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PREFERÊNCIAS SOCIAIS - O tempo médio dedicado diariamente pelos portugueses às redes sociais é actualmente de 97 minutos, um aumento face a 2023, segundo o estudo “Os portugueses e as redes sociais”, da Marktest. Este número, que ultrapassa a hora e meia diária, aumenta consideravelmente entre as camadas mais jovens, aproximando-se das duas horas e meia (145 minutos). 97% dos portugueses que têm um perfil criado em qualquer das redes sociais refere que a consulta a estas plataformas é um hábito diário e praticamente 90% assume fazê-lo várias vezes ao dia. A faixa horária mais frequente é entre as 20h00 e as 22h00. O Instagram, que fez dez anos no início de Setembro, é considerado como a rede social mais interessante por 40% dos portugueses. Um outro estudo da Marktest estuda a audiência de 43 sites portugueses, o netAudience. Os cinco primeiros lugares são ocupados, por esta ordem, pela TVI, SIC, Correio da Manhã, Jornal de Notícias e NiT. Depois, para completar o top ten, surgem o Expresso, Observador, Flash, OLX e RTP. O estudo analisa também os dados por sexo e enquanto os homens colocam a SIC em 2º lugar, as mulheres colocam a NiT nesta posição. Já a NiT, entre os homens, encontra-se em 7º lugar e a SIC, entre as mulheres, ocupa a 4ª posição. Por outro lado, tendo em conta os 20 sites com maior audiência, as maiores diferenças por sexo registam-se no site O Jogo, que é 11º entre os homens e 25º entre as mulheres. Finalmente, este estudo da Marktest indica que, considerando a lista das 20 entidades com maior alcance, a TVI teve o valor mais alto de acessos em dispositivos móveis e o OLX foi o que teve o valor mais alto em PC’s.
SEMANADA - Em 27 municípios o preço médio das casas duplicou nos últimos cinco anos e o preço médio por metro quadrado no país ultrapassou pela primeira vez os 1700 euros; os preços das casas em Lisboa são 151% mais altos do que no resto do país; o impacto do golf na economia portuguesa é de €4.200.000.000 euros, representando 1,2% do PIB nacional; nos últimos 30 anos o PIB português cresceu 48%, enquanto o da Irlanda cresceu 305%; um estudo divulgado pelo Instituto + Liberdade revela que somos o 2.º país com mais escalões de IRS na União Europeia e somos o que tem maior progressividade no IRC e com mais taxas; Portugal tem mais de 4.300 taxas e taxinhas e regras fiscais complexas que geram custos de contexto indesejados; Portugal tem também uma grande instabilidade e imprevisibilidade legislativa, devido às constantes alterações no sistema fiscal e nos últimos 30 anos houve mais de 1.300 alterações ao código de IRC; o sistema fiscal português é o quarto menos competitivo da OCDE, mantendo-se nos últimos lugares da tabela de 38 países, estando no penúltimo lugar na avaliação da competitividade fiscal sobre as empresas (ou seja, em 20º lugar nos impostos sobre a propriedade , na 22ª posição nos impostos sobre o consumo , na 26ª sobre os rendimentos individuais; a margem operacional bruta das empresas não financeiras em Portugal é a mais baixa da Europa em paridade de poderes de compra, é menos de metade da margem das empresas espanholas e sete vezes inferior à das alemãs.
O ARCO DA VELHA - O juiz Orlando Nascimento subiu este mês ao Supremo Tribunal de Justiça apesar de ser arguido num processo crime em que é suspeito de abuso de poder.
O SANTO PUBLICITÁRIO - Podem os santos fazer publicidade? Parece que sim e a exposição “Santo António na Publicidade” que relata o papel do santo padroeiro de Lisboa na publicidade, logo desde o século XIX, pode ser vista até 20 de Abril e foi comissariada por Eduardo Cintra Torres, que tem obra publicada sobre a história da publicidade em Portugal. A exposição mostra vários exemplos da utilização publicitária da imagem de Santo António, muito para além das Festas de Lisboa, aliás evocada no local do Museu, o Largo de Santo António à Sé, com um mupi, um manjerico gigante e um altar feito com grades de cerveja. De entre as peças apresentadas nesta mostra, Eduardo Cintra Torres destaca “um conjunto notável de cartazes relativos a Santo António encomendados a artistas gráficos pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, entre os anos 1930 e 1980, que aqui se reúnem pela primeira vez». Até para promover o Vinho do Porto a imagem de Santo António foi utilizada, como se vê na imagem. Eduardo Cintra Torres destaca ainda como ficou surpreendido pela quantidade de anúncios que aludem a Santo António e às marcas que usam a designação Santo António. «Para além disso - sublinha Cintra Torres - o mais surpreendente é o afecto pelo Santo que a publicidade transmite, revelando um lado genuíno nesta relação da publicidade com ele. Sabemos do afecto pelo Santo no dia-a-dia das pessoas, mas esse afecto também foi transportado para as mensagens publicitárias, algo que continuou até aos dias de hoje quando a publicidade já se encontra despida desse carácter religioso».
ROTEIRO - A Mostra de Fotografia e Autores - MFA Lisboa apresenta ao longo de Novembro e Dezembro 20 exposições fotográficas sob o tema genérico “NÓS”, uma iniciativa da associação C11. O arranque é já dia 2 no Mercado de Arroios. Aí estarão patentes, até 30 de Novembro, diversas exposições como “Ponto de Chegada” de André Rodrigues, sobre a vida dos imigrantes e a exploração agrícola intensiva no litoral alentejano, e “Pa-raíso” , de Lara Jacinto, um projecto que se centra nos migrantes que trabalham na actividade turística. Neste núcleo está também o resultado de residências artísticas realizadas no concelho de Lagoa. Augusto Bázio mostra em “Filhos do Sol - A Busca do Idílico”, o Algarve como um território de sazonalidade em que o habitante é o turista que se auto isola numa bolha de ilusória felicidade. Já Paulo Catrica apresenta “Pospectus”, uma série fotográfica sobre paisagem e arquitectura, que reflecte formas de habitar neste território do sul do país. E Valter Vinagre expõe “Corações Ao Alto, que documenta credos e confissões religiosas que coexistem pacificamente em Lagoa (na imagem), através de retratos dos seus guias espirituais. No mesmo dia, nos Jardins do Bombarda (Rua Gomes Freire 161, onde era o antigo hospital psiquiátrico) abrem uma série de outras exposições: a colectiva “Agenda 2030”, “Menos que nada não é igual a tudo”, de João Mariano, “Casulo”, de Vitorino Coragem e “Bailarino Valentim de Barros”, sobre um artista que foi internado mais de quatro décadas no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda por ter sido diagnosticado como homossexual. Além disso, no mesmo local, decorrerá um mercado da fotografia com livros novos e usados e equipamento fotográfico vintage. Podem ir seguindo a abertura das exposições na página da associação CC11 no Facebook, onde estão todas as informações.
A DÉCADA QUE MUDOU PORTUGAL - Como era a vida em Portugal nos anos 80? É a esta pergunta que Pedro Boucherie Mendes responde com um trabalho completíssimo que em cerca de 600 páginas faz o retrato de uma década em que muito mudou no país. “A Década Prodigiosa- Crescer em Portugal nos Anos 80” é um guia para quem não viveu essa época. O próprio autor tinha dez anos quando a década de 80 começou, portanto o livro é fruto de uma investigação minuciosa, dezenas de entrevistas, horas à procura de informação. O livro tem três partes: “Céu geralmente nublado, com algumas abertas” relata o que se passou entre 1980 e 1985, desde a primeira telenovela portuguesa à epopeia de um navio cargueiro que encalhou mesmo frente ao Terreiro do Paço ou o surgimento do Multibanco, passando pela morte de Sá Carneiro. A segunda parte, “O campeonato da Europa”, vai de 1985 a 1987 e lembra o processo de adesão à CEE, a desgraça da Selecção em Saltillo, o nascimento das rádios locais, as noites do Frágil ou os programas de António Sérgio. A terceira parte, “A carga pronta e metida nos contentores”, apanha o final da década, de 1987 a 1990, fala do nascimento do “Independente” e da escrita de Miguel Esteves Cardoso, do incêndio do Chiado e do primeiro grande concerto de estádio, além da adesão à CEE e do governo de maioria absoluta de Cavaco Silva. Para além das 500 páginas da História da década, há mais cem com uma detalhada cronologia, referências bibliográficas, um indíce remissivo, notas finais e agradecimentos. Pedro Boucherie Mendes é jornalista, trabalhou em jornais e revistas, fez programas de rádio e na SIC dirige canais temáticos. A sua escrita é escorreita e detalhada e percorrer as memórias desta década com ele, para mim que a vivi em pleno, foi um prazer. Sempre considerei que os anos 80 foram a década em que muita coisa mudou, e para melhor, em Portugal. De certa forma parecia que a criatividade que tinha explodido noutros países na década de 60 alcançava Portugal com 20 anos de atraso. É essa história que este livro conta, de forma exemplar. Edição D. Quixote.
ALMANAQUE - Hoje estas linhas são inteiramente dedicadas ao território nacional. Começo por referir que Tyler Brulé, editor da revista “Monocle”, elogiou na sua newsletter semanal o Centro Comercial das Amoreiras, destacando algumas lojas e a sua dimensão - “It’s on the tiny side by modern retailers’ standards – and that’s why it works”. A seguir passo para um restaurante, dentro de um novo hotel que abriu recentemente em Lisboa, entre a Rua de Santa Marta e a Camilo Castelo Branco, após uma bem conseguida recuperação de um antigo convento do século XVII. O Hotel é o Locke de Santa Marta e o restaurante é o Joana, liderado pelo chef Nuno Mendes, que fez boa parte do seu percurso em Londres. A carta baseia-se em produtos muito bem escolhidos e confeccionados, com propostas simples, algumas surpreendentes mas sem pretensiosismos, e o serviço é irrepreensível. Para terminar o MUDE reabriu finalmente as portas com a exposição “Para Que Servem as Coisas - peças do acervo MUDE de 1900 a 2020” (na imagem, foto de Luísa Ferreira). de entre as cerca de 500 peças de mobiliário, design gráfico e objectos, destaco, para os cinéfilos, o conjunto de trabalhos realizados pelo designer gráfico José Brandão para o filme “Kilas, o Mau da Fita”, de José Fonseca e Costa. O Museu do Design fica na Rua Augusta 24 e esteve encerrado durante os últimos oito anos.
DIXIT - “Uma ministra que não sabe falar não pode ser ministra” - João Miguel Tavares, sobre a Ministra da Administração Interna.
BACK TO BASICS - “Mais vale estar calado e passar por tolo do que falar e provar que é mesmo tolo “ - Abraham Lincoln
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
O LIVRO RESISTE AO DIGITAL - Em 2007 a Amazon lançou o seu primeiro Kindle, o e-reader mais popular de entre os vários que entretanto surgiram no mercado, como o Kobo, o seu rival mais directo, lançado em 2010. Muita gente pensou que com a introdução destes dispositivos digitais aconteceria aos livros o mesmo que aconteceu aos CDs, quando o iPhone e outros smartphones permitiram a massificação das plataformas de streaming de música. Mas, curiosamente, o que aconteceu aos discos não aconteceu nos livros. Vem tudo isto a propósito de um recente estudo promovido pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, desenvolvido pela GFK. Segundo esse estudo, o mercado total de livros em Portugal cresceu de 154 milhões de euros em 2019 para 187 milhões de euros em 2023. Segundo o mesmo estudo, a faixa etária dos 25 aos 34 anos é a que mais compra livros, 76% do total. E os livros em papel continuam a ser o formato preferido por 93% dos portugueses, em detrimento dos e-books. Finalmente, o estudo indica que a classe média é a que compra mais livros, 73% do total. O estudo indica ainda que os leitores portugueses continuam a ser movidos por três factores principais na hora de comprar um livro: o tipo de livro, o preço, e as recomendações. Por último, o romance é, de longe, o género mais consumido, com 50% das preferências seguido pelo policial e o thriller e, praticamente empatado, o romance histórico, ambos com 30%, seguido pelos livros infantis e juvenis. Este ano está a correr bem: no final de Setembro o mercado nacional do livro já tinha crescido 6% na venda de unidades e 9,1% em valor. Um outro estudo da GFK com o comparativo de 16 países, mostra que Portugal e Espanha são os dois países europeus com maior crescimento do mercado, quer em valor, quer em unidades vendidas. O mercado português é liderado pelas redes de livrarias ligadas a grupos editoriais e pelas grandes superfícies, mas a venda online maioritariamente feita pela WOOK e as livrarias independentes, juntas, significam cerca de 20% do mercado que este ano poderá atingir os 200 milhões de euros, um novo recorde.
SEMANADA - Dos 37 heliportos de hospitais apenas cinco têm autorização da Autoridade Nacional da Aviação Civil para funcionar; as cativações previstas pelo Ministério das Finanças no orçamento de estado para 2025 são as mais altas de sempre; quase 94% das unidades de saúde familiar registaram faltas de material básico no último ano; 24 mil alunos continuam sem aulas desde o início do corrente ano lectivo; a GNR registou 103 crimes de bullying nas escolas no ano lectivo de 2023/2024, dos quais 12 de cyberbullying; há cada vez mais crianças e jovens no sistema de acolhimento e protecção, que no ano passado registou 2415 novos acolhimentos, com especial incidência em crianças até aos nove anos; um estudo da Pordata indica que 30,2% dos portugueses não tem capacidade para suportar uma despesa inesperada sem recorrer a empréstimo; em 2023 existiam em Portugal 2375 estações ou postos de correio, menos 523 dos que funcionavam em 2005; a Ministra da Administração Interna disse que, entre Janeiro e Agosto deste ano, 1295 agentes da PSP e militares da GNR tinham sido agredidos em funções; um estudo recente indica que Portugal é o 17º país com mais patentes de origem académica na Europa e a Universidade do Porto, a NOVA de Lisboa, as Universidades de Lisboa e do Minho e o Instituto Superior Técnico são as principais instituições portuguesas titulares de patentes académicas.
O ARCO DA VELHA -Dos seis unicórnios (startups avaliadas em pelo menos mil milhões de dólares) com sangue português apenas uma, a Feedzai, ainda tem sede em Portugal, todas as outras, ao ganharem dimensão, acabaram por deixar o país.
A FESTA DO DESENHO - Nos últimos anos tem crescido o interesse por obras de arte no formato desenhos feitos sobre papel, quer a carvão, aguarela, acrílico ou outros materiais. Desde 2018 realiza-se em Lisboa a Drawing Room, dedicada precisamente a este segmento do mercado de arte. O preço médio das obras é mais reduzido que o que acontece noutras feiras com outros suportes e outros materiais, o que significa uma boa oportunidade. A edição deste ano conta com 23 galerias, algumas das quais estrangeiras, e apresenta obras de sete dezenas de artistas, dos mais consagrados até principiantes. Pedro Calapez, Cristina Ataíde, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, José Loureiro, Rui Sanches ou Gabriel Abrantes são alguns dos nomes presentes. Como tem acontecido em anos anteriores a Drawing Room acolhe os 10 artistas finalistas do prémio de desenho da FLAD, cujo vencedor será conhecido no decorrer da Feira. Este ano há também uma nova secção, “Quarto de Visitas”, onde estão três galerias estrangeiras , de Viena, Haia e Marselha. A Drawing Room decorre na Sociedade Nacional de Belas Artes (Rua Barata Salgueiro 36) até domingo, dia 27. Na sexta e sábado está aberta das 11 às 21 horas e no domingo das 11 às 18. Na imagem está a obra “As Aparições Vãs da Noite”, um trabalho recente de Pedro Calapez, acrílico sobre papel, apresentado na Galeria Miguel Nabinho.
ROTEIRO - O destaque desta semana vai para a nova exposição de José Maçãs de Carvalho, “Tempo Dobrado”, que está em Coimbra, na Casa Museu Bissaya Barreto (Rua da Infantaria, 13) até 1 de Fevereiro. A exposição mostra na sala principal três fotografias e um tríptico, todas inéditas, de 2024 e 2022, entre as quais a que ilustra esta nota. José Maçãs de Carvalho foi buscar o título “O Tempo Dobrado” a um verso do poeta Luís Quintais e refere-se “aos múltiplos tempos da fotografia”, destacando que “há sempre mais para ver além do que é óbvio”. A exposição ocupa também duas outras salas, mais pequenas, que mostram fotografias e um vídeo de 2005 e 2006. José Maçãs de Carvalho sublinha que “as fotografias encontradas para esta exposição fazem parte de uma longa reflexão sobre a natureza da fotografia e a sua prática.” Há muito que o que mais me interessa e instiga é fazer imagens que tragam uma promessa ou sensação de tempo”. Em Lisboa, no Museu Eugénio de Almeida (Rua Mouzinho da Silveira 4), Evelyn Kahn apresenta até 9 de Novembro uma série de 41 fotografias inéditas sob o título “Improvável”. Na Galeria Ratton, que celebra 37 anos, Sara Maia mostra novas obras em pintura e azulejo sob o título “Identidade da Memória” (Rua da Academia das Ciências 2C).
CRIMES ISLANDESES - Nem de propósito, o meu livro desta semana é um policial, o género preferido por 30% dos leitores portugueses. Chama-se “O Ruído na Escada” e é a estreia de Eva Björg Ægisdóttir , uma escritora islandesa que com esta obra ganhou o Blackbird Award, um prémio de ficção policial criado por dois dos mais conhecidos escritores islandeses , Yrsa Sigurdardóttir e Ragnar Jónasson. O livro conta a investigação desenvolvida por Elma, uma detective que regressou à sua terra natal, a cidade islandesa de Akranes, e que se defronta logo com a descoberta do corpo de uma mulher junto ao mar e ao antigo farol. A vítima, vem a descobrir-se, chamava-se Elísabet, nascera em Akranes mas fora viver para Reykjavík- tal como a própria detective. Quando Elma começa a investigar a vida de Elísabet descobre como este assassínio estava ligado ao desaparecimento e morte de uma criança há muitos anos atrás e como todo o caso tinha sido abafado por uma teia de cumplicidades de pessoas de Akranes que estiveram envolvidas no abuso de crianças. O livro agarra do princípio ao fim e conta como Elma e os seus colegas Sævar e Hördur fazem uma investigação que revela o segredo que existia no passado da vítima. A autora estudou sociologia, especializou-se mais tarde em globalização e resolveu dedicar-se à escrita de policiais aos 30 anos. A tradução é de Anónio Sobler e a edição é da Quetzal.
SOM PURO - Comecei a seguir a fadista Carminho com outra atenção quando ouvi o álbum “Portuguesa”, de 2023. Nessa altura assisti a um espectáculo em que ela interpretou vários dos fados desse disco e fiquei surpreendido pela forma como Carminho não hesitava em percorrer caminhos musicais por onde o Fado, mesmo nas novas gerações, não costuma ir. Agora fiquei fascinado pelo disco “Carminho At Electrical Studio”, uma prova da vontade que ela tem de descobrir outros sons. Carminho, a meio de uma digressão nos Estados Unidos, no ano passado, quis gravar com Steve Albini, um engenheiro de som, também produtor e músico, que trabalhou com nomes como Pixies, Nirvana, P.J.Harvey ou The Stooges. Albini, que morreu em Maio deste ano, era conhecido por não manipular os sons e por registar da forma mais fiel possível, sem efeitos nem truques, o trabalho dos músicos. E foi essa forma de registo, limpo, sem interferências, que deu a estes quatro temas uma dimensão especial. Durante a digressão Carminho foi ensaiando novas músicas e quando conseguiu uma sessão de gravação no estúdio de Albini, o Electrical Audio, em Chicago, gravou quatro temas, de seguida, num único dia. O EP que reproduz essa sessão, inclui três composições inéditas - “Não Olhes os Meus Olhos”,”Gota de Água” (baseada num poema de António Gedeão) e “Deixei a Minha Casa”. À última hora Carminho decidiu também gravar “Os Argonautas”, um dos temas mais marcantes da carreira de Caetano Veloso e que Carminho havia rearranjado para incluir a guitarra portuguesa, merecendo os elogios do músico brasileiro. Foi com base nessa nova gravação que Caetano, mais tarde, juntou a sua voz num dueto virtual emocionante. Este EP já está disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - Em Paris até 19 de Janeiro pode ser vista no Musée Picasso uma exposição dedicada aos primeiros anos do artista norte-americano Jason Pollack, com trabalhos realizados entre 1934 e 1947. Em Madrid até 5 de Janeiro, na Fondácion Mapfre, sala Recoletos, está uma retrospectiva da obra do fotógrafo norte-americano Arthur H. Fellig, que ficou conhecido como Weegee. E uma boa maneira de acabar o fim de semana é ver na RTP2, no domingo à noite, o programa “Alexandria”, onde António Pinto Ribeiro conversa com convidados bem escolhidos sobre diversos temas - neste domingo o tema é o Universo. Tentador…
DIXIT - “O Governo prometeu o paraíso à economia portuguesa, mas o que lhe está a dar é o inferno do crescimento medíocre” - Luís Marques
BACK TO BASICS - “Já que não podemos mudar a realidade, mudemos de conversa” - James Joyce
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
OS NOVOS HÁBITOS TELEVISIVOS - Nas últimas semanas muito se falou dos canais generalistas de televisão - o público, RTP e os privados, SIC e TVI. Estes canais, em média ao longo do corrente ano, cativam apenas 41,3% dos espectadores de televisão - os outros 58,7% são divididos entre quem prefere ver os canais de cabo (cerca de 41%) e as plataformas de streaming (cerca de 17%). Os hábitos de visionamento de televisão mudaram, e muito, nos últimos anos. Comecemos pelos números da ANACOM. No fim de junho, existia um total de 4,6 milhões de assinantes de serviços de TV paga, mais 86 mil do que no período homólogo do ano anterior e a penetração deste serviço atinge agora 96 por cada 100 famílias, quase todo o universo. Ainda segundo a ANACOM, no final do segundo trimestre de 2024, a fibra ótica (FTTH/B) representava 65,2% do total de assinantes, num total de 3 milhões (cresceu 6,3% face ao período homólogo), seguindo-se a TV por cabo (26,3%), a TV via satélite - DTH (6,8%) e o ADSL (1,7%). Este dado sobre o aumento da penetração da fibra óptica é particularmente relevante porque esta tecnologia permite as melhores condições de visionamento das plataformas de streaming, cuja penetração tem vindo a aumentar. Um outro estudo, o Barómetro de Streaming da Marktest, dá-nos um retrato do país nesta matéria e permite observar melhor as preferências dos espectadores. O estudo incide sobre o período de Janeiro a Abril deste ano e mostra que 51% dos inquiridos utilizam plataformas de streaming. Na área do entretenimento as mais vistas são a Netflix e a Disney+, seguidas da Prime Video, Max, Opto, Apple TV, Globo Play e Sky Showtime. A Netflix chegou a Portugal a 21 de Outubro de 2015. Nestes nove anos tudo mudou na forma de ver TV.
SEMANADA - Um estudo do Instituto +Liberdade tem algumas conclusões relevantes sobre a carga fiscal em Portugal, aqui ficam alguma: o sistema fiscal português é o sexto mais complexo da União Europeia e entre os 38 países da OCDE, Portugal é o penúltimo em termos de competitividade fiscal para as empresas; Portugal é o terceiro país europeu onde as empresas necessitam em média de mais horas para cumprir as suas obrigações fiscais - cerca de 63 horas; Portugal é o terceiro país da União Europeia onde são necessários em média mais dias para a resolução de processos administrativos na 1ª instância, 792 dias, quase o dobro da média da UE; Portugal tem a taxa estatutária máxima mais elevada entre os países europeus da OCDE e somando a taxa normal de IRC de 21% às derramas municipais e estadual as empresas podem ficar sujeitas a uma taxa máxima de IRC de 31,5%; a derrama estadual foi introduzida com carácter excepcional e temporário num contexto de debilidade das contas públicas em 2010 mas nunca foi abolida; em 2022, entre os países europeus da OCDE Portugal era o país que apresentava a maior taxa efectiva de IRC, acima de 28%.
ARCO DA VELHA - Pedro Nuno Santos recomendou que os militantes do PS não se pronunciassem publicamente de forma diferente da sua posição sobre a votação do Orçamento, uma espécie de lei da rolha para o interior do PS.
A COMUNICAÇÃO NA ARTE - Uma das mais importantes exposições que actualmente se podem ver em Lisboa é “Tributo a Lawrence Weiner: I've Always Loved Jezebel', patente na galeria Cristina Guerra Contemporary Art (Rua de Santo António à Estrela 33) até 9 de Novembro. Com curadoria de Thiago Tannous são expostas três dezenas de obras de Weiner em diferentes suportes como livros, discos, esculturas textuais, vídeos e outros materiais. O ponto de partida é a colecção moraes barbosa, que tem uma grande diversidade de trabalhos de Lawrence Wiener. Dado interessante, a colecção moraes barbosa tem em curso um projecto com a Universidade de São Paulo dedicado ao estudo da arte e inteligência artificial. Nos trabalhos de Lawrence Weiner as letras, as palavras e os textos são o principal material, que reproduz em diversos suportes, num jogo de formas e cores - esculturas textuais, como sublinha Thiago Tannous, fazendo notar que “a mesma frase, em diferentes contextos, pode ser compreendida de formas distintas”. No fundo a exposição explora o mistério da comunicação humana. Weiner, que morreu em 2021, já teve várias exposições nesta mesma galeria: “Towards the end of the beginning” (2002), “With all due intent”/”Com toda a intenção” (2004), “Poignant Adaptation” (2010), “Crisscrossed” (2014) e “Around the world”/”Volta ao mundo” (2021). A primeira vez que foi exposto em Lisboa aconteceu em 1999, no Centro Cultural de Belém, em conjunto com Julião Sarmento e John Baldessari.
ROTEIRO - O destaque desta semana vai para “Telúricos”, de Manuel Aja Espil, na Galeria Balcony (Rua Coronel Bento Roma12A) até meados de Novembro. Manuel Aja Espil é um pintor argentino e esta exposição (na imagem) é a primeira apresentação da sua obra em Portugal. Na Balcony apresenta imagens do seu país, oito quadros a óleo, que mostram paisagens da Patagónia e das pampas perto de Buenos Aires. A desolação e a força transmitida por estas imagens são a razão do título “Telúricos”. Ainda em Lisboa, na galeria White Cube (Rua da Emenda 72) António Faria apresenta uma série de obras intitulada “Flores Delicadas Que Não Têm Medo da Morte” e que inclui mais de 30 trabalhos inéditos de desenho, escultura e vídeo-instalação. Passando à fotografia destaque para “Tudo Acontece Por Uma Razão”, de Augusto Brázio, exposição integrada nos Encontros da Imagem, em Braga, na Casa Rolão. E na Chamusca, dias 19 e 20 de Outubro, decorre o Analógica- Festival de Fotografia, com exposições na Biblioteca e Galerias Municipais e actividades em diversos locais. Pode consultar o programa em analogica.pt . A terminar regista-se a chegada a Lisboa, depois de S. Paulo e Porto, da Kubikgallery, pela mão do seu fundador João Azinheiro. A exposição inaugural é a colectiva “Ação à Distância”, com curadoria de Luísa Duarte e Bernardo José de Souza com obras de 17 artistas. A Kubikgallery fica na Calçada de D. Gastão 4, Porta 45.
APRENDER COM AS RUÍNAS - Escritor, editor e jornalista, Paul Cooper criou em 2019 o podcast “Fall Of Civilizations”, que já ultrapassou 100 milhões de downloads. A partir do material que foi investigando e escrevendo para o seu podcast (disponível nas várias plataformas de streaming), Paul Cooper escreveu o livro “A Queda das Civilizações: Histórias de Grandeza e Declínio”, originalmente publicado em abril deste ano e agora editado em Portugal. Com base numa minuciosa investigação, Paul Cooper criou uma narrativa que parte do mundo antigo dos Sumérios ou Cartago, passa depois por civilizações como os Maias ou Bizâncio e termina nos Astecas e Incas e termina na Ilha da Páscoa e seus mistérios. O autor leva o leitor a viajar por séculos e lugares onde ocorreu um abandono significativo de centros populacionais, em que o tecido social se desintegrou, cidades inteiras foram deixadas vazias e edifícios caíram em desuso e degradação. Ao longo de 460 páginas visita civilizações e mostra o dia a dia dos impérios que tiveram o seu apogeu e depois colapsaram. Com a ajuda de mapas, ilustrações, fotografias e outros documentos, Cooper combina a sua observação enquanto historiador com a criatividade de um romancista. Cooper termina esta sua obra num epílogo que ficciona o destino que na sua imaginação nos aguarda: os nossos automóveis obsoletos à beira da estrada, paisagens sem fim de prédios colossais. Ao mesmo tempo sublinha que nem tudo acaba de forma apocalíptica e que é possível aprender com os erros do passado e ensinar às gerações presentes como reedificar as nossas sociedades. Não deixa de ser curioso que a tese de doutoramento de Paul Cooper tenha sido sobre o significado cultural e literário das ruínas e talvez por isso ele deixa este recado: «Todas as ruínas presentes neste livro deveriam ser entendidas como um alerta e um desafio: não tomem nada como certo.». Edição Ideias de Ler.
MÚSICA DESTE TEMPO - O trompetista israelita Avishai Cohen voltou a reunir o seu quarteto para um novo disco, “Ashes To Gold”, o 13º da sua carreira. Considerado um dos mais importantes músicos de jazz contemporâneos, Cohen é acompanhado por Yonathan Avishai no piano, Barak Mori no baixo e Ziv Ravitz na bateria. O disco foi escrito, ensaiado e gravado a seguir ao ataque do Hamas a Israel em 7 de Outubro de 2023 e a nova música que surge neste álbum reflecte o espírito do tempo. Concebido como uma suite em cinco partes este novo trabalho de Cohen explora menos a improvisação do que em trabalhos anteriores e mostra como os quatro músicos estabelecem um diálogo musicalmente muito criativo, por vezes muito emocional, expressando sentimentos que vão da raiva ao terror e ao desapontamento e, como sublinha Avishai Cohen, “um profundo desejo de paz”. Um pouco em contraste com a carga emocional das cinco partes da suite, Cohen inclui dois temas finais, um deles a sua interpretação do concerto para piano em sol maior de Ravel e o outro, “The Seventh” uma melódica e envolvente composição da filha do trompetista, Amalia, e que proporciona um fim tranquilo a um disco que tem alguns momentos intensos. A crítica tem referido que este é talvez o melhor disco de Avishai Cohen. Disponível em streaming.
WEEKEND - Esta semana três sugestões noutras tantas cidades e países. Comecemos por Nova Iorque, se lá fôr nos próximos tempos não perca no Metropolitan Museum of Art da quinta avenida a exposição “Sienna - The Rising of Painting 1300-1350” que até 26 de janeiro apresenta 100 obras de pintores que marcaram o início do Renascimento italiano, todos da região de Siena. Em Londres o destaque vai para a exposição “Human Presence”, que na National Portrait Gallery apresenta até 19 de janeiro 50 trabalhos de Francis Bacon, posteriores a 1940 e que mostram como criou outra forma de pintar retratos. Por fim, em Paris, na Fondation Louis Vuitton está patente até 24 de Fevereiro a exposição “Pop Forever, Tom Wesselman &...”, uma mostra dedicada à Pop Art, centrada em torno da obra de Tom Wesselmann (1931-2004) e que mostra 150 obras suas e outras 70 de 35 artistas de diferentes gerações e nacionalidades.
DIXIT - “A política e os assuntos de Estado não podem ser governados por estados de espírito” - Carlos Rodrigues, Correio da Manhã.
BACK TO BASICS - “Quando pedimos conselhos, estamos muitas vezes à procura de cumplicidade” - Marquis de La Grange
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
O PACOTE MEDIÁTICO - O Governo anunciou esta semana um pacote de medidas para o sector dos media, com alterações significativas na RTP e LUSA e com medidas de apoio a empresas jornalísticas e à profissão de jornalista. O desafio agora é acompanhar como elas vão ser concretizadas, e que efeito terão, num panorama em que uma série de grandes empresas do sector tiveram prejuízos significativos em 2023, como a Impresa (SIC e Expresso), Grupo Renascença, Trust In News (Visão, JL, Caras e Exame), Swipe News (ECO, M+, Advocatos, Capital Verde), Newsplex (Nascer do Sol, Inevitável), Observador, Media 9 Par (Jornal Económico, Forbes), TSF, Público e Global Notícias (DN, JN, Jogo). O sector está em crise há anos e contam-se pelos dedos as empresas que têm lucro - como a Medialivre, detentora do Correio da Manhã e do Jornal de Negócios, além da CMTV e Now. Uma das medidas anunciadas que teve maior destaque foi a eliminação progressiva da publicidade da RTP, velha reivindicação dos operadores privados. Na verdade, esta medida é uma peça chave da reestruturação da RTP, do seu reposicionamento como uma operadora pública de televisão de canais complementares e não concorrenciais aos canais comerciais. Falta agora definir o que será o seu reposicionamento e reorganização, a definição de objetivos de programação, sobretudo qual o rácio de investimento em produções nacionais de ficção, infantis e documentários em comparação com outros investimentos de programação. Será bom perceber o rácio entre o investimento para a informação nacional dos canais RTP e o investimento em noticiário regional e local e o rácio entre desporto profissional e desporto amador. Confesso ter alguma expectativa sobre o que daqui vai sair - se é certo que toda a comunicação presta um serviço público, não é menos certo que é fundamental para a defesa da identidade e coesão nacionais e para a defesa da língua e cultura portuguesas ter na esfera pública um operador audiovisual forte e com a missão bem definida. Talvez seja também altura de racionalizar canais (por exemplo criando um novo canal que substitua a RTP Internacional e a RTP África). E há a questão da LUSA, e o seu comportamento, também, em sectores onde a actuação é claramente insuficiente, nomeadamente na área cultural e na actuação da sociedade civil, com uma agenda demasiado presa a iniciativas oficiais e ao acompanhamento institucional. A prioridade da LUSA não pode ser distribuidora de notícias dos partidos, do Governo e dos órgãos de soberania - vamos ver o que acontece quando o Estado fôr o accionista único. Ficou a faltar dizer o que o Governo pretende fazer à ERC - mas as palavras do Primeiro Ministro, recomendando um jornalismo mais tranquilo e menos ofegante, com perguntas menos incómodas, deixaram no ar um incentivo à interferência na forma de fazer jornalismo, em linha com o que a ERC tem preconizado recentemente, além de revelarem uma grande ignorância técnica. O documento “Plano de Acção para a Comunicação Social” é um repositório de boas intenções. Vamos ver se o Governo as executa ou se isto é apenas propaganda e carícias a um sector onde é crucial ganhar simpatias. De boas intenções, recordo, está o inferno cheio.
SEMANADA - Um juiz de 51 anos, que exerce funções num tribunal de família no distrito de Viseu, vai ser julgado por bater na juíza com quem era casado; desde 2018 ficaram internados nas suas próprias casas 43.500 doentes, integrados no programa de hospitalização domiciliária; o crédito à habitação subiu 20% em Agosto alcançando o valor mais alto desde Março de 2022; os benefícios fiscais não se aplicam a contribuintes que têm dívidas fiscais, mas a autoridade tributária não faz esse controlo em relação a residentes não habituais e o Tribunal de Contas detectou 93 casos; apesar de a Lei da Paridade de 2019 exigir que 40% dos candidatos a quaisquer eleições sejam do sexo feminino, o número de mulheres eleitas para a Assembleia da República, presidência de autarquias e Parlamento Europeu tem vindo a diminuir; pela primeira vez a Universidade de Lisboa fez uma recolha exaustiva de queixas de assédio moral e sexual nas suas 18 faculdades e os resultados mostram que, em cinco anos, de 2018 a 2023 inclusive, foram recebidas 50 queixas, dessas, 20 resultaram em processos disciplinares e apenas oito resultaram em sanções; a Universidade de Coimbra recebeu, em igual período, 21 queixas de assédio moral, quatro de assédio sexual e cinco de assédio moral e sexual em simultâneo; também no mesmo período, a Universidade do Porto recebeu 18 queixas de assédio moral (que resultaram em 13 processos disciplinares), e cinco de assédio moral e sexual.
O ARCO DA VELHA - A Obra Diocesana de Promoção Social, uma instituição de solidariedade da Diocese do Porto, burlou a Segurança Social ao incluir no rol de utentes a que prestou serviço 436 nomes de pessoas que já tinham morrido.
FOTOGRAFAR A MEMÓRIA - Clara Azevedo, uma fotojornalista que tem trabalhado imagens para além da actualidade e do momento, apresenta na sua nova exposição “Casa” em “A Pequena Galeria”. É uma revisitação das mudanças de local de residência durante a infância, fruto da actividade profissional do pai. Conta que o seu primeiro destino foi o Brasil, e depois a família viveu em Madagáscar, na Bolívia, em Itália, no Paquistão e no Irão. São de Clara Azevedo estas palavras: “Habituei-me a ver as várias casas empacotadas e desempacotadas, a acrescentar em cada país objectos com um significado sempre especial, a viver entre as pedras que o meu pai colecionava, e os poemas que a minha mãe escrevia. A adicionar memórias desse tempo nos álbuns de fotografias – registos precisos e sentimentais da minha mãe, com a sua inseparável Kodak Instamatic.”. E prossegue: “Guardo agora na minha casa muitos desses objectos, cuidadosamente arrumados em caixas. Outros ocupam um lugar definido. Senti que devia fotografar parte destes fragmentos e sentimentos”. Esta exposição, “Casa”, é assim um arquivo de memória, sublinha a autora, que fez as fotografias agora expostas nos últimos meses: 15 fotografias 60x40 cm e dez caixas com fotografias de 21x14 cm. A Pequena Galeria fica na Av. 24 de Julho 4C, junto à Praça de D.Luís, e “Casa” pode ser vista até 9 de Novembro.
ROTEIRO - O destaque da semana vai para «Just let them come, visit, like birds», a segunda exposição individual de Carlos Alexandre Rodrigues na galeria Salgadeiras Arte Contemporânea (na imagem, fotografia de Bruno Lopes). O título da exposição, e frases de algumas obras, são apropriações do livro «The Sacred and Profane Love Machine», de Iris Murdoch. A exposição ficará patente até 16 de novembro (Rua Coronel Bento Roma 12). Na Galeria Francisco Fino (Rua Capitão Leitão 76), Vasco Araújo apresenta até 16 de Novembro a sua nova exposição “Ritornare” com obras de escultura, vídeo, instalação e fotografia. Em Coimbra, no Círculo de Artes Plásticas, no espaço do Jardim da Sereia, Jorge Molder apresenta vários dos seus trabalhos sob o título “Grandes Planos”. Na Culturgest está patente “A Natureza Aborrece o Monstro” de Alexandre Estrela, um artista que já expôs em Serralves, no MOMA, no Reina Sofia, entre outros. A exposição reúne mais de uma dezena de instalações vídeo produzidas na última década.
HISTÓRIAS DO IMPÉRIO - A República Romana era uma democracia? A presença romana era um fardo para os habitantes das províncias? Os imperadores eram realmente loucos? As orgias romanas alguma vez existiram? As mulheres romanas eram emancipadas? O vinho romano era bom? Todos os cidadãos de Roma tinham direito a pão de graça? Os Romanos passavam o ano inteiro a celebrar festas? Os Romanos eram cruéis? - estas são algumas das 24 perguntas em torno das quais Dimitri Tilloi-D’Ambrosio organizou o seu livro “Roma Antiga - Mitos e Verdades”. Tilloi d’Ambrosi é doutor em História Romana, tema que investiga e sobre o qual escreveu vários outros livros, nomeadamente sobre os imperadores Nero e Adriano. O Império Romano sempre foi motivo de fascínio devido à sua longevidade (perdurou tendo vários séculos) e pela dimensão do seu território, que se estendia do oceano Atlântico ao rio Eufrates. O autor defende que o segredo do poder de Roma está na adoção do seu modo de vida e da sua cultura por todas as regiões conquistadas. E afirma que, ao contrário da imagem de uma sociedade cruel e cheia de vícios, Roma baseava-se em rigorosos padrões morais. Edição Bertrand.
O REGRESSO DE GUSTAVSEN - Estou fascinado por “Seeing”, o novo disco do trio do pianista norueguês Tord Gustavsen, mais uma vez acompanhado por Jarle Vespestad na bateria e Steinar Raknes no baixo. Gustavsen começou a gravar em trio em 2003, há mais de 20 anos. O seu primeiro disco, “Changing Places”, é hoje considerado um clássico e este “Seeing” é o seu décimo álbum. Em cinco temas originais, duas cantatas de Bach, um hino religioso tradicional norueguês e um coral inglês do século XIX, o novo disco, segundo Gustavsen, reflecte o seu “desenvolvimento pessoal à medida que envelheço, procurando o que é essencial na vida e na música”. “Seeing” retoma a incursão nos territórios do jazz, blues, gospel, tradicionais escandinavos e música religiosa. Ao longo de dez temas e quase 45 minutos o trio de Gustavsen, conduzido como sempre pelo papel que o seu piano assume nas gravações e espectáculos ao vivo. Disponível em streaming.
WEEKEND - Na semana passada recomendei a exposição de fotografia “Tratado”, de José Manuel Rodrigues, na Galeria da Avenida da Índia. No próximo domingo o autor faz uma visita guiada pelas 16h00, uma boa ocasião para descobrir a sua obra. No Museu de Arte Antiga pode agora ver até 15 de Dezembro as pinturas “Santo Agostinho”, do acervo do MNAA, e “São Nicolau Tolentino”, pertencente ao Museo Poldi Pezzoli, ambas de Piero della Francesca, um dos expoentes do Renascimento. Ambas faziam parte do políptico do convento de Santo Agostinho de Borgo Sansepolcro. E em Lisboa nasceu uma nova galeria, a KubikGallery (Calçada Dom Gastão 4), que já existia no Porto e em S. Paulo, e que se estreia na capital com a exposição colectiva “Ação à Distância” que inclui o trabalho de 15 artistas.
DIXIT - “O consulado de António Guterres (na ONU) tem sido um fracasso e a sua capacidade de influência é hoje uma nulidade absoluta” - João Miguel Tavares
BACK TO BASICS - “Entre duas tentações escolho sempre aquela que ainda não experimentei” - Mae West
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
Esta semana, num debate que decorreu no Congresso das Comunicações, representantes dos três operadores privados de televisão (SIC, TVI e Medialivre) defenderam o fim ou a redução da publicidade nos canais da RTP. Em resposta, Nicolau Santos, presidente da RTP, defendeu manter a publicidade e sugeriu que os poderes públicos apoiassem financeiramente os operadores privados, subsidiando o seu funcionamento.
Confesso que nem queria crer no que estava a ler quando vi esta notícia (https://eco.sapo.pt/2024/05/15/privados-questionam-publicidade-na-rtp-presidente-da-rtp-defende-ajudas-para-os-privados/ ). De um lado os operadores privados pediam que a RTP não concorresse no mercado publicitário, do outro lado o responsável do serviço público defendia que o Estado devia subsidiar os privados como forma de atenuar a concorrência que a RTP exerce no mercado.
Infelizmente esta é uma ideia que se repete, de forma mais ou menos aberta, por muitos defensores da RTP actual - mas nenhum tinha, até agora, sido tão explícito como Nicolau Santos.
Devo começar por esclarecer que sou a favor da existência da RTP como operador de serviço público audiovisual, mas defendo que ela não deve concorrer com privados nem em matéria de conteúdos, sobretudo transmissões de desporto profissional e algumas formas de entretenimento, nem deve concorrer no mercado publicitário, quer nas emissões de televisão, quer nos canais online.
Ou seja, a minha posição, desde há muitos anos, é que a RTP tem de encontrar o seu caminho e justificar a sua existência num quadro de alternativa e complementaridade de conteúdos, em relação àquilo que os privados não querem (e muitas vezes nem podem) fazer dentro do âmbito comercial da sua actividade empresarial. A RTP não tem que entrar na guerra de audiências para angariar maiores receitas, creio firmemente que tem é que entrar na batalha de oferecer conteúdos informativos, de ficção, culturais, documentais e de entretenimento que a tornem numa referência no sector. Só nesse contexto, de efectivo serviço público, vale a pena o Estado manter a RTP. Propor manter a concorrência da RTP no mercado e sugerir que para isso o Estado financie os canais privados é distorcer por completo as coisas. E é um caminho perigoso em termos de independência e liberdade do sector.
Em fevereiro de 2023 a Comissão do Livro Branco do Serviço Público de Media solicitou-me que elaborasse umas notas para o relatório que estava a preparar para o então Ministro da Cultura. O resultado final das conclusões desse Livro Branco está por descobrir. Mas retomo aqui algumas das notas que então enviei e se mantêm actuais.
Existem três princípios básicos para qualquer das expressões do serviço público audiovisual (TV, Rádio ou Digital): complementaridade em relação aos canais privados, foco na coesão do território nacional e clara necessidade das prioridades de investimento em termos de conteúdos. Acessoriamente existe a necessidade de uma redefinição de formato dos canais de TV e Rádio e do modelo de governação. Neste momento existem na RTP oito canais de televisão e sete canais de rádio e ainda uma plataforma digital multicanal, a RTP Play, que aliás é das poucas coisas verdadeiramente complementares, fruto da gestão de um anterior Conselho de Administração da RTP.
Na minha opinião a rádio e televisão públicas devem esforçar-se por criar conteúdos complementares e alternativos em relação aos operadores privados de televisão e não ter, sobretudo no caso da RTP1 e RTP3, uma similitude tão grande como a que tem existido e se reflecte sobretudo nas áreas da informação geral e desportiva. Por outro lado o serviço de informação regional tem vindo progressivamente a diminuir, em parte por desinvestimento nas delegações. Sublinho a importância que a RTP Madeira e RTP Açores tiveram no reforço da coesão territorial e nacional daquelas regiões. Um dos papéis fundamentais do serviço público audiovisual é manter um foco apertado na coesão nacional, e isso tem sido subalternizado. A informação, não só da RTP, diga-se, segue demasiado a trica politica entre S.Bento, Belém e as sedes partidárias e demasiado pouco o que se passa noutros pontos do país e no dia-a-dia das pessoas.
Vou tentar usar poucos chavões do sector, mas o que deve distinguir o serviço público dos canais privados é a relação entre a programação de fluxo e a de stock. Em termos muito gerais a programação de fluxo é aquela que se esgota praticamente no momento em que é emitida, como serviços noticiosos, transmissões directas de desporto e reality shows. Destes programas, com sorte, guardam-se apenas para o futuro material e imagens para arquivo. Ninguém quer ver a repetição da final de um reality show que já se sabe quem ganhou, nem de um jogo de futebol de que já se conhecem o vencedor e as peripécias. Ou seja, menor investimento em programação de fluxo como transmissões de desporto profissional e reality shows, maior investimento em produção de conteúdos de stock como ficção, programação infantil, documentários, e gravações de concertos e espectáculos. Uma meta aceitável seria estabelecer que o investimento em programação privilegiaria a produção de stock com a maior fatia do investimento público, em detrimento do fluxo. Não se consegue de um dia para o outro, mas é uma meta e um objectivo.
Por outro lado faria todo o sentido redefinir o papel e posicionamento de cada um dos canais de televisão e rádio, reduzindo redundâncias e procurando formas alternativas de programação. A título de mero exemplo a programação da RTP1 poderia ter menos transmissões de desporto profissional, menor programação de fluxo, mais informação, debate, documentários e ficção nacionais. Na RTP2 deveria ser fomentada a produção infantil nacional, a produção de documentários sobre grandes figuras portuguesas da cultura, ciência ou deporto e prosseguir o bom trabalho que tem sido feito na programação de produção europeia, quer de ficção, quer documental, quer de gravações de espectáculos.
Passemos às notícias: tocar na informação é tocar num ninho de vespas de interesses e influências, Mas creio não ofender se sugerir que os serviços de informação podiam ser mais sintéticos, com foco mais equilibrado entre nacional, regional e internacional e maior atenção a questões de ambiente, diversidade e igualdade. A RTP3 deveria ser o canal regional por excelência, e não o palco de comentários partidários repetitivos com outros canais. Em vez do modelo actual de debates fanatizados sobre desporto profissional podia ser o canal de modalidades de desporto amador, com notícias, reportagens e transmissões. Há muito que defendo a fusão da RTP Internacional e da RTP África num só canal e confesso que tenho dúvidas sobre a manutenção da RTP Memória.
Da mesma forma, na rádio era oportuno estudar a redefinição programática da Antena 1, com maior atenção ao noticiário nacional e regional, aumento de programas de autor e mais debate sobre temas fora da agenda politico-partidária. Na Antena 2 é há muito urgente a reformulação completa da emissão com uma divulgação mais dinâmica e contemporânea da música clássica, e uma presença maior do jazz e da música do mundo. Complementarmente, extinguir a RTP África, e manter a RDP Internacional e a Antena 3 com modificações de conteúdos a efectuar em função da redefinição dos outros canais. Quanto ao serviço digital, a que por comodidade chamarei RTP Play, e que é exemplar no universo do operador público, o cuidado a ter é mantê-lo actualizado do ponto de vista tecnológico.
E chego agora ao outro elefante no meio da sala - a questão da governação. O primeiro ponto, sem o qual aliás quase nada vale a pena fazer, é a extinção do Conselho Geral Independente (conhecido na gíria por Conselho Geral Inútil), cuja actuação prática tem sido verdadeiramente nula e sem reflexos em mudanças e evoluções do operador público de mídia. Defendo o regresso ao modelo parlamentar de escolha da administração, se possível com um perfil mais técnico e menos político. E, finalmente, para que seja possível coordenar de forma efectiva o universo dos canais e conciliar os sectores da informação e da programação, alteração dos estatutos da empresa e seus reflexos no contrato com o Estado, permitindo a nomeação de um Director Geral com efectivo poder e que responda apenas ao CA, com mandato inamovível durante um período a determinar, e que siga um caderno de encargos e estratégia indicados pelo accionista Estado - afastando do CA a perversa tentação de interferir diretamente nos diretores de programas e de informação, mesmo que de forma velada. Seria mais transparente interna e externamente.
E, por fim, o papel do Estado em relação aos operadores privados: mais vale criar modelos de incentivo aos produtores privados de programas de televisão, nomeadamente na ficção e documentário, do que atirar dinheiro para cima dos canais. Cria de certeza maior diversidade, estimula a criatividade e facilita a dinâmica do diálogo e contratação entre canais e produtores.
Manuel Falcão
Jornalista, foi presidente do Instituto Portuguẽs de Cinema, administrador dos Estúdios Valentim de Carvalho, presidente da Associação de Produtores Independentes de Televisão e director do canal 2: da RTP.
COMO VAMOS DE INTERNET? - A utilização da internet pelos portugueses continua a aumentar e cresceu o número de utilizadores com mais de 64 anos, que duplicou em relação a 2019, atingindo já um universo de 1,3 milhões, um valor que representa 56% dos portugueses acima dos 64 anos. Segundo a Marktest, o acesso regular à web é agora já realizado por 81% dos portugueses com mais de 15 anos, representando um aumento de 2 pontos percentuais em relação a 2023. Por outro lado, os dispositivos móveis (smartphones e tablets) continuam a liderar o acesso à Web, representando 75% dos pageviews auditados, um aumento em relação aos 73% de 2023. E, como já foi referido, o segmento de utilizadores com mais de 64 anos aumentou e a faixa imediatamente anterior (55-64 anos) teve um crescimento ainda ligeiramente superior. A penetração da web nos segmentos etários mais jovens e nas classes sociais A e B manteve-se próxima da saturação, com níveis de acesso próximos de 100%. Um outro estudo da Marktest “Os Portugueses e as Redes Sociais” apresenta uma novidade: o Instagram já é a rede social mais utilizada entre nós, sendo referida por 34,2% dos inquiridos como a rede a que acedem com maior frequência, ultrapassando pela primeira vez o Facebook que recolheu 20,98% das referências. O WhatsApp, por seu lado, recolhe 27,2% das referências neste estudo. No entanto, embora esteja a ser utilizado com menos frequência, o Facebook continua a ser a rede social com maior penetração em Portugal, sendo que quase 90% dos portugueses que utilizam redes sociais têm uma conta criada no Facebook. Nas posições seguintes surgem o WhatsApp (88,3%) e o Instagram (82,1%). A larga distância encontram-se o X (antigo twitter) e o TikTok.
SEMANADA - No segundo trimestre deste ano os preços das casas tiveram uma subida recorde de 3,9% face ao trimestre anterior; o FMI estima que o preço das casas em Portugal está sobrevalorizado em 20%; 60% das empresas portuguesas falham integração de pessoas com deficiência; em 2023 as contribuições de cidadãos estrangeiros para a Segurança Social foram as mais elevadas de sempre e representaram uma subida de 44% em relação a 2022; o montante anual de créditos concedidos a particulares pelos bancos ascendeu a mais de 130,2 mil milhões de euros em agosto, um aumento de 2,2% face a igual mês de 2023; 11% da área total do território nacional ardeu nos últimos dez anos; o sector do Turismo foi alvo de mais de 4000 reclamações desde o início do ano, verificando-se uma subida de 22%, face ao ano anterior; dos 38 554 acidentes de viação com feridos registados pela PSP entre 1 de janeiro e 31 de agosto deste ano, 22% (8427) tiveram a fuga de pelo menos um dos intervenientes; no mesmo período, a PSP efetuou 33 137 detenções por crimes na estrada; em apenas dois meses a PSP detectou 326 idosos em risco social; em 141 casos de crimes cometidos contra idosos a violência ocorreu na família e 45% foram cometidos por filhos e enteados.
O ARCO DA VELHA - Portugal só cumpre 4% das ordens emitidas para expulsão de estrangeiros e ao manter os ilegais, Portugal não cumpre a regra exigida aos países da União Europeia.
OUTRA FOTOGRAFIA - José M. Rodrigues, um dos nomes mais importantes da fotografia portuguesa, tem uma nova exposição em Lisboa, na Galeria da Avenida da Índia, até 22 de Dezembro. Com cerca de meia centena de fotografias e um vídeo, esta exposição só tem obras inéditas propositadamente feitas para esta ocasião. Com o título “Tratado” e curadoria de Óscar Faria, a exposição está centrada em retratos de familiares e de amigos de José M. Rodrigues e estas fotografias relacionam-se também com os lugares onde foram tiradas, sempre com a natureza a envolver as pessoas e a paisagem como pano de fundo. A natureza e a paisagem são aliás temas recorrentes na obra de José M. Rodrigues, cujo olhar é particularmente atento sobre a evolução do território. As fotografias de “Tratado” são baseadas na ligação do fotógrafo com cada pessoa fotografada, da aproximação entre ambos, da relação que se criou. Cada imagem foi pensada para colocar cada retratado num determinado local. São fotografias imaginadas, mentalmente produzidas, mas não rigidamente encenadas. As imagens nascem no momento em que são feitas, exactamente graças à ligação entre fotógrafo e fotografado e, como salienta Oscar Faria, estes “instantâneos” fixam o tipo de relações que José M. Rodrigues mantém com o retratado” e o método de trabalho inclui uma negociação que passa pela escolha de um lugar numa “pessoalíssima geografia sentimental”. Como o curador faz notar, “há muitas histórias que nos chegam destes instantes onde artista e modelo comungam um mesmo propósito: a eternidade de um segundo.” A exposição pode ser visitada até 22 de Dezembro, de terça a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h, na Galeria da Avenida da Índia, com entrada livre.
ROTEIRO - O destaque desta semana vai para "Não vá o diabo tecê-las! A Tapeçaria em diálogo a partir da Coleção Millennium bcp”, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional. Até 12 de Janeiro podem ver 86 obras oriundas da Manufatura de Tapeçarias de Portalegre, feitas ao longo de 78 anos, tapeçarias produzidas a partir de originais de artistas como Artur do Cruzeiro Seixas, Graça Morais, Lourdes Castro, Manuel Cargaleiro, Maria Helena Vieira da Silva, José de Almada Negreiros, Júlio Resende ou Júlio Pomar, entre outros. A entrada é gratuita, na imagem está “O Sagrado e o Profano”, de Graça Morais, uma das obras expostas. Na Galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71 r/c esq), o mar é o tema da nova exposição de Claudia Fischer, “signals from sinking islands”, 18 fotografias inéditas utilizando diversas técnicas, entre elas a manipulação de negativos antigos da família da artista. Na mesma galeria, em simultâneo com o trabalho de Claudia Fischer, Ana Velez apresenta uma série de pinturas intitulada “Erasure. The Cosmic Layers of Time”. Em Coimbra, no Centro de Artes Visuais, até 1 de Dezembro, duas novas exposições: “Dormência”, de Cristina Mateus, e “Radical Papers”, que mostra livros de artista, revistas e edições de autor dos anos sessenta e setenta do século passado, nacionais e internacionais, com particular atenção aos momentos de cruzamento criativo entre os universos musicais e os das artes visuais. As duas exposições têm curadoria de Miguel von Hafe Pérez.
SOBRE AS AMEAÇAS - “Autocracia, Inc - "Os ditadores que querem governar o mundo” é o novo livro de Anne Applebaum, vencedora do prémio Pulitzer, jornalista e historiadora, redactora da revista The Atlantic e senior fellow no Agora Institute da Universidade Johns Hopkins. Applebaum retrata assim a situação actual: “A política internacional está cada vez mais complexa, a tecnologia avança a cada segundo e a ameaça à paz mundial é constante”. Para Anne Applebaum os líderes autocráticos e os seus regimes estão a consolidar-se, entreajudam-se independentemente das suas ideologias, utilizando novas tecnologias, propaganda sofisticada e redes internacionais de apoio para minar as instituições democráticas, utilizando serviços de segurança – militares, paramilitares e policiais – e peritos em tecnologia da informação e desinformação. A História recorda-nos como eram os Estados autocráticos: há um líder todo-poderoso no topo e esse líder controla as autoridades e as polícias. As polícias, nesses Estados, ameaçam as pessoas com o uso de violência e perseguem os dissidentes. Mas, no século XXI, defende Applebaum, a realidade já não é essa: “Hoje em dia, as autocracias não são sustentadas por um ditador, mas por redes sofisticadas compostas por estruturas financeiras cleptocráticas, tecnologias de vigilância e propagandistas profissionais, que operam em vários regimes, desde a China à Rússia ou ao Irão. As empresas corruptas de um país fazem negócios com as empresas corruptas de outro. A polícia de um país pode treinar a polícia de outro e fornecer-lhe armamento. Os propagandistas partilham recursos e temas, transmitindo as mesmas mensagens sobre a fraqueza da democracia e os males da América.” Edição Bertrand.
UM DISCO RARO - Há sete anos o festival de Bath fez uma encomenda à anglo-polaca violinista e cantora Alice Zawadzki para formar um trio, para uma única actuação no festival, com a condição de os seus parceiros serem músicos com quem ela desejava tocar e ainda não tinha conseguido. A escolha de Alice Zawadzki recaíu no pianista e compositor de formação clássica Fred Thomas e no baixista de jazz Misha Mullov-Abbado. A colaboração entre os três músicos foi-se desenvolvendo e no ano passado o patrão da ECM, Manfred Eicher decidiu gravar este álbum, “Za Górami”, cujo significado é “para além das montanhas”. O trio escolheu dez temas, de origem na tradição musical europeia, latina e sefardita. O entendimento entre os três músicos é fantástico e a voz de Alice Zawadzki, quente e envolvente, acrescenta encanto especial a todo o trabalho, conseguindo um disco de rara beleza. Aqui estão temas como uma canção tradicional espanhola, “Suéltate las Cintas”, uma do compositor venezuelano Simón Díaz, “Tonada de Luna Llena” e a intensa melodia popular polaca “Za Górami”, que dá o título ao álbum. Fred Thomas criou a música para um poema de James Joyce, “Gentle Lady” e a terminar o disco, surge uma canção de amor sefardita, “Arvoles Lloran por Lluvias”, o lamento de um soldado que parte para a guerra.
WEEKEND - Neste fim de semana, nos dias 4, 5 e 6 de outubro, o MAAT celebra o seu oitavo aniversário, oportunidade para visitar as seis exposições temporárias que o museu tem patentes, entre as quais “O Mundo Inteiro É Um Palco”, de William Klein. Nestes mesmos dias o MAAT recebe a Block Party, que celebra a fusão entre música, gastronomia e mercado. Se estiver em Londres no fim de semana, não perca a Frieze 2024, em Regent’s Park, uma feira de arte que conta com 270 galerias de 40 países. E, a terminar, a artista portuguesa Ana Vidigal apresenta a partir de dia 3, no centro de arte contemporânea de Tours, a exposição “Pour Voir Ferme les Yeux”.
DIXIT - “ O Governo gostaria de fazer, com este Orçamento, tudo quanto a oposição desejaria fazer. E a oposição esforça-se por impedir que o Governo faça o que ela gostaria de fazer” - António Barreto
BACK TO BASICS - “O homem inventou a linguagem para satisfazer a sua grande necessidade de se queixar” - Lily Tomlin, escritora e actriz.
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