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E NO FUTURO? - O Plano Costa e Silva é-me simpático. Gosto de alguém que tem a coragem de dizer que não lhe interessa se lançar ligações rápidas de ferrovia se deve chamar alta velocidade ou velocidade alta, o que é preciso é desenvolver a ferrovia; mas não gosto de quem numa viagem de 300 quilómetros quer já começar a criar apeadeiros, como já via alguns autarcas fazerem. É este síndrome do apeadeiro, do satisfazer todas as clientelas, de fazer um favorzinho local que nos trama. A coisa complica-se porque para o ano há eleições autárquicas e a tentação da prebenda e do favor ao putativo candidato vai ser grande. Gostei de ouvir um membro do Governo dizer que antes de construir um novo aeroporto e derreter lá milhões vale a pena estudar a utilização de Beja e construir ligações rápidas para lá. Gosto de quem não aceita a fatalidade de promessas ínvias e se dispõe a olhar para a realidade. O que mais desejo ao plano apresentado por Costa e Silva é que consiga fazer alguma coisa do que lá está indicado, que não se caia no facilitismo do turismo efémero e que se pense numa estratégia consolidada de desenvolvimento, de apoio a empresas que criem valor acrescentado na produção industrial que podem fazer. Espero sinceramente que daqui a uns anos o Estado saiba onde anda o Plano Costa e Silva e o balanço que dele é feito, Recordo que o célebre Relatório Porter, que continha boas pistas, anda desaparecido nas grutas fantasmagóricas dos Ministérios, ninguém sabe (li há pouco…) onde anda o original e ninguém se deu ao trabalho de avaliar quais as propostas apresentadas que  foram para a frente e com que resultado. O plano Costa e Silva precisa de investimento, já se sabe que vêm aí milhões da Europa - o meu desejo é que estes sirvam para alguma coisa de produtivo e não para encher uns quantos bolsos ou fazer obras de fachada. Como li esta semana, “aprecie-se o fado, mas abandone-se o queixume”. E olhe-se para o futuro, sem complexos nem pagamentos de promessas.

 

 SEMANADA - No Parlamento o Governo Só respondeu a 65% das perguntas enviadas pelo partido durante este ano parlamentar, de Outubro a Julho; a Assembleia da República recebeu nesta sessão 373 sugestões de cidadãos; na sessão legislativa que agora finda o Parlamento aprovou mais leis propostas pelo PCP do que pelo PS;  o Novo Branco vendeu a preço de saldo 13 mil imóveis a um fundo localizado nas ilhas Caimão e foi o próprio banco que fez o empréstimo para se fazer o negócio que gerou perdas de centenas de milhões, cobertas pelo Fundo de Resolução; a economia portuguesa perdeu, entre os meses de Fevereiro e de Maio, cerca de 183 mil empregos; cada computador utilizado para fins pedagógicos nas escolas tem de ser partilhado em média por cinco alunos; durante os primeiros seis meses do ano a receita fiscal caíu 14%; internamento médico em casa passou de 549 a 2722 entre maio do ano passado e deste ano; a polícia Judiciária estima que a lavagem de dinheiro em Portugal feita por redes internacionais duplicou em apenas meio ano; o Banco de Portugal detectou até meados de Julho 21 entidades de crédito a actuar em Portugal, mais do dobro do total registado na totalidade de 2019; em Julho foram registados mais de 2000 incêndios; um estudo recente indica que minorias étnicas ou religiosas aparecem em apenas 2% das notícias; durante o período do confinamento registou-se em Portugal menos 30% de ruído e as duas primeiras semanas de Abril foram as mais silenciosas; houve cinco grandes operações de créditos e imóveis que provocaram perdas de 600 milhões de euros no Novo Banco, uma delas envolvendo uma empresa onde anteriormente trabalhava o actual chairman do Banco.

 

ARCO DA VELHA -  O Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra está há 11 anos a decidir se é legal uma urbanização em Carnaxide, em grande parte construída e onde já mora gente.

 

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DOCUMENTOS FOTOGRÁFICOS -  Nos últimos anos a fotografia ganhou novas formas de visualização - não só nas redes sociais, em particular no Instagram, mas também através de edições limitadas de revistas, fanzines, e livros. João Miguel Barros é um advogado e fotógrafo que divide a sua vida entre Macau e Lisboa , e também entre o Direito, organização de exposições e à edição. ZinePhoto é o seu projecto editorial, de autor, a preto e branco, cada edição dedicada a um tema autónomo. O primeiro número de ZinePhoto é dedicado à Wisdom School, no Gana. As imagens deste número integravam a exposição “Wisdom” realizada em macau em Junho de 2019. Cada número, impresso de forma cuidada em máquina plana, num grande formato (40x28,5cms), com acabamento manual, é um objecto de colecção. O número 1 teve 500 exemplares editados e o número 2 de ZinePhoto teve 300 e é dedicado a Jamestown, um bairro que data do século XVII da cidade de Accra, também no Gana, país a que João Miguel Barros se dedicou, realizando ali vários ensaios fotográficos. Detentor de vários prémios internacionais o trabalho de Barros é tipicamente focado em temas sobre os quais trabalha com persistência, como acontece nestes dois primeiros números do Zine Photo, que pode ser encontrado em Lisboa no Photo Book Corner, brevemente na Under The Cover (ambas na Marquês Sá da Bandeira) e na Stet (Alvalade). 

 

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SAMBA STREAMING - Uma das vantagens de uma playlist de uma das plataformas de streaming é pôr a coisa a tocar um par de horas, no estilo de música que escolhemos, e ficar a ouvir a música. Por estes dias a etiqueta Verve, uma das referências musicais da indústria discográfica, criou a playlist Summer Samba, disponível nomeadamente na Spotify e Apple Music, com 53 temas e mais de quatro horas de música. Aqui estão nomes incontornáveis como Astrud Gilberto, Stan Getz, João Gilberto, Edu Lobo, Sérgio Mendes, Elis Regina, António Carlos Jobim, Bebel Gilberto, mas também Diana Krall, Milt Jackson, Dizzy Gillespie, Joe Henderson, Wes Montgomery, Coleman Hawkins, Quincy Jones ou Herbie Hancock. Esta é a época em que a bossa nova se cruzou com o jazz, em que os músicos americanos descobriram os brasileiros e vice-versa. Canções como “Garota de Ipanema” em várias versões, “Corcovado”, “Água de Beber”, “Samba De Uma Nota Só”, “Águas de Março”, “O Pato”  ou “Berimbau” entre muitas outras. E no YouTube podem ver alguns dos vídeos, na videoplaylist Summer Samba. Em qualquer das versões, audio ou vídeo, é grande companhia para um fim de tarde.

 

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LISBOA FORA DAS CIDADES DA MONOCLE - A edição de Julho/ Agosto da Monocle é habitualmente um exemplar de referência, que engloba a avaliação”Quality Of Life”, um ranking de bons sítios onde se pode viver. Muito dedicado às cidades, à vida além do confinamento, ao ressurgir do comércio de rua e à descoberta de bons lugares, este número da revista dá muitas pistas para pensar. Este ano o quadro de avaliação mudou do padrão habitual e a “Monocle” foi à procura de novos projectos urbanísticos, que estão a tentar trabalhar para que as suas comunidades tenham uma vida melhor e sejam mais felizes. Lisboa deixou, portanto, de estar no ranking, já que Medina virou a cidade para os visitantes e ignorou deliberadamente as comunidades locais, os lisboetas, aqueles que vivem na cidade há décadas. Facilitou a sua expulsão e quis brincar aos legos dentro do espaço urbano. O resultado é péssimo para quem cá vive. Adiante na “Monocle” de Verão. Génova, Zurique, Estocolmo, Hamburgo e Copenhaga são destaques na Europa, Seattle e Vancouver no continente americano, e Kuala Lumpur, Bangquoque, Beirute e Nairobi no resto do mundo. Analisando a acção de responsáveis na governação de cidades a revista elogia Jose Luis Martinez- Almeida, o Alcaide de Madrid que, tendo sido eleito à direita conseguiu ganhar o apoio alargado dos madrilenos pelo trabalho desenvolvido durante o confinamento e no desconfinamento. Ora aqui estão também duas situações em que Medina não funcionou. Para o ano há autárquicas espero que se lembrem disso se por acaso surgirem candidatos que se vejam.  

 

SALADA FRIA - É verão, está calor, o que fazer para um almoço de amigos? Conselho: comprar umas postas de garoupa (podem ser do rabo da dita),  juntar uns camarões descascados (podem ser congelados) de bom tamanho, cozer a garoupa de forma a ficar consistente, reservar no frio. Em relação à alface o meu conselho é cortá-la fina, misturá-la com tomate cherry maduro cortado em oitavos, pepino aos cubos pequenos, alcaparras. Quando tudo estiver pronto e misturado, envolver o peixe os camarões já preparados e depois adicionar uma maionese - eu ultimamente gosto de temperar a maionese da hellman’s com sumo e raspas de casca de lima e também pimentão doce fumado, sal e pimenta, tudo bem misturado e em seguida envolvê-la na salada com todos os ingredientes. Aconselho a ter de lado pão torrado ou tostas para ir acompanhando. Na parte mais líquida, digamos assim, tenho a proposta de um vinho fresco, recentemente introduzido no mercado, o 100% Alvarinho 2019 de João Portugal Ramos, aromático, cítrico, com um bom final. Óptimo para combinar com uma salada fria de bom peixe. Enjoy, que o verão não dura sempre.

 

DIXIT - "Os clubes de futebol em Portugal não ficam rigorosamente nada atrás dos exércitos de Trump, Bolsonaro ou Modi na Índia. Os assessores passaram a ser diretores de propaganda” - Ricardo Costa, Diretor de Informação da SIC

 

BACK TO BASICS - “Há reuniões que são indispensáveis quando o objectivo é fazer com que nada avance” - John Kenneth Galbraith

 

 

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EUROPA? QUAL EUROPA?

por falcao, em 24.07.20

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UNIÃO EUROPEIA? - Os últimos dias mostram que esta Europa só dá ares de funcionar quando os mais fortes precisam dela. Não estivessem a França e a Alemanha numa encrencada económica e orçamental e qualquer acordo estaria ainda provavelmente por concretizar. A necessidade aguça o engenho e, neste caso, fez retomar o namoro no eixo franco-alemão. Não embandeiro em arco com os resultados alcançados, abaixo dos objectivos inicialmente anunciados. Mas espero, com desconfiança, é certo,  que todo o dinheiro que aí vem seja bem empregue, que a difícil execução dos 6000 milhões de fundos ao ano não seja feita ao desbarato só para cumprir calendário, que o dinheiro seja bem investido, que não seja a corrupção do sistema a ganhadora, que não sejam os compadrios do costume os vencedores, que o histórico de má utilização de fundos europeus em Portugal não se repita. Espero que não sejam construídos aeroportos que ficam desertos como o de Beja, que não sejam feitas mais autoestradas, mas gostava que fossem recuperadas e melhoradas ligações ferroviárias, que a desertificação do interior fosse contrariada, que a agricultura fosse ajudada, que a importância da pesca fosse recuperada, que o tecido industrial crescesse de forma saudável e que as empresas de tecnologia e base portuguesa fossem beneficiadas. Um amigo meu francês disse-me há dias, perante a minha desconfiança face a esta Europa, que eu devia ter em conta os muito milhões que recebemos. E eu perguntei-lhe se já tinha feito as contas ao que nos custou a destruição da agricultura, das pescas e da indústria, condicionadas por acordos firmados em Bruxelas. A propósito, um outro amigo meu chamou-me a atenção para este interessante ponto do acordo: se algum dos países discordar das metas e alvos do plano de outro país, o assunto vai a discussão - primeiro na Comissão ou mesmo noutro Conselho. Isto significa que os planos nacionais são não só supervisionados como podem não existir pagamentos se não existir uma maioria de apoio no Conselho. Perante estas palavras, quem disse que os frugais foram derrotados? 

 

SEMANADA - PS e PSD aprovaram esta terça-feira, com votos contra dos restantes partidos, a alteração de regimento que põe fim aos debates quinzenais com o primeiro-ministro e torna a sua presença obrigatória apenas de dois em dois meses, numa altura em que o escrutínio político é mais necessário que nunca; nem um cêntimo foi ainda pago dos 15 milhões de euros de adiantamento de publicidade de organismos do Estado, anunciados em meados de Abril como apoio de emergência aos grupos de media devido à pandemia; a Associação Sindical dos Juízes Portugueses não quer que as principais investigações criminais do país sejam controladas por apenas dois juízes, como agora acontece, “provocando um problema de pessoalização das decisões  que criam um descrédito na justiça”; em Albufeira o desemprego disparou 680% devido à quebra do turismo; os transplantes de órgãos sofreram uma quebra de 52% devido à pandemia; cerca de 20% dos investimentos estrangeiros previstos para Portugal estão comprometidos devido aos efeitos na economia da pandemia; os aeroportos nacionais sofreram no primeiro semestre deste ano, uma quebra de 64,6% no tráfego de passageiros, um recuo que equivale a menos 17,7 milhões de passageiros comparativamente ao mesmo período de 2019; só Lisboa perdeu quase nove milhões de passageiros em relação ao primeiro semestre do ano passado; um estudo recente indica que em Portugal, apenas um em cada três trabalhadores têm possibilidade de realizar teletrabalho, o que deixa a economia vulnerável a um eventual segundo confinamento.

 

ARCO DA VELHA - O Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado recebeu nos últimos quatro anos 7,1 milhões de euros do Estado mas as obras nos imóveis a que eram destinados ainda não começaram em nenhum deles.

 

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FOTOGRAFIA COIMBRÃ -  Hoje todas as sugestões são fotográficas e localizadas em Coimbra: por um lado as exposições da Estação Imagem, os prémios do fotojornalismo português; e, por outro, a exposição que assinala os 40 anos da primeira edição dos Encontros de Fotografia da cidade, criados em 1980 pelo entusiasmo de Albano da Silva Pereira. Hoje o CAV - Centro de Artes Visuais, criado em 2000, é o testemunho dessa obra e Albano da Silva Pereira é o seu Diretor Artístico. A exposição Spectrum, comissariada por Ana Anacleto, tem por base a colecção dos próprios encontros, constituída por fotografias expostas, muitas delas provenientes de encomendas realizadas expressamente para serem apresentadas no âmbito de diversas edições dos Encontros. A Spectrum fica patente até 10 de Setembro e inclui fotografias de Paulo Nozolino, Jorge Molder, Fernando Lemos, Daniel Blaufuks, Nuno Cera ou Daniel Malhão, mas também Robert Frank, Marianne Mueller, Stéphane Duroy, Gabriele Basílico, André Mérian ou Wim Wenders, entre outros. Por estes dias Coimbra é também o ponto de acolhimento da iniciativa Estação Imagem, que premeia o fotojornalismo português, numa iniciativa do repórter fotográfico e jornalista Luis Vasconcelos. Este ano o Grande  Prémio Estação Imagem foi para a reportagem “Abandonando o Sonho Venezuelano”, de José Sarmento Matos, que conta a história de uma família luso-venezuelana e a sua migração de regresso a Portugal e a forma como recomeçam a vida. O prémio Fotografia do Ano (na imagem) foi para Leonel de Castro. “Voo de Esperança”, mostra uma adolescente que parece voar em direcção aos céus num baloiço entre árvores destruídas numa das principais ruas da Beira, em Moçambique, depois da devastação causada pelo ciclone Idai. A fotografia faz parte da série Os Continuadores, também ela premiada na categoria Assuntos Contemporâneos. Saiba a localização das exposições e demais iniciativas em www.estacao-imagem.com .

 

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O REGRESSO ÀS CANÇÕES - Durante os últimos tempos Rufus Wainright dedicou-se a compor óperas e a musicar sonetos de Shakespeare. As canções pop que lhe deram fama, sobretudo nos primeiros dos nove álbuns da sua carreira, ficaram em stand by desde 2012 quando editou “Out Of The Game”. Ao fim de oito anos regressa agora ao seu terreno de eleição com o décimo álbum,  “Unfollow The Rules”. Ao contrário do que o nome indica este é um manual de regresso às origens, uma espécie de back to basics aos alicerces musicais onde construiu a sua carreira - a voz envolvente, o piano, as orquestrações exuberantes. De certa forma é uma revisão da matéria dada, como se fosse o arranque para um novo capítulo. Aqui renasce o piano em “Romantical Man”, os arranjos elaborados em “Unfollow The Rules” ou “Early Morning Madness” ou as baladas como “This One´s For The Ladies”. Destaque para a faixa que dá o título a este álbum, que arranca apenas com o piano e a voz de Rufus e que depois evolui numa orquestração arrebatadora ao nível do melhor que ele já fez. Para mim a melhor canção é  “Peaceful Afternoon”, talvez a mais marcante dos seus novos temas. Disponível no Spotify.

 

A Vida Extraordinaria do Portugues que conquistou

A HISTÓRIA DE UM  AVENTUREIRO PORTUGUÊS - “Ele não sabia ler. Nem escrever. Decidira aprender a desenhar as doze letras que somavam os seus primeiro e último nomes apenas quando deixaram de lhe chamar «José, o português», para passarem a tratá-lo por Don Jose” - assim começa “A Vida Extraordinária do Português Que Conquistou A Patagónia”, de Mónica Bello. Apesar de ser um nome desconhecido para muitos portugueses, José Nogueira é tido no Chile como uma das pessoas que ajudaram a escrever a história da Patagónia. Teria 12 ou 13 anos quando trocou as margens do Douro por um convés de navio, para fugir à miséria. Passou por Malta, Rio de Janeiro, Peru e Buenos Aires, mas foi ali, «onde a geografia chilena enlouquece e a fria costa patagónica é um intricado labirinto», que assentou arraiais. No vilarejo de Punta Arenas – terra de aventureiros, desterrados, índios, caçadores, deserdados e imigrantes – entre dois oceanos, nove minutos a sul do paralelo 53, na margem norte do estreito de Magalhães, José fez amigos, criou rivais, teve amores, fez fortuna, criou um império. Mónica Bello ouviu falar de Nogueira durante uma primeira viagem à Patagónia e ao estreito de Magalhães, para escrever uma reportagem para a revista Grande Reportagem. Mais tarde acabou por conhecer o historiador chileno Mateo Martinic Beros que em 1999 tinha feito na Academia Portuguesa de História, em Lisboa, uma palestra sobre dois portugueses ligados ao seu país - o muito conhecido Fernão de Magalhães e este até agora desconhecido José Nogueira. O livro conta a aventura deste homem que fez de tudo, ajudou a desenvolver uma região até aí inexplorada. A história é contada a partir da investigação feita aos documentos existentes no Museu da Patagónia sobre José Nogueira: 29 dossiês, com 149 pastas e 2574 documentos. E não é um repositório de documentos. Está escrito como uma agitada história de aventuras, amores e fortunas de um português que se fez à vida pelo mundo fora. Editora - Temas e Debates e Círculo de Leitores.

 

PETISCAR - O prazer da sanduíche aberta é enorme e as possibilidades são mais que muitas. As combinações têm por limite a imaginação. O essencial é uma fatia de bom pão, nem demasiado fina, nem demasiado grossa. O primeiro passo é preparar o que se quer por lá por cima - e aqui é onde entra a imaginação e, digamos, a pré-produção. O segundo passo é tostar o pão numa torradeira ou, melhor ainda, fritá-lo numa frigideira untada de bom azeite até tostar de um lado. Depois de assim tostado, mãos à obra: aproveitem esta época em que se encontra bom tomate coração de boi e coloquem umas rodelas até preencherem toda a fatia de pão. Temperem o tomate com sal, oregãos e um fio de azeite e por cima coloquem presunto de boa cura cortado bem fino, com rodelas de rabanete por cima. Façam uma segunda fatia de pão e sigam o mesmo procedimento, acrescentando-o de fatias finas de pepino com sal a que se adicionam fatias finas de queijo de S. Miguel. Se depois disto ainda quiserem uma sobremesa, peguem em mais uma fatia de pão tostado, deem-lhe uma barradela de requeijão temperado com sal, fatias de pêssego previamente grelhado na chapa e por cima espalhem um pouco mais de requeijão com canela. Se o pão for bom, como o de trigo sarraceno da Gleba, vão ver que o petisco fica na memória. 

 

DIXIT - “Quem tem um quintal sagrado não gosta que ele seja tocado pela comédia” - Ricardo Araújo Pereira

 

BACK TO BASICS - “Se as pessoas apenas falassem se tivessem de facto alguma coisa de útil a dizer a raça humana perderia rapidamente o dom da fala” - Somerset Maugham.

 

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A NOSSA TRAGÉDIA - Mark Haddon, um escritor inglês, disse recentemente que, se Shakespeare fosse vivo, hoje em dia estaria a escrever séries de televisão. Provavelmente tem razão. Desde as pestes que assolam o mundo contemporâneo, à falsidade, conspirações e contorcionismo de quem vive o poder e protagoniza a política, não faltariam temas para Shakespeare se inspirar.  Sabe-se lá o que ele diria, por exemplo, do namorico entre António Costa e Viktor Orbán, dando cotoveladas sorridentes um ao outro em jardins de Bucareste. Recordemos as perfídias que se passam em Bruxelas e nos meandros europeus e, num exercício de abstracção, imagine-se que figuras do presente, destes dias de hoje, poderiam agora estar nas personagens principais de Hamlet, Macbeth, King Lear ou até Titus Andronicus. O contorcionismo político é um exercício que se tornou corriqueiro, assim como o desprezo pela verdade, ofuscado por sorrisos plásticos em nome de um optimismo que tem por único objetivo mascarar a realidade - aconteceu isto, com Marcelo de mãos dados com Costa a garantir que estava tudo bem nos primeiros momentos do  incêndio de Pedrógão e agora no desastre que tem sido o desconfinamento onde ambos não resistiram a apadrinhar ajuntamentos como um espectáculo de humor, dias antes dos surtos explodirem em Lisboa, contrariando todas as suas piedosas declarações e garantias. Aquilo a que assistimos desde há semanas é um desfile de absurdos. Uma tragédia vivida como se fosse uma romaria.

 

SEMANADA - Na Madeira 45% da população activa está em layoff ou no desemprego na sequência da crise no turismo desencadeada pela pandemia; algumas lojas históricas da baixa de Lisboa registam quebras de venda de 80%; o trabalho suplementar na área da saúde aumentou 17% no primeiro semestre do ano e teve o pico em Maio, significando no total cerca de meio milhão de horas extra de profissionais do sector; durante o confinamento mais de 500 pessoas sem abrigo foram recebidas em centros de acolhimento improvisados em todo o país; a Unidade de Atendimento à Pessoa Sem Abrigo do Cais do Sodré, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, recebe 200 pessoas por dia; cerca de um terço da população vive em casas com más condições de habitabilidade - revela um estudo da Fundação Gulbenkian; o mesmo estudo indica que muitas famílias estão a pagar o empréstimo para compra de casa já depois dos 70 anos e em idade de reforma; uma freguesia de Ponte de Lima esteve quase uma semana sem abastecimento de água canalizada; as cirurgias no IPO de Lisboa caíram 42% em Maio; segundo o INE o número de hóspedes e de dormidas registadas em Maio quebraram 94,2% e 95,3% face ao mesmo mês do ano anterior e a queda das receitas foi de 97,2%, passando de mais de 390 milhões para 11 milhões de euros.

 

ARCO DA VELHA - Uma doente com alzheimer teve alta do Hospital de Cascais sem que a família fosse informada e foi encontrada morta junto a um viaduto da A5, depois de não ter conseguido encontrar o caminho para casa.

 

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O REGRESSO A BELÉM  -  O Museu Berardo apresenta a partir desta semana duas novas exposições, baseadas na sua colecção permanente. As duas exposições coexistem nos 2900 metros quadrados do piso 2 do Museu. O ponto central é a exposição Do Primeiro Modernismo às Novas Vanguardas do Século XX”,  de autores como como  Pablo Picasso, Modigliani, Amadeo Souza-Cardoso, Marcel Duchamp, Man Ray, Piet Mondrian, Josef Albers, Salvador Dalí, René Magritte, Louise Bourgeois, Francis Bacon, Jackson Pollock, Maria Helena Vieira da Silva, Lucio Fontana, David Hockney, Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Donald Judd, Bruce Nauman, Richard Serra, Gerhard Richter, Julião Sarmento, John Baldessari entre muitos outros. A segunda exposição, que funciona em ligação com a primeira e permite uma leitura complementar da colecção,  é o projeto Constelações III: uma coreografia de gestos mínimos” (na imagem)  que integra obras de artistas como Francisco Tropa, Hans Richter, Mário Cesariny, Max Ernst, José Barrias, João Penalva, Arpad Szenes, Nadir Afonso, Dziga Vertov, Ângela Ferreira, Marcel Duchamp, László Moholy-Nagy, Oskar Schlemmer, João Ferro Martins, Man Ray, Raúl Perez, Mário Botas, Louise Bourgeois, Cabrita, João Louro, Rita Gaspar Vieira, Yves Klein, Helena Almeida, José Maçãs de Carvalho entre outros. Ao todo são cerca de 350 obras, algumas delas mostradas publicamente pela primeira vez. Outra sugestão: no Museu de Aveiro, em colaboração com Serralves, obras de Julião Sarmento agrupadas na exposição “No Brilho da Pele”, até 27 de Setembro.

 

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O BEIJO ROUBADO - Crescer em Beja dá nisto - uma mistura de cante alentejano com fado num disco de estreia que é surpreendente. O responsável é Buba Espinho, de seu nome real Bernardo, hoje com 24 anos e que cresceu em ambiente musical, ao que se ouve com muito bons resultados. A seu lado estão, em alguns dos 11 temas que integram o álbum de estreia, António Zambujo, Raquel Tavares, Tiago Nacarato e Diogo Brito e Faro. O disco tem originais do próprio Buba Espinho, composições de alguns dos convidados e tradicionais como “Zé Negro”. “Roubei-te Um Beijo”, um tema composto por Buba Espinho, cantado em dueto com António Zambujo, é uma daquelas músicas que agarra na primeira audição, uma canção “orelhuda” que tem palavras simples e certeiras: Roubei-te um beijo/ Foi por paixão/ Vê lá não digas/ A ninguém que eu sou ladrão”. E, depois há a voz de Buba Espinho - fresca, com uma amplitude notável, afinadíssima, onde o sotaque inconfundível do alentejo funciona como quase uma melodia à parte. Num ano tão triste para a música, este é um testemunho de vida, o manifesto de um novo talento que entra em tempos difíceis com a determinação de quem vai deixar marca.

 

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SOBRE A VIDA  -  Folheio “Nada A Temer” de Julian Barnes, o relato agitado de uma viagem ao seu passado, à sua família, às suas dúvidas perante a morte e a vida, perante as religiões e o pensamento humano. A páginas tantas Julian Barnes, um dos mais relevantes escritores britânicos contemporâneos, conta que na sua adolescência descobriu um pufe de couro indiano que, ao ceder sob o seu peso, revelou estar recheado das cartas de amor trocadas entre o seu pai e a sua mãe ao longo dos anos de namoro, todas rasgadas em pedaços, recordações sobre as quais ele passou anos a sentar-se sem o saber. A descoberta deu-se quando um dia se sentou com mais força, o couro já envelhecido cedeu nas costuras e lá de dentro saíram retalhos do amor que assim estavam escondidos. Ao longo do livro Barnes relata as memórias da sua família, desde os avós aos pais, passando pelo seu irmão, filósofo. E recorda o que a mãe dizia “Um dos meus filhos escreve livros que posso ler mas não compreendo - referindo-se ao filósofo - e o outro escreve livros que eu compreendo mas não posso ler”. “Nada a Temer” é uma memória de família, um quase diálogo com o irmão filósofo, uma meditação sobre a mortalidade e o medo da morte, uma celebração da arte e uma discussão sobre Deus. Barnes descreve como o pai, já reformado, um ex-director de escola, viveu os seus últimos anos refugiado no silêncio defensivo perante uma mulher autoritária. A relação do escritor com o pai não é muito calorosa - mal se tocavam, mal falavam e poucas vezes estavam a sós os dois - e o pai não era muito apreciador da obra literária do filho. Do livro, como escreveu The Guardian,  sai sobretudo esta interrogação: “se o medo da morte é a coisa mais racional do mundo”, como podemos lidar com isso? Julian Barnes escreveu um livro sobre a mortalidade que tanto aborda a fé como a ciência, a família ou figuras marcantes da sua vida e da história que ao longo dos séculos se defrontaram com a o facto mais básico da vida  - o seu inevitável fim.

 

A PIMENTA DA TERRA - Uma pessoa vai pedir um aconselhamento de vinhos a bom preço, entra na estimável garrafeira Néctar das Avenidas (Rua Pinheiro Chagas 50), e pede ao proprietário, Senhor Quintela, ajuda para levar um bom vinho para um jantar em casa de um amigo. O conselho é sempre bom em termos de qualidade do vinho e sensato em termos de preço. Nas prateleiras, arrumadas por regiões, destaca-se a área dedicada ao Vinho do Porto. Mas ali há bons vinhos de todas as regiões, com boas opções de pequenos e médios produtores, muitos deles pouco conhecidos. O proprietário sabe muito de vinhos, conhece os produtores e vai sabendo aquilo de que os clientes gostam - vai-me sugerindo vinhos do Dão, que ando a experimentar, e dá-me sempre a conhecer bons brancos daquela região nesta época estival (como o Adega de Penalva). A garrafeira Néctar das Avenidas, que vai realizando uns jantares vinícolas em alguns restaurantes, em colaboração com produtores seleccionados, tem também petiscos permanentemente à venda - queijos, alguns enchidos, compotas, manteiga Rainha do Pico dos Açores (talvez a melhor manteiga portuguesa), folar Limiano na sua época e os magníficos doces açorianos da Maviripa - e é um dos doces deste produtor da ilha de S. Miguel, que hoje venho aqui elogiar: o Doce Extra de Pimenta Vermelha da Terra. Experimentem-no com um queijo duro, como o queijo de S. Miguel, ou com um bom requeijão da Beira e ficarão fãs. Neste fim de semana experimentei-o nestas duas variantes e ainda sobre carne assada - funciona bem com tudo, acrescenta sabor e surpreende quem o não conhece. Tornou-se um acompanhamento fundamental.

 

DIXIT - “Passámos de dizer que somos os melhores do mundo para dizer que o mundo está contra nós” - Paulo Portas

 

BACK TO BASICS - “Não me dedico a procurar agradar com as respostas que dou” - William Shakespeare

 

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A ESTRANHA MÚSICA QUE ANDA NO AR

por falcao, em 10.07.20

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A EDP FOI NACIONALIZADA? - A menos que alguma coisa tenha sido alterada no funcionamento da economia das empresas privadas eu acreditava, até esta semana, que decisões são tomadas pelos seus accionistas e não pelo Estado. No entanto por estes dias percebi que o entendimento da nova anormalidade em que vivemos é que o Ministério Público e um Juiz podem remover quem os incomode antes de haver qualquer julgamento. Vem isto a propósito do que se passa na EDP. Desde há muito tempo que António Mexia se tinha tornado um alvo a abater para o Governo. Infelizmente para a geringonça os accionistas, e sobretudo o accionista maioritário chinês, decidiram manter a confiança em Mexia e nos resultados de gestão que alcançou. De maneira que, pegando na espingarda neste concurso de tiro ao alvo, um juiz e o Ministério Público, abrindo um grave precedente, tiraram Mexia e Manso Neto da empresa, contra as decisões tomadas pelos accionistas em Assembleia Geral. Ambos são acusados num processo baseado em factos não provados e muito menos julgados. Para todos os efeitos são inocentes até prova em contrário - é esse princípio que norteia a justiça nos países democráticos. Se os accionistas entendem que um gestor cometeu algum acto reprovável ou que tem um ónus que penaliza a empresa, podem substituí-lo. Mas não foi isso que aconteceu. Em Portugal temos uma justiça lenta e ineficiente, com juízes acusados de corrupção, de justicialismo político e de mais algumas malfeitorias. É esse mesmo aparelho judicial, corporativo, arcaico e ineficaz que, à sombra do Estado, vive em impunidade. Vivemos tempos difíceis para a economia - e o principal perigo não vem da pandemia, vem de uma justiça assim, vem das interferências do Governo na TAP, da nacionalização da Efacec, deste cheiro a 11 de Março de 1975 que começa a perfumar o ambiente. Temos cada vez mais um estado que não protege as pessoas, mas que as condiciona. E as imposições, com o medo que elas podem causar, começam a configurar uma tentativa de imposição de um pensamento único, protagonizado por um Estado que pretende ser incontestado e exercer a prepotência como modo de estar. E com a conivência dos mais altos magistrados da Nação.

 

SEMANADA -  Dados da Direcção Geral da Saúde indicam que entre 2009 e 2019 a mortalidade no nosso país atingiu os 108.229 óbitos anuais, em média, com um máximo de 113.599 óbitos em 2018 e um mínimo de 103.203 óbitos em 2011; no primeiro semestre de 2020, registaram-se 60.936 óbitos, o que corresponde a mais 7.2% do que a média da década anterior (56869); a Associação de Médicos de Família estima que ficaram 15 mil diagnósticos de cancro por fazer em três meses; há mais 110 mil utentes sem médico atribuído pelos Centros de Saúde e aumentam as queixas sobre a demora e dificuldade na marcação de consultas nos centros de saúde; a ASAE apreendeu 627 mil máscaras, compradas por diversas entidades públicas, destinadas a profissionais de saúde, e que não cumprem requisitos de segurança nem têm garantia de qualidade; o recrudescimento da pandemia provocou nova corrida à informação e, a semana de 22 a 29 de Junho, segundo dados da Marktest, foi a quarta com maior tráfego nos sites de informação desde meados de Março, com quase 300 milhões de pageviews; em 1928, na Grande Depressão, a economia portuguesa colapsou 9,7% e a Comissão Europeia estima que o país deve afundar 9,8% ou mais devido à pandemia; a task force de especialistas criada em Fevereiro pela Direcção Geral de Saúde para acompanhar o combate à pandemia deixou de reunir pouco tempo depois e não reúne desde Março; as reuniões de peritos de saúde no Infarmed foram suspensas por decisão do Primeiro Ministro depois de terem lá surgido vozes críticas da actuação do Governo no desconfinamento.

 

ARCO DA VELHA -  Segundo a Protecção Civil o Ministério das Finanças não disponibilizou em Junho o reforço orçamental esperado para as despesas dos bombeiros no combate aos fogos rurais.

 

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O REGRESSO ÀS GALERIAS -  A Galeria Espaço Exibicionista apresenta uma colectiva com a participação de 25 artistas plásticos, entre os quais Alexandre Alonso, Ana Monteiro, Emanuel de Sousa, Filipe Raizer, Gabriel Garcia, João Fortuna, Jorge Humberto (Joh), Luis Melo, Martinho Dias, Paulina Goca e Valentim Quaresma (cuja obra está na foto). Dilema- Group Show 2020 pode ser visto de segunda a sexta entre as 11 e as 20 e ao sábado das 11 às 18 no Espaço Exibicionista,  Rua D. Estefânia 157 C. Mais sugestões: na Galeria Vera Cortês decorre uma exposição colectiva com todos os seus artistas, num formato invulgar,  constituída por 19 apresentações individuais em nove exposições de dois artistas, cada um apresentando uma obra, cada dueto, chamemos-lhe assim, com a duração de uma semana. Até dia 15 podem ver Gonçalo Barreiros e John Wood com Paul Harrison, de 16 a 22 de Julho estarão Anna Franceschini e Daniel Blaufuks, de 23 a 31 deste mês estarão Alexandre farto (aka Vihls) e António Bolota. De 1 a 17 de Agosto a Galeria encerra e retoma o ciclo a 20 de Agosto, que decorrerá nos mesmos moldes até 23 de Setembro. Nas Carpintarias de S. Lázaro, que reabrem agora no pós-pandemia, James Newitt apresenta a curta metragem “Fossil” em formato de instalação que percorre os vários espaços do local. A galeria Fonseca Macedo, em S. Miguel, nos Açores, completou 20 anos e apresenta uma Colectiva com obras de artistas que mostrou ao longo dos anos; o acontecimento da semana foi a abertura do Centro de Arte Contemporânea de Coimbra com a exposição “Corpo e Matéria” com curadoria de José Maçãs de Carvalho e David Santos.

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SOB A PAISAGEM DO CANADÁ  - Quando um músico australiano é desafiado a fazer uma residência com músicos canadianos em Banff, na região de Alberta, no Canadá, com vista para o parque natural da região e para parte das montanhas rochosas, a influência da natureza na música produzida é inevitável. “Nothing Remains Unchanged” é o resultado da colaboração do baixista australiano Ross McHenry com o baterista Eric Harland, o pianista Matthew Sheens e o saxofonista Ben Wendel, no Banff Centre for Arts And Creativity. O resultado está em nove temas que oscilam entre o tranquilo e o tempestuoso, todos mostrando um desejo de explorar as potencialidades da colaboração entre músicos que se estão a descobrir uns aos outros. As influências de Ross McHenry estão bem sedimentadas no jazz, mas sem desprezar a música de câmara e alguma electrónica - um cocktail só por si invulgar. A grandiosidade da paisagem local foi certamente uma influência na composição destes temas, todos criados em Banff. “Complicated Us”, o tema de abertura é um bom exemplo da ligação entre o baterista e o baixista, que se desenvolve enquanto o saxofonista e o pianista criam a paisagem sonora de fundo, repleta de tensões. Em contraste “Woods” é um exercício de tranquilidade e meditação, enquanto “Forest Dance” e sobretudo “Perspectives” mostram as capacidades individuais dos músicos. O disco está disponível no Spotify.

 

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CONTRA O PENSAMENTO ÚNICO  - Bernard-Henri Lévy, que se tornou conhecido por ser um dos artífices dos “novos filósofos” franceses, escreveu durante os últimos mesesEste Vírus Que Nos Enlouquece”. Provocador como sempre, pretenso iconoclasta por definição, Levy dedica-se mais uma vez a abanar consciências e ataca toda a estratégia de contenção da pandemia por covid-19 imposta pelos governantes ocidentais, que acusa de se terem inspirado no modelo ditatorial chinês.  Bernard-Henri Lévy não é meigo e classifica os detentores do poder de usurários da morte, tiranos da obediência, higienistas delirantes, protagonistas da primeira crise mundial que «produziu uma realidade mais incrível que a ficção» e a que mais «inflacionou discursos obsessivos». Sempre à procura de uma polémica, Levy aponta o dedo a governantes, organizações internacionais, influenciadores de opinião e “colapsologistas” que, «efusivos, disfarçam o seu egoísmo de abnegação» e aproveitam o coronavírus para arrasar o que a civilização ocidental tem de melhor. «É preciso resistir, custe o que custe, a esse vento de loucura que sopra sobre o mundo», vento a que o autor chama de «Primeiro Medo Mundial», que assola o planeta e, afirma, estrangula a liberdade dos cidadãos a coberto da urgência sanitária. Levy ergue-se contra o pensamento único, em defesa das portas da liberdade que para si são  aeroportos, viagens, cosmopolitismo e comércio. «Os grandes epistemólogos dizem que as crises sanitárias são fenómenos sociais que comportam aspectos médicos» -  é esta a tese que serviu de base ao pensamento formulado por Bernard Henri Lévy neste livro, já editado em Portugal pela Guerra & Paz.  

 

POR VOLTA DA MEIA NOITE  -  A minha sugestão petisqueira de hoje passa por uma série japonesa de televisão, que tem origem numa obra de Manga, e que é exibida pela Netflix em duas temporadas, de dez episódios de 25 minutos cada um - “Midnight Dinner, Tokyo Stories”. Tudo se passa num bar de apenas 12 lugares ao balcão, localizado nas pequenas ruas escondidas do centro de Tóquio, junto da estação central de comboios, um restaurante que tem a particularidade de só funcionar entre a meia noite e as sete da manhã. “O meu dia começa quando acaba o dos outros”, diz o Mestre (único nome pelo qual é tratado pelos clientes), dono e único funcionário do bar que tem uma lista minimalista, teoricamente com um único prato, uma tradicional sopa japonesa de legumes e porco. O Mestre declara que a sua política é fazer o que os clientes pedirem com os ingredientes que nesse dia tiver disponíveis. Cada episódio é uma história fechada e o Mestre, uma interpretação fantástica de Kaoru Kobayashi, é o pivot de continuidade que assiste à forma como ao seu balcão se desenrolam histórias fascinantes de relações humanas - cada uma à volta de uma das suas criações culinárias. O que eu sei é que desde que comecei a ver a série já experimentei fazer ramen e inhame salteado e, para principiante, não me saí nada mal, sobretudo no ramen. Estou com vontade de um dia destes fazer uma omelete de arroz e ando a estudar a possibilidade do salmão com cogumelos. Vou ver mais uns episódios.

 

DIXIT - “Há coisas que apesar de o Governo não nos querer dizer, precisamos de saber: não havia mesmo outra solução?” - Paulo Rangel, sobre a TAP.

 

BACK TO BASICS - “A inspiração é de facto algo que existe, mas para  ela surgir temos que  trabalhar” - Pablo Picasso

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SEMANA HORRIBILIS - A semana, que prometia ser do regresso à normalidade, foi afinal um pesadelo. A razão do pesadelo, percebe-se hoje claramente, foi o desgoverno com que o desconfinamento se processou, os maus exemplos das mais altas figuras do Estado em grandes eventos públicos, a tolerância fomentada ao desrespeito pelas regras básicas. Na região de Lisboa a situação de saúde pública agravou-se, a comunicação foi uma desgraça e teve repercussões no exterior: alguns países fecharam as portas a receber portugueses com medo de que daqui possa ir contágio. Internamente a coisa também correu mal: o presidente da Câmara de Lisboa zangou-se com a Ministra da Saúde, António Costa irritou-se com os peritos epidemiologistas que contrariaram a sua propaganda. No entretanto os utentes dos transportes públicos queixaram-se de lotação excessiva e o Ministro da TAP, Pedro Nuno Santos, passou dias a garantir  que está tudo bem apesar de todas as provas em contrário. De tudo isto há algumas coisas a reter: a  fúria de Medina surge por causa da quebra do Turismo, não se manifestou devido a preocupações com a saúde de quem vive e trabalha na cidade, como não o fez desde que a pandemia nos atingiu. E Pedro Nuno Santos tem a tarefa de comprar a TAP com dinheiro dos contribuintes, num processo diferente e menos transparente e racional do que vários apoios concedidos por outros governos europeus a companhias aéreas. Pelo meio as Finanças, tão relutantes a darem incentivos fiscais a áreas como por exemplo a cultura, prometem descontos no IRC e IRS aos organizadores da final da Liga dos Campeões e do IVA az organizadores de congressos. O PS está infestado de contradições, António Costa tem poder e mostra-o,  mas já não o usa para governar. O país está entregue ao acaso - descobrem-se milhões para o negócio da TAP enquanto é uma dificuldade encontrar dinheiro para a saúde  - e essa falta de recursos, dizem os especialistas, contribuíu para dificultar o combate à pandemia em Lisboa. Este é o mais triste retrato desta semana que deixa um lastro de demasiadas coisas por explicar. 

 

SEMANADA - Portugal está na cauda da OCDE no número de cuidadores formais por cada cem idosos; segundo o Conselho da Europa Portugal falhou as metas de redução da disparidade salarial entre homens e mulheres; um estudo realizado a nível europeu em relação à pandemia indica que para a maioria dos europeus a confiança nos Estados Unidos foi quebrada, que a União Europeia não esteve à altura das suas responsabilidades e que a perspectiva negativa sobre a China aumentou; o mesmo estudo indica ainda que há maior cepticismo sobre a capacidade de as instituições de Bruxelas para relançar a recuperação económica; nos últimos três anos lectivos foram descontinuados mais cursos do Ensino Superior que aqueles que foram autorizados a abrir; desde a declaração do estado de emergência o número de estudantes que fizeram pedidos de bolsa de estudos mais do que duplicou; a Infraestruturas de Portugal, que tutela a CP, está a restringir o acesso a estudos sobre a modernização das linhas férreas, prontos há dois anos; o Ministro das infraestruturas admitiu ser inviável cumprir o distanciamento social nos comboios; Fernando Medina disse que “com mais chefes e pouco exército não conseguimos ganhar esta guerra” à pandemia, criticando assim o Governo; a Ministra da Saúde respondeu pedindo “menos má-língua”; o Ministro das Infraestruturas garantiu  que o aeroporto do Montijo é para avançar apesar dos efeitos da pandemia no sector da aviação; na área metropolitana de Lisboa há 15.000 doentes em vigilância e 100 incontactáveis por dia;  Segundo o INE há 10 295 909 residentes em território nacional e, deste número, 2 280 424 têm 65 ou mais anos, o que representa 22.1% do total da população, o que excede em 638 mil o verificado há 20 anos; 



ESTATÍSTICAS - A Amazon realiza 11.000 dólares de vendas em cada segundo na sua plataforma de e commerce e no ano passado entregou  3,5 mil milhões de encomendas, o que significa uma para cada dois seres humanos do planeta.

 

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FOTOGRAFIA PORTUGUESA -  Nos últimos anos tem crescido o mercado dos photobooks - não são livros sobre fotografia, são livros que apresentam fotografias de um autor ou sobre um tema, ou até um ensaio fotográfico. Com a diminuição da publicação de grandes reportagens fotográficas em jornais, e sobretudo em revistas, nos últimos anos houve um ressurgir desta categoria muito especial - os photobooks, na terminologia internacional. Folhear um photobook com atenção é (quase) como visitar uma exposição. Por cá têm surgido alguns e destaco a colecção Ph., criada pela Imprensa Nacional, dirigida por Cláudio Garrudo e que é uma série de monografias dedicada à fotografia portuguesa contemporânea com texto bilingue à venda por 19 euros. Depois de edições dedicadas a Jorge Molder, Paulo Nozolino, Helena Almeida e Fernando Lemos surge agora José M. Rodrigues. Após 20 anos a trabalhar na Holanda, José M. Rodrigues vive desde 1993 em Évora, onde tem leccionado na Universidade local e foi o vencedor do Prémio Pessoa em 1999. Este novo volume da Ph. percorre a obra do fotógrafo, desde a sua produção recente e inédita com obras de 2020, até às primeiras fotografias do início dos anos 70 do século passado. No texto introdutório do livro, Rui Prata sublinha que as fotografias de José M. Rodrigues “são despojadas de acessórios e sublinha que as imagens “não têm ruído, limitando-se ao fundamental”, muitas vezes baseado no desafio que é o próprio olhar do fotógrafo, o qual, nas últimas páginas do livro deixa esta ideia: “o trabalho do fotógrafo reduz-se a uns segundos numa vida inteira”.

 

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BLUES, SOUL & GOSPEL- A primeira frase que Diane Schuur canta no seu novo disco conta logo toda a história: “The blues and I know each other”. A dedicação aos blues, à soul e ao gospel fazem parte das características desta pianista e cantora que, numa época em que o jazz vocal muitas vezes é amaciado, procura manter uma identidade forte. Aqui, no novo álbum “Running On Faith”,  Schuur é apoiada por Ernie Watts, que co-produz o disco, por Kye Palmer no trompete, por Thom Rutella na guitarra, Bruce Lett no baixo acústico e Kendall Kay na bateria. São músicos sérios que não fazem floreados e tocam jazz sem maquilhagens. Diane Schuur está em grande forma e a sua relação com os músicos é assinalável - parece aliás ter ganho uma energia que estava ausente de outros registos seus recentes. Em “Walking On A Tightrope”, a faixa inicial, é particularmente evidente a forma como ela se solta a cantar ao lado dos músicos,  mudando de registo logo a seguir em “The Danger Zone”. Destaque ainda para uma versão de um original de Paul Simon, “Something So Right”, para o gospel “Everybody Looks Good At The Starting Line” que mostra mais uma vez a ligação entre a cantora e pianista e os músicos que aqui a acompanham e finalmente para o clássico “Swing Low Sweet Chariot”, que encerra os 13 temas do álbum “Running On Faith”, já disponível no Spotify.

 

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APRENDER A ESCREVER - Stephen King fez nome a escrever histórias de ficção científica, terror e fantasia. Está entre os dez autores mais traduzidos no mundo, foi editado em 40 países e, no total, já vendeu mais de 400 milhões de exemplares das cerca de sete dezenas de originais que escreveu desde 1974, vários adaptados ao cinema, como “Carrie” ou “Shinning”. Toda esta experiência permite-lhe ter uma visão muito clara sobre o trabalho de um escritor. “Escrever”, um livro entre a autobiografia e um guia sobre como escrever, tem agora uma edição portuguesa e foi considerado pela Time um dos melhores 100 livros de não ficção de todos os tempos. Iniciada em 1997, esta obra só seria terminada em 2000, na convalescença de um grave acidente. Ele conta que nos meses de recuperação, o nexo entre a escrita e a existência tornou-se mais crucial do que nunca para si e decidiu fazer um guia para potenciais escritores. “Escrever” parte da experiência concreta do autor, e apresenta a sua perspetiva sobre a formação de um escritor, com conselhos práticos e sobre todas as fases, desde o desenvolvimento da intriga e a criação das personagens até aos hábitos profissionais e à fuga ao trabalho. Publicado originalmente em folhetim na revista New Yorker, o livro culmina com um testemunho do modo como a necessidade irresistível de escrever estimulou a recuperação de Stephen King e o trouxe de volta à vida após o acidente. A páginas tantas, no final da primeira parte do livro, encontramos esta frase: “Começa assim: coloque a mesa num canto e, sempre que se sentar para escrever, lembre-se da razão de ela não estar no meio da sala. A vida não é um suporte à arte. É exatamente o contrário.” Edição Bertrand.

 

A BARLAVENTO - A costa vicentina tem bom peixe. E tem dos melhores percebes que se podem encontrar em Portugal. O mar batido deve ser a causa. Durante muitos anos o Café Correia, em Vila do Bispo, era o sítio incontornável para avaliar como estavam os bichos. Infelizmente o Café Correia fechou, na porta está um agradecimento à clientela que frequentou a casa, em jeito de despedida. No largo ali perto há dois ou três sítios sem história, mas um deles, o Snack Bar Convívio, sabe tratar bem os percebes. è preciso ter paciência, mas no fim há recompensa pelo sabor do pedúnculo do bicho. Se rumarmos mesmo a Sagres temos uma casa discreta, O Carlos, aberta desde 1993 numa esquina da zona mais recente da localidade, com esplanada ampla, e com muito respeito, também, pelos percebes frescos bem servidos. Mas O Carlos tem uma especialidade que vale a pena provar - um arroz rico de marisco, cozinhado no ponto e com o sabor a mar bem presente. Acresce ainda em abono do local uma tarte de alfarroba, amêndoa e figo como é difícil encontrar. E, para cúmulo, o serviço é bom. (Telefone 282 624 228). Para finalizar o roteiro de Sagres recomenda-se também o Vila Velha (telefone 282 624 788), onde numa sala simpática se provou uma boa ligação de tagliatelle com camarão. Voltando um pouco acima, na Carrapateira, recomenda-se O Sítio do Rio, no caminho para a Praia Bordeira, onde tivemos a sorte de encontrar uma anchova de bom tamanho, aprimoradamente na grelha, fresquíssima. O local foi escolhido ao acaso mas portou-se muito bem. (Telefone 282 973 119).

 

DIXIT - “Vivemos numa sociedade que, cada vez menos, reconhece o direito ao pluralismo, que se fecha em redutos de intolerância” - Jorge Barreto Xavier.

 

BACK TO BASICS - “Por vezes ficamos fiéis a uma causa só porque os seus inimigos são completamente insípidos” - Friedrich Nietzsche.

 





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