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A RTP E O FUTEBOL - Nada como uma competição de futebol com a participação da Selecção Nacional para ver qual o entendimento, dos poderes reinantes, sobre o que é o serviço público de televisão. Vamos a dados que os números não enganam. Na semana passada um pouco mais de oito milhões de pessoas viram televisão, mas nenhum dos jogos da selecção chegou sequer a metade desse valor. O que teve maior audiência, frente à Chéquia,  fez 3,4 milhões de espectadores, na SIC, enquanto na RTP1 o jogo com a Turquia ficou nos 2,6 milhões. Em contrapartida a RTP1 registou na semana inaugural do Euro a sua maior média semanal de share do ano, 12,8%, graças aos quatro jogos que transmitiu, três deles entre equipas de outros países. A média anual do canal público  até esta altura é de 10,9%. Há sempre quem defenda que transmitir jogos da selecção é fazer serviço público - embora se perceba mal porque é que tal raciocínio vence quando os operadores privados também os podem emitir - ninguém fica sem ver a Selecção se os jogos não forem emitidos pela RTP. Mas a  RTP desde há muitos anos faz finca pé nisso e tem sido suportada por vários governos, de todas as cores, que até regulamentam que transmissões devem ser consideradas de interesse público. Absurdo maior não pode haver. Nada me move contra o futebol e as suas transmissões, mas não consigo compreender porque é que o serviço público de televisão tem nele o seu principal pilar de programação, quer em transmissões quer em programas de debate e comentário. Na semana passada o Presidente da RTP, Nicolau Santos, foi ao Parlamento e disse o óbvio - há um problema na empresa que dirige, reconhecendo que o canal de informação RTP3 é o que, nessa tipologia, piores resultados alcança. Numa altura em que Luís Montenegro sugeriu querer espalhar dinheiro sobre comunicação, incluindo a RTP, convinha saber qual o entendimento do Governo sobre a estratégia para o serviço público audiovisual. Ninguém a conhece, o que não deixa de ser preocupante.

 

SEMANADACerca de 32 mil crimes de cariz sexual foram investigados pela PJ no espaço de 10 anos, uma média de mais de três mil novos crimes sexuais  por ano; há 450 mil doentes à espera de uma primeira consulta de especialidade além do tempo recomendado; o consumo de antidepressivos quase duplicou na última década; um estudo recente indica que 22,9% dos portugueses sofrem de doenças do foro psiquiátrico; Portugal é o país da UE onde a falta de acesso à habitação mais se agrava; desde 2015 o esforço das famílias portuguesas para adquirir um imóvel, aumentou mais de 50%, o maior agravamento entre os países da União Europeia;  o sector da construção tem mais de 340 mil trabalhadores, dos quais 69 mil imigrantes e precisa de mais 80 a 90 mil pessoas; das 100 empresas que mostraram interesse em testar a semana de quatro dias, 21 levaram o teste de um ano até ao fim e 11 decidiram prolongá-lo; no caso das que decidiram avançar quase 80% consideraram que o impacto financeiro da experiência foi neutro; reduções no absentismo, aumento na capacidade de recrutamento e diminuição na rotatividade foram outras vantagens apontadas; há 45 cursos com taxa de desemprego zero e são todos nas áreas da saúde e engenharia, mas há 21 cursos de outras áreas em que a taxa de desemprego dos licenciados é igual ou superior a 10%.; o abandono escolar após o primeiro ano de licenciatura voltou a aumentar nas instituições de ensino superior públicas e continua a ser nos politécnicos que os alunos mais desistem.

 

O ARCO DA VELHA -No Algarve as perdas de água da rede de distribuição dariam para abastecer quase metade da população.

 

Rosa Carvalho, Montségur, 2004, óleo sobre tela,

OUTRA FORMA DE VER - Até 7 de Outubro está patente na Fundação Arpad-Szenes-Vieira da Silva a exposição “Às Escuras” de Rosa Carvalho, uma artista que  desde os meados dos anos 80 do século passado se tem afirmado como uma pintora figurativa em que as temáticas da paisagem e as referências à história da arte antiga foram dominantes. Nos últimos anos a artista iniciou uma outra linha de trabalho: a construção de pequenas maquetas-esculturas de paisagens feitas com materiais reciclados e transformação de materiais e objectos e o recurso a miniaturas. A exposição, com curadoria de Isabel Carlos, reúne um conjunto de mais de 200 trabalhos, entre desenhos, pinturas e objectos tridimensionais, provenientes do espólio pessoal da artista. Esta é uma rara ocasião de contactar com a obra de Rosa Carvalho, mais de uma década depois da sua última exposição individual. A curadora, Isabel Carlos, salienta que “ a artista pinta numa sala sem janelas, sem contacto com o exterior, sem luz natural, na escuridão: a tela é somente iluminada pela luz do projector, sem ver claramente as cores das tintas que estão ao lado e que vai buscando às cegas, só se revelando quando já estão vertidas no suporte da tela ou do papel. Mas, «às escuras», não somente pelo processo de criação, mas também porque estas obras são um retrato poderoso de um mundo em que hoje vivemos, potencialmente apocalíptico”. Esta exposição está inserida na parceria que existe entre o Museu e a Fundação Carmona e Costa, e é a primeira mostra que tem lugar depois da morte de Maria da Graça Carmona e Costa. (Praça das Amoreiras 56).

 

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ROTEIRO -  Em Évora, na Fundação Eugénio de Almeida, está patente até 10 de Novembro a exposição “A liberdade e só a liberdade", com obras de, entre outros, Augusto Brázio, Cláudio Garrudo, Inês d’Orey, Mafalda Santos, Martinho Costa, Nuno Nunes-Ferreira, Patrícia Almeida, Pedro Pascoinho, Rui Horta Pereira, Tiago Casanova e Wasted Rita, com curadoria de Ana Matos. A exposição decorre no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, instalado no local onde funcionou o Tribunal do Santo Ofício de Évora, ou seja a Inquisição, extinta em 1821. Na imagem uma das fotografias de “A Celebração do Incontornável”, de Cláudio Garrudo. No Porto,  Museu Nacional Soares dos Reis, pode ser vista até 29 de Dezembro, a exposição “Centro de Arte Contemporânea –  50 anos: A Democratização Vivida”, que evoca a história do CAC – Centro de Arte Contemporânea, embrião da Fundação de Serralves e do seu Museu de Arte Contemporânea. De 1976 a 1980, o Centro de Arte Contemporânea promoveu cerca de 100 exposições e deu oportunidade a artistas como Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Álvaro Lapa, Júlio Pomar, Emília Nadal, Eduardo Nery para mostrarem as suas obras pela primeira vez no Porto. Com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, a exposição ‘Centro de Arte Contemporânea –  50 anos: A Democratização Vivida’ revisita a história desta aventura, recria alguns dos seus momentos expositivos e mostra  muitos documentos gráficos pouco conhecidos.

 

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CONTOS EXTRAORDINÁRIOS - Gosto de livros de contos, esses pequenos textos que encerram uma história e que podem ser lidos ao sabor do ritmo que quisermos. Depois de ter estado esgotado alguns anos eis agora reeditado “Morte no Verão E Outras Histórias”, que apresenta dez dos contos mais extraordinários escritos por Yukio Mishima, publicados originalmente em revistas e compilados pelo próprio autor. São um bom exemplo do talento de Mishima para retratar a forma como os mais diversos seres humanos enfrentam momentos decisivos. Gueixas que rezam à Lua pelos seus desejos, artistas em confronto com a tradição e consigo mesmos, um militar e a mulher que não o abandona na maior prova de lealdade à pátria, uma família que procura exorcizar uma tragédia: são estas algumas das personagens destas páginas. Mishima cria frases que ficam na memória., como esta que surge logo no segundo conto, uma história de um casal apaixonado que planeia a sua vida em comum: “os olhos dela eram claros e não tinham tempo para outros homens”, uma das mais belas descrições de Amor que tenho lido. Ou esta outra, saída de outro conto: “O seu campo de batalha era um campo sem glória, onde ninguém podia praticar atos de coragem: era a frente de batalha do espírito.” Yukio Mishima, pseudónimo de Kimitake Hiraoka, nasceu em Tóquio em 1925 e suicidou-se praticando o ritual japonês seppuku, a 25 de novembro de 1970, manifestando assim a sua discordância perante o abandono das tradições japonesas e a aceitação acrítica de modelos consumistas ocidentais, comportamento ditado pelo seu idealismo, enraizado no tradicionalismo militar e espiritual dos samurais. Edição Livros do Brasil.

 

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CANÇÕES INTEMPORAIS - John Cale tem agora 82 anos e vai no seu 18º disco a solo. Estudou música clássica no Reino Unido e em Nova Iorque descobriu novos horizontes com John Cage. Há 60 anos, em 1964, conheceu Lou Reed e juntos, com mais alguns músicos,  puseram a andar os Velvet Underground. Em 1967 foi publicado o célebre álbum “The Velvet Underground & Nico”, cuja capa, desenhada por Andy Warhol, ostentava uma banana. Pouco tempo depois Cale começou uma carreira a solo e foi colaborando com numerosos artistas de várias gerações como Patti Smith, The Stooges ou Marc Almond, entre muitos outros. Uma das coisas que o tem distinguido ao longo da sua carreira de seis décadas é a forma como combina a influência de compositores clássicos europeus com músicos de vanguarda como Cage ou inovadores como Brian Eno.“POPtical Illusion” é o seu novo disco, lançado há poucas semanas e um ano depois de ter apresentado outro álbum de originais, “Mercy”. Quem ouvir o novo disco terá dificuldade em perceber que o autor tem 82 anos, que consegue continuar a inovar, a mostrar imaginação. Enquanto “Mercy” tinha temas de homenagem a nomes já desaparecidos como Reed, Nico ou Bowie, o novo disco olha para este mundo e o estado em que se encontra. Cale descreve como tudo parece desmoronar-se à sua volta. No meio de canções sobre o estado do planeta ouvem-se sons de guitarra, misturada com sintetizadores e batidas de hip hop, num cocktail de que só um grande músico e multi-instrumentista, como Cale, é capaz. O novo “POPtical Illusion” tem 13 temas, uma hora de música, com a marcante voz de Cale a cantar temas como “Edge Of Reason”, “I’m Angry”, “How We See The Light”, “Setting Fires”, All To The Good” ou “Laughing In My Sleep”- canções em que os títulos contam logo toda uma história. Disponível nas plataformas de streaming.

 

DIXIT - “Os lisboetas tornaram-se a erva daninha que cresce à sombra da árvore do turismo” -  Clara Ferreira Alves 

 

BACK TO BASICS - “Quando toda a gente pensa o mesmo é sinal de que há falta de pensamento” - Walter Lipmann

 

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O CAMINHO DAS PEDRAS

por falcao, em 21.06.24

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O DESCONFORTO DE LISBOA - Terça-feira passada o jornal “Público” noticiava o desagrado dos moradores da Graça com os problemas causados pelo excesso de tuk-tuks nos miradouros e na zona . Há duas semanas tive de me deslocar lá e o que vi é ainda pior do que aquilo que a notícia relata. Já não é só no Chiado e São Pedro de Alcântara, nem no Castelo e na Sé ou em Belém que isto se passa. Lisboa está convertida num tukódromo insuportável. Mas há mais: quem descer a avenida da Liberdade, a quase qualquer hora do dia, constatará que a maioria dos veículos, numa avaliação a olho nu, ostenta a placa TVDE, contribuindo para a poluição na cidade. Bem sei que a estratégia de converter Lisboa numa gigantesca feira para turistas foi obra de Costa e Medina, quando estiveram à frente da CML e impulsionaram o abandono da cidade pelos seus moradores, substituindo-os por turistas. Durante anos escrevi aqui contra os desmandos de Costa e Medina na cidade. Votei contra Medina, na esperança de que Carlos Moedas devolvesse a cidade aos Lisboetas. Infelizmente isso não está a acontecer e seria interessante saber qual o aumento de TVDEs e tuk-tuks em circulação em Lisboa nos últimos dois anos. Arrisco  dizer que o número cresceu. Na semana passada estive uns dias no Funchal, outro destino turístico português por excelência. Praticamente não vi tuk-tuks, TVDEs nem um para amostra, mas vi imensos turistas, quer na cidade, quer nas zonas dos passeios no interior. Estava tudo limpo, sem confusões. O contrário daquilo que infelizmente se passa em Lisboa, onde o excesso de veículos para turistas, o lixo nas ruas e o caos de obras diversas e constantes são problemas reais. Também eu, que aqui nasci e sempre vivi, começo a estar farto disto tudo e, sempre que posso, saio. É importante ter uma política social para os mais idosos na área da saúde e dos transportes. Mas é também importante ter em conta os lisboetas que querem continuar a viver em Lisboa e não querem sentir-se estrangeiros na sua terra. O conforto, o combate ao ruído, a limpeza, a qualidade dos passeios e pavimentos das ruas fazem parte do bem estar. A cidade onde tudo possa estar a 15 minutos, uma das bandeiras de Carlos Moedas, é uma mera ficção com mais de metade do seu mandato percorrido. Lisboa está ainda menos confortável que no tempo de Costa e Medina e viver nela é, muitas vezes, percorrer um doloroso caminho das pedras. Recordo que nas próximas autárquicas quem vota em Lisboa são os incomodados, não os passantes ocasionais.

 

SEMANADA - Nos primeiros quatro meses do ano nasceram menos 246 bebés do que no mesmo período do ano passado, ou seja, uma média de menos dois por dia; em 2023 o número médio mensal de imigrantes registados na Segurança Social e a trabalhar por conta de outrem superou os 495 mil, um acréscimo de 35,5% face ao ano anterior; em 10 anos, de 2014 a 2023, o número de trabalhadores estrangeiros cresceu nove vezes  e são já mais de 20% as empresas que recorrem a imigrantes;  os três sectores mais dependentes de imigrantes são a agricultura, o turismo e a construção; os imigrantes em Portugal são sobretudo jovens com a média de 33 anos, 63% são homens, 37% são mulheres e estão sobretudo concentrados nas áreas metropolitanas de  Lisboa e  Porto, Algarve e Litoral Alentejano; recebem salários 15% mais baixos que os dos portugueses; a população residente em Portugal aumentou em 2023, pelo quinto ano consecutivo, ultrapassando 10,6 milhões,e segundo o INE o acréscimo populacional resultou de um saldo migratório de 155.701 pessoas; Portugal recebeu 2600 novos pedidos de asilo no ano passado, sendo as principais nacionalidades a Gâmbia, o Afeganistão e a Colômbia: o estatuto de criança vítima de violência foi acionado em 10.300 casos num só ano; em Portugal realizam-se cerca de 80 Feiras Medievais; mais de 46 mil professores efectivos querem mudar de escola no próximo ano lectivo, um aumento de 37% face ao verificado no ano passado; a feira do livro de Lisboa foi visitada por mais de um milhão de pessoas; mais de 70% dos portugueses estão preocupados em distinguir notícias verdadeiras e falsas na internet.

 

O ARCO DA VELHASegundo o INE a vinda de Taylor Swift a Portugal em maio teve um impacto nos preços da restauração e alojamento muito maior do que o das Jornadas Mundiais da Juventude.

 

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UM GRANDE POLICIAL - Tornei-me fã de David Lagercrantz quando assumiu a sucessão de Stieg Larsson e escreveu três obras que continuaram a série “Millennium”. Depois descobri o seu romance policial a solo, “Obscuritas”, baseada no trabalho da dupla de investigadores Hans Rekke e Micaela Vargas. E agora deliciei-me com “Memória”, o novo romance com essa dupla. Já que estamos em época de futebol, recordo que David Lagercrantz é o jornalista e escritor sueco que publicou a biografia de Zlatan Ibrahimovic, uma das estrelas do futebol sueco. Adiante na história, e vamos a este “Memória”. O Professor Hanks Rekke é um especialista em psicologia e técnicas de interrogatório, de grande  inteligência  mas de empatia social muito pouco apurada, e trabalha de novo com  Micaela Vargas, uma corajosa agente policial que quer fazer frente às atividades criminosas do irmão. A trama de “Memória” começa quando surge uma fotografia, feita por um turista em Veneza, onde está visível uma mulher que era considerada morta há catorze anos, Claire Lidman. O seu marido vê nesta fotografia a confirmação da convicção que tinha de que Claire não tinha morrido, contrariando o reconhecimento do corpo feito por familiares. É este caso que Hans Rekke e Micaela Vargas vão investigar, revisitando o passado e reconstituindo memórias da crise bancária dos anos 90, os conflitos entre oligarcas russos, o confronto com um perigoso inimigo de Rekke ou os crimes do irmão de Vargas. Mais não conto. o livro já está nas livrarias, pela mão da Porto Editora.

 

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HOMENAGEM A SARAH VAUGHAN - Zara McFarlane, 41 anos, é uma cantora e compositora britânica de jazz, de ascendência jamaicana. Com vários álbuns editados,  em 2014 foi considerada nos MOBO Awards a melhor artista de jazz em Inglaterra. Zara McFarlane até agora gravou sobretudo as suas próprias composições num ambiente sonoro ligado ao jazz britânico. Em “Sweet Whispers: celebrating Sarah Vaughan”, o seu novo disco, o quinto da sua carreira, ela muda de Roma e salta de Londres para os sons de Nova Iorque. O novo álbum é uma homenagem, no ano do centenário de Vaughan, à lendária cantora norte-americana de jazz, que morreu em 1990. Neste disco Zara McFarlane retoma 10 temas originais de Vaughan e apresenta um original que compôs. A acompanhá-la está um quarteto de músicos que normalmente trabalham com ela, sob a direcção do saxofonista Giacomo Smith, que produziu o álbum, fez os arranjos e tem uma participação musical relevante. O disco começa por dois temas clássicos de Vaughan, “Tenderly” e “Mean To Me”, inclui versões notáveis de  “Inner City Blues”, “September Song” e “If You Could See Me Now”. Inclui também “Obsession”, um tema de “Brazilian Romance”, de 1987, o derradeiro registo de Sarah Vaughan e termina com uma composição original,  “Sweet Whispers”. McFarlane não é uma mera imitadora e este álbum mostra a sua grande capacidade vocal e interpretativa. Disponível nas plataformas de streaming.

 

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UMA GRANDE COLECÇÃO DE FOTOGRAFIA  - Desde 2019 o Museu do Neo Realismo tem vindo a desenvolver uma importante colecção de fotografia, sob a orientação de Jorge Calado, sob o título “A Família Humana”, que evoca a histórica exposição “The Family of Man” organizada por  Edward Steichen no MoMA, Nova Iorque, em 1955. Em Vila Franca de Xira Jorge Calado constituíu uma coleção fotográfica internacional, com cerca de oitocentas imagens de mais de 350 fotógrafos de meia-centena de nacionalidades,  realizadas em quase uma centena de países. São fotografias que mostram todas as dimensões da vida, do trabalho ao lazer, que conjugam olhares de autores famosos com outros desconhecidos, do fotojornalismo à arte fotográfica, numa montagem rigorosa. Nos últimos quatro anos, a Coleção A Família Humana foi objeto de quatro exposições e em cada uma foi colocado em destaque um artista:  Otto Karminski, Claude Jacoby, Erika Stone e Ingeborg Lippmann. Agora, na nova montagem sob o título “Paralelos e Contrapontos”, Jorge Calado escolheu o neerlandês Kees Scherer, co-fundador da World Press Photo, que fotografou várias vezes em Portugal – nomeadamente em Vila Franca de Xira – nos anos 1959-1963. Esta montagem inclui novas aquisições da colecção e apresenta um novo olhar. A exposição, no piso 1 do Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira,  tem entrada gratuita, de terça a domingo, das 10h00 às 18h00, e fica patente até 20 de outubro de 2024. 

 

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ROTEIRO - Esta semana proponho uma deslocação a Viseu onde, na Casa d’Artes e Ofícios, CAOS, mesmo perto do museu Grão Vasco, José Maçãs de Carvalho apresenta  “Dispositivo”, uma exposição que mostra quatro das suas fotografias e que estará patente até 17 de Agosto, entre elas a imagem aqui reproduzida e que foi efectuada em Bratislava em 1991. José Maçãs de Carvalho é um importante fotógrafo português com um percurso singular  e é também Professor no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Para esta exposição foi buscar fotografias das séries “Arquivo e Domicílio” (2014)  e “Arquivo e Dispositivo” (2016), mostras organizadas com imagens nas quais a forma de visão ocupa lugar central, seja com câmaras fotográficas, pinturas, ecrãs ou janelas. No mesmo espaço existe uma zona de atelier destinado à descoberta da Arte por crianças.  Na Sociedade Nacional de Belas Artes Renée Gagnon apresenta até 20 de Julho “Mu Seke 75”, uma exposição de fotografia com curadoria de Paula Nascimento, que apresenta  um conjunto de quatro dezenas de fotografias de Gagnon, tiradas durante o período de 1972 a 1976,  em Luanda, num interessante registo que combina o documental com a descoberta dos jogos de formas e materiais que são a base das construções dos musseques. E na Galeria Monitor continua até dia 22 a exposição “Release The Chicken!”, de Eugénia Mussa (Rua da Páscoa 91).

 

DIXIT - “O combate ao populismo de esquerda e de direita é o grande desafio dos próximos anos. Da imigração à transição ecológica, dos nacionalismos ao federalismo europeu, do egoísmo à solidariedade” - Luís Marques

 

BACK TO BASICS - “Por todo o lado as pessoas confundem o que lêem nos jornais com notícias” - A.J. Liebling






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O MANDRAKE DA POLÍTICA PORTUGUESA

por falcao, em 14.06.24

 

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SOBRE O ILUSIONISMO NA POLÍTICA -  Estava eu sossegado a seguir a noite eleitoral quando, na declaração final, Pedro Nuno Santos, todo ufano, reivindicou a vitória eleitoral nas europeias para a esquerda, não apenas para o PS. Dizia ele, logo no arranque da sua declaração, empolgado, que a esquerda tinha sido maioritária nestas eleições, iludindo a grande perda de votos dos seus parceiros de geringonça, Bloco e PC, além da perda de um mandato pelo PS, em relação às europeias de 2019. Sem pudores anunciou que, não contando com o Chega, a esquerda tinha sido vencedora no domingo passado. Eis o que ía na sua cabeça: se somarmos o resultado do PS ao BE, CDU e Livre temos um total de 45,01% dos votos; se por golpe mágico do líder do PS não se contar com o Chega e somarmos a AD à IL temos 40,1% dos votos. Portanto, tudo certo? Não - o malabarista político que dirige o PS colocou o Chega de fora das contas, porque se o somarmos à IL e à AD o total é de 49,9%. Pedro Nuno Santos passa a vida a colar o PSD ao Chega, mas quando lhe dá jeito à conversa, faz de conta que não é nada. Felizmente logo a seguir fez-se luz e percebi o raciocínio do ilusionista Santos: tão enlevado anda em votações conjuntas com o Chega que o colocou do seu lado. Assim os votos da Cheringonça de facto são maioritários, ultrapassando os 50%. Em matéria de finanças públicas já conhecia a contabilidade criativa do PS. Na noite eleitoral fiquei a saber que os seus matemáticos também são capazes de criatividade na interpretação dos resultados das eleições. Hoje em dia, mesmo quando pouca coisa me surpreende, há sempre lugar para me espantar com o descaramento de figuras como a que agora dirige o PS. Mas adiante e passemos para a Europa onde a abstenção foi de 49%, que compara com os 62,1% registados em Portugal. O balanço global na Europa é que a direita avança e a esquerda retrocede. No entanto o bloco central europeu, que agrupa populares, social-democratas, liberais e verdes, conseguiu 63% dos votos, retendo a maioria, apesar do avanço da ultradireita no tradicional eixo do mal europeu, o bloco franco-alemão, além da consolidação dos resultados que a direita obteve na Itália e na Áustria. Talvez Pedro Nuno Santos pudesse olhar para o que se passa na Europa e repensar a política de alianças do PS em Portugal.


SEMANADA - Estão referenciadas 2854 casas devolutas em Lisboa, que correspondem a 5,19% de um universo de 55.000 habitações em toda a cidade; nos últimos dez anos Lisboa perdeu 30% dos seus habitantes tradicionais; as previsões do Ministério da Educação apontam para que até final do ano se reformem cerca de 4700 professores dos vários graus de ensino; em quatro anos duplicou o número de imigrantes a trabalhar na agricultura e turismo; os alunos do secundário da grande Lisboa, Algarve e Alentejo são os que têm mais dificuldades em concluir os vários ciclos do ensino secundário no tempo previsto; entre janeiro e abril foram assaltadas 3867 casas, número que compara com os 4086 ocorridos em idêntico período do ano passado; no primeiro trimestre do ano o Estado arrecadou em impostos provenientes dos jogos online cerca de 86 milhões de euros, mais 36% que em igual período do ano passado; em Portugal a taxa de emprego de quem termina o ensino superior situou-se em 86,8% em 2023, abaixo da média europeia de 87,7%; e a Estónia, com 96,7% foi o país com média mais alta; se todos os planos industriais e de serviços  previstos para Sines forem para a frente representarão 60% de todo o consumo de electricidade feito em Portugal.

 

O ARCO DA VELHA - Nestas europeias a Comissão Nacional de Eleições quis proibir que jornalistas reportassem declarações de candidatos e que informassem sobre números de votações noutros países que estavam no site do Parlamento Europeu. 

 

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UMA COLECÇÃO  - O Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, foi distinguido pela Associação Portuguesa de Museologia como Museu do Ano em 2024. A sua Exposição de Longa Duração, reúne uma das mais importantes colecções de arte portuguesa do século XIX, ao todo 1133 peças distribuídas por 27 salas. Desde há algumas semanas o Soares dos Reis acolhe também o quadro “Descida da Cruz” (na imagem), cedido pela Fundação Livraria Lello que comprou a obra recentemente, numa feira de arte em Maastricht, depois de o Estado não ter feito nada para travar a sua saída do país. ‘Descida da Cruz’, uma pintura sacra datada de 1827, faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira, executadas em Roma, onde o artista morreu em 1837. Domingos Sequeira é considerado como o mais talentoso e original pintor português do seu tempo, tendo desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento da arte portuguesa de início do século XIX. o Museu Soares dos Reis dispunha já de alguns estudos preparatórios de Domingos Sequeira para a elaboração de “Descida da Cruz”. O quadro e os desenhos referidos estão na mesma sala onde se encontram  quatro óleos e um conjunto significativo de desenhos de Domingos Sequeira, que fazem parte da colecção do Museu. Filho de um barqueiro e nascido no seio de uma família pobre, em 1768, Domingos Sequeira foi educado na Casa Pia, onde frequentou o curso de Desenho e Figura. Depois, graça a uma  bolsa real concedida por D. Maria I estudou pintura e desenho com Antonio Cavallucci, em Roma. De regresso a Lisboa foi  nomeado por D. João VI,  pintor da corte e corresponsável da empreitada de pintura do Palácio da Ajuda. Foi ainda professor de Desenho e Pintura da Família Real e, em 1806, dirigiu a aula da Academia de Marinha, Porto. Aqui está mais uma razão para visitar este belo museu do Porto.

 

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ROTEIRO -  Até 3 de Novembro, no Porto, na Galeria Contemporânea do Museu e Capela da Casa de Serralves, Sara Bichão apresenta “Lightless” (na imagem), que apresenta como uma reflexão sobre a brevidade e fragilidade da existência humana, mas também da transitoriedade dos objetos, das matérias e da própria natureza, num trabalho que explora a luz e a escuridão com curadoria de Inês Grosso. Na Zet Gallery, em Braga, (Rua do Raio 175) até 6 de Julho, João Tabarra apresenta "Teimosamente persisto em adorar a liberdade livre.", um conjunto de quinze trabalhos, alguns dos quais inéditos, que exploram as possibilidades da fotografia e da imagem em movimento, com curadoria de Helena Mendes Pereira. Na Rialto ( Rua do Conde Redondo 6), duas exposições: “Outro” com pintura e escultura de  Fernão Cruz e “Verónica” de Rita Ferreira, ambas até 19 de Julho. Na Galeria Foco, (Rua Antero de Quental 55A), pode ver até 38 de Junho “Signals from Afar” de Clara Imbert, obras em metal e pedra. Na 3+1 Arte contemporânea Maria Laet apresenta até 29 de Junho Infinita Medida, Largo Hintze Ribeiro 3. Mo Museu Nacional de História Natural e da Ciência Margarida Lagarto apresenta “Uma erva e vinte pedras bordadas” até 30 de Junho. Finalmente em Évora, no Museu nacional Frei Manuel do Cenáculo, “Devir Paisagem” é uma exposição colectiva com obras de Cristina Ataíde, Liana Nigri, Luzia Simons, Marcelo Moscheta, Marlon Wirawasu, Moara Tupinambá, Patrícia Bárbara, Pedro Vaz, Renata Cruz, Renata Pandovan, Tatiana Arocha e Vera Mantero, com curadoria de Lilian Fraiji.

 

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RELER OS LUSÍADAS - É curioso notar como, ao contrário do Governo anterior, a iniciativa editorial portuguesa, dedicou especial cuidado ao lançamento de uma série de livros, importantes, sobre Luís de Camões e a sua obra, por ocasião do quinto centenário do seu nascimento, ocorrido a 10 de Junho.  Uma dessas recentes edições é Luis de Camões - uma antologia”, preparada por Frederico Lourenço. Esta antologia permite ler as passagens mais brilhantes de “Os Lusíadas” e das “Rimas”, além de uma selecção de outros poemas. Inclui ainda uma introdução de Frederico Lourenço onde é abordado o papel de Camões no seu tempo, como a sua obra tem sido interpretada e analisada, incluindo as questões mais contemporâneas relacionadas com a interpretação política actual das descobertas portuguesas. Conhecido pelo seu romance camoniano “Pode Um Desejo Imenso” e por estudos académicos sobre Camões, Frederico Lourenço explora, com elementos novos, a velha questão da presença clássica na obra camoniana, não deixando de enfrentar o problema de como lê-la à luz das mentalidades contemporâneas. Além da introdução, Frederico Lourenço preparou igualmente um conjunto de anotações, quer a “Os Lusíadas”, quer às “Rimas” e também anotações sobre episódios da vida do poeta. O livro termina com um delicioso e curto texto de ficção onde Frederico Lourenço traça “O retrato de Camões”. Edição Quetzal.

 

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UM CONCERTO FANTÁSTICO - O trompetista polaco Tomasz Stanko morreu em 2018 e em 2004, no auge da sua carreira fez uma digressão histórica na Europa e Estados Unidos, acompanhado pelo seu quarteto habitual. Em Setembro de 2004 deu um concerto em Munique que felizmente foi gravado e durante todos estes anos esteve guardado nos arquivos da ECM, que agora o editou sob o título “Suspended Night”. O trompetista, cuja forma de tocar por vezes faz lembrar Miles Davis, tinha constituído um quarteto que além dele próprio incluía músicos 20 anos mais novos que ele acarinhava, como o pianista Marcin Wasilewski, o baixista Slawomir Kurkiewicz e o baterista Michal Miskiewicz. A gravação reproduz esse concerto  no Muffathalle de Munique ao longo de 11 temas e mais de uma hora de excelente música. Os três jovens músicos de então permaneceram juntos depois da morte de  Stanko, no Marcin Wasilewski  Trio. Qualquer destes três músicos, na altura todos abaixo dos 30 anos, tem uma papel importantíssimo nesta gravação, com o piano fornecendo o apoio musical aos solos de Stanko e a secção rítmica a desbravar caminhos. O disco agora editado a partir da gravação do concerto de Munique teve produção do próprio fundador da ECM, Manfred Eicher. Disponível nas plataformas de streaming.


DIXIT - “Há muita gente que tem uma concepção parcial da liberdade de expressão. Quem sabe se também de outras liberdades e de outros direitos” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “A sabedoria dos mais velhos é uma grande falácia: não ficam mais sábios, apenas mais cautelosos” - Ernest Hemingway


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UMA CAMPANHA FRAQUINHA E VAGAROSA

por falcao, em 07.06.24

 

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EUROELEIÇÕES - Se na última semana da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu se  discutiram alguns temas europeus, nas semanas anteriores o foco foi em problemas domésticos, com a agenda a ser comandada sobretudo por pequenos partidos de esquerda, que preferiram a política paroquial. Foi assim que durante semanas as políticas da saúde, a questão do aborto ou da habitação foram chamadas à liça e ocuparam a maior parte do tempo de debates, com raras incursões nas políticas de emigração, ambientais e pouco mais. De início temas como a guerra da Ucrânia, assunto desagradável à esquerda do PS, esteve arredada de conversas, num silêncio cúmplice com Putin. Pelas mesmas razões, da política de defesa também pouco se ouviu falar. Mas se a política de imigração, os impostos e fundos europeus e o alargamento da União Europeia deram ar de sua graça na última semana, continuaram sem  discussão questões tão importantes como o renascer, pela mão de Macron, sob o pretexto da refundação da Europa, do eixo França- Alemanha, com a divisão por regiões das políticas industriais baseadas no reforço desse eixo. O pano de fundo destas eleições é  no entanto o aumento das intenções de voto na direita mais radical, sem que existam grandes reflexões sobre as suas causas. Nestas europeias, na Alemanha, pela primeira vez, a idade de voto desce para os 16 anos, numa altura em que a direita radical AfD é sobretudo apoiada pelos jovens. E há recomposições - como em França, onde um candidato que se apresenta como social democrata, Raphael Gluksmann, do novo Place Publique, ameaça ficar à frente de Macron, mas atrás de Marine Le Pen. Aqui ao lado, em Espanha, também o Vox ameaça ter um resultado significativo. Já em Portugal, onde é inevitável que o resultado obtido por PS e PSD proporcione leituras nacionais, uma coisa é certa: independentemente do resultado que Sebastião Bugalho obtiver nestas europeias, ele já construíu uma rampa de lançamento no interior do PSD, palmilhando concelhias e distritais que aposto, Europa à parte,  lhe serão úteis em futuros vôos.


SEMANADA - Nos últimos 16 anos foram registados 1011 casos de tráfico de pessoas em Portugal; o aumento de tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal, crimes de ódio e violência entre grupos foram os principais indicadores do aumento da criminalidade e da violência em Portugal, no último ano; em 2023 a criminalidade violenta e grave representou 3,8 por cento de toda a criminalidade participada; extorsão, resistência e coação sobre funcionários, roubo por esticão, rapto, sequestro e roubo na via pública foram os crimes violentos e graves que mais subiram no ano passado; nas questões de criminalidade sexual, o maior número de ocorrências está associado aos crimes de abuso sexual de crianças, de violação e de pornografia de menores, perpretados em esmagadora maioria por indivíduos do sexo masculino contra indivíduos do sexo feminino, em ambiente familiar, e com vítimas entre os 8 e os 13 anos; Portugal tem os agricultores mais velhos da Europa, 51,9% das pessoas que se dedicam à agricultura no nosso país têm mais de 65 anos, e há apenas 1,9% com menos de 35 anos; em Portugal a população com 80 anos ou mais quase duplicou nas duas últimas décadas;  os bancos que operam em Portugal, bem como outras entidades financeiras, comunicaram no ano passado mais de 18 mil transações suspeitas de branqueamento de capitais.

 

O ARCO DA VELHA - Na estação Alto dos Moinhos o Metropolitano de Lisboa tapou os painéis de azulejo feitos por Júlio Pomar, evocando grandes figuras da literatura portuguesa,  com máquinas de emissão de bilhetes e outros aparelhos de grandes dimensões.

 

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UMA DESCOBERTA - Volta e meia descobrimos alguém com  uma obra considerável e até agora quase desconhecido. José de Almeida Araújo foi amigo de estrelas como Jean Simmons e John Wayne, privou com Le Corbusier e também com Picasso, Henri Salvador, André Malraux e Errol Flynn. Depois de viver em vários países, voltou a Cascais, como um quase desconhecido, para terminar os seus dias. Nasceu em 1924 e morreu no passado dia 8 de maio, pouco antes de celebrar um século de vida.  Filho de pai português e mãe alemã judia, José Harry de Almeida Araújo cresceu com a família materna, em Berlim, e na adolescência viveu em Cascais. No pós-guerra, descontente com o cenário português da época, emigrou, primeiro para Paris e depois para Londres. A exposição “Almeida Araújo: Fotografia e Pintura” que está no Centro Cultural de Cascais, integra 18 telas produzidas entre 1960 e 1994, entre retratos de familiares e amigos, como um retrato de Nureyev, e representações de paisagens portuguesas, francesas e brasileiras. A pintura completa-se com fotografias feitas por Almeida Araújo, registos do quotidiano de Londres, em Inglaterra, nos anos 50 e fotografou também personalidades da política e das artes como John F. Kennedy, Jeanne Moreau, Jean Cocteau e Roger Vadim. Para além do seu trabalho de pintura e fotografia, José de Almeida Araújo foi escultor, actor e arquitecto - projetou, por exemplo, o hotel Vilalara Thalassa, no Algarve. Foi também o artista escolhido para pintar o topo da maior galeria do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, onde realizou a “Adoração da Cruz”, uma grande pintura em óleo sobre madeira. Pintou ainda retratos de Winston Churchill e da Princesa Soraya do Irão. A exposição está patente no Centro Cultural de Cascais até 23 de Junho.

 

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ROTEIRO - Hoje começo pela exposição de Rui Algarvio na Galeria Carlos Carvalho (Rua Joly Braga Santos Lote F),  Intitulada “Os Passeios Com Caronte” (na imagem) na qual  Rui Algarvio aborda a relação entre o ser humano e a paisagem. A exposição fica patente até 14 de Setembro. Na No-No Gallery (Rua de Santo António à Estrela 39), Ana Pérez-Quiroga apresenta até ao início de setembro a exposição “Estonteante”. Na Galeria das Salgadeiras (nova morada- Avenida dos Estados Unidos 53D), Rita Gaspar Vieira apresenta até 14 de Setembro “Água Viva”. Na galeria Santa Maria Maior (Rua da Madalena 147), Tomaz Hipólito apresenta até dia 29 a exposição “Tension”. Uma exposição a não perder, até 22 de Junho,  é “Release The Chicken”, da moçambicana Eugénia Mussa na Galeria Monitor (Rua da Páscoa 91). Na Fundação Arpad-Szenes-Vieira da Silva pode ser vista até 7 de Julho uma exposição sobre a obra gráfica de Maria Helena Vieira da Silva sob o título “Os Frutos da Liberdade”. Na Casa da Cultura de Setúbal está patente um trabalho do fotógrafo chileno Roberto Santadreu intitulada “Trabalhar no Estaleiro”, baseada na obra literária de Juan Carlos Onetti. E na Galeria das Tapeçarias de Portalegre (Rua Academia das Ciências 2) pode ser vista a exposição “Diálogos”, que apresenta cerâmicas de Beatriz Horta Correia em simultâneo com tapeçarias de  Cruzeiro Seixas, Cargaleiro, Menez e Vieira da Silva.

 

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OUTRA LISBOA - Neill Lochery é um historiador britânico que se tem debruçado em particular sobre os anos 40 e 50 no contexto da segunda grande guerra. Há alguns anos escreveu "Lisboa: A Guerra nas Sombras da Cidade da Luz, 1939- 1945" onde relatou os resultados da sua investigação sobre o papel central de Lisboa nos confrontos entre os serviços de espionagem dos aliados e da Alemanha nazi e as suas relações com as autoridades portuguesas de então. No novo livro "Lisboa II - Os Países Neutros e a Pilhagem Nazi", aborda o papel de Portugal, no pós-guerra.  Com base  em informação inédita, Lochery revela os meandros da fuga dos tesouros roubados pelos nazis e o papel que Portugal teve no desaparecimento de obras de arte de colecionadores judeus, como os Rothschild, e a galeristas importantes, como Paul Rosenberg, de Paris. Segundo Lochery durante a II Guerra Mundial os nazis saquearam cerca de 20 por cento da arte e dos tesouros europeus, entre elas obras dos artistas mais importantes de todos os tempos como Pablo Picasso e Vincent van Gogh. Este "Lisboa II" relata a fascinante história da corrida dos aliados para recuperar estes bens roubados antes que desaparecessem, e antes que a vontade de punir a Alemanha fosse substituída pelas considerações políticas da Guerra Fria, que se aproximava rapidamente. Neill Lochery dá a conhecer os meandros da fuga dos tesouros roubados pelos nazis e a passagem por Lisboa de muitos deles. Aborda também a relação entre os serviços secretos alemães e a PVDE e posteriormente a PIDE e a forma como Salazar seguia o que se passava. Com uma escrita empolgante, este “Lisboa II” permite  ter uma imagem que muitos desconhecem do que se passava em Lisboa nos anos do pós guerra. Edição Casa das Letras. 

 

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UM DISCO ESPECIAL  - A saxofonista Melissa Aldana nasceu em Santiago do Chile mas estudou e vive nos Estados Unidos. O seu primeiro disco data de 2010 e em 2019 foi nomeada para os Grammys com o álbum “Visions”.  Em 2022 gravou com o seu quinteto o álbum “12 Stars” e agora editou “Echoes of the Inner Prophet”. O disco é um espelho da evolução do seu grupo, onde, além de Aldana no sax tenor, participam Lage Lund na guitarra, Fabian Almazan no piano, Pablo Menares no baixo e Kush Abade na bateria. Este quinteto, que realizou uma extensa digressão, é já considerado uma das mais interessantes formações do jazz contemporâneo. Com arranjos e produção de Lund, que com ela trabalha há alguns anos, o  novo álbum é assumidamente uma homenagem a Wayne Shorter, por quem Aldana tem uma enorme admiração. A maior parte das oito composições são suas, mas há uma de Lund, “I Know You Know”e outra de Menares, “Ritual”, com a participação do brasileiro Guinga. Outros temas, como “Unconscious Whisper”, “The Solitary Seeker” e “A Purpose” ou “Cone of Silence”, mostram a forma muito particular com que Aldana cria a sua estética sonora, baseada em improvisações que depois evoluem de forma envolvente em perfeita articulação com os seus músicos. O disco está disponível nas plataformas de streaming.

 

DIXIT - “Hoje, o tema económico mais central na UE é a estagnação da nossa produtividade e a perda de terreno em relação aos outros grandes blocos económicos. Nos últimos 20 anos, a distância que separa a riqueza de um europeu médio em relação a um americano médio aumentou de forma considerável.” - Ricardo Reis

 

BACK TO BASICS - “Todos reivindicam mudanças desde que elas não os afetem pessoalmente” - anónimo 

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS

 

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