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A situação de diversos media, o aperto de tesouraria de alguns dos grandes grupos e as movimentações surgidas nos últimos meses trazem cada vez mais a necessidade de saber quais as áreas onde navegamos. A publicidade é, na minha opinião, o suporte de uma imprensa livre, e não o Estado, com as suas interferências. Basta olhar para os órgãos que têm um grande peso do Estado, como a RTP ou a LUSA, para perceber que não é esse o caminho a seguir.

Neste início de ano em que a publicidade está felizmente a crescer, olhemos para o sector. É com agrado que se constata que, pela primeira vez desde há vários anos, todos os meios estão a crescer em receitas publicitárias, em comparação com o ano anterior. Mas há alguns dados que vale a pena ter em conta, sobretudo se tivermos sempre em conta que o valor da publicidade depende das audiências obtidas, quantitativa e qualitativamente.  Até há muito pouco tempo as estações de televisão generalistas captavam mais de 50% do total do investimento. Os primeiros números deste ano indicam que os canais generalistas captaram 31,6% do investimento publicitário, quase o mesmo da publicidade em meios digitais - e que é de 31,4%. Pelo seu lado os canais de cabo captam 13,1%, e são ultrapassados pelo meio que mais tem crescido, a publicidade de exterior, onde estão os mupis e os suportes de maior dimensão e que atingem já 15% dos investimento, sendo agora claramente o terceiro meio mais valorizado pelos anunciantes. O panorama completa-se com a rádio, que vale 6,5%, o total d a imprensa com apenas 1,8% (já foi o segundo meio mais valioso, logo a seguir à TV) e o cinema com 0,6%.

O crescimento da publicidade no outdoor e no digital tem a ver com a sua eficácia, por razões diferentes. O outdoor porque consegue uma cobertura larga, tocando de forma abrangente  quem anda nas ruas, e o digital porque permite alcançar de forma precisa públicos específicos.  Bastaram duas décadas para virar o universo dos media de pernas para o ar. E é esta a situação em que nos encontramos. O grande problema, sobretudo da imprensa, é que o modelo de negócio antigo, virado para receitas mistas de venda de jornais e revistas e de receitas publicitárias alterou-se radicalmente com o digital. Não é um exclusivo de Portugal, o mundo inteiro anda à procura de um modelo de negócio alternativo.

Mas vamos a mais alguns dados que nos permitem avaliar a complexidade do mundo actual dos media e a alteração dos padrões de comportamento e o surgimento de novos meios que alteram o padrão de consumo de media. Por exemplo, vamos espreitar o que indica o estudo da Marktest sobre rádio relativo a 2023: o auto-rádio é o principal suporte de escuta de emissões de rádio, seguido do telemóvel, depois o computador pessoal enquanto os tradicionais rádios portáteis e aparelhagens de som vêm em último lugar. Outro dado muito interessante é o crescimento dos podcasts, um fenómeno novo que mostra na prática um novo meio. Um estudo da Gfk Metris, feito para o grupo Impresa, indica que o consumo de podcasts cresceu 33% em seis meses. O estudo indica ainda que os consumidores de podcasts gastam em média 1h10 minutos por dia.  Em média cada inquirido no estudo ouve cinco podcasts diferentes, o dispositivo mais utilizado (83%) para ouvir podcasts é o telemóvel, e é em casa (69%) ou no carro (42%) o local onde mais ouvem.  Quase dois terços (65%) ouve podcasts nacionais,  com o humor, atualidade e entrevistas no top das preferências. Segundo as opiniões recolhidas pela Gfk, o que “mais influencia na escolha de um podcast é o tema, seguido do apresentador/autor, sendo que Ricardo Araújo Pereira é a figura pública que mais gostam de ouvir, depois surgem Nuno Markl e Joana Marques”. Por último deixo aqui este registo: em 2023 cerca de 70% dos portugueses usaram redes sociais, um valor acima da média da União Europeia. 

 

Texto originalmente publicado a 29 de Março na derradeira edição em papel do semanário NOVO.

 

 



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publicado às 09:17

UM EMBLEMA DO PAÍS

por falcao, em 28.03.24

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E A CULTURA? - Semanas antes das eleições de 10 de Março fiz nestas páginas uma abordagem às propostas existentes sobre cultura nos programas dos principais partidos. Confirmei o que intuía: a cultura foi uma área geralmente menosprezada, nos programas partidários, onde apenas surgiam ideias gerais e muito poucas propostas concretas. Quis o acaso que esta semana o livro que andei a ler, e de que falo nestas páginas, fosse a biografia de Francisco Lucas Pires. Para quem não sabe, ou não se recorda, ele foi, entre 1982 e 1983, o Ministro da Cultura do VIII Governo Constitucional, presidido por Francisco Pinto Balsemão. Relembro que essa foi a primeira vez que foi criado um Ministério da Cultura, área que até aí fora enquadrada a nível governamental por Secretarias de Estado. Ao ler a parte da biografia que aborda a actuação de Francisco Lucas Pires como Ministro da Cultura constatei que ele defendia, já em 1981, estas prioridades: atingir 1% do Orçamento de Estado a médio prazo (tinha 0,26% nessa altura - na proposta de orçamento de 2024  tinha 0,27% da despesa da administração central); em segundo lugar preconizava o investimento na criação de novos equipamentos que fossem instrumentos necessários para a fruição da cultura pelos públicos; em terceiro lugar defendia “a formação, estatuto e segurança das gentes da Cultura”, tema que deu passos mas ainda está por finalizar passados mais de 40 anos; em quarto lugar propunha uma política cultural especialmente assente na preservação e divulgação do património; em quanto lugar “a resolução das carências respeitantes às grandes infra-estruturas legislativas e administrativas”, onde muito continua por fazer, nomeadamente na autonomia de gestão de instituições e na Lei do Mecenato. Já então Lucas Pires falava do passe cultural ou da previdência social dos artistas e da importância da língua portuguesa no mundo globalizado do audiovisual que estava a surgir. São suas, em 1981, estas palavras, referindo-se à então jovem democracia portuguesa : “A cultura é um emblema extremamente importante da vitalidade e da crença num regime, e eu acho que isso continua por fazer”. Na realidade, mais de quatro décadas depois de Francisco Lucas Pires ter proferido essas palavras, muito continua por fazer. A sua agenda continua actual. Era boa ideia que o futuro Ministro da Cultura a seguisse. 

 

SEMANADA - Ao longo de cinco anos registaram-se 18 casos de fugas de hospitais de doentes com demência, quatro dos quais morreram e dois nunca foram encontrados; desde o início de 2023 a Força Aérea perdeu 19 pilotos-aviadores que pediram para sair das fileiras; o segundo período escolar terminou e existem ainda turmas sem aulas desde o início do ano lectivo a algumas disciplinas; quase 70% dos portugueses usaram redes sociais em 2023, um valor acima da média europeia; nos últimos seis meses de 2023 o consumo de podcast subiu 33%; no espaço de uma década a despesa com medicamentos nos hospitais aumentou 92% e no ano passado ascendeu a cerca de dois mil milhões de euros;  um estudo promovido por uma empresa imobiliária internacional indica que a Quinta do Lago tem preços mais altos por metro quadrado construído que Barcelona ou o Lago de Como; em 2023 os estrangeiros compraram mais de 7% das casas vendidas em Portugal e no Algarve esse número chega aos 30%; a Procuradoria Europeia está a investigar 15 suspeitas de fraude nos financiamentos comunitários, três das quais já do PRR; os números mais recentes indicam que há mais de cinco mil casais em Portugal em que ambos os membros estão no desemprego; Portugal é o oitavo país com maior taxa de emigração e 26% da população portuguesa já reside no estrangeiro; um terço dos portugueses entre os 15 e 39 anos vive fora do país; entre 2020 e 2023 a PSP registou mais de 15 mil furtos por carteiristas; quase metade dos 230 deputados eleitos a 10 de março são estreantes no parlamento; o cabaz alimentar da DECO, que avalia 63 produtos, aumentou 12 euros dessde março do ano passado.

 

O ARCO DA VELHA - Foi o poder do povo, através do voto, que deu 50 deputados ao Chega no ano do 50º aniversário do 25 de Abril. É o resultado da impotência do sistema para resolver os problemas de muita gente. Aqui está algo que devia fazer pensar os responsáveis políticos de todas as áreas. 

 

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UM EXERCÍCIO  - “Idos de Março” é porventura a mais ambiciosa exposição de André Gomes, um conjunto de quase três dezenas de obras construídas em torno de vários capítulos de uma mesma narrativa,  que evoca a sua própria vida e os seus sentimentos, assim como uma evocação da História clássica e da mitologia, explorando as linhas de tempo onde tudo se cruza. A base do seu trabalho continua a ser o registo fotográfico, manipulado e alterado, com combinações de imagens de várias momentos, localizações e épocas, na construção de um universo ficcionado que propositadamente quer manter uma aparência de realidade, que vai da auto-representação a imagens fortuitas, outras encenadas e outras construídas num processo criativo que combina a imaginação com o rigor técnico. Ponte de Lima, Quarteira, Pompeia e Nápoles são os locais que se cruzam e que servem de cenários para os vários capítulos. A expressão “ Idos de Março” designa o dia 15 do mês de Março do ano 44 A.C. , dia em que Júlio César foi assassinado no Senado de Roma, mas evoca também um momento trágico na vida do autor. A morte é aliás o fio condutor de toda a exposição, nomeadamente na evocação de Calpúrnia, a mulher de César que pressagiou a tragédia, assim como o adivinho Espurina, que avisou César dos perigos que o esperavam no Senado. O assassinato de Caio César abriu caminho a uma guerra e a tempos difíceis, como os que hoje vivemos. “Idos de Março” decorre até 17 de Abril na Galeria Diferença, Rua Filipe Neri 42 - e saliente-se que André Gomes refez para esta exposição o interior da sala principal, construindo uma nova parede que possibilita uma montagem com maior visibilidade. Foi editado um catálogo que reproduz todas as obras da exposição, um texto do autor e outros de Rui Bertrand Romão.

 

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ROTEIRO - Ana Jotta volta a utilizar ecrãs de projecção como suporte para as suas obras em “Next Song We Will Sing…”, a exposição que estará até 6 de Maio na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). Embora cada uma das 12 obras expostas (na imagem Untitled #6) possua uma identidade própria, a utilização dos ecrãs como suporte cria uma sensação de continuidade de imagem que remete necessariamente para um mundo de fantasia onde se cruza o cinema de animação com as sensações visuais que Ana Jotta cria a partir da observação do seu quotidiano diário. Outros destaques da semana: o MAC/CCB apresenta até 15 de Setembro o projecto “Evidence”, que junta o trabalho sonoro dos Soundwalk Collective com desenhos e obras de Patti Smith. Na galeria Francisco Fino (Rua Capitão Leitão 76), até 20 de Abril uma nova exposição de esculturas de Pedro Paiva,  “Em Frente da Porta, do Lado de Fora”. Na Casa da Cerca, em Almada, Isabel Cordovil apresenta até 16 de Junho a exposição “A vaidade praga-me”. Em Coimbra, na Galeria Sete (Avenida Elísio Moura 53), Rui Matos apresenta as suas esculturas até 4 de Maio. No Clube Fenianos Portuenses,  em colaboração com a associação CC11, são apresentadas 19 exposições de fotografia e uma exposição de cartoons em parceria com a Casa da Imprensa.

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MANUAL DE POLÍTICA  - Francisco Lucas Pires morreu aos 53 anos, em 1988, e a sua acção marcou a política portuguesa, nomeadamente na fundação do CDS, na definição das ideias de uma direita liberal, na constituição da primeira Aliança Democrática e no Ministério da Cultura e Coordenação Científica, onde esteve entre 1982 e 1983, num Governo presidido por Francisco Pinto Balsemão. Europeísta convicto era deputado europeu, eleito pelo PSD, quando morreu. Finalmente chega agora uma biografia de Francisco Lucas Pires, num tempo em que felizmente se escrevem muitas biografias em Portugal. Mas esta, “O Príncipe da Democracia”, escrita por Nuno Gonçalo Poças numa investigação de dois anos e meio, além de falar de Lucas Pires e da sua obra, permite perceber melhor tudo o que se passou no campo da direita em Portugal,  na primeira década e meia depois do 25 de Abril em que ainda viveu. Nestes tempos conturbados que estamos a passar, este é um livro que contribui para conhecer melhor a história recente do país. O autor sublinha que Lucas Pires esteve à frente do  seu tempo, recorda o programa para uma sociedade aberta que elaborou enquanto presidiu ao CDS e posteriormente, depois de se desfiliar do partido que ajudou a fundar e de ter aderido ao PSD, o seu papel no Parlamento Europeu e nomeadamente na ligação do PSD ao Partido Popular Europeu,  que defendeu, promoveu e concretizou. A biografia está dividida em quatro partes e a primeira vai dos seus anos de juventude e formação em Coimbra e posteriormente a sua aproximação às ideias liberais quando estudou na Alemanha. A segunda parte vai de 1974 a 1983 e relata o seu papel na elaboração da Constituição e na formação da AD e o seu trabalho enquanto Ministro da Cultura. E a terceira parte relata os últimos anos, a forma como exerceu a presidência do CDS e o seu papel na moção de censura que fez cair o governo do bloco central e desencadear as eleições de onde saíu o primeiro governo de Cavaco Silva. Finalmente a quarta parte é focada no papel que Lucas Pires teve no processo de adesão à então CEE e a sua actividade enquanto deputado europeu. Nuno Gonçalo Poças sublinha que todo o percurso de Francisco Lucas Pires é atravessado por essa ideia de que “a luta política nasce da lealdade de reconhecer nos outros a mesma capacidade que se reconhece em nós”, e de isso estar no centro da sua ideia liberal. Edição D. Quixote.

 

DIXIT - “Existe uma bizarra tolerância em Portugal para com as pessoas que cometem as maiores vilezas nos bastidores desde que mantenham as boas maneiras nos salões…A não eleição de Santos Silva é uma grande vitória da democracia . E um justo adeus com 13 anos de atraso“ - João Miguel Tavares.

 

BACK TO BASICS -  “Sim, há esquerda e direita. Só que nem uma nem outra têm o monopólio da verdade, da honradez e da liberdade “- António Barreto


A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS

 

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UM CENÁRIO SOMBRIO

por falcao, em 22.03.24

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PORTUGAL AGRILHOADO - À hora que escrevo não se conhecem os resultados da contagem de votos da emigração mas tudo indica que o imbróglio saído destas eleições - uma maioria frágil - vai ser o cenário que teremos pela frente. Para além das conjecturas sobre soluções possíveis há cinco coisas que são certas: os eleitores penalizaram o desgoverno do PS nos últimos anos; penalizaram uma classe política enredada em escândalos, corrupção e sem capacidade de fazer reformas estruturais, dando e um voto de protesto claro que beneficiou o Chega; não ficaram convencidos da bondade das propostas do PSD (a AD é uma fantasia que ainda por cima fez o disparate de usar uma sigla parecida com outro partido que estava registado); e provaram que o sistema eleitoral vigente desde há quase 50 anos, baseado no método de Hondt e sem redistribuição de votos cria um resultado no Parlamento que não representa a vontade do eleitorado e despreza quase 20% dos votos válidos. Nada disto pode ser uma surpresa: a crise agravou-se na justiça, saúde, educação e habitação, os serviços públicos degradaram-se, o país caíu para a cauda da Europa em termos económicos, o populismo entrou galopante e caçou votos à esquerda e à direita e sobretudo alimentou-se da revolta daqueles que têm sido mais deprezados e ignorados nos últimos anos. O resultado de tudo isto é um país pior, um impasse político, uma espécie de regime trancado a sete chaves nas suas contradições, erros e impotências. E o pior é que não se vê, em lado algum, uma estratégia coerente e uma liderança inspiradora. O 50º aniversário do 25 de Abril não podia correr em pior cenário. Não é bonita a festa, pá.



SEMANADA - Os preços das casas em Lisboa em 2023 subiu 6,3% face ao ano anterior; um estudo publicado pelo Expresso indica que nas recentes eleições os jovens optaram por novos partidos e as mulheres votaram mais à esquerda;  outro estudo recente indica que a IL, o Livre e o Chega são os partidos mais escolhidos pelo eleitorado jovem e o PS é o que colhe menos preferências nessas faixas etárias; há 45 cargos institucionais a designar pela Assembleia da República e que necessitam de um entendimento entre PSD e PS; em 2023 quase 13% da população vivia numa casa sobrelotada e 6% vivia em situação de privação severa das condições de habitação; em relação ao tratamento de dependências do alcóol e drogas apenas 15% das unidades especializadas dão resposta aos que as procuram dentro do tempo recomendado e o número de pessoas em lista de espera para a primeira consulta ultrapassa as duas mil; Brasil, Nepal, Índia, Bangladexe e Cabo Verde são as principais origens dos imigrantes que estão a chegar a Portugal, cujo número quintuplicou nos últimos oito anos; as contribuições  pagas por imigrantes à Segurança Social representam 10 % do total enquanto em 2015 se situavam nos 2%; a hotelaria e turismo empregou 115 mil imigrantes em 2023; os alunos da escola D. Afonso Henriques, em Creixomil, Guimarães, assistem às aulas embrulhados em mantas para enganar o frio e não têm espaços para se abrigarem da chuva nos intervalos. 

 

O ARCO DA VELHA - Quase 1,2 milhões de votos nas eleições legislativas não serviram para eleger qualquer deputado, o que representa 19,5% dos votos válidos - apurou um estudo do matemático Henrique Oliveira, do Instituto Superior Técnico.  

 

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SOBRE O ESPAÇO - Na Galeria Fernando Santos, no Porto, Pedro Calapez apresenta até 9 de Junho uma nova exposição, “Enquanto o Espaço For”, com obras quase integralmente feitas em 2023 e já em 2024. Calapez apresenta pinturas a óleo e acrílico sobre tela, alumínio e papel. Nas salas principais apresentam-se quatro séries de trabalhos em pintura, datados de 2023 e 2024, e realizados em tela, papel ou em caixas de alumínio na linha de criação de objecto-pintura que a obra de Calapez apresenta há vários anos. Uma grande obra em alumínio recortado sobressai entre  todas as outras, contrapondo o vazio da parede à superfície da pintura e criando a noção da ocupação do espaço que o título da exposição sugere. No espaço Cubo, da Galeria Fernando Santos, dedicado a projectos especiais, Calapez apresenta “Autumn Leaves”, uma obra especificamente realizada para esse local, composta por 160 peças em chapa de alumínio, recortados a jacto de água. Composta por restos de outros cortes, material que se destinava ao lixo, foram recuperadas e preparadas pelo artista para organizar uma espécie de puzzle que ocupa completamente uma parede. Nesta exposição Pedro Calapez apresenta ainda dois outros conjuntos de trabalhos - uma série de desenhos a ponta de prata sobre fundo branco que mostram formas que posteriormente utiliza como esquemas de base para pinturas e desenhos; e dois conjuntos de impressões a jacto de tinta, algumas em grande dimensão, que são transcrição directa dos desenhos que manipula, criando de raiz em computador. É também apresentado na Galeria um vídeo com uma entrevista a Pedro Calapez, feita por Dalila Pinto de Almeida no seu atelier em Lisboa. Na imagem está a obra “Sem título #02, já de 2004, um acrílico sobre tela, de 194x286 cms, que está à venda por 32.500 euros. Galeria Fernando Santos, Rua Miguel Bombarda 526, Porto.

 

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ROTEIRO - A Fundação Gulbenkian apresenta até 15 de Abril uma exposição retrospectiva da obra de Cruz-Filipe (na imagem), pinturas realizadas desde a década de 1970, incluindo dez telas inéditas pintadas a partir de 2015, a par de um conjunto de trabalhos nos quais se conjugam pintura e fotografia, uma marca criativa e técnica desenvolvida pelo artista. A exposição é apresentada na galeria do piso inferior da Fundação e tem entrada gratuita. Na Culturgest está até 30 de Junho a exposição “Mezzocane”, de Enzo Cucchi, um artista italiano associado ao movimento  ”Transavanguardia” que emergiu naquele país nos anos 80.  “Mezzocane” reúne uma seleção alargada das pinturas, esculturas e desenhos que Cucchi realizou nas duas últimas décadas. Paralelamente a Culturgest apresenta também uma exposição baseada no arquivo do artista, “Il Libraio e L’artista”. Cucchi teve a ideia original de transformar o arquivo do seu trabalho num videojogo, que pode ser jogado através de uma App indicada na exposição. Integrado no programa Serralves Fora de Portas, o Fórum Braga apresenta a exposição “Razão Inversa”, com obras de Fernando Calhau da colecção de Serralves e de algumas colecções que lá estão em depósito. A exposição, que mostra quatro décadas do trabalho de Fernando Calhau, fica no Fórum Braga até 16 de Junho. Finalmente, em Évora, no no Centro de Arte e Cultura (CAC) da Fundação Eugénio de Almeida (FEA), Alfredo Cunha expõe até final de outubro Outubro mais uma exposição das suas obras com foco no 25 de Abril, com o título “O Tempo de Todas as Perguntas”.

 

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UM DISCO PARTILHADO  - Desafiar uma rapper a escrever poemas para melodias de fado tradicional é um desafio arriscado. Mas foi isso que Aldina Duarte fez quando convidou Capicua a escrever sobre melodias de fados da autoria de Alfredo Duarte (Marceneiro), Fontes Tocha, Raul Ferrão, Armando Machado, Júlio Proença, Joaquim Campos Silva ou José Marques. Da colaboração entre Capicua e Aldina nasceu o disco que fizeram juntando talentos e que por isso mesmo se chama “Metade-Metade”. Conta Capicua que, quando recebeu o convite, aceitou na condição de que Aldina Duarte lhe ensinasse os segredos dos poemas do fado e lhe desse lições sobre as suas regras e estruturas. Talvez por isso tenha escrito “Aprendiza”,  sobre música de Raul Ferrão. O primeiro fado do disco “Araucária” remete para o nome de uma árvore, ao mesmo tempo que marca um dos temas centrais deste álbum, a contemplação da natureza, as florestas, o correr das estações do ano, as dúvidas da vida e as suas celebrações até ao regresso às coisas básicas, bem ilustrado no tema final, “Eterno Retorno” onde um piano marca a música de Alfredo Marceneiro. São dele aliás outros fados marcantes de “Metade-Metade”, como “Tentativa”, “Duas Mãos” ou “A Dúvida”, onde a voz de Aldina se cruza com o som de uma harpa. Também a reter entre os 11 fados que estão no disco, são “Primavera”, “Majestade” e “Tentativa”. A produção do disco é da própria Aldina, cuja voz é acompanhada pela harpa de Ana Isabel Dias, a guitarra portuguesa de Bernardo Romão, a viola de Rogério Ferreira e o piano de Joana Sá. O disco será apresentado ao vivo num concerto no Coliseu de Lisboa no dia 17 de Abril.

 

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OS ANOS DA BRASA - O título do livro é “Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975” e o subtítulo é “Episódios menos conhecidos”. Fica pois aguçada a curiosidade e ela não é defraudada. Esta nova obra da historiadora Irene Flunser Pimentel está cheia de informações pouco conhecidas sobre aquele período imediatamente posterior à queda da ditadura, informações e narrativas provenientes de entrevistas que a autora fez a um conjunto alargado de intervenientes militares e civis que participaram em todo o processo. No prefácio Irene Flunser Pimentel conta como começou a investigação através de entrevistas online durante a pandemia a alguns ex-oficiais da Marinha que considerou “terem tido muita importância em vários episódios da nossa transição para a democracia, desde o 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975, mas cuja acção foi de certo modo apagada, pois alguns deles contaram-se entre os “derrotados” nesta última data”. Na sua investigação a autora recorreu ao trabalho de vários historiadores e reconhece que “nem todos estarão de acordo relativamente ao facto de o 25 de Abril ter sido uma revolução ou um golpe de Estado”. Ao longo de três partes distintas o livro aborda os últimos anos da ditadura e a guerra colonial, a polícia política, as relações externas e os aliados de Portugal antes de 1974, o 25 de Abril e o período que se seguiu, com a libertação dos presos políticos e a evolução do MFA , a acção de países como EUA, França e Alemanha, o 11 de Março e a criação do Conselho da Revolução, o verão quente de 75 e finalmente todos os acontecimentos à volta do 25 de Novembro. O livro, editado pela Temas & Debates é um precioso auxiliar para compreender melhor o que se passou há cinco décadas.

 

DIXIT - “Não se sabe qual é o Governo, nem qual é o seu programa, muito menos em que condições é formado, mas já se sabe que há quem vote contra” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Aconteça o que acontecer o país está encravado” -  anónimo


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QUE FAZER? - O resultado das eleições legislativas foi, para muita gente, uma surpresa e, para bastante, um choque. Esta surpresa e choque, em vez de motivarem acção, parecem ser o combustível para a inacção - a velha fatalidade lusitana. Vamos por partes: criado em 2019, no último ano da primeira legislatura de António Costa, o Chega foi levado ao colo por ele, desejoso de abrir uma brecha no PSD, o partido rival. O PS apaparicou o Chega desde então, com a preciosa ajuda, no Parlamento, do pior Presidente da Assembleia da República que este regime já teve, Augusto Santos Silva, que não perdeu uma oportunidade para dar palco a André Ventura, vitimizando-o e dando esteróides ao seu eleitorado; depois, o resultado das eleições resulta da avaliação feita aos Governos do PS que se encheram de casos e escândalos, incapazes de promover reformas, atirando Portugal, com a geringonça e a solo, para a cauda dos indicadores económicos da União Europeia. Passemos agora ao presente: o mal dos principais partidos  é que os seus líderes pensam somente em ganhar poder, nem sabendo bem como o exercer a bem do país. Daí o facto de PS e PSD se comportarem na política como o Benfica e o Sporting no futebol: rivais que nunca se entenderão e cujas claques se guerreiam. E daqui saltemos para o futuro: a situação resultante das eleições, com a emergência de um terceiro partido com dimensão apreciável, exige respostas forçosamente diferentes face aos novos problemas. Subscrevo totalmente aquilo que António Barreto escreveu no “Público” no dia a seguir às eleições, sob o título  “Bloco central, evidentemente!”: “Só há duas soluções possíveis, sem os arranjos habituais da classe política portuguesa. Primeira: maioria de direita, com coligação ou aliança entre a AD e o Chega. Segunda: um bloco central entre o PSD e o PS. Todas as outras são receitas para o desastre. Apoia, mas não vota. Vota, mas não trata. Faz aliança, mas não quer papel. Quer papel sem compromisso. Deixa passar a moção, mas o orçamento não ou logo se vê. Faz exigências para o orçamento, mas abstêm-se. Não apresenta moção, mas vota contra. Nem uma coisa nem outra, não há nada como evidentemente.” 

 

SEMANADA - O número de acidentes rodoviários provocados por animais selvagens duplicou nos últimos quatro anos; nos últimos três anos abriram em Portugal 418 novos hotéis e há mais 60 prestes a inaugurar; no final do ano passado o INE contabilizava 1623 hotéis em Portugal; a baixa produtividade da economia fez de Portugal o quarto país que menos cresceu na UE depois da entrada do euro; a economia portuguesa está entre as 20 mais lentas do mundo; os portugueses têm o sexto rendimento mais baixo da UE; já fomos ultrapassados pela Croácia, Letónia e Lituânia e apenas estamos à frente da Grécia, Hungria, Roménia, Eslováquia e Bulgária; em 2023 chegaram ao aeroporto de Lisboa 33,6 milhões  passageiros, quase metade do total do país; nos últimos três anos foram registadas mais de 31 mil vítimas de violência doméstica um aumento de 22,9%; no ano lectivo 22/23 os crimes nas escolas aumentaram 9%; o preço do azeite subiu 69% em Portugal no espaço de um ano; os portugueses gastaram mais 15 mil milhões de euros em jogos online em 2023, mais 35% que no ano anterior; mais de um quinto dos jovens que participaram num estudo sobre literacia digital afirmou já ter partilhado nas redes sociais informações que não tinham lido na íntegra e que depois perceberam ser falsas; graças ao sistema eleitoral vigente os distritos do interior perderam nove deputados entre 1991 e 2024; 673.382 é o número de votos que foram “desperdiçados” nestas eleições legislativas, ou seja, que não foram convertidos em mandatos, cerca de 11% do total de votos válidos. 

 

O ARCO DA VELHA - O Estado esqueceu-se das comemorações dos 500 anos de Camões, mas esta semana descobri que aquilo de que o Estado se esqueceu não passou despercebido ao  El Corte Inglés que nos seus espaços culturais programou  três conferências, um curso e duas leituras de poesia. Bem mais que as entidades públicas fizeram.

 

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A OFICINA - Fundada em 1914 a Cooperativa dos Pedreiros tem uma longa história ligada à construção na cidade do Porto, desde monumentos até edificios emblemáticos, como a actual sede da autarquia ou a estação de S. Bento. Na década de 60 do século passado a Cooperativa dos Pedreiros construiu na Rua da Alegria 598 o edifício Miradouro que tem uma das melhores vistas da cidade. No piso térreo de parte do edifício estavam as antigas oficinas da Cooperativa dos Pedreiros e é nesse espaço que há uns anos Nuno Centeno instalou a sua galeria de arte contemporânea, mantendo a traça e os materiais originais. José Pedro Croft expõe agora pela primeira vez na Galeria Nuno Centeno, com uma mostra a que deu o nome de “Cooperativa dos Pedreiros” e que ali ficará até 20 de Junho. A exposição integra 20 trabalhos novos de Croft, coexistindo desenhos a guache e tinta da china, frequentemente sobre gravura, formando por vezes dípticos, ao lado de esculturas em ferro, vidro e espelhos. No fundo a exposição retoma os eixos principais do trabalho de Croft, a escultura, a gravura e o desenho e desenvolve-se como uma evocação da oficina onde nas paredes estão desenhos que criam uma relação com as peças escultóricas das várias salas. No texto que acompanha a exposição Luís Quintais sublinha que o trabalho de Croft evoca uma “arte da memória que pretende evidenciar os espaços onde expõe”, combinando “o rigor do minimalismo com uma certa intensidade expressiva”.

 

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ROTEIRO - Esta semana o destaque vai para a nova exposição de Paulo Brighenti, na Galeria Pedro Oliveira (Calçada de Monchique 3, Porto), que até 17 de Abril apresenta “Dobrar A Noite”, inspirada nem deambulações nocturnas em Maceira,  a aldeia onde o artista tem o seu atelier. Brighenti usa materiais como a cera de abelha, linho, cimento, cobre, pigmentos, aguarelas e tintas de óleo,  em torno de temas como resistência, ecologia ou a  permanência da memória (na imagem). Em Lisboa Ana Manso apresenta”Menstrum” na Galeria Pedro Cera, Rua do Patrocínio 67-E. A Galeria de Santa Maria Maior, em colaboração com a plataforma P’la Arte, apresenta a colectiva “Nós Que Acreditamos na Liberdade” que expõe trabalho de oito artistas surgidos após 25 de Abril de 1974: Fidel Évora, Francisco Gomes, Francisco Trêpa, Margarida Alfacinha, Maria Luz, Mariana Duarte Santos, Paulo Albuquerque e Thomas Mendonça. A exposição fica patente até 30 de Março, de segunda a sábado, entre as 15 e as 20h00 na Rua da Madalena 147.  Em Vila Franca de Xira, na Galeria Pedro Jaime Vasconcelos (Rua Miguel Bombarda 155), a artista plástica sérvia Marija Toskovic , que vive e trabalha em Lisboa, apresenta a exposição “O Outro Lado”. 

 

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MÚSICA QUE NÃO SE ESQUECE - J.P. Simões começou a incorporar nos concertos, desde há alguns anos,  versões suas de canções de José Mário Branco. Aliás, no seu disco de estreia a solo, “1970” já tinha incluído uma versão de um dos temas mais conhecidos de José Mário Branco, “Inquietação”. E agora, por desafio da editora Omnichord Records, seleccionou outros oito temas de referência da sua obra, entre os quais “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, “Perfilados de Medo”, “Travessia do Deserto”, “Mariazinha” e “Sopram Ventos Adversos”. A direcção musical é de Nuno Ferreira, que efetuou um trabalho notável de recriação das canções para as actuações ao vivo e para este disco. Além de Nuno Ferreira, na guitarra e voz, JP Simões é acompanhado por  Pedro Pinto (contrabaixo), Ruca Rebordão (percussão) e Márcio Pinto (marimba e electrónica). Pela primeira vez JP Simões lança um disco onde é exclusivamente intérprete das canções de outra pessoa e considerou numa recente entrevista que este “é talvez o disco mais íntimo que alguma vez produzi”. J.P. Simões integrou os projectos Pop Dell’Arte, Belle Chase Hotel e Quinteto Tati,  tem já uma marcante carreira a solo, e além de músico e compositor é letrista, contista e dramaturgo. Este disco combina de forma sensível o enorme talento musical e poético de José Mário Branco, com a capacidade interpretativa de JP Simões, que verdadeiramente recriou os temas originais sem nunca os atraiçoar. O disco foi gravado entre Leiria e Sintra, está disponível nas plataformas digitais e tem edições limitadas em CD e vinil.

 

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POESIA PARA DIAS DIFÍCEIS - Atravessamos tempos difíceis no mundo, na Europa e também em Portugal. Seja pela guerra, pela economia ou pela incerteza quanto ao futuro, há uma tensão no ar que tem tendência a aumentar. Nestas alturas sabe bem ler e pensar, ler alguma coisa que nos ajude melhor a pôr os problemas em perspectiva e que nos ajude a aliviar a tensão. Por isso a minha recomendação de hoje é um livro publicado em Portugal há menos de um mês, “Tal como És: versos e reversos do Ryokan”. Trata-se de uma recolha da obra poética de Ryokan, um calígrafo e monge nipónico do século XIX. Esta edição foi traduzida a partir do japonês por Marta Moraes e constitui uma antologia que percorre a obra de Ryokan. “Tal como És” é uma colecção de poemas “ordenada numa espécie de narrativa ou história de vida, bebida algures no fazer da antropologia”, sublinha Marta Moraes numa introdução à obra que, juntamente com o posfácio, igualmente da sua autoria, ajuda a localizar tudo o que envolve Ryokan, a evolução da poesia japonesa e a importância da obra deste autor. A poesia de Ryokan é tocada por todas as formas tradicionais japonesas, revelando imagens fortíssimas que aliam um pendor contemplativo aos ensinamentos do budismo zen. Os mais de 400 poemas aqui compilados surgem alinhados em sete partes, de acordo com os momentos mais marcantes da vida do autor. Ryokan nasceu em 1758 e cedo renunciou ao mundo, seguindo os ensinamentos budistas da escola soto. Viveu o resto da sua vida como um eremita, e tornou-se conhecido nos dias de hoje pela sua dedicação às artes, naturalmente interligadas, da poesia e da caligrafia. Esta edição bilingue inclui cerca de 400 poemas, é ilustrada com algumas das caligrafias, está   pensada como uma narrativa da vida do monge e tem a chancela da Assírio & Alvim.

 

DIXIT - “Todos os votos do Chega são votos contra os outros partidos….Os partidos do contra só sabem ser do contra.Não servem para mais nada” - Miguel Esteves Cardoso

 

BACK TO BASICS - “Uma pessoa esperta resolve um problema; uma pessoa sábia evita-o” - Albert Einstein.

 

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SOBRE ELEIÇÕES E A LIBERDADE DE VOTO

por falcao, em 08.03.24

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A UTILIDADE DO VOTO - Nos últimos dias acentuou-se a caça ao chamado “voto útil”, aquela situação em que os grandes partidos comprovam que gostariam de ter um sistema político menos representativo, arredando partidos mais pequenos e condicionando o comportamento do eleitorado à escolha entre os dois maiores partidos. Mas, o voto útil é  uma distorção da democracia, uma limitação da liberdade de escolha. As eleições e todo o sistema democrático em que vivemos foram criados com base no pressuposto de que o voto significa a escolha no partido com o qual cada eleitor mais se identifica. Nas actuais eleições o Tribunal Constitucional aceitou a presença de 17 partidos e coligações, portanto o leque de escolha é amplo e essa diversidade é um direito conquistado há 50 anos. Querer celebrar 50 anos de liberdade política e depois querer limitar as opções de voto é uma manifesta hipocrisia. Luís Montenegro e Pedro Nuno dos Santos protagonizam, nestas eleições,  quem quer limitar o exercício da liberdade de voto. Pior, representam também os principais opositores à alteração do sistema eleitoral, impedindo que se ganhe uma maior representatividade que evidencie a escolha dos eleitores. Um estudo recente do politólogo Luís Humberto Teixeira indica que foram desperdiçados em todas as eleições legislativas, desde 1975, quase oito milhões e meio de votos válidos que não foram transformados em mandatos, afetando os partidos de menor dimensão. Muitos estudos indicam que a criação de um círculo nacional de compensação atenuaria em muito esta situação. Mas PS e PSD bloqueiam sistematicamente a sua criação, Na realidade os que agora querem condicionar as eleições com o apelo ao voto útil são os mesmos que não permitem que o sistema eleitoral seja alterado. Apelar ao voto útil é, em certa medida, cortar a liberdade de expressão e negar a liberdade de escolha. É uma boa altura para relembrar estas palavras de John Stuart Mill, no seu ensaio “Sobre a Liberdade”: "O mal particular em silenciar a expressão de uma opinião é que constitui um roubo à humanidade; à posteridade, bem como à geração actual; àqueles que discordam da opinião, mais ainda do que àqueles que a sustentam. Se a opinião for correcta, ficarão privados da oportunidade de trocar erro por verdade; se estiver errada, perdem uma impressão mais clara e viva da verdade, produzida pela sua confrontação com o erro – o que constitui um benefício quase igualmente grande." 

 

SEMANADA - A utilização dos medicamentos genéricos significou uma poupança de 580 milhões de euros aos consumidores; as renegociações dos empréstimos bancários à habitação dispararam 26% no ultimo ano; para conceder crédito à habitação alguns bancos exigem licenças eliminadas pelo programa Simplex; segundo o Bastonário da Ordem dos Médicos 20% dos clínicos que terminam o curso  não querem entrar no SNS;  a GNR registou 21 548 queixas por burla, o ano passado, o que dá 59 crimes do género por dia e um aumento de 20% dos casos face a 2022, com destaque para as burlas informáticas e nas comunicaçãoes e a fraude bancária; a Igreja Católica regista uma perda de cerca de 500 mil fiéis nas missas de domingo, cerca de 25 por cento  do total em relação a 2019; as receitas das paróquias, assentes em donativos, caíram nos últimos anos de 60 para 35 milhões de euros; no ano passado a Polícia Judiciária investigou 3223 novos crimes sexuais, uma média de 268 por mês, quase nove por dia e cerca de 70% dos crimes foram praticados contra crianças e jovens, com especial incidência na faixa etária dos 8 aos 13 anos; o mesmo estudo indica que a maioria dos agressores são do sexo masculino e as vítimas são, em grande maioria, do sexo feminino (cerca de 80%); de acordo com os dados da Autoridade Nacional de Comunicações ainda são realizadas por dia 7939 chamadas em cabines, perto de três milhões por ano no total das 10.586 cabines actualmente existentes; segundo os dados da Pordata, dos 16 govcernos saídos das eleições legislativas que ocorreram desde 1976 apenas seis governaram – três do PSD e três do PS – nos quatro anos de mandato; nas últimas duas décadas o PS governou 15 anos e viu cair três dos seus cinco governos.

 

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UM PENSAMENTO INTELIGENTE - “Gostaria de ver uns quantos pelotões de intelectuais que são também feministas a participar na guerra contra a misoginia à sua própria maneira, deixando que as implicações feministas se mostrem residuais ou implícitas nas respectivas obras, sem correr o risco de serem acusadas pelas irmãs de deserção. Não gosto de agendas partidárias. Dão azo a monotonia intelectual e a má prosa” .  Estas palavras, cada vez mais cheias de sentido, que se aplicam a tantas áreas artísticas também, são uma exemplar afirmação da qualidade de pensamento de Susan Sontag. Este pensamento está bem patente em “Sobre as Mulheres”, uma nova colectânea de ensaios de Sontag, organizada em 2023 pelo seu filho David Rieff. São sete ensaios, uma entrevista e uma troca de argumentos, em textos que abordam temas diversos. Publicados 20 anos depois da morte da autora, estes textos são prova da inteligência de Susan Sontag, tão evidente na forma como aborda temas relevantes ainda nos dias de hoje, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. «As mulheres deviam deixar que os rostos mostrem as vidas que viveram. As mulheres deviam dizer a verdade». O pensamento de Sontag revela também uma enorme solidez política e um repúdio genuíno por categorizações fáceis. Com tradução de Vasco Teles de Menezes e edição da Quetzal, “Sobre As Mulheres” é um livro fascinante.

 

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UMA VOZ TROPICAL - O novo disco da cantora cabo-verdiana Nancy Vieira chama-se “Gente” e, nas palavras da cantora, é inspirado pela multiculturalidade que se vive nas ruas de Lisboa, onde vive - o disco percorre os territórios do funaná, morna, samba, jazz e fado, sem nunca esquecer a influência da música de Cabo Verde. A produção de “Gente” é de Amélia Muge, José Martins e da própria Nancy Vieira,  o álbum foi gravado em Lisboa e conta com a colaboração de outros artistas como Mário Lúcio que assina quatro temas, os Acácia Maior, Paulo Flores (Angola), Remna Schwarz (Guiné-Bissau) e António Zambujo. O disco tem 14 temas e “Sol Di Nha Vida”, o primeiro a tocar na rádio, tem letra e música de Mário Lúcio, ex Ministro da Cultura de Cabo Verde e líder de Simenteira, uma referência da música cabo-verdiana. O lançamento de “Gente” está previsto para 15 de Março e o concerto de apresentação decorre hoje,  8 de Março, no Teatro S. Luiz , em Lisboa. Acácia Maior, Fogo Fogo, Remna, Mário Lúcio, Paulo Flores e Amélia Muge são alguns dos nomes que vão subir ao palco do S. Luíz com Nancy Vieira. Fotografia de Augusto Brázio.

 

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ARTE COMPROMETIDA  - “Existem Pedras Nos Olhos” é uma exposição que podia ter sido pensada para a envolvente actual do Dia Internacional da Mulher. O trabalho de Alice Geirinhas é um permanente manifesto político que usa diversos processos criativos para vincar a sua mensagem essencialmente feminista, focada em  assuntos da identidade, da sexualidade, da igualdade de género. A exposição apresenta obras datadas de diversos períodos e que utilizam vários media, do desenho à pintura, das artes gráficas à ilustração, do vídeo à instalação. O resultado é um manifesto caótico que nalguns momentos se pretende provocador, mas frequentemente se evidencia redutor e permanentemente tendencioso - uma resposta construída da mesma forma que o universo de exclusão que pretende abordar. Esta é daquelas exposições onde arte e propaganda se confundem, nem sempre da forma mais eficaz. A montagem escolhida das três dezenas de obras apresentadas assume o carácter propagandístico da exposição, funcionando como uma série de manifestos visuais onde o posicionamento identitário é o mais evidente ponto comum. No site da Biblioteca de Arte da Gulbenkian, Alice Geirinhas é apresentada como “uma artista visual que na sua investigação e criação artística – desenho e ilustração, instalação, vídeo e performance - explora temas feministas, questões de identidade, sexualidade e igualdade de género”. É exactamente isso que se vê na exposição “Existem Pedras Nos Olhos”, com curadoria de Ana Anacleto, que fica patente até 28 de Abril na Galeria Quadrum, Palácio dos Coruchéus, Rua Alberto de Oliveira 52, Lisboa. (fotografia José Frade).

 

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ROTEIRO -  O destaque deste dia vai para a exposição “As Mulheres de Maria Lamas”, no átrio da Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian, em Lisboa. A exposição (na foto) tem curadoria de Jorge Calado e apresenta pela primeira vez a obra fotográfica de Maria Lamas cuja face mais conhecida até agora era o livro “As Mulheres do Meu País”. A mostra apresenta uma seleção de 67 das suas fotografias, maioritariamente provas da época, de pequenas dimensões, entre 8 x 6 cm e 14 x 18 cm, mas também algumas ampliações. Estão igualmente expostas provas da época de outros fotógrafos incluídas na obra “Mulheres do Meu País. São ainda mostrados objetos pessoais de Maria Lamas, bem como o seu retrato pintado por Júlio Pomar em 1954  e o busto em gesso esculpido, em 1929, por Júlio de Sousa. A secção destinada à sua obra literária e jornalística inclui exemplares de primeiras edições de livros que produziu nas áreas de literatura infantil, poesia e ficção, assim como traduções, e artigos que escreveu enquanto jornalista. “As Mulheres de Maria Lamas” fica exposta até 28 de Maio. Mudando de assunto, a artista plástica Sara Mealha foi a convidada das Galerias Municipais/ EGEAC  para o seu espaço institucional na ARCO Madrid, que decorre até 10 de Março onde apresenta duas pinturas de grande formato com  composições plásticas e gráficas, numa montagem que pretende evocar o processo de execução no atelier. E a terminar, na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva está exposto até 2 de Junho um conjunto de desenhos de pequeno formato do espólio de Ofélia Marques, uma artista representativa da segunda geração do modernismo português. 

 

DIXIT- “As presentes eleições e respectiva campanha são as mais certeiras demonstrações deste caminho para a destruição dos partidos como centros de racionalidade”- António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Nada é tão útil na política como uma memória curta” John Kenneth Galbraith

 

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OS TEMAS MARGINAIS - De acordo com sondagens recentes um quinto dos portugueses declara não saber ainda em quem votará nas eleições de 10 de Março. Os debates praticamente terminaram e um estudo publicado esta semana pela Universal Media indica que existe uma diminuição de audiência dos debates eleitorais face aos números registados nas legislativas de 2022, nomeadamente nos canais generalistas - RTP1, SIC e TVI, embora nos canais informativos do cabo haja um ligeiro aumento. Isto pode querer dizer que a grande massa de espectadores se interessou menos em ouvir os líderes partidários, mas que os maiores consumidores de informação lhes dedicaram maior atenção. A ver vamos  o que isto significa em termos de abstenção. Acredito que é em tempo de campanha que se pode ver a atenção que os políticos dão a temas correntes.  Fora da agenda dos grandes tópicos da propaganda, que são a saúde, a educação, a habitação, os pensionistas e os impostos, pouco se discutiu. A justiça, ausente durante o início dos debates, foi para lá empurrada pelo que aconteceu na Madeira e a segurança entrou na liça pelos protestos das forças policiais. Da posição de Portugal face à situação internacional, particularmente na Europa, não se fala (e seria curioso atendendo ao carinho que algumas das forças concorrentes dedicam à Rússia e a Putin), a Cultura, como já aqui escrevi, é tema desinteressante para os políticos salvo na altura de uns convívios e jantares com artistas. Mas há outro tema, que antes do início da campanha andou nas bocas do mundo, e que agora desapareceu - a situação de crise profunda na imprensa e na comunicação social. Todos se mostraram muito preocupados e agora o tema está desaparecido. Também ninguém fala  do serviço público audiovisual - a RTP está bem assim, que entendem os partidos que deve ser melhorado no funcionamento, papel e missão do serviço público?  Como deve ser revisto o contrato de concessão e a sua governança? Justifica-se um Conselho Geral Independente cuja actividade e competência é um mistério? Quais as obrigações que a RTP deve cumprir e qual o seu enquadramento na estratégia audiovisual da língua e cultura portuguesas? Pensar nestes assuntos é uma maçada para os políticos, não é?

 

SEMANADA - O Governo estima que há 300 mil registos de utentes nas listas dos médicos de família que correspondem a pessoas que já não residem em Portugal ou que já não deveriam estar registados; mais de 80% dos médicos dos hospitais privados mantêm um posto de trabalho no SNS, numa situação de duplo emprego; o actual ciclo de subida do desemprego é o maior dos últimos 8 anos; o valor médio, bruto, da hora de trabalho pago em Portugal é de 4,65 euros; segundo a Caritas, no período 2019-2023 não se registaram progressos significativos no combate à pobreza mais extrema em Portugal; os empréstimos ao consumo estão a subir há 12 meses; o preço do azeite subiu 69% num ano; nas legislativas de 2019 e 2022 cinco em cada dez portugueses não foram votar e Portugal está entre os países da UE onde menos se vota em eleições para formar Governo; a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima registou nos últimos cinco anos 6776 crimes sexuais contra crianças; em 2023 a mesma Associação registou 23.465 crimes de violência doméstica; o governo  transformou a Parque Escolar em Construção Pública para acelerar os projectos nesta área, mas mais de oito meses depois, a empresa ainda só lançou um concurso na área da habitação; o Estado ainda deixa fugir 713 milhões de euros de IVA por ano;  em 2022, as escolas do território continental eram frequentadas por 105.855 crianças e jovens de nacionalidade estrangeira, oriundos de mais de 200 países, menos de 10% do total de alunos inscritos.



O ARCO DA VELHA - O SNS gastou 37 milhões de euros com um medicamento originalmente destinado a diabéticos, mas que é também usado para perder peso.

 

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SERRALVES AUMENTADA - Desde a semana passada há um novo espaço para visitar em Serralves, a Ala Álvaro Siza, dedicada a acolher no futuro todas as exposições de obras da coleção, ou as dedicadas à arquitetura e aos vários arquivos depositados na Fundação de Serralves. Recordo que Álvaro Siza foi o arquitecto do Museu de Serralves, inaugurado há 25 anos. Para estreia do novo espaço foi criada a exposição “Anagramas Improváveis”, que reúne mais de 160 obras de 80 artistas, todas da colecção de Serralves,  e também a exposição C.A.S.A.- Colecção Álvaro Siza Arquivo, baseada em projectos de Álvaro Siza, contemplando diversas fases da sua carreira. Em “Anagramas Improváveis” cruzam-se obras de artistas de diferentes gerações e nacionalidades, com curadoria de Marta Almeida, Isabel Braga, Inês Grosso, Ricardo Nicolau, Joana Valsassina e Philippe Vergne. A exposição sublinha a ligação da Coleção de Serralves aos  movimentos artístico-literários dos anos 1960–70, recorda a exposição portuguesa Alternativa Zero (1977) e a exposição-manifesto que inaugurou o Museu de Serralves, Circa 1968 (1999), proporcionando diálogos entre obras produzidas em tempos e geografias muito distantes. A exposição apresenta também uma peça sonora de Luísa Cunha, criada especificamente para o novo edifício, e uma série de aquisições recentes de artistas jovens, ao lado de obras de artistas pertencentes a gerações mais antigas, como, entre outros, Joan Jonas, Lourdes Castro, Lothar Baumgarten, Cabrita, Julião Sarmento, Paula Rego, Lygia Pape, Ana Jotta ou Helena Almeida (na imagem a obra “Pintura Habitada, de 1975, fotografada por Filipe Braga). Para terminar a Fundação de Serralves anunciou entretanto que acolherá em depósito a importante colecção do galerista Mário Teixeira da Silva (Módulo - Centro Difusor de Arte), que morreu no ano passado.

 

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ROTEIRO DAS BOAS VISTAS - Na próxima semana uma considerável parte das galerias e colecionadores de arte rumará a Madrid para mais uma edição da ARCO, entre 6 e 10 de Março. Entretanto, na semana passada, Pedro Cabrita Reis inaugurou em Madrid, na Galeria Albarran - Bourdais (Barquillo 13, Madrid) a sua exposição “Museum”, para a qual o artista criou um conjunto de instalações no local, combinando escultura com pintura (na imagem). A Galeria editou um jornal da exposição que inclui uma conversa entre Pedro Cabrita Reis e Hans Ulrich Obrist. Voltando à ARCO, parabeńs à Fundação PLMJ, que recebe este ano da organização o prémio  atribuído pela ARCO Madrid à sua actividade enquanto promotor da colecção de arte, que tem curadoria de João Silvério e que esteve recentemente exposta em Lisboa, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional. Outras sugestões: em Lisboa, na Galeria da Boavista (Rua da Boavista 50) poderá ver “Babuíno Talismã”, uma exposição de imagens fotográficas de Daniela Ângelo que ficará patente até 31 de Março; no Centro Cultural de Cascais pode ver até 14 de abril de 2024, “QUID”, uma exposição de pinturas inéditas da artista portuguesa Isabel Sabino, que reúne cerca de 60 pinturas selecionadas pela artista e produzidas desde 2018.

 

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BLUES INESPERADOS - Quando penso em vibrafones vem-me logo à memória a forma como Lionel Hampton ou Gary Burton tocavam. Actualmente não é muito frequente ouvir o trabalho de vibrafonistas na nova geração de músicos de jazz. Há no entanto uma excepção, a de Joel Ross. No seu novo disco este músico norte-americano, que grava para a Blue Note, inspirou-se numa das mais tradicionais e marcantes  músicas da américa  e assim juntou vibrafone e blues, numa combinação perfeita. O disco chama-se “Nublues”, inclui dez temas ao longo de pouco mais de uma hora de boa música. Joel Rosso trabalhou neste disco com um quinteto que, além dele próprio, inclui o saxofonista Immanuel Wilkins, o pianista Jeremy Corren, o baixista Kanoa Mendenhall e o baterista Jeremy Dutton. A flautista Gabrielle Garo aparece em três faixas. Dos dez temas do disco sete são originais compostos por Ross e há três versões: “Equinox e “Central Park West” de John Coltrane e “Evidence” de Thelonius Monk. A maior parte dos solos é assegurada por Ross e Wilkins, mas Corren faz em “Ya Know?” um solo de piano que merece ser ouvido com atenção. Outros temas que merecem destaque são “Bach (God The Father in Eternity)” e “Mellowdee”, uma balada que é o ponto onde a inspiração dos blues é mais marcada. “Nublues” está disponível nas plataformas de streaming.

 

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UMA HISTÓRIA MISTERIOSA - July e September são as duas irmãs adolescentes que protagonizam uma história misteriosa e intrigante. Nascidas com dez meses de diferença, são como que gémeas e são elas as protagonistas de “Irmãs”, uma novela de Daisy Johnson editada originalmente em 2020. A história começa com a fuga das duas, levadas pela sua mãe, Sheela, de Oxford para Yorkshire, para uma casa perto do mar, emprestada pela irmã do pai das raparigas, que entretanto morreu e que abandonara a família quando elas eram muito pequenas. As três fogem de uma situação nunca claramente explicada, e a novela é uma espécie de viagem ao passado da família. A tragédia que envolve esse passado, e que é verdadeiramente o centro a partir do qual se desenvolve toda a história, vai sendo revelada aos poucos, de forma por vezes assustadora. A história é contada por July e é comentada pela mãe, Sheela. Ao longo do livro descobre-se a relação perturbantemente íntima entre as duas irmãs, que partilham o mesmo telemóvel e cujos corpos parecem ligados, mesmo nos momentos mais privados. Os momentos de grande tensão sucedem-se ao longo das páginas e a história acaba por dar uma reviravolta inesperada no final, que leva a querer rever o que até então escapara a quem estava a ler. Daisy Johnson é uma escritora britânica que em 2028 foi seleccionada para a shortlist do Man Booker Prize com a sua novela “Everything Under”. “Irmãs” foi considerado na lista dos melhores livros de 2020 pelo “New York Times” e é agora lançado em Portugal pela Euforia, uma chancela editorial dedicada a romances estrangeiros. A tradução é de Inês  Montenegro

 

DIXIT - “Se as contas externas são hoje mais positivas em Portugal, é porque voltámos a ser um país de emigrantes e porque estamos ainda mais dependentes do turismo para compensar o desempenho insuficiente dos restantes sectores exportadores no seu conjunto. Isto é bom para as estatísticas e para as condições actuais de financiamento externo, mas tem um problema: nenhum país pode aspirar a desenvolver-se com base apenas no turismo ou com uma saída em massa da população activa” - Ricardo Paes Mamede

 

BACK TO BASICS - “A dúvida não é agradável, mas a certeza é absurda” - Voltaire.

 

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