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AS HABILIDADES DE UM POLÍTICO PROFISSIONAL -  António Costa é um político hábil, que como Primeiro Ministro usa a comunicação como poucos dos seus antecessores. Na verdade é talvez o mais profissional político que Portugal teve como Primeiro Ministro nos 22 Governos Constitucionais desde 1974. No final de Novembro, António Costa completará seis anos como Primeiro-Ministro, ao longo de uma legislatura e meia, e, salvo algum cataclismo, parece evidente que cumprirá esta sua segunda legislatura até ao fim. O futuro? Como explicou numa entrevista ao “Expresso” no fim de semana passado, não sendo tabu, não é para se saber já. A  frase resume o pensamento político de António Costa: a realidade é a que ele dita.  Neste fim de semana, no Congresso do PS que se realizará em Portimão, assistiremos ao primeiro episódio da produção do PS baseada na “Guerra dos Tronos”. Costa garantiu que na linha da frente do palco será acompanhado pelos quatro socialistas que são os nomes mais apontados para a sua sucessão: Catarina Mendes, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva e Pedro Nuno Santos. São todos diferentes, mas todos iguais no apego à política que tem sido seguida. E qual o resultado dessa política? - Quando os portugueses comparam o seu rendimento com o de países como a Eslováquia, República Checa, Hungria, Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia e mesmo  Roménia, constatam que todos eles estão melhor que Portugal. O balanço destes seis anos que  António Costa leva como Primeiro Ministro não é nenhum tabu mas anda sempre escondido pela propaganda: o consulado de António Costa vai ser aquele em que o país desceu para a cauda da Europa em termos de riqueza. Nada disso impedirá que o fim de semana seja de festa e consagração em Portimão - Costa preparou bem o ritual e quem lhe pode suceder acredita que se pode distribuir o que não se tem. Esta semana Camilo Lourenço escrevia neste jornal que “daqui a dez anos, quando Costa estiver num cargo internacional, o seu consulado vai ser lembrado como aquele que desperdiçou a grande oportunidade de Portugal se colar aos da frente”. 

 

SEMANADA - O PCP é o partido que apresenta maior número de mulheres como cabeça de lista nas próximas autárquicas mas o PS tem sido quem consegue eleger mais mulheres:  há apenas sete autarquias com maioria feminina e 31 onde são mulheres a liderar: este ano registaram-se mais 1203 candidatos ao ensino superior que em 2020; o apoio ao estudo só chega a 21% dos alunos com média negativa; a anunciada subida do número de empregos fez-se à custa de um aumento recorde da função pública; em dez anos foram extintos 18 mil postos de trabalho na banca; entre 2018 e 2020 foram vendidas em Portugal 1890 caixas de medicamentos contra a disfunção erétil por dia; desde o início do ano as autoridades passam 20 multas por dia para quem não usa máscara na rua; o presidente da Ryanair, Michael O’Leary, acusa a TAP de bloquear o crescimento da concorrência no aeroporto de Lisboa; na semana passada o caos voltou a instalar-se no aeroporto de Lisboa, com enormes demoras, filas imensas, extravio de bagagens e incómodo acentuado para os passageiros mas até agora não foi assumida a responsabilidade pelo sucedido; a média diária de espectadores do Canal Parlamento desde o início do ano é de 115 no cabo e 234 na TDT, um total de 349 pessoas; o Parlamento paga 420 mil euros por ano ao operador responsável pela emissão da TDT, o que dá um custo médio de 1794 euros por espectador; a TVI recebeu 18 mil inscrições de candidatos a participarem no próximo Big Brother, que arranca em Setembro; o grupo Media Capital já recebeu 2.400 candidaturas ao processo de recrutamento da CNN Portugal que decorrre até 31 de Agosto.

 

O ARCO DA VELHA - Na Figueira da Foz o PSD já perdeu em tribunal duas tentativas de impedir a candidatura de Santana Lopes à autarquia local e agora ameaça recorrer para o Tribunal Constitucional. Como bem escreveu Luís Paixão  Martins no Facebook, “nem mesmo nos tempos em que foi presidente do PSD uma campanha de Pedro Santana Lopes teve um apoio tão grande da parte deste partido.” 

 

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OS QUADROS DE “A BRASILEIRA” -  Maria Aires da Silveira e Raquel Henriques da Silva são as curadoras de uma exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) que se debruça sobre a história do café “A Brasileira”, do Chiado. Fundado em 1908 por Adriano Teles e mantido ao longo de mais de um século em excelentes condições, o café foi modernizado em 1925, quando recebeu  uma série de obras de importantes artistas plásticos da época - na imagem uma dessas obras, um auto-retrato em grupo de José de Almada Negreiros. Depois, em 1971, recebeu nova série de onze pinturas, que hoje decoram o espaço do estabelecimento, onde podem ser vistas, e que substituíram as anteriores. O  decorador Joachim Mitninsky  comprou em 1970  os quadros envelhecidos da montagem de 1926,  mandou restaurá-los, vendeu alguns e terá mantido outros na sua loja da Rua Vítor Cordon. As novas onze obras foram encomendadas por um júri de críticos de arte. Intitulada “A Brasileira do Chiado - Café-museu 1925-1971”, esta exposição do Museu Nacional de Arte Contemporânea celebra os 50 anos da segunda decoração de A Brasileira com quadros de artistas modernos. No Museu é possível ver alguns dos quadros da decoração de 1925 e um conjunto de documentação em grande parte inédita da decoração de 1971, nomeadamente fotografias da colocação das pinturas nas paredes de “A Brasileira”, exactamente na noite de 26 de Junho de 1971. A exposição é acompanhada de um catálogo, subsidiado pela empresa que actualmente detém o espaço, Valor do Tempo e pela Fundação Millennium BCP. O catálogo organiza-se em três núcleos fundamentais que abordam a criação do café-museu, no Chiado, em 1925 e 1971 com textos de Inês Silvestre, um ensaio de Raquel Henriques da Silva  e um trabalho de Maria de Aires Silveira sobre a temática dos cafés na capital, desde inícios do século XIX, que ajudaram a caracterizar o perfil da cidade e facilitaram o convívio de intelectuais. Até 26 de Setembro no MNAC, Rua Capelo 13 e Rua Serpa Pinto 4.

 

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UMA INVESTIGAÇÃO AUTOBIOGRÁFICA  - O escritor sueco Tom Malmquist ganhou fama através da sua obra de estreia, o romance “Em Todos Os Momentos Estamos Vivos”, onde  parte de episódios autobiográficos para escrever um livro sobre a perda e o luto. Editado em 2015, vencedor de vários prémios e considerado pelo New York Times como um dos cem livros mais notáveis desse ano. “Em Todos Os Momentos Estamos Vivos” tem agora uma continuação com a sua nova obra, “Todo o Ar Que Nos Rodeia”, que retoma o tema da morte, da solidão e dos laços desfeitos. Neste segundo romance, agora editado em Portugal e traduzido do original sueco, o autor volta a  percorrer os caminhos da ficção autobiográfica. Logo no início o protagonista, que é o próprio Malmquist, encontra um velho recorte de jornal com esta notícia: «No sábado, foi encontrado um homem morto numa gruta na floresta de Sörskogen. Apresentava cortes graves no rosto e no peito, e a polícia acredita que foi assassinado com um machado.» O jornal embrulhava as peças do serviço de loiça da mãe de Tom, que ele encontra no sótão. Partindo da pouca informação que tem, Tom Malmquist iniciará a sua própria investigação para descobrir tudo o que puder sobre Mikael K, o homem brutalmente assassinado duas décadas antes. Enquanto procura respostas para essas e outras perguntas, encontra perturbantes paralelos entre a história investigada e a sua própria vida. É um livro fascinante e como escreveu o diário sueco Aftonbladet, «os leitores de Paul Auster reconhecerão o estilo, não apenas na abordagem investigativa, mas também no vazio existencial que sugestivamente aparece nas entrelinhas, um vazio que parece ser o tema e o estímulo principal deste romance.» 

 

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O BATERISTA DOS BLUES, JAZZ E ROCK  - A vida de Charlie Watts mudou quando deixou de ser o baterista da Blues Incorporated, a primeira banda britânica, formada exclusivamente de músicos brancos, que tocava blues, no começo da década de 1960. Foi numa actuação dessa banda num clube londrino que Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones, fãs dos blues, conheceram Watts. Ficaram maravilhados com a sua qualidade de músico e  convidaram-no para ser o baterista do grupo que estavam a começar a constituir, admitindo que não tinham como lhe pagar nessa altura. Charlie acabou por aceitar trocar o já estável Blues Incorporated pelo projeto de Mick, Keith e Brian, e entrou como baterista para os Rolling Stones em 1963. Mick Jagger tinha então 20 anos e Watts era dois anos mais velho. O resto da história é conhecida e Watts foi sempre um elemento fundamental da banda, ajudando a manter a sua coesão mesmo nos períodos mais conturbados e difíceis. O que muitos não sabem é que ao mesmo tempo que integrava os Rolling Stones e tocava nos discos e concertos, Charlie Watts desenvolveu uma carreira a solo em torno do seu amor aos blues tradicionais e sobretudo do songbook clássico americano e dos standards de jazz. Quer com orquestra, quer em formações mais reduzidas, Charlie Watts gravou por sua conta, fora dos Stones, quase uma dezena de discos e apareceu em vários registos de outros músicos como convidado. Um dos seus trabalhos mais marcantes é um álbum de 1996, “Long Ago & Far Away”, onde interpreta 14 clássicos da música americana, acompanhado pela London Metropolitan Orchestra, com Bernard Fowler na voz e um conjunto de outros músicos, incluindo o português Luís Jardim. O CD, além da canção que lhe dá o nome,  inclui os temas “I’ve Got A Crush On You”, “More Than You Know”, “Good Morning Heartache”, “Stairway To The Stars”, “In The Still Of The Night”, “I Am In The Mood For Love”  e “Never Let Me Go”, entre outros. O disco é uma raridade, está esgotado, não existe por enquanto em streaming e em segunda mão, na Amazon, aparece à venda por 123 dólares.

 

DIXIT -  “É esse o tremendo conservadorismo que nos derrota: não queremos que se invente nada, só queremos que os estrangeiros (....) confirmem os nossos próprios gostos e preconceitos” - Miguel Esteves Cardoso.

 

BACK TO BASICS - Gostamos sempre daqueles que nos admiram, mas nem sempre gostamos daqueles que admiramos  - François de La Rochefoucauld.

 

(Publicado no Weekend do Jornal de Negócios de 27 de Agosto)







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publicado às 11:00

O TEMPO DOS INTOLERANTES

por falcao, em 20.08.21

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OS NOVOS FANÁTICOS - Nos últimos dias um grupo de fanáticos apelidou de assassino o homem que comanda, com êxito, o processo de vacinação que já salvou numerosas vidas desde que ele iniciou funções. Um outro grupo de fanáticos atacou e danificou um centro de vacinação na Azambuja. Os dois casos são bons exemplos dos efeitos práticos do fanatismo - neste caso dos que condenam o uso de vacinas. Cada um tem direito à sua opinião e, em última análise, tem direito a decidir se quer ele próprio ser vacinado ou não. Mas não tem o direito de perturbar o trabalho de quem está a vacinar ou quem quer ser vacinado. Estes comportamentos são exemplos daquilo que os fanáticos dos extremos do espectro político podem produzir na ânsia de ganhar notoriedade. Estou convencido que há entre os negacionistas do Covid-19 e os opositores das vacinas pessoas com ideologias em teoria diametralmente opostas mas que se encontram num mesmo ponto: o desrespeito pelos direitos e liberdade dos outros, um desrespeito pela sociedade em que vivem e um extremo egoísmo. Cito, a propósito, o Papa Francisco: "Vacinar-se é uma forma simples mas profunda de promover o bem comum e de cuidarmos uns dos outros, especialmente dos mais vulneráveis", apelando a que cada um contribua para erradicar a pandemia com um "pequeno gesto de amor". Tenho sempre este velho lema que bem me vai guiando: a liberdade de cada um termina onde começa a de outras pessoas. Estes novos fanáticos são por natureza intolerantes - mudam de bandeira ao sabor do vento, sempre a querer limitar o que outros podem fazer ou pensar.



SEMANADA - 60% das 20 mil contratações da Função Pública no último ano são contratos a prazo; no final de Junho o emprego público atingiu o valor mais alto desde 2011, atingindo os 731 mil trabalhadore; o ganho médio mensal na Administração Pública é de 1801 euros enquanto a média global nacional é de 1208 euros; os consumidores portugueses endividaram-se em 16,6 milhões por dia em crédito ao consumo; a letalidade nos idosos não vacinados é três vezes maior do que nos vacinados; um estudo do Instituto Gulbenkian da Ciência indica que 63% dos idosos com mais de 70 anos mantêm anticorpos contra o coronavírus seis meses após a vacinação; há mais de 200 mil pessoas sem médico de família; o Governo não respondeu a um quarto das perguntas formuladas por deputados em requerimentos na Assembleia da República no segundo ano desta legislatura; duas em cada três câmaras municipais não cumprem as regras do Regulamento Geral de Protecção de Dados, três anos após a legislação ter entrado em vigor; na área dos registos e notariado há falta de cerca de 1700 trabalhadores e as filas de quem procura os serviços aumentam; os aeroportos portugueses receberam cerca de dois milhões de passageiros em Junho, o número mais alto desde Fevereiro do ano passado; a Altice Portugal diz só ter tido conhecimento do valor proposto pela Anacom para a tarifa social de internet através da comunicação social; sete dezenas de deputados concorrem à liderança de Câmaras Municipais. 

 

O ARCO DA VELHA - Um Jardim de Infância mandado construir pela Câmara do Entrocamento, inaugurado em 2008 e que custou 1,2 milhões de euros, está em risco de ruir e vai ser demolido porque tem falhas estruturais que impedem a sua recuperação.

 

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UM RISCO EM ÁGUEDA - Para quem estiver a norte proponho uma visita a Águeda, ao belo edifício do Centro de Artes, projectado pelo atelier AND-RÉ, no local onde antes existia uma fábrica de cerâmica. Inaugurado em 2017 o edifício tem uma área total de 4500 metros quadrados, inclui um auditório, uma área de exposições e um café-concerto. Se lá for por estes dias , até 12 de Setembro, poderá ver na sala estúdio a exposição “Risco” que põe em confronto dois tempos na Pintura de Helena Dias: por um lado apresenta um conjunto de três trabalhos produzidos entre 1974 e 1976 (os únicos existentes deste período), por outro mostra um conjunto de trabalhos produzidos entre 2018 e 2020. Um pouco mais de 40 anos separam umas obras das outras, no entanto, embora com linguagens técnicas diferentes, há elementos (e preocupações) formais constantes: a Helena Dias interessou e continua a interessar, quase obsessivamente, a prática pura da Pintura. A imagem que acompanha esta nota é de uma obra sem título de 2019, fotografada por André Lemos Pinto. Raquel Guerra, a curadora da exposição, sublinha que o título “Risco” põe em evidência duas abordagens: remete para o elemento formal que caracteriza as obras presentes neste projeto, e evidencia os riscos e a coragem inerentes a retomar a Pintura após um interregno de cerca de 28 anos. Se estiver em Lisboa aproveite para visitar no Museu Nacional de Arte Antiga a exposição “Vi O Reino Renovar, Arte no Tempo de D.Manuel I”, uma exposição criada para assinalar o quinto centenário da morte de D. Manuel I e que estará na Galeria de Exposições Temporárias do MNAA até 26 de Setembro. A exposição mostra a relação do monarca com a prática artística, uma das mais importantes de toda a história portuguesa, patente na forma como promoveu., patrocinou e encomendou obras de arquitectura, iluminura, pintura, escultura ou artes decorativas e também, como utilizou a produção artística na sua estratégia de representação e afirmação real.

 

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FILOSOFIA NAPOLITANA - No início do século XX a paisagem do golfo de Nápoles atraía nomes ilustres a Capri e Sorrento, como Walter Benjamin, Bertolt Brecht, Maksim Górki e um então jovem filósofo, Theodor W. Adorno. Reza a lenda que foi aí, junto ao Vesúvio que nasceu, dos encontros destas personalidades, uma das mais importantes correntes filosóficas do século XX - a teoria crítica. Martin Mittelmeier, um autor alemão contemporâneo escreveu “Um Filósofo em Nápoles”, um livro publicado em 2013 e agora editado em Portugal pela Temas e Debates, com uma boa tradução de Pedro Garcia Rosado. O livro explora como a cidade de Nápoles – as paisagens, as pessoas, os turistas e os debates com o grupo de intelectuais que encontrou na cidade italiana – ajudou a criar as bases para o pensamento filosófico de um dos mais importantes e influentes pensadores europeus do século XX, Theodor W. Adorno. E deixa questões:  Como pode um país e um ambiente produzir um determinado sistema de pensamento? E porque é que a paisagem marcada pelo Vesúvio causou tanto impacto na vida e nas ideias de Adorno? Martin Mittelmeier conseguiu uma fusão entre filosofia, biografia e relato de viagens e mostra como a paisagem e a geografia de Nápoles se transformaram em filosofia, ao mesmo tempo que nos ajudam a redescobrir um dos pensadores mais influentes da história. Na realidade, como já foi citado pela crítica, «esta obra procura desmontar como a filosofia de Adorno nasceu de uma viagem pelo golfo de Nápoles na sua juventude. E que a força da sua filosofia, o fascínio que ela exerce e os problemas que suscita podem ser explicados por esta sua génese.»

 

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VER & OUVIR - Hoje em vez de limitar os sentidos à audição, sugiro que os compartilhem com a visão. E assim a sugestão musical da semana é uma série documental da Apple TV+, absolutamente extraordinária, intitulada “1971, o ano em que a música mudou tudo”. A primeira temporada está no ar, tem oito episódios centrados no final dos anos 60 e no início dos anos 70 - e como o título indica, sobretudo em 1971 - que é o ponto de partida para muitos dos factos que se relatam. Por ali passam nomes como Marvin Gaye, mostrando a  importância, muitas vezes esquecida do conteúdo e significado do seu álbum “What’s Going On”. Mas também Bob Dylan, George Harrison e o concerto para o Bangladesh realizado há 50 anos, a 1 de Agosto de 1971. Destaco logo no primeiro episódio a fantástica interpretação de Neil Young  para a sua canção “Ohio”, sobre a intervenção policial na Universidade de Kent que provocou quatro mortos entre os estudantes que protestavam contra a intervenção americana no Vietnam. A série tem numerosas imagens originais (e muitas vezes inéditas) da época e mostra a importância de nomes como Jim Morrison, Sly Stone, Ike e Tina Turner, James Brown, Curtis Mayfield, Joni Mitchell ou Carole King na criação das sonoridades que moldaram esses tempos. Mas mostra também o fim dos Beatles e o explodir de David Bowie, as crises dos Rolling Stones e até o papel de nomes que transformaram o jornalismo como Hunter S. Thompson. Um documento imprescindível. Cito, a terminar, palavras de John Lennon que sintetizam bem esses tempos”A discórdia é o combustível que alimenta a democracia”. Demasiada gente esquece-se disto.

 

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SOBRE A IMPORTÂNCIA DO POEJO - Eu adoro poejo - o cheiro, o sabor… Há uns meses dedicámos uns vasos a ervas aromáticas. Umas tiveram algum sucesso de crescimento, outras nem tanto. Mas o poejo é o campeão: um vaso a abarrotar. Desde então não nos falta o seu cheiro e sabor. Por isso mesmo fomos experimentar a velha açorda de bacalhau, mas com poejo em vez de coentros. A meio do processo ocorreu-me se um grande amigo que não suporta coentros, suportará poejo. Assunto a investigar. O prato é simples. Escalda-se o bacalhau dois ou trÊs minutos, guarda-se a água onde se preparou e num outro tacho coloca-se gengibre laminado, um pouco de cebola roxa picada  (eu sei, não é o costume, mas fica bom), muito poejo (folhas separadas dos caules e caules cortados em troços) e refoga-se o bacalhau escorrido  da escaldadela, misturando-se bem e em lume branco. Quando a coisa estiver no ponto que desejamos adiciona-se a água usada para o bacalhau e um pão caseiro de véspera, de preferência sem côdea. Mexe-se até se esfarelar para a consistência desejada. No fim colocam-se dois ovos a escalfar por cima no tacho e quando a clara começar a ficar opaca polvilhar tudo com folhas de poejo picadas e serve-se imediatamente. Um clarete refrescado acompanha muito bem - sugiro o da Adega de Penalva.

 

DIXIT - “Comem salsichas toda uma vida, e depois afirmam que não querem uma vacina porque dizem que não sabem o que lá está dentro” - lido no twitter

 

BACK TO BASICS - “Um fanático é alguém que se recusa a mudar de ideias e não aceita mudar de assunto” - Winston Churchill

 

(Publicado no Jornal de Negócios de 20 de Agosto de 2021)



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publicado às 11:00

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LIVRE, O OUTRO CHEGA - A deputada Joacine Katar Moreira, eleita pelo Livre, mas que depois se aborreceu com o partido que a indicou, deu uma entrevista há dias onde arrasou Eusébio, dizendo em tom de crítica que ele “não era a pessoa mais revolucionária” e acusando-o de “nunca ter lutado contra as estruturas”. Como Manuel S. Fonseca bem escreveu na sua “Bica Curta”, da última página do “Correio da Manhã”, “o que subjaz ao que disse Joacine é que só há uma forma, unilateral, de ser negro. Joacine condena o negro a ser revolucionário, a estar contra e de fora.” Para mim Joacine é um Ventura do outro lado do espectro político e o Livre tem momentos em que se lhe assemelha. E é com o Livre que o PS estabeleceu acordos eleitorais autárquicos. Da mesma maneira que há quem se indigne contra alianças com o Chega, que eu condeno, também me indigno com alianças com o Livre, um albergue de teses nascidas de modas ideológicas que no essencial acusam a Europa de todos os desmandos do mundo, incluindo os pilares da civilização. A sua acção quotidiana ignora um princípio que continuo a achar fundamental seguir: a liberdade de cada um acaba onde a de outra pessoa começa. O facto de em Lisboa o PS se ter aliado ao Livre é um sinal destes tempos. O facto de o representante deste partido na lista de Medina, Rui Tavares, estar indigitado como vereador da Cultura caso o PS vença, é dos piores sinais que podia haver. Em múltiplas ocasiões Tavares subscreveu textos onde fez eco e defendeu as teses actualmente politicamente correctas sobre a civilização ocidental. Para essa zona do pensamento político actual há uma arte que deve ser condenada e se possível derrubada. Não é um bom cartão de visita. Quando se vota para a Presidência de uma Câmara, no nosso sistema eleitoral, vota-se também na constituição da vereação que constitui o executivo da autarquia. Assim sendo, convém olhar com atenção para quem está na lista, que experiência tem das áreas que poderá vir a tutelar, que opiniões tem manifestado sobre o assunto. Eu não gostaria que a Cultura na cidade de Lisboa estivesse nas mãos do homem que escolheu Joacine para estar no Parlamento, sabendo muito bem qual era o seu pensamento, que aliás ela nunca escondeu. 

 

SEMANADA - Analisando a crise no PSD, Marques Mendes afirmou que “o mais bem posicionado” como alternativa a Rui Rio, é Paulo Rangel; apenas 36% dos técnicos do Estado recrutados em 2019 têm contrato de trabalho; a Câmara Municipal de Castelo Branco já gastou perto de meio milhão de euros com uma associação de produtores de figo da Índia que apenas teve escassa actividade em 2016 e 2017, empresa que foi criada e dirigida por altos funcionários da autarquia e outras pessoas afectas ao PS local; durante o ano de 2021 e até ao fim do 1º semestre, o actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa compareceu a apenas quatro sessões plenárias da Assembleia Municipal, quer presenciais, quer online, num total de 22;  há mais de três dezenas de concelhos que desde 1976 são geridos pelo mesmo partido, 11 do PSD e PS e 9 do PCP; desde que existem recenseamentos da população, ou seja desde 1864, apenas se registaram quebras populacionais duas vezes; de 1960 para 1970 nos fluxos migratórios para a Europa e agora entre 2011 e 2021, quando se perderam cerca de 200 mil habitantes; há 136 mil desempregados sem subsídio; entre 2019 e 2020 o investimento em investigação e desenvolvimento nas empresas privadas aumentou enquanto caíu no sector público, nomeadamente no ensino superior; metade das queixas feitas à inspecção das polícias é contra agentes da PSP e os casos de agressões têm peso significativo;  Portugal e Lituânia são os únicos países da União Europeia onde ainda não foi implementada a rede 5G.

 

O ARCO DA VELHA - Apesar da existência de uma nova ETAR que custou cinco milhões de euros, os esgotos produzidos por cerca de metade dos habitantes de Beja foram lançados durante dois meses na bacia do Roxo, que abastece de água potável cinco concelhos da região.

 

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O FOGO DE CHAFES - Na Casa das Artes, de Tavira, até 20 de Agosto, Rui Chafes apresenta “Travessia”, uma exposição pensada expressamente para o local. Ali está um conjunto de cinco esculturas, realizadas nos últimos  três anos, incluindo uma, a mais recente (pormenor na imagem), contemporânea da nova série de trabalhos que serão apresentados dia 11 de Setembro na próxima exposição de Chafes, “Nada Existe”, que vai decorrer na Galeria Filomena Soares, em Lisboa. Também na Casa das Artes de Tavira, e igualmente até 20 de Agosto, pode também ver  pintura de Ana Vieira Ribeiro e uma muito interessante série de fotografias de Tomás Vieira intitulada “Hedonismo Zero”. Outras sugestões: voltando a Lisboa, até 9 de Setembro, entre a Rua do Açúcar e a Rua do Amorim, passando pelo Largo do Poço do Bispo,  Marvila é uma galeria ao ar livre, com a exposição de obras de artistas plásticos, fotógrafos, ilustradores, designers e músicos, na sexta edição da Poster Mostra que exibe trabalhos de cerca de três dezenas de autores, entre os quais Adolfo Luxúria Canibal, Samuel Úria, Nuno Saraiva, André Carrilho e Ricardo Quaresma, entre outros. A norte a  exposição “Materiais Inflamáveis” mergulha no mundo dos fanzines portugueses para analisar o papel desempenhado pelo punk nas transformações sociais e políticas do Portugal pós-25 de Abril. Está patente no gabinete gráfico do Museu da Cidade do Porto, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, até 15 de Agosto. 

 

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CRIME NO ÁRTICO - Com o verão frescote que temos tido, uns policiais nórdicos vêm mesmo a calhar. Hoje destaco “À Flor das Águas”, de Christoffer Petersen, pseudónimo de um autor que vive no sul da Dinamarca e que durante sete anos esteve na Groenlândia, a maior ilha do mundo, com cerca de 56 mil habitantes, onde se apaixonou pelos costumes e hábitos locais, nessa terra onde o sol é raro, os cães ainda puxam trenós. Há uns anos li um outro romance seu, passado também na Gronelândia, “Um Inverno, Sete Sepulturas”, uma história envolvente. Petersen desenha mistérios e ficamos muitas vezes na dúvida sobre o que é ficção e o que pode ter sido realidade. O herói da nova história continua a ser David Maratse, um detective reformado que arranja maneira de estar sempre por perto quando acontece um crime mais estranho, embora tivesse a ambição de passar uma vida calma e simples, caçando e passeando com os seus cães e trenós pelas estepes geladas. O livro relata o que se passou num barco atracado num fiorde remoto.  Ninguém responde quando Maratse sobe a bordo e começa a chamar por alguém que esteja na embarcação. Uma vez dentro do barco, encontra cinco pessoas, duas mortas e três inconscientes. Enquanto isso, algures numa cabana de montanha, o sexto tripulante procura desesperadamente os diários desaparecidos da expedição a Svartenhuk do famoso meteorologista alemão Alfred Wegener  que podem ser a chave para a exploração de um minério raro e valioso e que está no meio de uma luta pelo controlo de uma empresa mineira. “À Flor da Água” há-de ter continuação - termina com o rapto de uma amiga especial do detective. E uma nova investigação começará. Como diz o autor, “quando a noite do Ártico dura quatro meses, o crime não conhece a sombra”.

 

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MANUAL POP - Jack Antonoff é um produtor com pergaminhos na música norte-americana, premiado com vários Grammys e que trabalhou com nomes como Taylor Swift, Lana D’El Rey, St. Vincent e  Clairo, entre outros. Além desta actividade, Antonoff criou os Bleachers, o nome de uma banda virtual que na realidade é o disfarce para a sua carreira a solo. Jack Antonoff é um praticante exímio do pop com sofisticação e este terceiro álbum que assina sob o nome Bleachers, Take the Sadness Out of Saturday Night”, é prova disso mesmo. Admirador confesso de Springsteen, o Boss faz uma breve aparição na faixa “Chinatown” e um pouco mais adiante é a vez de Lana d’El Rey aparecer em “Secret Life”. Ao todo são dez faixas onde não cabe a monotonia, com arranjos por vezes surpreendentes, cordas abundantes que se entrelaçam com guitarra acústica. “Stop Making This Hurt,” “Don’t Go Dark” and “How Dare You Want More?” , “I Wanna Get Better” e “Don’t Take the Money”. O disco, o terceiro sob o nome Bleachers, é uma demonstração de composição e produção pop. Disponível em streaming.

 

UMA DESCOBERTA EM TAVIRA -  Perto da Igreja do Carmo, na Rua dos Fumeiros de Trás, na parte alta de Tavira, junto ao centro da cidade, fica o restaurante Ti Maria, uma casa de petiscos bem algarvios e com incursões noutras regiões portuguesas. A casa é simpática, o interior está decorado a partir de caixas de madeira de muitas marcas de bons vinhos e objectos diversos - nos períodos de confinamento o proprietário aproveitou para remodelar e melhorar o interior. À chegada, na mesa, estão umas boas azeitonas e um pão que podia ser mais tradicional e guloso. Na lista estão petiscos como cogumelos recheados com alheira de caça e linguiça picante, há um apreciado folhado de queijo de cabra, nozes, espinafres e mel, uma Tapinha do alto de São Brás que consiste em farinheira panada com espinafres, tomate  e maionese de pimentos ou ainda uma tábua de queijos. Este é um sítio para petiscar e foi o que fizémos: muxama da boa para começar, tempura de polvo bem temperada e para rematar atum braseado, envolvido em sementes de sésamo, peça de bom calibre, cozinhado no ponto certo e bem cortado, acompanhado por batata doce frita aos palitos. Dizem que a tempura de biqueirão também dá que falar. Aberto há pouco mais de três anos, o Ti Maria aproveitou - e bem - a situação actual para alargar a esplanada ao longo da parede do restaurante e, em frente, junto à Igreja do Carmo. Mas no interior também se está bem, o serviço é atento e simpático, equipa jovem atenta, eficaz e simpática, excelente lista de vinhos a preços decentes. Reservas pelo telefone 281 403 268.

 

DIXIT - “Não nascem portugueses em número suficiente, os imigrantes não querem cá ficar e os jovens portugueses sonham em ir-se embora” - João Miguel Tavares sobre os resultados do Censos 2021.


BACK TO BASICS - “Tacto é a forma de conseguir fazer vingar uma opinião sem criar inimigos” - Isaac Newton.

 







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publicado às 11:00

MUITA CONVERSA E POUCA PARRA

por falcao, em 06.08.21

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ELES FALAM, FALAM... - Tenho para mim que uma das razões para o descrédito cada vez maior dos políticos é a sua falta de capacidade para reconhecerem os erros, a forma como gostam de ocultar o que não conseguiram fazer, a maneira como sorrateiramente varrem para debaixo da mesa as falhas, atrasos, confusões e burocracias que impedem que as coisas funcionem. A maior especialidade dos políticos no activo é a arte de passar no meio de chuva evitando salpicos. Nem sempre foi assim:  já tivemos - e acredito que possamos voltar a ter - políticos sérios, honestos e frontais. Agora, de um lado ao outro do espectro, não se vislumbra nada disso a nível das primeiras figuras da maioria dos partidos e quando se desce no respectivo aparelho partidário a coisa geralmente agrava-se. Basta ver as contradições de ministros, os malabarismos e golpadas de dirigentes. Pior ainda é aquilo que o secretário geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, esta semana veio dizer, atacando outros partidos por fazerem críticas ao governo e por procurarem “casos e casinhos”, que não são mais que as fugas à verdade e as manobras de ocultação em que muitos membros do actual executivo têm sido pródigos. Na política portuguesa tornou-se comum anunciar uma coisa que se esquece a seguir, proclamar verbas que depois não são gastas, confundir estratégia com propaganda. O nosso mal, na realidade , é o exemplo que vem de cima: muita conversa e pouca parra. Uma ilusão de ótica, no fundo.

 

SEMANADA - Quase 20% da população de Lisboa é estrangeira; 38% dos portugueses não têm recursos para passar uma semana de férias fora da sua residência habitual e na Europa a percentagem é de 28%; Portugal apenas conseguiu aproveitar 12% dos 102,7 milhões de euros de fundos europeus, que deviam ser geridos pelo Ministério do Planeamento,  destinados a serem aplicados no ambiente, crescimento azul (economia do mar), inovação,  igualdade de género, cultura e cidadãos ativos; o subsídio a cuidadores informais chegou a apenas um quinto dos candidatos; o número de nascimentos registados em Portugal no primeiro semestre de 2021 é o mais baixo dos últimos 33 anos; o Algarve tem agora o dobro dos desempregados ali registados há dois anos; no turismo, foram mais de 101 mil os empregos destruídos, entre o primeiro trimestre de 2021 e o período homólogo de 2020, mas os empregadores afirmam ter dificuldades em recrutar pessoal; o setor privado da saúde já emprega quase tantas pessoas como o SNS; segundo a OCDE 11,4 anos é o tempo que, em média, cada português demoraria a pagar uma casa de 100m2 com o rendimento disponível e sem recorrer a empréstimos; segundo a Centromarca a alimentação e as bebidas foram os sectores que registaram maior crescimento de vendas no primeiro semestre do ano, enquanto os produtos de limpeza caseira e de higiene e beleza observaram uma quebra assinalável.

 

O ARCO DA VELHA -  Na cadeia de Leiria um grupo de reclusos, familiares e funcionários civis utilizou durante meses o automóvel do director do estabelecimento prisional, sem o conhecimento deste, para introduzir droga e telemóveis na prisão, escondidos no forro do guarda lamas do veículo.

 

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FOTOGRAFIA DE GUERRA - Ao contrário do que aconteceu com outros conflitos do século XX, a guerra colonial portuguesa teve um reduzido registo fotográfico - à excepção de alguns repórteres estrangeiros, poucos, e dos serviços das Forças Armadas portuguesas que tinham essa função documental. No entanto, se compararmos com a guerra do Vietname, para não irmos mais longe, o que existe relativo à guerra na Guiné, Angola ou Moçambique é muito pouco. Augusta Conchiglia, uma repórter italiana entrou clandestinamente em Angola para, com Stefano de Stefani, reportar a luta em curso. Até Setembro desse ano, guiados pelos guerrilheiros do MPLA, percorreram centenas de quilómetros nas zonas libertadas.  É um dos raros registos fotográficos feito do lado dos guerrilheiros e não das Forças Armadas portuguesas. Conchiglia tirou milhares de fotografias, das quais parte foi publicada em 1969 no livro  “Guerra di Popolo in Angola”. Agora uma parte importante desse trabalho pode ser vista na exposição “Augusta Conchiglia nos Trilhos da Frente Leste - Imagens (e Sons) da Luta de Libertação em Angola”, que estará até finais de Dezembro no Museu do Aljube Resistência e Liberdade (Rua de Augusto Rosa 42). Com curadoria de Maria do Carmo Piçarra e José da Costa Ramos, a exposição apresenta imagens do primeiro álbum fotográfico da autoria de alguém exterior às partes do conflito, fotografias que se tornaram símbolos da luta de libertação contra o colonialismo em Angola. Na imagem aqui reproduzida Augusta Conchiglia está ao lado de Iko Carreira, um dos comandantes militares do MPLA mais próximos de Agostinho Neto. Outra sugestão fotográfica, desta vez a norte é a exposição “My Mind is a Cage” de Roger Ballen. Esta exposição foi projectada expressamente para o Centro Português de Fotografia e parte do desejo de Roger Ballen em apresentar uma obra nas distintas celas do edifício da Antiga Cadeia e Tribunal da Relação do Porto,  criando um imaginário em que as celas da Cadeia da Relação surgem como quartos de prisioneiros que albergam as várias séries de imagens do autor. A curadoria é de Ângela Ferreira e a exposição decorre até 10 de Outubro.

 

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UM POLICIAL DIFERENTE- “A Absolvição” é o terceiro volume da série «DNA», de Yrsa Sigurdardóttir, uma islandesa que tem escrito notáveis policiais. Esta série – iniciada com “O Legado”, teve continuação em  “Abismo” e continua agora com “A Absolvição”. A série, e o livro,  tem como protagonistas o investigador criminal Huldar e a psicóloga Freyja, que neste policial  são chamados a investigar uma morte cujos preliminares violentos foram divulgados numa rede social - o assassino filmou o que fez - e como fez - e enviou o vídeo aos contactos do telemóvel da vítima, via Snapchat. Ninguém compreendia a razão do crime, tanto mais que a vítima, Stella, era tida como uma rapariga boa e encantadora. Ao longo da investigação Huldar e Freya começam a descobrir quem  tivesse sofrido às suas mãos, sendo por ela perseguido, ameaçado e destruído, numa espiral de bullying. O crime repete-se, com outro jovem desaparecido e novo vídeo é  posto a circular da mesma forma - e depois percebe-se que o novo assassinato tem também a ver com bullying. A Absolvição, de Yrsa Sigurdardóttir, é uma história de suspense sobre o lado negro das redes sociais, com um foco intenso no exame do bullying – que inclui problemas de isolamento, suicídio, acompanhamento profissional e inépcia na sua prevenção como a crítica internacional tem referido. Yrsa Sigurdardóttir, 57 anos, vive com a família em Reiquejavique e é diretora de uma das maiores empresas de engenharia da Islândia. Escreve policiais nas suas horas vagas.

 

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PRINCE EM PROTESTO - O novo “Welcome 2 America” é o terceiro álbum póstumo de Prince a surgir desde a sua morte, em 2016, mas é o primeiro que é integralmente constituído por material inédito. Tratam-se de 12 canções, descobertas pelo arquivista do músico, Michael Howe, gravadas em 2010, antes de uma das suas últimas digressões. No entanto nessa digressão, que teve por título “Welcome 2 America”,  Prince não interpretou ao vivo nenhum dos temas deste álbum, que por alguma razão resolveu manter escondido até à sua morte, nunca regravando nenhum desses temas. A gravação, com uma produção ao bom nível a que Prince habituou, incluía além do autor, o baixista Tal Wilkenfeld e o baterista Chris Coleman. O álbum surge como um disco conceptual, em que todas as canções assumem uma atitude de protesto e de crítica, sobre temas que vão de impostos à tecnologia, passando pelo estado da indústria discográfica, drogas ou religião. É algo inédito Prince apresentar-se como um cantor de protesto, mas é isso que o disco mostra. Como “The Guardian” fez notar, este trabalho está longe de ser um registo de referência de Prince e alguma razão há-de ter existido para o próprio o ter mantido na prateleira. A favor do disco joga a coerência musical do trio, que se impõe com uma sonoridade enérgica. Mas de facto o conteúdo, ao longo dos 54 minutos de audição, nunca chega a descolar e muitas vezes mesmo a prestação musical de Prince revela um certo enfado com as palavras que canta - e que escreveu. Prince a abordar temas sociais e políticos é algo estranho e sente-se como ele próprio estava desconfortável. Tratou-se de um desabafo, que ele escondeu. Um trabalho apenas para coleccionadores.


A PROPÓSITO DA ACELGA -    Não gosto muito de restaurantes da moda - mas esta semana fui a um que reconheço ter-me cativado. Trata-se do Memória, em Campo de Ourique. O Memória trabalha sobre a cozinha italiana, mas com competência e boa matéria prima. O sítio é agradável, com um amplo espaço ao ar livre, um pátio interno do prédio onde está localizado. Além das entradas costumeiras, há uma burrata com presunto e figo, bem temperada, que animou parte da mesa onde eu estava, na altura entretido a beber um competente Aperol enquanto havia quem se regalasse com um prosecco. O menu oferece massas frescas com sugestões pouco habituais mas que satisfizeram, como uns pappardelle com ragú de coelho - quem quiser tem esparguete com trufas ou gnocchi de beterraba com acelgas. Há cuidado na escolha de ingredientes mediterrânicos e na combinação de sabores. Na área das pizzas, com massa fina, destaque para a que incorpora presunto e figos com mozzarella fior di latte e para a de anchovas e acelgas com mozzarella de búfala. Há mais de uma dúzia de propostas de pizza, incluindo vegetarianas. Nas sobremesas o tiramisu e a tarte tosca com cerejas deram muito boa conta do recado. A lista de vinhos inclui algumas propostas italianas de várias regiões, a preços decentes - a escolha da mesa recaíu num branco siciliano, Zabú Grillo, que também pode ser servido a copo. Há também vinhos portugueses, entre os quais um bom e inesperado Venâncio da Costa Lima branco. Apesar da casa cheia, o serviço funcionou bem. O Memória fica em Campo de Ourique, Rua 4 de Infantaria 26A, no Jardim da Parada, telefone 210998366.

 

DIXIT -  “Tenho vergonha de ter meia dúzia de cursos em que um estudante com 18 valores não entra. Estamos a torturar os nossos adolescentes com esta competitividade”  - António Cruz Serra, Reitor da Universidade de Lisboa.

 

BACK TO BASICS - “A vantagem de ter má memória é que podemos saborear as coisas boas várias vezes como se fossem novidade” - Friedrich Nietzsche.

 




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