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SOBRE A ARTE DA PUBLICIDADE

por falcao, em 29.11.24

 

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ONDE ESTÁ O WALLY? - Esta pergunta, que deu fama a uma série de livros ilustrados, bem pode ser reformulada como “onde está o consumidor?”. O grande problema da comunicação publicitária hoje em dia, face à enorme fragmentação da mídia,  é conseguir fazer uma campanha que permita ter a melhor possibilidade de impactar o consumidor certo para o produto ou serviço que se publicita. Em relação à TV temos os três canais comerciais generalistas (RTP1, SIC e TVI), e no cabo, entre mais de cem opções disponíveis, há pelo menos dezena e meia de canais que são suportes publicitários interessantes e bem segmentados para diversos tipos de consumidor. Depois, por ordem decrescente de captação de investimento publicitário,  temos os meios digitais e as suas numerosas possibilidades, a publicidade de rua em outdoors, a rádio, os jornais e revistas e, por fim, a publicidade em salas de cinema. A mudança é constante - por estes dias, por exemplo, a Marktest lança um serviço de avaliação de podcasts, cuja utilização está a aumentar.  Durante alguns anos os padrões de consumo de media não sofreram grandes alterações mas, sobretudo a partir do início deste século, a modificação de hábitos dos consumidores tem sido constante. Confesso que gosto de seguir a evolução destes comportamentos - um vício adquirido, primeiro, quando dirigi o canal 2 da RTP há uns anos, e depois durante a década e meia em que fui diretor-geral de uma agência de meios, a Nova Expressão, onde aprendi muito. Nesses 15 anos de enormes transformações enfrentámos várias crises de mercado e, também, a pandemia. Conseguimos ultrapassar as dificuldades por termos adoptado muito cedo o digital e aperfeiçoado a análise sistemática de dados, o que permite perceber rapidamente as mudanças de comportamentos no consumo de mídia. Ao contrário do que algumas pessoas ainda pensam, uma agência de meios não é uma mera bolsa de compra e venda de espaço publicitário. É cada vez mais uma sofisticada operação que analisa a forma como o consumidor age ao longo do dia, que utiliza dados e estudos rigorosos para traçar estratégias que melhor encontrem e toquem o cliente, no meio da imensa floresta de possibilidades. A criatividade de uma campanha, feita pelas agências de publicidade, é muito importante para cativar a atenção - mas ainda mais importante é definir, logo desde o início, qual ou quais os meios que se vão utilizar e como. Eu, por mim, continuo fascinado em encontrar o Wally.

 

SEMANADASegundo o Banco de Portugal os preços das casas estão “sobrevalorizados” desde 2017 e em dez anos aumentaram 80% em Portugal, quase o triplo do que se verificou em Espanha; 2,1 milhões  de portugueses estão emigrados e um em cada três jovens quer sair do país; em 2023 saíram de Portugal 81 mil portugueses, o que representa um aumento de 13,5% face a 2022 e é o número mais alto desde 2020;  mais de metade destes novos emigrantes são jovens até aos 35 anos (46 mil) e a maioria dos que saem (42%) tem curso superior; este ano já chegaram à Ordem dos Enfermeiros 1344 pedidos da declaração que permite exercer fora do país, o que dá uma média de quatro pedidos por dia e nos últimos 14 anos foram feitos 29 mil pedidos semelhantes; dois terços das vagas para colocar jovens médicos de família ficaram por ocupar; no debate na especialidade do Orçamento de Estado deste ano registou-se um novo recorde com a apresentação de 2151 propostas de alteração do OE por parte de todos os partidos; no espaço de dois anos, Portugal foi dos países onde a receita de IVA (em percentagem do PIB) mais cresceu, continuando a destacar-se entre as economias da zona euro onde os impostos indiretos mais pesam na receita fiscal total.

 

O ARCO DA VELHA - Em dois anos foram atropeladas 10 mil pessoas em Portugal.

 

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A INTRIGANTE PERSONAGEM -   “Beco das Flores, Canedo do Mato” é o título da nova exposição de José Loureiro na galeria Cristina Guerra Contemporary Art, um conjunto de 16 óleos sobre tela, a maioria de grandes dimensões (237x118 cms), como o que está na imagem. É um poderoso conjunto de pinturas ligadas por uma intrigante mas marcante personagem, criada por José Loureiro, que aparece repetidamente numa série de situações, como que reflectindo a evolução dos seus estados de espírito a cada momento do quotidiano que se adivinha, quase uma evocação de banda desenhada. No texto que acompanha a exposição, José Loureiro relata assim o que pintou: “A primeira gravata. A primeira unha. A unha cortada rente. Dedadas grandes e pequenas. O desabrochar do narciso e os atalhos que toma até adquirir as qualidade de homem devoto de grandes causas.”  Estas são pinturas que deixam no ar uma história, com mais interrogações que afirmações, desafios à imaginação de quem olha,  e que levam títulos como “ O Sibarita”, “Narciso enverga a primeira gravata”, “Modorra”, “A Descoberta da Pólvora” ou “A passagem dos cometas”, entre outros. Nesta exposição, mantendo o desenho quase geométrico que caracteriza muitas das suas obras, José Loureiro introduz uma figura que se desenvolve dentro das linhas rigorosas que constroem o seu corpo. Até 11 de Janeiro, Rua de Santo António à Estrela 33.

 

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ROTEIRO - O destaque da semana vai para a reabertura do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, coincidindo com os seus 30 anos de existência, após alguns meses de preparação desta nova exposição "331 Amoreiras em Metamorfose”, a primeira concebida pelo novo Director do Museu, Nuno Faria. São obras de cerca de três dezenas de artistas, além dos dois que dão o nome ao Museu, e podem ser vistas até final de 2025. A sensação que se tem ao visitar a exposição é que este é um museu novo. Destaque para a apresentação de muitas obras de Arpad Szenes pouco divulgadas, ou que até agora não haviam sido expostas neste espaço, e que permitem ter uma noção mais exacta da importância do seu trabalho. A montagem da exposição proporciona que se vejam em paralelo obras de Arpad e Vieira da Silva (na imagem, Arpad à esquerda, Vieira à direita), além das de outros artistas. Destaque ainda para o novo grafismo do Museu, desenvolvido por Pedro Falcão. O Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva fica na Praça das Amoreiras 56. O segundo destaque vai para a exposição “Histórias de Família”, de Ana Vidigal, patente até 27 de Abril no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, com curadoria de Patrícia Reis. Trata-se de uma retrospectiva da obra de Ana Vidigal que abrange quatro décadas da sua produção artística e que utiliza como matéria prima a evocação das memórias, recorrendo a cartas, fotografias e outros elementos (Largo do Conde de Vila Flor). 

 

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A VIDA DE CALITA - Bruno Vieira do Amaral tem uma escrita ritmada, incisiva, cativante. Começa a ler-se e não se consegue parar. Os capítulos são curtos, a acção é rápida. “Toda a Gente Tem Um Plano” é o seu novo livro, um encadeado de histórias e personagens que habitam a margem sul, cenário habitual dos romances do autor. Este novo romance conta a história de Calita, um rapaz que cresceu sem pais, em casa da tia Lena, que o acolheu. Calita sabe o que quer e esforça-se por seguir o plano que traçou mas o azar bate-lhe constantemente à porta e dificulta que alcance os objetivos que traçou. Ele é um faz tudo, que conheceu a fama como dançarino e disc-jockey em Espanha. Mas voltas da vida e um sonho que o atormentou fizeram-no regressar ao bairro onde crescera. Passados muitos anos a realidade é diferente da que deixara, a tia Lena, que o criara, havia morrido, a pista de dança das discotecas acabou substituída pela cozinha de um hotel, onde Calita trabalhava para juntar o suficiente para comprar uma mesa de mistura. A escrita de Bruno Vieira do Amaral é um relato sentido dos subúrbios, onde vivem “homens e mulheres, cabisbaixos e de sacos na mão, de sapatos velhos e desprotegidos contra o frio pela roupa fina, experimentados na derrota e o vaivém contínuo entre os dois lados da cidade”. Calita não consegue cumprir o seu plano e  vai-se perdendo. Não vou fazer spoiler. Leiam a história. É uma escrita fantástica. “Toda a gente tem um plano” é uma edição da Quetzal. 

 

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UM PIANO GALEGO - Alberto Vilas é um músico galego, de formação clássica, pianista , compositor e professor de piano no conservatório de Pontevedra. Apaixonado pela recriação de músicas populares, Alberto Vilas foi durante alguns anos membro do quarteto Tangata, que se dedicava à interpretação do tango. O seu novo disco, “Once Cancións e Unha Danza” é dedicada à reinterpretação da música popular galega. Vilas parte de temas tradicionais para, sózinho com o seu piano, recriá-los, mantendo a sua essência, mas modificando-as à sua maneira. Na realidade são músicas novas, reinventadas com respeito pela tradição, numa viagem pelas memórias que temos quando nos confrontamos com as músicas populares e tradicionais que ouvimos nos primeiros anos de vida. A intenção de Alberto Vilas com este disco é possibilitar que as gerações que quase desconhecem estas músicas tradicionais as possam redescobrir em temas como “A Rianxeira”, “Danza das Espadas”, “Ven Bailar Carmiña”  “La Portela”, e até uma tradicional portuguesa, “A Saia da Carolina”. Disponível em CD e nas plataformas de streaming, edição AMG Music.


ALMANAQUE  - Se forem a Roma poderão ver  até 23 de Fevereiro, no Palazzo Barberini, que integra a Galerie Nazionale di Arte Antiqua, uma pintura atribuída a Caravaggio que faz parte de uma colecção particular e que não era exposta há mais de 60 anos. Trata-se do retrato de Maffeo Barberini, antes de ter sido coroado como Papa Urbano VIII em 1623. Em Londres estão outras imagens: na Tate Britain até 5 de Maio a exposição “The 80’: Photographing Britain” mostra o trabalho de vários fotógrafos como Syd Shelton, Martin Parr e Brenda Prince naquela década, desde a greve dos mineiros até ao eclodir da SIDA, passando por manifestações contra medidas do governo de Margaret Thatcher. Na cidade de A Coruña, na Fundação MOP, pode ser vista até Maio uma exposição sobre a obra do fotógrafo norte-americano Irving Penn, organizada pelo Metropolitan Museum Of Art e que permite seguir a sua obra nas áreas da moda, naturezas mortas, nus e retrato ao longo de sete décadas.

 

DIXIT - “A resposta ao populismo não está na rendição a ele (…) está na virtude aristotélica de encontrar uma via média entre as preocupações das elites e as preocupações do povo. O resto é desastre” - João Pereira Coutinho

 

BACK TO BASICS - “É verdade que a inspiração existe, mas só se encontra quando se trabalha” - Pablo Picasso

 

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A COISA NÃO ESTÁ FÁCIL

por falcao, em 22.11.24

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COISAS DO MANICÓMIO - O julgamento do ex-primeiro-ministro José Sócrates continua sem data para arrancar, quase 10 meses após a pronúncia decidida pela Relação de Lisboa e dez anos depois de ter sido detido. A Operação Marquês deixou de ser considerada urgente e os juízes têm demorado vários meses a apreciar simples reclamações de arguidos. Vários crimes estão em risco de prescrição, como as próprias desembargadoras que retiraram a urgência reconhecem. Talvez com falta de coisas mais urgentes para fazer, como por exemplo dinamizar a reforma da justiça e do Código de Processo Penal, a Assembleia da República está preocupada com o vestuário dos deputados. O dirigente socialista e vice-presidente da Assembleia da República, Marcos Perestrello, manifestou a intenção de regulamentar a indumentária dos deputados para evitar que surjam mensagens políticas em t shirts e outras peças de vestuário ou que sejam utilizados adereços que amplifiquem a transmissão de posições sobre temas em debate. A posição surgiu na sequência da intenção de criar regulamentação sobre a utilização, por parte dos cidadãos que assistem às sessões nas galerias, de fardas profissionais como no caso de bombeiros ou polícias. Para terminar em beleza uma notícia que relata a versatilidade de um magistrado: em Braga um procurador do Ministério Público decidiu acompanhar uma operação policial da GNR e  atingiu a tiro um homem durante o assalto a uma ourivesaria. O homem está internado em estado grave no hospital de Viana do Castelo com dois tiros no corpo e o procurador é agora visado num inquérito crime que vai apurar as circunstâncias que o levaram, não só a participar numa operação  policial, como a utilizar e disparar uma arma de defesa pessoal. Nota final: o magistrado, que é também socorrista dos Bombeiros, prestou os primeiros socorros ao homem que ele próprio tinha baleado.

 

SEMANADA - Num estudo coordenado pela Universidade de Évora em sete universidades de sete países europeus - Espanha, França, Irlanda, Itália, Portugal, Roménia e Suécia - Portugal é o país onde mais estudantes relatam ter sofrido  assédio sexual (3,9%) na universidade e o segundo país quando se trata do assédio moral/bullying (14,3%), ultrapassado apenas pela Roménia (15%); a esmagadora maioria dos hospitais do SNS considera as rupturas de medicamentos um problema grave e quase metade (48%) admitem que estas falhas ocorrem diariamente; nos últimos 50 anos. 75.151 pessoas perderam a vida nas estradas nacionais e  dois milhões ficaram feridas; entre 2011 e 2024 o efectivo militar português caíu 33,44% e só este ano, até setembro, entre entradas e saídas, Exército, Marinha e Força Aérea já perderam 345 militares; as várias polícias portuguesas registaram em 2023 371 mil crimes, um aumento de 8% em relação ao ano anterior ; um em cada três incêndios que este ano deflagraram em Portugal foi ateado de forma intencional e criminosa; segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, entre Janeiro e 15 de Outubro, registaram-se 6229 incêndios rurais no País, dos quais 35 por cento tiveram como causas motivações criminais; a segunda causa mais comum (30 por cento) tem a ver com o uso do fogo em queimas e queimadas que se descontrolaram e originaram incêndios; entre 15 e 20 de Setembro registaram-se os 19 maiores incêndios do ano, que destruíram 120 mil hectares de área, provocando nove mortos e 150 feridos; na terceira semana de Setembro, que registou o pico de incêndios deste ano, a Polícia Judiciária abriu 237 investigações e deteve 13 pessoas por suspeitas de fogo posto; este ano, até dia 15 de Outubro, arderam 136 mil hectares, o número de incêndios mais reduzido da década, mas o terceiro mais elevado em termos de área ardida.

 

O ARCO DA VELHA - Um avião da TAP esteve retido cinco  dias no aeroporto de Ponta Delgada até serem capturados todos os 132 hamsters que  fugiram do contentor onde estavam a ser transportados e ficaram à solta no porão do Airbus A320 impedindo a sua utilização por razões de segurança.

 

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A PASSAGEM DO TEMPO -  Até 16 de Fevereiro pode ser vista no Centro Cultural de Cascais uma exposição de um dos grandes fotógrafos norte-americanos, Nicholas Nixon. Trata-se de uma retrospectiva da sua obra, montada a partir da colecção da Fundação MAPFRE e as cerca de 200 fotografias são apresentadas cronologicamente. Nicholas Nixon já tinha exposto em Portugal, em 1990, no Fotoporto, com base numa exposição feita pelo MoMa em 1988. A exposição agora patente em Cascais mostra a série “As Irmãs Brown”, exposta na íntegra com as 48 imagens que a compõem. Esta série, “As Irmãs Brown”,  é considerada uma das mais importantes obras da fotografia contemporânea e contribuíu para o reconhecimento do seu autor. Todos os anos, de 1975 e 2022, Nixon fotografou as irmãs Heather, Mimi, Bebe (com quem Nixon se casou) e Laurie e a fotografia aqui reproduzida é de 1975.  Ano após ano, vemos o correr do tempo nos rostos das irmãs, mudanças físicas, e uma observação atenta permite perceber também a evolução no comportamento das retratadas. O curador da Fundação MAPFRE, que foi o comissário desta exposição, Carlos Gollonet, observa que o “que confunde e fascina nesta série, a meio caminho entre a objetividade documental e a intimidade emocional, é a mudança, o ritmo dentro da repetição”. Nicholas Nixon fotografa com o recurso a câmaras de grande formato, que impõem a proximidade e a cooperação dos  retratados. Toda a obra de Nixon tem por base a sua observação do passar do tempo na paisagem ou nas pessoas. O horário de funcionamento do Centro Cultural de Cascais é de terça-feira a domingo, das 10h às 18h.

 

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ROTEIRO - Começo por sugerir uma visita a “Diafragma”, a nova exposição de Alexandre Farto, aliás Vhils, patente na Galeria Vera Cortês, (Rua João Saraiva 16-1º) até 11 de Janeiro. Ao todo são 9 peças que exploram o potencial da luz e o contraste com a escuridão. Já anteriormente o artista tinha sinalizado esta forma de trabalho, mas agora aprofunda-a e distancia-se da sua mais conhecida faceta da criação de imagens em relevo. Vhils actua sobre tubos de luz onde pinta fragmentos de imagens, que depois se juntam como num puzzle luminoso (na imagem). É uma clara referência à tecnologia, uma transição dos materiais como cimento ou pedra para a utilização criativa da luz eléctrica e da tecnologia. No Porto, na Galeria Fernando Santos, pode-se ver até 23 de Dezembro a exposição de Cristina Massena, “Fundação- Fuga” que combina escultura com pintura, procurando sempre uma reflexão sobre a utilização e divisão do espaço entre o público e o privado. No andar superior da Galeria poderá ver obras de outros artistas, como Avelino Sá, Gerardo Burmester, Jorge Galindo,  José Loureiro, Pedro Calapez, Pedro Cabrita Reis e  Rui Sanches, entre outros.  No átrio da Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian há duas novas exposições: uma sobre o espólio de Fernando Lemos e outra sobre livros de artista na obra de mulheres, “Narrativas do Eu”. 

 

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A NOSSA HISTÓRIA - António Ramalho Eanes é um nome incontornável na história recente de Portugal. A entrevista que Fátima Campos Ferreira lhe fez, por ocasião dos 50 anos do 25 de Abril, primeiro filmada para a RTP1 e, agora, publicada no livro “Palavra Que Conta”, é um documento importante. Como escreveu Marcelo Rebelo de Sousa no prefácio, “em boa hora foi possível o encontro entre quem queria ouvir e quem tinha imenso para ensinar”. Ramalho Eanes foi o Presidente da República que assegurou a estabilização da vida democrática após 1974 e 1975, foi o primeiro Presidente da República eleito por sufrágio universal directo em 1976, depois de ter integrado o MFA desde o início, de ter sido um dos membros do Grupo dos Nove e de ter dirigido  as operações militares no 25 de Novembro de 1975. Venceu as duas eleições presidenciais a que concorreu, sempre com maioria significativa à primeira volta. Quando tomou posse como Presidente da República, em 1976, tinha 41 anos, foi até agora o mais jovem Presidente da República. Actualmente com 89 anos  continua a seguir de perto a situação em Portugal, mas também no mundo. Na entrevista Eanes fala dos episódios marcantes do seu tempo enquanto Presidente, relembra a importância de Melo Antunes, analisa a situação de instabilidade a nível mundial e, no capítulo final, dá a sua opinião sobre a actuação dos partidos políticos e sobre a crise de representação política, na qual aborda o sistema eleitoral, a colonização partidária da administração pública e afirma que “ a actual situação nacional não é preocupantemente crítica, mas merece séria preocupação”. Edição Porto Editora.

 

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ENTRE O JAZZ E A SOUL - Nos últimos anos têm surgido vários vocalistas de jazz e alguns, como Michael Mayo, conseguem esbater cada vez mais as diferenças entre o jazz vocal e a música soul. O novo disco de Michael Mayo, o segundo da sua carreira, é prova disso e, também, um manual de simplicidade. Em “Fly”, Mayo trabalhou com um trio constituído por Shai Maestro (teclados), Linda May Han Oh (baixo) e Nate Smith (bateria). A produção é do próprio Mayo. O álbum tem 11 faixas, a maior parte originais do próprio Michael Mayo, e destaco o som funky do tema título, “Fly” , “It Could Happen To You” e o inesperado aceno à forma de cantar de Chet Baker na balada “Spring Can Really Hang You Up the Most”, destacando aqui também o trabalho dos três músicos que o acompanham no piano, baixo e bateria. O disco está disponível nas plataformas de streaming.

 

ALMANAQUE  - Se forem a Londres até 16 de Fevereiro podem ver na Royal Academy o trabalho de três mestres da arte da Renascença italiana, Leonardo da Vinci, Rafael e Miguel Ângelo. A terminar a sugestão de um livro fantástico para quem se interessa por temas de comunicação: “Propagandopolis: A Century of Propaganda From Around The World”, com reproduções de muitos cartazes das mais diferentes proveniências. Está disponível na Amazon Espanha. No Auditório Municipal Augusto Cabrita, no Barreiro, está patente “Kioskzine, 15 fotógrafos”, com obras de João Pina, Luísa Ferreira, Pauliana Valente Pimentel, Augusto Brázio e António Júlio Duarte, entre outros.

 

DIXIT - “O PSD não está hoje a olhar para o lado com que nasceu, o lado que lhe dá história e identidade, o lado que lhe dá um papel diferente de todos em Portugal” - José Pacheco Pereira

 

BACK TO BASICS - “O silêncio é dos argumentos mais difíceis de rebater “ - John Billings


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POLÍTICA E PUBLICIDADE

por falcao, em 15.11.24

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A PUBLICIDADE NA CAMPANHA AMERICANA - Os custos totais das campanhas democrata e republicana nas eleições de 7 de Novembro foram os mais elevados de sempre. Em jogo estava não só a votação para Presidente, para o Senado e para a Câmara dos Representantes mas também sobre cerca de centena e meia de medidas, desde a regulamentação do aborto às autorizações para venda de marijuana, métodos de votação futuros, diversos temas económicos e leis de imigração. Um estudo da AdImpact, que monitoriza  os investimentos publicitários, contabilizou no Total do ciclo eleitoral de 2024 (presidenciais, senado, câmara dos representantes e medidas específicas), um total de 10,5 mil milhões de dólares, mais mil milhões do que nas eleições de 2020. Os Democratas foram quem mais gastou com cinco mil milhões, que comparam com 4,1 mil milhões dos Republicanos, enquanto o restante foi gasto por outros candidatos independentes e grupos não partidários. Segundo a organização independente Open Secrets cerca de 56% dos gastos foram em publicidade nos vários media, 10% em angariação de fundos, 17% em despesas das campanhas e salários, 6% para despesas administrativas, 4% para estratégia e pesquisa e o restante para items não discriminados. Em 23 Estados o investimento publicitário das campanhas ultrapassou os 100 milhões de dólares mas o Estado que ultrapassou todos os outros é a Pensilvânia, onde as campanhas gastaram 1,2 mil milhões de dólares em publicidade. Ao contrário do que se passa em Portugal, nos Estados Unidos as campanhas eleitorais podem utilizar, sem limites de valor, publicidade comercial em todos os meios e a televisão é o mais usado. A compra da publicidade é dividida entre a organização das campanhas, no caso das presidenciais entre o partido Democrata e o partido Republicano, e ainda os PAC (Political Action Committee, que podem doar fundos às campanhas) ou, cada vez mais frequentemente,  os Super PAC, que podem recolher contribuições de empresas, pessoas individuais ou sindicatos sem limite estabelecido e que podem gastar os fundos recolhidos, sem limite, em defesa de um candidato ou contra um candidato. Por exemplo, empresas ligadas às criptomoedas contribuíram com cerca de 245 milhões de dólares para apoiar candidatos ao Senado que defendem as suas posições, na maioria republicanos. Feitas as contas, em todos os Estados Unidos foram gastos  mais de três mil milhões em compra de publicidade apenas nas presidenciais desde o início da campanha, ainda com Biden, em Março deste ano. O mesmo estudo da AdImpact mostra que entre 22 de Julho e 1 de Novembro a campanha de Kamala Harris dedicou 643,6 milhões à publicidade paga, que soma a 726 milhões gastos por grupos que a apoiaram. Do lado de Trump a campanha oficial e os grupos que a apoiaram investiram em publicidade 914 milhões no mesmo período. A AdImpact indica ainda que 18% de toda a publicidade comprada durante o período referido foi em canais digitais e os Democratas investiram mais no Facebook, Google e Snapchat que os Republicanos que apostaram mais no X (ex-Twitter). Uma nota curiosa: a campanha de Kamala Harris usou duas contas diferentes em todas as plataformas digitais - uma dedicada aos eleitores em geral e outra focada na geração Z e nos millennials mais novos. Na última semana das presidenciais cada uma das campanhas colocou 50.000 spots de televisão a nível nacional nos canais de televisão. Nada disto impediu que na noite das eleições as audiências caíssem em relação a 2020. Segundo a Nielsen Media Research, este ano 42,3 milhões de espectadores seguiram a cobertura dos resultados eleitorais em 18 canais de televisão nos Estados Unidos, uma queda de 25% em relação aos 56,9 milhões de espectadores registados em 2020. O número total de votantes foi cerca de 147 milhões, num universo possível de 161 milhões de eleitores registados,  sendo que a população dos Estados Unidos é de cerca de 335 milhões.

 

SEMANADA - O total estimado de professores e educadores de infância que se terão reformado durante 2024 é de quatro mil, o número mais elevado dos últimos 10 anos; os resultados das provas de aferição do 5º e 8º ano mostram decréscimo da qualidade de aprendizagem a Matemática, Ciências Naturais e Português; um estudo da Marktest indica que 58% dos utilizadores portugueses de redes sociais seguem figuras públicas nessas plataformas e os cinco mais nomeados são, por esta ordem, Cristiano Ronaldo, Cristina Ferreira, Rita Pereira, Nuno Markl e Madalena Abecasis; a presença feminina na administração das maiores empresas nacionais aumentou, mas só 17% das mulheres têm funções executivas; em oito anos foram identificados 836 casamentos infantis ou forçados em Portugal; apenas 6% das queixas de assédio recebidas por instituições de ensino superior públicas resultaram em sanções; o tempo médio de espera por uma junta médica é de um ano e quatro meses; até Agosto foram vendidas em Portugal  quase 54 mil embalagens de um medicamento contra a obesidade, num valor total de 9,6 milhões de euros; segundo um estudo da Marktest um em cada quatro cidadãos em Portugal continental já subscreve o serviço de pelo menos uma plataforma de streaming;  o lucro da Caixa Geral de Depósitos nos nove primeiros meses do ano aumentou 39% em relação ao registado em igual período do ano passado;um estudo do sector imobiliário mostra que as moradias já representam um quarto da procura de casas, superando os apartamentos T3; as exportações portuguesas para os Estados Unidos cresceram 73% entre 2019 e 2023.

 

O ARCO DA VELHA - Dois meses após o início do ano letivo, 25 mil alunos continuam sem professor a pelo menos uma disciplina e Lisboa, Setúbal e Faro continuam a ser os distritos mais afetados. 

 

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NOVAS OBRAS DE CABRITA REIS  -   Depois de “Atelier”, a grande exposição retrospectiva realizada durante o verão na Mitra, Pedro Cabrita Reis apresenta uma nova exposição, “das águas e outros lugares”,  com uma série de trabalhos inéditos, já deste ano, na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18), até 18 de Janeiro. Das 18 obras expostas, 17 são de 2024 e uma, um desenho em papel a grafite e acrílico representando o auto-retrato do artista, é de 1993. Além desse desenho, há oito trabalhos em papel, uma fotografia, dois óleos sobre cartão, quatro óleos sobre tela e duas obras tridimensionais. Um dos trabalhos mais fortes é o óleo que aqui se reproduz, baseado num Raio X feito a uma obra do pintor italiano Tintoretto, que se supõe ser o seu último auto-retrato. Tintoretto, de seu nome Jacopo Robusto, viveu em Veneza no século XVI, e o seu pai era um artífice que tingia sedas,  daí o nome pelo qual ficou conhecido. Pedro Cabrita Reis colocou no verso deste quadro inspirado pela silhueta de  Tintoretto dois nomes, “Jacopo Robusto X Rayed”  e “Il Veneziano”. 

 

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ROTEIRO - Na Galeria Narrativa, em Lisboa ( Rua Doutor Gama Barros 60, www.anarrativa.com) o fotógrafo russo Nikita Teryoshin apresenta o seu trabalho “Nothing Personal - The Back Office of War”, premiado no World Press Photo, que mostra os bastidores das guerras, antes de as armas chegarem aos campos de batalha, com um olhar certeiro sobre submundo das feiras de armas e exposições de defesa (na imagem), ​​um enorme parque de diversões para adultos em que há vinho, petiscos e armas reluzentes. Manequins de plástico são cadáveres e a acção de guerra é encenada num ambiente artificial perante ministros, chefes de Estado, generais e empresários. Em Coimbra, no Centro de Arte Contemporânea, até 26 de Janeiro , a exposição “O Rumor da Imagem” apresenta obras da colecção Alberto Caetano e da Colecção de Arte Contemporânea do Estado. A Feira de Outono APA - Arte e Antiguidades regressa para mais uma edição, a decorrer de 13 a 17 de novembro, entre as 15h e as 21h, no Salão da SNBA.

 

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UM POEMA PARA ESTES TEMPOS - "A Terra Desolada”, no original “The Waste Land”, é um poema escrito por T.S. Eliot em 1921, num momento em que atravessava uma fase complicada da sua vida. Em Paris, depois de ter concluído a primeira versão da obra em Lausanne, Eliot apresentou o texto a Ezra Pound, que sugeriu modificações e cortes significativos, mas desde logo reconheceu a qualidade do poema, cuja primeira edição data de 1922. “A Terra Desolada” é uma evocação dos anos terríveis da Grande Guerra e da devastação da terra, um poema construído em torno da recuperação da figura de um moderno cavaleiro do Graal numa viagem através da terra que ficou infértil, ao longo da qual vai fazendo as perguntas que acabam por permitir restituir a vida. “A Terra Desolada” é a obra mais importante de T.S. Eliot, um dos maiores poetas de língua inglesa que ganhou o Prémio Nobel de Literatura em 1948. Esta nova edição, bilingue, com tradução de Jorge Vaz de Carvalho, surge numa altura em que de novo se espalham múltiplas ameaças de devastação sobre a terra, o que torna este poema ainda mais actual. A edição é da Assírio & Alvim.

 

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JARRETT, SEMPRE - The Deer Head Inn, no Delaware, é o mais antigo clube de jazz dos Estados Unidos, construído em 1840, e foi um marco na carreira de muitos músicos. Um dos que aí começou foi Keith Jarrett, quando tinha 16 anos. O pianista voltaria com alguma frequência ao local e em 1992, acompanhado por Garry Peacock no baixo e Paul Motian na bateria, realizou um concerto para angariar fundos para a preservação do local, que felizmente foi gravado, gravação que ficou para a história. A primeira edição data de 1994 e foi muito elogiada na altura. Agora a ECM decidiu recuperar a gravação original adicionando oito temas inéditos desse mesmo concerto. Ouvindo o disco, “The Old Country (Live At The Deer Head Inn)", torna-se claro que o trio de grandes músicos se deixou levar numa jam session perante o encanto dos espectadores dessa noite única.O disco inclui temas como “Everything I Love”, “I Fall In Love Too Easily, “All of You”, “Someday My Prince Will Come”, “Golden Earrings”, “How Long Has This Been Going On” e uma versão, muito bluesy do tema de Nat Adderley, “The Old Country”, que dá o nome ao álbum. Disponível nas plataformas de streaming.


DIXIT - “ Identificar a democracia com a esquerda e estas com a bondade e a humanidade é o mais miserável erro de pensamento político que se pode imaginar. Quem assim se comporta ajuda as autocracias de todo o mundo” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “A Arte, tal como a moralidade, consiste em traçar uma linha algures” - J. K. Chesterton

 

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À conversa com Miguel Nabinho

por falcao, em 15.11.24

Miguel Nabinho tem vindo a fazer uma série de entrevistas, em vídeo , a que deu o nome "sem título", onde filma  mais diversas pessoas, de artistas a políticos, passando por jornalistas e comentadores. Calhou-me agora ter uma bela conversa com ele na qual lhe contei coisas da minha vida. As dezenas de entrevistas que já fez podem ser vistas no YouTube em screenmiguelnabinho. A conversa comigo,  pode ser vista aqui.

À

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publicado às 08:00

RÁDIOOUVINTES

por falcao, em 08.11.24

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O ENCANTO DA TELEFONIA - A rádio continua a ser um meio de excelência para informação e entretenimento e dia 11 vai  nascer uma nova estação, a CM Rádio, criada pela Medialivre, que também edita este jornal.  A Medialivre é a única empresa portuguesa de media a estar presente em todas as plataformas: imprensa diária e semanal, generalista, especializada e desportiva, televisão, internet e agora rádio. Olhemos para o que é a realidade da rádio em Portugal com base no estudo da Bareme Rádio da Marktest, relativo ao mês de Setembro. Assim 84,4% dos portugueses com 15 ou mais anos ouviram nesse mês rádio pelo menos uma vez por semana.  Ao contrário da televisão, em que os resultados de audiência são conhecidos diariamente, na rádio a recolha de dados é feita por inquérito telefónico periódico, que permite estabelecer vários parâmetros: o reach, que corresponde ao número ou percentagem de indivíduos que escutaram uma estação de rádio, na semana anterior; a audiência média,  que representa o conjunto de indivíduos que escutaram uma estação, num determinado período horário; e finalmente a audiência de véspera que nos dá o número ou percentagem de pessoas que escutaram uma determinada estação, no período das 24 horas anteriores à pergunta ser formulada. Este é, na minha opinião, o dado mais relevante para evidenciar qual a estação que as pessoas ouvem habitualmente e da qual se recordam mais. As dez estações mais ouvidas, segundo este critério, são a Rádio Comercial (19,6%), a RFM (16,6%), a M80 (8,8%), a RR (6,6%), a Antena 1 (4,8%), a Cidade FM (4,4%), a TSF (3,2%), a Mega Hits (3,1%) e, empatadas, a Antena 3 e a Rádio Observador) ambas com 2%). A rádio tem-se mostrado particularmente resistente e, nos anos mais recentes, verificou-se até um reforço da sua audição: tradicionalmente os períodos de audiência de rádio eram quase só a manhã e o fim da tarde, correspondentes ao período em deslocações de automóvel, o principal local onde as pessoas ouviam rádio. Mas graças às emissões digitais em streaming  muita gente começou a ouvir rádio através dos seus smartphones ou computadores, com auscultadores, enquanto trabalhava - uma mudança significativa que faz com que hoje a rádio possa ser ouvida ao longo de todo o dia, por novas audiências, e já não apenas no auto-rádio ou na clássica telefonia.


SEMANADA - Na zona euro o património médio das famílias é de 434 mil euros enquanto em Portugal é de 295 mil euros; por cada 100€ de rendimento disponível, as famílias portuguesas poupam apenas 8€, valor que compara com 13€ de média na União Europeia; no mês passado o preço de compra de casas subiu em Faro, Santarém e Vila Real, os distritos onde o preço por metro quadrado é mais elevado são Lisboa, Porto e Funchal e onde a compra de habitação é mais barata são Portalegre, Guarda e Castelo Branco; no primeiro semestre deste ano registaram-se 17900 acidentes de viação com vítimas, 220 das quais foram mortais; o INEM tem 47 ambulâncias inoperacionais; em Portugal a idade média dos automóveis ligeiros de passageiros aumentou para 14,1 anos e nunca houve tantos carros com mais de dez anos a circular; cerca de quatro mil pessoas por ano são dadas como desaparecidas em Portugal; segundo o mais recente Relatório da Segurança Interna os crimes violentos aumentaram e no ano passado, a criminalidade grupal aumentou em cerca de 15%; no mesmo período a delinquência juvenil agravou-se em quase 9% e as apreensões de droga aumentaram 13,6%; a PSP só tem 295 tasers para os cerca de 14 mil agentes que andam na rua; no final do mês passado 32 mil alunos continuavam sem aulas pelo menos a uma disciplina; cum estudo da Fundação Belmiro de Azevedo indica que nas escolas públicas todos os dias faltam, em média, 11 mil professores e a cada ano há cerca de dois milhões de aulas que ficam por dar. 

 

O ARCO DA VELHA - Em 2024 já morreram 61 jornalistas e 306 foram presos no exercício da sua actividade profissional em zonas de guerra ou de conflito como Ucrânia, Gaza, Sudão ou Birmânia.

 

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O MUNDO NOVO - Até 9 de Fevereiro poderá ver na Galeria Municipal Pavilhão Branco,  nos jardins do Palácio Pimenta, ao Campo Grande, a nova exposição de Joana Villaverde, “My Pleasure”. Com curadoria de António Pinto Ribeiro, estão expostas 14 obras inéditas de grandes dimensões,  telas de três metros e meio por dois metros, que  são os primeiros trabalhos de Joana Villaverde sem qualquer expressão figurativa ou iconográfica. A exposição está aberta de terça a domingo, com entrada livre. Joana Villaverde afirma que estas novas obras são o reflexo do seu quotidiano e resultam do que vê da sua janela, no Alentejo, em Aviz, onde vive e trabalha. No seu texto para a exposição, Joana Villaverde sublinha que este é um trabalho “sem obrigações figurativas” . Sobre o  processo de trabalho que seguiu afirma: “Começo como imagino que comecem as pinturas abstratas. Vou desenrolando a tinta como se fosse um rolo de alcatifa, o corpo vai andando, desenrolando”. Joana Villaverde nasceu em 1970, expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro desde 1988 e a sua obra está presente em diversas colecções privadas e institucionais. Em 2018 abriu o seu atelier Officina Mundi em Avis, onde é responsável pela programação pública. No próximo domingo, dia 10 de Novembro, pelas 16 horas, as Galerias Municipais de Lisboa organizam uma visita guiada à exposição, que será orientada pela artista Joana Villaverde e terá acompanhamento com interpretação em Língua Gestual Portuguesa.

 

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ROTEIRO - Uma exposição a não perder em Lisboa é “Veneza em Festa - de Canaletto a Guardi”, que fica até 13 de Janeiro na galeria principal da Fundação Gulbenkian. A exposição é realizada em colaboração com o Museo Thyssen-Bornemisza e apresenta obras da pintura veneziana do século XVIII como Guardi, Bellotto, Tiepolo e Canaletto.  Na imagem está a obra “A Festa da Ascensão na Praça de São Marcos, Veneza”, um óleo sobre tela de Francesco Guardi, datada de 1755. Em Braga destaque para “Self-Portrait of Nowhere”, de Miguel Rio Branco, na Zet Gallery. Trata-se de uma das maiores exposições do artista, que trabalha essencialmente sobre imagens fotográficas, e que estará patente até 11 de Janeiro com curadoria de Helena Mendes Pereira. NO CCB/MAC poderá ver até 31 de Agosto de 2025 a exposição “Intimidades em fuga, em torno de Nan Goldin”, exposição inspirada num dos mais marcantes trabalhos de Goldin, “The ballad of sexual Dependency”, um diário fotográfico criado por Goldin em 1985. Nesta exposição apresentam-se vários autores que se inspiraram na obra de Goldin mas há poucas obras suas. Finalmente em Lisboa, de 7 a 10 de Novembro, decorre o Lisbon Art Weekend com um programa que engloba muitas das galerias da cidade e ateliers de artistas. Pode ver toda a programação em lisbonartweekend.com .

 

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A MISTERIOSA ARMA  - Pode a música, sob a forma de percussão de tambores, ser uma arma de guerra? O novo livro de José Eduardo Agualusa, “Mestre dos Batuques” é uma narrativa no domínio do fantástico, que mistura acontecimentos históricos com as tradições e rituais do Bailundo, a região de Angola onde se localiza a cidade de Huambo, da qual o escritor é natural. Mia Couto, outro escritor angolano, descreve assim este “Mestre dos Batuques” : “De súbito, numa savana angolana, soldados europeus surgem mortos de forma absolutamente misteriosa. Não há sinal de violência, não há vestígio de crime. Estes militares consumiram-se a si mesmos como sucede com a luz de uma vela. É por esse véu de mistério que a prosa de Agualusa caminha entre dois séculos que se cruzam, entre guerras e amores que se entrelaçam, entre identidades que são credíveis na medida em que são improváveis (...) e é uma digressão prodigiosamente construída sobre as ilusões das fronteiras e dos territórios que nos definem.” Este romance “conta a história de amor de Lucrécia Van-Dunem e Jan Pinto, mas também a de uma sociedade secreta de guerreiros africanos, a de uma mulher que conhecia os segredos da invisibilidade, a de um soldado que queria ser fotógrafo e a da beleza da cidade dos sonhos, Luanda. Num final surpreendente, o romance deixa ainda uma pergunta essencial: pode o amor triunfar sobre a guerra e o caos?”

 

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O SOM DO BAIXO - Avishai Cohen, um baixista de jazz que nos anos 90 tocou no trio de  Chick Corea, desenvolveu um estilo muito próprio combinando influências clássicas, do jazz, do folclore judaico e de várias músicas do mundo.”Brightlight” é o seu novo disco, onde toca como habitualmente com o pianista Guy Moskovich e a baterista Roni Kaspi. O tema de abertura, “Courage” é um bom exemplo da coesão deste trio e da forma como baixo, piano e bateria se completam. Noutro tema marcante do disco, “Hope”, participam também o guitarrista Yosi Ben Tovim e o flautista Ilan Salem. Em “Roni’s Swing”  pode ouvir-se o diálogo entre os três instrumentos , a forma como se articulam e como cada um marca espaço e é particularmente interessante o solo de baixo de Cohen. O disco inclui, além de originais e novas gravações de composições antigas do próprio Cohen, três versões, de origens bem diferentes: uma composição de Franz Liszt, "Liebestraum", é transformada num blues pelo piano de Moskovich; em “Summertime”, o clássico de George Gershwin, Avishai Cohen imprime um ritmo diferente e canta ele próprio; e a terminar surge “Polka Dots and Moonbeams” , um original de Jimmy Van Heusen onde participa o saxofonista Yuval Drabkin. Disponível em streaming.

 

ALMANAQUE  - Esta semana começo por propôr uma série de televisão, “The Rivals”, disponível na Netflix e que acompanha o desenvolvimento  da televisão privada no Reino Unido, nos anos 80. Se estiver em Berlim e quiser ver uma exposição retrospectiva de  Nan Goldin, visite o Neue Nattionalgalerie, onde na exposição “This Will Not End Well” a artista exibe slides e uma narrativa visual na forma cinematográfica que caracteriza a sua obra. E em Paris, de 7 a 10 de Novembro, decorre a Paris Photo, uma das mais importantes exposições de fotografia que conta com a presença de mais de  230 galerias de todo o mundo,  entre as quais três portuguesas, a Carlos Carvalho, a Artemis e a Monitor.

 

HOJE HÁ DOIS DIXIT - “O que nos une é a música e a esperança, não a violência” - Selma Uamusse, cantora; “A música é a última coisa que se esquece” - Miguel Esteves Cardoso, escritor.

 

BACK TO BASICS - “Não basta ter uma boa cabeça, o essencial é usá-la bem” - Descartes

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



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