os concessionários já de portas abertas; as primeiras sardinhas de bom tamanho vendidas na lota de Matosinhos ultrapassaram os dois euros por quilo e as mais pequenas ficaram no euro por quilo; desde 1991, o número de crianças com menos de 10 anos diminuíu em praticamente todos os concelhos do país e no total, o país "perdeu" 293 mil crianças até aos 10 anos, passando de 1 milhão e 190 mil crianças em 1991 para 897 mil em 2018; segundo a Marktest durante o confinamento cerca de 30% dos portugueses fizeram mais compras online; ainda segundo a Marktest 55% dos portugueses está a planear fazer as férias de verão no campo; uma estudo esta semana divulgado mostra que mais de metade dos profissionais de saúde apresentam sinais de exaustão física e psicológica associadas ao exercício da sua profissão durante o combate à pandemia; uma sondagem recente indica que 85% dos votantes do PS querem o seu partido a apoiar uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa; há empresas exportadoras que esperam há dois meses pela garantia estatal no seguro de crédito, já que a proposta apresentada pelo Governo não tem o acordo das seguradoras; a CP perdeu 20 milhões de euros por mês de receitas devido à pandemia; segundo a Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal a maioria das empresas suas associadas teve quebras de actividade na ordem dos 50%, entre Março e Maio;Várias reportagens indicam que foi maior a corrida a centros comerciais que aos jardins de infância no dia das respectivas reaberturas; o número de vacinas administradas em maio caiu mais de 40% em comparação com o mesmo mês de 2019.

 

ARCO DA VELHA - Das 15 recomendações sugeridas pelo GRECO, o Grupo de Estados Contra a Corrupção do Conselho Europeu. só uma foi implementada em Portugal,  oito só o foram parcialmente e seis foram ignoradas e Portugal está num grupo de 15 países incumpridores que têm uma avaliação “globalmente insatisfatória”. 

 

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FOTOGRAFIA REMOTAMENTE COMANDADA -  Durante o tempo em que trabalhei em redacções uma das coisas que me dava mais prazer e satisfação era acompanhar a paginação, escolher as fotografias, editá-las com os seus autores, construir a história com as imagens.  O “Blitz” e “O Independente” deram-me esse prazer, assim como, mais tarde, o “Se7e” e a “Visão” e hoje, nestas páginas de “A Esquina do Rio” do “Weekend” do “Jornal de Negócios”, procuro sempre escolher as imagens. Quando pego numa revista, ou num jornal, a paginação e a edição fotográfica são sempre o meu foco de atenção. Hoje isso também acontece por vezes com algumas publicações online - o conceito de paginação para ecrã de dispositivo móvel, por exemplo, é um desafio. Mas quero destacar uma das melhores ideias que vi nos últimos tempos, nascida das medidas de confinamento tomadas no decurso da pandemia. A revista “Time”, dedicou a sua edição de 1 de Junho à “Generation Pandemic”, o título da capa. E para editar as imagens de um dos artigos principais “Unlucky Graduates”, que se estende ao longo de 12 páginas da revista, designaram Hannah Beier, uma finalista de fotografia da Universidade de Drexel, de Filadélfia. Beier fotografou virtual e remotamente os seus colegas de curso, nas casas onde estavam confinados. Utilizou a aplicação Face Time dos iPhones para dirigir a sessão fotográfica com cada um, pedindo-lhes para posarem como entendeu e no enquadramento que escolheu, e foi a partir do telefone que capturou as fotografias dos sete colegas que são os protagonistas da reportagem. É uma ideia fantástica e é preciso folhearem estas páginas para ver como o resultado obtido de facto é surpreendente, capturando o espírito do momento. Na imagem está a dupla página de abertura deste artigo na “Time”.

 

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O ACORDEÃO E A GUITARRA - O catálogo ECM continua a ser um porto seguro na música contemporânea fora das correntes do mainstream. Uma das suas novidade é um disco que cruza o acordeão com a guitarra, tocados respectivamente por Jean-Louis Matinier e por Kevin Seddiki. Matinier colabora desde há muito tempo com a ECM, como músico convidado em diversos discos ou mesmo em dueto, como aconteceu com Marco Ambrosini. Este é o primeiro registo com o guitarrista Kevin Seddiki, que agora se estreia na ECM. Seddiki estudou guitarra clássica e tem trabalhado em diversos géneros musicais, desde o jazz a projectos transculturais. “Rivages”, o disco de Matinier e Seddiki, tem 11 temas, que vão do tradicional “Greensleeves” numa interpretação solta e criativa, a “Les Berceaux”, de Gabriel Fauré, passando por originais e improvisações como “Miroirs” e “Feux Follets”. A ligação entre o acordeão e a guitarra é muito bem conseguida, o estilo de interpretação  dos dois músicos complementa-se, entre o devanear de Matinier e o dedilhar certeiro de Seddiki. Uma das coisas engraçadas num dueto é que não há sítio onde qualquer um dos seus intervenientes se possa esconder - estão ambos igualmente expostos. Prova do apreço de Matinier por Seddiki é ter-lhe dado o palco num tema a solo, “Derivando”. Disponível no Spotify.

 

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CONTÁGIOS HÁ MUITOS… - Ao escrever sobre “As Leis do Contágio”, The Times, de Londres, escreveu que “é difícil imaginar um livro mais oportuno… grande parte do mundo moderno fará mais sentido depois de o ler”. Publicado originalmente já em 2020, “As Leis do Contágio” é um trabalho do epidemiologista inglês Adam Kucharski, que tem trabalhado em surtos globais como as epidemias do ébola e do vírus da zica. Colaborador habitual da imprensa, escreve para The Observer e Financial Times, The New Statesman e Scientific American. Neste livro analisa a forma como uma doença, um comportamento ou uma ideia se propagam no mundo moderno. Kucharski afirma que o contágio tanto pode vir de um vírus, como de um movimento político ou até mesmo de um tweet que lança uma inesperada controvérsia, ou de uma ideia que inflama a sociedade. O autor apresenta os padrões matemáticos de uma doença infecciosa, como aquela que assola atualmente a Humanidade, e descreve o fenómeno do contágio em geral – seja de uma doença, de um comportamento ou de uma ideia – chamando a atenção para os aspetos biológicos e sociais desse processo. Segundo Kucharski as nossas existências são moldadas por surtos de doenças, de desinformação e até de violência, que surgem, se espalham e se desvanecem a uma velocidade espantosa. Para os compreender, precisamos de perceber os padrões e as leis ocultas que os governam, afirma. Dos «superdisseminadores» — os que podem desencadear uma pandemia, derrubar um sistema financeiro ou vender uma ideia — à dinâmica social que faz da solidão um sentimento popular, o autor apresenta revelações curiosas sobre o comportamento humano, sobre o porquê das coisas, propondo como podemos melhorar a nossa previsão e reação a fenómenos de contágio em qualquer esfera das nossas vidas. Edição Portuguesa da Porto Editora.

 

PIPOCAS DE POLVO? - Para gozar o progressivo desconfinamento nada como comer um bom peixe com vista para o mar em ambiente seguro. Pensei no Meco e ali existem restaurantes de praia armados ao pingarelho e também alguns restaurantes. Escolhi um entre estes últimos: a Gula do Meco, também conhecido por Mania do Peixe, onde pontua Carla Costa na cozinha e o seu marido Fernando na sala. A localização é excelente, o serviço é atento, o peixe é fresquíssimo e bem escolhido pelo saber do proprietário. A banca do peixe para grelhar tem escolha ampla mas a casa tem também uma apreciável comida de tacho. Como o objectivo era peixe na grelha, a opção foi um robalo para duas pessoas, cozinhado no ponto, acompanhado por salada, legumes no forno e uma açorda frita em rodelas que fazem lembrar pataniscas - e que é um petisco. Para a próxima vai cherne à posta, que tinha muito bom aspecto. Por falar em petisco destaco as pipocas de polvo - pedaços muito pequenos de tentáculos de polvo cozido que depois são fritos com um polme impecável e estaladiço. Na comida de tacho encontram feijoada de gambas e a feijoada de búzio, além da massada à pescador e de arroz de robalo. Uma especialidade da casa é o peixe no pão - peixe envolvido em massa de pão e que é cozinhado lentamente no forno - uma variante muito interessante do conceito de peixe ao sal. Além da belíssima vista. de uma sala e esplanada amplas, ideais para este tempo de distâncias, a casa tem bom serviço, um parque de estacionamento próprio, uma lista de vinhos simpática a preços decentes e com várias possibilidades de vinhos a copo. É um dos melhores restaurantes do Meco e bate-se com vantagem com a concorrência mais antiga - quer na vista quer na simpatia. Fica na Rua Praia do Moinho de Baixo, a caminho da praia e dos parques de estacionamento, reservas recomendáveis pelo 964 408 048.

 

DIXIT - “Sou contra as visões estatizantes ou colectivistas da economia” - António Costa e Silva

 

BACK TO BASICS - “A ciência pode estabelecer limites ao conhecimento, mas não deve estabelecer limites à imaginação” - Bertrand Russell

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