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BOAS INTENÇÕES - Como já deito o Galambagate pelos olhos, esta semana quero falar de outra coisa. E vou falar da Lei Pizarro - admito que cheguei a pensar que esta lei anti-tabaco, de tão absurda que é, foi uma tentativa governamental de desviar as atenções de Galamba. Pego nesta lei para falar de como decisões, aparentemente para o bem comum, podem ter um ricochete negativo. Já nem falo do abuso de poder que se quer exercer, outros disseram sobre isso o que havia a dizer. Mas, a propósito da forma atabalhoada como as coisas são feitas, e dos locais onde se quer proibir a venda de tabaco, cito um parágrafo de Ana Cristina Leonardo, na sua coluna de opinião do “Ípsilon”. Ela vive desde há algum tempo numa pequena aldeia algarvia e eis a descrição que faz do absurdo que se pretende criar: “o café aqui do monte, único local que ainda contribui para manter viva a fraca chama comunitária, se o novo delírio higienista e proibitivo for avante - relembro: interdita a venda de tabaco em restaurantes, cafés, bombas de gasolina e etc.; proibido fumar em esplanadas com algum tipo de cobertura, assim como à porta dos estabelecimentos… – será um entre os quase todos cafés que fecharão as portas. E se já em nenhum local do concelho se vende jornais ou revistas (livros nem se fala…), é só acrescentar que em nenhum local do concelho se venderá tabaco (a tabacaria mais próxima fica a cerca de 40 quilómetros tanto para norte como para sul, sendo que para norte não há transportes e para sul só durante o período escolar). Os velhos e os loucos, estes últimos todos fumadores, morrerão fechados em casa por certo cheios de saúde!”. Um outro exemplo, em menor escala, de boas intenções com mau resultado é o que se passa quando se tomam medidas sem ter em conta as realidades locais. Não chega proclamar a defesa do comércio tradicional e local. Pego no exemplo da Rua José Falcão, em Santo Amaro de Oeiras, onde a colocação de pilaretes contra a invasão dos passeios por automóvel, sem alternativa de estacionamento, está a dar cabo do comércio local e de rua, com lojas já a fechar portas. A intenção é boa, o resultado imediato, não.
SEMANADA - A execução do PDR nas medidas de prevenção de incêndios é de 45% do total previsto; os lucros do Banco de Portugal em 2022, dirigido por Mário Centeno, caíram 42%; de acordo com as previsões da União Europeia Portugal será dos piores países com pior desempenho no próximo ano em termos de crescimento da economia; no actual regime fiscal estudantes que queiram ter um part time legal para trabalhar acabam por ser penalizados pelo Estado em impostos e até em matéria de bolsas; apenas 40% das 900 vagas abertas para médicos de família tiveram candidatos; os juros dos depósitos bancários em Portugal têm um valor médio de 0,88%, que compara com 2,05% que é o valor médio na zona Euro; a taxa do crédito à habitação em Portugal é de 3,86% que compara com os 3,44% que é o valor médio da zona Euro; Portugal é o país da OCDE cuja dívida pública é mais dependente do Banco Central Europeu, que detém mais de 50% da dívida pública portuguesa; quase 500 leitões são abatidos em média por dia para abastecer os restaurantes da Mealhada; os concertos dos Coldplay juntaram em Coimbra o equivalente a 2% da população portuguesa; os oficiais de justiça anunciaram uma greve de zelo a partir de Junho; foi detectada uma falha no portal do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que permite efectuar legalizações sem ter todos os documentos necessários; o portal do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para a atribuição de autorizações de residência aos cidadãos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa concedeu mais de 113 mil destes títulos em dois meses, sendo que os imigrantes brasileiros representam 83%.
O ARCO DA VELHA - Mais de um mês após o anúncio, continua por criar a comissão independente para averiguar denúncias de assédio sexual e moral no Centro de Estudos Sociais envolvendo Boaventura de Sousa Santos.
A MEMÓRIA COMO MATÉRIA PRIMA - Na sua nova exposição Patrícia Garrido evoca as muitas casas em que viveu em criança, devido às mudanças de casa sucessivas dos seus pais, que, como ela conta, “andavam de um lado para o outro”. Como Patrícia Garrido também diz, “esta espécie de não pertencer a nenhum sítio, estar sempre em mudança” faz parte das suas memórias. “Doze quartos e famílias felizes”, patente até 29 de Julho na Galeria Miguel Nabinho, é inspirada pelas memórias desses locais onde passou e viveu. A exposição divide-se em duas partes: uma série de pinturas e desenhos sobre papel, a óleo e aguarela, e uma série de 12 esculturas de madeira que evocam outras tantas divisões de uma casa imaginada a partir das memórias da artista(na foto) . Patrícia Garrido utiliza como matéria prima, nesta série, madeiras provenientes de móveis que desmanchou e trabalhou para construir as doze peças que são outras tantas memórias, uma sugestão de “quartos de pessoas diferentes, experiências de vida diferentes”. Estas obras são, afinal, um exercício de reflexão sobre como se formam as memórias ao longo de uma vida. Uma outra exposição onde a madeira é a matéria prima das obras apresentadas, a partir de citações de livros que também são mostrados, é a instalação “Em bruto: relações comoventes”, até 10 de Setembro no Museu CCB, criada em 2022 por Fernanda Fragateiro, em resposta a um convite da Fundación Cerezales Antonino y Cinia, em Espanha e que agora é pela primeira vez apresentada em Portugal.
ART WEEK LISBOA - Por estes dias a arte contemporânea está no centro das actividades culturais em Lisboa. Além da ARCO Lisboa, também se realiza a Just LX. A ARCO Lisboa, agora na sua sexta edição, é uma extensão da ARCO Madrid, centrada nas mais importantes galerias e com um extenso leque de actividades. Integra nomeadamente o programa “África em Foco”, com curadoria de Paula Nascimento e que contará com a participação de galerias do continente africano, e a “Opening Lisboa”, com curadoria de Chus Martínez e Luiza Teixeira de Freitas, uma secção que irá investigar as novas linguagens e espaços artísticos com o objetivo de atrair novos conteúdos e investigações para o certame. Até Domingo, na nave central da Cordoaria, oito dezenas de galerias mostrarão obras de quase cinco centenas de artistas de 22 países. Também inserida na ARCO Lisboa, mas no Torreão nascente da Cordoaria, e com entrada gratuita, decorre a ArtsLibris, uma feira de livros e revistas de arte com três dezenas de expositores. Por iniciativa da EGEAC, no mesmo local é apresentada uma exposição com as mais recentes aquisições de obras de artistas portugueses feitas pela Câmara Municipal de Lisboa a 47 artistas portugueses em 2021 e 2022. Já a Just LX, uma extensão da Just MAD, realizada em Madrid, vai agora na sua quarta edição lisboeta e decorre igualmente até Domingo, no Centro de Congressos de Lisboa (antiga FIL) e é focada em novas galerias e artistas emergentes com o objectivo de apresentar obras acessíveis a uma nova geração de colecionadores. Na Just LX estarão três dezenas de galerias de diversos países, com obras de uma centena de artistas. Ao mesmo tempo uma série das mais importantes galerias de Lisboa apresentam novas exposições, da mesma forma alguns artistas abrem também o seus ateliês a visitas incluídas na programação paralela destes eventos. Por último, entre as recentes inaugurações, há uma que merece destaque especial, uma das melhores exposições dos últimos tempos em Lisboa: “Hello Are You There?” de Luísa Cunha, no MAAT e a ela voltarei nestas páginas na próxima semana.
UM ALERTA - Henry Kissinger, que esteve recentemente em Portugal, completará 100 anos no dia 27 e há um ano editou um livro de leitura obrigatória para quem se interessa sobre política e relações internacionais - “Liderança”. Kissinger chefiava a diplomacia americana em 74 e 75, tem acompanhado a evolução do mundo há mais de meio século. “Liderança” estuda exemplos de governação e de liderança através de seis personalidades marcantes do século XX: Konrad Adenauer e a estratégia da humildade; Charles De Gaulle e a estratégia da vontade; Richard Nixon e a estratégia do equilíbrio; Anwar Sadat e a estratégia da transcendência: Lee Kuan Yew e a estratégia da excelência que projetou Singapura; e Margaret Thatcher e a sua estratégia da convicção. O livro sublinha a importância da meritocracia e analisa o perigo do declínio da meritocracia e o seu efeito no futuro da liderança. São de Kissinger estas palavras: “O patriotismo cívico que em tempos emprestou prestígio ao serviço público parece ter perdido terreno em relação a um facciosismo identitário e a um cosmopolitismo concomitante”. Kissinger manifesta a opinião de que as escolas de hoje são muito boas na formação de técnicos e activistas, mas alheiam-se de formar cidadãos - o que, na sua opinião, leva a que as as elites de hoje falem menos de obrigações do que de expressão individual ou progresso pessoal. Cito-o mais uma vez: “Assim como a transição da cultura oral para a cultura escrita proporcionou os benefícios da literacia, mas diminuiu as artes da poesia falada e dos contadores de histórias, também a actual mudança de uma cultura impressa para a cultura visual traz perdas e ganhos (...) e a mudança da cultura impressa para a cultura visual continua com a afirmação contemporânea da internet e redes sociais, que trazem consigo quatro enviesamentos que tornam agora mais difícil do que na era da imprensa que os líderes desenvolvam as suas capacidades: imediatismo, intensidade, polaridade e conformidade. “Liderança” foi editado agora em Portugal pela D. Quixote.
BOM - O artigo de Luís Marques, “A Flórida da Europa” traça o retrato de um Portugal excluído da reindustrialização, encarado pelo centro e norte da Europa como um parque de diversões para reformados.
MAU - As trotinetas eléctricas são cada vez mais um perigo para quem anda na rua.
DIXIT - “Raramente, nestas décadas que levamos de democracia, se atingiu um ponto tão baixo de miséria moral, de atentado político, de vilania, de imoralidade e de sem vergonha! Há gente que, por bem menos, reside actualmente na penitenciária, em Custóias ou em Pêro Pinheiro. Raramente como agora a justiça portuguesa esteve tanto em causa. Raramente como agora o Estado de direito esteve tão ameaçado” - António Barreto
BACK TO BASICS - “Não podemos escolher as nossas circunstâncias externas, mas podemos sempre escolher como reagir a elas” - Epicteto, filósofo grego clássico.
FOI PARA ISTO? - Nestes dias o Instituto Nacional de Estatística divulgou uma série de dados que chamam a atenção para três pontos que espelham o retrato da governação recente de António Costa, seja a meias com a geringonça ou a solo, com maioria absoluta. Esses três pontos, que os números do INE dramaticamente revelam, são estes: estamos a perder emprego qualificado; continuamos a exportar os nossos talentos; e tudo isto sucede pelos baixos salários que praticamos. Passemos ao detalhe: o emprego qualificado teve no 1.º trimestre de 2023 a maior queda desde 2011, uma queda de 6,1% ou seja, menos 105 mil empregos de pessoas com o ensino superior. No outro lado da balança, segundo o ranking do Financial Times, Portugal tem cinco universidades com alguns dos melhores mestrados financeiros do mundo, que por ano formam 800 diplomados - só que metade deles abandona o país por falta de bons salários. Bem podem os responsáveis desta situação dizer que a culpa é de Passos Coelho que um simples olhar para a cronologia da nossa História recente mostra outra realidade - a de um país onde falar de crescimento da economia é um pecado, onde a justiça está paralisada, a legislação laboral é instável e a carga fiscal penaliza trabalhadores e empresas. Tudo isto dificulta o investimento, complica a criação de riqueza e continua a arrastar-nos, de forma continuada, para o final da tabela europeia nos principais indicadores económicos. Olhamos à volta e existem decisões adiadas em tudo - já nem falo da anedota do aeroporto, mas destaco o atraso na execução das verbas do PRR, a ausência de reformas estruturais ou o não cumprimento do calendário da recuperação da ferrovia. Pedro Santana Lopes escreveu esta semana no “Correio da Manhã” que o Estado se degrada e a Nação definha e concluía: “49 anos depois de Abril, 37 de Europa e deu nisto? Não pode ser.” Mas, infelizmente, é o que temos.
SEMANADA - Segundo o Conselho de Finanças Públicas a economia e os juros foram responsáveis pela quase totalidade da consolidação orçamental, sendo que a ação de Fernando Medina só contribuíu para reduzir o défice em 0,1 pontos; em 2022, as receitas com o IRS aumentaram 549 milhões de euros com a não atualização dos escalões em linha com a inflação, o que contribuiu para um aumento da carga fiscal para 36,2% do PIB, um novo máximo histórico; em 2022 76% do investimento público do PRR ficou por executar e em termos líquidos, o investimento público continuou a ser negativo,apesar dos fundos europeus; segundo o INE, nos três primeiros meses do ano o salário médio estagnou e registaram-se 400 mil desempregados, quase mais 23% que há um ano; a TAP registou 57,4 milhões de euros de prejuízo no primeiro trimestre deste ano; segundo a Procuradoria Geral da República as burlas dispararam nos últimos anos e só em 2022 foram registadas mais de 54 mil; este ano faltam quase mil nadadores salvadores para garantir as condições ideais de segurança nas praias portuguesas; a despesa pública atingiu 293 milhões de euros por dia no ano passado; segundo a Deloitte, em 2022, 12% dos portugueses optaram por cancelar um serviço de streaming e destes, 24% indicaram que a principal razão foi a necessidade de cortar custos; entre Janeiro e Abril foram vendidos 3,3 milhões de bilhetes de cinema, um aumento de 36% face a igual período do ano passado; um estudo internacional indica que a capacidade dos alunos portugueses do 4º ano lerem e compreenderem textos piorou na última década.
O ARCO DA VELHA - António Costa inscreveu-se como peregrino nas Jornadas Mundiais da Juventude.
A FORÇA DA ESCULTURA - Nos próximos dias Lisboa vai ter muito que ver em termos de arte contemporânea. Entre 25 e 28 de Maio decorre na Cordoaria a ARCO Lisboa, com a participação de 70 galerias, de 14 países, que apresentarão obras de 470 artistas. Diversas galerias privadas terão também novas exposições, que integram um programa paralelo à ARCO. Mas o grande destaque da semana é a exposição “Gris, Vide, Cris", que reúne o trabalho de dois artistas que nunca se cruzaram: Albert Giacometti morreu em 1966, o ano de nascimento de Rui Chafes. Na obra de ambos é patente uma convergência na forma de ver e sentir. Esta exposição assinala precisamente o encontro entre as obras dos dois artistas, simbolizado por uma peça de Rui Chafes (na imagem), que nasceu de um desafio: para uma das esculturas de Giacometti (primeiro gesso de estudo para Le Nez, 1947-1950), Rui Chafes foi convidado pela Fondation Giacometti em Paris, em 2017, a conceber uma estrutura de suspensão, assumida como obra escultórica de dupla autoria, patente nesta exposição da Gulbenkian. A mostra assume-se como um encontro que parte da consciência das diferenças dos trabalhos dos dois artistas, no contraste das escalas com que trabalham e na forma como cada um deles cria esculturas. Helena Freitas, a curadora da exposição, que fica na Gulbenkian até 18 de Setembro, sublinha: «o caminho que nos conduz a ver as obras de Giacometti pelo interior de duas das esculturas de Chafes não é fácil, faz-se através de um espaço constrito que poderá fazer eco com o processo de exasperação que durante anos atormentou o artista suíço, na sua tentativa de representar o que via. O que nos leva a recuperar um dos desígnios fundamentais à construção deste projeto: a visão. “
UMA HISTÓRIA ORIENTAL - Começo por fazer uma declaração de interesse: sou amigo do autor do livro de que hoje falo, Fernando Sobral. E digo sou, porque apesar de ter morrido há um ano, para mim o Fernando continua vivo, nos livros que nos deixou, na recordação das suas crónicas “O Pulo do Gato”, aqui publicadas no Negócios e em tantos outros escritos. Antes de morrer, Fernando Sobral conseguiu ainda deixar revista a última versão de “O Jogo das Escondidas”, o seu romance escrito ao ritmo de folhetim e inicialmente publicado no jornal “Hoje Macau”. Situado em 1923, há cem anos portanto, em Macau, um território pelo qual o Fernando tinha especial apreço, “O Jogo das Escondidas” é um romance de mistérios, onde o amor e a lealdade andam lado a lado e uma história na qual um certo Portugal de há um século espelha o Portugal de hoje. Em 1923 Macau era um território ignorado pelos portugueses, mas cobiçado por poderosos interesses internacionais: Simultaneamente abrigo e casa de piratas, refúgio de espiões, importante porto de tráfico de drogas, a mais oriental colónia ultramarina era um local com poucas regras e sem inocentes, onde se desenrolam decisivas, e mortais, tramas políticas. Os portugueses que para lá partiam procuravam esquecer o passado. E assim nascem os personagens que vão dar rumo ao romance, em torno de interesses comuns - o tenente Félix Amoroso, duvidoso agente secreto ao serviço do Estado, e Benedito Augusto, obscuro padre franciscano. O livro, editado pela Quetzal, e já nas livrarias, vai ser apresentado na Feira do Livro, na área da Porto Editora, no próximo dia 27 de Maio.
UM BELO REGRESSO - No final do século passado, há 24 anos, os Everything But The Girl decidiram pôr em hibernação a carreira da banda, num momento em que estavam no topo da popularidade e tinham sido convidados para fazer as primeiras parte de uma digressão dos U2. Criados em 1982, os Everything But The Girl eram um duo constituído por Tracey Thorn nas composição das canções, vozes e guitarra e Ben Watt nos teclados, guitarra, arranjos e produção. Em 1994 gravaram a sua canção mais conhecida e popular, “Missing” e eram considerados um expoente da pop britânica mais sofisticada. O seu primeiro grande êxito foi uma versão de “I Don’t Want To Talk About It”, de 1988. O duo gravou dez álbuns de originais, com os quais ganhou um apreciável número de discos de ouro, mas, de repente e sem aviso prévio, decidiu constituir família, parar a carreira, deixar de gravar e actuar. Desde então Tracey e Ben fizeram alguns discos a solo, mas mantiveram-se longe da ribalta até que, no ano passado, surgiu a notícia de que estavam em estúdio a gravar um novo disco de originais. “Fuse”, assim se chama o seu novo álbum, foi editado no final de Abril e inclui dez temas. O primeiro,”Nothing Left To Lose” evoca a imagem de marca da voz de Tracey Thorn e os arranjos de Ben Watt recuperam , actualizada, a sonoridade que os tornou populares. Ao longo de todo o disco é evidente o desejo de conseguir um equilíbrio entre a herança dos trabalhos anteriores e a vontade de mostrar que não pararam no tempo - e faixas como “Run The Red Light”, “No One Knows We’re Dancing”, “Lost” ou “When You Mess Up” mostram isso mesmo. Se o nome dos Everything But The Girl vos suscita curiosidade procurem “Fuse” nas plataformas de streaming. Não se arrependerão.
MAIS UMA SANDUÍCHE - No início é o pão. Convém que seja bom pão. Dentre aqueles que estão mais disponíveis em alguns supermercados, o meu preferido é o pão de forma de trigo espelta integral elaborado pela Pachamama, a partir de massa mãe. Depois é preciso uma boa faca, que corte o pão sem o desfazer. Com esse utensílio corte duas fatias - eu primeiro costumo partir a forma ao meio e, a partir daí ir tirando fatias simétricas de cada um dos lados. Na posse de duas fatias, idealmente com um pouco menos de um centímetro de espessura, pegue num queijo fresco de cabra, cortado em rodelas finas espalhe-as bem, e em quantidade, na superfície do pão, polvilhado de sal e pimenta preta moída na hora. Aqui chegados há duas soluções para o que lá irá no meio: ou azeitonas verdes aos pedaços ou fatias finíssimas de pepino japonês. Os especialistas dividem-se, e embora as azeitonas no pão estejam a ganhar popularidade, eu prefiro as fatias muito finas desta variedade de pepino, menos ácida e de sabor mais intenso e envolvente que o pepino vulgar. Felizmente esta variedade japonesa já é também mais frequente nos supermercados - não vem do Japão, a que se consome aqui vem maioritariamente de Espanha. Mas aconselho que provem também a variante de azeitona verde aos pedaços. Vão ter uma surpresa, ou talvez não: afinal pão com azeitonas é um dos petiscos tradicionais portugueses, certo?
BOM - O início da abertura ao público da reserva principal do Museu de Lisboa
MAU - Em 2022 o mar comeu 2,5 metros ao areal da Costa da Caparica
DIXIT - “Houve um ministro que abusou do seu poder. E houve um serviço do Estado que fez o que é habitual em Portugal: agradar ao poder”- Marques Mendes, sobre a actuação do SIS
BACK TO BASICS - “O mistério é a melhor coisa da vida, é a raiz de toda a arte e da ciência” - Albert Einstein
ESQUERDA & DIREITA - Actualmente as mais sérias ameaças à liberdade de pensamento e expressão vêm daqueles que querem impor um pensamento único, excluir quem não acredita no que apresentam como verdade incontornável e penalizar quem não alinha com eles. A grande maioria dos que querem impôr este pensamento único são figuras conotadas com a esquerda, que à falta de políticas sociais e de desenvolvimento do país, reivindicam a imposição do seu pensamento em causas que apelidam de fracturantes. Para esta esquerda recordo que a lista de países onde há sérias ameaças à democracia, à liberdade de expressão e aos direitos humanos conta com mais países que têm governos que se intitulam de esquerda e pró-socialistas que de direita. Há mais barbaridade em regimes de países como a Rússia, a Venezuela, a China, a Coreia do Norte ou até Cuba, que em muitos outros. A apregoada superioridade moral da esquerda vive hoje atolada em corrupção e perversões, numa mixórdia que se alimenta da falta de ética, tudo em nome de manter o poder. É isto que corrói a democracia e que representa um perigo para a Liberdade. Quem se acha superior tem sempre tendência para mandar calar. Há sectores em que, segundo os bem pensantes, ser de esquerda é fundamental para ter existência e ser reconhecido. A Cultura, que devia ser o terreno da imaginação, liberdade e tolerância, é cada vez mais uma das áreas onde há uma maior discriminação política e onde manifestar opiniões não alinhadas com a esquerda é, para muitos, motivo de exclusão. Não é a opção política e ideológica de cada um que determina o seu valor, a sua criatividade, a sua capacidade de inovação. Quando um lado quer impor a sua verdade ao outro lado, o que é posto em causa é o mais profundo valor da cultura ocidental: a Liberdade, cuja defesa é o que nos deve nortear. No quadro da democracia ninguém pode ser discriminado, menorizado ou subalternizado em função do seu pensamento político e das suas opções pessoais.
SEMANADA - A margem financeira dos bancos alcançou em 2022 o valor mais alto desde 2011; a Comissão Técnica Independente que está a avaliar a localização do novo aeroporto aguarda autorização do Governo para realizar mais 25 estudos e a sua responsável afirma que o Aeroporto Humberto Delgado deverá continuar a funcionar pelo menos mais 10 anos; na última década o uso do carro cresceu em 96% dos concelhos do país; os alunos estrangeiros de cursos do ensino superior já são 16% do total de inscritos; em 2022 verificou-se um aumento de 5,5% dos nascimentos ocorridos em Portugal, em comparação com o ano anterior; Portugal já destruíu 3,5 milhões de doses de vacina contra o covid por terem chegado ao fim do prazo de validade, tendo ainda doado 8,1 milhões a outros países e revendido 2,6 milhões; foi declarado estado de seca severa e extrema em 40% do território português; Portugal tem uma Comissão Permanente da Seca que reuniu apenas 13 vezes nos últimos seis anos apesar do agravamento da situação; no primeiro trimestre deste ano o numero de empresas de restauração e alojamento teve um crescimento de 16%; uma auditoria do Tribunal de Contas revela que as operadoras de telecomunicações faturaram mais de 11 milhões de euros por serviços de internet que nunca foram usados pelos alunos e que há computadores a mais e mal acondicionados nas escolas; em 2022 houve 25 ciberataques graves em Portugal; a Câmara Municipal de Lisboa vai iniciar este ano obras em onze bairros municipais, com um orçamento global de 23 milhões de euros.
O ARCO DA VELHA - Por mais estranho que pareça, foi a Secretária Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, Graça Mira Gomes, quem deu a polémica e eventualmente ilegal ordem ao SIS para recuperar o computador do adjunto demitido por Galamba.
DESENHOS FANTÁSTICOS - O destaque desta semana vai para a exposição “Terra - ou os quarenta e nove degraus”, na Fundação Carmona e Costa até 17 de Junho. Nesta exposição, que o artista dedicou a João Esteves de Oliveira, um galerista e colecionador recentemente falecido, estão mais de cem obras desenvolvidas ao longo de três décadas e que mostram várias facetas do trabalho de Miguel Branco. Logo à entrada está a série “Bibliotecas”, um trabalho de desenho, de enorme minúcia e impacto, que mostra a sua interpretação de um mundo em que vivemos, onde a escassez de recursos se acentua. Outra das séries expostas é “Atlas”, que agrupa quarenta desenhos de borboletas azuis pintadas sobre imagens que vão da guerra na Europa a imagens religiosas, e em que os corpos das borboletas são o ecrã de cenas do mundo contemporâneo. Finalmente a série de pinturas muito pequenas de submarinos nucleares é uma referência clara ao que se passa agora na Europa. Estão também expostas pequenas esculturas da série “Naked Lunch” e a curadoria é de Bernardo Pinto de Almeida. Na Fundação Gulbenkian duas exposições históricas - uma, “Vamos Correr Riscos”, sobre a importância da actividade e trabalho de Madalena de Azeredo Perdigão e outra, “Histórias de Uma Colecção”, que apresenta obras da Colecção do Centro de Arte Moderna, CAM, criado precisamente por iniciativa de Madalena de Azeredo Perdigão há 40 anos, e que integra, além de obras marcantes da colecção, outras menos vistas e algumas nunca antes apresentadas. Finalmente destaque para "Territórios Invisíveis" , a última exposição de obras de Manuel Baptista, recentemente falecido de forma súbita, que ele acompanhou desde a sua concepção até ao resultado final e que pode ser visitada até 31 de maio, no Centro de Arte Contemporânea da Fortaleza de Sagres.
O ESPÍRITO DA LIBERDADE - Há muita gente que pensa que a Liberdade é um bem adquirido e irreversível. Não é o caso, a Liberdade é algo de frágil, muitas vezes ameaçada, frequentemente espezinhada. O novo livro de João Carlos Espada, director e fundador do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, tem por título “Liberdade Como Tradição” e apresenta as reflexões de um conjunto de pensadores políticos euro-atlânticos. João Carlos Espada evoca logo na introdução que uma conversa que teve com Karl Popper desencadeou o estudo e o trabalho que este livro reflecte. Espada recorda que Popper defendia que Churchill tinha salvado a civilização ocidental, que não pode sobreviver sem liberdade. Churchill apercebeu-se, quase isolado, da ameaça simultânea à liberdade representada por Hitler e o comunismo soviético, e foi isso que permitiu que a Europa se salvasse das tiranias. No livro são descritos os percursos e ideias de catorze pensadores destacados, e João Carlos Espada serve-se de conceitos actuais para clarificar o significado de liberal, de conservador e de trabalhista, e faz a defesa, persuasiva e intelectual, da democracia liberal. Compara o pensamento de Popper com o de Raymond Aron, no confronto entre democracia liberal e estado total. Evoca o pensamento de nomes como, Frederich A. Hayek, Leo Strauss, Irving Kristol, Gertrude Himmelfarb, Ralf Dahrendorf, Raymond Plant e Michael. J. Oakeshott. Coloca em confronto o pensamento de James Madison contra Jean Jacques Rousseau em torno de conceitos como o governo limitado e o despotismo em nome do povo. Sobre liberdade e pluralismo revisita o pensamento de Alexis de Tocqueville e de Isaiah Berlin sobre liberdade e pluralismo. Este é um atlas da defesa da Liberdade, de leitura particularmente útil no actual contexto português. A edição é da D. Quixote.
GRAVAÇÕES RARAS - “Blue Room: The 1979 VARA Studio Sessions in Holland”, é um duplo LP e duplo CD que reproduz duas sessões de gravação inéditas de Chet Baker no lendário estúdio Vara, em Hilversum, na Holanda, registadas a 10 de Abril e 9 de Novembro de 1979, ambas para o programa de rádio “Nine O’Clock Jazz”. Na primeira Chet Baker toca com o pianista Phil Markowitz, o contrabaixista Jean-Louis Rassinfosse, e o baterista Charles Rice; na segunda Chet é acompanhado pelo pianista Frans Elsen, o contrabaixista Victor Kaihatu, e o baterista Eric Ineke. Nas remasterizações o efeito estéreo original foi salvaguardado e o duplo disco tem 11 temas. O primeiro disco começa com uma versão muito latina de “Beautiful Black Eyes” e é bem acompanhado por "The Best Thing For You” e um original de Miles Davis, “Down”. A voz rouca de Baker está presente em vários temas, intercalada com as frases dos seu trompete, uma imagem de marca irresistível. No segundo disco estão temas como “Blue Gilles”, “Candy” e “Old Devil Moon”. O disco, quer na versão CD ou LP, pode ser encomendado na Amazon, e é possível também a compra digital no site da editora Jazz Detective. Este disco não está ainda disponível em streaming.
CONCEITOS - Para mim um restaurante é um local onde uma pessoa se senta para comer o que quiser, confortável, onde os empregados sejam eficientes e não servis ou maçadores, a cozinha seja honesta, e os preços não sejam um assalto à mão armada. Este é o único conceito possível para um restaurante. Outros conceitos e disfarces não fazem parte da minha lista de possibilidades. Gosto de escolher, não gosto de levar com menus fixos em cima. Esta semana no incontornável Apuradinho (Rua de Campolide 209) provei os primeiros jaquinzinhos da época, impecavelmente fritos, acompanhados de uma açorda tradicional. É de sítios assim que gosto, onde se pede o que se quer, onde se pode pedir para mudar o acompanhamento e onde tudo corre sobre rodas. Um restaurante deve ser um sítio simpático, não pode ser uma feira de vaidades. Cito mais dois exemplos onde retorno sempre com prazer - o Salsa & Coentros, em Alvalade e o Pap’Açorda, no Mercado da Ribeira. Fujo dos locais da moda, evito visitar os restaurantes que são melhores a enviar press releases do que efectivamente na forma como servem a comida. Estou a desenvolver um tique que é assim: quanto mais falado e modernaço é um restaurante, menos me apetece ir lá.
BOM - Carlos Moedas celebrou a atribuição de 1.086 casas municipais desde que iniciou o seu mandato à frente da autarquia de Lisboa. O presidente da CML diz que quer fazer e não prometer.
MAU - Quase 30% dos agressores em casos de violência doméstica reincidem no crime.
DIXIT - “Como é possível nacionalizar, para privatizar depois, sem qualquer justificação, comprometendo em ambos os casos o erário público? Até onde nos levará esta Comissão Parlamentar de Inquérito (à TAP)?” - Viriato Soromenho Marques.
BACK TO BASICS - “O homem é um animal supostamente inteligente que frequentemente se comporta como um imbecil” - Albert Schweitzer.
O VÍCIO DO PODER - Pippa Crerar, editora de política do The Guardian, escreveu esta semana umas linhas que encaixam, com devidas adaptações, ao que se passa em Portugal. Diz ela: “Há uma sensação de fim de vida nesta administração. Os Conservadores estão no poder há 13 anos, sempre as mesmas pessoas que já conhecemos, e nota-se que existe alguma coisa sobre a proximidade ao poder que lhes traz como que um sentimento de posse e impunidade. As pessoas têm atitudes, tomam riscos e comportam-se de uma forma que não fariam noutras circunstâncias”. Se retirarem a palavra “Conservadores”, o que ela escreveu no Reino Unido, aplica-se a Portugal e ao governo. Arrisco-me a dizer que com a falta de espírito reformista até se pode dizer que este Governo de maioria de Costa é de facto um governo ultra-conservador. Convém notar que um dos exemplos maiores de alguém que já anda por aí há muito tempo é Santos Silva, um ministro para todo o serviço, fiel a Sócrates e a Costa, putativo candidato à Presidência da República, actual Presidente da Assembleia da República e grande fomentador da popularidade do Chega. Nestes últimos dias houve um episódio que mostrou o seu verdadeiro carácter. Tal como quando tinha a tutela da comunicação social, no primeiro governo de Sócrates, que integrou, como ministro dos assuntos parlamentares, Santos Silva mostrou a sua queda para manipular a informação. O seu desagrado por ser filmado em directo numa conversa promíscua nas instalações do órgão de soberania a que preside mostra isso mesmo - e as suas declarações posteriores, a ameaçar quem teve a ousadia de filmar o que se passava revelam o pior deste personagem. O Sr. Silva tem duas características: é perigoso e caricato. E é um retrato do que é o poder do PS hoje em dia, retrato que todos os dias nos surpreende mais e mais.
SEMANADA - António Costa decidiu abrir uma crise política e entrar em conflito com o Presidente da República; o presidente do PS, Carlos César, disse que o Governo necessita de “algum refrescamento” e dois ex-ministros socialistas, Alexandra Leitão e João Soares, defenderam também uma remodelação do executivo; a reestruturação da TAP já custou ao Estado 3200 milhões de euros e as estimativas mais altas para o valor de venda da companhia indicam 1600 milhões de euros, ou seja metade do que já lá foi colocado pelos contribuintes só nos anos mais recentes; o juiz de instrução Ivo Rosa deixou na gaveta, durante mais de um ano, um recurso de José Sócrates, o que contribuiu ainda mais para paralisar a Operação Marquês, provocando um atraso que se arrisca a estar na origem de mais precrições de crimes; nos processos contra Sócrates os crimes de corrupção, branqueamento de capitais e falsificação de documentos estão praticamente todos prescritos; um quarto das instituições de ensino superior não têm canais de denuncia de assédio; a dívida pública cresce 74 milhões de euros por dia desde o início de Janeiro; Fernando Medina, escondeu durante cinco meses um parecer da Comissão de Auditoria e Controlo do Plano de Recuperação e Resiliência onde eram referidas falhas do sistema de controlo destes fundos; que documentos tão comprometedores para o Governo teria o computador do ex-assessor de Galamba?
O ARCO DA VELHA - O Primeiro Ministro quis transformar uma crise política num caso de polícia, mas no seu minucioso relato esqueceu-se da parte em que João Galamba organizou uma reunião para instruir a CEO da TAP a responder na Comissão de Inquérito parlamentar de acordo com os interesses do PS, e que foi, afinal, a origem de tudo o que se passou depois.
ARTE ATLÂNTICA - No meio do Oceano Atlântico existe uma galeria de arte contemporânea que é um caso singular. Falo da Galeria Fonseca Macedo que constrói uma programação que permite levar aos Açores artistas plásticos de outras paragens e mostrar também por vezes alguns artistas locais. É uma galeria presente em feiras nacionais e internacionais e a sua dinamizadora e directora, Fátima Mota, é uma pessoa fascinada pela arte e a sua divulgação. Vem tudo isto a propósito da exposição de Patrícia Garrido, “Família Feliz e Mais Umas Coisas”, ali inaugurada há dias. A exposição integra três dezenas de obras, óleos sobre tela e sobre papel, assim como lápis e aguarela sobre papel. Num recente catálogo sobre a obra da artista, João Pinharanda escreve que “na pintura Patrícia Garrido monta sem ambiguidades, através da densidade material das tintas e do seu obscurecimento cromático, o cenário de uma inquietação” (na imagem). Até 30 de Junho na Galeria Fonseca Macedo, Rua Dr. Guilherme Poças Falcão 23, Ponta Delgada. Destaque também para a apresentação em Lisboa, na Galeria Quadrum, da exposição de fotografia “Faro-Oeste”, de Pauliana Valente Pimentel. O trabalho que deu origem à exposição foi iniciado em 2019, quando a fotógrafa começou a retratar algumas famílias da comunidade cigana algarvia, sobretudo na zona de Castro Marim e Vila Real de Santo António, alargando depois para as zonas de Faro, Loulé e Boliqueime. Segundo a autora “este trabalho pretende mostrar o dia a dia destas famílias, dando ênfase às suas tradições, com o intuito de combater preconceitos e estereótipos racistas e xenófobos de que são constantemente alvo”. A exposição foi inicialmente mostrada no Museu Municipal de Faro e no Centro Cultural de Lagos e ficará na Quadrum, junto ao Palácio dos Coruchéus, em Alvalade, até 25 de Junho, numa montagem que enquadra bem o espírito da exposição.
O BIBLIOTECÁRIO POLÍCIA - Confesso o meu fascínio pela escrita de Javier Cercas, pela maneira como constrói os seus romances policiais, sobretudo a série “Terra Alta”. O protagonista da escrita de Cercas é Melchor Marin, um polícia que virou bibliotecário depois de uma série de percalços e dramas pessoais, contados nos dois primeiros livros da série. Melchor é desde sempre um leitor compulsivo e o seu livro de referência é “Os Miseráveis”, de Victor Hugo. “Terra Alta” e “Independência” são os dois títulos que antecederam este “O Castelo do Barba Azul”, o livro que encerra a trilogia. Tudo começa quando Melchor é forçado a sair da sua pacata vida de bibliotecário na sequência do desaparecimento da filha. A investigação que desencadeia leva-o a um círculo de compadrios e corrupções, que protegem um milionário que construiu nas Canárias uma mansão onde em simultâneo pratica a pedofilia e alimenta o vício de outros com os mesmos gostos, gente influente, que filma nas festas que dá com a participação de menores, imagens que depois usa para ter na mão políticos, financeiros, polícias e juízes. Depois de localizar e resgatar a filha, Melchor inicia uma cruzada para destruir o mandante de todos estes crimes, recuperar as provas e desmascará-lo publicamente. Para isso usa os seus conhecimentos do tempo em que serviu na polícia e recruta uma equipa que o vai ajudar. A descrição é arrebatadora e o livro termina da mais inesperada de todas as formas - mas não vos vou contar para não fazer spoiler. A edição é da Porto Editora.
ÊXITOS AO PIANO - Aos 19 anos ter um disco intitulado “Greatest Hits” é uma provocação bem-vinda. O autor da façanha é Máximo, aliás Francisco Máximo, um coimbrão, pianista. Depois de ter estudado no Conservatório Nacional, actualmente estuda composição de jazz em Roterdão. O álbum “Greatest Hits”, agora editado, inclui 12 composições que Máximo fez nos últimos dez anos, portanto desde os 9 anos. Como principais referências Máximo aponta músicos como Bill Evans, Herbie Hancock, Ryuichi Sakamoto, Chilly Gonzales, Debussy, Ravel e Erik Satie. De entre os trabalhos mais recentes de Máximo estão composições feitas para acompanhar trabalhos do artista plástico Paulo Lisboa, para a curta metragem “Agosto de 74”, uma colaboração com Joana Vasconcelos por ocasião da Arco Lisboa de 2019 e uma improvisação na inauguração de uma exposição do fotógrafo André Cepeda, que aliás é o autor da foto de capa do álbum. ”Capita” é o título da canção que serviu de base para um vídeo realizado por João Pedro Vale e Nuno Alexandre. Como se vê o universo das artes plásticas é um dos terrenos inspiradores de Máximo e a sua música está algures entre o jazz e a composição contemporânea. O disco inclui os vários singles que Máximo editou e pode ser ouvido nas plataformas de streaming.
NA SALA DO RESTAURANTE - Na semana passada o meu melhor petisco foi um filme. Melhor dizendo, dois filmes, com a mesma história, contada de forma diferente. “Mal Viver” mostra o que se passou, “Viver Mal”, mostra como lá se chegou. O exercício, cheio de imaginação, é um exemplo da capacidade criativa e técnica do seu realizador, João Canijo. O realizador estreou-se em 1988 com o primeiro filme que dirigiu, “Três Menos Eu”, mas antes disso foi assistente de realização de nomes como Manoel de Oliveira,Wim Wenders, Paulo Rocha ou Werner Schroeter. O trabalho colocado nos dois filmes, verso e reverso da mesma moeda, é impressionante . Se “Mal Viver” é uma narrativa dramática da tensão que pode nascer nos amores e desamores, nalguns momentos a fazer recordar a forma de construir uma história de Manoel de Oliveira, “Viver Mal” é a desconstrução da ideia normal de guião, de captação de som, de edição. Arrisco-me a dizer que a segunda parte é a mais fascinante do ponto de vista cinematográfico. O trabalho de Canijo é suportado pelo leque de actores que mais uma vez o acompanham - Rita Blanco, Anabela Moreira, Cleia Almeida (fabulosa), Leonor Silveira e Beatriz Batarda. É na sala de restaurante do Hotel onde tudo se passa que a segunda parte do filme ganha uma dimensão especial, com conversas cruzadas, a indiferença dos comensais, perdidos nos seus conflitos, face às indicações sobre a comida ou os vinhos que lhes apresentam. Fascinante.
BOM - O prémio melhor título da semana vai para Ana Sá Lopes, a propósito do estado da governação: “Viva o general Tapioca! Abaixo o general Alcazar!”
MAU - Na reunião secreta entre o PS e a ex-CEO da TAP, em janeiro, patrocinada por João Galamba, foram combinadas as perguntas que o deputado Carlos Pereira devia fazer e as respostas que Christine Ourmières-Widener devia dar na audição no Parlamento.
DIXIT - “Aos democratas, não lhes compete prender, banir ou mandar calar os populistas. Aos democratas compete-lhes fazer melhor e com mais competência do que hoje. E de modo a que a população sinta e perceba”- António Barreto.
BACK TO BASICS - “De entre aqueles que nada dizem muito poucos são os que ficam silenciosos” - Thomas Neill.
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