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A GRANDE PALA

por falcao, em 27.09.24

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VAMOS CORRER RISCOS - Existem duas eras na Gulbenkian: antes e depois do Centro de Arte Moderna. Criado por iniciativa de Sommer Ribeiro apoiado por Madalena Perdigão, inaugurado em 1983, o CAM veio trazer uma lufada de ar fresco a uma instituição que bem precisava dela. A Gulbenkian abriu ao público em Outubro de 1959 e até 1974 desempenhou o papel de um Ministério da Cultura que era inexistente. A sua importância para a cultura portuguesa nessa época - e nos primeiros anos a seguir ao 25 de Abril - foi grande. Mas, como muitas vezes acontece, ao longo dos tempos, foi-se acomodando. Madalena Perdigão criou um sobressalto com o CAM, cujo programa se resumia numa das suas frases preferidas: “Vamos correr riscos”. E assim foi até ao seu desaparecimento precoce, em dezembro de 1989. Na década de 90 muita coisa mudou,  desde logo com a preparação da Europália 91, que decorreu em Bruxelas, e impulsionou uma recuperação dos museus nacionais. Logo a seguir,  com a inauguração do CCB e Culturgest em 1993, a Gulbenkian deixou de ser a monopolista bem instalada na corte do poder e da cultura. A década de 90, mais tarde com Lisboa Capital Cultural Europeia em 94, a Expo em 98 e os novos equipamentos culturais da cidade, transformou completamente o panorama e deixou a Gulbenkian numa encruzilhada, a perder público e notoriedade. Foi assim que entrou no século XXI, progressivamente perdendo relevância e sem uma estratégia clara visível. O CAM fechou em Agosto de 2020 e esteve em obras desde 2021 até este ano. O edifício original foi substancialmente alterado pelo projecto do arquitecto japonês Kengo Kuma e foi ampliada a área exterior com um novo jardim desenhado por Vladimir Djurovi. A gigantesca pala, com mais de 100 metros de comprimento, de inspiração japonesa, é a peça mais polémica da obra - a estrutura parece opressiva, sobretudo na zona mais baixa, a imagem que se tem do exterior, nomeadamente da rua Marquês Sá da Bandeira, não é agradável (na imagem). Só o tempo mostrará como vai ser o funcionamento do novo CAM, o rumo da sua Direcção, a capacidade de fazer uma programação que consiga atrair públicos e fazer a ligação com a Colecção da Gulbenkian, articulando se possível a do fundador e a contemporânea. O edifício original do CAM foi bastante modificado, tem agora mais 900 m2 de área expositiva e algumas novidades: é possível o acesso à área de reservas, numa sala visitável para ver obras da colecção, há zonas fixas e móveis preparadas para apresentar obras em suportes digitais de imagem e som e uma nova área, a Galeria da Colecção, onde serão mostradas obras do acervo do CAM - e esta é talvez a nova  área do edifício que levanta mais dúvidas por ser relativamente estreita e não permitir recuo às peças, sobretudo as de maiores dimensões. A Gulbenkian não tem sido particularmente feliz com o resultado das escolhas que tem feito dos directores estrangeiros que tem escolhido. Vamos ver se o actual director do CAM, Benjamin Weil, conseguirá não se deixar fechar em lobbies e manter os olhos abertos para fora da teia de influências e dos lobbies convenientes ou de conveniência. Para já, o programa inaugural não é auspicioso, à excepção de Gabriel Abrantes e de “Linha da Maré”, na Galeria da Colecção, com peças importantes, embora se note a falta de algumas das obras mais emblemáticas do acervo que mereciam estar em destaque na reabertura do CAM e não escondidas nas reservas. Infelizmente a exposição “O Calígrafo Ocidental”, sobre a obra de Fernando Lemos e a sua relação com o Japão, podia ser um marco, mas tem uma montagem confusa que desmerece o artista. De resto nada mais a salientar. Daqui a uns meses perceberemos melhor se o novo edifício e a sua direcção são, ou não, uma oportunidade perdida. Até lá, como dizia Madalena Perdigão, vamos correr riscos.

 

SEMANADA - A carga fiscal na primeira metade deste ano foi de 36% do PIB, 1,6% acima do valor registado em igual período do ano passado; segundo o Eurostat, cada português desperdiça 336 euros em comida por ano, o que representa quase 11% do orçamento familiar em alimentação e o valor total desperdiçado anualmente pelos portugueses é de  mais de 3,3 mil milhões de euros; no século XIX  apenas 7% do território português era ocupado por floresta e hoje ela  cobre 36% do território nacional; os incêndios da semana passada consumiram 135 000 hectares e a área total ardida este ano chega quase a 147 000 hectares, a terceira maior da década; registam-se anualmente cerca de 6000 crimes de fogo posto e o número de presos condenados por esse crime quase duplicou na última década; comprar casa em Lisboa é 70% mais caro que no resto do país; o filme “Divertida-mente 2” da Disney Pixar foi visto em Portugal por cerca de 1,3 milhões de espectadores e gerou uma receita bruta de bilheteira de 7,7 milhões de euros, a maior de sempre registada no país; o Ministro da Educação reconheceu que há ainda “mais de 200 mil alunos” sem todos os professores; nos últimos quatro anos o  número de estudantes que reportaram problemas de saúde mental duplicou e transtorno de ansiedade e depressão são os problemas mais reportados; há mais de uma centena de leis por regulamentar desde 2003; até Julho Portugal importou 443 milhões de euros em paineis solares chineses.

 

O ARCO DA VELHA - A lista de espera para tratamentos de fertilidade no SNS indica que por falta de dadores cerca de mil mulheres aguardam por espermatozóides e 426 por ovócitos e o tempo de espera ultrapassa os três anos.

 

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A ENERGIA DAS FLORESJorge Galindo é um pintor espanhol que divide o seu tempo entre Borox, perto de Toledo, e Gaia, onde também tem casa. Com forte influência de Julian Schnabel, com quem estudou,  a obra de Jorge Galindo faz uso de uma ampla variedade de materiais, em superfícies exuberantes e coloridas. A sua nova exposição “Flama” está patente na Galeria Fernando Santos, no Porto, até 9 de Novembro (Rua Miguel Bombarda 526). Bernardo Pinto de Almeida, historiador e crítico de arte, afirma no texto que escreveu para a exposição que o título é uma “explícita alusão a esse fogo que parece consumir, desde sempre, as suas imagens”. A exposição apresenta um conjunto de obras de grandes dimensões, acompanhadas por uma série de pequenas obras executadas sobre livros abertos, colocados sobre estantes de orquestra para pautas musicais. O tema central das obras é a forma como Galindo vê e observa flores. Para Bernardo Pinto de Almeida o artista arriscou levar mais longe o seu processo de trabalho  “nestas novas flores selvagens, que uma vez mais ampliam as que apareciam já nas séries anteriores, ao deixar cada vez mais  fluentes e mesmo cada vez mais abstractos os gestos, a presença das colagens, as expressões da cor e do “ataque” do corpo na sua luta com a tela”. A Galeria Fernando Santos apresenta também a exposição de fotografia “25 Palavras ou Menos” de Luís Palma e uma exposição de novos trabalhos de pintura de Avelino Sá, "Eclipse" todas igualmente até 9 de Novembro.

 

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O SURREALISMO E O SILÊNCIO - No Centro de Arte Manuel de Brito (Campo Grande 113) continua até 4 de Outubro a exposição “Os Artistas Surrealistas na Colecção Manuel de Brito” com obras de António Pedro, António Dacosta, Mário Cesariny, Paula Rego, Marcelino Vespeira e Mário Botas (na imagem), entre outros. Na galeria Vera Cortês Carlos Bunga apresenta novas obras em “Silêncio”, até 31 de Outubro (Rua João Saraiva 16 -1º). Carlos Bunga nasceu no Porto, estudou na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha e actualmente vive e trabalha perto de Barcelona. Bunga, que é um dos artistas portugueses com maior número de exposições realizadas no estrangeiro nos últimos anos, repetiu a sua presença na Bienal de S. Paulo em 2023. Outra exposição a reter é “Anton's Hand is made of Guilt. No Muscle or Bone. He has a Gung-ho Finger and a Grief-stricken Thumb”, um  trabalho documental multimedia de Edgar Martins, que evoca a morte de um amigo próximo na guerra do Líbano em 2011,  acompanhado por um photobook, que ficará até 16 de Novembro na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80).  Na Amadora, Galeria Municipal Artur Bual, decorre até 6 de Outubro uma exposição baseada na obra gráfica de Maria Helena Vieira da Silva, integrada no programa de itinerâncias da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, com mais de 50 trabalhos da artista feitos entre 1954 e 1988.

 

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ADUBO PARA O PENSAMENTO - Em 1977 Jorge Luis Borges proferiu um conjunto de palestras no teatro Coliseo de Buenos Aires. Essas conferências foram gravadas e um jornal argentino publicou-as numa versão cheia de erros de transcrição, omissões e cortes arbitrários. Depois de, ao longo de dois anos, se ter recusado até mesmo a ouvir as gravações, Borges concordou em compilar as sete conferências, exigindo revê-las uma a uma. É o resultado desse trabalho que pode ser lido em "Sete Noites", o título que evoca as sete palestras: “A Divina Comédia”, “O pesadelo”, “as Mil e Uma Noites”, “O budismo”, “A poesia”, “A cabala” e “A Cegueira”. Num destes textos, “A poesia”, citando Emerson, Borges diz que “uma biblioteca é um gabinete mágico em que há muitos espíritos enfeitiçados. Atrevo-me a dizer que este livro é um bom exemplo disso, dá-nos que ler, para depois pensarmos. Roberto Bolaño, o poeta e escritor chileno já desaparecido, tem uma frase que define tudo: “Eu poderia viver debaixo de uma mesa a ler Borges.” Edição Quetzal.

 

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WEEKEND -  O festival Encontros da Imagem vai na sua 34ª edição. Com origem em Braga e extensões ao Porto, Guimarães,  Barcelos e Vila Nova de Gaia apresenta  mais de quatro dezenas de exposições. Pode ver todo o programa em encontrosdaimagem.com . Uma sugestão musical é o novo álbum dos Tindersticks, “Soft Tissue”, cuja capa aqui se reproduz, um regresso em grande forma da banda de Stuart Staples, já disponível nas plataformas de streaming. “Para finalizar, no próximo sábado e domingo, entre as 11H e as 18H, o Museu Bordalo Pinheiro, ao fundo do Campo Grande realiza a “Paródia no Bordalo”, com um conjunto de actividades desde uma feira do livro a oficinas artísticas, visitas guiadas e uma sessão de curtas metragens de animação, tudo com entrada livre.

 

DIXIT - “Nas fotografias mais institucionais, cerimónias do Estado Novo, o que mais impressiona é a pompa, as poses e a coreografia estereotipada” - José Pacheco Pereira

 

BACK TO BASICS - “Os meus pais ensinaram-me a ouvir o que os outros dizem antes de tomar uma decisão. Quando sabemos ouvir, aprendemos sempre” - Steven Spielberg

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



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publicado às 09:36

 

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COMO VÃO AS AUDIÊNCIAS DA RÁDIO? - O rastreio das audiências de rádio é feito pela Marktest e dele resulta o Bareme Rádio que permite medir o alcance de cada estação, a audiência de véspera e o share de ouvintes e ainda o total dos que ouvem rádio. Os números mais recentes, relativos ao final de Junho, indicam que o grupo Bauer Media (Ex Media Capital Rádios, que engloba a Rádio Comercial, M80, Cidade FM, Smooth e Batida) tem um share global de 43,8% e lidera o mercado. Em segundo lugar vem o Grupo Renascença, com 26,3% de share global nas suas três estações: RFM, RR e Mega Hitz. O grupo RTP (Antena 1, Antena 2 e Antena 3) tem 7,4% de share. Por estações a mais ouvida é a Rádio Comercial, com um share de 25,7%, seguida pela RFM com 17,1% e a M80 com 10,1%. A Antena 1 tem 5,4% de share, a TSF 2,4% e a Rádio Observador 2%. Hoje em dia o consumo de programas de rádio faz-se não só nos aparelhos de telefonia, mas também em streaming. E segundo o Bareme Marktest mais recente,  cerca de 3,5 milhões de pessoas afirmaram ouvir rádio pela internet. Este estudo da Marktest analisou ainda o perfil dos indivíduos que costumam ouvir rádio online: os ouvintes entre os 25 e os 54 anos são cinco vezes mais que os ouvintes com mais de 64 anos. E em termos de classes sociais nas classes alta e média alta há 62.2% que ouvem rádio online e apenas 16,7% da classe baixa. Por último, também segundo a Marktest, há cerca de 2,4 milhões de pessoas que dizem ouvir podcasts, a maioria entre os 15 e os 24 anos e de classe alta.



SEMANADA - Em 2023 estiveram sob escuta 10553 telefones; um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos indica que mais de metade dos portugueses considera que o combate à corrupção é totalmente ineficaz; segundo o mesmo estudo nove em cada dez pessoas consideram que a corrupção é um problema grave e que os clubes de futebol, partidos, câmaras e governos são os casos mais referidos; o custo médio de habitação por metro quadrado em Lisboa é 25% mais caro que em Madrid; em julho passaram pelo aeroporto de Lisboa 3,32 milhões de passageiros, o número mais elevado de sempre; o Estado tem 300 casas para guardas prisionais desocupadas;  em seis anos mais do que duplicou o número de estrangeiros legais em Portugal, passando de 480.300 em 2017, para mais de um milhão no ano passado; 14% dos alunos dos ensinos básico e secundário são de origem estrangeira; hoje já há 140 mil alunos migrantes, de 187 nacionalidades diferentes; os chumbos a matemática aumentaram e 29% dos alunos do nono ano não passaram nessa disciplina; matemática, inglês e português foram as disciplinas em que as negativas no oitavo e nono ano mais subiram; um terço das escolas já abandonou o uso de manuais digitais; o consumo anual per capita de peixe dos portugueses é de 59,9 kgs, mais do dobro da média europeia, e Portugal importa dois terços do peixe que consome.

 

O ARCO DA VELHA - Apesar de a Lei da Paridade de 2019 exigir que 40% dos candidatos a quaisquer eleições sejam do sexo feminino, o número de mulheres eleitas para a Assembleia da República, presidência de autarquias e Parlamento Europeu tem vindo a diminuir.

 

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A FOTOGRAFIA - William Klein é um dos mais importantes nomes da fotografia e a sua obra, que se estende do fotojornalismo à moda, caracteriza-se por  uma observação irónica da realidade. Os  trabalhos para revistas de moda como a Vogue ou as suas reportagens em grandes cidades de todo o mundo trouxeram-lhe notoriedade. Não se ficou na fotografia: realizou filmes de ficção e documentários e até anúncios de televisão. O MAAT apresenta agora sob o título “O Mundo Inteiro É Um Palco”, a exposição originalmente organizada por David Campany para o International Center of Photography, de Nova Iorque, em 2022, sob o título “YES: Photographs, Paintings, Films 1948-2013”. Klein, que morreu aos 96 anos em Setembro de 22, ainda acompanhou o nascer desta exposição e trabalhou com o curador da exposição, David Company, daí resultando um livro-catálogo de que o MAAT edita uma versão portuguesa, em simultâneo com a apresentação da exposição. Ao todo são mostradas cerca de 200 obras das várias áreas que tocou: fotografia de rua, moda, cinema, produção editorial, mostrando a sua visão sobre cidades como Nova Iorque, Paris, Roma, Moscovo e Tóquio. Na imagem uma fotografia efectuada em Moscovo em 1959. As imagens fotográficas de Klein são o eixo dorsal desta exposição organizada em cinco secções: Olhar para trás, Gestos materiais, Tóquio, Filmes e Juntos. A exposição de William Klein estará patente no MAAT Central Tejo até ao início de Fevereiro. Esta semana o MAAT inaugurou outras duas exposições: “Black Ancient Futures”  que reúne obras de 11 artistas da diáspora africana, alguns apresentados pela primeira vez em Portugal, e “Inverted On Us” de Catarina Dias.

 

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ROTEIRO - O destaque desta semana vai para a exposição “Ninfas e Faunos” de Ana Mata, que está na Galeria 111 (Rua Dr. João Soares 5B, no Campo Grande). A exposição, a primeira da artista nesta galeria, reúne pinturas e gravuras feitas entre 2021 e 2024 (na imagem). Em paralelo foi também lançado em parceria com a galeria, um livro de artista, “Carta de Florença”. A 6ª edição do Festival Imago Lisboa está a decorrer com o tema central “Action For A Green Future”. O Festival, que decorre até Dezembro, tem uma extensa programação em diversos locais de Lisboa e todas as informações estão em imagolisboa.pt . Na galeria 3+1 (Largo Hintze Ribeiro 2, Lisboa) Carlos Noronha Feio expõe os seus novos trabalhos na exposição “Milk and “Honey”. Na galeria  No-No (Rua de Santo António à Estrela 39A) Pedro Pascoinho apresenta “RES”. Na Balcony (Rua Coronel Bento Roma 12A) inaugura dia 21 a exposição “Telúricos” de Manuel Aja Espil. E no Atelier Museu Júlio Pomar (Rua do Vale 7)  continua até 24 de Novembro a exposição “Revoluções 1960-1975” que mostra um período particularmente importante da obra de Pomar.

 

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UM LIVRO ESPECIAL - Em1961 Jorge de Sena havia juntado vários dos seus escritos numa colectânea a que deu o título “O Reino da Estupidez”. Mais de década e meia depois, em 1978, já sem censura, Jorge de Sena compilou “O Reino da Estupidez II” que reúne um conjunto de textos que antes do 25 de Abril de 1974 não poderiam ter sido publicados e que satirizam situações ou problemas portugueses, brasileiros ou americanos, denunciando «contradições ridiculamente significativas, para glória e ilustração da estupidez sempre reinante». Esta notável selecção de textos teve agora nova vida graças à colecção “Novas Edições de Jorge de Sena”, que a editora Guerra & Paz tem vindo a fazer. Na maioria dos casos, o autor discorre sobre temas não-literários, excepção feita em «O Fantasma de Camões», um texto onde Sena dialoga com o poeta defunto e lhe fala «do muito que dele há sido escrito». São 16 escritos que, segundo o próprio Jorge de Sena, constituem uma colecção «amplamente instrutiva e divertida, de ensaios e outros textos de notabilíssima qualidade cultural, altíssimo valor educativo e palpitantíssima actualidade, interessando igualmente a homens, mulheres, soldados e crianças (...) de todos os partidos e inteiros em mais de um país “. O meu capítulo preferido é “O festival da besteira”, onde Jorge de Sena escreve que a cultura portuguesa é cheia de colarinhos de goma, faces emaciadamente encaracoladas, cabelos rigidamente penteados”.

 

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ELECTRO BARROCOMax Richter é um compositor alemão naturalizado britânico, que estudou composição e piano na Universidade de Edimburgo. “In a  Landscape” , o novo disco é o nono da sua carreira. O primeiro disco, “The Blue Notebooks”, foi lançado há cerca de 20 anos e ao longo destas duas décadas Richter tem feito discos a solo e composto bandas sonoras para séries de televisão e filmes, bailados, performances artísticas, exposições e até passagens de modelos. Neste novo trabalho, “In A Landscape”, Richter conjuga a electrónica com instrumentos acústicos. A sua música é tensa, por vezes a acentuar o dramatismo da observação que fez do mundo à sua volta, e este disco é bem o retrato da evolução de um músico que reflecte sobre as grandes questões da vida. O desespero que se ouve em algumas das 19 faixas do disco bem poderia ser a banda sonora perfeita para a novela das negociações do Orçamento de Estado. Aliás a primeira faixa, “They Will Shade Us With Their Wings”, é perfeito para acompanhar o ballet dançado à nossa frente por Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Mas regressemos a “In A Landscape” - o álbum foi sendo construído ao longo do tempo, muito em torno de uma peça em cinco andamentos que é a marca deste trabalho- “Life Study”. Um quinteto de cordas, um piano de concerto, um orgão Hammond, um MiniMoog, e diversos instrumentos e aparelhos electrónicos (vocorder, sistemas de delay e reverb) foram utilizados. O trabalho de Richter começa sempre por frases musicais simples que vão criando melodias e evoluindo a ritmos diferentes. Sob um mesmo pano de fundo sonoro, as composições crescem diversas, mas numa mesma linha comum, às vezes evocando sonoridades barrocas num trabalho que ganha outra vida graças aos sons electrónicos. 

 

LÁ FORA - Uma sugestão para o ex-Primeiro Ministro António Costa, para os nossos deputados no Parlamento Europeu e para os portugueses em Bruxelas: no Wiels Contemporary Art Centre a artista portuguesa Ana Jotta expõe até 5 de janeiro uma série de desenhos pinturas e obras em diversos suportes sob o título genérico “On peut…on peut encore”. Se estiver em Londres não perca na National Gallery, até 19 de Janeiro,  “Van Gogh:Poets And Lovers”, que o Guardian considera já ser a exposição do ano na capital britânica. E para terminar, em Madrid, no Museu do Prado, pode ver uma das grandes obras de Caravaggio, o quadro “Ecce Homo”, que estará em exibição até Fevereiro de 2025.

 

DIXIT - ”Em nome do bom senso e da racionalidade e com negociação ou sem negociação, o PS deve aprovar o OE 2025. Não obterá nada de palpável em termos políticos. Também nada terá a perder, mas ganha seguramente a credibilidade e o respeito que os portugueses mais moderados e sensatos estão desejosos de ver na política portuguesa.” - Eduardo Marçal Grilo

 

BACK TO BASICS - “A competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto de abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie” - Agustina Bessa-Luís.

 

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publicado às 12:00

COMO VAI A IMPRENSA PORTUGUESA?

por falcao, em 13.09.24

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E OS JORNAIS,  COMO VÃO INDO? - A entrada em cena do digital na área da informação, há quase três décadas alterou por completo os hábitos de leitura, de compra de publicações e o seu modelo de negócio. Entre nós a melhor forma de aferirmos o que se passa é através dos dados recolhidos pela Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens (APCT) sobre as publicações que se dispõem a ser efectivamente auditadas.  Segundo a APCT, no final do segundo trimestre deste ano, o jornal que vendeu maior número de exemplares em papel foi o Correio da Manhã, com 38653 exemplares diários, seguido pelo Expresso com 36878 exemplares semanais, o Jornal de Notícias com 17721 exemplares diários, a revista Sábado com 15478 exemplares semanais, o Record com 13582 exemplares diários,  o Público com 10058 exemplares diários, o Jogo com 6319 exemplares diários e o Diário de Notícias com 1124. Na imprensa económica o líder é o Jornal de Negócios com 1656 exemplares diários vendidos e nos regionais o líder é o Diário de Coimbra, com 6017 exemplares vendidos. Passemos agora à circulação digital - o número de assinaturas válidas. Aí o Público vai à frente com 52656 assinaturas, seguido do Expresso com 48719 assinaturas. Depois vem o Observador, que não é auditado pela APCT mas reivindica cerca de 30 mil, o Jornal de Negócios com 5466 assinaturas digitais, a Sábado com 5049 , o Record com 4466, o Jornal de Notícias com 4073, o Correio da Manhã com 2680 e o Diário de Notícias com 1175. Deixo aqui alguns números comparativos, para que possam ter uma ideia da importância da dimensão na economia dos media e, infelizmente, da pequenez do nosso mercado: o New York Times tem quase 300 mil exemplares em papel e cerca de 10 milhões de assinantes digitais em todo o mundo. O Guardian tem 104 mil exemplares em papel e 1,4 milhões de assinantes digitais. E em Espanha, aqui ao lado, o El Pais tem uma média diária de 56 mil exemplares em circulação e 300 mil assinantes digitais. 

 

SEMANADA - Lisboa é  a quinta cidade da UE com mais poluição provocada por barcos de cruzeiro; Amesterdão proibiu a construção de novos hotéis no centro da cidade, limitou horários de funcionamento e impôs restrições à venda de canábis; Barcelona quer acabar com o Alojamento Local até ao final de 2028; Veneza proibiu os megafones utilizados pelos guias turísticos e limitou os grupos a 25 pessoas no centro histórico e em ilhas como Murano ou Burano; depois de Paris, Madrid anunciou que vai proibir já a partir do próximo mês o aluguer de trotinetas eléctricas; entretanto a Irlanda tem uma situação sem paralelo na UE, regista um excedente orçamental de 8,6 mil milhões de euros e uma economia a acelerar muito mais do que o previsto;  só 24% das verbas previstas nos financiamentos do PRR para lançamento de novas empresas chegaram até agora às startups para onde eram destinadas; a concessão de vistos para imigrantes procurarem trabalho baixou 24% desde junho; a média de idade dos automóveis que foram para abate nos primeiros seis meses de 2024 fixou-se em 24,7 anos, agravando-se de novo face aos últimos anos; o plano de risco sísmico em Lisboa não é revisto há 15 anos; um estudo recente indica que no segmento residencial de luxo o preço das casas subiu 4,2% em Lisboa no primeiro semestre do ano, valor que fica acima dos registados em cidades do Sul da Europa, como Madrid e Atenas, com aumentos acima dos 3%, ou do Dubai (2,9%); Portugal é o país europeu onde os preços das casas mais aumentaram na última década; a poucos dias do início do ano lectivo há mais de 30% de alunos com professores em falta.

 

O ARCO DA VELHA - O Metropolitano de Lisboa executou apenas cerca 565 mil euros do PRR no ano passado, o que representa menos de 1% dos 66,2 milhões que tinha orçamentado.

 

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IMAGENS FORTES - A exposição da semana é“Scarbo”, de Jorge Molder, na Galeria Miguel Nabinho. Molder apresenta 32 fotografias, todas de grande formato, todas elas concebidas expressamente para esta exposição. Jorge Molder conta que a ideia inicial que tinha para a exposição era outra, mas de repente decidiu mudar de rumo e enveredou por este “Scargo” - “foi um acidente”, confessa. O nome evoca uma das paixões musicais de Molder, o terceiro e último movimento da peça “Gaspard de La Nuit”, uma suíte para piano de Maurice Ravel, composta em 1908 inspirada na poesia de Aloysius Bertrand. “Esta é uma música que sempre me acompanhou”, diz Jorge Molder, revelando a razão do título e da atmosfera da sua nova exposição. “Scargo” de Ravel é uma composição inquieta, que vive dos sobressaltos de um diabo que corre velozmente e assume diversas formas. Foi esta a música que desencadeou o processo criativo da nova exposição. Ao longo dos últimos meses Molder fez centenas de fotografias  e escolheu 32 delas para apresentar. Mais uma vez Molder trabalha sobre o corpo humano - nunca o corpo integral, mas segmentos, muitas vezes do seu próprio corpo, por vezes de outros. E, no entanto, estas novas fotografias são diferentes de trabalhos anteriores. Todas as fotografias são apresentadas de igual forma, ampliações de 96x96cm, impressão digital pigmentada em papel Arches de algodão de 640 gramas. Na imagem uma das fotografias de “Scargo”, em exposição na Galeria Miguel Nabinho até 2 de Novembro, Rua Tenente Ferreira Durão 18, em Campo de Ourique.

 

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ROTEIRO - Esta semana começam a surgir novas exposições nas galerias lisboetas e aguarda-se com expectativa a abertura do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian no dia 21.  “Perceptual Phenomena, Color Spaces, Structural Honesty” é a nova exposição individual de Felipe Pantone, um artista de origem argentina que tem vivido em Espanha, e exibe na galeria Underdogs (Rua Fernando Palha 56) dez obras criadas com recurso a tecnologia digital aplicada às variações possíveis da cor (na imagem). No Museu Nacional de História Natural e da Ciência, na sala do Laboratório de Química Analítica (Rua da Escola Politécnica 46), a artista brasileira Renata Padovan apresenta até 29 de setembro “Irreversível”, uma exposição com curadoria de Sofia Marçal, que se debruça sobre a floresta amazónica, tentando uma reflexão sobre ética e interferência do homem na natureza.“Visível, Invisível” é a nova exposição do escultor Rui Matos patente na  Galeria Diferença (Rua São Filipe Neri 42).  Em Lisboa, na Galeria Santa Maria Maior (Rua da Madalena 147), Pedro Besugo apresenta até final de setembro a exposição “Circumetric”, com trabalhos feitos a partir de  uma teia de desenho abstrato, pintura, colagem e tinta. E na galeria Narrativa, dedicada à fotografia (Rua Dr Gama Barros 60), a programação foi retomada com a exposição “Sıhhalter Olsun” (Boa Sorte), da fotógrafa turca Asli Özçelik. A exposição, resulta de um livro de fotografia que conta a história da mãe da autora, uma jovem oriunda de uma pequena aldeia no nordeste da Turquia, que emigrou para a Alemanha aos 20 anos. 

 

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SOBRE A GUERRA - Gilles Kepel, um cientista político especializado em assuntos árabes e do médio oriente, apresenta no seu livro "Holocaustos, Israel, Gaza e a Guerra contra o Ocidente" o que considera os quatro eixos fundamentais do conflito: as lógicas do pogrom do Hamas, as contradições de Israel ao invadir e bombardear Gaza, as tensões extremadas do contexto regional em torno do 'eixo de resistência' conduzido a partir de Teerão, e a nova guerra mundial contra o Ocidente combatida na frente dos valores morais e da demografia política . “No epílogo interrogo-me acerca da construção doutrinária desses messianismos libertadores do planeta, arvorados por países que, na sua maioria, são dirigidos por regimes autoritários, contra um 'Norte' que é estigmatizado como sendo colonialista, imperialista, racista, 'islamofóbico', mas que funciona segundo as regras do Estado de direito e dos princípios democráticos", escreve Gilles Kepel. O confronto agrava as tensões regionais e tem repercussões globais. Está a tomar a forma de uma guerra global contra o Ocidente e os seus valores, opondo o apartheid à Shoah. Ao redefinir a própria noção de «genocídio», alguns Estados e organizações afirmam fazer parte de um «Sul Global» que luta contra um «Norte» estigmatizado como colonialista e «islamofóbico». Este livro foi descrito já como "o melhor guia possível através do assustador labirinto do Islão militante".  Edição D. Quixote.

 

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O CAMINHO DA DOR - Nick Cave fez o seu 18º álbum, “Wild God”, agora editado, com um fundo ainda mais sentimental e dramático que obras anteriores. O disco percorre as zonas mais sombrias da vida recente de Cave - a morte de dois filhos, Arthur e Jethro, e da sua companheira de vida e colaboradora Anita Lane. Os Bad Seeds que o acompanham têm já pouco a ver com a sonoridade dos originais e encaixaram no registo actual do músico. Também Cave surge de forma diferente - mais como um contador de histórias, tristes é certo, de redenção por vezes, do que como um cantor de baladas. Há epopeias narradas como “Final Rescue Attempt”, e os arranjos surgem pontuados por côros que por vezes parecem excessivos, como no tema “Joy”. As dez canções deste novo álbum são um relato de obsessões e experiências individuais, mas é inevitável que se sinta que esta é a sua história pessoal,  por vezes parecendo algo desligada do mundo actual,  talvez com a excepção da faixa título “Wild God”. A faixa de abertura, “Song Of The Lake” é o exemplo do seu novo cânone musical, mais uma vez empolgado em sintetizadores e côros. Poucos artistas contemporâneos conseguem lidar com a dor pessoal desta maneira, partilhando-a de uma forma tão aberta que por vezes pode parecer excessiva. Mas não há novidades nesta matéria: explorar sentimentos foi sempre o forte de Nick Cave. “Wild God” está disponível em streaming.

 

PARA O FIM DE SEMANA - O Museu de Lisboa - Palácio Pimenta reabriu e volta a apresentar a sua exposição permanente, aumentada com novas peças. Foram renovadas 11 salas e volta a ser possível descobrir neste magnífico edifício ao fundo do Campo Grande a história da cidade de Lisboa, mostrando a sua evolução urbanística, social e cultural. E não deixe de passear no seu magnífico jardim.

 

DIXIT - “Lê-se o relatório da Inspecção Geral de Finanças (sobre a TAP) e fica-se com aquela sensação de vulnerabilidade que torna Portugal um país patusco, fácil de endrominar por espertalhões” - Manuel Carvalho

 

BACK TO BASICS - “No fim lembramo-nos não das palavras dos nossos inimigos mas sim do silêncio dos nossos amigos” - Martin Luther King.

 

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Esta Esquina, que desde o início abordou quase sempre a política deste pequeno rectângulo que é Portugal, vai deixar de o fazer tão regularmente como até aqui. O estado do país e das instituições degradou-se, o sistema eleitoral continua viciado porque os grandes partidos não querem mudá-lo. Portugal podia ser um belo país, foi-se estragando, sem remédio, sobretudo nos últimos 20 anos. A Esquina passará pois a falar de outras coisas. E há muito que dizer...

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COMO VAMOS DE PUBLICIDADE? - Os  números dos investimentos de publicidade são um bom retrato da evolução dos hábitos de consumo dos media e da forma como os anunciantes os encaram em  termos de alcance e eficácia junto dos públicos que querem atingir. Se olharmos para os números do primeiro semestre deste ano vemos que a televisão continua a ter a fatia de leão do mercado, com 47,5% do investimento total, sendo que 34,1% foram para os canais generalistas (RTP1, RTP2, SIC e TVI) e 13,4% para os canais de cabo. Nos últimos anos verifica-se uma progressiva diminuição da fatia que os anunciantes gastam nos canais generalistas e um aumento do investimento nos canais de cabo. E a fatia total da televisão, que há dez anos significava mais de 56% , caíu quase dez pontos percentuais nesse período. Mas quem teve a maior queda foi a imprensa, que no início do século era o segundo meio mais procurado pelos anunciantes, e agora capta apenas 1,7% do total do investimento - há dez anos já estava em queda mas mesmo assim significava mais de 12%. A rádio tem conseguido resistir e no primeiro semestre deste ano captou 6,4% do investimento publicitário, que compara com 7% há dez anos. Um meio que cresceu de forma significativa foi o outdoor, a publicidade de rua, que subiu de 12,3% em 2014 para 14,8% no final de Junho. E, claro, a estrela da companhia é o investimento em digital, que passou de 15,3% em 2014 para 29,3% no primeiro semestre deste ano, e que inclui não só todo o universo de redes sociais e Google, mas também a publicidade nas edições digitais dos diversos meios de informação - televisão, rádio, imprensa. E tudo isto se passa numa situação de crescimento do mercado publicitário e de recuperação da queda ocorrida durante a pandemia. Comparando com 2014, e tendo por base os números finais de 2023, o crescimento registado foi ligeiramente superior a 28% e este ano deverá subir ainda mais. A paisagem mediática mudou muito nos últimos dez anos e analisar as alterações ocorridas ajuda a fazer um retrato das mudanças ocorridas na sociedade.



SEMANADA - Nos cinco primeiros meses deste ano verificaram-se mais mortes em acidentes rodoviários que no mesmo período de há dez anos; em dez anos morreram 45 pessoas e 30 ficaram feridas com gravidade em 56 acidentes com aeronaves em Portugal; desde 1986 há mais mulheres do que homens inscritos no Ensino superior e actualmente as mulheres representam 54% do total; em quatro anos  o estado cobrou mais de três milhões de euros de multas por violações à lei do tabaco; 1,6 milhões de utentes do SNS não têm médico de família e há mais de 300 mil com registos incompletos que se arriscam a ser retirados das listas; no passado domingo o Serviço Nacional de Saúde tinha 17 urgências fechadas em todo o país; há mais de 30 consultórios dentários parados no SNS; no alojamento estudantil, o preço médio por quarto aumentou 12,5% este ano, o valor médio do quarto é hoje de 397€ e em Lisboa atinge 480€ ; o custo da habitação é hoje 23% mais cara em Portugal que em Espanha e Lisboa e Porto têm preços por metro quadrado mais altos que Madrid, sendo que em Lisboa, a diferença é de 60% mais; se olharmos para os rendimentos nos dois países, o salário mínimo português é 28% inferior ao espanhol e o salário médio está 16% abaixo.

 

O ARCO DA VELHA - Quando o edifício da secretaria geral do Ministério da Administração Interna, que tutela as polícias, foi assaltado na madrugada de quarta feira da semana passada, as câmaras de videovigilância estavam desligadas ou avariadas.

 

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UM OLHAR DIFERENTE - Ochre Space, perto do Palácio da Ajuda, é um lugar dedicado à fotografia que existe graças à paixão de João Miguel Barros, que ali acolhe exposições, instalou a sua extensa biblioteca de photo books e promove workshops como os que a agência Magnum lá fez em duas ocasiões.  Advogado baseado em Macau, com incursões por Lisboa, fotógrafo por esse mundo fora, apaixonado pelo trabalho de fotógrafos chineses e japoneses que conhece como poucos, João Miguel Barros apresentou esta semana na Ochre Space a primeira exposição com dezena e meia de fotografias, provas de época de início dos anos 70, do japonês Shoko Hashimoto. A exposição é baseada no seu livro “Goze”, um ensaio fotográfico no qual Shoko Hashimoto fotografou, desde finais dos anos 60 e na primeira metade dos anos 70, as mulheres cegas, chamadas “Goze”, que faziam digressões e atuavam nas zonas rurais ao longo do Mar do Japão. Durante dois anos Hashimoto seguiu três dessas mulheres e as imagens então obtidas constituem o pilar deste trabalho. A opção criativa de Hashimoto nestas fotografias  foi acentuar os contrastes, sem cinzentos, de forma a que os rostos, os corpos, as sombras das árvores ou as casas sugissem como acentuadas manchas de preto e branco que criam um ambiente quase surreal. Nascido em 1939, Hashimoto viu este  trabalho premiado não só no Japão, como em outros países. A exposição pode apenas ser vista nos dias úteis, só até dia 11, das 15h30 às 18h30 e vale mesmo a pena uma deslocação até à Ajuda, Rua da Bica do Marquês 31, a morada do Ochre Space. Para o próximo ano, João Miguel Barros prepara uma exposição do mais importante fotógrafo japonês, Eikoh Hosoe.



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ROTEIRO - No Museu da Marioneta pode ver até 20 de Outubro uma notável exposição, “A Revolução das Marionetas 1970-1980” que mostra peças pouco conhecidas, grande parte delas recuperadas para esta mostra, com montagem de António Viana, e que reúne um conjunto de bonecos dos mais importantes marionetistas dos anos 70 e 80 representativos das grandes transformações na arte da marioneta e na sua apresentação a novos públicos. Na imagem, os bonecos de Cunhal, Soares e Eanes, feitos por Maria Emílio Perestrelo, numa fotografia publicada por Alexandre Pomar.  O Museu da Marioneta fica no Convento das Bernardas, Rua da Esperança, n° 146 e está aberto de terça a domingo entre as 10 e as 18H. Outra sugestão é a exposição “Void”,  do artista australiano James Bonnici, que reúne retratos e paisagem em pinturas e desenhos que usam a distorção e a manipulação de imagens como forma de trabalho -até 8 de Outubro no Espaço Exibicionista, Rua Dona Estefânia 157C. E em Viseu, até 9 de Novembro, na CAOS - Casa de Artes e Ofícios, em Viseu, pode ver “Quotidiano em Narração”, com obras de Ana Pérez-Quiroga. A CAOS fica no centro histórico de Viseu, Largo de S. Teotónio 30. 

 

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ENREDOS DA ARTE - No meio da pandemia, por um acaso do destino, um entregador de encomendas online, Jay, encontra uma antiga namorada, Alice, que não via há muitos anos. Nessa época já distante Jay era um promissor artista plástico, ela vivia dividida entre ele e um amigo próximo, Rob, também artista, menos idealista e mais comercial. Quando Alice o deixa e vai viver com Rob,  Jay entra fase de grande criatividade, o seu talento é reconhecido, mas depois desaparece numa viagem sem destino, sem que ninguém saiba dele durante anos. Alice e Rob, entretanto casados, vão viver para os Estados Unidos, onde ele ganha notoriedade e se torna notado pelos coleccionadores. Na pandemia Alice, Rob e o seu galerista estão refugiados numa mansão perto de Nova Iorque quando o destino leva Jay à sua porta - um Jay que desistira de ser artista e trabalhava no que aparecesse, como entregar encomendas. Jago, o galerista de Rob, que também está na mansão, fica fascinado pela presença de Jay e confessa-se fã do seu trabalho passado. Quando Jay conta porque desapareceu e o que andou a fazer, Jago percebe que podia ali ter oportunidade de criar um mito em torno do regresso do artista desaparecido, uma reacção bem diferente da de Rob, temeroso que ele tivesse voltado para se vingar de ter perdido Alice. Até aqui o romance pode parecer um triângulo amoroso vulgar, mas o que torna “Ruína Azul” diferente é o papel de Jago, que em sucessivas conversas com Jay, quer levá-lo a criar e assumir uma obra de arte multimedia sobre o que aconteceu nos anos em que andou desaparecido. As diferenças artísticas entre Jay e Rob acentuam-se e o desenrolar da história de “A Ruína Azul” é uma viagem aos paradoxos do modelo de negócio da arte contemporânea, das relações entre artistas, os seus assistentes de estúdio, os curadores e galeristas. Este é um livro fascinante e Hari Kunzru, o autor, com uma dezena de obras publicadas, cria, com elegância, uma viagem aos bastidores dos conflitos que se desenvolvem no mundo da arte contemporânea, entre o idealismo, os excessos e o cinismo. “A Ruína Azul” é escrito de forma fascinante, tem edição da Quetzal com uma tradução exemplar de Salvato Teles de Menezes.

 

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A AVIADORA - O novo disco de Laurie Anderson, “Amelia” é dedicado à pioneira da aviação Amelia Earhart cujo avião desapareceu no meio do oceano pacífico, a 2 de Julho de 1937, quando estava quase a conseguir ser a primeira mulher a fazer, sózinha, uma viagem de avião à volta da Terra. Neste novo disco de Laurie Anderson, o primeiro desde o brilhante “Landfall”, de 2018, o som do motor do avião de Amelia é criado a partir da manipulação de solos de guitarra de Lou Reed, que era o marido da artista. Anderson gravou a sua parte instrumental no aparatamento onde vive em Nova Iorque. “Amelia” tem 36 minutos de duração e 22 faixas. Não é um disco vulgar, é quase uma performance, uma narrativa, construída a partir de um ciclo de canções, que surgem como uma evocação do teatro radiofónico e que musicalmente se assemelha a um requiem. Anderson é acompanhada por uma orquestra de cordas, muita electrónica que ela própria executou e uma secção rítmica que evoca o jazz. São sons e canções que quase se conseguem ver, e não só ouvir. Disponível em streaming.

 

WEEKEND - A exposição permanente do Museu do Fado é um tributo ao Fado e aos seus cultores, divulgando a sua história desde a sua génese, na Lisboa oitocentista, até à atualidade. Ali podem descobrir o papel do Fado no teatro, no cinema, na televisão, a evolução da guitarra portuguesa,  ambiente das casas de fado e as grandes vozes que o cantaram. O Museu do Fado pode ser visitado de terça a domingo, entre as 10 e as 18H e fica no Largo do Chafariz de Dentro nº1, em Alfama. 

 

DIXIT - “Cavaco lançou medidas para resolver problemas difíceis e apresentar-se como um governante reformista. Montenegro contenta-se com tácticas à espera que o tempo lhe resolva a incapacidade de governar” - André Abrantes Amaral.

 

BACK TO BASICS - “Saber que não se sabe constitui, talvez, o mais difícil e delicado saber” - Jose Ortega Y Gasset

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