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FIM DE TEMPORADA - Esta semana nasceu um novo folhetim: um Conselho de Estado em episódios. No primeiro episódio um dos protagonistas, António Costa, chegou tarde e já tinha avisado que teria de sair cedo, já que teria de apanhar o avião para ir ver um jogo de futebol à Nova Zelândia, no caso a estreia da Selecção portuguesa de futebol feminino no Campeonato do Mundo. Simpatizo com a ideia de o Governo acompanhar as selecções nacionais - mas não bastaria o Secretário de Estado da Juventude e Desportos para representar o país? Fica a parecer que o Primeiro-Ministro aproveitou o pretexto para não ter que dar a atenção devida ao Conselho de Estado, onde várias vozes iriam criticar a acção do seu Governo. O resultado é que face à pressa de António Costa, Marcelo Rebello de Sousa adiou a sua própria intervenção, para a qual, rezam as notícias entretanto surgidas, desejava uma resposta desenvolvida de António Costa e agendou novo episódio do Conselho de Estado para Setembro, colocando em banho maria um debate sobre o estado da nação mais sério, e menos demagógico, do que aquele que Costa protagonizou no Parlamento, perante a fraqueza das oposições. Costa, já se sabe, é bom orador, bom tribuno, e não hesita em torcer a verdade e os factos por forma a que tudo pareça estar pelo melhor. Mas arranjou forma de se escapulir quando tinha pela frente uma mesa onde estavam analistas e políticos com experiência. O Conselho de Estado tinha sido marcado pelo Presidente da República numa data posterior ao debate sobre o Estado da Nação, não certamente por acaso. O súbito interesse de António Costa pelo futebol feminino veio baralhar as coisas e esvaziar o que Marcelo pretendia. Um artista.
SEMANADA - Rui Rio disse que não abriu a porta à PJ porque dorme com tampões nos ouvidos e não ouviu nada; a filha diz que ouviu, mas não abriu a porta porque não permite a entrada a estranhos; as subvenções aos grupos parlamentares aumentaram 16% nas últimas cinco legislaturas; um sondagem do DN indica que 54% dos jovens portugueses admite sair do país num futuro próximo por falta de perspectivas de trabalho, a maioria não participa em actividades de partidos ou sindicatos e não faz voluntariado; a Presidência da República ainda não criou um inventário único de bens como recomendado pelo tribunal de contas desde 2019; 255 pessoas fizeram cirurgias para mudança de sexo nos últimos cinco anos e em Coimbra a lista de espera para essa intervenção ultrapassa 18 meses; 36% do solo em Portugal continental, cerca de três milhões de hectares, é ocupado por floresta; o PIB per capita de Portugal é o oitavo mais baixo da Europa e já está atrás da Lituânia, Estónia e Roménia; O filme “Barbie”, de Greta Gerwig, foi o mais visto em Portugal no fim de semana de estreia, com 189.709 espectadores e mais de 1,1 milhões de euros de bilheteira, revelou o Instituto do Cinema e Audiovisual; o endividamento de Portugal atingiu o valor mais alto de sempre, 804,4 mil milhões de euros o que significa que cada português deve em média mais de 77 mil euros; em junho a procura por Certificados de Aforro caíu 70% depois da diminuição das taxas de juros; em 2022, no hospital de S. José, foram tratados 995 feridos em acidentes com trotinetas.
O ARCO DA VELHA - As contas dos partidos e dos grupos parlamentares não são fiscalizadas desde 2018.
VISÕES DE FOTOGRAFIA - Até Janeiro, no Museu de Arte Contemporânea de Elvas, MACE, está patente a segunda parte de “Contravisões”, a mostra das obras de fotografia na colecção de António Cachola: A exposição tem curadoria de Sérgio Mah, que, num texto sobre a exposição, assinala a importância do núcleo de fotografia da colecção, “que cobre diversos géneros e tipologias, e onde coexistem predisposições que apontam para um campo mais estritamente fotográfico com inúmeros exemplos de articulação e de hibridação da fotografia com outras artes visuais”. Ao todo, nas duas partes de “Contravisões” estão representados cerca de 50 artistas. Nesta segunda parte existem obras de, entre outros, André Gomes, André Romão, António Júlio Duarte, Augusto Alves da Silva, Cristina Ataíde, Edgar Martins, Gabriel Abrantes, Henrique Pavão, Igor Jesus, João Tabarra, Jorge Molder, Julião Sarmento, Luís Palma, Manuel Botelho, Paulo Catrica, Rita GT, Rui Toscano e Mónica De Miranda, que aliás é a autora da imagem aqui reproduzida, “Twins”, da série Cinema Karl Marx, 2017. Entretanto a primeira parte de “Contravisões”, pode ser vista até 29 de Setembro no átrio principal do edifício sede da Caixa Geral de Depósitos em Lisboa e inclui obras de André Cepeda, Nuno Cera, João Paulo Serafim, Daniel Blaufuks, Patrícia Garrido, José Maçãs de Carvalho ou Salomé Lamas entre outros. Ainda em Elvas, na Cisterna, e no âmbito das actividades do MACE, podem ser vistas até 30 de Setembro duas obras de Rui Sanches, uma de 2016 e outra de 2018. Permanecendo no Alentejo, em Évora, na Fundação Eugénio de Almeida pode ver até final de Dezembro, fotografias e videos de Paulo Catrica, Rita Barros e Virgílio Ferreira na exposição “No Tempo dos Dias Lentos”.
RIVALIDADES PERIGOSAS - Bem sei que não está muito calor ainda, mas venho recomendar uma leitura gelada. Melhor dizendo, o relato de uma disputa passada numa região rural da Suécia, entre duas aldeias separadas por uma floresta e por uma rivalidade feroz entre as respectivas equipas de hóquei no gelo, Björnstad e Hed. “Nós Contra os Outros” é uma história que envolve as dificuldades das regiões do interior, a ameaça de encerramento de uma fábrica com as consequentes repercussões na economia local, as ligações que se tecem entre a política, o desporto e as empresas. Mas também a forma como as populações reagem a quem foge à norma, como reagem a que uma equipa de hóquei no gelo masculina seja treinada por uma mulher, o que acontece quando descobrem que o capitão da equipa e um dos seus melhores jogadores é homossexual. Pelo meio há ameaças, agressões, mortes, sempre com o hóquei no gelo como pano de fundo. Há frases ao longo do livro que são lições de vida: “o poder é a capacidade de levar os outros a fazer aquilo que queremos”; ou, “ser líder é tomar decisões difíceis, desagradáveis e impopulares”; e também: “o problema, tanto com as pessoas boas como as más, é que a maior parte de nós é as duas coisas ao mesmo tempo”. E esta, na última página do livro e que resume o que é o hóquei no gelo: “ é um jogo simples se tirarmos todas as porcarias que o rodeiam e guardarmos apenas aquilo que nos faz amá-lo ao princípio. Toda a gente tem um stick. Duas balizas. Duas equipas. Nós contra os outros”. Fredrik Beckman, o autor, escreveu já sete romances, duas novelas e um livro de não ficção. É o autor de “Um Homem Chamado Ove”, que já elogiei nestas páginas e ao todo as suas obras já venderam mais de 19 milhões de exemplares, traduzidos em 46 línguas. “Nós Contra os Outros” foi publicado pela Porto Editora.
NINA AO VIVO - Sabem quem é Eunice Kathleen Waymon? Este nome não vos dirá nada, mas se souberem que se tornou conhecida sob o nome artístico de Nina Simone o caso mudará de figura. Nascida em 1933, tornou-se uma das grandes cantoras da América e o seu repertório passeou-se entre os blues e o jazz, com incursões na soul e no gospel. Pianista, compositora, cantora, o nome Simone veio da sua admiração pela actriz francesa Simone Signoret. O seu primeiro álbum data de 1958, “Little Girl Blue” e o derradeiro “A Single Blue”, de 1993. Morreu em 2003 e, de então para cá, têm sido reeditados vários dos seus êxitos. Ao todo gravou quatro dezenas de álbuns e deu material para dezenas de colectâneas. Interpretou temas seus e de outros compositores. Pelo meio foram também descobertas várias das suas gravações ao vivo, a mais recente das quais, editada pela primeira vez, é um registo inédito de uma actuação no Festival de Newport em Julho de 1966, um momento alto da sua carreira. “You’ve Got To Learn - Live” é o nome desse disco, que inclui seis temas gravados ao vivo nessa ocasião: “You’ve Got To Learn”, “I Love You Porgy”, “Blues For Mama”, “Be My Husband”, “Mississippi Goddam” e “Music For Lovers”. O organizador do festival de Newport, George Wein, doou as fitas da gravação do concerto de Nina Simone à Library Of Congress dos Estados Unidos, onde estiveram esquecidas até há pouco tempo, tendo sido descobertas por uma das pessoas que se têm estudado a carreira de Nina Simone, Nadine Cohodas. Nestas gravações, com boa qualidade, Nina Simone é acompanhada pelo guitarrista Rudy Stevenson, o baixista Lisle Atkinson e o baterista Bobby Hamilton. O disco está disponível nas plataformas de streaming e constitui uma homenagem editada este ano, quando Nina Simone completaria 90 anos.
PROVAR - Em Alfarim, quase a chegar a Aldeia do Meco, na Avenida José Carlos Ezequiel, junto ao largo da Igreja, encontra-se uma bela esplanada, colorida e festiva que dá pelo nome de “Muito Espalhafato”. Trata-se de uma petiscaria onde também se pode agora pedir algo mais substancial que as tábuas de queijo e enchidos que têm feito a fama da casa. No comando das operações está um casal que é uma garantia de hospitalidade: a Lai e o Francisco Completo. Antes de entrar nas comidas deixem-me dizer que para além da esplanada o interior oferece um mundo de artigos de decoração, móveis e até roupa. Nas refeições têm feito sucesso as bochechas de porco preto, tenríssimas, e o pica pau de lombo. Por vezes há ostras, por vezes há peixinhos da horta, quase sempre a entrada pode ser um cogumelo portobello de bom porte recheado de alheira e doce de abóbora ou um carpaccio temperado com maracujá. Enquanto a comida chega há pão da região com um azeite delicado de Proença-A-Nova, de onde vem também, na época apropriada, um bucho de alta qualidade. Numa recente visita a mesa experimentou, além das entradas, um tártaro de atum fresco envolvido em abacate e um vol au vent de pato confitado, acompanhado de endívia aos pedaços. Para o fim veio um arroz doce de tangerina e uma boa sobremesa de chocolate. Quanto ao vinho, deixem a escolha na mão do Francisco que as suas recomendações são boas e honestas no preço - no caso foi um branco Sem Segredos, do Douro. Reservas e Informações, ligue 962 902 234
DIXIT - “Saíram 13, por mim tinham saído mais” - Carlos César, Presidente do PS, sobre o número de membros do Governo que já se demitiram.
BACK TO BASICS - “O mistério de qualquer Governo não é saber como funciona e sim como se pode parar” - P. J. O’Rourke
A NUDEZ DO REI - Este rectângulo à beira mar plantado é um emaranhado de casos insólitos, onde a realidade ultrapassa a ficção e a responsabilidade e a coerência são inexistências. Confrontado com indícios de corrupção no Ministério da Defesa, António Costa disse que essa não era a preocupação principal das pessoas. Seguiu-se uma pequena tempestade, obviamente urdida na “bolha político-mediática”, que hoje em dia é a mãe de todos os males: curiosa situação esta em que os factos não são assumidos como a causa dos problemas, mas as reacções a esses factos são consideradas malfeitorias. A propósito ocorreu-me isto: a política só é lugar de crime quando quem a pratica comete crimes, mas não vejo ninguém na direcção dos partidos reconhecer esta evidência. O ladino Ministro da Cultura, Adão e Silva, agora investido em amplificador das palavras de Costa, empinou-se a criticar a bolha e rezou a lengalenga dos casos e casinhos, jurando sempre as boas intenções do Governo. E António Costa, tal vestal a caminhar para o sacrifício de algum cargo internacional, declarou-se incompreendido no que queria ter dito. Sucessivamente incompreendido, digo eu, já que, tantas vezes, o que diz não corresponde ao que se passa - ou que ele imagina que pensou. Mas o insólito não é acolhido só no PS. Do lado do PSD constata-se, por escutas gravadas numa investigação policial, que um deputado, no exercício de anteriores funções de autarca, estabelecia o módico valor de 25 mil euros por cada acto de favorecimento que cometesse. E o facilitador lá tem estado ainda sentado no Parlamento, dois meses depois de tudo isto se saber, com o líder do PSD a confessar-se impotente para resolver a situação. Cereja no topo do bolo: a corte política de múltiplos sectores do regime uniu-se em torno da justeza de utilização de verbas parlamentares para desígnios partidários e insurgiu-se contra quem acha estranha a coisa, que, sendo prática corrente, não será legal. Como escreveu Susana Peralta, a propósito de Rui Rio, "para uma pessoa que nos prometeu um banho de ética, é curioso que não perceba que uma prática ser comum não a torna aceitável; pelo contrário: só piora a gravidade dos factos.” Não é o rei que vai nu, é o regime.
SEMANADA - O Conselho de Finanças Públicas alertou para o facto de a execução do PRR estar muito abaixo do previsto e em 2022 o Orçamento de Estado gastou apenas um quarto das verbas da bazuca que estavam inscritas; o secretário geral da CAP alertou para o facto de o PRR não contemplar investimentos na área da eficiência hídrica, nomeadamente em relação à agricultura; as obras na linha circular do Metro de Lisboa têm um atraso de 30 meses em relação ao previsto, confirmou o presidente da empresa; as exportações portuguesas tiveram um recuo de 6,9% em Maio, em comparação com o mesmo mês do ano anterior; o crescimento de vendas da Porsche em Portugal no 1º semestre foi de 34,1%, número que compara com os 15% de aumento que a marca registou a nível global; em 2022 foram feitas 168.000 transações imobiliárias, um novo recorde; os pedidos de despejo aumentaram mais de 20% no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado; há dez anos que a média a matemática do exame do 9º ano não era tão baixa e este ano quase 60% dos alunos não chegaram à nota positiva; mais de 40% dos atropelamentos registados em Portugal ocorrem em passadeiras e Portugal é o país da Europa com mais mortes de peões; os bancos e financeiras emprestaram quase 3,2 mil milhões de euros com a finalidade de consumo nos cinco primeiros meses do ano, o que representa o valor mais elevado desde 2013; 3400 professores aposentaram-se no ano lectivo passado; no primeiro semestre de 2023 em Portugal, verificou-se um aumento de 6% no número de nascimentos, em comparação com o período homólogo.
O ARCO DA VELHA - Notícias da justiça: um processo judicial considerado simples arrastou-se durante 11 anos, arruinou uma firma familiar do Cartaxo e provocou três dezenas de despedimentos.
PINTURA E FOTOGRAFIA - Na Galeria Cristina Guerra Contemporary Art pode ser vista até 2 de Setembro uma das mais interessantes exposições patentes em Lisboa. Trata-se de “Neo-Pós-Neo”, de Mariana Gomes, um conjunto de nove obras de pintura, inesperadas, marcantes, com cores vivas, formas soltas, como se cada uma tivesse vida própria. E, no entanto, elas estão no espaço de uma tela, inequivocamente fruto de um trabalho diligente e criativo de pintura, que não é frequente encontrar hoje em dia. Passando da pintura para a fotografia, há várias sugestões. Começo por aquela que mais me marcou - “Volterra, Portraits of Local People”, de Eurico Lino do Vale, uma série realizada em 1997 na Toscânia e que agora é exposta, até 16 de Setembro, pela primeira vez na Galeria Belard, um espaço recente localizado na Rua Rodrigo da Fonseca 103. Como escreveu João Pinharanda, “as fotografias de Eurico Lino do Vale ocupam-se de personagens, e não de cenários” e o resultado é marcante. A seguir sugiro “Interior”, de Ricardo Lopes, um ensaio fotográfico sobre o despovoamento da Região Centro, uma visão da ruralidade portuguesa. O trabalho recebeu a Bolsa Estação Imagem em 2020, além de ter sido distinguido internacionalmente no LensCulture Portrait Awards. Está na Casa da Imprensa até 28 de Julho (Rua da Horta Seca 20). “Fading”, de Luís Campos, é uma exposição sobre a memória e o desaparecimento. Trata-se de um conjunto de fotografias de animais selvagens no seu habitat natural, tiradas ao longo de 12 anos em 14 países. São fotografias a preto e branco, com uma elipse preta esbatida à volta de uma imagem central, que alude a um processo cinematográfico de desaparecimento da imagem. Até 16 de setembro na Galeria Carlos Carvalho (R. Joly Braga Santos, Lote F).
LER PORTUGUÊS - Quem gosta de livros gostará desta síntese das principais obras e autores desde o início da escrita em língua portuguesa até aos anos 70 do século XX. Originalmente escrito em 1971, “Literatura Portuguesa - Das Cantigas de Amigo às Vanguardas do Século XX” é um ensaio escrito por Jorge de Sena em 1971 para a 15ª edição da Enciclopédia Britânica. O texto original é agora publicado em edição autónoma pela Guerra & Paz e o editor considera-a “a mais justa, a mais inteligente, a mais exaltante história já escrita da nossa literatura”. São cerca de cem páginas que deveriam ser matéria de conhecimento geral para todos. São de Jorge de Sena estas palavras: “O século XVI, durante o qual Portugal atingiu o seu máximo em poder imperial, foi uma Idade de Ouro na Literatura Portuguesa, e muitos autores e obras foram na altura importantes no desenvolvimento das literaturas ocidentais. Mas desde cerca de 1200 até 1350 já Portugal tinha criado um dos mais importantes corpus de poesia lírica e satírica da Idade Média numa língua que se tornou quase universalmente aceite na Península Ibérica como o veículo literário das composições líricas de quase três décadas”. Na parte final do ensaio surgem nomes como Natália Correia, David Mourão-Ferreira, Herberto Hélder e Luis de Sttau Monteiro. O livro aborda ainda, num capítulo separado, outra literatura escrita em português - a brasileira, lembrando a importância de nomes como Mário de Andrade, Gilberto Freyre, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Sérgio Buarque de Holanda, Erico Veríssimo, Vinicius de Moraes e Jorge Amado.
MÚSICA MELOSA - Jaime Fernandes, um dos grandes radialistas portugueses, tinha em tempos um programa dedicado à country music e foi aí que aprendi a gostar deste género musical. Lembrei-me disto ao ouvir “One Thing At A Time”, o terceiro álbum de Morgan Wallen, um músico country que está a ser um caso de sucesso. “Last Night”, um dos temas deste disco, ocupou o primeiro lugar do Hot 100 chart do Billboard durante 13 semanas, algo que é uma raridade - desde que a tabela existe, apenas 15 canções conseguiram essa proeza. O álbum, pelo seu lado, esteve durante 15 semanas à frente da tabela de vendas de discos da revista Billboard, desde que foi editado em Março passado. Wallen mostra que existe um ressurgimento na música country, depois de um progressivo apagamento ao longo dos últimos anos. O consumo de música country nas plataformas de streaming cresceu 20 por cento desde o início deste ano. O álbum de Wallen tem 36 canções - o seu disco anterior tinha 30. Os temas das canções são recorrentes: engates, copos, noitadas, paixonetas variadas. O novo disco tem duas horas disto, canções sentimentalonas, alegres, de festa, choramingas, de abandono, doridas, de ressaca. Disponível nas plataformas de streaming.
PETISCO - Gostam de comer moluscos cefalópodes cozidos com ervas aromáticas? Não torçam o nariz - são apenas caracóis, biologicamente ainda aparentados com as lesmas. As suas conchas, que atacamos de palito em punho, são o seu esqueleto externo. Se olharem para a cabeça dos caracóis quando os estão a comer verão os olhos na ponta dos corninhos e saibam que ao lado da boca fica o aparelho genital - atenção que são hermafroditas e para fecundar formam casais e copulam em média 4 vezes por ano num acto que pode durar até dez horas. Não comecem agora com más ideias e limitem-se à iguaria que, nesta altura do ano, é um pratinho de caracóis cozidos e temperados como deve ser. A maioria destes petiscos que comemos ao longo do verão são oriundos de Marrocos. A boa maneira de os cozinhar, depois de muito bem lavados durante uns 20 minutos, é colocá-los numa panela e tapá-los com água. Devem cozer em lume brando por uns dez minutos. Ao fim deste tempo pode adicionar sal, azeite, dentes de alho esmagados, cebola picada, folha de louro, orégãos e, em querendo, piripiri. Suba o lume e quando levantar fervura deixe estar cinco minutos e depois desligue e deixe arrefecer uns 15 minutos para que ganhem bem o gosto do tempero. Em Lisboa, para além do Menino Júlio dos Caracóis, uma casa de referência, sportinguista, é o Lutador, perto de Alcântara, Rua da Junqueira nº1, com uma bela esplanada. Ou então o Pomar de Alvalade, na rua Marquesa de Alorna. Acompanhamento? Uma imperial bem tirada. Às vezes remata-se com um prego no pão. Aqui está a happy hour lisboeta de verão por excelência.
DIXIT - “Há problemas que a democracia não pode e não sabe resolver. Um deles é a corrupção partidária. Outro é a crise da justiça” - António Barreto.
BACK TO BASICS - “Numa altura em que a desilusão prolifera, dizer a verdade é um acto revolucionário” - George Orwell
EQUÍVOCOS DEMOCRÁTICOS - A autora do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, a deputada do PS Ana Paula Bernardo, é uma séria candidata ao prémio de ficção do ano, uma especialista em não contar o que se passou, em não descrever aquilo a que assistiu, em ocultar factos e manipulá-los. O mais chocante é que a senhora não teve hesitações em alterar a realidade e criar a fantasia que mais lhe interessava para agradar aos seus superiores. A sua atitude é, além do mais, um insulto a todos quantos seguiram as audiências daquela Comissão Parlamentar e sabem o que de facto se passou. E é um insulto aos deputados que na Comissão trabalharam para esclarecer as pouco edificantes cenas recentes que cresceram à volta da Tap, de Pedro Nuno Santos, de Alexandra Reis, de Fernando Medina e de João Galamba. Até do próprio PS vieram protestos pela forma como o relatório está escrito. Este é mais um daqueles casos em que se percebe o perigo manifesto da maioria absoluta quando mal utilizada. Mas eis que, face aos protestos vindos de membros de todos os partidos, sem excepção, apareceu o ex comentador desportivo e propagandista político do PS, actualmente a desempenhar o papel de Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, a acusar os deputados daquela Comissão de serem eles os protagonistas de um filme de fraca categoria. Perante a reacção de figuras do PS, como o Presidente da Comissão, António Lacerda Sales, o dito comentador desencadeou nova série de ataques tornando-se assim ele próprio o protagonista de um reality show que acusou outros de fazerem. Como disse um deputado do PS, Adão e Silva desempenha agora o papel que Santos Silva teve durante uns anos e que agora já não pode fazer. Ambos são um equívoco da democracia. Encaixam bem num primeiro-ministro que, perante mais uma demissão do governo, insinuou que para os portugueses a corrupção na política é um tema sem interesse.
SEMANADA - Quase metade dos reclusos em Portugal estão em cadeias sobrelotadas; os turistas vindos dos EUA representam 42% do aumento de turistas entre Janeiro e Maio; este ano o sector do Turismo poderá contribuir com 16,8% do PIB, representando 40,4 mil milhões de euros; em metade dos dias do primeiro semestre deste ano houve greve da CP; de janeiro a maio foram comunicados 754 pré-avisos de greve no país, o equivalente a 70% do total de greves do ano passado; a taxa de juro média de novos empréstimos à habitação alcançou 4%, o maior valor desde 2012; em 2022 foram criadas em Portugal 3080 startups, mais do dobro face a 2013; dos 3.940 incêndios rurais registados entre Janeiro e Junho, apenas 1% se deveram a causas naturais; em 2022 foram enviados a partir de Portugal 7400 milhões de euros para paraísos fiscais, o valor mais alto em quatro anos; há 7802 pedidos de vistos Gold à espera de aprovação; o ministro Galamba desclassificou 101 dos 105 documentos que há semanas atrás apontou como segredos de Estado, dizendo que o seu conteúdo não justifica que assim sejam considerados; o investimento publicitário em Portugal teve um aumento de 8% entre Janeiro e Maio, digital e publicidade exterior foram as áreas com maior subida e televisão generalista e rádio as que mais desceram; nas últimas duas décadas e meia, Portugal foi dos países da União Europeia que mais aumentaram as taxas máximas do imposto sobre o rendimento; a Iniciativa Liberal vai apresentar no Parlamento uma proposta de alteração à Lei Eleitoral, que cria um círculo de compensação, destinado a minorar os efeitos dos quase 700 mil votos desperdiçados nas mais recentes eleições; segundo o INE um quarto da população portuguesa tem mais de 65 anos.
O ARCO DA VELHA -A Entidade para a Transparência tomou posse há cinco meses e as instalações que lhe foram atribuídas pelo Governo, em Coimbra, ainda não têm água, luz, internet nem cadeiras.
A HISTÓRIA DE UM GÉNIO MUSICAL - Hoje, em vez de falar de um disco, venho falar de um livro sobre música. Trata-se de “A Vida de Beethoven”, de Romain Rolland. Publicado em 1903, este livro constitui uma belíssima descrição da vida e obra de Beethoven escrita com uma visão crítica dos factos, que enfatiza a empatia e a resistência do biografado. Para Rolland, Beethoven previu o futuro e assombrou o mundo com o seu talento, mas foi também um «homem forte e puro» envolto em sofrimento. Romain Rolland reconstitui os passos de Beethoven a partir de fontes primárias e testemunhos dos amigos do grande compositor, desde a infância na cidade de Bonn, onde nasceu em 1770, infância marcada pela educação severa imposta pelo pai, até à sua morte, em 1827, durante um temporal. Pelo meio estão episódios riquíssimos, descritos por Rolland como se de um romance se tratasse. O ouvido absoluto, que nem mesmo a surdez lhe roubou em definitivo, a morte da mãe, o alcoolismo do pai, a oportunidade que Joseph Haydn lhe deu de estudar em Viena, o processo de ensurdecimento, a composição das míticas nove sinfonias, o desgosto amoroso que Therese Brunswick lhe provocou, a degradação da sua saúde, mas também «do seu aspecto e dos seus modos», e, claro, o momento em que, a 7 de Maio de 1824, em Viena, surpreendendo tudo e todos, conseguiu dirigir a primeira audição da Missa em Ré e da Nona Sinfonia completamente surdo. A obra é complementada por uma selecção da correspondência de Beethoven e por algumas das suas citações mais famosas. Esta nova edição, da Guerra & Paz, tem tradução de Isabel Ferreira da Silva.
IMAGENS DE VIAJANTE - Cristina Ataíde continua a manifestar a sua preocupação com a acção dos homens sobre o planeta e esse é o tema central da exposição/instalação que apresenta, até 17 de Setembro, no Museu de Arte Contemporânea do Chiado, sob o título “A Terra Ainda É Redonda?”. No texto que escreveu para a exposição, o seu curador, David Barro, sublinha que “Cristina Ataíde ausculta as diferentes dimensões da alteração da matéria”, através de “obras de uma marcada presença escultórica”. E prossegue: “ São obras que se baseiam na transformação, capazes de poetisar o tempo e suas circunstâncias, mas também de questionar criticamente o nosso lugar no mundo”. Para o espectador é difícil isolar uma só peça desta exposição, tal a relação que elas naturalmente estabelecem entre si, relação que é potenciada pela montagem, que cria uma narrativa visual ao longo do espaço onde as obras foram colocadas. Existe como que um percurso incontornável, que vai em crescendo, explorando formas diversas mas complementares e que obriga a percorrer tecto, chão e paredes, a visitar recantos e a descobrir perspectivas. São 20 obras, todas datadas de 2023, cada uma com uma origem geográfica diferente que identifica a artista como uma viajante a explorar o seu universo.
O SALTO - Alexandre Melo, que se tornou conhecido como crítico, ensaísta, curador e professor de sociologia da arte e cultura, deu o salto para o outro lado e expôs-se na Galeria Balcony (Rua Coronel Bento Roma 12), onde mostra, até 16 de Setembro, “Alexandria”, um conjunto de quase duas dezenas de obras recentes, todas baseadas na recuperação de memórias vividas, temperadas com uma boa dose de imaginação na sua apresentação. Na realidade, trata-se da reprodução de colagens que fez a partir de recortes de notícias e imagens de jornais e revistas, de programas de espectáculos, de fotogramas de filmes, anúncios e cartazes, folhetos, rótulos, fotografias de alimentos, embalagens e por aí fora. Em muitas há a evocação de locais - os Estados Unidos, Itália, França, Inglaterra e ocasionalmente também Portugal. É a mistura de todas estas imagens - procurando em cada uma das colagens traçar encontros e sublinhar pontos comuns - que torna estas obras uma descoberta. Percorrer estes trabalhos é como folhear um livro de banda desenhada e deixar que a cada nova revisitação da página se descubram novos pormenores - é o que acontece quando se volta a percorrer a exposição. As obras apresentadas são fotografias únicas das colagens originais, impressões produzidas em 2023 de 18 trabalhos, seleccionados de um conjunto de 63, realizados em 2003 e em 2021/2022, “recorrendo a uma colecção de papéis impressos e materiais afins reunidos ao longo das últimas seis décadas”, para usar as palavras do autor. Na realidade não é a primeira vez que Alexandre Melo expõe, teve uma outra apresentação, menor, e no meio de uma mostra de que foi curador, no início deste século, na Galeria Cómicos, de Luís Serpa.
UMA DÉCADA - No Atelier Museu Júlio Pomar abriu na semana passada uma exposição que assinala os 10 anos de existência do espaço e que aproveita a oportunidade para apresentar obras e séries de trabalhos de Pomar que fazem parte do acervo do Museu, e também peças expostas pela primeira vez e que fazem parte do espólio da Fundação Júlio Pomar e dos herdeiros do artista. Destaque ainda para um conjunto de estudos e documentos alusivos às pinturas murais que Júlio Pomar fez no Cinema Batalha, no Porto, e que foram recuperadas no ano passado. Outro núcleo inclui retratos e autorretratos e também um conjunto de retratos do próprio Pomar feitos por amigos como Menez, Luísa Correia Pereira, Eduardo Luís ou Álvaro Siza Vieira. A exposição mostra ainda um bestiário de animais mais ou menos estranhos, um conjunto de quadros que partem de obras literárias que sempre foram uma fonte de trabalho para o artista, e de que dois bons exemplos, agora expostos, são “Cartilha do Marialva” e “Navio Negreiro”. Um outro núcleo mostra a abordagem de Pomar ao erotismo e os curadores, Sara Matos e Pedro Faro, sublinham que”nas obras agora expostas percebe-se como Pomar funde corpos e objetos estranhos, numa experiência absolutamente inovadora no seu percurso, que deixa de lado géneros, posições de força ou a natureza das relações”. Finalmente, em duas vitrines são mostradas fotografias de Pomar em momentos importantes da sua carreira e outros testemunhos, desde os cadernos com desenhos feitos na sua infância até documentos relativos à censura que foi exercida antes de 1974 sobre a sua obra. A exposição, que fica no Atelier Museu até 14 de Janeiro, tem um excelente cartaz, aqui reproduzido, da autoria de Joana Machado.
DIXIT - “ Confirma-se que a função do deputado é a de votar o que o seu grupo entende. E este, aprovar o que pretende o partido. E este último o que deseja o Governo” - António Barreto
BACK TO BASICS - “Eis ao que leva o intervencionismo do Estado. o povo converte-se em carne e massa que alimenta o simples artefacto que é o Estado” - Ortega Y Gasset
OS EFEITOS DO WOKISMO - Nos últimos tempos, em vários países europeus, a esquerda tem sido eleitoralmente derrotada ou tem sofrido forte erosão. Recentemente uma filósofa meio alemã, meio canadiana, Susan Neiman, que se posiciona à esquerda, publicou um livro que está a causar alguma polémica: “Left Is Not Woke”. O livro nasce de uma conferência que Neiman realizou em Cambridge em 2022 e na qual defendeu que a esquerda abandonou as ideias que são necessárias para resistir à ofensiva da direita e o seu declínio reside nesse abandono. Para Neiman a ideia de que, se alguém é pro-woke deve ser de esquerda e, se se é de esquerda, então deve ser pró woke, é um erro fatal. Para a autora, o wokismo está focado nas desigualdades do poder em vez de procurar garantir a justiça. Diz ainda que o wokismo, ao mesmo tempo que acusa a História de estar semeada de crimes contra a humanidade, percorre o caminho errado quando apresenta toda a História como um repositório de crimes. Para Neiman, as raízes intelectuais do wokismo contradizem as ideias que guiaram a esquerda há mais de 200 anos: a defesa do universalismo, uma clara distinção entre justiça e poder e a crença na possibilidade do progresso. Numa recente entrevista Neiman mostrou-se convicta que a adopção do modelo woke está na raíz das quebras eleitorais da esquerda, que aparece mais focada muitas vezes em causas marginais do que no bem estar das pessoas. A sua posição é polémica e como a própria afirma, o pensamento woke procura justificar-se nas ideias, malignas, de dois pensadores do século XX - Michel Foucault e Carl Schmitt que, segundo ela minaram as ideias do progresso e justiça e transformaram a visão da sociedade numa luta permanente “de nós contra eles”. Pelos vistos o sistema levou a um beco sem saída no qual a tradicional solidariedade social da esquerda se perdeu. O livro é uma tentativa de realinhar essas ideias.
SEMANADA - Em dois meses a subida do Euribor quase duplicou a prestação do empréstimo de 150 mil euros para compra de casa; o risco de crédito às famílias cresceu no primeiro trimestre; a execução do Programa de Recapitalização Estratégica, para as empresas afectadas pela pandemia, é inferior a 10%; um estudo da SEDES diz que a carga fiscal alta castra o crescimento das empresas, gera endividamento, déficit concorrencial e provoca salários baixos; a oferta de casas para arrendar caíu 9% entre Março e Maio, na sequência da apresentação do programa Mais Habitação pelo Governo; o sector do turismo tem falta de 45 mil trabalhadores; apenas 12% das câmaras têm o Plano Director Municipal actualizado; em 2020 e 2021 registaram-se 286 mortes por afogamento de crianças e jovens; a direção do Canal Parlamento, com um deputado indicado por cada grupo parlamentar, ainda não reuniu nesta legislatura, desde que tomou posse em Março do ano passado; na primeira metade do ano foram matriculados mais 40% de veículos automóveis que em igual período do ano passado; face ao envelhecimento da frota automóvel usada para a fiscalização ou licenciamento nas áreas de energia e minas, o Director Geral da Energia pediu ironicamente aos funcionários donativos para comprar um novo veículo já que o mais recente dos que estão ao serviço foi adquirido em 1999; atendendo aos dados da inflação, as rendas habitacionais poderão ter um aumento superior a 7% no próximo ano; um estudo da Marktest indica que o número de lares que possuem ar condicionado quase duplicou nos últimos dez anos; Pedro Nuno Santos regressou ao Parlamento e retomou o seu lugar de deputado, sentando-se na última fila do hemiciclo e declarando não ser candidato a nada.
O ARCO DA VELHA - O actual secretário de Estado da Defesa, Capitão Ferreira, realizou em 2019, antes de ir para o Governo, um trabalho de assessoria para o seu actual Ministério, pelo qual recebeu 12 mil euros por dia durante cinco dias.
AS CORES DO LEVANTE - Manuel Baptista, que morreu este ano, integrava o chamado grupo de pintores do levante algarvio. Baptista tem o seu nome e boa parte da sua obra com ligações à cidade de Faro onde viveu e trabalhou e onde, durante alguns anos, dirigiu uma galeria municipal. No fim de semana passado, no Museu Municipal de Faro, abriu a exposição “Natureza Paralela”, que agrupa obras do artista feitas entre 1962 e 2022 e que se desenvolve entre vários espaços do museu e a antiga galeria Trem, agora rebatizada Galeria Manuel Baptista. A viagem à obra começa logo na capela, no piso térreo do museu (na imagem), onde coexistem esculturas, desenhos e pinturas, como aliás ao longo de toda a exposição. Em algumas obras é patente uma ligação ao universo da pop art, bem evidenciado nas esculturas em acrílico e nos néons, assim como à banda desenhada, que fascinava Manuel Baptista, fascínio evidente em vários dos seus desenhos. A exposição foi ainda construída em vida do artista, comissariada por João Pinharanda, e termina, na Galeria Trem com os derradeiros trabalhos produzidos no final do ano passado. Como sublinhou Pinharanda, “as suas obras são sempre determinadas pela alegria das cores, pela diversidade dos materiais, por complexidades formais barrocas, pela recuperação do lado mais exaltante da vocação decorativa da arte, por um certo humor nostálgico” - talvez a melhor descrição que se pode fazer de Manuel Baptista. A terminar uma sugestão em Lisboa: na Galeria Brotéria (Rua de São Pedro de Alcântara 3) está patente, até 28 de Julho, a exposição “Disturbance In The Nile”, que agrupa obras de nove pintores sudaneses, com curadoria de António Pinto Ribeiro e Rahim Shadad.
UMA AVENTURA NA CULTURA - “Vamos Correr Riscos” é uma recolha de textos escolhidos de Madalena de Azeredo Perdigão, alguns inéditos, outros que até aqui eram de difícil acesso. O livro mostra o legado de uma mulher que depois de ter concluído o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional de Lisboa se licenciou em matemática na Universidade de Coimbra. Em 1958 iniciou a sua colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian, primeiro como chefe da Secção de Música, depois na criação e direção do Serviço de Música. Há quem diga que ela trocou uma carreira artística como pianista, que ambicionava, por uma dedicação ao serviço público nas artes. Da música passou, em meados dos anos 80, para a criação e direcção do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte – ACARTE, inaugurado em 1983, deixando aí uma obra notável. Madalena de Azeredo Perdigão contribuiu para a fundação da educação artística em Portugal e os coordenadores do livro sublinham que ela não era propriamente uma ensaísta para quem a reflexão, por si mesma, fosse um objectivo: a sua escrita está sempre ligada ao combate no terreno pelas causas em que acreditava. As suas ideias estão plasmadas nas propostas das actividades que desencadeou, nos projectos de lei que coordenou, e em artigos de opinião e entrevistas no panorama global das artes e da educação em Portugal. O texto introdutório de Rui Vieira Nery destaca a missão de serviço público dedicado à gestão cultural e sublinha que Madalena Azeredo Perdigão continuou até ao fim a “fazer, em cada momento, o que faz falta à cultura do seu país”. O outro texto introdutório, de Inês Thomas de Almeida, permite perceber melhor quem foi Madalena Azeredo Perdigão, como chegou à Fundação Gulbenkian e como a Fundação se tornou a sua vida. “Vamos Correr Riscos - Textos escolhidos de Madalena Azeredo Perdigão” é uma edição Tinta da China.
UM DESAFIO PARA PIANO - Em Maio de 1994 Keith Jarrett fechou-se no seu estúdio próprio, o Cavelight, e gravou uma versão das Württemberg Sonatas de Carl Philipp Emanuel Bach, o segundo filho de Johann Sebastian Bach. Ao longo dos anos Jarrett tem visitado a obra de Johann Bach (como as variações Goldberg). Porque se virou a certa altura para esta obra do filho? É ele que explica, agora, como nasceu esta gravação feita em 1994: “Ouvi várias versões das sonatas tocadas por cravistas e pensei que havia espaço para uma versão tocada ao piano”. As sonatas tinham sido elogiadas na época por grandes nomes da música como Haydn ou Mozart. Originalmente compostas para clavicórdio, elas foram frequentemente tocadas em cravo. Jarrett não foi o primeiro a interpretar as sonatas ao piano, mas esta versão, ignorada durante três décadas, proporciona uma visão diferente do trabalho de um compositor que fez a transição do barroco para a época clássica do século XVIII. Jarrett executa as 18 sonatas, de forma sensível, respeitando a partitura mas interpretando as variações de ritmo de forma mais solta. Este é um bom exemplo de como Jarrett consegue fazer a adaptação criativa dos temas clássicos para uma audiência contemporânea. “Carl Philip Emanuel Bach”, de Keith Jarrett, é uma edição ECM disponível em CD, LP e nas plataformas de streaming.
FIM DE TARDE - Ao contrário de outros países, o fim de tarde é uma área de convívio pouco praticado nas grandes cidades. E, no entanto, basta ir aqui ao lado a Espanha para ver como as esplanadas e ruas se animam. E nas esplanadas há o bom hábito de tomar um bocadito e uma copa com amigos. Aqui, no verão, ainda se vê quem pratique uma imperial com uns caracóis ou uns tremoços, mas pouco se passa disso. O fim da tarde lisboeta é fraco de oferta na rua e não é um hábito. Em vez disso, toda a gente se mete no carro ao mesmo tempo, para partilhar um engarrafamento em vez de partilhar dois dedos de conversa e um aperitivo com os amigos. Somos o único país do sul da Europa onde não há o hábito do convívio ao fim de tarde, que é comum em Espanha e Itália. O português prefere fechar-se nas casas aquecidas pelo sol em vez de apanhar a brisa dos ventos de fim de tarde desta época do ano. E não devia ser preciso ir a um bom hotel para tomar um aperitivo acompanhado por outra coisa que não sejam amendoins rançosos. Temos bom vinho branco ou rosé, honestos espumantes, um gin tónico não é assim tão difícil de preparar, tão pouco devia ser impossível encontrar um Aperol spritz. Aproveitem o nosso bom tempo e frequentem as esplanadas ao fim da tarde. Não fiquem fechados em casa a ver séries.
DIXIT - “A prioridade dos últimos Governos nunca foi melhorar os serviços públicos. Os governos parecem mais interessados em distribuir e empregar do que em cuidar e tratar” - António Barreto.
BACK TO BASICS - “A educação, a ciência, a comunicação e a cultura têm uma relação mútua natural, permanente e obrigatória “- Guilherme de Oliveira Martins
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