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Um dia destes ouvi uma entrevista com o ex-ministro Marçal Grilo onde se lhe perguntava, como ex-responsável da pasta da educação num governo do PS, o que achava ele daquilo que os programas dos partidos diziam sobre o assunto. Resposta, lapidar: “não li nenhum programa”. O jornalista ficou um pouco espantado e não desarmou, perguntando-lhe se tem seguido os debates na televisão. A resposta foi ainda mais lapidar: “não vejo debates”. Fiquei com aumentada admiração por Marçal Grilo, de quem já tinha boa impressão pelo trabalho efectuado no Governo.
É raro encontrar quem tenha estado envolvido na política assumir com tanta frontalidade que não segue o que acontece em época eleitoral - ele faz aliás questão de sublinhar que mantém as suas ideias e que continua a acompanhar o que se passa no país, só que deixou de lhe interessar seguir a propaganda dos partidos. E na realidade programas e debates são isso mesmo: pura propaganda, zero de estratégia sobre o país. Por causa desta desassombrada opinião fui ler meia dúzia de programas e assisti a dois debates. Percebi que tinha perdido tempo.
Constatei que os programas são um chorrilho de banalidades, muitas vezes a dizerem coisas muito semelhantes, maioritariamente com medidas vagas e imprecisas, frequentemente com contraste entre o que se propõe e aquilo que se sabe que fez quando esteve no poder ou perto dele. Prefiro vasculhar a minha memória e recordar-me do que cada partido fez na oposição ou no governo, que medidas implementou de facto, quais as que não quis concretizar e quais as que travou ou impediu, propostas por outros. Curiosamente o programa do PS parece ser o projecto de um mundo ideal e de um país perfeito e concordo com muito do que lá vem. O problema começa quando me recordo do que foi feito e do que não foi feito nestes últimos oito anos pelos governos de António Costa. E, se não fizeram antes, quando até tiveram maioria absoluta, porque hei-de acreditar que farão agora? Se defenderam um Estado abusador, como acreditar que o querem mudar? No caso da AD - melhor dizendo do PSD que o resto da coligação é apenas exploração de memórias passadas - trata-se de um exercício, por vezes triste, de fuga a compromissos sólidos, à excepção de áreas que cabem contadas pelos dedos de uma só mão.
Os programas dos partidos, sobretudo daqueles que têm aspiração a governar, são um rol de promessas que, como se sabe, é artigo muito susceptível de ser levado pelo vento. Um exercício mais interessante que ler os programas para estas legislativas antecipadas, seria ler os programas apresentados nas legislativas de 2022 e depois ver o que o partido então vencedor, o PS, cumpriu do prometido. E ver também o que os partidos da oposição fizeram na Assembleia da República em prol das suas ideias. Bem sei que interessa olhar para o futuro, mas pode ser útil ver o que deram as promessas feitas há dois anos. Vamos agora ao outro lado da questão, que são as conversas entre partidos na televisão, naquele modelo vigente em que grande parte das perguntas não são respondidas porque os candidatos preferem falar de outros assuntos. Na realidade estes debates não me seduzem - ninguém vai ali discutir ideias: uns vão contrariar o que os outros dizem e proclamar que são melhores. Acreditar no que dizem é apenas um acto de fé.
Há um enorme contraste com o que se passava há umas décadas, quando se discutiam diferenças e se falava de estratégias de crescimento do país. Esta geração de políticos não tem estadistas, tem apenas propagandistas em causa própria. Veja-se este dado: mesmo o debate mais visto, o que opôs Luís Montenegro a Pedro Nuno dos Santos, transmitido em directo por três canais generalistas e três canais de cabo, num exercício de imposição pouco democrático, foi visto por cerca de 2,7 milhões de espectadores num universo de 9,3 milhões de eleitores. Apesar de terem açambarcado o espaço mediático apenas 30% das pessoas com direito a voto se sentiram interessados em seguir o que diziam os dois homens que têm por objectivo tomar o poder. É curto, muito curto. Mas serviu-me de alguma coisa ter visto este debate. Confirmei que não iria votar em nenhum daqueles partidos. E, mesmo com todos os incidentes que houve de permeio, continuo, este ano ainda, a votar na Iniciativa Liberal. O seu papel na Assembleia da República tem sido importante, têm exercido influência e conseguido impôr mudanças, fazendo diminuir abusos do Estado. Faço votos que tenham peso suficiente para conseguir mudar a Lei Eleitoral, para que os resultados de futuras eleições tomem em conta todos os votos. E permitam começar a fazer política de forma diferente.
(Publicado no semanário NOVO de 24 de Fevereiro)
A PROPAGANDA CULTURAL - Bem sei que politicamente a Cultura é apenas uma flor na lapela que, em tempos eleitorais, os políticos gostam de usar para dizerem que se interessam por ela e, sobretudo, para terem uns quantos artistas a apoiá-los e a aparecerem em eventos de campanha. Já das campanhas eleitorais o tema está ausente, como temos visto. Por curiosidade fui ler diversos programas partidários na área da Cultura. O ponto comum de todos eles é a existência de frases bonitas mas vazias, ausência de medidas concretas, substituídas por proclamações gerais de intenções. Mesmo quando descem a temas concretos, em nenhum caso dizem o que de facto pretendem fazer. A Lei do Mecenato é um bom exemplo. Aqueles que defendem a necessidade de incentivar o mecenato privado não exemplificam, com uma medida que seja, o que consideram prioritário na revisão dessa Lei - nem mesmo a simples identificação de medidas constantes da legislação de um um país onde as coisas funcionem bem. É um contraste com outras áreas onde as medidas são pormenorizadas. Tantas com contas detalhadas em vários temas e tantas promessas vagas noutras. À esquerda do PS, ou seja Bloco, PCP e Livre, o mecenato nem sequer é tema e a entrega do sector à dependência do Estado é total. Os programas do Bloco e PCP são pouco mais que cadernos reivindicativos sindicais sobre as condições de trabalho no sector. O PS, que reivindica ser o campeão na área cultural, aponta no seu programa uma série de medidas interessantes, mas que foi incapaz de tomar nestes anos em que foi Governo. Em teoria sabe o que quer, mas não faz. Mais grave ainda, em todos os programas há como que um pudor em premiar a procura de públicos e em associar os apoios a conceder à capacidade de conseguir atrair novos públicos, de forma quantificada. Em nenhum caso se põe em causa a continuidade das rendas pagas a entidades, que se repetem anos após anos, independentemente dos resultados alcançados. A manutenção do status quo da subsídio-dependência é coisa que invade os programas de todos os partidos, em maior ou menor grau. E é um dos maiores problemas para conseguir uma estratégia cultural diferente. Os programas são pouco mais que promessas, e essas, leva-as o vento…
SEMANADA - Portugal é o país que está a envelhecer ao ritmo mais acelerado no conjunto dos 27 países da União Europeia; 25% das pessoas com mais de 75 anos vivem sozinhas; as exportações de azeite ultrapassaram pela primeira vez os mil milhões de euros; o Alojamento Local significa 40% das dormidas turísticas em Portugal, quase metade das dormidas em Lisboa e mais de 60% no Porto; as exportações portuguesas de calçado caíram 8,2% em 2023; nos últimos cinco anos houve 10 008 profissionais que se reformaram no SNS e, destes, 3226 são médicos; o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares diz que o pico das reformas está para chegar; o relatório de um organismo da União Europeia afirma que Portugal foi um dos países que nos últimos 25 anos mais aumentaram a taxa máxima de imposto sobre o rendimento, em contraciclo com a maioria do estados membros; nas últimas legislativas, em 2022, a percentagem de eleitores que apenas decidiram o voto no dia das eleições foi de 14%, ou seja mais de 750 mil pessoas; o cabaz alimentar de 63 bens essenciais monitorizados pela Deco atingiu na última semana mais 50 euros do que há dois anos; o valor da cesta de alimentos monitorizados semanalmente pela Associação de Defesa do Consumidor custa agora 236,60 euros, quando no mesmo período de 2022 se ficava pelos 185,66 euros, 27% acréscimo; 25% dos votos no Alentejo nas legislativas de 2022 foram para partidos eurocéticos; em janeiro as rendas de casa cresceram 6%, o maior audmento em 30 anos; o Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Chiado, tem a sua colecção de 4500 obras encaixotadas e armazenadas há vários anos; o peso das transferências do Orçamento de Estado para as universidades e politécnicos públicos diminuiu 8,5 pontos percentuais no espaço de uma década e meia; as reclamações de utilizadores sobre serviços de entregas ao domicílio subiram 62% em 2023 e a UBER Eats lidera as queixas; os jovens de 18 anos estão a consumir mais bebidas alcoólicas de forma diária e o aumento verifica-se em todas as regiões do país.
O ARCO DA VELHA - Em 2022 o Estado gastou 1,7 milhões de euros para a esterilização de 44 917 animais de companhia (cães e gatos), no âmbito do Programa de Incentivo Financeiro para o Bem-estar Animal. A comparticipação do Estado às diferentes entidades foi de 20 euros por gato e 40 por cão e de 46 por gata e 72 por cadela.
AS FIGURAS DE VIEIRA DA SILVA - Embora a pintura de Vieira da Silva seja associada à abstracção, à representação do espaço e da perspectiva e ao uso das linhas e malhas geométricas, a artista teve também uma produção figurativa que é menos conhecida. Além da ilustração para livros infanto-juvenis, onde se sente a sua criatividade e experimentação, Maria Helena Vieira da Silva trabalhou também temas académicos, como a pintura de modelo, naturezas mortas, retratos e até espaços interiores. A nova exposição da Fundação Arpad-Szènes-Vieira da Silva (FASVS), “Aquém e Além da Abstracção”, mostra este lado menos conhecido. A selecção apresentada inclui obras dos primeiros anos da artista em Paris, de 1929 a 1936, algumas propostas para concursos de 1940 e uma série de retratos e ilustrações do período de exílio no Brasil, entre 1941 e 1946, durante a Segunda Guerra Mundial. Ao longo dos anos Vieira da Silva quis sempre manter consigo estas obras, até que em 1990 integraram a colecção do Museu da FASVS, como é o caso de “Elsa Dance”, a obra aqui reproduzida e patente nesta exposição, que tem curadoria de Isabel Carlos e pode ser vista até 2 de Junho (Praça das Amoreiras 56). Na Casa-Atelier Vieira da Silva, bem próxima do Museu, está o trabalho que o artista plástico Xana fez inspirado na obra “Rua do Ouvidor”, pintada no Rio de Janeiro por Maria Helena Vieira da Silva em 1942, uma reinterpretação a que deu o título “Rua Projectada à Rua do Ouvidor”.
ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - Patrícia Garrido apresenta na Galeria Diferença (Rua Filipe Neri 42), um conjunto de 34 desenhos que combinam uma base de aguarela, depois rodeada por linhas contínuas que no fundo limitam o seu espaço (na imagem), sob o título “Desenhos Fechados”. Na Biblioteca de Marvila (Rua António Gedeão), destaque para “O Olhar Encantado”, que apresenta fotografias inéditas da rodagem do filme “As Ilhas Encantadas” realizadas por Augusto Cabrita e focadas em Amália Rodrigues, que protagonizou esse filme de Carlos Vilardebó, realizado em 1965. “Liberdade - Portugal lugar de encontros” é o título da exposição comissariada por João Pinharanda e que reúne obras de artistas de diversas proveniências que têm em comum a língua portuguesa, entre os quais Abraão Vicente, Graça Pereira Coutinho, Ângela Ferreira, Oleandro Pires Garcia, Ana Marchand, Cristina Ataíde, Manuel Botelho, Francisco Vidal e Yonamine, entre outros. O núcleo principal está na UCCLA (Avenida da Índia 110), completado por um outro núcleo, mais pequeno, no Centro Cultural de Cabo Verde (Rua de S. Bento 640). Para finalizar, se for a Londres pode aproveitar para ver até 1 de Setembro, na Tate Modern, uma exposição sobre o trabalho multifacetado de Yoko Ono, “Music Of The Mind” e a exposição sobre a obra de Philip Guston termina dia 25 de Fevereiro.
MÚSICA FÍSICA - Há três décadas Vijay Iyer estava a fazer um doutoramento em física quando resolveu que o piano, que aprendera sozinho, seria o seu destino. Iyer já tinha estudado música clássica mas foi para o jazz que se virou, trazendo uma perspectiva inovadora que conjuga a precisão da física com o imaginário poético onde se inspira. Tem seguido esse caminho, explorando ainda diversos cruzamentos com outras artes. “Compassion”, o seu novo disco, é o resultado de um trio particularmente conseguido onde além de Iyer no piano, tocam a baixista Linda May Han Oh e o baterista Tyshawn Sorey. “Compassion” é um disco diferente, mais enérgico e menos contemplativo do que é hábito de Iyer - muito por força da forma como baixo e bateria estimulam o piano. “Overjoyed”, um tema de Stevie Wonder, aqui reinterpretado, é prova disso mesmo, assim como “Maelstrom” e “Tempest”. Já “Panegyric” e “Where I Am”, mostram o lado mais reflexivo e intimista. “Nonaah”, um original de Roscoe Mitchell, é um tributo à improvisação, assim como outra versão, “Free Spirits/Drummer’s Song” ( de John Stubblefield e Geri Allen). Edição ECM, disponível em streaming.
UM ROMANCE À DISTÂNCIA - Uma canção é uma história, um conto. Sérgio Godinho canta histórias e também escreve romances. Não é caso inédito, mas se partirmos do princípio que uma canção deve ser um conto, então faz sentido pensar num romance escrito por alguém que fez da música o essencial da sua vida. Vejam só esta matéria prima de uma canção: “Era uma mulher e um homem, um homem e uma mulher, e vice-versa. Viviam em duas cidade separadas por mil seiscentos e onze quilómetros, e só se conheceram realmente no início da vida adulta” - é assim que começa “Vida e Morte Nas Cidades Geminadas”, o novo romance de Sérgio Godinho, que sucede a “Coração Mais que Perfeito” e “Estocolmo”. Este “Vida e Morte Nas Cidades Geminadas” conta a história de duas personagens: Amália, portuguesa, que canta fados e vive em Guimarães, e Cédric, francês, que trabalha na morgue de Compiègne, no norte de França. Esta história de desencontros e coincidências decorre na atualidade mas atravessa várias gerações – e várias línguas. Amália e Cédric nasceram no mesmo dia e no mesmo ano, ela em Portugal, ele em França, partilham perplexidades e um amor cheio de coincidências e dificuldades. De tudo isto nasce uma ligação que ultrapassa as distâncias mas é posta em causa pelos quotidianos, desgastando-se e levantando interrogações, desencontros e, até, desencantos. Esta é a história que Sérgio Godinho nos conta - entre o nascer e o desfazer de um amor. Edição Quetzal.
DIXIT - “Estamos, de facto, perante um leilão eleitoral, em que cada partido tenta dar mais do que o outro. Lamentavelmente, cada partido está, nesta campanha, mais a olhar para o retrovisor do que para o pára-brisas” - António Saraiva
BACK TO BASICS - “É pois evidente que quanto mais o Estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais risco há, se não positivamente mais certeza, de a estar prejudicando” - Fernando Pessoa
A CAMPANHA - As eleições legislativas antecipadas de 10 de Março coincidem praticamente com o 50º aniversário do 25 de Abril de 1974 e, atendendo ao estado da nação, seria de esperar que a questão da Justiça, dos seus problemas e dos efeitos que o seu mau funcionamento tem na política, nos cidadãos e na economia, fizessem parte da campanha eleitoral - quanto mais não seja porque o Primeiro Ministro se demitiu no seguimento de uma investigação do Ministério Público e na Madeira aconteceu o que se sabe. Aliás se não fosse a decisão do juiz no caso da Madeira o assunto tinha passado mesmo ao lado de tudo. No entanto o tema é importante: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, propôs e procurou que se fizesse um pacto entre os principais partidos sobre a reforma da Justiça, mas nada aconteceu. Acontece que o tema da justiça não faz parte da campanha eleitoral nem da fábrica de soundbites que têm sido os debates televisivos. Mas também não ouvi falar, nesses debates, da guerra, e da crescente instabilidade da situação internacional, que tem óbvios efeitos em qualquer país e consequências a nível da política externa. E, menos ainda, de qualquer assunto que tenha a ver com Cultura. Assim, três pilares essenciais da Liberdade e da Democracia - justiça, paz e cultura - estão definitivamente fora da campanha eleitoral. Em vez dos comícios sob a forma de debates preferia que houvesse um prestar de contas sobre o que foi prometido nas eleições anteriores, por quem esteve no Governo estes anos, e também um balanço do que a oposição fez. E não seria nada má ideia que a oposição tivesse um governo sombra, cujos elementos fossem porta-vozes sectoriais sobre as várias áreas da governação, incluindo aquelas de que menos se fala. Uns números para terminar: o debate entre Luís Montenegro e André Ventura teve 850 mil espectadores, na RTP1 - que a essa hora até esteve à frente da SIC e TVI. Mas, no mesmo canal, pouco tempo antes, Fernando Mendes com o seu "Preço Certo" registou uma audiência média de quase 900 mil espectadores, numa altura em que havia muito menos gente a ver televisão do que à hora dos debates. Será isto uma prova do desinteresse das pessoas pela política, do desencanto com os partidos e da desconfiança face aos políticos?
SEMANADA - Segundo a Direcção Geral de Saúde em 2023 foram distribuídos cerca de 6.9 milhões de preservativos mais 33% que no ano anterior; segundo uma médica especialista em doenças sexualmente transmitidas os casos de sífilis e gonorreia estão a aumentar em Portugal; em Janeiro a inflação aumentou para 2,3%, uma variação de 0,9% em relação ao mês anterior; de acordo com dados da Comissão do Mercado de Valores Mobiliário há 265 fundos de investimento imobiliário em Portugal que em dezembro geriam activos de 2,5 mil milhões de euros, 63% acima do investimento contabilizado em dezembro de 2022; um estudo científico indica que um saco de papel produz três vezes mais emissões de gases com efeito de estufa do que um saco de plástico; em 2023 a DECO recebeu 360 mil reclamações e os sectores das telecomunicações, comércio e banca foram os que mais queixas registaram; um terço dos novos oficiais de justiça que em setembro passado foram contratados para reforçar os tribunais já se foram embora, queixando-se do baixo salário, que é de menos de 900 euros líquidos; o número de portugueses com dois empregos cresceu 7% no ano passado e o total já ultrapassa os 250 mil, dos quais 142 mil têm formação superior; a percentagem de alunos entre os 18 e os 24 anos que deixou de estudar sem concluir o 12º ano aumentou para 8% em 2023; no ano passado as cesarianas representaram 32% do total de nascimentos, o numero mais elevado de anos recentes; cerca de 66% das freguesias portuguesas não têm pontos de venda de imprensa; há 38 mil empresas exportadoras em Portugal, 23 mil são pequenas, médias e microempresas e apenas 3600 investem em investigação e desenvolvimento.
O ARCO DA VELHA - Em 2023 foram registadas mais de mil agressões a profissionais de saúde.
MOSTRAR O QUE NÃO É EVIDENTE - Ricardo Angélico “um pintor menos conhecido do que devia”, como diz Alexandre Pomar, está até 9 de Março na Galeria Carlos Carvalho (Rua Joly Braga Santos, Lote F, R/C, Lisboa) com a exposição “Peças Para Uma Máquina do Tempo Perdido”. É um conjunto de pinturas, sobre tela, papel preparado e linho que têm em comum uma linguagem visual próxima do imaginário do fantástico, com um piscar de olhos à observação da natureza, misturada com evocações de banda desenhada, misturando figuras humanas e de animais, com formas e deformações monstruosas. Na imagem aqui reproduzida, “Homilia”, isso mesmo é bem patente. Mas noutros pontos da exposição, como nos dois momentos de “Audobom Remix” o trabalho de Angélico é inspirado pelo inventário que John James Audobom desenhou no século XIX dos pássaros da América. Angélico copiou as imagens de algumas dezenas dessas imagens de aves e pintou-as de forma perfeita a óleo, sobre linho, misturando-as, mais uma vez num desafio de fantasia, com imagens de várias origens, desde uma evocação da BD na figura de Woody Woodpecker, passando por uma borboleta e até à inclusão da NBA através de um jogador de basket que salta no meio dos pássaros ou de um popular pato amarelo saído dos cartoons norte-americanos. Duas outras obras, ambas de 2023, “Geoff na China” e “Perdidos e inchados”, ambas trabalhadas em técnica mista sobre papel preparado remetem-nos mais uma vez para um delírio de mistura de personagens e de explosão de cores. Deixo para o fim duas das obras mais marcantes, os estudos para Bonsai, ambos óleo sobre tela, mostrando o lado escondido dos bonsais, as suas raízes e caules - no fundo mostrar o que não é evidente, que parece ser o tema trabalhado por Ricardo Angélico.
ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - António Caldeira Pires, aka TóCalpi, um trabalho despretensioso, honesto e divertido como poucos na exposição “pufomance”, até 20 de fevereiro no espaço cultural das Mercês, rua Cecílio de Sousa 24, junto ao Príncipe Real(na imagem); em Bragança, até 30 de Junho, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais apresenta uma exposição da obra de Júlio Pomar, organizada pelo Atelier-Museu Júlio Pomar, de Lisboa; na Galeria No-No, (Rua de Santo António à Estrela 39A), “Catarse” mostra pintura de Filipe Cortez, até 16 de Março; nas Carpintarias de São Lázaro (Rua de São Lázaro 72, Lisboa), Pedro Vaz mostra pintura, video e música em “Num Único Acorde”; na Galeria Fidelidade Arte (Largo do Chiado 8), a plataforma Ampersand organizou a exposição “Two Faces Have I”, na qual apresenta trabalhos de Jana Euler, Pati Hill e Sylvie Fanchon em torno de imagens dos filmes do realizador norte-americano Chris Langdon; na Galeria Belard (Rua Rodrigo da Fonseca 103B, Lisboa), Mafalda d’Oliveira Martins apresenta “Oblivion”, uma exposição em que a artista retratou, em desenho, cada uma das 233 pessoas que em 2021 morreram sós na cidade de Lisboa; na Galeria Foco (Rua Antero de Quental 55A), Manuel Tainha apresenta “Chest Against The Back”: no Instituto (Rua dos Clérigos 44, Porto), Walter Vinagre apresenta a exposição de fotografia “Morte Adivinhada”; até sábado ainda pode ver estas três exposições: na Zet Gallery, de Braga, “Cicatriz”, de Sandra Baía; na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa (Rua da Barroca 59), as fotografias de Diogo Simões sob o título “Terra Livre”; e na Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria 101) “Uncertain Smile”, de Miguel Navas, termina às 18h30 com um concerto de Rodrigo Amado e Hernâni Frutuoso.
SAX E GUITARRA - Uma das boas surpresas musicais das últimas semanas é o álbum “The Room”, do saxofonista norte-americano Sam Gendel e do guitarrista brasileiro Fabiano do Nascimento. Escusa de pensar que esta formação de saxofone e guitarra é um remake do histórico disco de Stan Getz e João Gilberto porque não se trata de nada disso. “The Room” é território novo, um exemplo do que se pode fazer só com instrumentos acústicos, o saxofone soprano tocado de forma muito suave, quase um suspiro por vezes, e uma guitarra de sete cordas dedilhada de forma enérgica ao longo dos dez temas do disco. Desde a faixa inicial, “Foi Boto”, onde as harmonias da bossa nova são afloradas até ao extraordinário “Astral Flowers” , talvez o ponto alto do disco, o saxofone de Gendel, por vezes pouco mais que o som do sopro de uma flauta, enrola-se nas notas que saem das cordas da guitarra. Em “Capricho” a guitarra marca o ritmo e o saxofone desenha a melodia, em “Txera” há um jogo de desafio e uma estrada de cumplicidade entre os dois músicos. E “Até de Manhã” e “Daiana” são baladas envolventes. Disponível em streaming.
UMA HISTÒRIA FAMILIAR - “Uma Família Judaica, de Varsóvia e Brody a Lisboa e Telavive”, de Esther Mucznik, conta a história da sua família e faz o retrato do povo judeu através de três séculos de diáspora. A história dos Goldreich Mucznik, oriundos da Europa de Leste e que se dispersarem pelo mundo, reflete em boa medida a história do povo judeu, neste caso com Lisboa a ser um porto seguro. Esther Mucznik sublinha: "Os judeus são errantes, não por defeito, mas pela sua história, e gostaria que este livro e as vidas que nele são retratadas contribuíssem para a percepção clara de que se pode ter uma origem e uma identidade religiosa diferentes daquelas onde nos estabelecemos e sermos cidadãos fiéis, leais e patriotas, não só legalmente mas de alma e coração” . Este é um livro intimista, uma história familiar mas, também, o retrato das mudanças surgidas ao longo das décadas que a autora leva de vida e que acompanhou, desde os seus tempos juvenis em Israel, até à forma como assistiu em Paris ao Maio de 68 ou ao 25 de Abril em Portugal. E o encanto do livro é exactamente essa forma intimista como está escrito, a maneira como cruza os grandes acontecimentos com a história da sua família e a sua própria. Esther Mucznik foi vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, fundadora e presidente da Associação Memória e Ensino do Holocausto – Memoshoá. Preside à Associação Hagadá, responsável pela instalação do Tikvá Museu Judaico em Lisboa e é membro da Comissão de Liberdade Religiosa. Edição Dom Quixote.
DIXIT - “Todos os partidos, sem excepção, deram um precioso contributo para o crescimento do Chega. No governo, os socialistas trouxeram causas para o Chega. Nos hospitais, nas escolas, nas fronteiras, nos transportes públicos, os democratas estão a alimentar o Chega à mão” - António Barreto.
BACK TO BASICS - "Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão." - Eça de Queirós
A TV QUE TEMOS - Na semana do arranque dos debates eleitorais proponho um passeio pelo país televisivo, com base nesta pergunta: como são vistos os vários canais nas diversas zonas do país? Em média, a norte, é a TVI a liderar, enquanto no centro e na região de Lisboa lidera a SIC, embora a TVI seja frequentemente líder na zona da grande Lisboa. A sul a RTP1 lidera quase sempre. Sugiro agora outra pergunta: como se comporta o conjunto dos canais generalistas nas mesmas zonas? - a resposta vai permitir-nos perceber o peso conjunto dos canais de cabo e das plataformas de streaming nessas regiões. Em semanas recentes, na região norte, a RTP1, SIC e TVI, em conjunto, foram vistas por 44,6% dos espectadores; na região Centro por 46,7% , na região de Lisboa surge o resultado mais baixo, com 34,5%, e na região sul alcançaram 44,3%. Estes números não são estáticos, os valores aqui indicados referem-se a uma recente semana de janeiro. Mas, por exemplo, na semana passada, em termos nacionais, o conjunto de canais de cabo e das plataformas de streaming alcançou um total de 58,2%, deixando apenas 41,8% para os canais generalistas. Isto dá uma ideia da evolução do consumo de televisão e da quebra progressiva dos generalistas (RTP1 e RTP2, SIC e TVI). Vamos agora ver a posição relativa dos canais, os generalistas e alguns do cabo, no mês de janeiro. A SIC liderou com 15% de share médio, a TVI ficou em segundo com 14,7%, a RTP1 com 11,5% e a RTP2 com 0,8%; no cabo liderou a CMTV com 5,7%, seguida da CNN com 2,2%, a Fox com 2,1%, Hollywood com 2% e SIC Notícias com 1,9%. Já agora a RTP3, que além do cabo é transmitida em TDT, obteve apenas 1,1%. A realidade dos números é bem diferente da percepção que algumas pessoas têm.
SEMANADA - O presidente do Sindicato Nacional da Polícia admitiu a possibilidade de as forças de segurança realizarem um boicote à realização das legislativas; seis das nove ilhas dos Açores trocaram de partido vencedor face às eleições de 2020, dando a vitória da AD sobre o PS; na campanha para as legislativas, para além de entrevistas a líderes partidários, estão previstos três dezenas de debates em estações de televisão além de alguns outros em estações de rádio; o primeiro debate, entre Rui Rocha e Pedro Nuno Santos, na SIC Notícias, foi visto por cerca de 210 mil pessoas, mais do dobro da audiência habitual da estação nesse horario; as eleições legislativas vão levar os partidos políticos a gastar 8,2 milhões de euros na campanha e dois terços dessa verba serão gastos por PS e PSD; uma sondagem recente indica que 64% dos eleitores do PSD rejeitam um acordo com o Chega; mais de um terço do movimento global da economia portuguesa já vem das pessoas com mais de 60 anos e há indicadores de que em breve esse valor ultrapassará os 50%; nalgumas áreas da economia mais de 40% dos trabalhadores são estrangeiros; segundo a Autoridade da Concorrência na última década 40 empresas já confessaram a sua participação em cartéis, acordos proibidos com outras sociedades com o objectivo de manipular os preços; segundo o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge entre 18 de dezembro e 21 de janeiro registaram-se 3290 mortes além do esperado; quase 250 menores entre os 12 e os 16 anos foram obrigados pelos tribunais a cumprir medidas de acompanhamento ou internamento e 30% dos crimes graves ocorreram dentro da escola.
O ARCO DA VELHA - Desde 2010 foram registados em média 174 casos de ofensas sexuais em escolas por ano, ou seja um caso por cada dia de aulas do ano lectivo.
MEMÓRIAS LISBOETAS - Luis Pavão, um dos mais relevantes fotógrafos portugueses e porventura o que melhor viu Lisboa, dedicou-se, nas últimas décadas do século passado, desde finais dos anos 70 até ao início dos anos 2000, a recolher ensaios fotográficos, documentais, sobre locais e tradições, alguns em extinção, num trabalho persistente e único nesta cidade. Além de fotógrafo, Luis Pavão tem mantido uma actividade de referência na conservação e restauro do património de imagem depositado no Arquivo Fotográfico Municipal, situado na Rua da Palma. Agora e em nome próprio, Luis Pavão apresenta “Lisboa Frágil”, que ficará no Pavilhão Preto do Museu de Lisboa - Palácio Pimenta (Campo Grande) até 31 de Março. A exposição, que inclui cerca de uma centena de imagens, integra sete núcleos. O primeiro, “Tabernas de Lisboa” (na imagem) é de 1981 e recupera um trabalho na época editado em livro. “Lisboa à Noite” é de 1983 e “Lisboa Tal Como a Vimos” é de 1985.”Bailes e colectividades” é de 1988, “Ensaios das Marchas” é de 1992, “Na Pista do Fado” é de 1993 e “Vésperas do Terceiro Milénio” é de 2000. Todos estes núcleos integram provas originais de época e outras actuais, e são mostradas em diversas vitrinas elementos informativos adicionais, bibliográficos, recortes de imprensa e outros que ajudam a ter uma leitura mais pormenorizada do trabalho de Luís Pavão. “Neste estudo da cidade o fotógrafo mostra-nos lugares que oscilam entre o passado e o presente, testemunhos que nos ajudam a compreender a Lisboa que vivemos hoje. Uma cidade entre o pós-Expo e o pós-pandemia, onde a perda de identidade chegou de mãos dadas com a gentrificação” - sublinha a curadora Luisa Covarsi.
ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - “Não Ria. O Humor É Um Assunto Muito Sério: 100 anos de Sam” é a exposição organizada pelo Museu Bordalo Pinheiro, no Campo Grande, para assinalar o centenário do nascimento do cartoonista que fica em exibição até 19 de Maio; até 28 de Abril, no Museu Soares dos Reis, Porto, obras de Teresa Gonçalves Lobo em diálogo com obras de Domingos Sequeira; na Galeria Bruno Múrias (Rua Capitão Leitão 16), a exposição “One Second Plan” apresenta pinturas de Teresa Murtas; na galeria Nuno Centeno (Rua da Alegria 598, Porto ) Maria Capelo apresenta a até 24 de Fevereiro a série de pinturas intitulada “Maio neste Inverno” (na imagem); na Fonseca Macedo-Arte Contemporânea (Rua Guilherme Poças Falcão 23, Ponta Delgada), Beatriz Brum apresenta até 16 de Março um conjunto de desenhos sob o título “Luz-Própria, Tudo O Que Existe” ; até 8 de Março a Galeria da Casa A. Molder apresenta “Waiting Around To Die”, de Henrique Pavão; na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18B), Isa Toledo apresenta “Casa Commedia” até 8 de Março, um conjunto de peças com materiais diversos, cada uma assinalada de forma especial pela artista; e finalmente a Galeria 111 celebra os seus 60 anos de actividade com uma dupla exposição: no Centro de Arte Manuel de Brito (Campo Grande 113), até 3 de Agosto, podem ser vistas cerca de 120 obras do seu acervo, representativa de artistas que lá expuseram; e na Galeria 111 (Rua Dr. João Soares 5B), está até 13 de Abril uma mostra de desenhos de Lourdes Castro e Paula Rego.
UM CATÁLOGO EXEMPLAR - Até 28 de Maio, na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian pode ser vista a exposição “As Mulheres de Maria Lamas” que, com curadoria de Jorge Calado, apresenta uma seleção de 67 das suas fotografias, maioritariamente provas vintage (da época), de pequenas dimensões, entre 8 x 6 cm e 14 x 18 cm, mas também algumas ampliações. Além destas, estão expostas provas da época de outros fotógrafos incluídas na obra “Mulheres do Meu País”, um livro de referência na fotografia portuguesa, há muito fora do mercado. Por ocasião desta exposição a Fundação Gulbenkian editou um catálogo que é ele próprio uma obra de referência, não só sobre a obra de Maria Lamas, mas também sobre a fotografia em Portugal, com textos de Jorge Calado, Alexandre Pomar, Raquel Henriques da Silva e Alice Vieira. Há dois textos que merecem particular destaque - um deles é “Pistas Para Um Mapa - Fotógrafos e fotografias nos meados do século XX”, de Alexandre Pomar, um valioso contributo para entendermos a história da fotografia portuguesa na segunda metade do século XX; e outro é “A Tripla Missão de Maria Lamas-Para uma análise da sua obra fotográfica”, de Jorge Calado, um belíssimo ensaio sobre a obra de Maria Lamas. Raquel Henriques da Silva escreve sobre “Além da fotografia - A Obra Artística em As Mulheres do Meu País” e “Alice Vieira” fala da sua relação próxima, pessoal e familiar com Maria Lamas em “A Minha Prima Maria”. Jorge Calado assina também um outro texto “Inteligentemente Mulher”, que traça o percurso de vida e trabalho de Maria Lamas, situando-o no seu tempo. O catálogo inclui ainda as fotografias apresentadas na exposição, com informação sobre cada uma delas, assim como diversas ilustrações de época e reproduções de páginas da edição original do livro.
RITMOS ARREBATADORES - Club Makumba é um quarteto composto pelo guitarrista Tó Trips, o baterista João Doce, o contrabaixista Gonçalo Leonardo e o saxofonista Gonçalo Prazeres. São todos eles músicos notáveis e, em conjunto, conseguem uma harmonia rara. Se me permitem, no caso de Tó Trips ele está naquele grupo muito restrito de talentos musicais que se destacam por uma sonoridade própria que é seu som de marca e que o distingue de todos os outros guitarristas, marca que vem do tempo dos Lulu Blind nos anos 90 e, mais tarde, dos Dead Combo. Regresso ao Club Makumba, que lançou agora o seu segundo disco, “Sulitânia Beat”, mais uma explosão de ritmos, banda sonora capaz de alegrar qualquer dia. “Sulitânia Beat” traz 13 canções que desfilam ao longo de 45 minutos com algumas novidades - nomeadamente maior e merecido protagonismo ao saxofone de Gonçalo Prazeres, aliás audível logo no primeiro tema, “Janaina Calling”. Este é um disco que evoca sons de outros continentes, passeando-se livremente nas águas do mediterrânio e no calor do norte de África, como se constata em “Baía das Negras” e “Black Berbere”. Os sons tropicais são evocados em “Samba Catano”, o fascínio do oriente é trazido por “Golden Shangai” , os ritmos trepidantes em “Maragato” ou “Joça”, onde mais uma vez o saxofone ganha asas ou nos ares do deserto que encerram o disco em “Quibir”. Um grande disco, do melhor que a música portuguesa tem para mostrar actualmente. Disponível nas plataformas de streaming.
DIXIT - “A democracia portuguesa comemora os 50 anos do 25 de Abril, os 50 anos das eleições livres e os 50 anos da Constituição numa desordem institucional jamais vista. Festejam-se com quatro eleições, três dissoluções de parlamentos e assembleias legislativas, três governos demitidos” - António Barreto
BACK TO BASICS - “A questão não é o que queremos saber sobre as pessoas, é sim o que é que as pessoas estão dispostas a revelar sobre si próprias” - Mark Zuckerberg, que fundou o Facebook há 20 anos
O ESTADO DAS SONDAGENS - A pouco mais de um mês das eleições legislativas recomendo a consulta regular de uma compilação de dados, feita pela Marktest, sob o título “Dossier Sondagens Eleitorais para as Legislativas” (https://www.marktest.com/wap/a/p/id~112.aspx) e que é actualizado regularmente desde 2009. O estudo já integra 553 sondagens, realizadas por 11 empresas (Aximage, CESOP-Universidade Católica, Consulmark2, Euroexpansão, Eurosondagem, ICS/ISCTE, Intercampus, Marktest, Metris, Multidados e Pitagórica). O referido dossier apresenta intenções de voto para os partidos analisados em cada sondagem, com a integração dos novos partidos e coligações que foram surgindo ao longo do tempo. Considerando os resultados das sondagens dos últimos 12 meses observa-se que é numa sondagem da CESOP-Universidade Católica, realizada em junho passado, que o PSD regista a intenção de voto mais elevada com 35.1%, deixando o PS em segundo lugar com 32.1% e o Chega em terceiro, com 7.8%. Na última sondagem de 2023 (23 de dezembro, da Pitagórica), o PS alcançou uma intenção de voto de 34.1% deixando o PSD em segundo com 24.8%, seguido do Chega com 16.3%, o Bloco de esquerda com 6.3%, o Iniciativa Liberal com 4.1%, o PAN com 3.7%, o PCP-PEV com 2.7%, o Livre com 1.8% e o CDS-PP com 1.2% . Mas na primeira sondagem de 2024 (17 de janeiro, da Consulmark2), surge pela primeira vez a coligação AD, com 28.1%, ficando o PS em segundo na intenção de voto com 26.7%. Segue-se o Chega com 17.5%, o Bloco de Esquerda com 7.2%, o Iniciativa Liberal com 6.3%, o PCP-PEV com 3.3%, o Livre com 2.1% e o PAN com 1.2%. Quase um mês depois, na segunda sondagem do ano (da Intercampus, publicada a 23 de janeiro), a AD encontra-se em segundo lugar, com 24.3%, ficando o PS em primeiro com 30.9%. O Chega mantém-se como a terceira força política em termos de intenção de voto, com 19.4%, seguido do Bloco de Esquerda com 8.7% e do Iniciativa Liberal com 6.3%. O PCP-PEV registou 4.6%, o PAN 2.6% e o Livre 1.5%. Ainda está tudo muito confuso, a ver vamos como as coisas evoluem até 10 de Março.
SEMANADA - Em 2023 foram importados 106 mil carros usados e 44% deles tinham entre seis e dez anos de uso; no ano passado fecharam 16 lojas emblemáticas de Lisboa, o número mais alto dos últimos anos; as autodeclarações de doença, as chamadas “autobaixas” atingiram números mais altos nas semanas dos feriados de junho, agosto, Natal e fim de ano; todos os dias faltam em média 11 mil professores nas escolas portuguesas, o que dá um total de dois milhões de faltas por ano; o número de desempregados inscritos nos centros de emprego sobe há seis meses e já supera os 317 mil; segundo a associação empresarial Business Roundtable de Portugal em duas décadas fomos ultrapassados no PIB per capita por todos os países de Leste e no plano dos salários, somos o antepenúltimo, apenas com Grécia e Hungria atrás de nós; em matéria de lentidão da justiça administrativa estamos no fundo da tabela e em média, precisamos de mais de dois anos para resolver um processo; Portugal desceu uma posição no Índice de Perceção da Corrupção (CPI) 2023, da organização Transparência Internacional e numa lista em que a Dinamarca e a Finlândia são os países com melhor classificação, Portugal fica atrás de outros países como a França, a Áustria, o Chile, Cabo Verde e Lituânia; o número de notas falsas de euro apreendidas em Portugal no ano passado aumentou 55% para um total de 16723; os partidos vão ter direito a uma subvenção estatal superior a 8 milhões de euros para as próximas legislativas.
O ARCO DA VELHA - Depois de um organismo do Ministério da Cultura ter autorizado em Novembro a venda no estrangeiro, por um particular, da obra “Descida da Cruz”, de Domingos Sequeira, o Governo anunciou agora que a pretende comprar. A obra está à venda numa galeria de Madrid por 1,2 milhões de euros.
170 FOTOGRAFIAS - Na Cordoaria Nacional estão desde a semana passada 170 fotografias de Eduardo Gageiro, feitas ao longo da sua longa carreira de repórter fotográfico, desde a década de 50 até agora. É uma exposição que mostra o seu olhar de repórter sobre Portugal e os portugueses, acompanhando o desenrolar da História ao longo destas décadas. Na exposição estão imagens feitas durante o antigo regime, mas também momentos decisivos do dia 25 de Abril de 1974 e os acontecimentos mais marcantes deste último meio século. Mas estão também dezenas de retratos de pessoas como a fadista Amália Rodrigues, o escritor Luiz Pacheco, o pianista Artur Rubinstein, e diversas figuras da política portuguesa. O mundo do trabalho, na construção, nas fábricas ou na agricultura está também presente. E estão também vitrines com algumas das máquinas que usou, recortes de imprensa e memorabilia diversa. Trata-se da maior exposição realizada em Portugal da obra de Eduardo Gageiro, demorou cerca de um ano a preparar e apresenta impressões novas, feitas a partir da digitalização dos negativos originais por André Cepeda, sempre em diálogo com Gageiro e com a equipa das Galerias Municipais, Sara Matos e Pedro Faro, que acompanharam todo o processo e também com a colaboração Sérgio B. Gomes. O nome da exposição, “Factum” , evoca precisamente o registo da memória do que aconteceu, o olhar sobre os momentos. A exposição está no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional até 5 de Maio e tem entrada gratuita.
CINCO FOTOGRAFIAS - Quis o acaso que na mesma altura em que abriu a exposição de Eduardo Gageiro, surgisse uma outra forma de ver e trabalhar a fotografia, na exposição “Double Jeu”, de André Cepeda, que está exposta na Galeria Cristina Guerra até 9 de Março. A exposição conta com 5 obras inéditas que são apresentadas em grande formato, de 2,40m por 3, com provas únicas, e também tiragens de dois exemplares das mesmas imagens, de 1,20mx1,50. Há ainda uma instalação criada por Carrilho Da Graça e André Cepeda, que incorpora uma maquete imaginada pelo arquitecto, na qual estão as fotografias apresentadas na galeria, suspensa sobre uma outra fotografia de Cepeda que proporciona um suporte cenográfico à instalação. Nascido em 1976, André Cepeda é um dos mais interessantes fotógrafos da sua geração. Integrou a representação oficial portuguesa na Bienal de Veneza de 2018, tem exposto em Portugal e no estrangeiro e a sua obra faz parte de diversas colecções privadas e públicas. Nesta nova série, “Double Jeu”, com curadoria de Joerg Bader, Cepeda explora a dupla representação tanto pela sua forma como pelo seu conteúdo, convidando o espectador a fazer parte do espaço. Cada fotografia mostra duas realidades, por vezes similares, que se confrontam e complementam dentro de cada uma das imagens. André Cepeda utiliza a fotografia como suporte do que imaginou e procura mostrar em cada imagem uma reflexão pessoal, para além do registo da realidade. Os originais foram feitos em película de grande formato e os preços de venda situam-se entre os 10.600 euros das tiragens mais pequenas e os 20.000 euros das maiores. A Galeria Cristina Guerra Contemporary Art fica na Rua de Santo António à Estrela 33.
DESAFIO - Mathieu Bordenave é um saxofonista francês que tem gravado para a ECM, normalmente em trio, com o pianista Florian Weber e o baixista Patrice Moret. Para o seu novo disco, gravado em Outubro passado e agora editado, também pela ECM, “The Blue Land”, chamou o baterista James Maddren. A elegância da forma de tocar de Maddren acrescentou um toque de subtileza ao trabalho do trio, que já se pautava por uma harmonia feita de contenção e pequenas explosões, desafio normalmente assumido pelo saxofone de Bordenave, por vezes com o piano de Weber. É isso que acontece aliás logo na primeira faixa do disco, que, chamando-se “La Porte Entrouverte” funciona de facto como uma antecâmara sonora para tudo o que vem a seguir. E é logo na faixa que dá o título ao álbum, “The Blue Land”, que se começa a perceber a importância de se ter acrescentado a bateria de Maddren. Dos nove temas que compõem o disco, oito são da autoria de Bordenave e um é a versão de um tema de John Coltrane, “Compassion. E é precisamente em “Compassion” que os quatro músicos dão um exemplo de diálogo perfeito, sem procurar virtuosismos gratuitos, tomando reciprocamente espaço e protagonismo numa perfeita harmonia que se desenvolve pelas outras faixas deste álbum. É um disco feito de subtilezas, de ambientes que vão mudando, evitando a repetição, mas mantendo um fio condutor comum. São privilegiados os diálogos entre o saxofone e o piano mas há também espaço, como em “Three Four”, para que baixo e bateria ocupem o centro das atenções. “Three Peaks”, o tema que encerra o disco, é uma espécie de resumo da matéria dada e um olhar para o que pode vir. “The Blue Land” está disponível nas plataformas de streaming.
OUTRO DYLAN - A coleção “Miniatura”, dos Livros do Brasil, apresenta pela primeira vez em Portugal uma série de contos de Dylan Thomas, originalmente publicados entre 1934 e 1952. Mais conhecido pela sua poesia do que pela prosa, Dylan Thomas encontrava no entanto especial prazer na escrita destes pequenos contos onde se cruzam bruxas, pêssegos, cachorros, quotidianos soltos entre a mitologia e o humor. Nalguns é possível localizar quase uma escrita jornalística, actividade que aliás Dylan Thomas exerceu. São descrições de episódios que saltitam entre pedaços de vidas que ele observa e descreve com elegância, são histórias de amor ou de miséria, divertidas ou desoladoras, todas elas plenas de imagens reveladoras da sua ternura pelos seres que as habitam.“O Fim do Rio”, “A Escola das Bruxas”, “Os Pêssegos”, “Tal e Qual Cachorros”, “A Velha Garbo”, “Um Sábado de Calor”, “Móveis com Fartura” e “Os Seguidores” são apresentados nesta edição que recolhe as suas mais célebres narrativas curtas, com tradução de José Lima sob o título “Oito Contos”. A partir de 1934 Dylan lançou vários livros de poesia, que culminaram na publicação dos seus “Collected Poems” em 1952. Ao longo da vida foi também escrevendo contos, sendo o seu livro mais célebre o autobiográfico “Retrato do Artista quando Jovem Cão”. Nascido no País de Gales, morreu precocemente em 1953, pouco depois de completar 39 anos.
DIXIT - “As duas forças políticas centrais- PS e PSD -deixaram de somar a maioria inquestionável do eleitorado” - Teresa de Sousa
BACK TO BASICS - “Nunca se alimenta um crocodilo na esperança vã de sermos os últimos a ser devorados por ele.” - Winston Churchill.
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