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LISBOA - QUE CIDADE QUEREMOS?

por falcao, em 26.03.21

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ESTA LISBOA - Nos anos 80 Lisboa começava a dar nas vistas: politicamente havia mais estabilidade, novos negócios começavam a abrir, a noite explorava territórios diferentes, culturalmente havia muita coisa a mexer, da música às belas artes, surgia imprensa inovadora que mostrava outro lado das coisas. Lisboa era a estrela em filmes como “A Cidade Branca”, de Alain Tanner, lá fora havia artigos sobre a transformação da cidade. Os Heróis do Mar apareciam na revista francesa “Actuel” e na britânica“The Face”. No início da década de 90 a agitação era ainda maior -  Portugal foi o país escolhido em 91 para a Europalia, em Bruxelas, o grupo Madredeus, convidado para o programa desse festival, internacionalizou-se a partir daí graças à digressão europeia que fez e uma das suas canções foi escolhida como banda sonora de um spot publicitário de uma marca global. Em Lisboa o CCB abriu portas e a cidade recebeu a primeira presidência portuguesa da Comunidade Europeia. Em 1994 Lisboa foi a Capital Europeia da Cultura, Wim Wenders veio cá filmar “Lisbon Story” e a seguir a Exposição Mundial de 1998 - Expo 98 - mudou a zona oriental da cidade e culminou um ciclo de acontecimentos que colocaram a cidade no mapa de uma forma única. A internacionalização de Lisboa começou aí. Essa foi a semente de toda a notoriedade alcançada depois. Era uma cidade animada, criativa, dinâmica. Que tratava bem quem cá vivia e acolhia quem nos visitava de braços abertos. O que se tem passado nos últimos anos não é isso: a cidade virou costas aos residentes e abriu braços aos visitantes. Problemas que existiam, como a burocracia autárquica, apesar das promessas não foram resolvidos. Foram lançadas mais taxas locais. Os serviços de urbanismo não melhoraram. A cidade ficou menos confortável, mais cara e sobretudo mais descaracterizada. Segundo a Pordata, Lisboa numa década perdeu 10% da população tradicional, mas duplicou o número de residentes de outras nacionalidades. Não se tornou mais cosmopolita: perdeu alma e muito do que a tornava diferente. Está sem rumo. As próximas eleições autárquicas são sobre isto. Que cidade queremos? Seguir assim ou fazer diferente? 

 

SEMANADA - Em fevereiro o registo de desempregados subiu para 432 mil, o maior número desde 2017, mas a cobertura do subsídio de desemprego voltou a cair nesse mês para 56%; a maior parte dos pedidos de ajuda que chegam à Caritas portuguesa, cerca de 60%, são para rendas de casa; segundo o INE em 2020  os preços da habitação aumentaram mais de 8% e o Alentejo foi a única região onde a procura de casas aumentou; o município de Bragança anunciou que convida quatro famílias que possam trabalhar online a mudarem-se durante um mês para este território com tudo pago, no âmbito de um projeto que pretende atrair trabalhadores remotos para a região;  em 2020 os contribuintes portugueses apresentaram mais faturas de despesas de veterinários, lares e reparações de motociclos que em 2019 e a categoria de despesas com veterinários teve uma subida de 14,2%; os professores portugueses são os que apresentam maiores níveis de stress quando comparados com os de outros países da Europa; um dos produtos cujas vendas mais aumentaram no ano passado foi o do chocolate para culinária com um crescimento superior a 25%; o consumo de bens alimentares por parte das famílias portuguesas registou a maior subida dos últimos 25 anos, em 2020; segundo a Sociedade Ponto Verde durante a pandemia o aumento da materiais enviados para reciclagem foi de 13%;  a PSP e a GNR registaram 4901 contra-ordenações na primeira semana de desconfinamento e o dever geral de recolhimento domiciliário foi a regra mais quebrada na semana de 14 a 21 de março;

 

ARCO DA VELHA - Face à progressiva extinção da ovelha leiteira da Serra da Arrábida, conhecida por ovelha saloia, os criadores de ovinos da região criaram o projecto “Adote Uma Saloia” com o objectivo de angariar contribuições para a alimentação dos animais.

 

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A VALORIZAÇÃO DA ARTE - “Warrior,”  um quadro de 1982 da autoria de Jean-Michel Basquiat, foi vendido por 41,9 milhões de dólares num leilão on-line realizado pela Christie’s há poucos dias. Não se trata no entanto do maior preço alcançado por uma obra de Basquiat - em 2017, numa venda organizada em Nova York, um coleccionador japonês, o milionário Yusaku Maezawa, pagou 110 milhões de dólares por uma pintura sem título do artista. Este é o valor mais alto alcançado até agora por um trabalho de Basquiat, que no mercado da arte contemporânea é considerado um dos nomes que tem mais procura, em conjunto com Warhol e Picasso. O vendedor de “The Warrior”, o gestor imobiliário e colecionador de arte germano-americano Aby Rosen, também possui obras de Pablo Picasso, Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Cy Twombly, Alexander Calder, Damien Hirst e Richard Prince. Rosen comprou a obra na Sotheby’s London em 2012 por 8,7 milhões de dólares. E teve vendas anteriores por 5,6 milhões de dólares em 2007 e em 2005 por 1,8 milhão de dólares. Originalmente ”The Warrior” havia sido comprado por um coleccionador americano em meados dos anos 90 por 250.000 dólares. Basquiat nasceu em Brooklin, numa família porto-riquenha, colaborou com Warhol e tornou-se num dos expoentes da arte norte-americana do final do século passado. Morreu em 1988 com 27 anos. Esta venda culmina uma semana de leilões on-line organizados pela Christie’s e Sotheby’s. Segundo a Art Basel e a UBS o mercado de arte caíu cerca de 22 por cento em 2020, em comparação com 2019, para um total de cerca de 50 mil milhões de dólares, englobando as vendas em galerias, vendas privadas e  leilões públicos O mercado dos leilões teve uma queda ainda maior, na casa dos 30 por cento, para os 17,6 mil milhões. E por cá? Por cá galerias e museus preparam a reabertura para a segunda semana de Abril. Para a semana começamos a falar do que aí vem.

 

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A FUGA DA FAMA - Há dez anos atrás alguém sabia quem era Elizabeth Woolridge Grant? Hoje em dia também muita gente não conhecerá este nome - mas se dissermos que ela assina os seus discos como Lana Del Rey, aí as coisas começam a mudar. O seu primeiro disco como Lana Del Rey data de 2010 e até chegarmos ao novo "Chemtrails Over The Country Club”o ritmo foi de quase um álbum por ano - se incluirmos o disco de poesia declamada por ela, numa edição limitada  no ano passado. A revista norte-americana Rolling Stone considerou este Chemstrails como o seu álbum mais introspectivo, prosseguindo o caminho de ruptura com o sonho americano de Hollywood que ela já tinha iniciado em 2019 em “Norman Fuking Rockwell!”. No novo disco há uma frase que ela canta e que resume tudo: “I’m ready to leave L.A., and I want you to come”. Lana Del Rey continua a cantar a sua desilusão com a fama, afasta-se do mainstream pop que lha deu e aproxima-se das melodias tradicionais da música popular norte-americana. Não é por acaso que a derradeira faixa do disco é “For Free”, um original de Joni Mitchell, gravado em 1970, e onde se faz o contraste entre dois mundos: “I play if you have the money/ Or if you're a friend to me/  But the one man band/ By the quick lunch stand/ He was playing real good, for free.” Disponível em streaming.

 

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A VIDA PODE SER UM ROMANCE - Há uns tempos, em 2019, Rui Nabeiro, o homem que criou um império a partir de Campo Maior e dos cafés Delta, propôs a José Luís Peixoto que lhe escrevesse a biografia. Peixoto agradeceu o convite mas disse que em vez de uma biografia preferia pensar num romance que contasse a experiência de uma vida. Assim nasceu “Almoço de Domingo”,  a história de um “homem de 90 anos, que olha para o seu passado e faz um balanço de vida a partir de episódios significativos da sua história pessoal”, conta o escritor. Peixoto e Nabeiro têm em comum o Alentejo que os viu nascer e crescer. A poucos dias de completar 90 anos no próximo dia 28 de março, Rui Nabeiro serve de personagem ao escritor que pega justamente nesse aniversário para desfiar as memórias de toda uma longa vida. “Almoço de Domingo” decorre entre 1931 e 2021 e conta a história de uma figura que se tornou referência na sua terra, em Campo Maior, que abraçou causas, desenvolveu a actividade das suas empresas para além do país e do café que lhe deu fama. Esta é a história de um empreendedor que ao longo de momentos bem diferentes da vida portuguesa teve sempre um papel activo, que manteve a fábrica a funcionar mesmo em momentos difíceis e soube apostar em inovação quando foi preciso, passando o testemunho às gerações seguintes. Não é caso único em Portugal mas é, mesmo assim, caso raro, E ainda mais raro é escreverem-se romances sobre pessoas vivas. O título? - A família Nabeiro mantém a tradição do almoço de domingo, pano de fundo de todas as histórias que se vão desenrolando.

 

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OVO DEITADO EM CAMA DE COURGETTE - O confinamento produz uma quantidade fantástica de fotografias de comida no Instagram. Esta receita que vos proponho nasceu de uma imagem vista no Instagram - e não resisti a experimentar. Há muito que tenho um espiralizador, que permite pegar numa courgette e fazer longos fios da sua polpa. Chamo-lhe esparguete de courgette e uso-o muitas vezes, por exemplo salteado com atum de conserva. Mas desta vez a ideia era outra. Peguei em duas courgettes que espiralizei e num tabuleiro de ir ao forno fiz dois montinhos. Temperei com um fio de azeite, gengibre em pó, sal e pimenta moída na altura e ainda pimentão doce fumado - um ingrediente que estou a utilizar cada vez mais e que dá um toque invulgar aos cozinhados. No meio de cada monte fiz uma cavidade - já vão saber para quê. Pelo meio espalhei mozarella aos pedaços. Levei o tabuleiro ao forno a 220º durante dez minutos e depois dentro de cada uma das cavidades deitei um ovo. Polvilhei tudo com sementes de sésamo e levei de novo ao forno por mais seis minutos - deve chegar para a clara ficar opaca e a gema estar cozinhada, mas sem ter secado. Transfere-se cada monte para um prato e acompanha-se com um vinho rosé. Bom apetite.

 

DIXIT - “Esta pandemia veio demonstrar que essas luminárias que andam para aí a discutir que menos Estado é melhor Estado não têm noção do que é o Estado” - Isaltino Morais

 

BACK TO BASICS - “A coisa mais notável na política é ter a memória curta” . John Kenneth Galbraith






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A LENTA EUROPA - Isto dava para uma série policial: o estranho caso das vacinas desaparecidas. O tema é a forma como a União Europeia tratou do assunto da compra das vacinas, da garantia da sua entrega e como está a reagir a atrasos e percalços diversos. Todos já percebemos que  Ursula Von der Leyen tratou do assunto como de uma compra pública em vez de uma matéria urgente, sensível do ponto de vista da saúde pública da união dos estados a que preside e do ponto de vista da repercussão política das situações criadas. A impressão que dá é que a União Europeia colocou um amanuense habituado a tratar de compras de papel higiénico e consumíveis a negociar com as farmacêuticas que podiam fornecer as vacinas. O resultado está à vista - contratos não cumpridos, atrasos no fornecimento, ausência de atribuição de responsabilidades, um sensível atraso em relação ao calendário inicial, populações descontentes, estados membros a desalinharem-se das decisões da União. O caos, em suma. Eis o retrato perfeito das ineficiências da burocracia europeia. São efeitos que se estendem desde o processo de avaliação das vacinas, à interlocução e negociação com os fabricantes e vão até à dificuldade em garantir que não seriam feitas exportações da vacina para fora do espaço da UE antes de cumpridos os compromissos de fornecimento assumidos. Já nem falo de se ter conseguido colocar mais fábricas a produzir - recordo apenas que nos Estados Unidos a administração Biden  conseguiu levar a Johnson & Johnson a licenciar a Merck para fabricar a sua vacina de dose única, aumentando assim a capacidade de produção e entrega. Na Europa sabe-se que há várias instalações que podiam produzir vacinas e não o estão a fazer. A Presidência da União sobre estes assuntos não se pronuncia. Por acaso a presidência, até Junho, cabe a Portugal.

 

SEMANADA - Em 2020 os tribunais comunicaram ao Conselho de Prevenção da Corrupção 763 casos no âmbito da Administração Pública, os principais crimes foram de peculato e abuso de poder e a área da administração local surgiu associada a mais de metade dos casos; em 2020 registaram-se 18.889 casamentos, o valor mais baixo desde que há registos; o número de nascimentos em 2020 caíu 2,6% e o número de mortes cresceu 10,2%;  de acordo com dados da Marktest em 2020 o sector do comércio continuou a ser o maior investidor em publicidade, em segundo lugar ficou o sector das marcas de produtos alimentares e em terceiro a indústria farmacêutica; segundo a ANACOM em 2020 cerca de 7,5 milhões de pessoas tinham acesso à internet através do telemóvel e o tráfego em banda larga móvel aumentou 28,1% face a 2019; em 2020 o número de portugueses que viu filmes e séries na internet passou de 38 para 43% e o número dos que fizeram videochamadas aumentou de 52 para 70%; ainda segundo a ANACOM o número de famílias com acesso à internet em casa aumentou para 84,5% em 2020, o maior crescimento desde 2016 com o Alentejo, Algarve e Norte a registarem mais novas ligações;  o centro do SEF onde Ihor morreu cobra às companhias aéreas 100 euros de diária por cada passageiro que ali fica retido.

 

ARCO DA VELHA  - Um depósito clandestino de mais de 120 mil toneladas de resíduos perigosos, que existe há quase 20 anos,  em Setúbal, na Zona Protegida do Estuário do Sado, e que está a contaminar o lençol freático da Mitrena e as águas do rio, só agora foi detectado pelas entidades oficiais.

 

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O QUE É UM NFT? - Esta imagem mostra a aparência de “Everydays – The First 5000 Days”,  uma obra virtual criada digitalmente. Não tem existência física e o seu NFT (Non Fungible Token, ou ficheiro digital insubstituível) é o que tem valor por ser peça única  impossível de copiar e foi leiloado no passado dia 11 de Março por 69,3 milhões de dólares. O seu autor é um artista digital norte-americano relativamente pouco conhecido que assina como Beeple, mas cujo nome real é Mike Winkelman. Trata-se do terceiro valor mais alto alcançado por um artista vivo (os outros são Jeff Koons e David Hockney) . Winkelman iniciou este trabalho em 1 de Maio de 2007 e, desde então, todos os dias criou uma novo desenho. O NFT leiloado incorpora a junção digital de todas essas cinco mil peças feitas ao longo de 13 anos. A Christie’s, responsável pelo leilão, revelou que a quantia final foi alcançada nos últimos 10 minutos do prazo, quando o valor disparou dos 14 milhões, em que então estava, para 30 milhões e depois, num único lance, para o valor final da licitação. E quem foi o comprador? Uma empresa baseada em Singapura, a Metapurse, um fundo financeiro que colecciona NFT’s desde 2016,  dirigida por Metakovan, o pseudónimo do comprador da obra de Beeple. A Christie’s aceitou que o pagamento fosse feito através da criptomoeda Ether, a segunda maior depois da Bitcoin, desenvolvida pela Ethereum, criadora da tecnologia blockchain, que é utilizada em transacções digitais, e que permite a criação de NFT’s. Twobadour, outro pseudónimo, que se apresenta como o porta-voz de Metakorvan, afirmou numa entrevista ao site Artnet News que a peça que adquiriram tem valor não só por ser digital e um NFT, “mas porque representa tempo, os 13 anos que demorou a fazer, e tempo é a única coisa que não pode ser pirateada nesta época digital”. Em relação à utilização que pretendem dar à peça, Twobadour explica: “Queremos construir um grande monumento que só exista no mundo virtual para albergar as obras que vamos comprar. Temos em mente alguns dos maiores arquitectos contemporâneos a quem vamos pedir que pensem no projecto. A ideia é construí-lo de forma virtual, colocar lá as obras de arte virtuais que tivermos  e depois abri-lo a todos os que o queiram visitar, à distância de um click.”

 

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DEZ CORDAS MÁGICAS - A origem da viola campaniça, instrumento típico do Alentejo, é disputada entre Vila Verde de Ficalho e Castro Verde - mas na realidade ela tornou-se popular em todo o Baixo Alentejo. Habitualmente usada para acompanhar os célebres cantes a despique, a campaniça é a maior das violas portuguesas e possui dez cordas metálicas tocadas tradicionalmente de dedilhado apenas com o polegar. Após anos de esquecimento, na década de 80 a viola campaniça começou a ser estudada e recuperada, aproveitando ainda os artesãos que a sabiam construir. O seu ressurgimento fez com que alguns músicos contemporâneos se interessassem por ela. Um deles é João Morais, um músico com carreira feita na guitarra eléctrica do rock e que há uns anos se virou para outras músicas. Morais,  que assina como “O Gajo”, acabou de editar o seu terceiro disco, “Subterrâneos”. Nele João Morais toca ao longo de uma dezena de faixas que ele próprio compôs, ao lado de Carlos Barreto no contrabaixo e de José Salgueiro na percussão - dois músicos muito ligados ao jazz. É uma boa surpresa ver como a viola campaniça vive bem fora do regime de instrumento quase sempre a solo, para conviver com sonoridades que não são suas companheiras habituais. O resultado é um dos melhores trabalhos discográficos  portugueses dos últimos meses. Editado por discos Rastilho, o novo trabalho de O Gajo está disponível numa tiragem limitada de vinil, em CD e nas plataformas de streaming.

 

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O GRANDE ESPIÃO - Gosto de ler livros sobre espionagem e a figura de Richard Sorge sempre me interessou. Ian Fleming, o criador de 007, chamava-lhe “o espião mais formidável da História”, Kim Philby, o espião russo infiltrado nos serviços secretos britânicos disse que o trabalho efectuado por Sorge “foi impecável” e John Le Carré considerou-o o espião que se destacou entre os espiões e descreveu-o como “um actor no sentido de Graham Greene, e um artista no sentido de Thomas Mann”. “O Espião Perfeito”, editado originalmente em 2019 e agora disponível em Portugal, é uma completa investigação sobre a vida de Sorge e a sua personalidade, a descrição minuciosa do que fez e das suas convicções, com o enquadramento histórico da época, desde o pacto Ribbentrop-Molotov até ao planeamento do ataque japonês a Pearl Harbor. Sorge foi um idealista que entregou a sua vida à causa da União Soviética, um militante comunista que não olhava a meios para atingir os seus fins, um sedutor inteligente capaz de obter segredos dos maiores inimigos. Owen Matthews, o autor deste livro, vai além da vida de Sorge - mostra como era o clima na política e na  diplomacia internacionais no período antes da II Grande Guerra e, depois, no seu decorrer. Conta como a entourage de Estaline escondia a realidade ao ditador, o que teve terríveis consequências. Sorge, que estava no Japão onde criou uma formidável rede de espionagem,  tinha acesso às informações tanto da Alemanha como do exército japonês, e anunciou com antecedência a data precisa do ataque das tropas de  Hitler à União Soviética - mas em Moscovo os seus relatórios foram metidos na gaveta porque contrariavam a convicção que Estaline tinha de que Hitler não o atacaria. Como se sabe, estava enganado e este erro custou a vida a muitos milhares de soldados russos. Fascinante, a narrativa de Owen Matthews é um retrato desses tempos. Os interrogadores japoneses que o prenderam e executaram fazem dele este retrato: “ um exemplo devastador de brilhantismo na espionagem”.

 

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SANDUÍCHE DE SALADA - Gosto de sanduíches, com bom pão. Aqui a ideia é que o principal elemento da sanduíche seja uma boa dose de vegetais - alface de boa qualidade, espinafres, rúcula. O que gostarem ou tiverem à mão mas em boa quantidade. Ao contrário de outras sanduíches deixem a maionese de lado. Temperem os vegetais com bom azeite e limão, deixem-nos a marinar  um bom bocado. Quando chegar a altura de fazer a sanduíche, levem as fatias de pão à torradeira até ficar um pouco tostado, barrem cada fatia com uma generosa porção de queijo fresco de cabra. Partam o que sobrar do queijo fresco em pedaços e misturem na salada entretanto preparada e depois forrem as fatias de pão abundantemente com essa salada. Não sejam tímidos, deixem o verde com uma boa altura entre as fatias e não se importem que transborde do pão. Bom apetite - agora com o tempo a começar a aquecer é um petisco.

 

DIXIT - “Podemos sair melhores ou piores da pandemia, mas não somos a mesma coisa” - Padre Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa

 

BACK TO BASICS - Arte é fazer alguma coisa a partir de nada e depois conseguir vendê-la - Frank Zappa







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MEDINA E FAKE NEWS - Muito pouco tempo depois de ter sido anunciada a candidatura de Carlos Moedas à Câmara Municipal de Lisboa foi abundantemente colocado nas principais redes sociais um vídeo que pretendia atribuir a Moedas a ideia da privatização da Carris há uns anos. O vídeo é o perfeito exemplo de fake news na luta política. É evidente  que foram os adversários deste candidato, que se afirmam apoiantes da gestão municipal actual, que fizeram o vídeo e o puseram a circular. Pouco depois de o vídeo ter surgido, foi publicado um trabalho de fact-checking sobre as afirmações divulgadas e acontece, como se comprova, que Carlos Moedas já não fazia parte do Governo anterior quando a ideia da privatização foi lançada. Mais, em fevereiro de 2015, quando o então governo  aprovou a concessão do Metro e da Carris, Moedas já tinha iniciado funções como comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação há cerca de três meses. O vídeo dos adversários de Moedas, pelo que se compreende do texto, é da autoria de apoiantes da corrente gestão autárquica de Medina e os seus autores pretendem, como referem, denunciar “a outra face de Moedas”. Na realidade o que o vídeo mostra é a outra face dos apoiantes de Medina - adeptos de fake news que não olham a meios para alcançarem os seus fins. Fernando Medina teria ficado bem em demarcar-se destas fake news e destas campanhas mentirosas. Ao não o fazer mostra que, no fundo, usa os métodos de Donald Trump - aparenta que não faz, mas deixa fazer, se é que não estimula. Começou o vale tudo. A disputa é sobre Lisboa: se queremos no futuro uma cidade melhor para quem cá vive ou se queremos um cenário fabricado para visitantes. 

 

SEMANADA - Valdemar Alves, o autarca de Pedrogão cuja conduta depois dos graves incêndios de 2017 motivou críticas e deixou suspeitas em relação à aplicação dos fundos para a reconstrução,  volta a ser apoiado pelo PS nas próximas autárquicas; no sábado passado a Iniciativa Liberal anunciou um candidato próprio à Câmara de Lisboa e o indicado, Miguel Quintas, anunciou retirar se da corrida três dias depois, alegando razões pessoais após terem sido apontadas contradições entre declarações suas e do partido pelo qual se candidatava; o Ministro Pedro Nuno Santos defendeu que o PS necessita de um novo programa assente no reforço do papel do Estado; segundo um dirigente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros Portugal está na cauda da Europa no que toca a hábitos de leitura e a média de compra de livros por habitante e por ano é de um livro e meio em Portugal, na Grécia é entre os três e quatro, em Espanha está entre os quatro cinco, e em França entre os sete a dez livros por ano; de acordo com um estudo da  Marktest, mais de um milhão de pessoas, 12% da população, compraram snacks para cães e/ou gatos nos últimos 12 meses;  um estudo de três universidade portuguesas indica que o jornalismo e a abordagem dos órgãos de comunicação social face à pandemia têm impacto direto nos resultados, isto é, na adesão da população às medidas de segurança; o desemprego efectivo já ronda os 14%; o Metropolitano de Lisboa perdeu cerca de 50% dos passageiros em 2021 e o Metropolitano do Porto teve uma quebra de 45%, a CP teve uma quebra de 40% e os barcos da Transtejo reduziram 45%; 



ARCO DA VELHA - Cavaco Silva fez gala em mostrar que não quis participar nos cumprimentos ao Presidente da República eleito e depois não teve a frontalidade para assumir essa ruptura política e pessoal e deu uma desculpa mal amanhada sobre a sua ausência.

 

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VER - Aos poucos começa a haver movimento em galerias de arte. Algumas estão a montar exposições, outras aguardam poderem abrir portas e outras ainda multiplicam as actividades on line. É o caso da Galeria Belo Galsterer que dia 12 de Março faz o lançamento online de uma exposição que esteva prevista para 2020. A pandemia obrigou a adiá-la, agora ela pode ser mostrada de forma virtual, e espera-se que em breve presencial, até dia 24 de Abril. Trata-se de “A Midsummer Night 's Dream Rewind”, que conta com obras de Cristina Ataíde, Paulo Brighenti, Claudia Fischer, Rita Gaspar Vieira, Renzo Marasca, Chrischa Oswald e Wolfgang Wirth. O título é inspirado na comédia de Shakespeare que mostra o mundo meio fantasioso que o autor criou no século XVII. A acção da peça decorre em torno do casamento da rainha das Amazonas com o rei Theseus, explorando o que é o sonho e o amor. Esta foi a base de inspiração para os artistas, que continuaram a trabalhar durante todo este tempo que levamos de confinamento. Na nova exposição online, “A Midsummer Night 's Dream Rewind”, os artistas falam dos seus trabalhos na primeira pessoa e toda a informação está disponível em formatos audio, video e também escrita. Basta entrar no  site da galeria (https://www.belogalsterer.com/)  a partir do qual se poderá aceder à exposição online, bem como à sua presença nas redes sociais Instagram, Facebook e YouTube.

 

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DEU-ME UMA DE BLUES  - Num dia desta semana acordei a apetecer-me ouvir blues. No meio de uma busca pelo Spotify descobri um disco recente, de finais de 2020, de duas lendas dos blues, Elvin Bishop e Charles Musselwhite - “100 Years Of Blues”. Como li numa recensão do disco num site americano este disco é um “antídoto para a música de plástico”.Bishop e Musselwhite são quase da mesma idade, amigos há muitos anos, companheiros de pescarias mas nunca tinham gravado um disco juntos.  Elvin Bishop, 1942, cresceu em Oklahoma, canta e toca guitarra, enquanto Charlie Musselwhite, nasceu em 1944, cresceu no Tennessee e tornou-se conhecido com a sua harmónica. Nos anos 60 andaram ambos por Chicago, na época a capital dos blues. Na época eram dois músicos brancos a tocar com músicos negros e aí conheceram e trabalharam com grandes músicos como Muddy Waters, John lee Hooker ou Howlin’ Wolf. Neste “100 Years Of Blues” estão 12 canções, nove originais e três versões de clássicos. Além de Bishop e Musselwhite o disco conta com a participação de Bob Welsh no piano e segunda guitarra e de Kid Andersen no baixo. Numa das faixas, “Good Times”, Musselwhite deixa a sua harmónica de lado e toca slide guitar de forma surpreendente. É quase uma hora de grande música que termina com um dueto cantado por Bishop e Musselwhite, no tema que dá o título ao álbum e onde os dois se explicam: “We have been playing this music a long time, between the two of us you are looking at a 100 years of blues, we got our education in Chicago back in the 60’s, playing in bars and breaking all the rules -  If your like what you hear, keep doing just what we do.”

 

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LISTA DE LEITURAS - Uma das formas de fugir às limitações a que o confinamento obriga tem sido ler. E por falar nisso nada como descobrir o que é que um homem com o saber de Eugénio Lisboa, tem a recomendar em matéria de leituras. Acabado de editar, “Vamos Ler - Um Cânone Para o Leitor Relutante” propõe 50 livros de 35 autores da literatura portuguesa. Ensaísta, escritor, crítico literário, poeta, Eugénio Lisboa, aos 90 anos, continua transgressor, provocador, apaixonado pela literatura e pelos livros. Este ensaio com cerca de 100 páginas editado na colecção “livros vermelhos” da Guerra & Paz,  não poupa críticas ao que o autor chama de «snobismo provinciano» que, acredita,  afasta as pessoas da leitura. Antes de chegar à lista propriamente dita Eugénio Lisboa fala de livros e literatura, elogiando a escrita simples. “Gosto de falar português limpo e asseado e não literatês”, afirma, a propósito de Gabriela Llansol: “Proponho que me expliquem, com muito cuidado e jeitinho e com um grande cuidado pelo significado das palavras, o que quer dizer toda aquela algarviada, vestida de pompas e significando nada.” A lista é ela própria um achado, um desafio estimulante a descobrir leituras: começa com “Equador” de Miguel Sousa Tavares e termina com os “Sonetos” de Luis de Camões, passando por clássicos e outros menos clássicos. Não vou revelar a lista, descubram-na nas páginas deste “Vamos Ler”, onde Eugénio Lisboa fala de cada autor, da razão da recomendação e da razão de ser de aconselhar uma obra. Da deliciosa introdução à lista, cheia de pequenas histórias de uma pessoa apaixonada pelos livros, destaco esta citação: “Witggenstein observava que, quando um pensamento se não consegue exprimir com clareza e simplicidade, é porque talvez ainda não esteja suficientemente maduro para ser expresso”. Enquanto as livrarias não abrirem podem comprar o livro no site da editora.

 

FAVAS EM TAKE AWAY - Estou a cumprir as regras do confinamento desde meados de Janeiro e reconheço que está a ser mais difícil que no ano passado. Com quase dois meses disto, parece que o tempo não passa, apesar de me manter bastante ocupado. Gosto de cozinhar e vou descobrindo receitas, mas tenho saudades das minhas mesas preferidas. Nas conversas telefónicas que tenho tido com os responsáveis dos restaurantes que frequento mais regularmente constato que neste confinamento a procura de take away está a ser menor do que aconteceu há um ano. Embora alguns restaurantes tenham criado kits de cozinha que podem ser finalizados em casa, a experiência de estar na mesa de um restaurante de que se gosta é outra coisa. O convívio faz-nos falta. Faz parte da natureza humana. A situação em que estamos levou-nos a privilegiar o isolamento. Mas isso não pode durar sempre e é bom que quando pudermos voltar a sair possamos regressar onde mais gostamos de estar. Quem habitualmente me lê sabe que gosto do Salsa & Coentros, em Alvalade. Têm sempre estado a funcionar com sugestões de pratos diferentes para o fim de semana, além de alguns clássicos do menu. Para este fim de semana as propostas principais são favas guisadas com entrecosto e filetes de polvo com açorda. Além disso há clássicos como a lebre com feijão, a perdiz de escabeche ou o arroz de pato. Se está em Lisboa pode fazer as encomendas eem www.restaurantesalsaecoentros.pt ou pelo telefone 218410990. Bom apetite e saúde!



DIXIT - “De nada vale a liberdade se for esvaziada pela pobreza” - Marcelo Rebelo de Sousa, na tomada de posse do seu segundo mandato como Presidente da República



BACK TO BASICS - “A comédia é apenas uma forma divertida de dizer coisas sérias” - Peter Ustinov



 

 

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AS NOTÍCIAS  - Quase todos os dias me acontece isto: acordo, espreito os canais de notícias, meto-me no carro e vou fazer compras, incluindo jornais do dia, em papel, que é para haver palavras cruzadas. No caminho ouço noticiários de duas estações de rádio. Quando me sento com os jornais na mão, cujas edições foram feitas na noite anterior, constato, salvo raras excepções, que a maior parte das informações que já vi ou ouvi aparecem nesses jornais. Na realidade a maior parte da agenda noticiosa do dia - que inclui também entrevistas, reportagens e  investigações jornalísticas - continua a ser estabelecida pelas empresas de mídia que criaram e desenvolveram os velhos jornais em papel - e que têm evoluído para o digital com investimentos consideráveis e, por enquanto, ainda com curtas receitas. Ter uma agenda própria, descobrir, informar, é uma actividade forçosamente dispendiosa e a que muitas vezes não é dado o devido valor. As empresas de mídia queixam-se há muitos anos que não recebem uma compensação justa por artigos e outros conteúdos que geram receitas de publicidade para plataformas tecnológicas como o Google e o Facebook, queixas que estas tecnológicas têm ignorado. Olhemos para a recente agitação que o Governo Australiano provocou ao impôr que empresas como a Google pagassem pela utilização de conteúdos dos jornais do país. A lição do caso australiano, em que a Google primeiro estrebuchou e depois se apressou a fazer acordos e a pagá-los, é curiosa: mostra como um esforço de regulação - ou até apenas a sua ameaça - pode levar um gigante tecnológico a alterar o seu comportamento. O desafio agora é ver como outros países, em particular na Europa, podem tomar iniciativas que levem as tecnológicas a pagar pelas notícias e conteúdos que utilizam. Esta é uma questão cada vez mais decisiva para a saúde financeira e a sobrevivência das empresas jornalísticas. Não se trata de ir buscar dinheiro ao Estado. Trata-se de o Estado fazer o que lhe compete para equilibrar o mercado.

 

SEMANADAO romance do aeroporto tem novo capítulo e os aviões estão como na canção: hesitantes entre dois amores, Montijo e Alcochete; FC Porto, Benfica e Sporting têm em conjunto um passivo superior a 1,2 mil milhões de euros; depois da Dinamarca também a Áustria anunciou que vai deixar de contar exclusivamente com a União Europeia e começou conversações com Israel para garantir vacinas contra o Covid para os seus cidadãos; os correios do Canadá, numa criativa acção de relações públicas,  vão entregar nos próximos dias em todas as casas do país, cerca de 13,5 milhões, postais em branco e com envio pago, para que as pessoas possam mandar uma mensagem manuscrita a amigos que não vêem há muito devido ao confinamento - na parte da frente dos postais estão vários desenhos, sempre com a frase “Sending smiles. Je t’embrasse”; em Lisboa e no Porto são feitas duas queixas por dia, desde o início do ano, devido ao ruído de obras e na maior parte dos casos os queixosos estão em teletrabalho; o número de casos de crianças e jovens com ansiedade disparou nos hospitais; os preços das casas desceram 14,4% no centro histórico de Lisboa em relação ao segundo semestre do ano passado; em 2020 o número de desempregados que receberam subsídio de desemprego aumentou 49%; no ano passado a pandemia provocou uma diminuição de 75% dos espectadores nas  salas de cinema portuguesas, uma perda de quase 12 milhões de bilhetes vendidos; cerca de 28 mil profissionais de saúde foram infectados desde que a pandemia começou, há um ano.

 

ARCO DA VELHA  - A Assembleia da República revelou estar “com dificuldades em contactar” Carlos Costa,  ex-governador do Banco de Portugal, para depôr numa Comissão Parlamentar. O ex-governador, questionado por um jornal, disse residir na mesma casa há 21 anos, e continuar com o mesmo número de telemóvel e o mesmo endereço de email pessoal de sempre.

 

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BAIRRO DOS MUSEUS VIRTUAL -  Esta semana deixo aqui duas sugestões de visitas virtuais ligadas ao sexto aniversário do Bairro dos Museus, uma iniciativa desenvolvida desde 2015 pela Câmara Municipal de Cascais e pela Fundação D. Luís e que tem fomentado actividade em equipamentos como,  o Centro Cultural de Cascais, o Museu Condes de Castro Guimarães, o Museu do Mar Rei D. Carlos e a Casa das Histórias Paula Rego, entre outros.  Para assinalar o sexto aniversário do Bairro dos Museus, e já que por força da pandemia os equipamentos estão encerrados,  foi lançada uma visita virtual à exposição “Paula Rego e Josefa de Óbidos: Arte Religiosa no Feminino”, patente na Casa das Histórias Paula Rego, e que pode ser vista através nas páginas de Facebook Cultura Cascais, da Casa das Histórias Paula Rego e da Fundação D. Luís I, ficando ainda disponível no site da Fundação D. Luís I. E entretanto também já está disponível nas redes sociais da Fundação D. Luís I (Facebook e canal de Youtube), e da Cultura Cascais, o primeiro de sete episódios sobre a visita virtual à exposição “Vivian Maier: Street Photographer” , com comentários da curadora Anne Morin  que logo que a pandemia permita poderá ser visitada no Centro Cultural de Cascais.

 

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O SOM DOS 80s - Um pouco por acaso, num destes dias,  dei comigo a ver na RTP2 um documentário sobre os Pop Dell’Arte, uma banda portuguesa nascida em inícios dos anos 80 pela mão de João Peste, que aliás hoje continua a manter o projecto em funcionamento, mesmo que com muitos interregnos pelo meio. Os Pop Dell’Arte nasceram em Lisboa, em 1985, tendo João Peste como vocalista, Zé Pedro Moura como guitarrista, Ondina Pires como baterista, Paulo Salgado como baixista e Luís Saraiva como percussionista. Ao ver o documentário recordei-me como os Pop Dell’Arte foram um dos grupos mais influentes dos anos 80 e 90, quer pela pela forma de expressão e presença de João Peste, quer pela forma disruptiva que assumiram musicalmente. Por lá passaram, além dos fundadores, nomes como Luis San Payo, Rafael Toral, Nuno Rebelo, Sei Miguel, João Paulo Feliciano, Pedro Alvim, JP Simões, General D, entre muitos outros. No fundo Pop Dell’ Arte envolveu gerações de músicos que deixaram marca na cultura urbana, marca também acentuada pela editora Ama Romanta, uma ideia de João Peste que em Maio de 1986 lançou ano o álbum “Divergências” onde aparecem, além dos Pop Dell’Arte, nomes como Mler Ife Dada,  Croix Sainte, Anamar, Essa Entente, Linha Geral, A Jovem Guarda ou Bye Bye Lolita Girl, entre outros. Estreado em 2018, o documentário “Ainda Tenho Um Sonho ou Dois – A História dos Pop Dell’Arte” é da autoria do Nuno Duarte e Nuno Galopim e está disponível no RTP Play.

 

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VISITA AO PASSADO - “O Milagre de São Francisco” foi o primeiro sucesso de John Steinbeck, tinha ele 33 anos. Publicado em 1935, quatro anos antes de “As Vinhas da Ira”, a meio da Grande Depressão que varreu a economia norte-americana durante a década de 30, o livro enquadra bem o clima da época, ainda para mais numa zona então fortemente empobrecida. “Tortilla Flat”, o seu nome original, passa-se em Monterey, uma pequena cidade a sul de S. Francisco, junto ao mar, numa baía, não muito longe de Silicon Valley. Hoje é uma zona muito procurada por californianos que não querem viver nas grandes cidades. Na época era uma zona industrial muito ligada à pesca e indústria conserveira, longe de estar na moda. O livro conta-nos a história de um grupo de vagabundos que vivem numa das colinas à volta de Monterey. Um deles, Danny,  herda subitamente duas casas e converte-se, nos padrões de então e no meio em que vivia, num rico proprietário, à mesma sem dinheiro, mas com a ilusão de uma riqueza idealizada. Ele que dormia na rua, passou a ter um tecto e albergava quem lhe aparecesse. A sua vida no entanto não mudou no essencial, continuou sem nada fazer, na expectativa de que algum dos seus amigos trouxesse vinho para casa, como se fosse a compensação por ele os deixar partilhar o espaço. O livro é um manual sobre as relações humanas no meio de expedientes, de pequenas intrigas e conspirações, num círculo fechado de amigos que procuram sobreviver sem muitas maçadas. Da mesma forma como a herança veio, esfumou-se - assim como a vida do próprio Danny, a quem o sentimento de posse e propriedade afligia. Reedição , na colecção Dois Mundos dos Livros do Brasil.

 

CULINÁRIA TIKTOKNeste confinamento tudo é possível - até uma receita simples tornar-se viral através da rede social TikTok. A história merece ser contada: em 2018 uma blogger finlandesa colocou um post com uma sua receita, a que chamou unnifetapasta. A coisa foi ganhando tracção e já este ano alguém no TikTok lançou a receita e num ápice ela tornou-se viral. Foi de tal modo que nos Estados Unidos houve supermercados que esgotaram o queijo feta e tiveram que reforçar as encomendas significativamente, colocando algumas fábricas do produto à beira de um ataque de nervos. A receita passou a ser conhecida como TikTok Feta Pasta  e uma busca na Google produz mais de um milhão de resultados diferentes. A base da receita é sempre a mesma: um recipiente de ir ao forno, um pouco de azeite no fundo,  com um bloco de queijo feta no meio, rodeado de tomate cherry inteiro. Rega-se tudo bem com azeite, tempera-se com alho cortado fino, oregãos, sal e peperoncino em flocos. Vai ao forno a 200 graus durante trinta minutos. Entretanto coloca-se a massa a cozer em água salgada - pode ser conchas, lacinhos e até cotovelos. Guarda-se um pouco da água da cozedura e escorre-se quando estiver al dente. Ao fim da meia hora o tabuleiro sai do forno, o queijo estará quase derretido e mexe-se tudo - tomate e queijo - muito bem, criando um molho grosso. Deita-se a massa escorrida por cima, envolve-se tudo com o molho e se necessário adiciona-se um pouco da água da cozedura que foi reservada. Por cima  deitam-se folhas de basílico cortadas e serve-se. É um sucesso e um rosé acompanha bem.

 

DIXIT - “A esquerda é actualmente a mais importante força de estabilidade e de conservação política. Se pudesse, tudo ficava como está. Aos outros, na oposição, nas margens e nas extremas, compete o mais difícil: reconquistar, reorganizar, renovar e consolidar.” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “O grande problema que existe no mundo é que os fanáticos e os loucos estão sempre cheios de certezas, enquanto as pessoas sensatas têm dúvidas” - Bertrand Russell



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