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ADOPTAR POLÍTICAS DE RUPTURA

por falcao, em 26.08.22

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SEM REFORMAS NÃO HÁ PROGRESSO - Na semana passada a SEDES, uma associação que tem reflectido de forma exemplar sobre a nossa sociedade, e que tem repetidamente apresentado sugestões, desde o funcionamento do sistema político até à necessidade da reforma da Lei Eleitoral, passando pelo diagnóstico da economia portuguesa, anunciou que no dia 1 de Setembro apresentará um livro com um estudo intitulado “Ambição: Duplicar o PIB em 20 anos. O estudo preconiza menos impostos, mercado de trabalho mais liberalizado e uma profunda reforma do Estado. A SEDES reúne personalidades de diferentes sensibilidades políticas e é actualmente presidida por Álvaro Beleza, membro da Comissão Política do PS, médico, antigo membro do secretariado na direcção de António José Seguro, que foi um dos coordenadores da obra. Abel Mateus, o outro coordenador do livro, avisa logo que não vai ser fácil e admite  a necessidade de “alguns sacrifícios”: “Para se poder levar a economia de uma trajectória de quase estagnação a um crescimento médio de 3,5% ao ano, é essencial um período de transição, em que teremos de fazer alguns sacrifícios e adoptar políticas de ruptura que só fruirão totalmente no médio e longo prazo.” - sublinha. No fundo este estudo mostra mais uma vez a imperiosa necessidade de o Governo desenvolver políticas reformistas como única solução para o nosso crescimento. Mas, como infelizmente bem sabemos, António Costa prefere usar a maioria absoluta para calar opositores em vez de desenvolver políticas que permitam mudar a estagnação em que nos encontramos. Fazia bem em tomar atenção ao que a SEDES recomenda e em aprender o significado da palavra reforma.

 

SEMANADA - Um em cada três desempregados está sem trabalho há mais de dois anos; durante a pandemia as penhoras subiram 15%; até ao mês de julho já tinham sido atribuídos 135 vistos gold a cidadãos dos Estados Unidos; até ao final de 2021 viviam em Portugal quase sete mil norte-americanos; segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras actualmente vivem em Portugal cerca de 256 mil brasileiros; no primeiro semestre de  2021 emigraram para o Reino Unido, apesar do brexit, cerca de seis mil portugueses, tantos como durante todo o ano de 2020; mais de 6500 enfermeiros  já apresentaram escusas de responsabilidade invocando falta de condições de trabalho; segundo o Eurostat, Portugal regista, no segundo trimestre deste ano, o quinto pior desempenho da Europa face ao final de 2019, com base nos indicadores do produto interno bruto (PIB) real (a preços constantes);  em 2021os portugueses ficaram em casa dos pais, em média, até aos 33,6 anos, enquanto a média da União Europeia é sair de casa aos 26,5 anos;  segundo a Pordata Portugal é o país da União Europeia onde o indíce de envelhecimento tem aumentado com maior rapidez; em 2022 a Polícia Judiciária já apreendeu 14 toneladas de cocaína; desde o início do ano já ocorreram 62 mortes em acidentes de trabalho, a maioria no setor da construção; a secretária de estado dos incêndios, Patrícia Gaspar, considerou um êxito que a enorme área ardida este ano estivesse abaixo de previsões feitas com recurso a um algoritmo que assim deu pretexto a transformar o péssimo em bom.

 

O ARCO DA VELHA - Cerca de cinco mil e quatrocentos milhões de euros foi quanto os contribuintes portugueses pagaram a mais de impostos no primeiro semestre de 2022, face a igual período de 2021, um crescimento de mais de 30% . Em 2021 Portugal registou a carga fiscal mais elevada de sempre.

 

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MISTÉRIOS - Não tenho época especial para ler romances policiais, mas reconheço que os dias de férias no verão são um excelente momento para tentar resolver mistérios. Este ano dediquei-me a dois: “O caso Alaska Sanders” do suíço Joel Dicker, e “Campo de Lava” da norueguesa Yrsa Sigurdardóttir. De Dicker já tinha lido “O enigma do quarto 622” e “O livro dos Baltimore”. Comecei a ler “O caso Alaska Sanders” com bastantes expectativas. Mas depressa as fui perdendo à medida que ía avançando na leitura. Joel Dicker fala demasiado de si próprio, e acaba por ser a personagem central do livro, um misto de investigador, detective e filósofo de pacotilha. Em resumo, anda a repetir a mesma fórmula, neste até com mais uns quantos pormenores pessoais, sentimentais, que tornam toda a investigação um enfado. Apesar do mistério do desaparecimento de Alaska Sanders ser um bom ponto de partida o livro torna-se aborrecido e demasiado extenso, com muita escrita supérflua. Já “Campo de Lava” é bem diferente. Da autora já tinha lido “A Absolvição” e “Lisboa-Reykjavik” e o novo “Campo de Lava” foi a confirmação do seu talento como escritora - não apenas como contadora de mistérios. Yrsa Sigurdardóttir  vive em Reykjavik, é directora de uma das maiores empresas de engenharia da Islândia e este é o quarto livro da série DNA, que tem por protagonistas o detetive Huldar e a psicóloga infantil Freyja. Num antigo lugar destinado a execuções é encontrado um jovem e abastado investidor enforcado. Quando o corpo é trazido para o chão, constata-se que não se trata de um suicídio: tem um prego enterrado no peito, onde estava uma mensagem, entretanto desaparecida. Enquanto decorre a investigação um grupo de amigos da vítima recebe um vídeo que, num primeiro momento, parece uma brincadeira de mau gosto, mas que depois os vai inquietar cada vez mais. Está dado o tiro de partida. O livro, editado pela Quetzal, cativa da primeira à última página, num retrato perturbante da Islândia de hoje, numa história onde violência doméstica se cruza com pornografia, dark web e vingança.

 

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ARTES CRUZADAS -  No meio do parque de Serralves vive um tesouro chamado Casa do Cinema Manoel de Oliveira, bem guiada pelo seu Director, António Preto. Aí sucedem-se exposições sobre a obra, o trabalho e a vida de Manoel de Oliveira e também sobre outros nomes grandes do cinema. É o caso de “Luz e Sombra”, uma exposição dedicada a Agnés Varda que poderá ser vista até 22 de Janeiro. A belga Agnés Varda viveu entre 1928 e 2019 e ao longo da sua vida foi fotógrafa, depois cineasta (onde ganhou fama) e finalmente artista plástica. A exposição mostra essas diferentes fases e testemunha o modo como a sua produção artística se desenvolveu em diálogo com a sua obra cinematográfica. O contraste entre luz e sombra é o ponto de partida para visitar o trabalho da artista, e a exposição inclui duas instalações, “Une cabane de cinéma: la serre du bonheur” de 2018 e Patatutopia , de 2003. Foi também editado um belíssimo catálogo profusamente ilustrado, onde se destaca um texto do historiador de arte Hans Ulrich Obrist. Em 2009 Varda já tinha estado em Serralves e teve a oportunidade de se encontrar com Manoel de Oliveira, momento que a própria registou com a câmara de vídeo que sempre carregava consigo. Nessa sequência vemos os dois cineastas a imitarem Chaplin enquanto se filmam um ao outro, e são essas imagens que servem de preâmbulo a esta exposição: um encontro em que de forma divertida partilham as suas preocupações quanto ao cinema e à vida.

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SILVER JAZZ - Hoje proponho revisitar gravações feitas pelo grupo do pianista Horace Silver em Nova Iorque, durante actuações em vários clubes de jazz locais, em 1964, 1965 e 1966. “Horace Silver Quintet - Live New York revisited” é o CD que reúne algumas dessas gravações em novas remasterizações. Um dos factos interessantes deste disco é que os músicos não são sempre os mesmos, permitindo notar pequenas diferenças, mas sempre com uma vibração muito particular na forma como tocam. O disco tem cinco temas, dois deles apresentados em duas versões diferentes (“Que Pasa” e “African Queen”). O primeiro é do muito aclamado LP “Song For My Father”, de 1964. Nestas gravações ao vivo surgem os mesmos músicos que tocaram no disco original: Horace Silver no piano, Joe Henderson no sax tenor, Carmell Jones no trompete, Teddy Smith no baixo e Roger Humphries na bateria. São também eles que tocam mais duas faixas deste disco, “Song For My Father" e “The Natives Are Restless Tonight”. “African Queen” é de um curioso disco de 1965, “Cape Verdean Blues” (cuja escuta recomendo) e mostra Woody Shaw no trompete e Larry Ridley no baixo. O outro tema é “Señor Blues” do álbum “6 Pieces Of Silver”, de 1957. O papel de Horace Silver no jazz é muitas vezes injustamente subestimado mas a revisitação de discos como este permite perceber a verdadeira importância que ele teve e a sua enorme energia em palco, que transmitia a quem com ele tocava. O disco está disponível nas plataformas de streaming.



TAPEAR - Uma das coisas que me fascina quando estou em Espanha é a forma como as pessoas gostam de estar na rua, ao fim da tarde, sentados em esplanadas, a beber um copo, a falar. Os espanhóis gostam de viver na rua, um enorme contraste com o que se passa na maior parte dos casos em Portugal. A mais antiga rede social é um grupo de pessoas sentadas à volta de uma mesa a falarem umas com as outras. Outra das coisas boas em Espanha (e em Itália também, já agora) , é o hábito de servirem alguma coisa com a bebida. Em Portugal isso geralmente não se passa e  até os tremoços parecem uma espécie ameaçada. O que é simpático em Espanha e Itália é as bebidas serem servidas com umas tapas ou mesmo algum generoso petisco, desde os sítios mais simples aos mais sofisticados. Neste particular as conservas ocupam um papel especial nos nuestros hermanos: um lombo de cavala ou um filete de anchova em cima de um pedaço de pão é coisa barata mas que vale milhões com um copo de branco bem fresco ou uma imperial bem tirada. Dirão que por isso é que um copo de cerveja do lado de lá da fronteira é mais caro que em Portugal - é verdade, mas há um acolhimento diferente, uma partilha que deixa saudades. E temos também muitas e boas fábricas conserveiras à espera de poderem ser matéria prima para bons petiscos de fim de tarde.

 

DIXIT- “Se as cidades estão apostadas em que se possa circular de forma segura com bicicletas, porque é que não asseguram segurança aos peões e penalizam a circulação e o parqueamento de trotinetes nos passeios?” - ouvido na rua.



BACK TO BASICS - “A Democracia constrói-se no direito à divergência e à diferença, no direito das pessoas a terem posições opostas umas das outras” - Ben Okri, poeta nigeriano.



 




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publicado às 16:28

O CASO DOS ABUSOS DA MAIORIA

por falcao, em 19.08.22

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A QUEM DEVEM SERVIR OS GOVERNANTES? - Uma maioria absoluta pode ser um factor de estabilidade, mas pode também ser uma fonte de instabilidade. Tudo depende do grau de civilização e da convicção democrática de quem a tem. Uma maioria absoluta, rezam os manuais, devia servir como alavanca de transformação e progresso do país, e não como mecanismo de travão da oposição. Infelizmente alguns acontecimentos dos últimos tempos não são tranquilizadores. Desde a forma como António Costa evita responder no Parlamento a perguntas da oposição, até ao caso das represálias contra a Endesa por causa de uma opinião veiculada pelo seu responsável em Portugal, passando pela desfaçatez da Ministra da Agricultura ao querer marginalizar a CAP por causa das posições que tomou nas mais recentes eleições legislativas, acumulam-se os sinais que fazem pensar que está a criar-se um padrão de comportamento que penaliza e combate quem não está com o PS. É triste que um partido fundador da democracia a torpedeie quando tem uma maioria absoluta no parlamento um comportamento que começa a mostrar ser autoritário e persecutório. No fundo todos estes casos fazem levantar uma pergunta: os membros do Governo, do Primeiro-ministro aos secretários de Estado, estão ao serviço do PS ou do país? Pensam em melhorar Portugal ou em beneficiar o seu partido? A maioria absoluta pode ser uma janela aberta ao futuro ou uma grade para evocar o passado. Nas últimas semanas a janela tem sido cada vez mais fechada. E vislumbram-se nas palavras de alguns, o secreto desejo de construir grades.

 

SEMANADA - As trotinetes eléctricas causaram 445 acidentes em três anos, a maior parte por negligência na condução; a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal alertou para o perigo e a insegurança que as trotinetes provocam nos invisuais, dizendo mesmo que já há entre eles quem evite sair de casa com receio de ser atropelado num passeio; o Parque Natural da Serra da Estrela tem 88.850 hectares, dos quais já arderam 73.282 desde 2017; só este ano já lá arderam 23 mil hectares e apesar da gravidade da situação a Protecção Civil diminuíu o dispositivo no fim de semana sem consolidar o rescaldo o que facilitou novos reacendimentos;  a inflação na alimentação já chegou aos 13,9%; em julho as vendas no retalho alimentar cresceram 12,9%, o maior acréscimo desde o início do ano, empurradas por uma inflação de 9,1%; no retalho alimentar as marcas brancas cresceram 22,1% contra os 7,5% das marcas dos fabricantes; segundo a Marktest cerca de um quarto dos lares portugueses consome pratos confeccionados congelados ou refrigerados; dois mil médicos das urgências já apresentaram pedido de escusa de responsabilidades; a dívida total do Serviço Nacional de Saúde a fornecedores externos está no valor mais alto dos últimos oito anos e atinge os 2,3 mil milhões - António Costa é Primeiro Ministro desde Novembro de 2015; 87% das vagas de emprego abertas no retalho continuam por preencher devido à falta de interessados face às condições oferecidas; segundo o Instituto Nacional de Estatística mais de metade dos desempregados permaneceram sem trabalho entre o primeiro e o segundo trimestre; em Junho e Julho registaram-se 3054 assaltos a residências, cerca de 50 por dia.

 

O ARCO DA VELHA  - Segundo um inquérito recente um quarto dos juízes portugueses crê que há corrupção na justiça e que há magistrados que receberam subornos.

 

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A VIAGEM A UM MUNDO ABANDONADO - Há um livro, de 2013, em que Paul Theroux fala das experiências por que passou em Angola, a decepção com a decadência, a omnipresença da corrupção e da pobreza, a perda da comunhão dos povos com a natureza. Depois da grande narrativa de “Viagem por África”, que o levou do Cairo à Cidade do Cabo, Paul Theroux quis percorrer a «margem ocidental» do grande continente até ao Norte de África. O que viu em Angola mudou-lhe os planos. Viajando sozinho, como sempre, atravessando a África do Sul e a Namíbia, chegou a Angola para encontrar um mundo cada vez mais distante das esperanças originais pós-independência. Viveu desilusões, tristeza, desapontamento, amargura e irritação. Na realidade, Angola sai maltratada do derradeiro livro de Paul Theroux sobre África, “O Último Comboio Para a Zona Verde”. Escreve Theroux: “Sou um homem de 70 anos a viajar como um mochileiro no meio de Angola, e os únicos estrangeiros que vejo - uns seis ou oito - são homens de negócios que se esforçam por fazer lucro com os recursos do país. Talvez eu seja um deles, outra espécie de homem de negócios, outro género de vendedor ambulante, alguém que espera ganhar a vida estando aqui e tomando nota do que vê”. O livro,”O Último Comboio Para a Zona Verde”, agora editado pela Quetzal, com um boa tradução de Maria Filomena Duarte, tem por subtítulo, “O meu último safari africano”. Francisco José Viegas, que editou o livro e lhe escreveu um prefácio intitulado “Um escritor é assim”, conta como a ideia de ir a Angola nasceu num almoço, em Matosinhos, que juntou Luandino Vieira e Paul Theroux. Viegas classifica este livro como uma extraordinária reportagem sobre África, “um mundo abandonado”. 

 

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ROOFTOP DESIGN - Proponho um rooftop de vista extraordinária que está paredes meias com uma exposição de design gráfico absolutamente imperdível. Tudo isto se conjuga no antigo edifício Entreposto, na Praça José Queiroz 1, agora designado por IDB Lisbon (Innovation & Design Building). Este é o cenário para a mais recente exposição promovida pelo Museu do Design e da Moda, MUDE, e que mostra pela primeira vez a colecção de design gráfico Carlos da Rocha. Intitulada “O Mundo Vai Continuar A Ser Como Não Era”, a exposição permite viajar pelos últimos 100 anos de publicidade em Portugal, através da intensa actividade do atelier de Carlos Rocha, que trabalhou marcas portuguesas e estrangeiras, desde a Grunding até às farinhas Nacional, passando pelos gelados Rajá, bebidas como a Mosca ou várias marcas de conservas. São 100 anos de design. Ainda em vida, Carlos Rocha (1943-2016) doou o seu acervo ao MUDE e manifestou o desejo de se fazer uma exposição que apresentasse o seu trabalho à frente da Agência Marca e da LETRA Design, e que mostrasse também o trabalho de seu pai, Carlos Rocha Pereira (1912-1992) e o trabalho de seu tio, José Rocha (1907-1982), na ETP – Estúdio Técnico de Publicidade. Nesta genealogia familiar, vê-se a força do design gráfico e a sua importância na comunicação de Estado e na publicidade comercial e industrial em Portugal. Estes três designers conceberam marcas, imagens e publicidade para os vários sectores de produção nacional e através da exposição “O mundo vai continuar a não ser como era!” podemos seguir  as grandes mudanças da vida quotidiana em Portugal e os diferentes contextos políticos e socioeconómicos do nosso país, desde a década de 1930, até ao início do século XXI. E quando terminarem de ver a exposição podem ir, no mesmo edifício, ao terraço com vista panorâmica, onde há um bar, para um copo ao fim da tarde. A exposição, de entrada gratuita, está aberta de terça a domingo, entre as 11 e as 18 até dia 25 de Novembro.

 

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JAZZ BRASIL - Antonio Adolfo Maurity Sabóia de seu nome completo é um pianista brasileiro que testemunhou os primórdios da Bossa Nova e depois se aventurou pelo jazz. Nascido em 1947, aos 16 anos já tocava com os pioneiros do novo som do Rio de Janeiro. Tem uma longa carreira musical, que passa por discos em nome próprio, uma intensa actividade didáctica e muitas colaborações com outros músicos. É um daqueles nomes menos conhecidos da música brasileira mas que tem uma carreira rica e criativa. Tocou e compôs para Maysa, acompanhou Elis Regina numa tournée europeia, estudou e trabalhou nos Estados Unidos com Sérgio Mendes, e agora, aos 75 anos, lança novo disco, “Octet & Originals”. Os dez temas do disco foram todos compostos por António Adolfo ao longo da sua carreira e alguns ganharam fama nas interpretações de nomes como Stevie Wonder, Herp Albert (“Pretty World”), Dionne Warwick (“Heart Of Brazil”) e êxitos que obteve no Brasil como “Teletema” , “Cascavel”, “Feito em Casa” ou “Toada Moderna”, dos anos 60, uma homenagem sua a Bill Evans. Aqui todas as versões são instrumentais, com novos arranjos compostos para o octeto que gravou o disco e que reúne músicos de eleição: Jessé Sadoc (trompete), Danilo Sinna (sax alto), Marcelo Martins (sax tenor e flauta), Rafael Rocha (trombone), Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria e percussão), e Ricardo Silveira (guitarra), além do próprio António Adolfo no piano. Sempre com referências bem brasileiras, nomeadamente à Bossa Nova e ao samba, os arranjos são muito marcados pelo trabalho de todos estes músicos no jazz. O resultado é um disco surpreendente que consegue dar nova alma a temas que nalguns casos têm seis décadas. Disponível nas plataformas de streaming.

 

UM PETISCO MARÍTIMO - Um destes dias fui brindado em casa de bons amigos, perto de Setúbal, com um petisco inesquecível e de uma enorme simplicidade. O que contou para o êxito do petisco foi a frescura e qualidade dos ingredientes - umas postas de pescada e amêijoas. A pescada fresca não tem comparação com o que normalmente aparece por aí, e que chega ao prato depois de sofrer as agruras da congelação. Estas postas, quando aterraram no prato, soltavam-se em lascas perfeitas, com sabor e a consistência ideal. Claro que o talento da cozinheira tem uma importante quota parte no sucesso e aqui deixo o meu obrigado. Vamos pois ao relato que ela fez: as amêijoas foram compradas fresquíssimas num viveiro, eram de bom tamanho, e a pescada, em postas gordas,  veio do mercado de Setúbal, o célebre Mercado do Livramento. Primeiro as amêijoas foram abertas ao vapor e deixadas a repousar enquanto a pescada cozia num molho à Bolhão Pato, com azeite, alho com fartura, vinho branco e um pouco de sumo de limão, tudo com abundante quantidade de coentros picados. Quando o molho levantou fervura entrou a pescada, rigorosamente vigiada para ficar na consistência ideal. E já no fim entraram as amêijoas abertas. Desligado o lume acrescentou-se mais um ramo de coentros, tapou-se a panela e levou-se à mesa onde o festim foi muito apreciado - sendo impossível não ensopar pão naquele molho. A acompanhar esteve um branco da região, muito cumpridor.

 

DIXIT- “A escola deve ser democrática, mas não impingir a democracia “ - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Dizem que o tempo muda as coisas, mas na realidade somos nós que temos de as fazer mudar” - Andy Warhol



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publicado às 11:00

UMA NOVELA INSPIRADORA

por falcao, em 12.08.22

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PÔR DO SOL-  O verão é uma estação muito curiosa: não sei se pelas temperaturas atingidas, se por qualquer outra razão, tomam-se decisões extraordinárias e assiste-se a transtornos que só podem nascer quando as meninges começam a fritar. Às vezes olho à volta do que se passa no país e penso que estou a ver um episódio da genial série da RTP “Pôr do Sol”,  que esta semana estreou nova temporada. Alguns factos da governação são tão absurdos que poderiam caber direitinhos nas fantasias da família Bourbon de Linhaça, o clã que está no epicentro da narrativa. Há momentos em que olho para António Costa a esquivar-se a dar respostas no Parlamento às perguntas da oposição e vejo-o a cantar sempre o mesmo refrão independentemente do tema em discussão, como se inspirado pelas aparições do músico e cantor Toy nessa série quando entoa, de várias formas, sempre as mesmas palavras, para criar momentos de distracção quando a narrativa quer mudar de rumo. Depois, olho para as personagens de “Pôr do Sol” e imagino qual assentaria que nem uma luva a Pedro Nuno Santos, quem calharia a Mariana Vieira da Silva, como Fernando Medina ficaria bem a tratar do cerejal, que é a fonte de riqueza dos Bourbon de Linhaça,  e imagino o musical Pedro Adão e Silva como vocalista emergente cantando para um Santos Silva embevecido. Enfim, são os meus devaneios proporcionados pela série de televisão que é um perfeito retrato do país. Se não conhecem revejam a primeira temporada na RTP Play ou na Netflix e sigam a segunda, que começou esta semana na RTP1.

 

SEMANADA - Em apenas quatro meses o PS inviabilizou cinco audições parlamentares a ministros; de entre os membros da OCDE Portugal é dos países onde as despesas com a saúde mais pesam no orçamento das famílias; desde o início da pandemia o número de investidores de fundos Plano Poupança Reforma subiu 38% para um total de 450 mil; o ex-ministro Manuel Pinho solicitou um aumento do raio de acção da pulseira electrónica para poder tratar da horta de subsistência na quinta onde reside em Braga; este ano já foram celebrados cerca de 105 mil contratos públicos, dos quais 60% foram por ajuste directo; de 1 de Janeiro a 31 de Julho foram registados 7517 incêndios rurais, que afectaram 58.354 hectares, área apenas ultrapassada em 2012; desde Outubro do ano passado choveu metade do que seria normal e, nos últimos anos, só em 2004 a situação de seca foi mais grave; desde 1980 a economia portuguesa perdeu 4% devido a eventos climáticos extremos, número que compara com a média da UE, que no mesmo período registou perdas de 3%; no primeiro semestre deste ano foram importados mais 51% de carros usados de outros países europeus que em, igual período do ano passado; a Porsche foi a marca desportiva com maior número de veículos importados, 481; os passageiros com mobilidade reduzida têm de avisar a CP com seis horas de antecedência se quiserem fazer uma viagem de comboio; a mortalidade materna atingiu em 2020 o valor mais alto dos últimos 38 anos; Ricardo Rodrigues, o deputado do PS que se tornou conhecido por ter roubado um gravador a um jornalista que o entrevistava e fez uma pergunta incómoda, é agora Presidente da Câmara de Vila Franca do Campo, nos Açores, e foi acusado de abuso de poder por ter concessionado a exploração de um restaurante a um irmão e ao marido de uma vereadora também do PS.

 

O ARCO DA VELHA - O Banco de Fomento, anunciado como crucial para a execução do PRR, viveu mais de 500 dias sem gestão de topo e há mais de meio ano que tem 33 candidaturas de PME’s à capitalização por analisar e que continuam sem resposta.

 

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MUITO PARA VER PELO PAÍS - Em época estival deixo algumas algumas sugestões fora de Lisboa. Começo por Coimbra. No Centro de Arte Contemporânea da cidade decorre, até 28 de Agosto, a exposição “Chegar à Boca da Noite”, título extraído de um verso do poema “Velas da memória”, de Ruy Belo. A exposição integra trabalhos de Aino Kannisto, Álvaro Lapa, Carlos Correia, Filipe Romão, Hugo Canoilas, João Jacinto, Jorge Queiroz, Rui Chafes e Sarah Jones, entre outros. A curadoria é de José Maçãs de Carvalho, a partir de obras da colecção de arte contemporânea do município coimbrão, da colecção de arte contemporânea do Estado e da colecção de fotografia do Novo Banco. Na imagem está uma peça de Rui Chafes, “Áspero Nobre Suicidário III”. De Coimbra um curto salto até à Figueira da Foz onde Luísa Ferreira regressa com novas fotografias, que surgem na continuidade do trabalho que ela fez há 20 anos, para a inauguração do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira, e a que então deu o título de “Luz para as Abadias”. Agora Luísa Ferreira fez uma nova série de imagens a que chamou “Luz para as Abadias 20 anos depois”, que está patente até 28 de Agosto,  retomando o território e as gentes da Figueira. Por último, e até 15 de Agosto, em Elvas, prossegue a exposição que celebra os 15 anos do Museu de Arte Contemporânea de Elvas. “Quem nos salva” é o título da exposição central, com obras da colecção António Cachola, mas há diversas outras exposições feitas em colaboração com dezenas de coleccionadores e galerias privadas de arte contemporânea, sob o título genérico “Aqui Somos Rede”. E finalmente, continuando fora de Lisboa, no Museu das Artes de Sintra, no Espaço Pedro Cabrita Reis, pode ver uma uma sala dedicada à obra do artista, dominada por um poderoso tríptico que evoca a paisagem de Sintra, intitulado “Uma Nuvem Negra”, concebido expressamente para o local, e que é acompanhado por duas outras pinturas que Cabrita ofereceu à colecção de arte do município.

 

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PERSISTÊNCIA - Por estes dias regressei a um livro que havia lido há muito, “Bartleby, O Escrivão”, de Herman Melville, o autor de “Moby Dick”. Mas este pequeno conto é bem diferente dessa epopeia da luta entre o homem e a natureza retratada em “Moby Dick”. “Bartleby, O Escrivão - Uma História de Wall Street”, de seu nome completo, é um conto que foi publicado anonimamente em 1853, em duas partes, na revista”Putnam’s Magazine”. Este texto é considerado por vários autores como uma das grandes obras da literatura mundial e é um claro exemplo do talento de Melville, que Harold Bloom considerou como um dos escritores mais importantes da língua inglesa,  “o mais shakespeariano dos nossos autores”. Bartleby, a personagem do conto, é um jovem com um ar triste que, inicialmente, ao ser contratado por um advogado como copista, realizava uma enorme quantidade de trabalho, ao ponto de viver no escritório, situação descoberta por acaso. Pouco depois há um dia em que recusa um pedido do patrão, afirmando, de forma suave, mas firme, que "preferia não o fazer” - frase que se torna a sua resposta a todas as questões que lhe são colocadas. A irredutível posição de Bartleby leva o patrão a mudar a localização do escritório, deixando-o sozinho no espaço, de onde se recusa a sair e de onde acaba por ser levado preso. Ainda hoje o conto surpreende e encanta, o seu final é inesperado, a narrativa é surpreendente. Não é por acaso que uma das mais famosas colunas regulares da revista "The Economist" tem por título “Bartleby”. Esta obra de Melville é  um tratado sobre como nos relacionamos, como nos encaramos uns aos outros e como procuramos afirmar a nossa existência.

 

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GUITARRA E PERCUSSÃO -  Steve Tibbets é um guitarrista de jazz norte-americano que tem a particularidade de fazer uma ligação entre a guitarra e a percussão verdadeiramente invulgar. Aliás um dos músicos mais presentes ao seu lado durante toda a carreira, ao vivo e em disco, é o percussionista Marc Anderson. E Tibbets, ele próprio, não hesita em assegurar também a percussão quando necessário. Ele costuma dizer que o seu trabalho está algures entre o jazz e a world music e essa é uma boa descrição. Entre 1981 e 2017 Tibbets gravou uma dezena de discos para a ECM e “Hellbound Train” é um duplo álbum que reúne trabalhos desses registos. “The best Steve could do” é como ele classifica a selecção de 28 temas que fez para esta colectânea. Os dois discos estão claramente divididos entre o lado electrónico e o lado acústico e contam com a participação de um leque alargado de mais de uma dezena de músicos. Além da grande sensibilidade rítmica, a técnica de guitarra de Steve Tibbets é também invulgar e ajuda a criar um ambiente musical único. “Hellbound Train” , uma bela introdução à música de Tibbets para quem a não conhecer, está disponível nas plataformas de streaming.

 

A BELA COURGETTE - Costumo ouvir dizer que o primeiro dia de Agosto é o primeiro do Inverno e este ano, salvaguardando o exagero, confirma-se a teoria de que o mês em que estamos é mais fresco. Por isso arrisco -me hoje a propôr um prato feito no forno, instrumento fatal no verão para cozinhas pequenas. A base de tudo isto está na courgette. Não vou falar de quantidades porque aqui o tamanho conta: uma courgette grande dará para várias pessoas, uma média para duas e uma pequena será um solitário exercício de prazer. Em qualquer das dimensões o primeiro passo é cortar a courgette ao meio, escavar o centro de forma a formar uma cratera que levará o recheio e, uma vez feito este trabalho manual, salgá-la para largar água e deixar a repousar pelo menos meia hora, levando-a ao forno de seguida durante um quarto de hora para que fique mais tenra. Retire-a e reserve, passado esse tempo. Entretanto pode cozinhar o molho, que levará pasta de tomate, gengibre ralado, pimenta, oregãos, cominhos em pó e alcaparras. Deixe cozinhar uns dez minutos em lume brando, adicione a carne picada (conte com uns 100 gramas por pessoa) e mantenha o lume brando durante mais 15 minutos, mexendo bem para a carne ficar envolvida no molho. Entretanto volte a aquecer o forno a 200 graus. Coloque este molho de carne nas cavidades abertas nas courgettes, polvilhe com queijo parmesão ralado na altura e leve de novo ao forno durante quinze a vinte minutos minutos. Acompanha com um vinho rosé para os impuros e tinto para os fundamentalistas.

 

DIXIT - “Quando olhamos para as enormes melhorias que a democracia portuguesa conseguiu no sector cultural, é difícil não ver nos museus um enorme falhanço” - Joaquim Oliveira Caetano, Director do Museu Nacional de Arte Antiga.

 

BACK TO BASICS - “Um segredo pode ser guardado por três pessoas desde que duas delas estejam mortas” - Benjamin Franklin.

 




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VAI SER UMA BELA RENTRÉE - Nestes dias tenho encontrado em várias publicações inquéritos a políticos da nossa praça sobre as leituras que pensam fazer em férias. Analisadas as respostas concluí que vamos ter uma rentrée animada com retórica eloquente, pensamentos profundos, muito conhecimento adquirido. Praticamente todos os inquiridos anunciaram que em férias, para aliviar dos trabalhos parlamentares e partidários, vão estudar: filosofia, economia, gestão, religião, história e mais algumas coisas de que certamente me estou a esquecer. Poucos foram os que admitiram ler algo mais leve - Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, foi a única a confessar que estava com vontade de ler um bom policial. Não partilhamos as mesmas ideias, mas pelos vistos partilhamos os mesmos gostos. E confesso que gostei desta franqueza da líder bloquista que não se armou em devotada fã de manuais e reconheceu aquela coisa básica: férias é tempo para sair dos hábitos de trabalho, espairecer a cabeça, procurar outros interesses. Acredito pouco em quem diz levar calhamaços teóricos para o areal. E tenho alguma dificuldade em perceber porque é que responsáveis políticos se querem distanciar das pessoas com as listas de leituras que dizem ir fazer e que, sinceramente, duvido muito que concretizem. Nesse inquérito alguns diziam que levariam na bagagem meia dúzia de livros de alguma complexidade e dimensão. Imagino que terão umas férias bastante grandes para conseguirem ler tudo o que dizem ir colocar na mala. Mas lá vou aguardar pelo reinício dos trabalhos parlamentares para perceber o que as meninges dos nossos políticos apreenderam no seu tempo de descanso.

 

SEMANADA - A inflação em Portugal voltou a acelerar e ultrapassou os 9% em Junho; o preço dos bens alimentares essenciais subiu 13% nos últimos 12 meses; um estudo divulgado esta semana indica que cada família gastou em média 1069 euros em alimentação nos primeiros seis meses, mais 77 euros do que no mesmo período antes da pandemia; a venda de vinho do Porto no mercado nacional aumentou 50% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado; no primeiro semestre deste ano as vendas de vinho de mesa no mercado nacional cresceram 14.3% em volume e 52,8% em valor e a restauração foi o sector que mais cresceu; nos últimos cinco anos a colecta do IMT, o imposto municipal sobre transacções de imóveis, disparou quase 60% e em 2021 o Estado arrecadou 1428 milhões de euros; em 2021 mais de um milhão de pessoas vive em casas sobrelotadas, um número acima do verificado nos três anos anteriores; a emigração portuguesa para o Canadá em 2021 foi a mais alta deste século; os automóveis híbridos e eléctricos já significam 38% do total das vendas de carros em Portugal; no primeiro semestre deste ano o número de espectadores nas salas de cinema esteve 39% abaixo dos valores de 2019, antes da pandemia; quase seis mil lisboetas com mais de 65 anos aderiram ao passe de transportes gratuito na primeira semana do seu lançamento.

 

O ARCO DA VELHA - Segundo o Tribunal de Contas um em cada três computadores e sistemas de ligação à internet entregues às escolas continuam guardados, por distribuir.

 

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VISÕES DE AGOSTO - Com grande parte das galerias privadas encerradas em Agosto a atenção vira-se para museus e galerias públicas. E não falta oferta. Começo por Algés, no Palácio Anjos. “Amor Veneris” combina a componente científica com a artística e propõe-se promover “uma experiência pedagógica, provocadora e irreverente que questiona e mobiliza para a importância do prazer sexual feminino e de assuntos fundamentais para o seu entendimento, como o consentimento e não consentimento, violência sexual sobre as mulheres e a resposta sexual feminina”. Os dois núcleos - “Com Consentimento” e “Sem Consentimento” proporcionam o enquadramento para a apresentação de obras de três dezenas de artistas plásticos e de alguns criadores de conteúdos audiovisuais. Entre os artistas contam-se nomes como Ana Pérez-Quiroga (com uma obra inédita), Clara Menéres, Ernesto de Sousa, Fernanda Fragateiro, Julião Sarmento, Laure Prouvost, Louise Bourgeois, Lourdes Castro, Maria Beatriz, Noé Sendas, Paula Rego e Sara Maia (na imagem), entre outros. “Amor Veneris” está no Palácio Anjos até 30 de Dezembro, tem  curadoria de Marta Crawford e Fabrícia Valente e foi concebida com rigor científico e uma criteriosa escolha artística. A outra sugestão que hoje deixo é “Europa Oxalá”. Até 22 de Agosto e integrada na temporada Portugal-França, é apresentado na Fundação Gulbenkian o trabalho de 21 artistas afrodescendentes de segunda e terceira geração que reflectem sobre o racismo, a descolonização das artes, o estatuto da mulher na sociedade contemporânea ou ainda a desconstrução do pensamento colonial. A curadoria é de António Pinto Ribeiro, Katia Kameli e Aimé Mpane, e “Europa Oxalá” testemunha o poder criativo da diversidade cultural europeia contemporânea, ao mesmo tempo que  abre novas perspetivas à própria noção de Europa.

 

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FOTOGRAFIAS DE UMA VIDA - Uma das mais interessantes exposições de fotografia que podem ser vistas neste momento está no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa (Rua da Palma 246). Trata-se de uma mostra representativa do trabalho de Guilherme Silva ao longo dos anos - as fotografias mais antigas datam de meados do início dos anos 70 e as mais recentes são de 2015. “No Planeta Onde Vivo” é o título da exposição deste fotógrafo que realizou ensaios fotográficos sobre diversos temas - desde um hospital psiquiátrico e uma unidade industrial. Com um rigor de enquadramento obsessivo, uma técnica apurada e um cuidado extremo no processo de revelação e ampliação, que ele próprio executou ao longo dos anos, Guilherme Silva é um nome pouco conhecido do grande público mas é indiscutivelmente uma referência na fotografia portuguesa do último quarto do século passado. Trabalhando como free-lancer na maior parte do tempo para publicações nacionais e estrangeiras,  Guilherme Silva tem também uma componente de autor de photobooks, antes de estes se tornarem uma forma corrente de divulgação da fotografia. Nesta exposição, para além das imagens, podemos testemunhar o processo de trabalho de Guilherme Silva, na selecção das fotografias a ampliar, na concepção dos livros, na planificação da forma como avança para fotografar um tema e , depois, para o editar. Guilherme Silva é, como esta exposição demonstra, uma referência importante na mediação entre a reportagem, o ensaio e o projecto fotográfico - numa época em que raros eram os que se dedicavam a estas áreas em conjunto. A exposição evoca as grandes influências de Guilherme Silva - Robert Doisneau e Robert Frank -  mostra uma fábrica de cimento da CIMPOR em Alhandra, o trabalho “Seres de Palha”, feito sob encomenda do Museu Zoológico da Universidade de Coimbra, uma viagem com pescadores portugueses à Mauritânia e ao sul de Marrocos, uma série de imagens sobre Fátima feitas ao longo dos anos e que depois deram um livro, um ensaio fotográfico sobre o Hospital Psiquiátrico do Lorvão, e uma série de retratos a músicos, e actores, como José Viana, que aqui se mostra.

 

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UMA LEITURA INVULGAR - Fátima Mariano é uma historiadora que se dedica a escrever sobre factos, episódios e pessoas menos conhecidas da nossa História. Depois de ter publicado em 2019 “Grandes Mistérios da História de Portugal”, Fátima Mariano regressa agora com “Grandes Figuras Excêntricas da História de Portugal”.  Neste novo livro, ficamos a conhecer algumas das figuras mais excêntricas e bizarras que viveram no final do século XIX e início do século XX e que foram alvo de grande atenção da imprensa da época, a grande fonte consultada pela autora nas dez personagens que destacou - desde pessoas com malformações até outras com profissões invulgares. Gigantes, pessoas com anomalias anatómicas e aspecto invulgar eram muitas vezes exibidas em feiras e assim ganhavam a vida. Um dos casos que relata é o de um homem que ficou conhecido como a tripeça humana: tinha três pernas, quatro pés, dois pénis e dois ânus, era considerado  muito activo sexualmente desde a adolescência, e uma das suas parceiras foi uma mulher de nacionalidade francesa que tinha três pernas, quatro mamas , duas vulvas e duas vaginas. Outra das figuras é o comilão de Almada que ganhou uma aposta ao ingerir, do nascer ao pôr do sol, quinze quilos de batatas, dois quilos de bacalhau e três pães, tudo ensopado em cinco litros de vinho. Fátima Mariano conta também a história de Luciano das ratas, que tinha como profissão ser caçador de ratos - havendo quem lhe atribua a proeza de,  em sete anos, ter morto mais de cem mil roedores, livrando Lisboa de uma praga e contribuindo para combater a peste bubónica. Outra figura era o Rei do Lixo,  responsável pela recolha de lixos em Lisboa no início do século XX e que assim fez fortuna, que depois aplicou em outros negócios, nomeadamente como fornecedor de carne aos talhos da capital. O livro alia um grande rigor histórico com uma narrativa que quase se assemelha a uma ficção. A edição é da Contraponto.


UMA ESPÉCIE DE AÇORDA, MAS ITALIANA - Chama-se Panzanella e é uma receita da Toscana. A base é o pão, como a açorda e o azeite também é chamado à festa. Mas a semelhança acaba aí porque nesta receita o forno tem um papel fulcral. Primeiro corte algum tomate maduro aos pedaços e leve ao forno aquecido, polvilhado de sal, durante uns dez minutos - tire e reserve. A seguir coloque no forno um tabuleiro com o pão de véspera, de boa qualidade, cortado grosseiramente aos pedaços, regue com um fio de azeite e leve ao forno até ficar um pouco tostado - outros dez minutos. Retire, deixe arrefecer. Enquanto isso numa taça grande coloque uma chalota pequena cortada muito fina, tempere com azeite e vinagre de vinho tinto, misture tudo bem. Adicione o tomate, o pão, uma lata pequena de anchovas cortadas em pedaços, folhas de manjericão, uma dúzia de azeitonas pretas às rodelas, envolva tudo muito bem e no fim coloque por cima mais umas folhas de manjericão. E pronto - aí tem um prato de verão cheio de côr e sabor.

 

DIXIT - “O Governo revela cansaço de ideias e vacuidade de projectos. Anda à procura de segundo fôlego quando nem sequer mostrou o primeiro” - António Barreto.

 

BACK TO BASICS - “A verdade pode ser a anedota mais divertida que existe”- George Bernard Shaw



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