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SEM SAÙDE NÃO HÁ ECONOMIA - A reconstrução da confiança dos portugueses no poder político e seus protagonistas, a recuperação da economia e a reconstrução do país dependem de uma única coisa: da forma como se enfrentar daqui para a frente a pandemia, sem hesitações e medidas contraditórias. Sem resolvermos a saúde não se resolve o resto, isso é cada vez mais certo. Instala-se a dúvida: será o Ministério da Saúde o responsável, ou será a irresponsabilidade do Primeiro Ministro a abrir e fechar a torneira e a tomar medidas contraditórias, como no Natal, que ajuda à situação em que estamos? Percebe-se que o caos vem dos zigue-zagues em matéria de medidas de confinamento, mas, na realidade, apesar de múltiplos avisos, o sistema não funcionou pese embora o esforço e dedicação dos profissionais de saúde. A culpa não é deles, é de quem andou a brincar ao gato e ao rato com um vírus. O país está numa situação terrível. Todos os que tomaram decisões - nomeadamente Costa e Marcelo - têm culpas neste cartório. Será que Marcelo, que tem nas mãos a pior situação de pandemia, vai acabar o seu segundo mandato como Presidente do país mais pobre da União Europeia? Todos gostaríamos que fosse de outra maneira. Marcelo ganhou o respeito e admiração dos eleitores, gerindo de forma hábil a proximidade dos afectos com a distância institucional. Mas mesmo sem poderes legislativos tem que fazer melhor - à partida com a sua  influência na saúde, na vacinação, exercendo vigilância. Mas também na  justiça que se degrada e no estado da educação onde os justos pagam pelos pecadores porque o Ministro do sector também ficou sentado sem fazer o que prometera. É esta situação de Portugal ser  líder nos rankings da pobreza e do Covid na Europa que torna o terreno fértil para os populismos. Num país mais igual, com menos diferenças regionais e menos assimetrias, as coisas seriam diferentes. O regime andou a semear que alguém dissesse chega. Não sei se os protagonistas do crime são indicados e têm capacidade para alterar o estado das coisas. Há meio milhão de pessoas que estão zangadas com o sistema. Não procurem o êxito de Ventura nos eleitores do PC, procurem no que sucessivos Governos, este incluído, fizerem ao longo dos anos nomeadamente no abandono do interior e na ausência de reformas estruturais.  

 

SEMANADA - Continuam por vacinar 90% dos médicos de hospitais privados; um estudo divulgado esta semana indica que na União Europeia a pandemia castigou mais as indústrias culturais e criativas do que o turismo ou o sector automóvel; Portugal é um dos quatro únicos países da União Europeia onde ainda não existe rede 5G; em Portugal nos últimos 11 anos os preços nas telecomunicações cresceram 6,5% mas caíram 10,8% na UE;  as mortes Covid em Janeiro são quase tantas como as ocorridas no total entre Março e Novembro; o número de desempregados voltou a ultrapassar a fasquia dos 400 mil; no sul do país, o desemprego aumentou mais de 63% face a fevereiro de 2020 e a seguir na lista surge a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o desemprego se agravou em mais de 35%; mais de 22 mil empresas pediram acesso ao lay-off em Janeiro; André Ventura ficou em segundo lugar em 203 dos 308 concelhos do país e em 12 dos 20 distritos; ficou em segundo lugar onde há elevado défice demográfico, em territórios abandonados, com populações envelhecidas; ficou em segundo lugar onde há mais 20% de população estrangeira; ficou em segundo lugar nos concelhos que tiveram no início de janeiro mais do dobro dos casos de novas infecções de covid-19 do que a média do país; são os concelhos  onde o desemprego mais cresce e onde existe maior frustração pela gestão da pandemia. 

 

ARCO DA VELHA  - Estima-se que cerca de cinco mil eleitores votaram no candidato fantasma Eduardo Baptista, que foi  incluído no boletim de voto em primeiro lugar, mesmo sem ter angariado as assinaturas necessárias para a apresentação da candidatura.

 

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MAAT VIRTUAL - Ao fim de sete meses Beeline, a intervenção arquitetónica encomendada pelo MAAT ao estúdio SO – IL, sediado em Nova Iorque, está agora obviamente encerrada mas durante estes dias de confinamento existem alguns conteúdos virtuais para desfrutar: ouvir as palavras dos arquitetos sobre o papel da prática do design efémero e a missão da arquitetura, explorar a instalação e as exposições que a acompanham em textos e imagens por escritores e fotógrafos de renome, e recordar eventos que acolheu como parte do maat Mode 2020, um programa público, participativo e experimental, que apresentou 86 projetos envolvendo mais de 220 participantes internacionais e instituições parceiras. Pode ter uma ideia de tudo isto no canal do MAAT no YouTube e se visitar o site do MAAT pode também ver as fotos que Iwan Baan fez de Beeline,  assim como textos sobre o trabalho de intervenção do estúdio SO-IL-

 

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UM PEIXE EM CANÇÕES - Volta e meia há uns discos que nos causam um sobressalto. Um bom sobressalto. É o que me aconteceu com “Peixe Azul”, o novo trabalho de  Miguel Araújo. O melhor é ouvi-lo: “As gravações deste disco começaram no final de 2018, que foi quando eu consegui ter o meu estúdio pronto. Fui gravando uma espécie de "maquetes melhoradas" de algumas músicas que tinha na altura, sem saber que muitas dessas gravações acabariam por ser as que estão agora no disco: algo não muito produzido, com arranjos feitos e tocados exclusivamente por mim de forma natural e despretensiosa. Fui fazendo este disco entre Novembro de 2018 e Julho de 2020. Só no início de 2020 é que me surgiu a ideia de converter esse processo num disco. “ E sobre as canções? - “A escrita da canções é algo que eu vou fazendo ao longo do tempo, de uma forma desorganizada e caótica. Uma das canções, “Gabriela de Jesus”, tem letra escrita muito recentemente (verão de 2019) por cima duma melodia que eu inventei aos 17 anos e da qual nunca me esqueci. Portanto essa demorou 25 anos. Algumas escrevi mesmo perto do fim do processo, como por exemplo “Balzac”, que escrevi  durante os ultimos dias das misturas, quando achava que o disco estaria terminado. "As Velhas que Cosem as Meias dos Netos" é um poema que escrevi em Junho de 2007 quando a minha avó morreu, e cuja música fiz durante as gravações. O confinamento propiciou este disco na medida em que as minhas visitas ao estúdio (que fica na cave de minha casa) passaram a ser diárias, das nove às cinco, literalmente. À boa maneira dos discos confinados, foi todo feito por mim: capa, arranjos, produção, todos os instrumentos, agora até a venda e distribuição. Em quase todos os casos, eu rematei, finalizei as canções durante as gravações, a partir de esboços que vou acumulando quase diariamente há 20 anos. Esse é sempre o meu processo.” Miguel Araújo é quem melhores canções escreve e interpreta hoje em dia em Portugal. Este”Peixe Azul” tem dez canções, tornou-se num disco que ouço a toda a hora e sorrio cada vez que o volto a ouvir. Está por enquanto só á venda on line em www.miguelaraujo.pt 

 

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SOBRE A IGUALDADE - Quando pego num livro tenho sempre a tentação de ver a primeira frase e, às vezes, a última. Neste caso, a última é que vale: as criaturas lá fora olhavam de porco para homem, de  homem para porco e novamente de porco para homem; mas já era impossível dizer qual era qual”. O livro em questão é “1984”, de George Orwell, que acabou de voltar a ser publicado, pela Bertrand, numa boa tradução de Maria Antunes. Em Portugal, a primeira edição desta obra, foi intitulada “O Porco Triunfante” e data de 1946, devendo-se  à Livraria Popular de Francisco Franco.“1984” foi escrito por Orwell entre 1943 e 1944, no final da Guerra e conta a história de uma quinta tomada pelos seus explorados e maltratados animais, que decidem criar um novo sistema de progresso, justiça e igualdade. É, na essência, uma fábula que na verdade, é um retrato político e social da implantação de um regime totalitário e que ganha uma actualidade inesperada por estes dias. Não deixa de ser curioso voltar a esta obra de Orwell, que foi também o autor de “1984”, um premonitório livro sobre o mundo em que vivemos e que também foi agora reeditado, neste caso pelos Livros do Brasil.

 

SOPA COM ABSINTO - A “Konfekt”, uma nova revista do grupo que edita a “Monocle” tem uma newsletter,  "Kompakt", que entre outras coisas recomenda um vinho e propõe uma receita. O vinho não é fácil de encontrar no confinamento, mas a receita é possível e aqui fica ela, pela mão do chef Richard Kagi, de Zurique que conta que a ouviu num concurso radiofónico de receitas. Trata-se de uma sopa de abóbora com absinto - adivinha-se uma coisa decadente… Esta escolha foi-me sugerida pela minha fiel conselheira e passou o teste que fizémos esta semana. Então para os ingredientes: um kg de abóbora, uma colher de sobremesa de caril de boa qualidade, 200 ml de vinho branco seco, 800 ml de caldo de galinha ou de legumes, 200 gramas de mascarpone (e um pouco mais para o enfeite final no empratamento) e ainda um dedal de absinto (o português Neto Costa é perfeito…). A abóbora deve ser descascada e cortada em cubos, que depois vão ao forno a 180 graus durante cerca de uma hora. Uma vez assada mistura-se no caldo de galinha, já com o caril, e passa-se tudo com o 1-2-3. Depois adiciona-se o mascarpone, mexe-se bem e deixa-se apurar em lume brando, com um toque de absinto. Como o absinto tem um gosto forte vão experimentando a partir de uma pequena dose para que não se torne demasiado presente. Adicione sal e pimenta a gosto. Serve-se em pratos fundos e coloca-se um pedaço de mascarpone por cima no empratamento final. Bom apetite. O sabor é verdadeiramente inesperado e magnífico. E neste tempo sabe sempre bem uma sopa quentinha. 

 

DIXIT - “A esquerda foi a grande derrotada e a direita não conseguiu ganhar” - António Barreto.

 

BACK TO BASICS -  “Há quem diga que o tempo muda as coisas, mas na realidade somos nós que temos que as fazer mudar" - Andy Warhol.







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publicado às 11:00

O PERIGO DA POLÍTICA DO ZIGUE ZAGUE

por falcao, em 22.01.21

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AS CONTRADIÇÕES NA PANDEMIA - Se quisermos resumir as coisas, a estratégia do governo para o combate à pandemia tem sido um passeio na montanha russa. Depois do confinamento de Março escancararam-se os portões no verão, fecharam-se no outono, mas com muitas frestas, e depois escancararam-se de novo as portas nas últimas semanas de Dezembro. O resultado desta montanha russa de decisões está infelizmente à vista e é dramático. Falta de atenção às evidências científicas, falta de planeamento em matéria de organização e meios no sistema de saúde e  uma comunicação péssima são os erros que nos trouxeram aqui. Citando sábias palavras amigas, as mensagens contraditórias de abre e fecha levaram-nos onde estamos. Na realidade, um dos princípios básicos da comunicação tem em conta a clareza da mensagem. Ambiguidades e contradições são para utilizar em contextos em que o resultado final pouco importe ou possa vir a ser anulado. Quando se estabelece um sentido de urgência para a adopção de determinados comportamentos, como numa situação de pandemia em que a saúde pública e as vidas das pessoas são postas em causa, a necessidade desse básico é ainda mais evidente. O contrário de uma mensagem clara e inequívoca pode ser uma mensagem paradoxal ou uma contraditória. As mensagens paradoxais deixam os receptores enredados numa teia de onde dificilmente saem, já que uma coisa e o seu contrário são ambos percebidos como válidos. Já as mensagens contraditórias deixam o caminho aberto à escolha do comportamento a adoptar. Ora, parece que o estilo adoptado pelo Governo para anunciar o confinamento terá ido pelo caminho da contradição. Senão vejamos: uma semana antes começou a preparar os cidadãos para um novo confinamento que seria mais rigoroso do que o primeiro, para no dia da comunicação ao país enunciar umas boas dezenas de excepções que permitem aos cidadãos – e se conhecemos a nossa habilidade para enganar regras – escolher a maneira de se comportarem. Muitos respiraram de alívio, outros ficaram preocupados e hoje temos uma grande parte da população em pânico. O que se espera de uma liderança é que ela – sobretudo em momentos difíceis - nos transmita mensagens claras ainda que duras, que nos guie, que vá à frente e não que vá atrás com o dedo apontado à nossa irresponsabilidade. Porque somos todos nós que estamos cansados. Uma mensagem clara é percebida por todos os receptores da mesma maneira, não deixa espaço para a dúvida e normalmente reduz o cansaço pela simples razão de que não é necessário repeti-la.   Esperemos que a montanha russa não recomece no carnaval e na Páscoa. Não chegámos aqui por acaso ou por infortúnio, foi por uma sucessão de erros que potenciaram o perigo da pandemia. A situação não era fácil, mas ficou pior quando a vontade de agradar se misturou com a falta de preparação e a falta de coragem de tomar medidas a tempo e horas. 



SEMANADA - Os cinemas portugueses sofreram uma quebra de 75,55 por cento em audiência e receitas no ano passado face a 2019, correspondendo a menos 11,7 milhões de espectadores em sala; O Instituto do Cinema Audiovisual (ICA) indica que em 2020 as salas de cinema tiveram 3,77 milhões de espectadores, quando em 2019 tinham sido emitidos 15,5 milhões; o domínio português na internet, .pt, viu o número de registos crescer 22,9 por cento, fechando o ano de 2020 com mais 96 mil; os eventos cancelados desde que o Governo anunciou a intenção de implementar um novo confinamento geral provocaram perdas superiores a um milhão de euros na facturação das empresas do sector, segundo a Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE); os casinos físicos portugueses perderam 50% das suas receitas brutas em 2020, tendo fechado o ano com uma faturação de 157,9 milhões de euros, o valor mais baixo dos últimos 23 anos; em 2020 registaram-se em Portugal menos 345 mil voos que no ano anterior, uma quebra de 58%; na primeira semana do confinamento o consumo de televisão não registou subida, ao contrário do que aconteceu em Março; os doentes internados em Lisboa e Vale do Tejo já são mais do dobro do máximo previsto há três meses; o cenário a que assistimos é equivalente a todos os dias cair um avião cheio de portugueses; esta semana Portugal tornou-se o país do mundo com mais casos por milhão de habitantes e o 2º em mortes; “não podemos tomar decisões conforme as pressões” - afirmou António Costa em Bruxelas sobre o reforço das medidas de confinamento.

 

CURIOSIDADES CONTEMPORÂNEAS  - A China foi a única potência mundial a crescer em 2020.

 

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PASSEAR NUM MUSEU -  Galerias fechadas, museus encerrados. O que podemos fazer? - Voltar a explorar as possibilidades de navegar pela internet! A Gulbenkian tem desenvolvido bons recursos no seu site que nos permitem, nestes dias mais difíceis, ter a ilusão de podermos ver e ouvir sem sair de casa. Se forem ao site gulbenkian.pt e seleccionarem a área de Museu e depois museu online poderão descobrir as várias colecções em visitas virtuais que funcionam bem, quer na Colecção do Fundador, quer na Colecção Moderna. Se escolherem as exposições actuais, por exemplo, poderão ver uma visita virtual da exposição de Lalique (na imagem) e também uma visita guiada a esta mostra feita pela curadora que a organizou, Luisa Sampaio. E, já agora vão até ao YouTube e pesquisem por Gulbenkian. Irão dar com o canal da Fundação onde têm numerosos vídeos sobre o museu e as exposições, mas também os registos das gravações das emissões de streaming de diversos espectáculos, como os recentes Concerto do Ano Novo ou Uma Noite na Ópera. Por ali têm muito com que se entreterem. Enquanto não podemos voltar às nossas galerias preferidas, pelo menos podemos explorar o que a internet hoje nos possibilita. E a oferta online da Gulbenkian é boa.

 

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MÚSICA PARA DIAS FRIOS - Há alguns anos que vou seguindo o que a editora musical ECM vai fazendo. Fundada em 1969 em Munique por Manfred Eicher, a ECM abriu a porta primeiro ao jazz europeu, depois a músicos de outras nacionalidades e a outros géneros musicais. De Keith Jarrett a Pat Metheny, passando por Dave Holland, muitos dos melhores músicos gravaram para a editora. Desde 2017 a ECM passou a ter todo o seu catálogo disponível nas plataformas de streaming. É um catálogo cheio de diversidades, de experiências, mas também de discos que hoje são clássicos da música contemporânea. Agora, no início deste ano, a ECM actualizou nas plataformas de streaming, sob a forma de uma playlist, uma colectânea apropriadamente intitulada “Deep Winter”. São três dezenas de temas, mais de duas horas de música criteriosamente escolhida de nomes como John Cage, Jan Garbarek, Meredith Monk, Terje Rypdall, Keith Jarrett, mas também Bach, Bela Bartok. Esta é uma boa oportunidade para descobrir o som da ECM. Se visitarem o site da editora poderão também descobrir a sua actividade mais recente. Eu tenho este “Deep Winter” em modo “repeat” há vários dias. 



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ESPÍRITO ORIENTAL - “A glória, como vós sabeis, é uma coisa amarga”, lê-se no último parágrafo de “O Marinheiro Que Perdeu As Graças do Mar”. O livro, um dos mais breves e poderosos romances da obra de Yukio Mishima, foi publicado originalmente em 1963, revelando um olhar radical e cru sobre a honra perdida de uma sociedade japonesa transformada pela guerra. Relata os sentimentos de jovens testemunhas de um amor que ultrapassa ventos e marés e que, ao olhar de um adolescente e seus amigos, é sintoma de uma fragilidade humana perigosa e inaceitável. Noburo e seus amigos estão no centro do livro. Quando a mãe de Noburo conhece o marinheiro Ryuji e se envolve com ele, o rapaz fascina-se com as histórias de aventuras no alto-mar, com a coragem e a calma daquele homem, com a solidez do seu corpo. Assim que o marinheiro desilude os ideais fundamentalistas, o grupo de amigos de Noburo monta e põe em marcha um plano de vingança. Yukio Mishima, pseudónimo de Kimitake Hiraoka, nasceu em Tóquio em 1925 e suicidou-se praticando o ritual seppuku, a 25 de novembro de 1970, manifestando assim a sua discordância perante o abandono das tradições japonesas. A sua obra e a sua vida estão enraizadas no tradicionalismo militar e espiritual dos samurais. Bem sei que as livrarias estão fechadas e os livros são considerados por este desgoverno produtos não essenciais. Mas pode sempre utilizar uma das plataformas online para encomendar este magnífico Mishima.

 

SALADA DE INVERNO  - Confinados, resta voltar à cozinha. Já no primeiro confinamento criei uma rotina de imaginar menus, pesquisar na internet, ver o que podia  fazer com ingredientes fáceis de encontrar em supermercado. Cozinhar aliviou-me da tensão do teletrabalho e agora, de novo, é uma pausa que ajuda a descontrair desta ansiedade inevitável causada pela pandemia e pelo agravamento da situação. A proposta que vos deixo esta semana, apesar das temperaturas baixas, é de uma salada caprese, mas esta é especial e quentinha. Comecem por preparar a quantidade de que necessitarem de quinoa branca da forma habitual, e entretanto aqueçam o forno a duzentos graus. Quando a quinoa estiver quase cozinhada misturem um tomate picado, espinafres baby frescos, parmesão ralado e sal e pimenta a gosto. Espalhem a quinoa com estes aditivos numa travessa de ir ao forno e por cima coloquem tomate às rodelas, com duas bolas de queijo mozarella cortado às fatias e reguem com um fio de azeite. Levem tudo ao forno durante cerca de meia hora até o queijo começar a derreter e a ficar levemente tostado. Antes de levar para  a mesa coloquem por cima folhas de manjericão fresco. Bom apetite para esta caprese de inverno.

 

DIXIT - “Ouvindo falar o Primeiro Ministro parece que não foi este Governo que esteve a gerir este processo da pandemia e nos trouxe a um ponto entre a espada e a parede” - Tiago Mayan Gonçalves

 

BACK TO BASICS - “Tem sido dito que o homem é um animal racional e eu tenho passado a minha vida, sem sucesso, à procura de provas que confirmem isto” - Bertrand Russell

 



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PRESIDENCIAIS: ELEIÇÃO OU REFERENDO?

por falcao, em 15.01.21

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PARA QUE SERVEM ESTAS ELEIÇÕES ? - Não sei bem se chame eleições ou referendo ao que se vai passar a partir do próximo Domingo, dia de voto antecipado. Todas as sondagens apontam para uma confirmação de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República - resta saber qual a abstenção e com quantos votos contará o Presidente no final. O risco que corre, se a abstenção for grande, é ficar politicamente fragilizado, o que qualquer Governo não deixará de aproveitar. Marcelo é verdadeiramente o único candidato que corre pela vitória, os outros estão nestas eleições apenas para afirmação dos seus projectos políticos ou pessoais, num exercício de propaganda. Estas eleições, cuja campanha decorre numa situação restritiva devido à pandemia, serão certamente objecto de estudo futuro. Esta é uma campanha sem rua, assente na televisão e nos outros meios de comunicação. Os afectos, agora, são virtuais. E como funcionaram os debates? O que se sabe,para já, é que o acumulado de espectadores que seguiram os debates em todos os canais ultrapassou os seis milhões e meio. O debate mais visto foi o de Marcelo Rebelo de Sousa com André Ventura, transmitido na SIC e SIC Notícias e que ultrapassou os dois milhões de espectadores. O debate com todos os candidatos na RTP1 na noite de terça-feira ficou-se pelos 450 mil espectadores, enquanto na SIC e TVI, no mesmo horário,  uma telenovela e a transmissão do  Benfica-Estrela da Amadora tiveram bem mais que um milhão de espectadores cada. Mas nesta campanha houve surpresas - desde o desempenho de Vitorino Silva (Tino de Rans), que chegou até a corrigir uma pergunta mal feita por Miguel Sousa Tavares, até à forma como Tiago Mayan Gonçalves conseguiu posicionar e explicar o que de facto são as ideias liberais que defende, surpreendendo muita gente e tendo um comportamento elogiado pela maioria dos comentadores. Isto traz-nos à questão dos candidatos. À excepção de Marcelo, que corre para a reeleição, os outros correm para se posicionarem. Não serão presidentes, mas há ideias que merecem aplauso. Para mim as que foram defendidas por Tiago Mayan Gonçalves são aquelas de que me sinto mais próximo e por isso o meu voto irá para ele. Estas eleições também podem servir para mostrar que há alternativas a considerar fora do quadro partidário anquilosado que nos governa. E é isso que farei.



SEMANADA - Dois jornalistas foram vigiados, com recolha de imagens, por uma equipa da PSP ao longo de cerca de dois meses e as contas bancárias de um deles foram passadas a pente fino por ordem de uma procuradora do Ministério Público que os investigava por violação de segredo de justiça; a magistrada pretendia saber quais as fontes dos jornalistas; pela primeira vez, em democracia jornalistas foram vigiados e fotografados pela polícia, as suas mensagens vasculhadas sem cobertura legal, violando o direito ao sigilo profissional, com o sigilo bancário levantado de forma completamente ilegal; estas acções foram ordenadas pela procuradora do Ministério Público Andrea Marques, com conhecimento da Diretora do DIAP de Lisboa, Fernanda Pego; o despacho da procuradora Andrea Marques sobre a vigilância efectuada viola o direito do jornalista à proteção das fontes e ao sigilo profissional, nos termos dos artigos 8º e 11º da Lei nº 64/2007;  as acções ordenadas violam ainda o direito à intimidade e reserva pessoal e o direito de imagem dos visados, podendo configurar a autoria moral do crime de devassa da vida privada, de acordo com o que prescreve o artigo 192 do Código Penal; até à data em que escrevo, quarta-feira, ainda não se conhece nenhum comentário do Primeiro Ministro ou da Ministra da Justiça sobre o assunto; também nenhum dos candidatos à Presidência se manifestou em defesa da lei que protege o sigilo profissional dos jornalistas; o Presidente da República também ainda não disse nada, até à data, sobre este atentado à  liberdade de Informação.

 

ARCO DA VELHA  - Apesar da grande quantidade de testes realizados por famílias antes do Natal e do Ano Novo os casos positivos que foram identificados não tiveram  controlo epidemiológico adequado e a larga maioria dos infectados, 87%, não foi contactada pelas autoridades de saúde para ser feito o habitual rastreio de forma a tentar determinar a cadeia de contágio.

 

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FOTOGRAFIA DE RUA -  Eu hoje tinha uma exposição para recomendar, que tinha a inauguração prevista para este fim de semana. Mas não vai acontecer. A exposição de que falo estava prevista para o Centro Cultural de Cascais, por iniciativa da Fundação D. Luis I. A exposição estava prevista durar até 16 de Maio, esperemos que findo o confinamento ainda a possamos ver. Vale a pena e a história da fotógrafa é fantástica. Vivian Maier era uma ama que nos tempos livres passeava e fotografava as ruas das cidades dos Estados Unidos onde viveu, com uma Rolleiflex, como se pode ver na imagem. Através dos seus retratos de desconhecidos nas ruas dos EUA nas décadas de 1950 e 1980, a maior parte em preto e branco, Maier documentou, registou e interpretou o mundo ao seu redor, na América urbana na segunda metade do século XX. Durante mais de quarenta anos, Maier trabalhou como ama em Chicago. Nos tempos livres, percorreu as ruas daquela cidade e de Nova Iorque fotografando cenas da vida quotidiana, observando pessoas de todas as idades e classes sociais. O resultado dessas excursões fotográficas é uma obra impressionante que compreende mais de 100 mil imagens, descobertas em 2007 quando o historiador John Maloof comprou em leilão o conteúdo abandonado de dois contentores de armazém e se viu na posse de milhares de negativos, diapositivos e fotografias impressas. A exposição “Vivian Maier Street Photographer”, que já está montada no Centro Cultural de Cascais e que poderemos ver daqui a poucas semanas mostra imagens captadas entre 1953 e 1984, na sua maioria a preto e branco. Esperemos então que o confinamento passe…



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SWIFT AMADURECIDA - Poucos meses depois de ter lançado o álbum “Folklore”, Taylor Swift regressa com mais um trabalho fruto da quarentena, do isolamento em que tem estado. Assim de repente, sem aviso prévio, como já tinha feito com “Folklore”, Swift juntou 17 canções  em “Evermore”. Os dois álbuns são quase gémeos, têm uma relação próxima um com o outro. As canções funcionam como short stories que se articulam entre si, mas este “Evermore” é mais variado e ousado em termos de sonoridade do que “Folklore” e também é mais maduro. Há aqui momentos surpreendentes como “No Body, No Crime”, uma balada claramente inspirada no country, que contrasta com o pop de “Gold Rush” ou de “Dorothea” ou, num salto noutra direcção, com a forma como Swift canta em “Closure”, alterando a sua voz com filtros electrónicos. No geral a produção é mais cuidada, como se depois de “ Folklore” ela tivesse decidido limar arestas, melhorar a produção por forma fazer ressaltar as letras que escreveu e as histórias que quis contar. O melhor exemplo disso é “Marjorie”, uma jóia de composição e de escrita, em que Swift se empenha na interpretação de forma especial. Numa outra canção, “Happiness”, gravada apenas uma semana antes de lançar este disco, ela resume o seu estado de espírito:  “I was dancing when the music stopped/And in the disbelief/I can’t face reinvention/I haven’t met the new me yet.” Disponível em streaming.

 

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LIVROS DE COMPANHIA - Gosto de almanaques. Costumo comprar o do Borda d’Água e mais recentemente tornei-me fiel leitor do Almanaque Bertrand. O primeiro Almanaque Bertrand data de 1899 e o que está agora à venda, abrangendo os anos de 2020 e 2021, é o nº 80. São 180 páginas com capa cartonada ao preço de cinco euros. Uma pechincha. A coordenação editorial é de João Pombeiro e aqui há de tudo - recomendações para cuidar do jardim, pequenas histórias, palavras cruzadas, calendários, páginas para tomar notas, efemérides de cada mês, fases da lua, poemas de autores tão diversos como  Ricardo Reis, António Nobre, Cesário Verde, Olavo Bilac, Mário de Sá  Carneiro ou  Natália Correia, textos de Raul Brandão, de Eça de Queiroz, Clarice Lispector ou Machado de Assis, entre outros, diversas informações úteis, a lista dos Domingos de Páscoa até 2060, curiosidades, adivinhas, citações de vários autores, provérbios e passatempos. Este é um daqueles livros que gosto de ter em cima da minha mesa de trabalho para ir folheando à procura de uma ideia, de uma inspiração. E raramente falha. É um belo livro de companhia. Está aqui ao meu lado.



OS SABORES QUE FICAM - Aí vem mais uma época terrível para os restaurantes, o novo confinamento vai ser outra rude machadada. Há dias o responsável de um dos meus restaurantes preferidos dizia-me que agora, quando se estava a recuperar um bocadinho da crise anterior, é que tudo se complicava de novo. Não encaro nenhum dos restaurantes onde vou com maior frequência como um mero local para comer. Claro que pretendo que a comida seja bem confecionada, que me proponham pratos que não sei confeccionar ou não tenho paciência para fazer em casa. Mas sobretudo gosto de um certo ar familiar, que o serviço seja atento sem ser subserviente, que tenha poucas modas, que seja consistente na cozinha e coerente na relação qualidade-preço. Gosto de locais onde revejo clientela habitual, onde tanto se pode conversar tranquilamente como ficar sozinho a petiscar e a observar. Não gosto de alguns sítios recentes, muito em moda, algo artificiais, que mais parecem montras de comensais exibicionistas que outra coisa qualquer. Espero que os meus restaurantes favoritos saiam vivos desta maldita pandemia, que o Duarte continue a guiar bem o Salsa & Coentros, que o Albano continue a garantir os petiscos do Apuradinho, que no Casa Nostra, um sobrevivente do Bairro Alto, a cozinha continue sempre uma boa surpresa e que o Mariano e a restante equipa de sala continuem a criar um ambiente especial, e que na Primavera do Jerónimo os panados da D.Helena permaneçam sem rival. Há mais sítios, mas estes são aqueles de que mais me vou lembrar ao longo deste novo confinamento.



DIXIT - “Na verdade, quem não resistiu a fazer uma oferta natalícia de quatro dias de congelamento do distanciamento social foram os dirigentes políticos e não a pressão das famílias. E são as suas políticas e decisões que devem ser escrutinadas” - Eduardo Dâmaso, Director da Sábado

 

BACK TO BASICS - "Quando a imprensa não fala, o povo é que não fala. Não se cala a imprensa. Cala-se o povo" - William Blake









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publicado às 11:00

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A IMAGEM DO DESGOVERNO - Quando se está numa situação de limitação de direitos, como a que a pandemia está a provocar, é preciso ter redobrado cuidado com a prepotência e o abuso de poder. O Primeiro Ministro tem obrigação de ter isto em conta e o Presidente da República tem o dever de vigiar e exigir a resolução de situações que radicam em incompetência, favorecimento, corruptelas de poder. Em pouco tempo, nas últimas semanas, o Ministério da Administração Interna e Ministério da Justiça mostraram falta de respeito pelos portugueses. Ultrapassaram limites. Os seus responsáveis não deveriam poder continuar nos postos, escudados em demissões de subalternos  e na desculpa de não mexer no Governo durante a Presidência da União Europeia. António Costa foi ministro da justiça em 1999, no XIV Governo Constitucional, chefiado por António Guterres. Demitiu-se de ministro, na sequência da crítica feita ao seu ministério em relação ao inquérito sobre o caso de Camarate onde Sá Carneiro morreu. O autor da crítica foi Ricardo Sá Fernandes, que integrava o mesmo Governo como secretário de estado dos assuntos fiscais, que conhecia bem o processo  e que criticou as conclusões do ministério da justiça. Por isso mesmo António Costa está especialmente bem colocado para saber quando um membro do Governo se deve afastar. Num tempo em que todos sentimos limitações de que não gostamos e que não queremos que se tornem rotina, o Ministro da Administração Interna fechou os olhos a violações intoleráveis dos direitos humanos e a Ministra da Justiça foi portadora de uma mentira para proteger um favorecimento. É isto que queremos preservar para os outros países da União Europeia? É esta a ética republicana que enche a boca dos responsáveis?

 

SEMANADA - A linha pública de apoio ao Brexit só chegou a sete empresas portuguesas e os apoios públicos disponíveis de 50 milhões de euros quase não foram usados; uma sondagem recente indica que dois terços dos portugueses pensam que Eduardo Cabrita não tem condições de se manter no cargo de Ministro da Administração Interna depois dos factos relacionados com a morte de Ihor Homeniuk às mãos do SEF; só três dos 20 projectos do plano Ferrovia 2020 ficaram prontos a tempo e 20% dos 2,1 mil milhões previstos não foram sequer utilizados; o défice de 2020 é o maior dos últimos 17 anos; 40 mil empresas em crise devido à pandemia já pediram apoios a fundo perdido; de janeiro até final de novembro as famílias gastaram mais 692 milhões de euros nos supermercados em resultado da transferência do consumo de fora de casa para o lar durante os períodos de confinamento; cinco funcionários da segurança social vão ser julgados num processo de corrupção relacionado com a atribuição a troco de dinheiro de do número de segurança social a cidadãos estrangeiros; no ano europeu da ferrovia Lisboa não tem comboios internacionais; soube-se esta semana que há cinco anos uma investigadora recebeu queixas de agressões contra um detido no centro de instalação temporária do SEF no Porto e fez a denúncia à direcção daquela polícia, que considerou a informação caluniosa; uma sondagem promovida pela SEDES concluiu que 65,2% dos portugueses gostariam de eleger os seus representantes de forma mais directa; em 2020 os depósitos bancários das famílias alcançaram o maior valor de sempre; o Instituto de Emprego e Formação profissional exige licenciatura a formadores nas áreas de cabeleireiro, esteticista, cozinheiro ou costura; Saudade foi nomeada a palavra do ano num inquérito promovido pela Porto Editora.

 

ARCO DA VELHA  - O Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita,  aceitou que os boletins de voto para as eleições presidenciais incluam o nome de um candidato que não foi admitido pelo Tribunal Constitucional.

 

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O PODER DAS BALADAS - Matt Berninger ganhou fama como fundador e vocalista de uma das bandas mais importantes dos últimos anos, The National. Há poucos meses lançou o seu primeiro disco a solo, “Serpentine Prison”, uma colecção de dez canções exemplares, escritas por si com diversos músicos seus amigos. A produção é de Booker T. Jones, um dos nomes clássicos da música americana, que já trabalhou com nomes tão diversos como Neil Young,  Bill Withers ou Willie Nelson. A interpretação de Berninger é despojada a um ponto pouco usual, deixando à vista a realidade de cada canção e a qualidade musical do trabalho feito, muito dirigido pelo produtor que optou por arranjos simples, deixando terreno abundante para Berninger ocupar com a sua voz. Essencialmente acústico, muitos temas têm uma simplicidade arrebatadora (por exemplo “Oh Dearie"), uma narrativa comovente como “Take Me Out Of Town” e “One More Second” ou revelam uma balada envolvente como “Silver Springs”, onde é acompanhado por Gail Ann Dorsey que trabalhou com David Bowie nalguns dos seus últimos trabalhos. Berninger não tenta replicar a sonoridade da sua banda The National, escolhe um ritmo mais lento, um som muitas vezes intimista e uma simplicidade que alcança um dos seus momentos mais emotivos em “All For Nothing” onde a sua voz e o piano se tornam marcantes. É claramente um dos melhores discos do ano passado - e deixo aqui o meu obrigado a Manuel Soares de Oliveira, o publicitário por trás da Mosca, por mo dar a descobrir. Disponível em streaming.

 

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IMAGENS DESTES TEMPOS  - Cartazes abandonados, marcas de incêndio, territórios devastados, interiores abandonados, vestígios de presenças passadas, obras inacabadas, explorações interrompidas. Ao longo das páginas espalham-se fragmentos de memórias, imagens incompletas, retratos da natureza desleixada, de templos arruinados, de estruturas destruídas. Esta é a síntese das imagens deixadas nas fotografias de Pedro S. Lobo, agora reunidas no livro "Not Yet", com edição em Portugal e no Brasil. Pedro S.Lobo, natural do Rio de Janeiro e que vive em Borba desde 2007, fotografou os grandes incêndios de 2017 e 2018 no centro do país e mais tarde seguiu os efeitos e as marcas que deixaram. Este livro evoca esse tempo e essas marcas, e acaba por ser o álbum de um ano devastador e interrompido como 2020 foi. No texto no final do livro, editado em Portugal pela Sistema Solar/Documenta, o autor esclarece que o seu objectivo é evocar as histórias que aconteceram antes do abandono. Christian Carvalho Cruz refere no mesmo texto que as imagens de Pedro S.Lobo são marcadas pela vida do autor, “vivida com o desespero e a violência de um pássaro que se esfola nas grades da gaiola”. Alexandre Pomar, graças a quem descobri este livro, escreveu no Facebook que “é inevitável associarmos a gravidade do percurso através das páginas ao peso opressivo deste ano ameaçador, mas as fotografias do Pedro Lobo não  ilustram a epidemia, as suas séries já lhe pertenciam, são algumas das  suas linhas de trabalho, entre outras, umas mais conceptuais (com  escritas), mais despertas para a surpresa e o humor (o insólito), mais  gráficas ou construídas (malhas, estruturas), mais documentais (...) sempre a atenção ao  património habitado, mesmo que património instável e desvalorizado.”

 

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A FORÇA DA ESCULTURA -  Começo o ano por mostrar uma peça que só pode ser vista em Stampa, na Suiça, nos jardins do edifício da fundação criada para preservar a obra do escultor Alberto Giacometti. A peça, em ferro, de grandes dimensões, foi criada pelo artista português Rui Chafes, a convite daquela  fundação. Intitulada "Occhi Che Non Dormono" ("Sleepless Eyes" ou "Olhos que Não Dormem"), a peça foi instalada  em finais de Novembro frente à casa onde o artista suíço viveu numa plataforma de madeira sobre o rio Maira. A obra já está colocada, mas só será formalmente inaugurada no dia 4 de Abril. Em 2018, na delegação francesa da Fundação Gulbenkian, e por iniciativa de Helena Freitas, foi mostrada a exposição “Gris, Vide, Gris” que juntava obras de Giacometti e de Chafes. Essa mostra reunia sete esculturas de Rui Chafes, seis concebidas para o projeto, e 11 esculturas e quatro desenhos de Giacometti, entre as quais "Le Nez". Vem dessa altura a ideia de assinalar a ligação entre a obra de Chafes e de Giacometti, na casa onde este viveu. “O olhar aspira ao infinito para além do rio Maira e das encostas da montanha e os olhos percebem, vêem e redesenham a relação com a paisagem e o invisível” - afirma Virginia Marano, curadora da instalação. Outros destaques já que estamos a falar de escultura - em Serralves até Junho está a exposição “Deslaçar Um Tormento” que exibe trabalhos de Louise Bourgeois. E em Lisboa, no Museu Berardo, Cristina Ataíde mostra a diversidade do seu trabalho em “Dar Corpo Ao Vazio”.


COMIDA INVERNAL -  Nos dias frios há que saber escolher refeições quentes, mais demoradas, aquilo a que se chama cozinha de conforto, que nos satisfaz e aquece a alma. Um dos pratos que melhor se encaixa nesta categoria é o clássico salsichas frescas enroladas em couve lombarda. Não é fácil de encontrar nos restaurantes lisboetas e é menos simples de fazer do que aquilo que se pensa. Em primeiro lugar as salsichas têm que ser mesmo muito frescas e da melhor qualidade - o que de si já não é a coisa mais simples do mundo. Depois, a couve lombarda tem que ser macia. É necessário tempo ao lume, cuidado com o tempero e o molho. Eu julgava que a receita era essencialmente portuguesa, mas descobri por estes dias  que faz parte das receitas da semana do Cooking do New York Times. Há muitas receitas na internet, mas se quiserem experimentar a sério podem tentar se no Apuradinho está disponível por estes dias - Rua de Campolide 209, tel 213 880 501.

 

DIXIT - “Corremos o risco de o Governo Costa ficar na história pela supina banalização da irresponsabilidade política” - Paulo Rangel

 

BACK TO BASICS - “Qualquer idiota é capaz de criar algo complexo. Para fazer coisas simples é preciso génio” - Pete Seeger

 




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