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PELA ESTRADA FORA - Enquanto se multiplica em contactos no estrangeiro António Costa semeia promessas para o mercado interno: 20 % de aumento de salários num dia, “aumento histórico de pensões” em 2023  e crescimento nunca visto graças ao PRR noutro. Nos últimos dois meses António Costa visitou sete países europeus e enquanto procura aumentar a sua influência no exterior deixou a inércia instalar-se no Governo, como se verificou na questão da degradação do SNS. Mas Costa é hábil e nunca desanima: aos obstáculos responde com promessas, às dificuldades contrapõe miragens. Não fala das reformas que a sua maioria absoluta poderia permitir na justiça, saúde, educação e prefere fazer variações calculistas sobre a integração da Ucrânia na União Europeia, passando do mais acabado cepticismo para o mais entusiástico apoio, tudo seguindo naturalmente a  posição dos países que lhe poderão ser úteis caso se decida a tentar algum cargo europeu - coisa que parece cada vez mais ser o motor da sua actividade, por muito que o próprio desminta e o Presidente da República negue. O tempo o dirá, mas os seus actos estão à vista. O calendário eleitoral dos próximos anos é intenso: em 2024 eleições para o Parlamento Europeu, em 2025 eleições autárquicas, em 2026 eleições legislativas e presidenciais. Em nenhum momento se ouve Costa falar de revisão da Lei Eleitoral, sinal de que pelos vistos se sente confortável com a abstenção galopante e com o desperdício de votos que existe no actual sistema, e de que o seu partido é um dos principais beneficiários. Enquanto Costa prepara o seu próximo futuro, as promessas de benesses orçamentais que vai espalhando parecem ser um fato à medida da indicação de Fernando Medina, agora Ministro das Finanças, como seu sucessor. A sucessão de Costa no PS promete ser um romance  com todos os condimentos. Costa está lançado pelas estradas da Europa. E em que estado irá ficar Portugal no fim deste passeio?

 

SEMANADA - Um estudo da União Europeia indica que a despesa de Portugal com os salários na Função Pública superou em 1,3 pontos percentuais a média da União Europeia em 2021;  Portugal gasta 11,8% do PIB com a Função Pública, o que compara com o valor médio de 10,5% na União; a mortalidade na primeira metade de Junho subiu 26% em relação ao período homólogo antes da pandemia; há serviços de urgências nos hospitais públicos com 80% de tarefeiros; Portugal é o terceiro país da zona euro onde o preço dos alimentos mais cresceu, logo atrás da  Letónia e Lituânia; um estudo divulgado esta semana indica que nos últimos dez anos os salários médios dos portugueses caíram e os mais qualificados foram os mais prejudicados; em 2019, o rendimento anual médio líquido (em paridade de poder de compra) em Portugal era de 13.727 euros, o sétimo mais baixo entre os países da União; em 2019 havia 13 países em que os trabalhadores com ensino superior ganhavam mais que em Portugal: Itália, Chipre, Irlanda, Finlândia, França, Malta, Bélgica, Holanda, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Luxemburgo; há cinco países em que os trabalhadores não qualificados ganhavam mais que os portugueses com ensino superior: Finlândia, Áustria, Holanda, Dinamarca e Luxemburgo; em 2019, Portugal era o sexto país com menor produtividade, apenas acima de países como a Roménia, Polónia, Letónia, Grécia e Bulgária; nesse ano, a produtividade dos portugueses era equivalente a 66% da média da produtividade dos trabalhadores da UE; uma sondagem do Correio da Manhã e do Jornal de Negócios indica que 91,5% dos inquiridos considera que Portugal precisa de grandes reformas, sendo a saúde e a educação as áreas prioritárias; mas apesar de o PS ter obtido  a maioria absoluta, 65,8%dos inquiridos  não acreditam que o Governo faça qualquer reforma de fundo; um estudo recente defende que em Portugal há um problema de transparência ao nível do Governo.

 

O ARCO DA VELHA - A Agência para a Investigação Clínica e Inovação Biomédica foi anunciada em 2018 e foram prometidos 20 milhões de euros até 2023, mas a um ano do objectivo o investimento não chega a um milhão - está nos 750 mil euros.

 

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A RUA DAS EXPOSIÇÕES - Uma das zonas de Lisboa onde nos últimos anos se foram instalando várias galerias de arte é Marvila. Na Rua Capitão Leitão coexistem várias: a Galeria Francisco Fino, a Galeria Bruno Múrias e a Insofar Art Gallery - e todas têm actualmente exposições que vale a pena conhecer. Começo pela Insofar: sob a direcção de Inês Valle a galeria criou o programa FACHADA, que se estreou em Maio passado e onde, até 12 de Julho, podem ser vistas, precisamente na fachada da galeria, 157 esculturas de Isaque Pinheiro (na imagem) a que o artista deu o título genérico de “A Malha”. A ideia é que o projecto FACHADA se realize  uma vez por ano, como uma parte da programação da galeria dirigida ao espaço público. Em cada ano será convidado um artista a conceber uma ideia de intervenção na fachada da Insofar e, ao mesmo tempo, personalidades ligadas à arte contemporânea elaborarão  textos com a sua visão da obra - este ano coube a João Silvério e a Fábio Gomes Raposo. Ali bem perto, quase em frente, a Galeria Francisco Fino apresenta até 30 de Julho uma exposição colectiva com o título “Escola da Libertinagem” e que agrupa trabalhos de uma série de artistas, comissariada por Alexandre Melo, a partir de uma conversa tida em 2020 com Julião Sarmento, que é um dos artistas representados na exposição, ao lado de nomes como Paula Rego, Gabriel Abrantes, Ana Vidigal, José Pedro Cortes, Luisa Cunha, Rosa Carvalho e Vasco Araújo, entre outros. O nome da exposição evoca o subtítulo de uma edição portuguesa de os “120 Dias de Sodoma”, do Marquês de Sade, feita pela editora Arcádia em 1975. E, para finalizar, ainda na Rua Capitão Leitão, a Galeria Bruno Múrias apresenta até 23 de Julho uma exposição de novos trabalhos de Rui Calçada Bastos sob o título “Words Don’t Come Easy” e que explora as relações possíveis entre fotografia e escultura, construindo uma narrativa sobre a comunicação entre as pessoas.

 

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A ATRACÇÃO AFRICANA  - Ao longo de cerca de dois meses, Ernest Hemingway e a sua mulher, Pauline Pfeiffer, viajaram pela África Oriental, participando num safari pela região do Serengueti. Publicado originalmente em 1935, o romance “As Verdes Colinas de África” é o testemunho dessa aventura. Aqui, o escritor reflete sobre o fascínio da caça, o deslumbramento pela paisagem africana e o respeito do homem pela beleza e glória daquele território selvagem, permanentemente acossado por um invasor estrangeiro. Entre perseguições a leões, búfalos, rinocerontes e aos fascinantes cudos (antílopes de listas brancas que Hemingway deseja mais do que qualquer outro animal),  este é o registo de uma experiência íntima, que é também uma referência da literatura de viagens. A certa altura no romance damos com este parágrafo: “Tudo o que queria naquele momento era voltar para África. Ainda lá estávamos, mas quando eu acordasse durante a noite ficaria estendido na cama, já a sentir saudades dela”. Ernest Hemingway nasceu no Illinois, a 21 de julho de 1899, e suicidou-se no Idaho, em julho de 1961. Em 1953 ganhou o Prémio Pulitzer, com “O Velho e o Mar”, e em 1954 o Prémio Nobel de Literatura. Esta nova edição de “As Verdes Colinas de África”, integra a colecção “Dois Mundos” dos Livros do Brasil e tem tradução de Guilherme de Castilho. 

 

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PALAVRAS DE ORDEM - Lembram-se de canções como “Should I Stay Or Should I Go?”, “Rock The Casbah”, “Straight To Hell” ou  “Know Your Rights”? Sim são todas elas momentos emblemáticos da carreira dos Clash e estão incluídas no álbum “Combat Rock”, editado há 40 anos em 1982, o quinto disco da banda e o último com o guitarrista Mick Jones e  o baterista Topper Headon. Pois é, já passaram 40 anos e é tão curioso ouvi-las de novo hoje em dia… Para assinalar a efeméride foi lançado o duplo CD “Combat Rock/The People’s Hall (Special Edition)” que além das 12 faixas originais, agora remasterizadas, inclui ainda várias versões extra e lados B de singles - um total de 24 temas que se estendem ao longo de uma hora e quarenta. Este foi o álbum dos Clash que teve maior êxito e também o seu derradeiro testemunho. Os Clash, é bom recordá-lo, foram uma banda que proclamava sem rodeios a sua opinião sobre o estado do mundo e a forma como então já se adivinhava que iria evoluir. Depois de terem feito um triplo álbum menor, “Sandinista”, os Clash queriam fazer um duplo CD, mas o produtor Glyn Johns convenceu-os a deixar de fora alguns temas e a concentrarem-se apenas em 12 canções. Foi assim que nasceu a  edição original de “Combat Rock”. Em “Know Your Rights” , considerada por muitos um dos grande temas do rock, Joe Strummer canta “You have the right to free speech/As long as you’re not dumb enough to actually try it.” 40  anos depois as palavras tornaram-se de novo actuais no contexto do que se passa na Rússia, no meio da invasão ordenada por Putin à Ucrânia. Disponível nas plataformas de streaming.

 

SALADA ESTIVAL  - Estamos oficialmente no verão, o que é sinónimo de duas coisas: saladas e dias longos. Também é suposto haver um calorzinho, que tem andado instável. Mas mesmo com as temperaturas de antes do início da primavera, deixo aqui um dos meus petiscos estivais favoritos: salada de melancia com queijo feta. Como verão já de seguida a iguaria leva mais alguns ingredientes mas o essencial é mesmo dado pelo contraste da melancia com o queijo feta. Comecemos então por cortar uma boa porção de melancia em pedaços de dimensão média e o queijo feta em cubos. Misturem tudo e entretanto cortem meio pepino também em cubos e acrescentem à melancia e ao feta. Por fim adicionem azeitonas às rodelas,  folhas de hortelã-pimenta e de basílico picadas grosseiramente e um molho feito à base de azeite, com sumo de lima e pimenta. Misturem tudo muito bem e antes de ir à mesa coloquem mais folhas inteiras de hortelã e de basílico por cima. Vão ver que isto proporciona um jantar leve e fresco, para quando os dias estiverem mais quentes.

 

DIXIT - “Com quem é que o Governo quer governar a saúde? Com os médicos a quem paga mal? Com os enfermeiros que aliena? Com as Ordens que despreza? Com os privados que ameaça de morte? Com os doentes e familiares que esperam por consultas e cirurgias?” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Pode ser perigoso ter razão quando se apontam os erros do Governo” - Voltaire

 




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publicado às 11:00

ESTAMOS NO REINO DA ILUSÃO

por falcao, em 17.06.22

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O IMPROVISO -  Foi necessário o sobressalto causado pelo encerramento, por falta de médicos, de serviços  de obstetrícia em diversos pontos do país para o Governo aparecer, tarde, a anunciar um plano de contingência. Mas a situação não é nova, vinha a desenhar-se já há algum tempo, havia alertas, e mais uma vez se verifica como na saúde este Governo corre atrás do prejuízo, sendo incapaz de prever, planear, evitar a crise. O caso dos problemas nas urgências de ginecologia e obstetrícia é apenas a face dramaticamente mais evidente de uma situação que atinge outras especialidades, que evidencia falta de planeamento, de equipamento e de pessoal. A resposta à catástrofe da pandemia Covid-19 veio criar a ilusão de que o Ministério da Saúde estava a funcionar bem. Mas quem funcionou bem foram os profissionais de saúde - médicos, enfermeiros, auxiliares - que agiram para além do seu dever, não se poupando a esforços para salvarem vidas, apesar da descoordenação que existiu no Governo. Quando a pandemia aliviou começou a notar-se como o SNS está enfraquecido, sem alicerces. A quantidade de médicos e enfermeiros que sai do país devido à ausência de perspectivas profissionais e condições de trabalho é preocupante e há quase cem mil utentes do SNS sem médico de família.  Depois de termos recuado para a cauda da Europa em termos de evolução económica, começamos agora a estar no infeliz pelotão da frente da mortalidade associada a diversas patologias, incluindo a materno infantil. As coisas não são desligadas, o falhanço económico do Governo reflecte-se nisto também. António Costa, se estivesse em Hollywood, era um construtor de cenários de cinema, daqueles que criam a ilusão da realidade. Ele é bom a fazer promessas e a esconder o que ficou por fazer. Não tem é conseguido fazer aquilo a que se propõe. E essa incapacidade de resolver problemas é o retrato do Governo que temos, dirigido por um mestre do improviso, hábil em comunicação.



SEMANADA - Um quinto dos 800 técnicos superiores colocados em 2019 em diversos serviços, com o objectivo de rejuvenescer e modernizar o Estado, já desistiu da função pública; em 2009 os técnicos superiores entravam a ganhar 167% acima do salário mínimo, agora a diferença é de apenas 72,5%; daqui a dois anos 26 mil funcionários públicos atingem a idade da reforma; até 2030 pelo menos 39% dos professores actualmente em funções irão reformar-se; no final de Março a administração pública portuguesa empregava 741.288 trabalhadores, o número mais alto dos últimos 17 anos, um pouco mais que 15% da população empregada; os médicos com mais de 65 anos representam 24% do total; na gasolina, o peso fiscal em Portugal é de 46% e em Espanha é de 40%; 30% das terras das zonas rurais têm dono por definir; nos últimos quatro anos 2712 negócios imobiliários foram pagos em notas, num total de 38 milhões de euros em dinheiro vivo; os CTT foram alvo de 79 queixas por dia dos seus utentes devido a problemas de funcionamento; a venda de automóveis eléctricos cresceu quase 78% nos primeiros cinco meses deste ano; o preço da gasolina normal aumentou já 50 cêntimos desde o início deste ano; os vistos gold estão parados há mais de cinco meses por falta de regulamentação. 

 

O ARCO DA VELHA - O Estado só conseguiu atribuir 3,3% dos 750 milhões de euros previstos no Orçamento de 2021 para as micro e pequenas empresas.

 

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GRADES RASGADAS - A minha sugestão para hoje é que passem pelo MAAT e olhem bem para o antigo depósito de nafta, um cilindro gigante, que fica junto do edifício da Central Tejo. Aí poderão ver o trabalho que 48 artistas plásticos fizeram no passado dia 10 de Junho, numa evocação de um painel colectivo feito na mesma data em 1974 - e que infelizmente ficou destruído num incêndio que devorou a Galeria de Arte Moderna do antigo Mercado da Primavera, em Belém, o local onde foi feito. Nesta recuperação estiveram presentes alguns dos autores sobreviventes do mural original, vários dos mais conhecidos artistas portugueses contemporâneos e uma nova geração de artistas. Em 1974 celebrava-se o fim de 48 anos de ditadura, em 2022 celebram-se 48 anos de democracia - e o número de artistas é a chave comum. Ao longo de todo o passado dia 10 os 48 artistas trabalharam nos retângulos iguais da parede do antigo depósito de nafta, espaços que lhes foram atribuídos por sorteio. Ao longo do dia foi possível ver diversos processos de trabalho, a forma como vários artistas prepararam as suas obras, que agora ficarão à vista de todos durante dois anos, até ao 50ª aniversário do 25 de Abril de 1974. Para além dos sobreviventes de 1974 e dos que foram convidados por João Pinharanda, que comissariou esta iniciativa, estão também os que foram designados pelo Interferências- Culturas Urbanas Emergentes, um projecto desenvolvido por Vhils, António Brito Guterres e Carla Cardoso. Pedro Cabrita Reis, um dos artistas presentes (na foto) pintou uma grade rasgada. E, por feliz acaso ditado pelo sorteio, logo por baixo, está a obra de Francisco Vidal, um dos talentos da nova geração de artistas, onde se lê “Still Free”. 

 

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UMA HISTÓRIA APAIXONANTE - Há livros que são difíceis de largar, uma vez iniciados. É o caso de “O Fim É O Princípio”, um thriller cuja ação se desenrola entre uma pequena cidade na costa da Califórnia, antigo paraíso com vista para o Oceano, agora em processo de gentrificação, com elevada procura e a correspondente especulação imobiliária. A história gira à volta de Duchess, uma jovem de treze anos que se autointitula «fora da lei», e Walk, chefe de esquadra da polícia de Cape Haven, um homem que se defronta com fantasmas do passado e que  nunca saíu da pequena cidade. Duchess diz que as regras são para os outros, e desde cedo se fez protetora feroz do irmão mais novo, Robin, e figura adulta na vida de Star, a sua mãe solteira, incapaz de cuidar de si própria ou de velar pelos interesses dos dois filhos.  Walk pelo seu lado faz tudo para proteger Duchess e Robin, mas vive dominado pela necessidade de sarar uma ferida antiga, a de ter sido o seu testemunho a enviar Vincent para a cadeia, o seu melhor amigo, condenado pelo homicídio da irmã de Star. Culpado ou inocente, volvidos trinta anos, Vincent sai da prisão uma vez cumprida a pena e é Walk quem o vai buscar e traz para Cape Haven. No regresso Vincent começa a reparar a casa dos seus pais, abandonada desde que foi preso e não lhe faltam ofertas milionárias para a vender a um construtor local e dono de um bar, que arrasta um caso com Star. The Guardian descreveu “O Fim É O Princípio” como «um romance notável e comovente acerca de um crime e da vingança, do amor e da redenção.». O britânico Chris Whitaker escreveu um épico americano com uma galeria de personagens, cenários e situações marcantes. O livro, o terceiro do autor, originalmente editado em 2020,  foi considerado o melhor thriller desse  ano pela Crime Writers Association e a Bertrand Editora acabou de o lançar no mercado português.

 

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GRANDES CANÇÕES - Os Wilco levam três décadas de vida e são um dos nomes incontornáveis da música norte-americana destas décadas. Jeff Tweedy, o fundador da banda, tem na country music uma das suas fontes de inspiração mas os Wilco não são propriamente conhecidos por esse género musical. Por isso mesmo o novo álbum, “Cruel Country”, um duplo com 21 canções, gravado ao vivo em estúdio, é duplamente interessante: faz um retrato duro da América e musicalmente inspira-se na country - desde a forma como as canções estão estruturadas até às letras. O disco está cheio de observações sobre a realidade à volta da banda, descrição de sensações e enigmas que ficam a pairar no ar, em momentos em que só existe a música e as palavras quase desaparecem. É verdade que a melhor música country sempre foi a que conta histórias, e “Cruel Country” é um exemplo disso mesmo: as canções seguem uma narrativa e fazem sentido. Tweedy aborda de tudo: a história recente, a política e Trump, a mortalidade e até a utilidade - ou futilidade - da arte na América do no século 21. As palavras não deixam lugar a dúvidas. Na canção que dá o nome ao álbum Tweedy canta assim “I love my country like a little boy/Red, white and blue,” para depois rematar:  “I love my country, stupid and cruel.”  Neste “Cruel Country” não faltam canções marcantes como “Falling Apart (Right Now)”, “Please Be Wrong” ou “A Lifetime To Find”. Para terminar sugiro que ouçam os quase oito minutos do tema “Many Worlds'' onde todo o talento musical dos Wilco e de Jeff Tweedy se evidenciam. Disponível nas plataformas de streaming.



PETISCO SINTRENSE - Por um daqueles acasos inesperados fui parar a Sintra, num jantar de amigos, ao restaurante Taberna Criativa. Fica no centro da vila, perto do Museu de Artes de Sintra. É pequeno e acolhedor e tem uma equipa que funciona bem - na cozinha e na sala, sob a supervisão do chef Vitor Rocha. São dele as criações que chegam à mesa. Comecemos portanto pelo couvert - que inclui uma manteiga batida com algas que é um caso sério, acompanhada por bom pão. Nas entradas destaco um escalope salteado de foie gras caseiro, que vem com um pão de ló de chá verde ou uma madalena de abóbora, e com um toque de uma emulsão de moscatel, numa boa combinação de sabores. Outra possibilidade em matéria de entradas é um escabeche de codorniz no ponto certo de tempero. Como pratos de substância a lista propõe um risotto de lavagante com algas e, para os carnívoros, um belo entrecôte, no ponto, acompanhado por batatinhas e grelos salteados - ou então um magret de pato com cenouras e legumes. A lista de vinhos é bastante diversificada e com propostas sensatas em vários escalões de preço - e algumas boas surpresas de pequenas produções. Não hesitem em pedir ao chef uma sugestão de vinho, ele sabe o que escolheu para as prateleiras do seu restaurante. Entre as várias sobremesas possíveis destaco uma bem portuguesa e simplicissima: queijo da ilha, de nove meses de cura, acompanhado por um belo doce de abóbora e pedaços de noz. O Taberna Criativa fica na avenida Heliodoro Salgado 26 e a reserva é aconselhável pelo 21 018 6147.



DIXIT - “O primeiro-ministro não dá ponto sem nó, mas como vamos lá chegar, não sei” - António Costa e Silva sobre a promessa de aumento de 20% dos salários feito pelo Primeiro Ministro



BACK TO BASICS - “Pode-se enganar algumas pessoas durante muito tempo, pode-se enganar toda a gente por algum tempo, mas não se consegue enganar toda a gente sempre” - Abraham Lincoln

 

 




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publicado às 11:09

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COMO TORNAR REALIDADE UM DESEJO? - A semana começou com o Primeiro Ministro a apelar às empresas para que façam aumentos de salários, pedindo  “um acordo de médio prazo, no horizonte desta legislatura, sobre a perspectiva da evolução dos rendimentos.” António Costa estabeleceu um objectivo: aumentar o salário médio em 20% nos próximos quatro anos. O mais curioso disto é que este apelo não foi acompanhado por nenhuma indicação sobre uma reforma que permita às empresas considerar esses aumentos, nomeadamente uma redução da TSU e do IRC. Traduzindo: o Governo entende que as empresas devem aumentar salários, mas não deixou abertura para reduzir impostos e taxas. Ora como a matemática não é uma coisa mística, se os custos aumentam de um lado, têm que diminuir de outro. Na anterior legislatura, sob o diktat de Centeno, o Governo promoveu uma austeridade escondida, mas dura, e persistentemente atacou a classe média. Parece que agora o PS quer dar a ideia de que pretende tratar do assunto. O começo do caminho é relativamente simples: que propõe esta maioria absoluta para compensar o aumento dos salários? Que oferece o Governo às empresas que fizerem esses aumentos? Que pode também o Governo fazer para diminuir a carga fiscal, directa e indirecta, sobre os assalariados por conta de outrem? Há outras coisas fundamentais que podem aliviar custos às empresas - por exemplo uma reforma da justiça que permita que tudo ande mais rápido e com menor despesa. Se a maioria absoluta servisse para fazer reformas duradouras em vez de discursos sobre as questões fracturantes da moda tudo seria mais fácil. Estará Costa disposto a isso para conseguir os aumentos que diz desejar?

 

SEMANADA - Um estudo recente indica que ​​Portugal é dos países com um dos maiores níveis de incumprimento das regras orçamentais europeias desde que a Zona Euro foi criada; Cavaco Silva regressou às lides para ironizar com António Costa e arrasar Rui Rio; os motores a diesel já valem menos de 20% do total das vendas de novos carros; um estudo recente indica que o apoio europeu à competitividade das PME foi pouco ou nada eficaz; o funcionamento da Assembleia da República, incluindo subvenções aos partidos políticos e grupos parlamentares, custa 24 milhões de euros por ano; em 2020 foram produzidos 5,3 milhões de resíduos urbanos; cada português produz em média 1,4 kgs de lixo por dia, ou seja 513 kgs por ano; o salário médio dos trabalhadores por conta de outrem foi de 1237 euros em Março passado, com Lisboa a ter o valor mais alto, 1506 euros e Beja o mais baixo, 990 euros; o tempo de espera para aceder a uma junta médica chega a ser de dois anos; em 2021 a PSP reguistou 810 crimes cometidos por menores de 16 anos, uma subida significativa da criminalidade juvenil em relação a anos anteriores; a dívida publica portuguesa aumentou três mil milhões de euros em Abril e atingiu o seu maior valor de sempre, 279 mil milhões de euros; desde 2018 registaram-se 55 acidentes e 13 feridos graves com trotinetes em Lisboa; um estudo de uma empresa imobiliária divulgado esta semana indica que fazer obras de remodelação em Lisboa é mais caro que em Madrid ou Barcelona.

 

O ARCO DA VELHA - O Centro Universitário Hospitalar de Coimbra enganou-se na entrega à família de uma doente que tinha tido alta e levou para casa em Arganil, uma outra mulher. O erro foi detectado pelo marido que encontrou na cama uma mulher que não era a sua.

 

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DESENHOS DE SENSAÇÕES - Entra-se na sala da galeria e vemos rostos na parede - mas não são retratos. São emoções que Adriana Molder interpretou. As figuras na parede são mais que pessoas, são imagens de  estados de espírito, expressões. Em comum têm o facto de serem todos desenhos feitos a tinta da china sobre papel esquisso, com a leve transparência a servir de pano de fundo. E pelo meio grandes desenhos, eles próprios a mostrar a impressão dos rostos. Há um rosto de mulher sobre o qual se cruzam ramos de uma árvore, na parede em frente um retrato cheio de pormenores que sugerem um mundo de fantasia e, nas paredes laterais, uma série de 21 desenhos que são mais que retratos, antes mapas de sensações. A dar o título à exposição está um desenho circular com o rosto da própria autora: um espelho, portanto, que mostra Adriana Molder a contemplar as suas outras obras. “Espelho” é a exposição de desenho de Adriana Molder, com obras feitas de 2020 a 2022 e que até 3 de Setembro está na Galeria 111, Rua Dr. João Soares 5B, ao Campo Grande. Também de desenho é a outra exposição que destaco esta semana, “Wasteland”, de Rui Sanches, que agrupa um conjunto de 25 originais de 2016, a grafite, barra de óleo e tinta de esmalte sobre papel. Destes 25 desenhos foram feitas impressões a jacto de tinta e cada uma das 25 séries foi reunida numa caixa, com todas as provas numeradas e assinadas. Cada caixa inclui um desenho original, também numerado e assinado - todos os desenhos foram inspirados pelo poema “The Waste Land” de T.S. Eliot. Cada caixa é vendida por 2900 euros. A Galeria Miguel Nabinho fica na Rua Tenente Ferreira Durão 18B.

 

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UMA INTRODUÇÃO À LITERATURA DE VIAGEM - Bruce Chatwin é o autor de um livro que foi o meu passaporte de entrada na literatura de viagens - “Na Patagónia”. Chatwin morreu cedo, aos 48 anos, doze anos apenas depois de ter publicado o relato da sua descoberta da Patagónia. Publicou nove livros entre 1980 e a sua morte precoce. O penúltimo foi a colectânea “Anatomia da Errância - Textos Escolhidos”, originalmente editado em 1989 e agora lançado em Portugal na colecção Terra Incógnita, da Quetzal. É uma excelente introdução ao génio de Chatwin e uma boa maneira de descobrir os encantos da literatura de viagens. Chatwin era antropólogo, historiador de arte, jornalista e repórter, crítico literário, e escritor de viagens. “Anatomia da Errância” reúne os vários géneros que escrevia: ensaios, artigos de jornal, pequenos contos, relatos de viagem. O livro está dividido em quatro partes: “Horreur du domicile” ou a vontade de partir à descoberta, “Histórias” que são episódios ocorridos enquanto viajava, contados com humor e espírito observador, “A alternativa nómada” que fala da sua procura de destinos pouco conhecidos, “Crítica literária” que é o que o nome indica, com alguns exercícios livres, “A arte e o destruidor de imagens” , onde descreve uma galeria de personagens extravagantes e fala da decadência da arte ocidental - uma espécie de manifesto de estética pessoal. Este “Anatomia da Errância” é a minha melhor sugestão para este início da época de férias. Viajem se puderem mas leiam este livro primeiro. Ou então levem-no convosco nas vossas errâncias.

 

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O INESPERADO COUNTRY  - Angel Olsen é uma cantora norte-americana com um posicionamento invulgar - entre o rock independente e o country, com tonalidades pop. O resultado, ao longo da meia dúzia de discos que fez, é dos mais interessantes que hoje se podem encontrar. As suas canções são crónicas de vida, a voz é intensa mas solta, vai bem com uma interpretação sem brilharetes mas emotiva. “Big Time”, o seu sexto álbum de originais desde o disco de estreia, de 2012, é  um disco surpreendente, com emoções e descobertas. São dez canções, intimistas na maior parte, gravado no ano passado numa época conturbada da sua vida, depois da morte dos seus pais e de ter tido uma relação com outra mulher durante a pandemia. Embora o disco não fale de situações concretas, é impossível não perceber os sentimentos que canções como “Big Time” ou “Go Home” transmitem. Gravado na Califórnia, com o produtor Jonathan Wilson, o disco mostra como Olsen continua a fazer da voz o instrumento principal da sua música, bem mais marcante que a guitarra Gibson de 1979, que é a sua preferida. Olsen é uma personagem relevante da música americana - trabalhou com nomes como os Wilco, Tim Kinsella ou Leroy Bach. Ao contrário de discos anteriores, mais carregados de uma sonoridade rock, este “Big Time”  é  o mais claro dos seus trabalhos, onde melhor expõe os seus sentimentos e coloca em destaque as influências country, na voz e guitarra, que em outros discos se sentiam mas eram menos presentes. A derradeira canção “Chasing The Sun” tem um humor como raramente lhe sentimos - Olsen relata como mandou à sua companheira uma mensagem, de outra sala da casa, com estas palavras: “I’m just writing to say that I can’t find my clothes/If you’re looking for something to do.” Disponível nas plataformas de streaming.

 

HORA MARCADA - Uma das coisas mais irritantes que acontece em alguns restaurantes é forçarem um hora marcada para a saída dos clientes, uma duração máxima da refeição. O raciocínio é este: queremos que venham cá jantar e deixar o vosso dinheirinho, mas queremos que se vão embora rápido para pormos outras pessoas na mesa. Vem isto a propósito de uma recente ida ao Forno D’Oro, que descaradamente se apresenta como a melhor pizzaria de Lisboa. Não é - talvez em tempos tenha sido, mas agora é mais um local sem grande história. Não me interpretem mal - o seu dono e fundador, Tanka Sapkota, é uma pessoa simpática e afável que, ainda por cima, tem uma história engraçada. Nepalês, apaixonou-se pela gastronomia italiana, e veio para Portugal onde tem estado ligado a vários restaurantes, entre eles um italiano de referência, que é o Come Prima, e o excelente Casa Nepalesa. E perto do Forno D’Oro tem Il Mercato, que tem, digamos, uma vida irregular. Além de Tanka Sapkota ser uma pessoa simpática, o serviço nos seus restaurantes é igualmente simpático. O pior, no caso do Forno D’Oro é que quando se reserva leva-se logo o anúncio de que tem que sair até às tantas horas e a hora de entrada tem ela própria limites. E, importante, as pizzas já foram melhores, sobretudo na massa. Assim sendo mais vale ir a outra pizzaria onde estas manias não existam. Este fenómeno do horário é típico dos restaurantes que não trabalham para reter a clientela, mas para rodar comensais à máxima velocidade possível.Tanka Sapkota não está sózinho - esse paraíso da pretensão e montra de exibicionistas que é o JNcQuoi pratica a mesma filosofia e numa reserva telefónica estabelece duas horas como duração máxima do jantar. Tem a agravante de o acolhimento e o serviço serem menos simpáticos. Não dá vontade nenhuma ir a sítios destes.

 

DIXIT - “A maior debilidade da nossa vida colectiva reside na justiça. A maior ameaça contra a democracia é a fragilidade da justiça” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “A criatividade exige a coragem de deixar as certezas de lado” - Erich Fromm

 




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publicado às 11:00

O ESTADO COLECCIONADOR

por falcao, em 03.06.22

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NUNCA É TARDE PARA CORRIGIR ERROS  - A decisão anunciada pelo Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, de denunciar o acordo relativo à Colecção Berardo ajuda a clarificar a situação existente, e permitirá que o Centro de Exposições do CCB retome o que era o seu percurso original, desta vez com um acervo sólido, baseado numa importante colecção que, é preciso reconhecê-lo, Joe Berardo criou antes de ser levado a meter-se nas aventuras pelo controlo do BCP, sugeridas por amigos de Sócrates durante o seu reinado. Deixo aqui esta nota para que se recorde que o PS não está isento de culpas na situação criada. Mas para além da decisão sobre a colecção Berardo, Adão e Silva decidiu também assumir a colecção Ellipse, lançada por João Rendeiro no Banco Privado Português, que aparentemente ficará também entregue no futuro à mesma equipa que tem feito um excelente trabalho em torno da colecção Berardo. Se nos recordarmos que o Governo, há uns anos, absorveu também a menos interessante colecção Miró, do Banco Português de Negócios, entretanto depositada em Serralves, constatamos que o Estado Português na última década absorveu três colecções de arte privadas e, portanto, assumiu a responsabilidade de assegurar a sua fruição pelos portugueses. Este somatório de património artístico cria deveres em relação aos equipamentos que as acolhem e devia fazer com que o Ministério da Cultura pensasse em questões como a sua circulação pelo país, e também a articulação com o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. De facto a boa decisão de Pedro Adão e Silva tem também alguns efeitos colaterais: não deveria ser esta a boa a altura para repensar se não será mais produtivo fomentar a colaboração entre Serralves e o CBB do que manter o acordo de conveniência e contra natura que pretende deixar o MAAT na dependência de Serralves? É nestas alturas, quando as situações se alteram, que vale a pena abrir janelas e deixar entrar ar fresco, sem preconceitos. Nunca é tarde para corrigir os erros.



SEMANADA - O observatório fiscal da União Europeia Identificou 819 imóveis detidos por portugueses no Dubai; em Portugal estão identificadas 8209 pessoas na situação de sem abrigo, a maior parte em Lisboa e no Porto; os crimes de tráfico de pessoas registados pelas polícias portuguesas duplicaram em 2021; segundo o INE os alojamentos turísticos nacionais receberam 2,4 milhões de hóspedes em abril, um aumento de 424,6% face ao mesmo mês de 2021; um relatório publicado esta semana indica que a TAP tem a pior comportamento ambiental entre as sete maiores companhias aéreas europeias; uma sondagem da Aximage divulgada na semana passada indica que mais de metade dos portugueses são contra o fim de uso das máscaras; o Covid-19 foi a quarta causa de morte em 2021, representando 5,9% do total de óbitos registados em Portugal nesse ano; segundo a Netsonda, 75%  portugueses sabem pouco sobre os ingredientes que consomem fora de casa; as autoridades detectaram em sete dias mais de 14.000 infrações de condução, das quais mais de 1100 por uso indevido do telemóvel durante a condução; o valor em contratos celebrados entre entidades estatais e empresas afundou mais de 40% no primeiro trimestre deste ano face a 2021;  o valor dos impostos cobrados de Janeiro a Abril é o mais alto dos últimos 10 anos e face a igual período do ano passado as receitas do fisco cresceram 19,8%.

 

PERGUNTA DA SEMANA  - A ciclovia da Almirante Reis foi sujeita a consulta pública antes de ser construída?

 

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UMA CIDADE DE ESCULTURAS - “Respiração Boca A Boca” é o título da exposição que Cristina Ataíde concebeu para o Museu Internacional de Escultura Contemporânea, de Santo Tirso, e que ali ficará patente até 18 de Setembro. A artista reuniu 58 peças, de várias fases da sua carreira, desde as suas primeiras esculturas em ferro e pedra dos anos 80, até às mais recentes onde a evocação da natureza e a utilização primária de materiais naturais foram ganhando peso. Várias peças de há alguns anos foram revisitadas e recriadas, cruzando-se com as mais recentes opções de Cristina Ataíde e com a permanente referência à descoberta e à viagem. Um dos momentos a reter é a obra criada para o longo corredor de 70 metros (na imagem) onde se combinam algumas das vertentes que têm marcado o trabalho recente da artista. A exposição inclui também alguns desenhos e pinturas, alguns inéditos, em diálogo com as esculturas. “Respiração Boca A Boca” mostra o singular percurso de Cristina Ataíde e merece uma visita atenta. É curiosa a história do envolvimento de Santo Tirso com a escultura: no início dos anos 90 o escultor Alberto Carneiro desafiou o Município  a criar um programa de actuação em torno da escultura contemporânea. Ao longo dos anos a autarquia foi adquirindo obras que agora estão implantadas por toda a cidade, num museu a céu aberto que já tem meia centena de esculturas. Mais tarde a autarquia decidiu construir um edifício destinado a alojar o Museu Internacional de Escultura Contemporânea, com um projecto de Álvaro Siza Vieira, concluído em 2015, e que desde então tem acolhido diversas exposições, como esta que agora Cristina Ataíde apresenta. 

 

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A VERDADE RUSSA - Nesta altura em que o comportamento dos dirigentes russos é causa de indignação vale a pena ler “Eclipse do Sol”, o livro que Arthur Koestler escreveu em 1940 e que mostra como o regime russo não hesita em matar e torturar, tradição que, como agora se comprova, se mantém. Originalmente publicado  em Portugal sob o título “O Zero E O Infinito” há cerca de 40 anos, este romance é pela primeira vez editado entre nós na sua versão integral, baseada em textos do autor encontrados em 2018. A tradução é da responsabilidade de Teresa Seruya e Sara Seruya, a partir dos manuscritos originais do autor. Arthur Koestler nasceu em Budapeste, na Hungria, em 1905, no seio de uma família judaica. Foi escritor, jornalista e ativista político, tendo passado pela Palestina, pela União Soviética e por Espanha, onde lutou na Guerra Civil. Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, radicou-se em Londres e cortou com o Partido Comunista após as purgas estalinistas. O romance, considerado por George Orwell um dos poucos livros que poderão mudar a História,  conta como durante as purgas estalinistas, Rubachov, um velho revolucionário, foi apanhado na confusão dos pseudo julgamentos de Moscovo dos finais dos anos 1930, em pleno estalinismo. Ele é preso e torturado pelo partido a que havia devotado a sua vida e submetido a enorme pressão para confessar crimes que não cometeu. “Eclipse Ao Sol” aborda as purgas estalinistas que marcaram a União Soviética nos anos de 1930 e  permite uma reflexão sobre a história de uma região do mundo que hoje, pelas piores razões, está na ordem do dia.

 

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JAZZ FORA DA CAIXA - O pianista Tigran Hamasyan tem-se dedicado a recriar,  com versões ousadas, as suas interpretações de standards do jazz. A formação base é um trio, que conta com a participação do baixista Matt Brewer e do baterista Justin Brown mas no seu novo disco, “StandArt”, convidou outros músicos como o trompetista Ambrose Akinmusire e os saxofonistas Joshua Redman e Mark Turner. Desde temas da Broadway até clássicos da fase bebop, Hamasyan percorre nove composições, que vão de clássicos do bebop, como “De-Dah” ou “Big Foot”, uma composição de Charlie Parker onde entra em cena o saxofone de Joshua Redman. Entre os temas estão também êxitos clássicos como “All the Things You Are” que tem a participação do saxofonista Mark Turner. Uma das reinterpretações mais radicais e surpreendentes é dada pela participação do trompetista Ambrose Akinmusire em “I Should Care”, um tema popularizado por Chet Baker. Uma das minha faixas preferidas, que é executada apenas pelo trio, é ‘I Didn’t Know What Time it Was’, um tema que ganha uma nova vida e mostra as capacidades de Tigran Hamasyan, utilizando influências da soul e do hip-hop uma composição clássica do jazz norte-americano. A capacidade de inovar, arriscar e surpreender é aquilo que torna este disco diferente e que proporciona que em cada nova audição se descubra mais alguma coisa. Disponível nas plataformas de streaming.

 

JÁ EXPERIMENTARAM FRITAR ALCAPARRAS? - Há uns anos comprei um livro do grande chef de cozinha catalão Ferran Adrià, criador do famoso restaurante El Bulli. O livro, The Family Meal, tem as receitas que eram utilizadas pelo pessoal do restaurante nas suas próprias refeições. Ali há de tudo e, frequentemente, quando não sei o que fazer, começo a folheá-lo e encontro sempre alguma coisa que me agrada. É o caso desta receita. Os ingredientes são simples: massa orecchiette, pasta de tomate, alcaparras, anchovas,  tomates cherry, queijo parmesão, azeite, sal, malaguetas e um pouco de manjericão. Comece por cozer a massa em água abundante, durante um pouco menos de tempo do que o indicado no pacote, e guarde um copo da água de cozedura. Escorra e reserve. E vamos ao fundamental, que é preparar o molho que vai envolver a massa. O primeiro passo é saltear em azeite duas colheres de sopa escorridas de alcaparras, antes bem secas em papel de cozinha. Coloque-as depois com um pouco de azeite no tacho onde vai cozinhar e, quando começarem a ficar estaladiças, tire-as, seque-as de novo em papel absorvente e reserve. Chegou a altura de deitar duas colheres de sopa de pasta de tomate e alho cortado em fatias finas - se não quiser usar alho, use gengibre fresco cortado de igual forma, que é o que eu faço. Por cima disto deite uns 300 gramas de tomate cherry cortado em metades e dois ou três filetes de anchova desfeitos com o garfo - guarde os restantes filetes da lata para colocar em tostas por cima de rodelas finas de pepino ou de rabanete e terá uma entrada bem boa. É nesta altura que pode deitar para o tacho um pouco de manjericão picado, duas malaguetas secas desfeitas e as alcaparras. Deixe tudo ferver uns quatro-cinco minutos, se preciso acrescente um pouco de água de cozer a massa que guardou  e, no fim, misture bem no molho os orecchiette que entretanto já estão cozidos e escorridos. Envolva bem a massa no molho, em lume brando, durante dois minutos, no fim polvilhe com parmesão e enfeite com folhas inteiras de manjericão. Bom apetite.

 

DIXIT - “Os fanáticos e os tolos estão cheios de certezas. Os sábios estão cheios de dúvidas” - Alexandre Quintanilha 

 

BACK TO BASICS - “Uma grande parte da intelligentsia parece completamente desprovida de inteligência” - G.K. Chesterton

 




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