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UMA SOMBRA - Neste final de 2024 sinto um enorme desencanto com a paisagem política. Não encontro figuras inspiradoras, que tenham uma ideia mobilizadora e de progresso para o país, apenas vejo habilidosos que disputam um jogo de vaidades, especialistas em soundbites inconsequentes que se esquecem de tudo o que disseram quando chegam ao poder - isto passa-se a nível nacional, regional e autárquico. Rever o que foi dito por políticos dos vários quadrantes nas suas campanhas eleitorais, quando estavam no poder ou faziam oposição, e comparar com os discursos actuais dos mesmos personagens, é ler uma compilação de promessas não cumpridas, é descobrir contradições e guinadas de opinião, e não raras vezes frases ridículas. São raros os que permanecem fiéis às suas convicções, que não se vergam para manter o poder, raríssimos os que resistem a ser paus mandados em nome da fidelidade ao partido e ao seu líder. A geração actual de políticos em Portugal e na Europa não tem um pensamento de futuro, os seus protagonistas vivem viciados em manter o poder e encontrar expedientes para saltitarem de lugar para lugar. Quando se olha para o que fizeram com os poderes que tiveram percebe-se que não apostaram em mudanças, preferiram remendos. Portugal é nesta matéria um caso tristemente exemplar. A actividade política partidária,em tempos digna, é agora, salvo raras excepções, palco para actores de terceira categoria que funcionam em circuito fechado, no meio de um passado de expedientes, num presente de manobras e sem ideias para o futuro. Estas precoces pré-presidenciais que se desenrolam à nossa frente parecem um desfile de pretendentes a papéis secundários num filme de baixo orçamento. A política e os políticos em Portugal são hoje uma sombra daquilo que já foram. E não se vê nenhuma luz ao fundo do túnel.
SEMANADA - Em novembro de 2024, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, liderou o top de exposição mediática nas estações de televisão, ao protagonizar 147 notícias de 7 horas e 5 minutos de duração durante o mês; o presidente do Chega, André Ventura, registou a segunda posição, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi terceiro, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, foi quarto e Ana Paula Martins, ministra da Saúde, ocupou a 5ª posição; segundo o estudo TGI da Marktest um milhão e meio de portugueses referem possuir robot de cozinha no lar; ainda segundo o mesmo estudo existem em Portugal 2 milhões e 374 mil pessoas que possuem consola de jogos em casa, ou seja cerca de 32% dos portugueses com idades entre os 15 e os 74 anos; os jovens portugueses dedicam em média duas horas e meia por dia às redes sociais; um quinto dos jovens diz não consumir nenhuma peça de fruta por dia; um estudo recente da OCDE indica que 42,4% dos portugueses têm dificuldade em compreender textos simples, 41,5% dos portugueses apenas conseguem resolver problemas simples com poucas variáveis e 39,8% dos portugueses não conseguem realizar operações matemáticas básicas; na leitura e operações matemáticas Portugal é o segundo país com pior desempenho em toda a OCDE; dez por cento dos alunos do ensino superior são estrangeiros; o total de estudantes vindos de fora do país ultrapassa os 51 mil.
O ARCO DA VELHA - Ao fim deste tempo todo não se encontra local de dimensões suficientes para fazer o julgamento de José Sócrates e uma das hipóteses é fazer obras em Monsanto no valor de 300 mil euros.
A NORTE, UMA PONTE - Pedro Cabrita Reis tem uma nova obra instalada em permanência no lago do jardim de Serralves, uma escultura em pedra, “Ponte” (na imagem), que se junta às várias obras do artista que já fazem parte da colecção da instituição. Cabrita Reis anunciou entretanto que vai doar o seu arquivo documental a Serralves, que inclui cartas pessoais, fotografias, esboços, catálogos, registos rigorosos da correspondência que acompanhou a produção de exposições, convites, cadernos de notas pessoais, cartazes de exposições e outros documentos. Por estes dias em Serralves pode também ver “Amo-te”, a maior exposição de sempre de Francisco Tropa, que inclui trabalhos de escultura, desenho, performance, gravura, fotografia e filme feitos ao longo de três décadas. E nas galerias da nova ala Álvaro Siza a exposição “Canção Contemporânea”, mostra a Colecção Mário Teixeira da Silva, recentemente depositada em Serralves e que reúne cerca de 210 obras de aproximadamente 116 artistas portugueses e estrangeiros. Na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, igualmente em Serralves, pode ser vista uma exposição sobre a obra de Jean Luc Godard, o percurso do cineasta enquanto criador de imagens fixas, desde a sua infância até 2022 com pinturas, desenhos, cadernos, imagens digitais, bem como as fotografias de família.
A SUL, OS DESENHOS DE POMAR - “De Um Traço, Trai” é o título da nova exposição do Atelier-Museu Júlio Pomar, baseada num conjunto de desenhos em papel vegetal, de diferentes formatos, incluindo alguns esboços de retratos, como este de Fernando Pessoa que aqui se reproduz. Estes desenhos serviram de suporte, de esboço ou de estudo de composição para projetos de arte no espaço público criados por Júlio Pomar, como a Estação de Metropolitano Alto dos Moinhos, a Estação Ferroviária de Corroios, o Tribunal da Moita, o espaço exterior da Fundação Champalimaud ou o Circo de Brasília. Os desenhos são agora mostrados pela primeira vez em conjunto e permitem compreender o processo criativo de Júlio Pomar, desde os primeiros esboços em vegetal até aos grandes painéis de azulejo. O título da exposição vem de uma expressão que o próprio Júlio Pomar usou num texto sobre desenho: «De um traço, trai. O que é próprio do traço vivo é ser justo e trair. Trai o que desconhece: a parte que lhe escapa no desígnio que se pressupõe satisfazer; a vacilação do sentido». «D’un trait, il trahit», foi originalmente escrito em francês (Pomar viveu largos anos em França) e o artista sublinhou em nota de rodapé que «D’un trait» significa «de uma assentada», «de uma só vez». Nos trabalhos expostos vêem-se as hesitações de Júlio Pomar, os ajustes feitos traço após traço, e deixados à vista nas folhas de papel vegetal. A exposição, com curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro fica até 16 de Fevereiro, Rua do Vale 7, Lisboa.
ROTEIRO - Na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80, Lisboa), Sara Bichão apresenta “Diver’s Flight” (na imagem) uma exposição colaborativa onde os seus trabalhos coexistem com obras de Armineh Negahdari, Diego Bianchi, Gyan Panchal, Julien Carreyn, e Miriam Cahn, com curadoria de Noëlig Le Roux. Sara Bichão tem outra exposição em Lisboa, na Appleton Box (Rua Acácio Paiva 27, Lisboa) , baseada em desenhos criados desde 2010. Na Galeria Francisco Fino (Rua Capitão Leitão 76, Lisboa) , a exposição “Portals” mostra obras de Laleh Khorramian e Alia Farid, numa apresentação em duo única em Lisboa, e que inclui arte têxtil, colagem e vídeo. Em simultâneo, noutro local da galeria, é apresentada “Force Majeure”, uma exposição de Inês Mendes Leal e Maria Máximo. E em Abrantes, no Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, Catarina Castel-Branco e Manuel San-Payo expõem até Maio uma série de trabalhos sob a designação “Voltar a Casa” .
CONTOS DELICIOSAMENTE BANAIS - “Visitar Amigos”, uma colectânea de contos de Luísa Costa Gomes, é o melhor livro português que li este ano. À primeira vista estes 13 contos, inéditos, parecem relatos banais de situações que se podiam passar com todos nós - quer numas obras em casa, numa visita a amigos, histórias de viagens, de riqueza e negócios, de famílias e descendentes, de terras perdidas do nosso interior e das suas histórias, dos efeitos dos gatos nas pessoas, das dificuldades que surgem com telemóveis que necessitam de carregadores diferentes, de acessórios e roupas herdados e que vêm carregados de memórias. Na realidade o encanto maior deste livro é que facilmente o leitor se pode identificar com as situações , as histórias, as descrições que surgem em cada um dos contos. E depois a escrita de Luísa Costa Gomes é exemplar, feita para ser compreendida, é um manual de comunicação. Escrever de forma simples é mil vezes mais complicado que escrever complicado, armado ao pingarelho. A maior erudição é aquela que não necessita de ser anunciada e essa é uma das enormes qualidades deste livro que conta histórias de vida onde, pelo meio, passam muitos pensamentos, que sem esforço e prazer nos fazem, por sua vez, pensar. Edição D. Quixote.
REDESCOBRIR AMÁLIA - Em 1980 foi editado um LP de Amália Rodrigues intitulado “Gostava de Ser Quem Era”, que nasceu fruto da convalescença de um problema cardíaco da fadista. Depois do susto que apanhou, decidiu gravar um disco apenas com poemas escritos por si: “Para mim este disco é como que uma despedida. Eu sempre quis deixar qualquer coisa que pudesse fazer com que os outros pensassem em mim”, afirmou Amália na época. O álbum original tinha 10 temas e a Valentim de Carvalho, com a preciosa orientação de Frederico Santiago, editou agora um duplo CD em que além dos dez temas do disco original está incluído pela primeira vez o material gravado, que não foi então editado, e também os ensaios preparativos do trabalho em estúdio. No primeiro dos CD’s estão dez temas originais do álbum, mais 14, entre elas várias canções ligeiras que ficaram inéditas como canções de Carlos Paião e Belo Marques. No segundo disco há 17 faixas que resultam das gravações de ensaios, quatro gravadas ao vivo num espectáculo de Amália no Teatro Monumental em Janeiro de 1980 e mais três gravadas no Coliseu em Fevereiro do mesmo ano. Frederico Santiago explica este processo: “Parte do encanto deste disco ficou escondido na moda acústica da altura da primeira publicação em LP (1980). O eco excessivo apagou a verdadeira cor da voz de Amália nesta época e criou a ideia de que a sua dicção se tinha tornado menos perfeita. A sinceridade e o intimismo destas sessões, e a ausência de artifícios técnicos, aconselha-nos a devolver na presente edição o som “cru” das bobines originais. “. E é isso que se pode ouvir agora.
DIXIT - “Mário Centeno corre o risco de ser visto mais como gestor da sua ambição política do que como governador (do Banco de Portugal) “ - Helena Garrido
BACK TO BASICS - “A honestidade é a melhor política” - Miguel Cervantes
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
O PODER DA IMPRENSA - Contrariando a ideia de que a imprensa está morta, eis alguns dados: segundo o estudo Press Insights, do Bareme Imprensa da Marktest, numa escala de 1 (nada relevante) a 10 (muitíssimo relevante), os portugueses atribuem uma nota média de 7,6 à relevância da imprensa em papel. O valor médio é ligeiramente mais alto nos jornais (7,8) do que nas revistas (7,6) e alcança o seu pico de relevância nos jornais diários e semanários de informação generalista (8,0). Em termos de audiência, o Correio da Manhã vende mais de 1,1 milhões de exemplares por mês, ou seja mais de 37 mil exemplares por dia e é seguido pelo Expresso, Jornal de Notícias e o Público, que vende nove mil exemplares. O tempo médio total de leitura de imprensa situou-se perto dos 48 minutos, com algumas oscilações consoante a tipologia de jornal ou revista. Por exemplo, o tempo dedicado à leitura de jornais generalistas foi o mais alto, atingindo cerca de 52 minutos em média. Já na leitura de jornais desportivos verifica-se um tempo médio na ordem dos 36 minutos. Nas revistas, o tempo médio dedicado aos títulos mensais é de cerca de 50 minutos, contra os 42 minutos dedicados às revistas semanais. Outro estudo da Marktest, o Bareme Imprensa, indica que cinco milhões e meio de portugueses com 15 e mais anos que, leram ou folhearam jornais ou revistas este ano, o que significa quase dois em cada três portugueses. Olhemos agora para a publicidade: é na imprensa, sobretudo nas revistas, que as grandes marcas de prestígio preferem anunciar, e isso tem sido particularmente visível nesta época de Natal. Por outro lado é também na imprensa que os conteúdos patrocinados e a organização de eventos, como conferências, encontra maior receptividade por parte dos anunciantes e obtém melhores resultados junto dos públicos a que se destinam. Finalmente, e isto é importante, a maioria das investigações jornalísticas mais relevantes continua a ser feita nos jornais e revistas e são os seus conteúdos editoriais que marcam a agenda nos outros meios.
SEMANADA - Quase metade dos estudantes universitários apresenta sintomas depressivos; segundo a Marktest, Cinfães, Penela, Vila Nova da Barquinha, Ferreira do Alentejo e Lagoa (Açores) foram os concelhos com maior aumento no rating de dinamismo económico e Lagoa (Açores), Vila Franca do Campo, Vila do Porto, Murça e Ponta Delgada, pelo seu lado, foram os concelhos com maior variação positiva do rating de qualidade de vida; em 2023, segundo a Marktest, 2 milhões e 908 mil portugueses tinham seguro de saúde, um valor que corresponde a 32.3% dos portugueses com 15 ou mais anos; segundo o INE existiam em 2023 em Portugal 1 044 238 estrangeiros com estatuto legal de residente, 33.7% acima do registado em 2022, e os países de origem mais presentes são o Brasil, seguido de Angola e Cabo Verde; no ano passado 45,2% das vendas globais de supermercados e grandes superfícies foram de marcas próprias e significaram cerca de oito mil milhões de euros em termos de volume de negócios, um crescimento de 128% em relação à situação em 2011; um estudo recente indica que a evolução do envelhecimento da população é arrasador e Portugal ocupa o segundo lugar no ranking europeu do índice de envelhecimento; em 2022, segundo o Eurostat, 58% dos portugueses acima dos 16 anos não leram nenhum livro; em 2024 reformam-se 3981 professores, o número mais elevado desde 2013; existem mais de 45 mil computadores avariados nas escolas portuguesas do ensino básico e secundário.
O ARCO DA VELHA - Um estudo do Ministério da Agricultura de Espanha mostra que, no primeiro semestre de 2024 a compra de refeições pré-preparadas foi de 16,6 kgs por cidadão, um consumo 514,8% superior ao que se verificava em 2004. E por cá, como será?
VASCULHAR A REALIDADE - A nova exposição de fotografia de Valter Vinagre merece uma visita. Sob o título “Espírito no lugar”, Vinagre mostra 45 imagens onde, nas suas próprias palavras, parte da realidade para vasculhar “vestígios das suas histórias através da paisagem e do retrato”. Alessia Allegri, que fez a curadoria da exposição, sublinha: “Mantendo-se fiel ao seu estilo habitual de testemunho de «lugares imprecisos», Valter Vinagre representa o espírito que existe em cada lugar. Procura-o no olhar das pessoas e nas suas práticas, assim como no ambiente e atmosfera que as rodeia, feita de consistência de luz, densidade de cores e de matéria. Não parte da realidade, mas tenta chegar à realidade, trabalhando não tanto a partir de uma ideia de espírito do lugar, mas, sobretudo, de espírito no lugar.”. As imagens, como esta aqui reproduzida, são poderosas, intensamente pessoais, oscilam entre paisagens, casas, pessoas, todas fruto de um olhar persistente e coerente, como tem sido hábito ao longo da sua obra. A exposição, que está na galeria Antecâmara, na Rua de Cabo Verde 17 em Lisboa, pode ser vista até 28 de Fevereiro entre as 9 e as 18 de 2ª a 5ª e nos outros dias mediante marcação para o telefone 213 420 605 ou mail@antecamara-galeria.pt . Valter Vinagre foi repórter fotográfico em vários jornais, e no seu percurso tem numerosas exposições e alguns livros.
ROTEIRO - No Instituto Camões (Avenida da Liberdade 170), Miguel Valle de Figueiredo mostra “Mardel/Martell- Uma herança húngara”, um tributo fotográfico à obra arquitetónica que o engenheiro militar húngaro Carlos Mardel deixou em Portugal no século XVIII (na imagem) . Em Maio deste ano foi apresentada no Centro de Arquitectura Contemporânea de Budapeste. A exposição apresenta os principais edifícios concebidos por um dos maiores responsáveis pela reconstrução de Lisboa e arredores após o grande terramoto de 1755. Na Galeria de Santa Maria Maior, até 18 de Janeiro, pode ser vista a exposição “Edição Limitada” que pelo terceiro ano apresenta esta iniciativa que reúne 77 fotografias de 77 fotojornalistas, numa parceria com a associação CC11 (rua da Madalena 147). “Ó Lopes” é o título da exposição de obras do fotojornalista Carlos Lopes, falecido em 2021. Esta retrospectiva da sua obra pode ser vista até 10 de Janeiro na Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca 20, Lisboa). Na Brotéria Noé Sendas mostra até 15 de janeiro “Goin’ Home” um conjunto de obras recentes algumas propositadamente pensadas para o local (Rua de S. Pedro de Alcântara 3).
SUSPENSE CONSTANTE - Aqui está o regresso de Camilla Lackberg, a autora de romances policiais que é a escritora sueca mais lida em todo o mundo, com mais de 30 milhões de livros vendidos em meia centena de países. Licenciada em economia na universidade de Gotemburgo, a sua vida profissional começou como economista mas tudo mudou quando a família lhe ofereceu um curso de escrita criativa sobre crime. O seu livro de estreia foi “A Princesa de Gelo”, editado em 2000 e desde então lançou dezena e meia de obras. “A Vingança de Faye” é a sua mais recente trilogia, que chega agora ao fim com “Sonhos de Bronze”, depois de “Gaiola de Ouro” e “Asas de Prata”. Lackberg conta a história de Faye, uma empresária talentosa que criou de raiz uma firma de cosmética que é um caso de sucesso, a “Revenge”. Neste “Sonhos de Bronze” , o passado de Faye ameaça tudo que ela construiu, inclusive sua vida, ao ponto dela acabar na prisão, acusada de um assassínio. Ao mesmo tempo o seu pai, ele próprio foragido da prisão, persegue-a e alia-se a uma das maiores redes de crime da Suécia para a atacar. A vingança como forma de sobrevivência é o tema central deste livro emocionante, onde o suspense é uma constante, e que relata a luta de uma mulher poderosa e ambiciosa em defesa do que construíu. Edição Porto Editora.
OUTROS BEATLES - Nos últimos anos, desde 2020, a cantora e guitarrista norte-americana Lucinda Williams criou uma série de gravações, a que chamou Lu’s Jukebox, com o objectivo de prestar a sua homenagem a nomes como Tom Petty, Bob Dylan, os Rolling Stones e, agora, os Beatles. Desta vez foi gravar em Março deste ano para o estúdio onde os Beatles trabalharam quase sempre, o mítico Abbey Road, e aí revisitou 12 canções de várias épocas da banda. “Lucinda Williams Sings the Beatles From Abbey Road” é o título do disco que juntou uma cantareira familiarizada com o rock’nroll a músicos com idêntico perfil. O resultado é muito bom e as interpretações que Williams faz de dois temas de Lennon, incluídos no “White Album”, “Yer Blues” e “I’m So Tired” são talvez os momentos mais altos do disco. Mas mesmo em baladas de McCartney, como “Let It Be” ou “The Long And Widing Road”, o resultado é acima das expectativas. E também em dois temas de George Harrison, “While My Guitar Gently Weeps” e “Something”, mantendo-se fidelíssima à linha musical dos originais, a voz de Lucinda Williams introduz uma nova dimensão na interpretação - e isso é também particularmente claro num tema de Ringo Starr, “With a Little Help From My Friends”. Por fim uma das versões mais surpreendentes é a de “Rain”, um tema de 1966. A guitarra de Doug Pettibone ajuda a criar a diferença nestas versões e merece elogioi o trabalho dos outros músicos - Butch Norton na bateria, Marc Ford na guitarra acústica, e Richard Causon nas teclas. Disponível em streaming.
ALMANAQUE - Depois de mais de 50 anos de construção abriu em Milão o Museu de Arte Moderna Palazzo Citterio. Anunciado em 1972 o projecto teve numerosos atrasos, nomeadamente na fase de recuperação do edifício do século XVIII. O novo museu, em conjunto com a Pinacoteca di Brera e a Biblioteca Nacional Braidense, finaliza o conjunto museológico Grande Brera e posiciona Milão num novo patamar cultural. Já agora ao longo da última década a Itália fez grande mudanças na forma como o Governo se relaciona com as instituições culturais, dando-lhes autonomia de gestão das suas finanças, desde a angariação de patrocínios ao marketing e à gestão das bilheteiras, o que permitiu um grande aumento das receitas: em Florença, a Galeria Uffizi teve cinco milhões de visitantes em 2023. Um exemplo a estudar para a desgraçada situação dos museus portugueses.
DIXIT - “Sócrates trabalha para conseguir a impunidade total, seguindo o seu breviário de vítima até limites que o transformam numa caricatura e numa confissão ambulante dos seus próprios crimes” - Eduardo Dâmaso.
BACK TO BASICS - “O investimento no saber e no conhecimento é aquele que garante maior retorno “ - Benjamin Franklin
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
O PODER DA VOZ - Na semana passada a Marktest anunciou a criação do PodScope, um estudo que permitirá estabelecer um ranking mensal dos podcasts auditados, e que possibilitará, naqueles que forem analisados, indicar o número de downloads acumulados por mês, o número de downloads médios por semana e o número de utilizadores médios por semana. O mercado de podcast tem crescido de forma significativa nos últimos anos e em alguns países, como o Canadá, Estados Unidos e Austrália a escuta de podcasts já faz parte dos hábitos de cerca de um terço da população. Em Portugal, segundo dados da Marktest, 23% da população ouviu podcast durante o ano de 2023, o que nos coloca em pé de igualdade com países como a Alemanha, França ou Itália. O PodScope, que será lançado ainda este ano, permitirá ter dados mais concretos sobre a audiência obtida e a separação por géneros temáticos, permitindo também que decisões sobre patrocínios e publicidade das marcas em podcasts sejam baseadas em indicadores reais. O universo dos podcast tem vindo a crescer e um recente artigo na newsletter norte-americana especializada em mídia, Nieman Lab, refere que nos Estados Unidos, onde a confiança do público nos meios tradicionais está em queda, os podcasts permitem criar laços mais fortes com as audiências e levar os ouvintes a consumir informação de forma diferente. É o poder da voz. Nesse artigo, a autora, Joni Deutsch, analisa a importância dos podcasts nas recentes eleições presidenciais e afirma que, enquanto a partir dos anos 60 a importância da televisão nas campanhas era total, em 2012 foi o ano da relevância do twitter e 2024 assistiu à primeira eleição onde os podcasts tiveram influência. A autora refere que 100 milhões de americanas ouvem pelo menos um podcast semanalmente e um estudo recente mostra que a geração Z e os millennials preferem ouvir notícias em podcasts a lê-las ou vê-las na televisão. Os dias finais da campanha norte-americana foram palco de uma disputa entre Kamala Harris e Donald Trump no universo dos podcasts com vantagem para este último. Trump apareceu em 20 podcasts e foi ouvido por 23,5 milhões de pessoas, enquanto Kamala Harris apareceu em oito, que tiveram uma audiência de 6,4 milhões. Joni Deutsch acredita que os podcast se vão tornar rapidamente a principal forma de informação e o principal meio utilizado para veicular comentários e opiniões de figuras públicas, permitindo análises mais aprofundadas, feitas num tom mais pessoal. E em Portugal que acontecerá no universo dos podcasts nas próximas eleições?
SEMANADA - No ano passado a Polícia Judiciária registou 303 crianças e jovens até aos 17 anos vítimas de crimes sexuais online, enquanto em 2009 o número de casos era de quatro dezenas; a maioria dos crimes ocorre através de telemóvel e no início da noite quando as crianças e adolescentes estão já sózinhos no quarto; houve 437 condenações por pornografia infantil em quatro anos; 1287 euros é o valor anual gasto em média pelos 5,3 milhões de portugueses que fazem regularmente compras on line e 95,8% usam o telemóvel como veículo preferencial de compra; há cerca de 120 mil alojamentos locais registados em Portugal que no primeiro semestre do ano concentraram 37% das dormidas turísticas; o número de pessoas sem-abrigo em Portugal duplicou nos últimos cinco anos e cresce o número dos sem-abrigo que são trabalhadores; um quarto dos portugueses vive com menos de 738 euros por mês; em 2023 Portugal exportou drones no valor de 31 milhões de euros; nos primeiros 11 meses de 2024 a energia solar assegurou 10% do consumo de electricidade do país; em Portugal 40% dos adultos só compreendem textos simples e matemática básica; o desempenho dos alunos portugueses em avaliações internacionais, em disciplinas como a matemática, tem vindo a descer e os resultados dos alunos do 8º ano caíram mais do que em qualquer outro país europeu.
O ARCO DA VELHA - Em Portugal há 15 iniciativas e organismos dedicados ao combate à corrupção que não comunicam entre si com fracos resultados práticos.
CENÁRIOS IMAGINADOS - Manuel Forte nasceu no Porto, vive e trabalha no México e desde a semana passada tem a sua primeira exposição em Portugal, na Galeria Balcony, depois de ter exposto em diversos países como Alemanha, Espanha e, claro, México. Esta sua exposição em Lisboa, intitulada “Andor Violeta”, mostra uma dezena de pinturas e pode ser vista até 25 de Janeiro. O seu olhar recai sobre ambientes domésticos, misturando cenários reais com outros, imaginados, por vezes remetendo para “a ideia de um improvisado estúdio fotográfico”, como salienta Miguel von Hafe Pérez no texto que escreveu a propósito desta exposição. E sublinha: “há um fascínio por outros elementos que ajudam à estruturação mutante dos espaços pictóricos: as mesas e as cadeiras. As mesas são palcos inverosímeis e as cadeiras lugares de ninguém” . Há também evocações repetidas de figuras animais, na maioria em segundo plano ou em primeiro plano como na obra “Reguengo”, uma quadro de pequenas dimensões, que mostra um pássaro azul com patas amarelas assente num galho. O nome da exposição é toda uma outra história, como relembra Miguel von Hafe Pérez: “Andor violeta era uma expressão que aqui no Norte se usava nos nossos tempos de adolescentes. Basicamente significava “põe-te a andar” ou coisa do género. “ A Balcony fica na Rua Coronel Bento Roma 12 A, em Alvalade.
ROTEIRO - A nova exposição da fotógrafa Inês d’ Orey ,”Dada City”, mostra o trabalho que resultou de uma residência artística de um mês que fez em Bucareste. Bernardo Pinto de Almeida fala assim da obra da artista: “nas fotografias de Inês d’Orey - que desde sempre se foram construindo a partir de espaços arquitectónicos já existentes e normalmente carregados de alguma dimensão de memória urbana - aquilo de que se trata é justamente de procurar uma espécie de clima ou uma atmosfera”. Inês d’Orey foi este ano finalista do Prémio Nikon para fotógrafos emergentes e estudou fotografia na Universidade de Artes de Londres. Esta exposição merece ainda destaque pela montagem, que associa fotografias impressas em grande formato a transparências retro-iluminadas colocadas em dispositivos antigos.“Dada City” fica na Galeria das Salgadeiras (Avenida dos Estados Unidos da América 53D), até 31 de janeiro. Até 20 de Dezembro pode ser vista na Galeria Diferença (Rua de S. Filipe Neri 42), uma colecção de desenhos, pintura e fotografia de Helena Almeida.
UMA AVENTURA - Começo por uma declaração de interesse: hoje vou falar de um livro a cuja produção estive ligado. É o relato de uma aventura que nasce do desejo de uma empresa falar da sua história. O caso é simples: a companhia de seguros Fidelidade queria mostrar a sua ligação à História através de um caso ocorrido em meados do século XIX. Tudo começou quando o Rei D. Fernando II encomendou a um ourives português que fizesse uma faca de mato em prata, cabo e bainha finamente trabalhadas com numerosos detalhes e minúsculas figuras que evocavam animais. O artesão escolhido para a empreitada foi Rafael Zacarias da Costa, que demorou onze anos a esculpir a peça, perdendo parte da visão ao longo do processo devido à minúcia e detalhe da obra. O problema é que no final o Rei não pôde comprar e pagar a peça, numa das várias crises financeiras que já nessa altura marcaram Portugal. Após numerosas peripécias a faca acabou no fundo do mar, num naufrágio ocorrido em 1875, quando a peça estava a ser transportada para Inglaterra com o objectivo de aí ser vendida. A seguradora deste transporte era a Fidelidade, que honrou os seus compromissos, indemnizando o proprietário da peça, o ourives para quem Zacarias trabalhava. Mas a Fidelidade foi mais longe e recuperou, com a ajuda de mergulhadores com escafandro, a faca de mato, que hoje em dia está na sede da seguradora, devidamente protegida. A aventura dá-se quando a autora convidada a escrever esta história, Mónica Bello, resolveu criar uma intriga contemporânea que envolveu ardilosos ladrões. Não vou fazer spoiler, mas “A Jóia Que o Rei Não Quis”, assim se chama o livro, leva-nos a percorrer a Lisboa da segunda metade do século XIX e transporta-nos para o presente, envolvendo ao longo do tempo a história da mais antiga seguradora portuguesa em actividade, que há 148 anos tem em seu poder esta jóia. A edição é da Guerra & Paz.
SIMPLICIDADE ACÚSTICA - Melodias com base em canções tradicionais, ritmos sul-americanos e improvisação q.b. são a base do trabalho de um trio que integra um contrabaixista sueco, Lars Danielsson, um guitarrista britânico, John Parricelli, e um trompetista finlandês, Verneri Pohjola. “Trio”, assim se chama simplesmente o disco, inclui 12 temas, seis dos quais são originais de Danielsson, um de cada um dos outros dois músicos, uma composição do trio e três versões de autores tão diferentes como Duke Ellington, o compositor de bandas sonoras de filmes Philippe Sarde e do canadiano Ron Sexsmith, “Gold In Them Hills”, provavelmente a mais surpreendente destas versões. Totalmente acústico, gravado “live on tape” num “chateau” francês onde se produz vinho de Bordéus, este “Trio” é um exemplo de simplicidade e rigor na execução instrumental. Disponível em streaming.
ALMANAQUE - Sábado dia 14 de Dezembro, entre as duas e as sete da tarde, decorre a segunda edição de “Passeio da Estrela”, um percurso pela arte contemporânea que propõe visitas a seis galerias daquela zona da cidade: Cristina Guerra Contemporary Art com a exposição de José Loureiro ( Rua de Santo António à Estrela 33); Encounter com obras de Antony Cairns e Galeria Jahn und Jahn com trabalhos de Stefan Vogel e Max Frisinger (ambas na Rua de São Bernardo 15 r/C); Madragoa, com uma colectiva de cinco artistas (Rua dos Navegantes 52A); Miguel Nabinho com obras de Pedro Cabrita Reis (Rua Tenente Ferreira Durão 18); Monitor, com uma colectiva de sete artistas (Rua da Páscoa 91); e Pedro Cera com trabalhos de Marianne Fahmy (Rua do Patrocínio 67 E). Seis boas oportunidades para presentes de Natal especiais.
DIXIT - “Nunca fizeram tanta falta (... como agora…) pessoas modernas, civilizadas, cultas, vividas, bonacheironas, descaradamente burguesas, mas altruístas e justas e conscientes” - Miguel Esteves Cardoso, sobre Mário Soares
BACK TO BASICS - “Quem faz perguntas pode parecer idiota, mas quem não questiona fica idiota toda a vida” - provérbio chinês
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
TENDÊNCIAS DE MÍDIA - Fundada em Fevereiro de 2007 por Tyler Brulé, a revista “Monocle” apostou desde o início na sua circulação em papel. Aos poucos foi desenvolvendo também uma presença digital, embora a edição impressa da “Monocle”, e dos seus produtos derivados continuem a ser o eixo estratégico de desenvolvimento. Recentemente, em Paris, promoveu a “Monocle Media Summit”. Um dos oradores foi Louis Dreyfus, o CEO do jornal “Le Monde”, publicação que está a completar 80 anos. O seu CEO tem objetivos claros: atingir um milhão de assinantes em papel e online em 2025, aumentar o número global de leitores e lançar uma revista em inglês, que sairá duas vezes por ano, na linha do já existente “Le Monde Magazine”. O ponto de partida para qualquer projecto do grupo, mesmo neste tempo em que a IA alarga a sua presença e as redes sociais continuam a ganhar terreno, é uma estratégia editorial clara e, sublinha Dreyfus, garantindo que todas as inovações devem começar na sala de redacção. Outro dos oradores foi Christoph Amend, um dos responsáveis de inovação no semanário alemão “Die Zeit”. Recentemente criou um novo magazine sobre arte,”Weltkunst”, e introduziu na área de podcasts do grupo uma novidade: fez uma entrevista em inglês ao músico britânico Bryan Ferry para o seu podcast “Alles gesagt?” (“Está tudo dito?”) e em conjunto com a sua equipa de IA conseguiu converter a conversa para alemão, utilizando as vozes originais do músico e do entrevistador e publicou ambas, a original em inglês e a “fabricada” em alemão. Amend afirma que a maior surpresa foi a quantidade de pessoas que escreveram para agradecer. Outra participante foi Christine Ockrent, ex-diretora da revista francesa “L’Express” , jornalista e autora de mais de uma dúzia de livros e hoje em dia responsável por programas de informação e entrevistas numa estação de televisão. Para Ockrent as marcas de informação são muito importantes, não só para os leitores e espectadores, mas também para quando se está no terreno a recolher informação. Quer em papel, televisão ou online uma marca de informação de referência é uma garantia de qualidade, algo em que se pode confiar. E, sublinhou: “Isto não se aplica só aos meios massificados, os segmentos de nicho podem da mesma forma ser um referencial de qualidade e tradição”. E ajudam a fazer crescer as marcas que os acarinham.
SEMANADA - Um estudo divulgado esta semana indica que um terço dos portugueses pensa emigrar e 36% dos que afirmam querer sair do país indicam como causas o descontentamento com a realidade política, fiscal e social em Portugal; este ano o preço do metro quadrado nas avaliações bancárias já valorizou 185 euros, mais que em todo o ano de 2023; em 20 capitais de distrito os preços das casas subiram este ano e o preço médio de venda de habitação subiu 10% em novembro face ao mesmo mês do ano anterior; Lisboa, Porto, Funchal, Faro e Setúbal são neste momento os distritos com preços médios mais elevados e Portalegre, Guarda e Castelo Branco são os que têm preços mais reduzidos; há cerca de 120 mil alojamentos locais registados em Portugal que no primeiro semestre do ano concentraram 37% das dormidas turísticas; há 700 pessoas internadas em hospitais à espera de vaga num Lar; o número de estrangeiros não residentes em Portugal atendidos nas urgências mais do que duplicou em apenas dois anos, metade não tem seguro ou sistema de saúde e um responsável do sector fala no crescimento de “turismo de saúde”; o tempo médio de espera por uma junta médica é de um ano e quatro meses.
O ARCO DA VELHA - O Banco de Portugal recebe anualmente mais de um milhão de euros em notas estragadas que troca por novas de idêntico valor, sendo que enterrar dinheiro é a principal causa dos danos causados às notas.
IMAGENS DO FADO - Existe em Lisboa, junto a Alfama, no Largo do Chafariz de Baixo, um Museu do Fado que, sob a direcção de Sara Pereira, tem sido um ponto de referência na divulgação da história do Fado e dos grandes nomes que a ele estão ligados nas mais diversas áreas, do cinema à literatura e às artes plásticas. Na semana passada foi ali inaugurada a exposição “Imagens do Fado na Arte Portuguesa”, que poderá ser vista até 23 de Março e que reúne dezenas de obras de nomes como José Malhoa, Columbano Bordalo Pinheiro, Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Dominguez Alvarez, Francis Smith, Roque Gameiro, Eduardo Malta, Stuart Carvalhais, João Abel Manta e Júlio Pomar, entre outros. Os trabalhos expostos permitem seguir a evolução do fado e da sua percepção desde meados do século XIX, até às telas de Júlio Pomar, que durante mais de uma década evocou o Fado por várias vezes, como na obra aqui reproduzida, “Lusitânia no Bairro Latino (retratos de Mário Sá Carneiro, Santa Rita Pintor e Amadeo de Souza Cardoso), um trabalho de 1985.
ROTEIRO - Entre 2022 e 2024 Eurico Lino do Vale fotografou retratos de pessoas que vivem em Santar, uma freguesia do concelho de Nelas. Agora reuniu todos esses trabalhos numa exposição que junta os 43 retratos que fez e uma fotografia recente de uma das paisagens do jardim da Casa dos Condes de Santar e Magalhães onde decorre a exposição (na imagem), que integra a visita à casa e seus jardins. Eurico Lino do Vale fotografa com um único foco de luz, evocando a pintura flamenga e a história da fotografia da primeira metade do século XX, sublinhando o olhar dos retratados e a diferença e identidade que os distinguem. O trabalho de Eurico Lino do Vale mostra a comunidade que preserva Santar e resulta da cumplicidade do artista com o grande dinamizador de Santar Vila Jardim, José Luís Vasconcelos e Sousa, que depois de uma bem sucedida carreira na banca, nomeadamente no Banco Rothschild em Portugal, fez uma pós-graduação em Jardins e Paisagens na Universidade Nova de Lisboa. E até 14 de Dezembro, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, estão em exposição os trabalhos dos 33 artistas finalistas da terceira edição do Sovereign Portuguese Art Prize, um prémio anual focado em artistas que trabalham em Portugal ou na diáspora portuguesa.
SOBRE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - No segundo aniversário do Chat GPT surge o derradeiro livro criado por Henry Kissinger, já prestes a fazer cem anos, quando se lançou à obra, dedicada às questões colocadas pela Inteligência Artificial com a ajuda de Craig Mundie (antigo director de investigação e estratégia da Microsoft) e de Eric Shmidt (antigo director executivo da Google). “Inteligência Artificial, Esperança e o Espírito Humano- Génesis” é o título da obra que procura esclarecer como aqui chegámos e que trajectórias podem existir para o futuro. O livro mostra o optimismo de Kissinger, uma das marcas do seu pensamento e acção, e é o desenvolvimento de um ensaio que publicou em Junho de 2018 na revista “The Atlantic”, intitulado “How The Enlightenment Ends”, bem antes do lançamento do Chat GPT pela OpenAI no final de 2022. O livro começa por nos recordar a importância da descoberta na criatividade humana, como utilizamos o cérebro e finalmente a importância da compreensão da realidade. O livro aborda as repercussões da IA na política, na segurança, na prosperidade e na ciência e, finalmente, propõe estratégias para o futuro. Os autores defendem a necessidade de regulamentação, de desenvolvimento ético da IA e da importância da cooperação internacional que permita desenvolver os benefícios da Inteligência Artificial e simultaneamente mitigar os seus riscos - ou seja um alerta para que políticos e cientistas encarem o desenvolvimento da IA de forma responsável. Edição D. Quixote.
UMA HOMENAGEM MUSICAL - No passado dia 21 de Março Camané subiu ao palco do CCB para um concerto de homenagem a José Mário Branco, que produziu o seu primeiro disco e que com ele trabalhou durante duas décadas. Da gravação dessa noite fez-se um disco, agora publicado. Tem 18 fados e duas evocações da voz de José Mário Branco, gravações de recomendações que fazia em estúdio a Camané, quando falava da maneira como as palavras aparecem nas músicas. Este disco de homenagem surge em boa altura para recordar como, para além do cantor de intervenção, José Mário Branco foi um compositor de excepção e um dos mais lúcidos e criativos produtores da música portuguesa. Camané diz que José Mário Branco “tinha uma ideia do fado como eu tenho”. Neste disco há 18 temas, e sete são composições com poema de Manuela de Freitas e música de José Mário Branco. Destes, destaco “Ela Tinha Uma Amiga”, “Fado Penélope”, “Guerra das Rosas" e “Fado da Tristeza”. Mas é também impossível ignorar esta versão de Camané para “Queixa das Almas Jovens Censuradas”, um poema de Natália Correia musicado por José Mário Branco para Mudam-se Os Tempos, Mudam-se as Vontades”, o seu álbum de estreia, ou a versão de “Inquietação” do seu histórico duplo álbum “Ser Solidário”. Pela mão de José Mário Branco, Camané descobriu como se podia cantar Fernando Pessoa, Alexandre O’Neil ou David Mourão-Ferreira. A voz de Camané e a forma de cantar são prova do seu enorme talento. Este disco mostra como ele aprendeu e cresceu ao lado de José Mário Branco. CD Warner Music também disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - Setúbal tem uma actividade cultural pujante desde a Casa da Cultura, que acolhe espectáculos e exposições e conferências, até à Casa da Baía, que acolhe o ciclo “Ler Sebastião da Gama”, ou ainda o Fórum Municipal Luísa Todi, ou as divulgações de novos livros na Biblioteca Municipal, para além de noutros equipamentos como a Casa das Imagens Lauro António, onde poderá ver em exposição cartazes de filmes portugueses criados por Judite Cília ou a Casa Bocage. Mas por estes dias as maiores atenções vão para a reabertura do Museu de Setúbal, reinstalado no Convento de Jesus desde o passado dia 30 de Novembro, após uma renovação completa. Ali podem ser vistos os 14 painéis do retábulo da Capela-Mor da Igreja do Convento de Jesus, uma das mais representativas obras da pintura portuguesa do século XVI. Para saber tudo o que se passa em Setúbal pode consultar o guia de eventos do município
DIXIT - “Fazer demagogia com a incerteza e a insegurança dos cidadãos é gesto política e moralmente reprovável” - António Barreto
BACK TO BASICS - “Nunca devemos confundir movimento com acção” - Ernest Hemingway
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
Na última semana de Novembro a TVI foi o único canal generalista a registar um aumento significativo de audiência média e o resultado obtido deveu muito a “Secret Story”, o programa que continua a ser a locomotiva da estação. Atrás de “Secret Story” ficaram, por esta ordem, “Isto É Gozar Com Quem Trabalha” e “Jornal da Noite” de domingo, ambos da SIC, a novela “Cacau” da TVI e a transmissão do jogo de futebol feminino entre Portugal e a Chéquia na fase de qualificação do Campeonato Europeu, na RTP1. A estreia da novela da TVI, “A Fazenda”, passada entre Portugal e Angola, ficou no nono lugar da semana com quase 900 mil espectadores. No cabo a CMTV continua a liderar muito destacada, com 6,4% de share, que compara com 2,1% da CNN, 1,9% da SIC Notícias e 1% da RTP3 e do NOW. Se olharmos para o balanço do ano, a TVI esteve à frente em 9 dos 11 meses já decorridos e a SIC em dois (Janeiro e Junho). No cabo, a CMTV lidera há 32 meses consecutivos e ocupa o primeiro lugar há 450 dias sem qualquer interrupção.O share médio obtido pela CMTV ao longo deste ano é superior à soma do share médio obtido pela CNN, SIC Notícias e RTP3. Olhando para os 50 programas mais vistos do ano, até agora apenas três, as novelas “Cacau” e “A Promessa” e o reality show “Big Brother”, não são transmissões de jogos de futebol e eventos com eles relacionados. E nesta lista dos 50 mais de 2024 o canal vencedor é a RTP1, com 28 entradas, precisamente graças ao domínio do serviço público nas transmissões de jogos de futebol.
(texto originalmente publicado na revista Boa Onda, do Correio da manhã, no dia 6 de Novembro)
Quando em Outubro do ano passado Elísio Sumavielle decidiu sair a meio do mandato como Presidente do CCB, sendo substituído por Francisca Carneiro Fernandes, não me lembro de ter ouvido ninguém a requerer transparência sobre o sucedido, que levou Sumavielle a afastar-se . Agora, desde um artigo da revista “Sábado” de 3 de Outubro deste ano, já se sabe que a sua saída foi motivada pela recusa em aceitar a sugestão do então Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, sobre a entrada de Aida Tavares no CCB. Logo após a saída de Sumavielle, que fez um exemplar trabalho de gestão e de abertura a novos públicos do CCB, a primeira medida de Francisca Carneiro Fernandes, foi admitir Aida Tavares, criando um novo cargo expressamente para ela, atendendo assim aos desejos do Ministro e de António Costa, de que Tavares é uma convicta apoiante. O novo cargo tem um nome pomposo: directora artística para as artes performativas e pensamento. Na sequência da admissão de Aida Tavares foram afastadas a directora de artes performativas, Paula Fonseca, e Margarida Serrão, coordenadora de produção e direcção de cena. Ninguém pediu explicações sobre a substituição destas duas experientes profissionais, nomeadamente nenhum dos agora indignados pelo afastamento de Francisca Carneiro Fernandes, uma especialista na gestão de lobbies da área, e cuja orientação geral é um produto típico do pensamento Woke. Sobre esta senhora tive logo uma péssima impressão na sua primeira intervenção pública no CCB, aquando da inauguração, em Março, da exposição de Patti Smith e Soundwalk Collective, um projecto que tinha sido acarinhado, viabilizado e concretizado por Elísio Sumavielle. A Sra. Francisca falou nessa inauguração como se não tivesse existido no CCB ninguém antes dela, sem referir uma única vez que estava a inaugurar uma herança deixada pelo seu antecessor, no que foi aliás secundada pelo seu colega de administração, Delfim Sardo. São coisas assim que definem o carácter - ou falta dele - de uma pessoa. Mas sobre isto, claro, ninguém se pronuncia. A transparência é uma coisa que só dá jeito de vez em quando, não é?
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