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ROAD TO NOWHERE - O PSD vai a votos este fim de semana para escolher o futuro líder e, no início de Julho, fará um Congresso para discutir a estratégia a seguir. Trocado por miúdos a proposta do PSD  é que se escolha o seu líder sem saber a estratégia que irá seguir e as políticas de fundo que defenderá. A campanha interna entre Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva tem sido um deserto de ideias e uma abundância de proclamações gerais. Ao fim de 11 eleições directas o PSD perdeu relevância eleitoral, afastou-se do país, perdeu eleitorado mais jovem. 48 anos depois da sua fundação o PSD está cansado, desactualizado, e parece desorientado - dividido entre satisfazer clientelas internas ou procurar um rumo para conseguir sair para fora do seu círculo, cada vez mais fechado. Aos olhos de muitos portugueses o PSD é um partido de constantes lutas internas onde se procura mais satisfazer interesses sectoriais e particulares que procurar reformar o que está mal na sociedade portuguesa- esta é a herança deixada por Rui Rio. A actual campanha para as directas é uma luta interna entre facções do aparelho, na prática não interessa a quem está de fora, nenhum dos candidatos consegue restabelecer a ligação emocional com o eleitorado com as frases vazias que usa e a confrangedora falta de ideias que exibe. O PSD actual é como que uma rocha, demasiado pesada para se mover, e que, a seguir este rumo, se irá afundando até ficar debaixo de água, a caminho de se tornar irrelevante. O caminho que percorre, citando os Talking Heads, é uma “road to nowhere”.

 

SEMANADA - O número de novas empresas de alojamento turístico e restauração subiu 45% nos primeiros quatro meses do ano; mais de 12% das pessoas residentes em Portugal, entre os 16 e os 74 anos, quase um milhão, é de origem imigrante e um terço nasceu nos PALOP; um desconto de 20% na electricidade para agricultores, medida aprovada em 2021 na Assembleia da República, continua sem ser aplicada por falta de um despacho do Ministério das Finanças; só dez funcionários públicos aceitaram ir trabalhar para o interior do país; segundo a Comissão Europeia Portugal gasta 11,8% do PIB com a folha salarial da função pública, um valor acima da média europeia; nos últimos dez anos o preço das casas cresceu três vezes mais que o rendimento das famílias; um inquérito do Ministério da Educação indica que um terço dos alunos tem sinais de sofrimento psicológico e que mais de metade dos professores sente-se triste e irritada; a morte de mulheres no parto em 2020 atingiu o nível mais alto dos últimos 38 anos; segundo um estudo da Marktest, 3,5 milhões de portugueses gostariam de um dia ter o seu próprio negócio e esta ambição  é tanto maior quanto mais jovens são os inquiridos, atingindo os 62.7% entre os jovens dos 15 aos 24 anos; 95% dos engenheiros web que saem das universidades portugueseas não ficam cá por causa das baixas remunerações e da falta de incentivos; 85% das amostras de peras e 58% das de maçãs cultivadas no país apresentavam resíduos de pesticidas nocivos que já deviam ter sido retirados de circulação; em 2021 a APAV registou 84 homicídios, 33 dos quais em contexto de violência doméstica.

 

O ARCO DA VELHA  - Um juiz de casos de família e de menores é acusado de violência doméstica pela mulher, também juíza no Tribunal de Viseu.

 

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O OLHAR FOTOGRÁFICO - A colecção Ph., editada desde 2017 pela Imprensa Nacional, por iniciativa de Cláudio Garrudo, está a criar uma série de monografias dedicadas a fotógrafos portugueses contemporâneos, iniciada com Jorge Molder e que agora, no seu oitavo volume,  pública Daniel Blaufuks. Maria Filomena Molder, que fez um texto magnífico  de enquadramento da obra, começa por falar dos autorretratos de Daniel Blaufuks presentes no livro e sublinha que “a fotografia é parente do espectro, do fantasma que o corpo lança, enquanto vai caminhando para a morte”. Neste volume Ph.08 surgem várias imagens presentes em livros anteriores de Blaufuks o que suscita também uma interpretação de Maria Filomena Molder:” Se compararmos as fotografias que estão reproduzidas em Ph.08 com as mesmas imagens reproduzidas noutros livros, percebemos de imediato a autoexpressividade - o diferencial- a engendrar-se, pois, na verdade, as fotografias já não são as mesmas, o que é provocado pelo arrancar do contexto anterior”. Aqui a filósofa toca num ponto que torna este Ph.08 bastante diferente de edições anteriores da mesma colecção - e que é a forma como Blaufuks dispôs as fotografias ao longo do livro, de uma forma mais conceptualizada e criativa que edições precedentes da Ph. Daniel Blaufuks aliás já referiu em tempos que acha mais estimulante fazer livros que exposições e isso sente-se neste Ph. Blaufuks tem construído séries, que por vezes percorre ao longo de vários anos, e recorrentemente produz visões diferentes do mesmo espaço - como o livro tão bem mostra. Estas séries, pessoalíssimas em vários casos, são uma das imagens de marca de Blaufuks e mostram a diversidade do seu olhar. A maneira como estão aqui apresentadas cabe dentro de uma frase de Maria Filomena Molder: “Baudelaire associou a fotografia ao poder de rememorar e arquivar, retendo aquilo que está à beira de ser destruído”.

 

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COMBINAÇÕES INESPERADAS  - “The Time Before”, de Melik Ohanian, é uma curiosa exposição que pode ser vista na Galeria Cristina Guerra até 25 de Junho (Rua de Santo António à Estrela 33). Ohanian é de origem arménia, nasceu em França em 1969 e tem trabalhado em Paris, onde é representado pela galeria Chantal Crousel.  Já expôs no Centre Pompidou e no Palais de Tokyo, foi o representante da Arménia na 56ª, Bienal de Veneza, em 2015 e participou nas bienais de São Paulo, Berlim e Sidney. Melik Ohanian começou a expôr em 1995 e está representado em numerosas colecções institucionais e privadas, sendo esta a sua primeira exposição em Portugal. Em “The Time Before” Melik Ohanian mostra vinte peças, todas elas já expostas noutros lugares, que na Galeria Cristina Guerra se apresentam de uma forma dupla - quer como peças individuais num espaço próprio, quer na relação que estabelecem com outras das obras ali apresentadas(na imagem). Outra exposição que vale a pena visitar em Lisboa está na Galeria Zé dos Bois (Rua da Barroca 59) e mostra até 31 de Julho 80 imagens inéditas do espólio do fotógrafo brasileiro Mauro Restiffe, comissariada por João Maria Gusmão e Natxo Checa. Trata-se da primeira grande exposição em Portugal do trabalho de Restiffe. São instantâneos da vida no Brasil, muito centradas na envolvente pessoal, familiar e social do fotógrafo e que constituem um bom retrato do que observou entre a segunda metade dos anos 90 e a segunda década do século XXI. Duas sugestões mais: Nuno Viegas na galeria Zaratan (Rua de S. Bento 432) e Joh, Jorge Humberto, na Trama (rua do Mirante 12).

 

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CANÇÕES DE ESPANHA - Luz Casal começou a ser conhecida internacionalmente quando cantou “Piensa en Mi” no filme “Tacones Lejanos”, de 1991, realizado por Pedro Almodóvar. Nascida na Corunha, foi em Madrid, nos anos da Movida, que Luz Casal alcançou fama e consolidou a sua reputação como uma das novas vozes do pop-rock espanhol de então, tendo gravado dezena e meia de álbuns. Agora com 63 anos decidiu fazer pela primeira vez um disco ao vivo, gravado com a sua própria banda e a Real Filarmonia de Galicia, em Julho do ano passado. Intitulado “Solo Esta Noche”, o álbum foi agora editado e inclui 15 dos seus temas mais conhecidos, gravados num concerto de duas horas  na Plaza del Obradoiro, no cenário imponente da Catedral de Santiago de Compostela.  Entre os temas que Luz Casal interpretou estão “Entre Mis Recuerdos”, o clássico “Historia de Un Amor”, “Besaré El Suelo”,  “Entre Mis Memorias”, “Te Dejé Marchar”, “No Me Importa Nada”, além do incontornável “Piensa En Mi” e uma extraordinária versão de “Negra Sombra”. Os discos ao vivo são sempre uma opção delicada e nem sempre correm bem. Mas este registo, com a opção tomada de incluir arranjos para orquestra, mantendo no entanto a formação que usualmente acompanha Casal nos seus espectáculos, proporciona novas sonoridades a temas conhecidos, que interpreta com uma grande intensidade. O disco encerra precisamente com “Negra Sombra”, um poema da escritora Rosalia Castro, de Santiago de Compostela, que Luz Casal cantou em galego. “Solo Esta Noche” está disponível nas plataformas de streaming.

 

PETISCOS ARGENTINOS - Quis o acaso que logo a seguir a ter passado um dia a ouvir Astor Piazzolla e as suas versões de tangos, fosse desafiado por um amigo argentino a conhecer um novo restaurante do seu país, em Lisboa. Chama-se Tinto & Brasa e fica junto ao jardim das Amoreiras, na Rua João Penha 30, frente às escadinhas que levam ao histórico Procópio. A lista é variada, baseada nas afamadas carnes argentinas, com os cortes tradicionais do país. Além disso há enchidos, semelhantes aos nossos mas com tempero e consistência diferente, como o chorizo  e a morcilla - mais suave que a nossa morcela preta, mais adocicada, uma boa supresa. Estes enchidos podem ser uma entrada, mas há outras como croquetas tinto & brasa com molho de alho, empanada criolla de carne, creme de abóbora com queijo azul e amêndoas fritas e até umas molejas na brasa servidas com sumo de limão e molho crioulo. Há também petiscos como escalopes de vitela panados, empadão argentino e várias sanduíches. Nos pratos principais reinam os cortes de carne argentina já referidos, sempre com molho chimichurri. Os acompanhamentos podem ser batata frita, vegetais de época assados ou salada. Ao almoço há um menu especial com prato do dia. A lista de sobremesas oferece também especialidades argentinas, entre elas  panquecas com doce de leite e, com sorte, um doce embalado, delicioso, o alfajor da marca Havanna que é um ícone do país - massa assada recheada e coberta de chocolate. Uma delícia. A selecção de vinhos também é boa - com destaque para o argentino Norton Clássico, da região de Mendoza. A sala é agradável e de dimensão média, convém reservar:  Tinto & Brasa, tel. 213 870 939.

 

DIXIT - “É uma ideia estúpida e o lugar dela é no cesto dos papéis” - Sérgio Sousa Pinto sobre a proposta de limitação de velocidade em Lisboa aprovada pelo PS e PAN.

 

BACK TO BASICS - “As pessoas sábias conseguem encontrar mais oportunidades que aquelas que lhe são oferecidas” - Sir Francis Bacon

 




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O PESO DA ARTE NA ECONOMIA - Até Domingo 22 decorrem em Lisboa duas feiras dedicadas à Arte Contemporânea - a ARCO Lisboa e a JUSTLX. Os dois eventos não são concorrentes entre si, antes complementares - e por acaso ambos nascem de organizadores espanhóis. A ARCO Lisboa, que assinala o seu quinto aniversário, é organizada pelos mesmos promotores da ARCO Madrid, uma das mais prestigiadas feiras de arte europeia, e a JUSTLX , na sua terceira edição, é promovida pela entidade que em Madrid criou a JUSTMAD. A ARCO Lisboa decorre na Cordoaria, engloba 65 galerias de 14 países, tem uma secção dedicada a novas galerias e outra à arte africana, além de um espaço de divulgação e venda de edições sobre arte. A JUST LX, na sua terceira edição, realiza-se no Centro de Congressos de Lisboa, em Belém (antiga FIL) e tem a presença de 28 expositores de vários países. Com estes dois eventos em paralelo e uma série de exposições relevantes em museus e galerias privadas, Lisboa tem uma semana dedicada às artes. E qual o peso da arte contemporânea e das galerias na economia? Por ocasião da LAAF (Lisbon Art and Antiques Fair), que decorreu recentemente, foi divulgado um estudo sobre o mercado de arte em Portugal, realizado sob a direcção de Adelaide Duarte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O estudo aponta para a existência de mais de 70 galerias de arte em Portugal, a maioria dedicada à arte contemporânea, que no seu conjunto realizam mais de 250 exposições por ano com vendas totais estimadas de cerca de 47 milhões de euros e com um crescimento acentuado nos últimos anos de vendas online. Interrogadas sobre as principais medidas que gostariam de ver implementadas, as galerias inquiridas estabeleceram estes pontos como principais: promover incentivos fiscais para colecionadores, deduzindo aquisições em sede de IRS e IRC, melhorar a Lei do Mecenato, permitindo que a Arte possa ser um investimento para as empresas, promover políticas públicas de incentivo à compra de obras de arte, motivar o coleccionismo privado e institucional, aumentar o orçamento para museus no domínio da aquisição de obras de arte e da programação, criar uma rede intermunicipal de organização de exposições, investir na cultura e na educação, intensificar parcerias entre instituições museológicas com colecções privadas a fim de colmatar lapsos existentes nas colecções públicas, divulgar conteúdos ligados à arte contemporânea na RTP1, promover visitas a museus e a galerias, promover o gosto e o interesse pela arte e, em suma, democratizar o acesso à arte. Como vêem, não pedem subsídios, reivindicam apenas que o Ministério da Cultura tenha uma política que facilite e não dificulte o crescimento de hábitos culturais - uma raridade, como se sabe. Talvez o novo Ministro possa ter força política suficiente para convencer o seu colega nas Finanças de que uma política fiscal adequada pode ser fundamental para desenvolver sectores da economia, também na área da Cultura. Será que Pedro Adão e Silva vai conseguir fazer com Medina o que nenhum dos seus antecessores conseguiu?



SEMANADA - Dos quase 90 mil militantes inscritos no PSD apenas cerca de 45 mil têm as quotas em dia para poderem escolher o futuro líder do partido, entre Montenegro e Moreira da Silva; o cancro do pulmão é o que mais mata em Portugal e em 2020 foram diagnosticados 5415 novos casos; 80% das construtoras não conseguem preencher vagas para as obras e os baixos salários associados à exigência de qualificações são as principais razões para a situação existente; em dez anos o Estado não conseguiu vender uma única propriedade da Bolsa das Terras, criada para combater o abandono agrícola; a Lei dos metadados é ilegal desde 2009 e existem 163 mil pedidos de dados pessoais das tribunais às operadoras de telecomunicações feitos com base nessa lei; as bases de metadados das operadoras de telecomunicações estão sem fiscalização há cinco anos; no primeiro trimestre deste ano verificou-se uma perda média de poder de compra de 2,5%; os acidentes vasculares cerebrais foram em 2021 a primeira causa de morte em Portugal com cerca de 11.439 casos, seguido das mortes por Covid-19, com 7.125 óbitos; o Estado emprega agora 741.288 pessoas, mais 15.821 que no primeiro trimestre do ano passado, com um salário médio mensal de 1815,60 euros; no ano passado, deram entrada na Polícia Judiciária 705 novos processos de suspeitas de corrupção, um aumento de 42% em relação ao ano anterior; com o número de casos de COVID-19 a subir a linha SMS 24 atendeu mais chamadas até Maio do que em todo o ano de 2021; em média a Google acede aos dados de cada seu utilizador português 65 vezes por dia.



O ARCO DA VELHA - António Almeida Costa, membro do Conselho Superior do Ministério Público, e putativo candidato a juiz do Tribunal Constitucional, escreveu um texto contra o aborto em que apelida as experiências nazis de “investigações médicas”.

 

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O CONTRASTE ENTRE DOIS ARTISTAS - Uma das novas exposições que podem ser vistas em Lisboa está na Galeria Belo Galsterer (Rua Castilho 71 RC) e mostra o trabalho de dois artistas: Pedro Quintas  com um conjunto de acrílicos sobre tela com o título genérico “Vinco”, e Gwendolyn van der Velden, uma holandesa que vive e trabalha em Portugal há vários anos e que apresenta “Faces of Others”, um conjunto de retratos a aguarela de grandes dimensões. Bem diferentes entre si, estas duas exposições mostram a diversidade de estilos e propósitos dos dois artistas. Pedro Quintas explora formas geométricas compostas por linhas, riscos e vincos, com uma técnica nascida de trabalho e paciência, em diversos formatos - e para mim, de entre os dez trabalhos que Pedro Quintas expôs, os de menor dimensão são os mais aliciantes porque apelam a uma observação mais detalhada e obrigam a ser vistos de perto (como o da imagem). Já Gwendolyn van der Velden faz da força das expressões que transmite nos retratos o seu principal argumento, introduzindo um dramatismo intrigante. Pedro Quintas estudou no Arco, tem exposto regularmente desde 2002 e está representado em diversas colecções. Gwendolyn estudou na Academia de Belas Artes na Holanda, e trabalha e expõe em Lisboa desde 2009, explorando sobretudo o desenho sobre papel - estas aguarelas são claramente fruto da sua prática de desenho. Outras exposições a descobrir: Suzanne Themlitz na Galeria Vera Cortês, David Graham na Galeria Filomena Soares, Rui Calçada Bastos na Galeria Bruno Múrias, Isaque Pinheiro na galeria Insofar.

 

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MEMÓRIAS DO NOSSO TEMPO - No princípio deste livro está uma citação de Francisco Salgado Zenha: “Ninguém sabe o que é a Justiça, mas todos sabem o que é a injustiça”. O livro em causa é “Justiça, Política e Comunicação Social”, onde Daniel Proença de Carvalho relata as suas memórias enquanto advogado. A sua vida profissional é um cruzamento constante entre o  trabalho enquanto advogado e os cargos que desempenhou no sector da comunicação: director do Jornal Novo, presidente da RTP e do Global Media Group, fundador do “Semanário”, proponente no início da década de 90 de um  dos concorrentes à concessão de canais privados de televisão e ainda Ministro da Comunicação Social, anos antes, no IV Governo Constitucional. Ao longo de cerca de 370 páginas, Daniel Proença de Carvalho recorda ainda alguns dos casos a que esteve ligado enquanto advogado: a herança Sommer e António Champalimaud e os processos em que defendeu Manuel Rui Nabeiro, Leonor Beleza e Roberto Carneiro, entre outros. Mas escreve também sobre a relação que manteve com outros advogados que admirou, como Manuel João da Palma Carlos ou Salgado Zenha, “um homem de uma cultura superior” que “escrevia à primeira, sem precisar de corrigir”. O livro relata também os tempos que se seguiram em, 1974 e 1975, ao 25 de Abril e a intervenção que teve em diversos casos. Já no final Proença de Carvalho recorda o seu último combate político, contra a regionalização na altura do referendo de 1998. E, a terminar, relata o conflito que teve com o Procurador Geral da República, Cunha Rodrigues. O livro proporciona uma viagem, na escolha de temas e nas palavras do próprio, por períodos marcantes da nossa história recente- na justiça, na comunicação, na política. O texto final, “E o futuro?” bem pode ser lido como um programa para que Portugal progrida. Edição Bertrand.

 

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O TANGO  - Astor Piazzolla nasceu na Argentina em 1921, filho de pais italianos que foram viver para Nova Iorque, tinha ele quatro anos. Com apenas oito anos teve o seu primeiro bandonéon, oferecido pelo pai, e foi nos Estados Unidos que estudou música. Foi também em Nova Iorque que conheceu Carlos Gardel, o grande nome do Tango, quando Piazzolla, ainda miúdo, desempenhou o papel de um ardina que levava jornais a Gardel no filme “El Dia Que Me Quieras”. Piazzolla, que faleceu em Buenos Aires em 1992, é considerado o  compositor de tango mais importante da segunda metade do século XX mas, quando começou a fazer inovações no tango, no ritmo, no timbre e na harmonia, foi muito criticado pelos tradicionalistas. Em 1986 Astor Piazzolla aceitou o desafio de Hip Hanrahan, fundador da editora American Clavé, e gravou em Nova Iorque três discos com o Quarteto Tango Nuevo - onde o seu bandóneon era acompanhado por um baixo, violino, piano e guitarra. “Tango: Zero Hour” foi o primeiro desses três álbuns, os outros foram “The Solitude of Passionate Provocation” e “The Rough Dancer and the Cyclical Night (Tango Apasionado)”, este último construído como banda sonora para uma peça teatral baseada em textos de Jorge Luis Borges. Os três constituem a sua discografia na American Clavé. A Nonesuch, que herdou esse catálogo, reuniu agora os três discos numa edição especial onde se pode ouvir toda essa obra, um total de 28 temas, cerca de duas horas e meia de grande música - The American Clavé Recordings. Quer ouvidos de forma separada ou em conjunto estas três obras mostram bem a dimensão da revolução musical protagonizada por Astor Piazzolla. Disponível nas plataformas de streaming.

 

DIXIT -  "Na nossa elite política, ninguém acredita que a cultura e o conhecimento continuam a ser importantes para a sociedade em geral e para se perceber a política global" - Fernando Sobral

 

BACK TO BASICS - “Um quadro exposto nas paredes de um museu é alvo de mais opiniões ridículas que qualquer outra coisa no mundo” - Edmond de Goncourt

 

 

 

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O NOSSO GRANDE PROBLEMA

por falcao, em 13.05.22

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GERAÇÃO DESPERDIÇADA - Nos últimos anos tem sido feito um enorme esforço em aumentar a qualificação de toda uma geração. Temos mais e melhores profissionais de diversas áreas fundamentais, por exemplo na saúde, na engenharia e na inovação. Mas muitos dos novos profissionais começam a trabalhar com remunerações objectivamente abaixo das qualificações que têm. Olham para a frente e não vislumbram perspectiva de progressão na carreira de forma estruturada e compensatória. Para muitos jovens portugueses qualificados, alcançar uma qualidade de vida semelhante à das pessoas da sua idade e formação noutros países é uma miragem. Estivemos anos a formar bons profissionais, ao mesmo tempo que nada fizemos para os incentivar a sentirem-se recompensados pelo trabalho que são chamados a desempenhar. O resultado é que muitos partem para outros países onde sentem que o esforço, o saber e a competência são recompensados. Este é talvez o maior problema que Portugal tem pela frente: está a desperdiçar uma geração que podia dar um contributo para a transformação do país. Todas as estatísticas indicam que o fosso salarial existente entre Portugal e outros países da União Europeia aumenta em vez de diminuir. A diferença entre o salário mínimo nacional e o salário dos que entram, qualificados, no mercado de trabalho reduz-se cada vez mais. A parte do salário mínimo aumentar é positiva, a parte de o salário inicial de profissionais qualificados não ter alterações sensíveis nem um progressão expectável é muito negativa. De que serve qualificar se não temos como beneficiar quem se qualificou? 

 

SEMANADA - Segundo a Ordem dos Médicos o número de queixas contra profissionais que realizam procedimentos estéticos tem vindo a aumentar desde 2021; o aumento do preço dos combustíveis não levou ao aumento da procura de bicicletas e comerciantes do sector dizem que as vendas estão abaixo do ano passado; a CP transportou o dobro dos passageiros no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado; em 2021 as viaturas médicas de emergência e reanimação do INEM estiveram inoperacionais quase sete mil horas devido à falta de tripulação; o preço do calçado deverá aumentar mais de 8% nos próximos meses, afirmam os industriais do sector; o Parlamento tem o mesmo número de deputados abaixo dos 35 anos e acima dos 65; dos 130 deputados, 75 são formados na área do Direito; escassas semanas depois do fim da obrigatoriedade das máscaras registam-se 27 vezes mais casos de covid-19 que há um ano; as queixas de atrasos no abono de família aumentaram 133%; no hospital de Seia quem  pretende ir a uma consulta de dermatologia tem de esperar 1301 dias; no hospital da Guarda quem pretende ser visto por um dermatologista terá de esperar 1041 dias; a TAP pesou 57% nos prejuízos de todo o sector empresarial do Estado em 2020; 33 empresas públicas têm capital próprio negativo e estão em falência técnica, entre as quais o Metro do Porto,  a TAP, a CP, e a STCP; apesar de Portugal ter a nona maior área de vinha do mundo, de ser o 10º produtor mundial de vinho, e ter o maior consumo per capita de vinho do mundo,  é o país que mais vinho a granel importa; no primeiro mês depois da invasão da Ucrânia, Portugal importou mercadorias da Rússia no valor de 153 milhões de euros, dos quais mais de 100 foram de produtos petrolíferos. 



O ARCO DA VELHA -  No caso da fuga de João Rendeiro o Conselho Superior da Magistratura isentou de responsabilidades os juízes, apesar deles  terem atrasado o início do julgamento e de o mandato de captura ter demorado  28 meses a ser emitido.

 

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JULIÃO  - “Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil” é o título da primeira grande exposição de trabalhos de Julião Sarmento que se realiza após a morte do artista, ocorrida em 2021. O Museu Berardo recebe a partir desta semana e até ao fim do ano 121 obras de Julião Sarmento, distribuídas por 18 das salas do Museu, numa exposição com curadoria de Catherine David. A peça que dá o título à mostra,  “Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil” (na imagem), é datada de 1997. Julião Sarmento trabalhou ainda com Catherine David nesta exposição, empenhando-se muito na sua concepção. O layout desta exposição e a disposição das obras nas salas foram finalizados dois meses antes da sua morte. É bom sublinhar que,  para Julião Sarmento, a instalação dos seus trabalhos no espaço era parte integrante das obras que expunha, pois considerava de capital importância a relação que se estabelece entre o trabalho, o espaço que o envolve e o espectador. Rita Lougares, directora artística do Museu Berardo, sublinha que Julião Sarmento “ foi um dos artistas portugueses com uma carreira internacional mais solidamente firmada, tendo construído um percurso artístico de enorme coerência, riqueza e intensidade”. E, destaca: “O artista foi muito influenciado pela cultura anglo-saxónica e pelos temas e imagens da literatura e do cinema, muito presentes nas suas obras através de citações e montagens. Em permanente renovação e em estreita ligação com as práticas artísticas da sua época, que vão do pós-pop até à atualidade, utilizou uma grande diversidade de meios e técnicas, como fotografia, pintura, colagem, desenho, escultura, performance e filme, para implantar um vocabulário conciso de imagens ambíguas”.

 

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UMA INVESTIGAÇÃO EM BARCELONA  - No início da pandemia deliciei-me com um policial espanhol, “Terra Alta”, que em 2019 valeu ao seu autor, Javier Cercas, o Prémio Planeta. No centro do livro está Melchor Marin, um polícia que em Barcelona  desmantelou uma rede terrorista islâmica e que, para sua própria segurança, foi colocado na Catalunha profunda, numa vila sem história chamada Gandesa. A pacatez do lugar foi sacudida por um assassinato, envolvido numa história de corrupção que tocava a própria polícia. Melchor deslindou o crime mas, pelo caminho, a sua mulher, Olga, morreu. “Independência- Terra Alta II”, é o seguimento dessa história, agora publicado em Portugal. Com a morte da mulher a solidão de Melchor nos confins da Catalunha acentuou-se. Pensou em mudar de vida, em deixar de ser polícia, em ser bibliotecário, que era a profissão de Olga. Foi no meio destes pensamentos que um dia adormeceu a ler um livro do nosso Eça de Queiroz, “A Ilustre Casa de Ramires” . Na manhã seguinte decidiu alterar os seus planos, não resistindo ao desafio de voltar a Barcelona para investigar um caso de chantagem: a Presidente da Câmara estava a ser ameaçada com a divulgação de um vídeo de teor sexual. Quem a ameaçava não queria dinheiro, queria poder manejar o poder. Esta investigação é sobre os círculos de poder, sobre as manobras de bastidores, sobre o que está em jogo numa cidade como Barcelona e numa zona tão rica como a Catalunha. A história envolve droga, grandes empresas, moedas virtuais e corrupção abundante. A escrita de Javier Cercas é dura, a construção da narrativa é envolvente e irresistível. Um policial excelente. A tradução é de Helena Pitta, para a Porto Editora.

 

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GUITARRADA - Aos 70 anos o guitarrista John Scofield editou agora o seu primeiro disco a solo. Com uma longa carreira ao lado dos melhores músicos de jazz, Scofield consolidou a sua reputação como um dos melhores guitarristas. Ao longo da sua carreira tem cruzado estilos musicais, do jazz ao rock, passando pelos blues e pela soul. Tocou com Miles Davis, Joe Henderson, George Duke, Herbie Hancock e com outros guitarristas como Pat Metheny ou Bill Frisell. Mas também tocou com os Grateful Dead, Mavis Staples, Dr. John ou John Mayer. Participou em mais de uma centena de álbuns com outros músicos mas este é o seu primeiro aĺbum a solo - um desafio quando falamos de um guitarrista que está habituado a tocar nota a nota, tendo alguém a acompanhá-lo. Scofield resolveu essa questão fazendo ele próprio overdubs que surgem em pano de fundo. Pessoalmente gosto de discos de guitarra a solo, e este é uma bela surpresa. Ao longo de quase uma hora Scofield interpreta 13 temas, a maioria versões, mas inclui dois originais seus. Alguns temas já tinham sido gravados antes por Scofield, mas surgem aqui em novas versões, como “Honest I Do” ou “Mrs Scofield’s Waltz”, “There Will Be Never Another You” e “Since You Asked”. Outros temas são clássicos, como “It Could Happen To You”, uma evocação dos seus tempos com Miles Davis, “My Old Flame” que antes tocou com Charlie Haden, “Danny Boy” , “Not Fade Away”, uma canção de Buddy Holly que Scofield tocou muitas vezes com os Grateful Dead, “You Win Again” de Hank Williams ou “My Old Flame”. Os dois temas originais são “Elder Dance” e “Trance du Hour”, uma homenagem a Coltrane onde surge a evocação de “A Love Supreme” na melodia.



TEMPO DE SALADAS - Tenho umas manias em matérias de saladas. Por exemplo, entre aquelas que vêm lavadas e embaladas, só suporto as de rúcula, que com tomate cherry cortado em metades pode ser uma possibilidade. Claro que esta rúcula está mesmo a pedir um salmão fumado cortado às tiras, bem temperado de sumo de limão e com um punhado de alcaparras por cima.  Mas experimentem acompanhar muxama de atum, cortada fina, com esta salada. Ou, mais simples ainda,  coloquem-na a namorar uma conserva de lombo de atum em azeite da marca Tenório.  Deixemos a rúcula e passemos para a tão maltratada alface. Devo desde já dizer que,  no que toca à salada de alface, prefiro-a natural, sem ser pré-preparada. Gosto dela cortada, em pedaços de média dimensão, salpicada por umas  rodelas de cebola roxa crua, temperada de forma generosa com sal, azeite e vinagre de vinho branco. Assim preparada, quanto mais fresca e estaladiça, melhor. É a salada ideal para acompanhar fritos - sejam filetes de pescada, sejam bifinhos panados cortados bem finos E para o fim deixo uma das minhas saladas preferidas - pepino cortado em rodelas muito finas, acompanhado por pedaçoss de tomate maduro, umas azeitonas sem caroço e cebolinhas de conserva, tudo temperado com um pouco de sal, azeite e vinagre- acompanha muito bem um peito de frango grelhado e fatiado e que no fim leva por cima um molho feito com sumo de limão, mel e pimenta preta. Bom apetite, o Verão é um desafio.

 

DIXIT - “Não são precisos mais milhões no Orçamento de Estado da Saúde. O que é preciso é saber gerir adequadamente” - Pedro Pita Barros, professor de Economia da Saúde na Universidade Nova

 

BACK TO BASICS - “Quem está sempre a falar, no fundo não quer ouvir os outros e não quer conversar” - ouvido num restaurante.

 




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ESQUINA 874 - 6 MAIO 2022

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OS RUSSOS DE SETÚBAL  - O caso do acolhimento de refugiados ucranianos por activistas russos pró Putin na Câmara de Setúbal evidencia que ainda há quem considere  haver legitimidade para os russos controlarem os ucranianos, como se a Rússia tivesse ainda direitos e autoridade sobre a Ucrânia. Esta é a realidade: para a Câmara de Setúbal,  dominada pelo PCP, é natural que sejam servidores russos a organizar refugiados fugidos de um país que a Rússia reivindica como seu. O desejo de reconstituição do império soviético sobrepõe-se ao bom senso. Muita gente ainda encara como natural que membros destacados e influentes da Federação Russa, como Igor Khashin,  possam representar cidadãos de países que se libertaram do regime soviético e se tornaram independentes. Vai-se sabendo que o caso de Setúbal, gritante pelos dislates cometidos, é uma gota de água no oceano. Já nem vou buscar o triste episódio das denúncias da Câmara de Lisboa, na altura  dirigida por Fernando Medina, que passou nomes de opositores a Putin para a embaixada da Federação Russa. Mas recordo que o Alto Comissariado para as Migrações incluía em 2021, entre as associações que podem representar a comunidade ucraniana em Portugal, a Associação dos Imigrantes dos Países de Leste (EDINSTVO), dirigida por Igor Khashin que se gaba das suas boas relações com o Kremlin e com a embaixada da Federação Russa em Portugal. A associação Edinstvo, responsável pelo acolhimento de refugiados ucranianos em Setúbal, está envolvida numa outra polémica. Durante, pelo menos, cinco anos terá tido acesso à base de dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) através de um protocolo assinado com o Governo português. O que a Câmara de Setúbal fez resume-se a isto: vêm de Leste? Fogem da Operação Militar Especial? Queixam-se de terem sido invadidos? - então os camaradas do Kremlin têm que saber quem são, de onde vêm e o que fazem. Este é o triste raciocínio. E não é falta de bom senso ou ignorância. É apenas subserviência face a ditadores como Putin. Bem podem dar loas a Abril, mas na prática desconhecem o significado de Liberdade.

 

SEMANADA - No primeiro trimestre do ano foram controlados em Portugal 156 500 vôos, um aumento de 208% em comparação com o mesmo período do ano passado; 6057 pessoas morreram afogadas em Portugal nas últimas três décadas, das quais 38% tinham mais de 65 anos; as mulheres representam 7% do total de reclusos nas prisões portuguesas; mais de 2500 médicos e enfermeiros saíram do SNS nos anos da pandemia; só no ano passado emigraram 88 médicos, a maioria para países nórdicos; há mais utentes do SNS sem médico de família hoje do que quando o Governo tomou posse em 2015; só 11% das autarquias assumiram competências na área da saúde; a manterem-se os planos actuais a península de Tróia vai ter mais de 15 mil camas turísticas e residenciais; no primeiro trimestre do ano o fisco arrecadou por dia 123 milhões de euros em impostos; as tentativas de fraude informática aumentaram nove vezes em 2021; entre os 30 maiores beneficiários de fundos europeus relativos ao quadro comunitário do Portugal 2020 há 28 públicos e apenas dois privados; o programa Chave na Mão, que se destinava a incentivar e dar facilidades de alojamento a quem se mudasse do Litoral para um dos 165 concelhos de baixa densidade populacional, teve zero adesões; a idade média dos membros do novo Conselho de Estado é de 72 anos; Costa dixit: “Sócrates aldrabou-nos”.

 

O ARCO DA VELHA - A Entidade fiscalizadora do Segredo de Estado continua a funcionar em instalações sem condições de segurança física nem capacidade para informatizar os segredos de Estado, com apenas dois membros, e sem assessor jurídico.

 

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CLÁSSICOS REVISITADOS - Uma das exposições incontornáveis que neste momento podem ver em Lisboa está no Atelier Museu Júlio Pomar. Sob o título “Pintura de Histórias” a exposição tem 40 obras, maioritariamente pinturas, e mostra a forma como Júlio Pomar, desde a década de 80, deu mais atenção aos temas literários e trabalhou na exploração de histórias e figuras da mitologia clássica,  que fazem parte do património universal. Neste conjunto de trabalhos Pomar conseguiu com a sua pintura transformar as grandes histórias da humanidade em versões próprias, onde a visão das personagens se faz de acordo com a sua criatividade, com um forte cunho pessoal, com humor e irreverência. Com curadoria de Alexandre Pomar e Sara Antónia Matos, a exposição ficará patente no Atelier Museu até 2 de Outubro - Rua do Vale 7, Lisboa, de terça a domingo, entre as 10 e as 18. (Na imagem uma das obras fotografada por António Jorge Silva). A norte há também uma reinterpretação da antiguidade clássica -  Ana Jotta apresenta de novo em  Serralves as onze máscaras que fez no início deste século sob o título colectivo  “Mirmidão da Tragédia”. Estas onze peças são a interpretação que Ana Jotta fez de máscaras usadas na tragédia grega - os mirmidões foram soldados tessálicos que acompanharam Aquiles à Guerra de Tróia. As máscaras de Mirmidão da Tragédia tinham já sido mostradas em Serralves em 2005 na exposição retrospectiva “Rua Ana Jotta” e a nova exposição pode ser vista até 25 de Setembro. E para terminar, regresso a Lisboa, ao Museu Natural de História Natural e da Ciência onde Jorge Barreto Xavier expõe até 31 de Julho “Alice”, um ensaio fotográfico que se debruça sobre a pele, esse envelope do corpo.

 

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UMA AVENTURA NO MUNDO DO XADREZ - A “Diagonal Alekhine” é um daqueles livros que não se larga quando se começa a ler. A história começa a meio do Atlântico, no paquete Miracle, em 1940, quando Alexandre Alexandrovitch Alekhine, campeão do mundo de xadrez na época, vinha de Buenos Aires para Lisboa. Toda a história se baseia nos últimos anos de vida de Alekhine, nascido em Moscovo em 1892, falecido no Estoril em 1946, e que teve o título de campeão mundial de xadrez durante 17 anos. Conhecido pela sua forma de jogar agressiva, privilegiando o ataque, Alekhine, venceu o seu primeiro torneio aos 17 anos em São Petersburgo e ao longo da sua vida desenvolveu várias aberturas e jogadas que ficaram como referências do xadrez. A 24 de Março de 1946, numa manhã de domingo, Alekhine, foi encontrado morto no quarto 43 do Hotel do Parque, no Estoril, junto a um tabuleiro de xadrez com as peças na posição inicial. Tinha 53 anos e a sua morte continua ainda envolvida em mistério. Tinha uma personalidade irascível, fez muitos inimigos. “A Diagonal Alekhine,”, um livro agora editado relata os seus últimos dias e foca-se nos sete derradeiros anos da sua vida, não esquecendo as polémicas em que se envolveu e a sua rivalidade com outro mestre do Xadrez, o cubano Capablanca. Não é uma biografia, é uma aventura que segue a vida de um aventureiro. O seu autor, Arthur Larrue, professor de literatura francesa, expulso há poucos anos da Rússia pelas suas relações com intelectuais dissidentes, vive actualmente em Lisboa. O romance decorre com a intensidade de uma disputada partida de xadrez, joga a jogada, com todos os ingredientes de uma personagem consagrada pelo czar, perseguida por Estaline, chantageada por Goebbels e odiada por muitos praticantes do jogo. Uma leitura apaixonante. Edição Quetzal, tradução de Antonio Sabler.

 

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BLUES CLÁSSICOS  - Se gostam de blues, corram a descobrir este disco onde se reúnem dois grandes nomes da música da América, Taj Mahal e Ry Cooder, juntos numa homenagem a dois grandes bluesmen, Sonny Terry e Brownie McGhee. Há mais de 50 anos que Mahal e Cooder não gravavam juntos - em 1968 Ry Cooder foi o guitarrista convidado para o álbum de estreia de Taj Mahal. Apesar da amizade entre os dois e das numerosas colaborações que tiveram ao longo dos anos, só voltaram a encontrar-se num estúdio em 2021, com o objectivo confesso de homenagearem as duas figuras históricas dos blues que são uma referência incontornável para eles. Em “Get on Board: The Songs of Sonny Terry & Brownie McGhee” , Taj Mahal e Ry Cooder gravaram onze temas, repescados de discos e de gravações de actuações de Terry, na harmónica , e McGhee, na guitarra, Neste disco coube a Mahal a harmónica, a guitarra e o piano, e Cooder ficou com a guitarra e o banjo. O filho de Ry, Joachim Cooder, assegurou o baixo e a percussão. Ao longo das 11 canções que compõem o álbum é evidente o prazer e a alegria de Mahal e Cooder em fazerem as suas versões destes temas que conhecem desde a adolescência. Aqui podemos revisitar clássicos de blues como “Midnight Special”, “Deep Sea River”, “Pawn Shop Blues”, “I Shall Not Be Moved” ou ainda os deliciosos “My Baby Done Changed the Lock on the Door” ou “Drinkin’ Wine Spo-Dee-O-Dee”. Irresistível - e disponível nas plataformas de streaming.

 

PETISCO ALEMÃO - Meia dúzia de mesas no interior, uma no passeio, ao ar livre. Uma cozinha pequena onde um cozinheiro alemão, Ralf, confecciona todos os dias petiscos da sua terra, com respeito pela tradição. E na pequena sala, sempre atenta, Josiany explica o que esperar dos pratos com nomes germânicos e avança umas sugestões.  É o “Bistro Café do Alemão”, abre cedo para os pequenos almoços e depois começa a preparar o menu do almoço, que vai variando todos os dias. Ralph confecciona os seus próprios doces e salgados e ainda os diversos petiscos da refeição principal. No menu todos os dias há uma das variedades das deliciosas salsichas alemãs, com diversos acompanhamentos, desde puré de batata até cebola caramelizada, couve lombarda, ou couve roxa salteada. Nalguns dias da semana há o tradicional schnitzel, os escalopes de lombo de porco finos e bem fritos,  com batatas fritas ou batatas salteadas. Todos os dias há uma opção vegetariana, além das sopas, cremosas, de legumes, e das saladas que podem ser um prato principal. Nas sobremesas há um bolo de queijo alemão, um Apfeltaschen (massa folhada com recheio de maçã) ou um Creme de Canela com Ameixas em calda de Vinho Tinto. Há uma boa escolha de cervejas alemãs, a casa aceita encomendas para take away e encerra todos os dias às 16h30. Este é um daqueles sítios meio escondidos, com qualidade mas despretensiosos, que vale a pena conhecer. O “Bistro Café do Alemão” fica na Rua Artilharia Um, nº 98A e tem o telefone 211 347 808.

 

DIXIT - “Tenho grandes dúvidas sobre a importância de uma regionalização nesta altura. Entendo que há que mobilizar o país e não dividi-lo” - Ramalho Eanes

 

BACK TO BASICS - “Se o crime não compensasse, não havia criminosos” - G. Gordon Liddy

 




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