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OS DINHEIROS DA CULTURA - Com a ajuda do INE e da Pordata fui ver qual o total de gastos das autarquias portuguesas em actividades culturais. Ronda actualmente quase 600 milhões de euros por ano. No Orçamento de Estado em vigor o total consagrado ao sector da Cultura, excluindo a dotação da RTP que é outra conversa, anda pelos 510 milhões, menos que o total dedicado pelos 308 municípios portugueses ao sector. Ou seja, as despesas das autarquias com o sector rondam os 5% em média nacional, quando no Orçamento de Estado é menor que 1%. Os valores indicados como gastos das autarquias em cultura incluem desde a conservação do património a bibliotecas e arquivos, passando por artes do espectáculo, artes visuais, edições de livros e outras publicações, audiovisual e multimédia e o item actividades interdisciplinares, que é um grande caldeirão. Temos portanto que as autarquias possuem mais capacidade de investimento no sector do que o Estado central. É bom que isso aconteça, mas é forçoso que se perceba que estes 600 milhões são dinheiro público e portanto a sua utilização deve ser escrutinada. Uma análise mais fina permite perceber que as artes do espectáculo e as actividades interdisciplinares, em conjunto, ficam com um pouco mais de metade do total dedicado pelas autarquias à cultura. A seguir vem a conservação do património e depois as bibliotecas e arquivos. E surgem as questões : Como devem as autarquias tomar decisões no financiamento de actividades culturais com dinheiros públicos? É lógico contratar um determinado artista que tem uma carreira comercial de êxito em vez de fomentar o desenvolvimento de novos talentos, até locais? Até que ponto há nas autarquias decisões nesta área que visam privilegiar simpatias políticas e futuros apoios eleitorais? A pouco mais de um ano de eleições autárquicas estas questões ganham especial relevância.
SEMANADA - Em termos proporcionais 20% da população nascida em Portugal vive fora do país, sendo que na Europa em 2020 esta taxa é apenas ultrapassada pela Croácia, a Bulgária, a Lituânia e pela Roménia; segundo dados do INE, 48% dos emigrantes saídos em 2021 tinha completado o ensino superior; o preço do cabaz de alimentos básicos, que inclui 63 bens essenciais, aumentou 22 euros em dois anos e é agora de 228 euros; o número de encerramentos de urgências obstétricas aumentou num mês de 86 para 120, ultrapassando o máximo de 2023; o número de pessoas sem médico de família teve um aumento de 75 mil indivíduos em quatro meses; a facturação das lojas dos centros comerciais subiu 7% nos seis primeiros meses do ano; Gaia foi o concelho do país onde mais subiram os preços das casas; o Porto vai restringir o acesso a zonas históricas da cidade a veículos turísticos como tuk-tuks; o número de desempregados registados em Portugal teve no primeiro semestre deste ano o maior aumento da última década com excepção do período da pandemia; nos últimos seis anos, o número de alunos estrangeiros inscritos em universidades e politécnicos portugueses mais do que duplicou mas este ano há alunos estrangeiros inscritos, que pagaram propinas e não conseguem junto dos nossos consulados obter vistos em tempo útil para o início das aulas.
O ARCO DA VELHA - Desde o início da sessão legislativa o Parlamento aprovou em quatro meses apenas três leis, quando a média anterior era de 15 leis por mês.
EXPÔR OS DIAS - Ao longo de meses via quase diariamente uma fotografia que Daniel Blaufuks colocava no Instagram. Eram imagens diferentes, mas do mesmo sítio, uma janela e a mesa ao lado, uma chávena a meio, a evocar o início dos dias e as mudanças da luz. Vou seguindo o trabalho de Daniel Blaufuks há quase 40 anos, primeiro nos jornais e revistas, depois quando iniciou a sua pesquisa pessoal em torno da imagem fotográfica. Publicou vários livros, uns a solo e outros em co-autoria, como por exemplo “My Tangier”, com o escritor Paul Bowles. Além da fotografia fez também filmes e vídeos. No MAAT, em Lisboa, expõe agora um diário onde combina fotografias, colagens, recortes com inscrições pessoais, citações e comentários pessoais. A exposição “os dias estão numerados”, que permanecerá no edifício do MAAT até 7 de Outubro, tem curadoria de João Pinharanda e mostra um diário de imagens de 2023, alguns dias dos cinco anos anteriores e, ainda, os primeiros meses de 2024. Ao todo estão expostas mais de 450 obras. Todas são apresentadas da mesma forma, em folhas de tamanha A4 colocadas em molduras iguais, que Blaufuks numerou, indicando os dias e os anos que vão passando. A maior parte tem fotografias instantâneas, raramente mais que uma ou duas por página, e o autor escreveu (às vezes carimbou) comentários e citações em cada uma em diversas línguas que domina. Na realidade esta exposição é não só um registo do que Blaufuks vê e pensa, como o seu retrato do mundo. É um trabalho notável, despojado, despretensioso, onde evoca músicos, escritores, filósofos e se expõe a ele próprio.
ROTEIRO - Pedro Calapez apresenta na zet gallery, em Braga, a exposição "Fronteiras" que reflete os seus últimos 20 anos de produção artística através de 23 obras que exploram as possibilidades da pintura em materiais industriais como o alumínio ou o tijolo (na imagem, fotografia de Andrea Ruano). A exposição tem curadoria de Helena Mendes Pereira e a escolha das obras reflecte as raízes industriais da empresa que dinamiza a galeria, o dst group. A exposição está patente na zet gallery até 21 de setembro, na Rua do Raio 175, Braga. Ainda a norte, em Serralves, está patente o trabalho de Miguel Alves, vencedor do Prémio de Fotografia Novo Banco Revelação, um trabalho nascido de uma ida à Moldova e que tem o título “Walking Thru the Sleepy City”. Na Casa de Serralves, um dos mais importantes exemplos de Art Déco do país, pode ser vista até 17 de Novembro a primeira exposição antológica dos artistas portugueses João Pedro Vale + Nuno Alexandre Ferreira, que reúne uma seleção de obras dos autores, algumas inéditas e especialmente concebidas para esta ocasião. Na Casa de Serralves, desde a cozinha até às salas de estar e jantar, passando pelas escadarias e casas de banho, a exposição “Casa Vale Ferreira” ocupa praticamente todos os compartimentos da antiga residência privada, abrindo aos visitantes a história e a memória deste edifício.
COMO ESCREVER - O primeiro capítulo do novo livro de Miguel Esteves Cardoso começa assim:”Ao longo da vida, a coisa que mais me disseram foi:«Também quero escrever. Como é que faço?» Tentei responder das mais variadas maneiras, mas o tempo nunca chega para explicar. Era preciso um livro. É este o livro.” Assim começa o primeiro livro integralmente original de Miguel Esteves Cardoso dos últimos 28 anos. Durante cerca de 50 anos dedicados à escrita, da crónica ao romance, passando pela poesia, pelo ensaio, pela ópera e até por programas políticos, Miguel Esteves Cardoso escreveu um pouco de tudo, mas há 28 anos que não publicava um livro inédito. O título diz ao que vem: “Como Escrever”. Ao longo de seis capítulos o autor dá ideias sobre como começar e aborda questões como o perigo de ler o que já está escrito”, ou “as dificuldades dos apontamentos”, dá “razões para escrever”, estabelece que “as noites são para sonhar, as noites são para escrever”. E diz, preto no branco, que “escrever é um trabalho” e que”ler é uma coisa que se faz quando não se está a escrever” porque “ler é uma preguiça”. Pelo meio faz a recomendação de que pagar a um editor para rever o texto escrito é “dinheiro bem gasto”. Mais à frente fala do “cenário ideal para escrever”: “é uma ilha deserta e você está todo nu”. E, claro, sublinha que “uma pessoa para escrever tem de se isolar” porque “para escrever é preciso solidão”, antes e depois da escrita. O livro encerra com um capítulo sobre algumas sugestões práticas, algumas questões técnicas e, quando fala do equipamento necessário, afirma, taxativo, que o telemóvel é o maior amigo da escrita que alguma vez existiu” porque com ele “pode fazer apontamentos e escrever sempre que lhe apetecer”. A terminar, nas últimas sete páginas das 196 deste “Como Escrever”, Miguel Esteves Cardoso deixa um exercício que passa pelo papel da fotografia na escrita. Mais não digo.”Como Escrever” é uma edição Bertrand, com edição de Rui Couceiro.
MÚSICA SOLITÁRIA - São 13 canções curtas, mas intensas, apenas 36 minutos de uma música por vezes apenas instrumental, com a voz a surgir num sussurro ou então de forma melodiosa e intimista. Falo de “My Light, My Destroyer”, o terceiro álbum de Cassandra Jenkins, uma norte-americana com raízes no folk. Mas neste disco há também ambientes mais jazzy e o recurso a instrumentos como o violino ou o violoncelo ou mais pop como acontece em “Only One”. A sua voz, com uma marca melancólica, é uma característica evidente mesmo quando por trás existem guitarras eléctricas com o som distorcido. Jenkins disse numa recente entrevista que fazer canções é para ela como uma obrigação e isso é coisa que não lhe agrada. E, no entanto consegue fazê-las e dar-lhes brilho como este disco comprova. Há imagens de quotidiano nestas canções, como em “Petco” ou “Delphinium Blue”, que relatam os seus pensamentos em deambulações por locais como uma loja de animais ou uma florista. Há também a evocação das suas digressões, mas a solidão é a linha condutora deste disco, assim como a ansiedade. Uma canção, “Aurora, IL” , é o cartão de visita perfeito para perceber a música, o espírito e a voz de Cassandra Jenkins. O disco está nas plataformas de streaming.
WEEKEND - Para ver: a exposição “Atelier”, de Pedro Cabrita Reis, na Mitra, em Marvila, encerra no próximo domingo dia 28 e até lá pode ser vista das 14 às 18h00. Para ler: a edição de Agosto da revista “Wallpaper” tem um magnífico portfólio fotográfico assinado pela dupla Inez & Vinoodh, dedicado às 50 pessoas que marcam a diferença em termos de criatividade nos Estados Unidos. Para petiscar: o “Espalhafato na Cozinha”, onde Francisco Completo propõe bons petiscos quintas, sextas e sábados das cinco da tarde à meia noite, em Alfarim, na avenida José Carlos Ezequiel, 44.
DIXIT - “As novas teorias do género, das minorias, do legado histórico, da restituição e do arrependimento estão a destruir a Europa e a liberdade “- António Barreto
BACK TO BASICS - “A verdade é a melhor resposta à calúnia” - Abraham Lincoln
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
TVDEs SUSPEITOS - Segundo o Instituto de Mobilidade e Transportes existem 69.814 pessoas com licenças passadas por aquela entidade para conduzirem TVDEs. Só no ano passado foram emitidas quase 21 mil novas licenças. O Instituto trabalha com a Uber e a Bolt, aparentemente no melhor dos entendimentos, e recebe destas empresas, em taxas de supervisão, mais de seis milhões de euros por ano. Não se sabe quantos destes motoristas têm de facto carta de condução verificada e válida em Portugal ou se têm toda a documentação legalizada ou sequer se fizeram testes adequados. Basta ver como muitos condutores de TVDE’s guiam para ter as maiores suspeitas sobre o processo de autorização e fiscalização. É cada vez mais frequente ver TVDE’s fazerem inversões de marcha não autorizadas, nao fazerem sinal de mudança de direção, não seguirem as regras de prioridade ou coisas tão comezinhas como respeito por entradas alternadas no estreitamento das vias. Muitos destes condutores são estrangeiros e claramente desconhecem as regras de trânsito em vigor. É legítimo suspeitar que algo vai mal na verificação das verdadeiras capacidades de condução de muitos destes motoristas e do seu conhecimento das regras de circulação em Portugal. É também legítimo que, face ao que se vê acontecer nas ruas, se suspeite que há desleixo, fraude e talvez mesmo corrupção na concessão de licenças pelo IMT e na fiscalização pelas autoridades. Uma coisa é certa: há muito motorista TVDE a guiar que não devia estar autorizado a fazê-lo. E, se há suspeitas de que o IMT facilita em demasia as licenças, há claramente a certeza que as plataformas Uber e Bolt não assumem as suas responsabilidade com a sociedade verificando a idoneidade e capacidade dos motoristas que utilizam. Devia haver uma rigorosa auditoria à forma como o IMT actua, emite licenças, autoriza condutores e operadores e se relaciona com Uber e Bolt. Até lá permanece a suspeita de que há podridão e negociata no assunto. Eu por mim, sempre que posso, ando de táxi.
SEMANADA - Portugal é o terceiro país da OCDE onde as despesas directas em saúde têm mais peso nos gastos dos cidadãos e 12,4% dos portugueses estão sujeitos a despesas de saúde superiores a 10% do rendimento; um estudo recente da Nova-SBE indica que 77 mil idosos estão em risco de pobreza ou vêem a sua situação de pobreza agravar-se devido às despesas com cuidados de saúde e medicamentos; nos primeiros três meses deste ano perto de 800 pessoas foram acolhidas na Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica; em Portugal 25% dos trabalhadores com formação superior exerce funções abaixo da sua qualificação académica; 25% da população reside hoje em apenas dez dos 308 concelhos do país; entre os países da UE Portugal foi aquele que registou maior crescimento de turistas norte-americanos, duplicando em 2023 o número em relação ao ano anterior; a frota automóvel da PSP tem uma idade média de 15 anos; a PSP destruiu nos últimos dez anos 303.208 armas apreendidas, sendo que na primeira operação realizada este ano foram destruídas 8.317; de 2022 para 2023 o aumento de pedidos de vistos de brasileiros para virem para Portugal foi de 89%; segundo o Tribunal de Contas, entre 2016 e 2023 os Governos de António Costa desperdiçaram poupanças com maus exercícios de revisão e racionalização da despesa pública, que se tivessem sido implementados teriam gerado ganhos orçamentais que poderiam ter ajudado a financiar o aumento de despesa com pensões, saúde e cuidados continuados.
O ARCO DA VELHA - O Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais já foi condenado duas vezes pelo Supremo Tribunal Administrativo por práticas ilegais em concursos para novos juízes.
FOTOGRAFIAS HISTÓRICAS - Luiz Carvalho é um dos mais marcantes fotojornalistas portugueses saído da geração que começou a trabalhar na imprensa de forma regular depois do 25 de Abril. Arquitecto de formação, Luiz Carvalho é também o autor e realizador de programas de televisão sobre fotografia, nomeadamente o Fotobox, na RTP3, e tem feito também workshops sobre fotografia. Trabalhou em numerosos jornais e revistas e há cerca de 40 anos editou o livro “Portugueses” que fazia um retrato do país e é um importante testemunho da época. Agora tem duas exposições, uma das quais retoma imagens desse livro, actualizadas com novas fotografias: “Portugueses- tal como somos”, está na Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, em Loulé. A segunda exposição mostra as imagens que recolheu entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975. Esta exposição sobre esse período histórico leva o título “50 de 25”, está na Galeria de Arte da Praça do Mar em Quarteira e está agendada para Setembro a edição de um livro que regista as fotografias expostas. Na imagem que acompanha esta nota está uma fotografia dessa exposição que documenta um dos momentos quentes de 1975, o cerco à Assembleia da República, e mostra o jornal “República”, um vespertino já extinto, um testemunho de como a imprensa era avidamente consumida. Cada uma das exposições mostra cerca de 90 fotografias e pode ser vista de terça a sábado até 14 de Setembro. As duas exposições são dominadas pela utilização de fotografias a preto e branco, “não por uma questão de cinzentismo neo-realista, mas porque os três tons continuam a ser o método fotográfico que melhor consegue sintetizar o essencial, tornando a fotografia como uma linguagem única, diferente da pintura, das habilidades performativas e dos virtuosos do salonismo” - sublinha Luiz Carvalho no texto que acompanha a exposição.
ROTEIRO - Na Culturgest, em Lisboa, até 29 de Setembro, pode ser vista uma exposição da obra de Júlia Ventura, que se desenvolve ao longo de sete salas e que dá a ver mais de vinte séries de trabalho da artista, entre fotografia, desenho, vídeo, texto e instalação, a maioria das quais permanecia inédita (na imagem). Em Bragança, no Centro de Fotografia Georges Dussaud, podem ser vistas fotografias de Carlos Gil, numa exposição “Um Fotojornalista de Guerra e Paz” comissariada por Daniel Cortesão Gil. Na Galeria Quadrum, em Lisboa, até 8 de Setembro está a exposição colectiva “A Moeda Viva”, com trabalhos de, entre outros, Ângela Ferreira, Cildo Meireles, Filipa César, Filipe Pinto, Isa Toledo, Isabel Cordovil, Leonor Antunes, Lourdes Castro, Mauro Cerqueira, e Rita GT. Também em Lisboa, na Galeria Vera Cortês, inaugurou a exposição "Airs”, de Nuno da Luz (Rua João Saraiva 16-1º) e na Galeria Balcony (Rua Coronel Bento Roma 12), a artista britânica Elizabeth Prentiss mostra Skewer, um conjunto de esculturas apresentadas como uma instalação. Na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18) está patente uma exposição de videos e pintura de Francisco Queiróz sob o título “Les Frissons, Les Étoiles e os Pirilampos”. Finalmente no Museu Nacional de Arte Antiga, até 29 de Setembro, pode ser vista a exposição “Épico e Trágico: Camões e os românticos”.
UMA HISTÓRIA AMERICANA - James Comey, antigo director do FBI, meteu-se a escrever ficção e o seu primeiro livro, Central Park West, foi agora editado no mercado português. Este é um policial que se desenvolve nos meandros da política - o arranque é o assassinato, pela ex-mulher, de um ex-Governador do Estado de Nova Iorque, Tony Burke, acusado de assédio sexual por uma série de mulheres. O autor deste policial, James Comey, estudou Direito, foi procurador, advogado, consultor, professor e, por nomeação de Barack Obama, dirigiu o FBI durante quatro anos. O seu primeiro livro, “A Higher Loyalty: Truth, Lies and Leadership” chegou a inspirar uma série de televisão, “The Corney Rule”. “Central Park West”, agora editado, é o seu primeiro romance. Tudo gira em volta de Kyra, acusada de ter morto o ex-marido, e das polémicas que envolviam Tony Burke, considerado pela imprensa como o Harvey Weinstein da política. Pelo meio surge um líder da máfia, que quer negociar uma quase certa condenação por revelações sobre todo o caso e que, numa reviravolta inesperada, implicam mafiosos na morte do ex-Governador. Este é um livro sobre justiça, política e ocrime organizado nos Estados Unidos, num ambiente de conspiração e corrupção. Edição da Singular.
O SENHOR LOUIS - “Louis In London” é uma magnífica colecção de 13 canções gravadas ao vivo por Louis Armstrong num programa da BBC em 2 de Julho de 1968. Inéditas até agora, estas gravações incluem alguns dos temas mais marcantes da carreira de Armstrong como “A Kiss To Build A Dream On”, “Hello, Dolly”, “You’ll Never Walk Alone”, “Blueberry Hill”, “Mack The Knife”, “What a Wonderful World e “When The Saints Go Marching On”, entre outros. Disponível em vinil e CD, a edição física inclui um texto de Ricky Ricciardi, o biógrafo de Louis Armstrong. Esta gravação, feita dois anos antes da morte de Armstrong, é apresentada como a sua última grande actuação gravada, muito pouco tempo depois de ter chegado ao primeiro lugar do top britânico com “What A Wonderful World”. Acompanhado por um grupo de cinco músicos, o disco mostra, além do seu trompete, a poderosa voz de barítono de Louis Armstrong, com as inflexões e capacidade de interpretação que o caracterizavam. A primeira faixa do disco é “When It’s Sleepy Time Down South.”, que é como que um emblema de toda a sua carreira. Ao lado de Armstrong estão Tyree Glenn no trombone, Joe Muranyi no clarinete, Marty Napoleon no piano, Buddy Catlett no baixo e Danny Barcelona na bateria. Edição Verve, disponível em streaming.
WEEKEND - Aproveitem estas boas noites e descubram o Teatro Romano, junto ao Castelo de S. Jorge, onde, até dia 27, nas noites de quarta a sábado, é apresentada a peça “Prometeu Agrilhoado”, de Ésquilo, numa produção do Teatro Livre; na esplanada da Cinemateca há cinema ao ar livre, sempre às 21h45 - sexta-feira 19 “A Ave do Paraíso” de King Vidor e sábado 20 “Jogos de Prazer” de Paul Thomas Anderson. E para lerem sugiro o novo livro de Rui Cardoso Martins, “As Melhoras da Morte”, uma série de reflexões sobre a vida.
DIXIT - “O problema é que a escuta é uma violação dos direitos (....) que deveriam ser respeitados. É dos métodos que deveriam ser banidos (…) Proibir as escutas é dar uma ajuda à liberdade e aos direitos dos cidadãos” - António Barreto
BACK TO BASICS - “Aqueles que são eleitos para governar cidades e vilas não se deviam esquecer que os votos das eleições locais vêm dos residentes e não dos visitantes” - anónimo
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ESQUINA 995 - 12 JUL 24
E DEPOIS DA GALINHA? - Na semana passada o INE informou que em 2023 tivemos 26,5 milhões de turistas visitantes, um aumento de 19,2% face a 2022, mais do que antes da pandemia. Já em sentido contrário o INE revelou que em 2023 o total da venda de produtos e prestação de serviços nas indústrias transformadoras diminuiu 2,1% em relação ao ano anterior. As estatísticas são o que são e olhar só para os números pode ser enganador. Mas a verdade é que o turismo é encarado por vários poderes e sectores como a galinha dos ovos de ouro da economia portuguesa e a indústria não. O problema com os ovos surge sempre quando as galinhas deixam de ser poedeiras e de repente as expectativas são frustradas. A explosão do turismo não afecta só Portugal e os seus efeitos são similares em todo o lado: menor qualidade de vida para os residentes, aumento de preços na habitação, descaracterização dos locais e centros históricos. Em cidades como Barcelona fazem-se manifestações contra o excesso de turismo e noutras, como Veneza, são implementadas medidas restritivas. Aqui as únicas medidas que se tomam estão centradas no aumento da taxa turística, que é para espremer um pouco mais a galinha enquanto ela ainda dá ovos. Por estes dias Portugal lembra o far west e a corrida ao ouro, aqui traduzido em turismo massificado. Acabar com o turismo é uma utopia, mas regulá-lo é um dever de quem manda nas cidades. Enquanto noutros países da Europa se debate como fomentar a reindustrialização, aqui pensa-se pouco ou nada nisso e vão-se iludindo as gentes com miragens digitais. E, no entanto, quando a turística galinha deixar de dar ovos será muito tarde para pensar em como fomentar a economia sem ser só com tuk tuks, hotéis ou TVDEs. Se não produzirmos, se não desenvolvermos indústrias, se não criarmos valor acrescentado, seremos estalajadeiros por mais algum tempo. Mas, e depois?
SEMANADA - No primeiro trimestre do ano o preço das casas em Portugal subiu seis vezes mais que na média da UE; em maio deste ano, as instituições financeiras emprestaram às famílias quase 1,4 mil milhões de euros em crédito à habitação, o terceiro valor mensal mais elevado desde finais de 2014; segundo a OCDE a Letónia e Portugal estão entre os países com os sistemas de pensões menos progressivos, criando uma elevada desigualdade salarial aos idosos; em duas décadas, um milhão e meio de portugueses saíu de Portugal, um número equivalente à eliminação de seis distritos do país; 1 em cada 3 jovens vive já hoje fora de Portugal; 20% dos jovens entre os 18 e 35 anos já acumularam pelo menos dois empregos; em 2000 só havia registo de dois cidadãos nepaleses em Portugal, em 2011 já passavam dos mil e em 2022 já eram mais de 23 mil; o verdadeiro investimento português em Defesa é metade do que foi oficialmente reportado à NATO; a PSP deteve nos primeiros cinco meses do ano 60 suspeitos de terem furtado carteiras, um número que duplicou face a igual período do ano anterior; Portugal ocupa o segundo lugar do pódio no número de erros detetados pelo Tribunal de Contas Europeu na utilização do dinheiro de Fundos de Coesão; metade dos alunos do 9.º ano de escolaridade que realizaram este ano a prova final de Matemática obteve nota negativa, inferior a 50%.
O ARCO DA VELHA - Um consultor jurídico da Assembleia da República defende que o Parlamento pode obrigar os cidadãos a entregarem comunicações privadas, como SMS, whatsapp ou e-mails, sem passar pelo Ministério Público e um juiz.
A REVOLUÇÃO DE POMAR - No Atelier-Museu Júlio Pomar está patente até 24 de Novembro a exposição “Revoluções 1960-1975”, focada numa época que marcou a actividade do artista. As mudanças, que caracterizam toda a sua obra, foram nesses tempos tão radicais que os quadros e as pesquisas do artista poderão, por vezes, julgar-se o trabalho de diferentes autores. Em 1963, Júlio Pomar mudou-se de Lisboa para Paris, inspirou-se noutras realidades, e realizou uma sequência intensa de exposições de sucesso, como a do Museu do Louvre, em 1971. A exposição agora apresentada é comissariada por Óscar Faria e pelo filho do artista e crítico de arte Alexandre Pomar. São dele estas palavras: “a década de 60 e os primeiros anos 70 foram marcados pela passagem para Paris e por novos temas de pintura, e pela transformação da sua pintura a partir das séries RUGBY e MAIO'68, a que se seguiram o ciclo do BANHO TURCO e outras variações sobre Ingres, e a série seguinte dos RETRATOS.” E, sobre a exposição: “Mostram-se algumas obras inéditas e outras que não voltaram a ser expostas desde os anos 60. A exposição agrupa algumas obras da viragem dos anos 50/60 (pinturas "negras" de uma pista ibérica que reuniria Goya e o primeiro Columbano), depois as cenas do trabalho do povo (pescadores e mariscadores, a pisa do vinho); algumas paisagens de 1961 a 68 (Albufeira, Lisboa, Porto e um Vista da Janela não localizado); algumas figuras de um bestiário pessoal; as tauromaquias e corridas de cavalos e as variações sobre uma Batalha de Uccello”. “Revoluções 1960-1975” apresenta obras provenientes de várias colecções, privadas e institucionais, ao todo uma centena de obras e cinco vitrinas com livros, revistas, documentos e fotografias. Na imagem está a obra “Table des Jeux”, de 1969, que pertence à Gulbenkian. O Atelier-Museu Júlio Pomar fica na Rua do Vale 7, Lisboa.
ROTEIRO - Em Cascais, no Centro Cultural, Catarina Pinto Leite apresenta até 15 de Setembro uma série de trabalhos inéditos intitulada “Vasos Comunicantes”, pinturas sobre tela e papel. Luísa Soares de Oliveira, curadora da mostra, observa que estes “Vasos Comunicantes” de Catarina Pinto Leite, “comunicam com a história: a história pessoal, em primeiro lugar, feita de memórias de territórios, passagens, percursos, histórias, leituras, imagens, autores; e a história coletiva da pintura e do desenho”. Na imagem um trabalho a cera de abelha e óleo sobre papel japonês, de 2024, com o título“Por entre os campos escondidos”. Outra exposição a ver é promovida pela CC11, uma associação cultural que centra o seu trabalho na fotografia e desafiou a curadora americana Maria Mann a organizar uma mostra de fotografia com autores estrangeiros, “De fora para dentro”, que nos mostrassem o seu olhar sobre Lisboa e o país, mas que se distinguisse das imagens estereotipadas que o turismo promove. Até 10 de Agosto, na Galeria Santa Maria Maior e no espaço CC11 @ Imago, cinco fotógrafos de nacionalidades diferentes mostram como vêem Portugal, de fora para dentro: o canarino Francisco Seco, o argentino Horacio Villalobos, o luxemburguês Marc Schroeder, o alemão Martin Zeller e o romeno Mircea Sorin Albutiu.
A MÚSICA POPULAR - Pode a música unir um povo? - a páginas tantas surge esta ideia em “Dedico-lhe o meu silêncio”, o mais recente, e provavelmente último romance de Mario Vargas Llosa. Esta é a história de como um jornalista de Lima, apaixonado por música peruana, em particular pela valsa crioula, segue a pista de Lalo Molfino, um guitarrista de excepção que descobre por acaso. É curta a carreira de Molfino, que morre novo, e o jornalista, Toño Azpilcueta, dedica-se a um livro que quer contar a história desse guitarrista, mas também da música crioula. A acção decorre no início dos anos 90 e cruza a música com as acções do Sendero Luminoso, um grupo revolucionário, violento, que deixa no país uma marca de divisão. É nesse contexto que Toño Azpilcueta compreende que a música peruana, as valsas, marineras, polcas e huainos, pode ser o ponto de união de um povo - uma ideia inicialmente escarnecida pelos académicos, depois aceite noutros círculos e que acaba por ser reconhecida como elemento capaz de quebrar preconceitos e barreiras raciais. Azpilcueta descobre onde Molfino cresceu, fala com amigos, enquadra-o no tempo, sempre com a sua música crioula como pano de fundo e faz o seu livro, que se torna num sucesso. Com base nesta história Mario Vargas Llosa escreveu um romance notável, que mostra o poder da música popular genuína, mostrando a sua superioridade em relação às falsificações e cópias que abundam em todo o mundo. “Dedico-lhe o meu silêncio” tem tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra e foi editado pela Quetzal.
VIOLONCELO POP - Mabe Fratti é uma violoncelista pop de 32 anos, da Guatemala e que vive na Cidade do México. Recomendo-vos que vão já a uma das plataformas de streaming e ouçam este seu novo álbum, o quarto a solo, “Sentir Que No Sabes”. São 13 canções envolventes, onde os arranjos e a voz vão do surpreendente ao emotivo, umas vezes mais melódicos, outras mais rítmico. Não há duas canções iguais, tudo vai mudando, com a linha de baixo sempre presente, a marcar o ambiente. Mabe Fratti é musicalmente aventureira, gosta de experimentar e embora se perceba que tudo é elaborado e pensado, também se sente que de alguma forma o seu trabalho nasce do gosto por improvisar musicalmente e depois ir depurando o resultado. É difícil catalogá-la num género - podia ser pop, mas também podia ser jazz ou música electro-acústica. Num dos temas, aliás duas versões do mesmo tema, “Elastica”, ela é mais radical e há quem diga que a forma como toca o violoncelo, fortemente amplificado, faz lembrar o trabalho de John Cale nos Velvet Underground. Nalguns pontos, como em “Kitana”, não fica longe da guitarra eléctrica. E há temas, como “Alarmas Olvidadas” que mudam de ambiente - e sentimento - de forma abrupta. A forma que usa a voz, que passa de delicada e intimista como em “Descubrimos Un Suspiro” a dura e expansiva como em “Margen del Indice”num ápice, é uma das características mais marcantes deste “Sentir Que No Sabes”. Disponível nas plataformas de streaming.
WEEKEND - Boa altura para conhecer a nova edição de “O Livro das Imagens”, de Rainer Maria Rilke e ler a sua poesia; na esplanada do bar e restaurante Flagrante Delitro da Casa Museu Fernando Pessoa, às quintas pelas 19h00 há duetos de jazz com músicos do Hot Clube; bebida de verão: gelo, água tónica e no fim, por cima, um café expresso.
DIXIT - “No ano em que comemoramos um dos raros génios nacionais, Camões, continuamos indiferentes aos estragos que a nossa língua teve com o Acordo Ortográfico” - José Pacheco Pereira.
BACK TO BASICS - “Os meus três anos de actividade política foram muito instrutivos sobre a forma como o apetite pelo poder pode destruir a mente humana, valores e princípios e transformar as pessoas em pequenos monstros” - Mario Vargas Llosa
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
ESQUERDA E DIREITA - À hora a que escrevo não se sabe ainda o resultado das eleições no Reino Unido - mas, se as sondagens estiverem certas, a probabilidade é que os trabalhistas ganhem e os conservadores abandonem o governo do país, que lideram desde 2010. Numa Europa onde o resultado das eleições tem dado a vitória a partidos à direita do espectro político, o Reino Unido surge assim como uma excepção, bem diferente do que se passa em França. É curioso seguir o pós eleições nestes dois países europeus - um que disputa a liderança da União Europeia, a França, e outro que é um bastião dos direitos e liberdades, o Reino Unido. Como Luciano Amaral escreveu no “Correio da Manhã”, “completamente em contraciclo com uma Europa continental onde a direita radical se aproxima dos governos, o RU vira ordeiramente à esquerda”. E Luciano Amaral deixa ainda uma nota: “repare-se no que teria acontecido nas últimas eleições europeias se o Reino Unido ainda elegesse cerca de 70 deputados: supondo que os resultados fossem como os das legislativas, os Socialistas e Democratas europeus poderiam tê-las ganho, levando a UE a virar à esquerda, em vez de à direita”. E por falar nas eleições francesas, e em esquerda e direita, termino com outra citação, desta vez de Ana Cristina Leonardo: “Os gritos de vem aí o fascismo, a que se tem resumido em grande parte a estratégia da esquerda, o varrer para debaixo do tapete temas como os da imigração, violência urbana e o radicalismo identitário vêm empurrando cada vez mais eleitores para a extrema-direita, indiferentes ao voto ideológico e a esse preferindo um voto pragmático que, entretanto, deixou de ser simplesmente de protesto. Os tempos adivinham-se de chumbo e a verdade pura e dura, como dizia o humorista francês Guy Bedos, é que está a ser cada vez mais difícil ser de esquerda, sobretudo quando não se é de direita.“
SEMANADA - Os gastos dos turistas norte-americanos em Portugal ultrapassaram os dos turistas espanhóis nos primeiros quatro meses deste ano e atingiram 692 milhões de euros; o número de dormidas de turistas americanos em hotéis portugueses no ano passado totalizou 4,6 milhões, um aumento de 33% em relação ao ano anterior; um estudo do ISCSP indica que três quartos dos jovens portugueses têm uma visão polarizada da política e colocam-se mais à direita; Lisboa passou a ser a 23ª cidade da Europa com trânsito mais congestionado e subiu 25 posições face a 2022; as plataformas eletrónicas de TVDE tiveram um volume de negócios em 2023 superior a 500 milhões de euros e já ultrapassaram o volume de negócios dos táxis tradicionais; a receita fiscal caíu 100 milhões de euros nos primeiros cinco meses deste ano, devido a uma queda de 291 milhões de euros na colecta de impostos directos enquanto a subida dos indirectos, que atingiu 193 milhões, não foi suficiente para compensar; 81% dos doentes com cancro estão à espera de uma primeira consulta no sector público para além do tempo máximo de resposta que é estabelecido; o número de mulheres sem filhos em Portugal triplicou nas últimas duas décadas e Portugal continua a ter uma taxa de fecundidade abaixo da média da OCDE.
O ARCO DA VELHA - Invocando frio no Inverno e ruído dos saltos de uma vizinha do andar superior, o anterior Presidente do Supremo Tribunal de Justiça recusou viver na casa de função que é propriedade do Ministério da Justiça, um apartamento de 200 m2 com vista para o Tejo na Avenida Infante Santo, e optou por arrendar uma outra casa que implicou uma despesa de 60.000 euros ao Estado.
ELVAS EM FARRA - Cerca de duas centenas de obras de dezenas dos mais importantes artistas contemporâneos portugueses e vários estrangeiros podem ser vistas em Elvas na primeira edição da Farra, uma iniciativa impulsionada pelo MACE, Museu de Arte Contemporânea de Elvas e que até 25 de Agosto estará patente ao público em três dezenas de exposições espalhadas por outros tantos espaços da cidade, de Museus a casas particulares, passando por sociedades recreativas e edifícios históricos. FARRA, um nome excelente, significa Festa da Arte em Rede na Região do Alentejo. Dirigida por Ana Cristina Cachola, esta primeira edição da FARRA conseguiu mobilizar para Elvas a participação de 14 das mais importantes colecções do país, 13 entidades sem fins lucrativos e dois museus. A FARRA inclui ainda um extenso programa de atividades paralelas que inclui performances e diferentes atividades de educação. Júlio Pomar, Julião Sarmento, Manuel Baptista, Lourdes Castro, Miguel Palma, Luísa Cunha, Isabel Cordovil, José Pedro Croft, Gonçalo Mabunda, Ângela Ferreira, João Louro, Michelangelo Pistoletto, Eduardo Chillida,Yonamine, Rui Chafes, Pedro Cabrita Reis, Inez Teixeira, Pedro Valdez Cardoso, Jorge Queiroz, Patrícia Garrido e Cristina Ataíde são alguns dos nomes cujas obras estão na FARRA. Na imagem podem ver ”Mulher Com Árvore”, de Cristina Ataíde, incluída na Colecção PLMJ, exposta na Sociedade Recreativa O Elvas. Programação completa em farra.pt .
ROTEIRO - Esta semana destaco duas artistas brasileiras. Começo por Bettina Vaz Guimarães, que tem duas exposições: “Abraço ao Infinito” na Capela do Centro Cultural de Cascais (até 29 de Setembro) e “Tabela Periódica” no Museu de História Natural, em Lisboa. Em Cascais Bettina Vaz Guimarães apresenta 280 pinturas, que compõem a exposição, especialmente pensada para o espaço da antiga Capela, um trabalho onde onde a cor e a forma são os elementos primordiais. As obras têm todas a mesma dimensão (24x32cm, cada) e foram realizadas em tinta acrílica sobre papel, grafite e lápis de cor. A outra artista brasileira é Panmela Castro e expõe até 14 de Setembro “Do Jardim Um Oceano” (na imagem), na Galeria Francisco Fino (Rua Capitão Leitão 76, Marvila). Durante dois meses Panmela Castro instalou o seu atelier numa varanda de Lisboa, onde retratou amigos e recém conhecidos, portugueses e imigrantes de várias nacionalidades, além de um autorretrato da artista. Destaque ainda para a nova série de trabalhos de Jorge Feijão, com o título “Livro de Horas”, patente na Galeria Nuno Centeno (Rua da Alegria 598, Porto).
UM LIVRO EMOCIONANTE - O que mais surpreende no novo romance de Rui Couceiro, “Morro da Pena Ventosa”, é o ritmo da escrita, a sucessão de momentos, de episódios, de pequenas histórias, de personagens que se desenvolvem ao longo de 140 episódios curtos e que nos arrastam até ao final sem vontade de parar. O derradeiro episódio, chamemos-lhe assim , tem duas páginas e termina dando um recado com destinatária apontada: “Não há na escrita nenhum compromisso com a verdade, apenas um acto de rebeldia, uma forma de nos vingarmos da vida. A leitura, essa, é a verdadeira ação criadora, os metros últimos da passadeira que a escrita estende.” Rui Couceiro fez um livro sobre o Porto, levando-nos a percorrer caminhos que, os que não são da cidade, apenas conhecem de nome e que desta forma descobrem de outra maneira. É, também, um livro sobre a vida, mas que não teme a morte e a evoca com o amor que se destina a quem gostamos. E é um livro que fala dos nossos problemas actuais, que olha para o Douro como uma fonte de vida que parece ameaçado por quem lhe interrompe a água antes de chegar a Portugal - chama-se “pedir ao rio que venha”, esse episódio.”Morro da Pena Ventosa” é o segundo romance de Rui Couceiro (o primeiro foi “Baiôa sem Data para Morrer”). Aqui, o autor dá um salto em frente, arriscado, mudando quase tudo na forma como se apresenta ao leitor. Os 140 momentos deste romance podiam ser os planos de um filme que se sucedem na sala de edição - e cada momento encaixa no anterior, abre a porta para o seguinte mas também pode ser visto pelo que é. Edição Porto Editora.
O ESCRITOR DE CANÇÕES - No início dos anos 90 Johnny Cash (que morreu em 2003) atravessava um mau bocado, a sair de uma cura de reabilitação, sem editora, com pouco trabalho. Mas em 1993 entrou num estúdio em Nashville e começou a trabalhar numa série de canções que tinha escrito ao longo de 30 anos e que ainda não tinha gravado. Estas gravações nunca foram finalizadas, eram aliás pouco mais que ensaios, e até ao ano passado andaram desaparecidas. Foram encontradas pelo seu filho, John Carter Cash que em pós produção isolou a voz de Cash e a juntou em estúdio a uma série de músicos, incluindo vários que o conheceram bem. Esta é a base de “Songwriter”, o álbum agora lançado e que inclui 11 temas, dois dos quais “Like A Soldier” e “Drive On” apareceram no álbum “American Recordings”, produzido por Rick Rubin e que em 1994 assinalou o início de uma nova etapa na carreira de Cash. Algumas canções são inesperadas e mostram a faceta de humor que caracterizava Cash, como “Well Alright” ou a forma como cantava o amor, em “I Love You Tonite”, dedicada a June, a sua mulher. O trabalho de pós produção que recuperou as gravações de “Songwriter”, a cargo de David Ferguson e John Carter Cash, é assinalável e inclui a colaboração de uma dezena músicos, e até a inclusão, em coros , de Waylon Jennings, outra lenda da música Country, que aliás integrou os “Highwaymen” com Cash, Willie Nelson e Kris Kristofferson. Disponível em streaming.
WEEKEND - Aqui ficam três sugestões para o fim de semana. A primeira é um filme, “À Mesa da Unidade Popular”, mais que um documentário, uma revisitação corajosa do último meio século de Moçambique, desde o período colonial às mudanças, ilusões e desilusões dos anos da independência. Um grande trabalho de Isabel Noronha e Camilo de Sousa, em exibição no Cinema Ideal. A segunda é um oportuno livro, “Atlas da Revolução Francesa”, que vai desde a convocação dos Estados Gerais em 1778 até à coroação de Napoleão I em 1804, boa leitura para acompanhar a segunda volta das eleições francesas. A terceira é um documentário da HBO, sobre uma das lendas do rock, eterno parceiro de Bruce Springsteen, actor ocasional e grande músico: “Steven Van Zandt: Disciple”, em streaming na MAX.
UMA PERGUNTINHA - Alguém sabe qual a programação cultural prevista para a presença portuguesa na Expo Mundial Osaka 2025 que começa já a 13 de abril do próximo ano?
DIXIT - "Todos concordamos que é preciso que algo mude no Ministério Público no sentido da credibilização. Alguém tem de pôr ordem na casa” - Rita Alarcão Júdice.
BACK TO BASICS - “A política é a conjugação da arte do possível com o que é necessário” - Raymond Aron
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