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O TRAMPOLIM -  Hoje vou dedicar-me a citações. Começo por um excerto de “Portugal Contemporâneo”, de Joaquim Pedro de Oliveira Martins, um texto de 1881, no qual cita um escrito do jornalista José de Sousa Bandeira na publicação periódica da mesma época, “O Artilheiro” : “O Cláudio chamou ladrão ao Seabra. Olha que lhe fez grande injúria! Não é semelhante nome tão estimado? Não andam os ladrões nas palmas das mãos? Não são muito votados para empregos e eleições? Não há tanta gente de gravata lavada que os protege?” . E comenta Oliveira Martins: ”A alusão é clara ao banditismo que imperava à solta, municiado e protegido pelos partidos. Cada chefe tinha o seu cliente no fôro, comprado a dinheiro”. E reforçava:  “Para um homem ser ministro de Estado basta que um batalhão, de mãos dadas com um periódico, o queiram”. Um pouco antes, em 1879, Antero do Quental proferia nas célebres “Conferências do Casino”, um texto estrutural da cultura portuguesa, ”Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”, e aí sublinhava:  “A uma geração de filósofos, de sábios e de artistas criadores, sucede a tribo vulgar dos eruditos sem crítica, dos académicos, dos imitadores. Saímos de uma sociedade de homens vivos, movendo-se ao ar livre: entramos num recinto acanhado e quase sepulcral, com uma atmosfera turva pelo pó dos livros velhos, e habitado por espectros de doutores.” E rematava: “Ser rufião é um ofício geralmente admitido, e que se pratica com aproveitamento na própria corte. ” Não será certamente por acaso que muitas das cenas a que temos assistido na política portuguesa se enquadrem tão bem nestes relatos com quase século e meio. Ao longo dos tempos, nestes 50 anos depois de 1974, deixámos de ter estadistas, governantes com visão, inovadores, e criámos uma geração politiqueira que só deseja ser serventuária de organizações internacionais. Portugal, para esses, é apenas um trampolim. Basta olhar para onde têm ido.

 

SEMANADA - Cerca de 40 por cento das escolas de Portugal continental têm menos de 15 alunos e 26% menos de dez; no ensino profissional em cerca 79% das ofertas de cursos  as turmas ficam aquém do número mínimo de alunos exigido por lei; 66 crianças e jovens são vítimas de violência todas as semanas; os crimes e a violência voltaram a aumentar nas escolas portuguesas, sobretudo na área da Grande Lisboa onde as ocorrências registadas pela PSP aumentaram 7,4% com destaque para as ofensas corporais e as injúrias e ameaças; pelo menos 4235 pessoas foram vítimas de abuso de cartão bancário em 2024, de acordo com dados da PSP e da Polícia Judiciária; nos últimos cinco anos, a GNR registou 5884 crimes de clonagem de cartões;  em 2023 cerca de 70.000 portugueses emigraram para trabalhar em outros países e os principais destinos são a Suíça, a Espanha, a França, a Alemanha, Países Baixos e Reino Unido que em conjunto somam mais de 50 mil; Portugal é o país da OCDE onde é mais difícil comprar casa; os preços das casas em Portugal aumentaram 135% em dez anos enquanto os rendimentos subiram 33%; nos primeiros 46 dias do ano morreram 48 pessoas nas estradas portuguesas  e de acordo com dados da PSP e da GNR, 24 das vítimas mortais eram condutores ou ocupantes de veículos de duas rodas – motociclos, bicicletas e trotinetas.

 

O ARCO DA VELHA - Há 40 consultórios de saúde oral, novos e instalados em centros de saúde com verbas do PRR, que  estão fechados, alguns  há cerca de um ano, por dificuldades na contratação de médicos dentistas. Um estudo recente indica que cerca de 300 mil portugueses admitem não ter dinheiro para ir ao dentista.

 

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NO MAAT CENTRAL  -   Duas novas exposições no espaço Central do MAAT. O destaque vai para “Transe”, de Rui Moreira. A exposição, com curadoria de João Pinharanda,  reúne cerca de 80 desenhos e pinturas sobre papel, de médio e muito grande formato, e uma escultura de grande dimensão que será apresentada na Praça do Carvão. Com uma carreira com mais de 20 anos, Rui Moreira é um dos mais significativos artistas portugueses entre os que foram  revelados na primeira década deste século e, também, um dos que tem curriculum internacional mais consolidado. Pouco conhecido em Portugal, esta exposição é a oportunidade de conhecer a obra de Rui Moreira. Com cores intensas as pinturas sobre papel variam entre o abstrato e o figurativo (na imagem). Esta exposição permanecerá no MAAT  Central até 2 de Junho e é fruto de um protocolo celebrado entre o MAAT e o Centro Cultural Graça Morais, e  parte da exposição será apresentada em Bragança, a partir de 5 de julho de 2025. No âmbito da exposição, será publicado um catálogo com textos de João Pinharanda, Filipa Correia de Sousa e Rui Chafes (que farão uma conversa com o artista no dia 22 de maio). Ainda no MAAT, espaço Cinzeiro, no rés do chão do edifício Central, é apresentada a exposição “Gestos” de Ana Léon, uma artista que se revelou em Portugal no contexto dos anos 80 do séc. XX. Léon estabeleceu-se nessa mesma década em Paris, onde ainda hoje vive. A artista trabalha em paralelo o desenho e o filme, usando tecnologia analógica (película e uma máquina de filmar Super 8), para realizar filmes de animação em stop motion. Nesta exposição, apresentada em seis salas sucessivas, León trabalha com um número significativo de figuras masculinas, na circunstância bonecos Action Man, que a artista encena e movimenta, em gestos repetitivos.

 

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ROTEIRO - Até 23 de Março ainda pode ver em Serralves a extraordinária exposição “Ricochetes”, do belga Francis Alÿs. Ao longo das últimas duas décadas Alÿs  viajou para mais de dezena e meia de países para filmar jogos infantis. Daí resultou uma série de filmes e pinturas a que deu o nome de “Ricochetes”, o nome de um dos jogos mostrados, originário de Marrocos. Tudo está montado numa instalação com múltiplos ecrãs que mostram jogos de crianças no Afeganistão, na Dinamarca, Cuba, México, Bélgica, Iraque ou Reino Unido, entre outros. A exposição “Ricochetes” foi organizada pelo Barbican, Londres, com a Fundação de Serralves Museu de Arte Contemporânea, Porto, e tem curadoria de Florence Ostende. No dia em que a visitei, um sábado de manhã, era delicioso assistir ao olhar encantado de crianças que ali foram levadas pelos pais, descobrindo jogos do outro lado do mundo. Entretanto, em Lisboa, no pavilhão 26 do Hospital Júlio de Matos 15 fotógrafos olham para o Serviço Nacional de Saúde na exposição “Cura”, até 5 de Abril. Podem ver trabalhos de António Júlio Duarte, Augusto Brázio, Duarte Amaral Netto, Luisa Ferreira, José Maçãs de Carvalho e Valter Vinagre, entre outros. Na Appleton , Rua Acácio Paiva 27, em Alvalade, podem ver até 20 de Março, exposições de trabalhos de António Poppe, Ana Manso e André Romão. Na Galeria Pedro Cera, Rua do Patrocínio 67-E, Isabel Cordovil apresenta até 29 de Março uma série de novas obras de escultura a que deu o título “The Enigma of Arrival”.  E na Galeria Francisco Fino (Rua Capitão Leitão 76) Diogo Pinto apresenta até 8 de Março a sua exposição “Diplomacia”.

 

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A ORIENTE - Neste tempo confuso leio que Warren Buffett, o “Oráculo de Omaha”, que dirige a Berkshire Hathaway e que tem reforçado o investimento em empresas japonesas, elogia a gestão das empresas daquele país. Na actual conjuntura internacional, polarizada em torno dos Estados Unidos, Rússia e China, o Japão parece um paraíso de estabilidade, inovação e competência.  Mas afinal o que é este país cujo povo conseguiu manter a unidade desde a sua pré-história até à renovação Meiji, nos finais do século XIX ? Na realidade, a História do Japão é simples e calma. No livro “História do Japão”, o seu autor, Michel Vié, afirma que isso se deve à consciência histórica do seu povo, cujo eixo reside na unidade e na continuidade. O livro percorre a História do Japão, um país onde não encontramos invasões, migrações maciças ou fronteiras indefinidas e apesar das numerosas insurreições, não ocorreu no território nenhum acto revolucionário radical: o livro traça um retrato dos principais períodos da história do país, desde a pré-história, à criação da Cidade Imperial (nos séculos VII-XII), os primórdios da nação (nos séculos XII-XVI), a criação do estado moderno (nos séculos XVI-XIX), o período Meiji e  início da abertura e da modernização. “História do Japão” está na nova colecção “A Minha Estante” da editora Guerra & Paz e é uma boa leitura para todos os que sentem atracção e curiosidade pela cultura japonesa.

 

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VOZ E HARPA  - Esta semana recomendo “In The Blue Light”, um disco gravado ao vivo de Kelela, cantora, compositora, multi instrumentista, que se situa algures entre o R&B e a música de dança de base electrónica. Gravado no célebre clube Blue Note, em Nova Iorque, o disco tem 12 canções que, ao longo de uma hora, traçam o percurso de toda a carreira de Kelela desde 2013 até “Raven”, o seu mais recente álbum de originais. A produção é minimalista, o disco é essencialmente acústico, a voz de Kelela, intensa e por vezes quase malabarista, cruza-se  com o som invulgar de uma harpa , num pano de fundo proporcionado por efeitos sonoros em teclados. Disponível nas plataformas de streaming.

 

ALMANAQUE - O Centro de Arte Rainha Sofia, de Madrid, que é o museu espanhol de arte do século XX e contemporânea, expandiu a sua colecção com 470 novas obras e  mais de metade são de mulheres e uma proporção significativa são de artistas de diversas origens étnicas pouco representadas na colecção. Cerca de 100 obras foram compradas pelo museu ao longo do último ano, quase 140 foram compradas pelo Ministério da Cultura de Espanha, 160 foram doadas por artistas, galerias e colecionadores e a Fundação do Museu Rainha Sofia assegurou as restantes, a maior parte das quais fruto de doações. O valor total das novas obras ultrapassa os oito milhões de euros. As novas obras  integrarão a futura exposição permanente da colecção do museu , que está a ser preparada e que abrirá em Março de 2026, com enfoque na criação artística desde a década de 70 do século passado até agora. A colecção do Rainha Sofia conta com cerca de 25 000 obras.

 

DIXIT  - “Luís Montenegro viveu em Marte nos últimos anos e não acompanhou as águas lodosas em que a política portuguesa mergulhou. Só isso explica a displicência com que ele trata de certas questões”  - João Pereira Coutinho 

 

BACK TO BASICS -  “Hoje em dia uma mentira consegue dar a volta ao mundo antes que a verdade consiga calçar as botas” - John Kerry.

 

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publicado às 12:00

A MÃO INVISÍVEL

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por falcao, em 27.02.25

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Há uns anos fez furor na imprensa uma coluna intitulada “A Mão Invisível”, que deu palco a uma série de reputados especialistas em economia e finanças. Miguel Beleza, Jorge Braga de Macedo, António Borges, os irmãos Pinto Barbosa, Diogo Lucena, entre outros então jovens economistas formados nos Estados Unidos, defenderam todas as semanas que o país precisava de flexibilizar, desregular, desregulamentar, liberalizar, privatizar, tudo em prol da ideia de que o papel do Estado devia ser apenas o de um regulador. A coluna era publicada no jornal “O Semanário”, fundado por Marcelo Rebelo de Sousa em 1983, e que contava, para além de Marcelo, com nomes como Vítor Cunha Rego, Daniel Proença de Carvalho, João Amaral e José Miguel Júdice. O “Semanário” foi revolucionário no seu tempo, debatia ideias fora da corrente dominante, tinha uma secção cultural fora dos lobbies habituais de então, o “ Mais Semanário”, e, cereja no topo do bolo, publicava em suplemento uma revista, a “Olá”, que foi beber inspiração à espanhola “Hola”. A “Olá” mostrava uma espécie de jet set nacional, ainda incipiente na altura, e bastante mais elegante que a espécie de “jet oito” que agora transborda. O país era outro - e sobretudo os nomes dessa geração tinham um peso, um saber e um conhecimento que não tem comparação com a maioria dos líderes políticos contemporâneos. “A Mão Invisível” é uma expressão nascida no livro “ A Riqueza das Nações”, publicado por Adam Smith em 1776, onde o autor aborda a natureza das trocas comerciais e financeiras e propõe diretrizes para estimular o desenvolvimento das nações por meio do enriquecimento individual dos cidadãos. Smith é considerado o pai da economia moderna e do liberalismo económico. Da mesma forma que a classe política piorou, também o que hoje muitas vezes se apresenta como liberalismo é apenas uma réplica mal feita da ideia original. Uma versão Tik Tok em cenário “fake”.




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publicado às 10:05

A CÁPSULA REGULADA

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por falcao, em 22.02.25

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Uma das coisas mais irritantes surgidas nos últimos tempos é esta obrigação de que as tampas venham agarradas às garrafas. O simples acto de matar a sede tornou-se num exercício de ginástica facial, tentando evitar que a tampa bata no nariz ou na bochecha ou que faça cócegas no queixo com as suas arestas irregulares. Desde Junho do ano passado está em vigor uma directiva europeia que obriga a este casamento forçado entre a tampa e a garrafa. Acabou-se o prazer de sentir o gargalo inteiro na boca a deixar passar sem barreiras o líquido. A tampinha ali permanece, sempre numa estranha posição, a maior parte das vezes incómoda. E se a ideia for fechar a garrafa no final, então é preciso um exercício de contorcionismo para o qual terá que se chamar um malabarista, enquanto que em muitas marcas de bebida é necessário um torniquete para abrir as novas rolhas. O argumento dos burocratas de Bruxelas é que esta união garrafa-tampa visa reduzir a poluição produzida pelos plásticos. Alguém deve ter tomado substâncias alucinogénicas enquanto imaginou esta obrigação, que é uma das piores ideias de que me lembro, uma prova exemplar do ponto a que pode chegar o disparate regulatório de uma Europa cada vez mais distante da realidade e das pessoas. No meio de uma guerra, de uma crise mundial que anda mais depressa do que se poderia imaginar, eis que em Bruxelas houve quem passasse os dias a imaginar esta coisa. Seria cómico se não fosse uma prova dramática daquilo que é a União Europeia - uma estrutura centralizada, burocratizada, com prioridades trocadas que gasta mais tempo a levantar problemas do que a encontrar soluções.



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publicado às 09:00

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O PAÍS ONDE NADA MUDA - O tempo em que um Presidente dos Estados Unidos chegava à Alemanha e proclamava “somos todos berlinenses” acabou. A Europa entrou em estado comatoso depois de os Estados Unidos terem regressado a meados da década de 40 do século passado, estado comatoso em grande parte provocado pela metafórica bebedeira colectiva dos dirigentes europeus ao longo das últimas décadas. Agora estão aflitos - depois de casa roubada, trancas à porta! Por cá, além das ordinarices do Chega, do cadastro de vários eleitos nas suas listas e dos casos e casinhos dos partidos do chamado arco da governação, todos os olhos estão nas eleições autárquicas e no ciclo eleitoral seguinte. Começa assim uma nova série de eleições: na Madeira, nas autarquias, na Presidência da República e - sabe-se lá - talvez para o Parlamento também. Infelizmente tudo isto vai acontecer sem se ter feito uma revisão séria da Lei Eleitoral, criada há 50 anos quando o mundo era bem diferente, do ponto de vista da comunicação, civilizacional e tecnológico. As preocupações actuais dos manhosos angariadores de votos  estão centradas em garantir a separação das freguesias, que tinham sido unidas há uns anos, decisão que Marcelo vetou com bons argumentos. Mas, no caso das autarquias, há uma outra questão que parece tabu e da qual ninguém quer  falar: quem tem mais votos num concelho é teoricamente quem o governa, mas tem que o fazer com uma equipa governativa (os vereadores), que mistura vencedores com vencidos que até podem ser mais numerosos que os vereadores do partido vencedor e assim bloquear a execução do programa político escolhido pelos eleitores. Não vejo qualquer razão para que não seja o partido vencedor a escolher todo o governo executivo do seu concelho - as várias opiniões, sensibilidades e a diversidade partidária estão asseguradas na Assembleia Municipal cujo voto é necessário para os principais instrumentos de governação da autarquia - a começar pelo orçamento. Há assim duas instâncias, o plenário de vereadores e a assembleia municipal e ao fim destes 50 anos já se percebeu que não é este duplo escrutínio que impede asneiras, corruptelas, negociatas. Uma das maiores provas de respeito dos políticos pela democracia seria reverem a Lei Eleitoral nesta questão e nas outras que impedem que o sentido de voto dos eleitores seja respeitado. A maioria dos políticos no activo abominam mudanças. Gostam de poder controlar os votos e usá-los em proveito próprio. O sentido do voto dos eleitores não lhes interessa para nada. Depois não se queixem. 


SEMANADA - Os cargos políticos de nomeação directa dispararam e este tipo de emprego público registou, desde o final de 2015, uma subida de 48% para  25,9 mil no primeiro trimestre do ano passado. E teve depois o seu pico, de 26,4 mil cargos, no terceiro trimestre de 2024 e a proliferação nas Câmaras Municipais segue a mesma tendência; um estudo recente do ISEG indica que a expansão da rede de autoestradas entre 1981 e 2021 provocou a relocalização de cerca de 750 mil pessoas, mais de 7% da população portuguesa; esta relocalização fez-se sentir de forma mais acentuada nos concelhos de Lisboa (220 mil pessoas) e Porto (120 mil) que perderam população para áreas vizinhas e em 130 municípios do interior do país que não são servidos por auto-estradas; Portugal caíu nove lugares no Índice de Percepção da Corrupção em 2024 e obteve o seu pior resultado de sempre e agora partilha o 43.º lugar com o Botswana e o Ruanda;  em 2024 o Governo gastou 1,7 milhões de euros no apoio judiciário a vítimas de violência doméstica; 70% do PRR na área da recuperação do património cultural continua por executar; está a aumentar o número de pessoas que constrói casas ilegais; em 2024 passaram pelos aeroportos portugueses 70,4 milhões de passageiros; ao longo de 2024 a PSP apreendeu 111.183 artigos de pirotecnia e 18.787 quilogramas de explosivos e no ano passado os artigos pirotécnicos e explosivos provocaram 17 feridos ligeiros e seis graves;  um magistrado do ministério público que enviou mensagens insistentes a querer um encontro a sós com uma procuradora foi absolvido da acusação de assédio e o tribunal da relação concluiu que as mensagens eram apenas um comportamento de uma “aborrecida persistência “.


O ARCO DA VELHA - Cleide Senhorães, que foi concorrente da segunda edição do reality show Secret Story e que agora é procuradora do Ministério Público colocada em Almada, libertou, sem primeiro interrogatório judicial, quatro criminosos perigosos, alguns dos quais tinham em sua posse droga e armas de guerra.

 

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QUATRO QUADROS INTENSOS -  Quatro pinturas de grandes dimensões constituem a exposição “Rio Cor de Sangue”, de Miguel Telles da Gama, que está até 19 de Abril na Galeria do Parque, em Vila Nova da Barquinha.  João Pinharanda, curador desta exposição, sublinha que  no conjunto de obras apresentadas “o dinamismo das personagens convocadas e a intensidade cromática que as rodeia atinge uma rara intensidade”, relatando que “há apenas representação de corpos humanos e animais em silhueta, corpos que se recortam sobre fundos neutros e monocromáticos”. Miguel Telles da Gama , conta o curador, começou por desenhar os corpos sobre os fundos brancos dos papéis, aplicando depois sobre a totalidade da superfície uma placa de cor uniforme, no caso vermelho, “que realça os contrastes das linhas de contorno e faz vibrar a superfície como se se tratasse de um ecrã luminoso.” E conclui João Pinharanda: “este rio abstracto assim pintado, e a coreografia que nele se dança, podem bem ser metáfora dos desastres que correm no mundo”. A exposição conta com o apoio da Fundação EDP, no âmbito da parceria com o Município de Vila Nova da Barquinha para a programação artística do Parque de Escultura Contemporânea Almourol, no qual está incluída a Galeria do Parque. Já agora, vale a pena uma visita ao Parque que tem um conjunto de esculturas feitas para o local por nomes como Rui Chafes, Alberto Carneiro, Ângela Ferreira, Cristina Ataíde, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, e Xana, entre outros. E se forem para aquelas paragens vale a pena um pequeno desvio a Abrantes, onde pode ser vista até 29 de Junho uma exposição de obras em papel da colecção Fernando Figueiredo Ribeiro, “Da Dobra Que Chama e Traz”, no  Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes.

 

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ROTEIRO - Até 12 de Março pode ser vista a notável exposição de fotografias de José Pedro Cortes na Galeria Brotéria (Rua de São Pedro de Alcântara 3). Sob o título “Aqui e Em Todo o Lado” José Pedro Cortes mostra imagens onde o corpo humano se cruza com a natureza, cria situações, reproduz momentos e evoca um lado lúdico ao fazer da pele do corpo o cenário onde vivem pequenas figuras de plástico (na imagem). Ao todo são 24 imagens, de diferentes dimensões, cuidadosamente apresentadas, umas fabricadas, outras captadas, para preservar um momento aparentemente banal. Na Galeria Diferença pode ser vista até 12 de Março “Devir Paisagem”,  uma exposição colectiva de 12 artistas como Cristina Ataíde, Luzia Simons, Renata Padovan, Marcelo Moscheta, Liana Nigri e Renata Cruz, entre outros. No Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva (Praça das Amoreiras 56) pode ser vista a segunda parte da exposição “331 Amoreiras em Metamorfose”, que prossegue a divulgação de obras do importante acervo do museu, de três dezenas de artistas, como, entre outros,  Cy Twombly, Alberto Giacometti, Amadeo de Souza-Cardoso, Giorgio de Chirico, Wassily Kandinsky, além de obras de Arpad Szenes e de Vieira da Silva - destaque para as 25 gravuras a buril que a artista fez para “L’Inclémence Lointaine” , em 1961, de René Char.

 

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DÉCADAS PRODIGIOSAS - Helena Vasconcelos é uma escritora, crítica literária e divulgadora de literatura. Nos anos 70 e 80 viveu com o artista plástico Julião Sarmento, que morreu em 2021,  e publicou agora uma memória desses tempos: “O Que Está Para Vir- Uma vida com Julião Sarmento”. Mais do que o relato da ligação entre ambos, o livro é uma viagem por uma época particularmente fértil e interessante em Portugal, a segunda metade dos anos 70 e a década de 80. Ao longo deste “O Que Está Para Vir” Helena Vasconcelos descreve a explosão da criatividade desses anos, percorre acontecimentos da época e descreve o que se descobria, o que se vivia, quem se cruzava com quem e como se vivia. O livro relata com uma minúcia diarística esses tempos e Helena Vasconcelos recorda a relação de grande amizade e cumplicidade entre Fernando Calhau e Julião Sarmento, o trabalho que ambos fizeram na Secretaria de Estado da Cultura, assim como a importância de Ernesto de Sousa e a ligação a outros nomes, como Michael Biberstein. Descreve também a evolução das artes visuais  em Portugal nessa época, marcada, no início dos anos 80, pela exposição “E Depois do Modernismo”, comissariada por Luís Serpa. Foi um tempo em que, noutras áreas, se juntaram vontades, de Ricardo Pais a José Ribeiro da Fonte, passando por Cândida Viera, Safira Serpa, Rosi Burguete ou Nuno Carinhas. E havia as ligações internacionais, os artistas estrangeiros que começaram a vir, como Barceló e a notoriedade de Sarmento no exterior. Este livro mostra um outro lado da vida dessas décadas e dá uma visão, por vezes áspera, do que se passava. Helena Vasconcelos termina o seu relato com uma citação da fala de Próspero, no final de “A Tempestade”, de Shakespeare: “Somos da matéria de que são feitos os sonhos”. Edição Quetzal.

 

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OUVIR - "MYT" é o disco de estreia do trio alemão que integra o teclista Moses Yoofee, o baterista Noah Fürbringer e o baixista Roman Klobe-Barangă. Baseado em Berlim, o  trio tem-se feito notar pelos seus espectáculos ao vivo. Com formação na área de jazz, os músicos do MYT (Moses Yoofee Trio), não temem a fusão com outros géneros musicais, que praticam ao lono das 13 faixa do seu disco de estreia. A secção rítimica tem grande parte da reponsabilidade no som do trio, mas Yoofee traça um caminho seguro desenhando melodias no piano e nos teclados electrónicos. Disponível nas plataformas de streaming.


DIXIT  - “Não falta absolutamente nada a António Vitorino, excepto isto: uma distância higiénica do poder económico e dos grupos de influência que dominam os bastidores dos grandes negócios com o Estado.” - João Miguel Tavares, no Público.

 

BACK TO BASICS -  “Pensar é perigoso. Não pensar é mais perigoso ainda” - Anna Arendt


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A IMPORTÂNCIA DO ACASO

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por falcao, em 15.02.25

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Nas escadas de um prédio dei com este ramo de flores secas abandonado nos degraus. Creio que existem duas possibilidades: ou quem o recebeu não o quis, e deixou-o assim caído; ou quem o comprou para oferecer foi confrontado com alguma situação que o levou a largá-lo. Um ramo de flores abandonado, mesmo sendo secas as flores, é uma visão que evoca rupturas, é o testemunho de uma vontade de partilhar afectos que foi interrompida. Admito outra hipótese, de que gosto mais: foi  deixado como uma secreta declaração de amor a alguém que ali vive. Ponho-me logo a imaginar uma paixão escondida, um amor clandestino alimentado a pequenos gestos. Ocorrem-me estas ideias assim, sabendo bem que serão publicadas neste Dia dos Namorados. O ramo apareceu-me no caminho, não o procurei. Por isso mesmo não resisto a citar este pequeno excerto de “Sossega Coração: Cartas de Amor”, um livro recentemente editado e que relata a correspondência apaixonada entre o poeta Friedrich Hölderlin e a sua amante Susette Gontard em finais do século XVIII: “Não me sai da cabeça a palavra “acaso” que usei e que não me agrada , soa a pequena e frieza, no entanto não consigo encontrar outra. Podemos também dizer que o secreto encantamento das coisas constitui para nós algo a que chamamos acaso e que, no entanto, é necessário.  Por causa da nossa miopia, de nada, a esse respeito podemos ter um conhecimento antecipado e admiramo-nos quando as coisas acontecem de modo diferente do  que tínhamos pensado.“ Este ramo de flores terá sido um desses acasos?



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A CASTA - Algures na semana passada um professor e investigador da área de ciência política da Universidade do Minho, José Palmeira, veio dizer que nas eleições presidenciais a experiência política é uma vantagem incontornável. Vários outras mentes ilustres têm afinado pelo mesmo diapasão em análises sobre as próximas presidenciais e, em particular, sobre a dimensão que a eventual candidatura do Almirante Gouveia e Melo pode vir a ter, insinuando que ele não terá experiência política. Mas acontece que em Portugal a experiência política se confunde cada vez mais com falcatruas internas dos partidos, negociatas cruzadas,  arranjos e combinações, tudo coisas de que o eleitorado parece estar farto. O apoio que a possibilidade de candidatura de alguém que não tem a tal experiência política está a suscitar é o sinal daquilo que os principais partidos do regime há muito não querem ver: estão a funcionar em circuito interno, distanciam-se dos eleitores e têm adubado a abstenção. Muita gente está farta dos resultados da tal  experiência política aos mais diversos níveis do poder. Aqueles que têm experiência política, como a que alguns comentadores desejam, são, com raras excepções, arrogantes, abusadores, videirinhos. Esta casta que existe em todos os partidos, acha-se intocável. Só isso pode explicar que pratiquem os desmandos que se têm conhecido como se nada de mal estivessem a fazer para, no fim,  aparecerem como virgens ofendidas a quem até o Primeiro Ministro agradece os serviços prestados, como aconteceu no recente caso do secretário de estado que acautelava o futuro fazendo empresas enquanto estava no Governo. A verdade é esta: sob o manto diáfano da experiência política têm crescido comportamentos impróprios, censuráveis, ilegais. Como escreveu Rui Ramos no Observador, “se um historiador, no futuro, quiser compreender o regime, vai ser muito difícil convencê-lo a não usar como fontes principais os casos Marquês, Influencer e Tutti Frutti. É a trilogia do regime.“

 

SEMANADA - No ano passado 1545 farmácias notificaram faltas de medicamentos por dificuldades em satisfazer uma prescrição médica num período superior a 12 horas; um estudo recente indica que 59% dos professores já se sentiram vítimas de bullying e 10% dos professores dizem já ter sofrido agressões físicas, principalmente de alunos, mas também de pais; em 2023 registaram-se 176 casamentos com menores, o número mais alto da última década; houve 254 casos de mutilação genital feminina detectados em Portugal em 2024 e o numéro tem vindo a aumentar desde há cinco anos; mais de 70% dos estudantes universitários inquiridos num estudo recente afirmam planear emigrar; o número de armas apreendidas cresceu 30% no ano passado e a apreensão de armas brancas subiu 89%; nas empresas de restauração e similares os imigrantes são já mais de 30% do total de trabalhadores; em 2024 o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem fez 20 condenações ao Estado Português, o maior número desde 2016,  pela falta de condições nas cadeias portuguesas e pela forma excessiva como os tribunais portugueses punem a liberdade de expressão; as taxas e taxinhas, multas e outras penalidades, renderam aos cofres públicos cerca de 4,5 mil milhões de euros no ano passado, mais 2,3% do que no ano anterior.

 

O ARCO DA VELHA -”Foi uma coisa que aconteceu” - disse o dirigente do Chega, Nuno Pardal, quando confrontado com a acusação de prostituição de menores.

 

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O MUNDO - O “Financial Times” e a revista “The Economist” consideraram como melhor livro do ano, em 2024, a obra “How the World Made the West-a 4000 Year History”, escrito por Josephine Quinn, professora de História Antiga na Universidade de Oxford. O livro foi agora traduzido e editado em Portugal, sob o título “O Mundo Criou o Ocidente - uma História com quatro mil anos”. Na introdução a autora conta que a ideia de escrever este livro lhe veio ao constatar que muitos dos alunos que se candidatam à licenciatura que dirige justificam a sua preferência por quererem “estudar o mundo antigo porque Grécia e Roma são as raízes da civilização ocidental”. Josephine Quinn considera que a verdadeira história por trás daquilo a que actualmente se chama Ocidente é muito maior e mais interessante que apenas a evocação da Grécia e Rioma antigas. E, sublinha: “em termos mais gerais pretendo defender a ideia de que são as ligações, e não as civilizações, que impulsionam a mudança histórica”. E neste tempo em que tanto se discutem as diferenças culturais, Quinn afirma: “ Não são os povos que fazem a história, mas as pessoas e as ligações que criam umas com as outras (…) As culturas locais distintas vêm e vão, mas são criadas pela interação - e uma vez estabelecido o contacto, nenhuma terra é uma ilha”. Uma das citações que a autora escolheu para iniciar o livro é de Salman Rushdie e vale a pena retê-la: “É através da mistura, da mescla, de um pouco disto e daquilo, que a novidade entra no mundo”.  Edição “Temas e Debates”.

 

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MAIS BRILHANTE QUE O SOL  - Quando se sobe ao primeiro piso do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional entra-se num mundo inesperado e fantástico criado por Adriana Molder para uma nova exposição intitulada “Antares” e que ali ficará até 4 de Maio. Na exposição, que tem curadoria de Nuno Crespo, cruzam-se visualizações de memórias e exercícios de imaginação que permitem construir as peças de um universo paralelo em desenho, pinturas, quase esculturas e num filme. Existem cinco núcleos que dialogam entre si, desde a evocação de desenhos feitos entre 1998 e 2000, uma outra série de desenhos monocromáticos  “Sombras”, e “Aleph” e “Antares”, ambos feitos em tela moldada com pastel de óleo, que mostram corpos e rostos bidimensionais, criando diferentes formas, que estão suspensas e marcam um percurso dentro da exposição, e, finalmente, “Serpentina”, um vídeo onde as pinturas sobre papel ganham movimento e onde a própria autora participa. A exposição mostra a variedade das referências e processos de investigação, criação e execução usados por Adriana Molder. Já agora o nome da exposição, “Antares”, evoca  uma das maiores estrelas da constelação de Escorpião, setecentas vezes maior que o sol. Por último cabe referir que, como é hábito, as Galerias Municipais de Lisboa, que gerem e programam o espaço, fizeram uma folha de sala especialmente para os visitantes mais novos que lhes dá uma introdução a este mundo de Adriana Molder.

 

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ROTEIRO - “Happily Ever After”, de Hugo Brazão, é a terceira exposição individual do artista na Galeria Balcony (Rua Coronel Bento Roma 12A). Optimismo, apatia e obsessão pelo progresso linear são os temas explorados pelo artista, que utiliza a pintura, a escultura e o têxtil explorando diversas possibilidades técnicas. Brazão nasceu na Madeira, estudou em Lisboa e Londres e tem exposto em diversos países. Esta exposição, que pode ser vista na Balcony até 15 de março, apresenta mais de duas dezenas de obras, desde uma série de esculturas de parede de pequena escala em resina acrílica, gesso e tinta à base de pigmento  (na imagem) a trabalhos em guache sobre papel e também uma instalação em têxtil. Na galeria This Is Not A White Cube (Rua da Emenda 72) o artista angolano Nelo Teixeira apresenta a sua primeira exposição individual em Portugal, “Vox Populi”, que reúne 20 obras que retratam  a condição humana e social em Angola, “enraizada no diálogo entre precariedade, resistência, resiliência e memória.” Na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) pode-se ver até 15 de Março “On Top Of The Knee”, uma exposição que junta obras em diversos suportes de  Lúcia Prancha e pinturas de Rudi Brito. 

 

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EMOÇÃO - No novo disco de Gisela João não é só a voz que emociona no tratamento que foi dado a canções que conhecemos nas vozes de Zeca Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Paulo de Carvalho. Os arranjos musicais e a execução instrumental acompanham de forma perfeita, e invulgarmente bem conseguida, a forma que Gisela João encontrou para cantar versões arrebatadoras de seis canções de Zeca Afonso, uma de José Mário Branco, outra de Sérgio Godinho, uma da dupla José Nisa-José Calvário e até um clássico de Fernando Lopes-Graça. “Inquieta”, assim se chama o disco, foi produzido por Gisela João e Luís “Twins” Pereira, com arranjos, invulgares e muito conseguidos, do espanhol Carlos Rodenas Martinez. Peguemos por exemplo em “E Depois do Adeus”, a canção-senha da madrugada do 25 de Abril de 1974, composta por José Nisa e José Calvário e tornada popular por Paulo de Carvalho. Esta nova versão subverte a canção, na realidade transforma-a numa nova. O mesmo acontece com “Inquietação ”, de José Mário Branco,  ”A Morte Saiu à Rua", de Zeca Afonso, “Que Força é Essa, Amiga” de Sérgio Godinho e até com uma das canções heróicas de Fernando Lopes Graça, ”Acordai”. Ouvir este disco não é um regresso ao passado, é perceber como a criatividade também se manifesta na reinterpretação, na capacidade de mostrar canções antigas como se fossem feitas agora. Não basta ter boa voz para se cantar. É preciso sentir o que se canta e transmitir emoção. É essa capacidade, e não só a voz, que faz de Gisela João uma grande cantora. “Inquieta” está disponível nas plataformas de streaming.

 

 ALMANAQUE - Em Amsterdão, num das mais interessantes museus de fotografia que conheço, o FOAM, pode ser vista até 20 de Abril a exposição “An Unfinished World”, um das maiores retrospectivas de Saul Leiter, um fotógrafo norte-americano que é considerado um dos mais importantes fotógrafos dos anos 50 e um pioneiro da utilização criativa da fotografia a cores. A exposição tem 200 fotografias  a preto e branco e a cores e também algumas pinturas abstractas que Leiter fez ao longo da sua vida. Em Paris o Louvre abriu pela primeira vez as suas portas a uma exposição sobre moda, “Louvre Couture – Art and Fashion: Statement Pieces” e que até Julho mostra peças de Alexander McQueen, Christian Dior, Versace, Chanel, Dolce&Gabbana, Azzedine Alaïa e Yves Saint-Laurent entre muitos outros.

 

DIXIT - ”Opacidade na gestão e na distribuição do dinheiro, falta de integridade no exercício de cargos públicos, violação sistemática da Lei. O dinheiro passou a mandar na política ante a cumplicidade geral” - Pedro Santana Lopes

 

BACK TO BASICS - “O que é mais fantástico na democracia é que dá aos eleitores a possibilidade de fazerem alguma coisa estúpida” - Art Spander

 

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O PARAÍSO DOS ESPREITADORES

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por falcao, em 08.02.25

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Por vezes ainda se vê, nas portas de prédios mais antigos, um postigo como este. Aqui não há vidros nem lentes que ampliam as imagens, tudo está na forma mais simples: uma pequena abertura rectangular, coberta do lado de dentro por uma portinhola que, quando se abre, permite ver o exterior através de umas ranhuras grossas, arremedo de barreira para proteger quem olha. Os postigos são o paraíso dos voyeurs, nem sei como é que Alfred Hitchcock não os usou em nenhum filme, eles são as janelas indiscretas sobre a vida dos outros. Imagino, nos prédios antigos, ainda sem elevador, alguns inquilinos mais curiosos espreitando quem subia e descia pela escada, percebendo as rotinas, os encontros casuais, os amores e os arrufos, em suma, coscuvilhando. Nada passava despercebido aos espreitadores, desde as entregas da mercearia aos cobradores de contas diversas, passando pelas visitas ou os namoros de vão de escada. Com estes postigos não havia segredos que resistissem: a  escadaria era o cenário aberto de um filme onde onde tudo se podia descobrir. Hoje não precisamos de postigos destes para fazer descobertas - que o digam os políticos amigos de malas alheias, os nomeados  que criam expedientes para tornear obrigações de exclusividade, os governantes que criam empresas mesmo estando em funções, autarcas que traficam influências e se envolvem em corrupção ou os chefes de gabinete com cofres cheios de imprevistos. Como nas últimas semanas se tem visto, não faltam postigos por onde espreitar e fazer descobertas extraordinárias.


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CONSUMOS MEDIÁTICOS

por falcao, em 07.02.25

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MUDANÇAS - Quando as campanhas eleitorais das autárquicas e das presidenciais ganharem velocidade vão ter pela frente um horizonte mediático bem diferente do que existia no anterior ciclo eleitoral, com o consumo dos diversos meios cada vez mais fragmentado. A primeira grande diferença tem a ver com a diminuição da importância dos canais generalistas de televisão. Segundo a Marktest 52% dos portugueses usam plataformas de streaming de vídeo, uma subida de mais de 10% em relação a 2021. Isto tem consequências:  os três principais blocos noticiosos, das 20h00, na RTP1, SIC e TVI, alcançam em conjunto, em média, um pouco menos de três milhões de espectadores, ou seja cerca de 35% do total de espectadores regulares de televisão. Por outro lado existem novos canais no cabo - o News Now (que pertence à Medialivre que edita o Jornal de Negócios), em escassos seis meses já conseguiu ultrapassar a RTP3 e no  horário nobre da noite tem conseguido por vezes ultrapassar a SIC Notícias. Outro canal do mesmo grupo, a CMTV, é o canal mais visto do cabo e na zona da Grande Lisboa chega a ter nalguns dias maior share de audiência que a própria RTP1. Outros dados a ter em conta:  a utilização da internet por pessoas com mais de 64 anos duplicou desde 2019; 82% dos portugueses acedem à Internet através do telemóvel; e 63% dos jovens entre os 15 e os 24 anos passam mais de quatro horas por dia na internet e vêem cada vez menos estações generalistas. Segundo a Marktest Instagram e WhatsApp são as redes mais utilizadas pelos portugueses, tendo já ultrapassado o Facebook no último trimestre do ano passado. Por outro lado, os podcasts, que eram quase residuais, estão a ganhar crescente influência e já são ouvidos por 23% dos portugueses. A rádio é agora consumida de forma crescente em streaming e nos últimos dez anos duplicou a sua escuta através do telemóvel. Para terminar, e segundo o Bareme Imprensa da Marktest, apenas cerca de 32% dos portugueses lêem ou folheiam regularmente jornais e revistas em papel. Os homens, os indivíduos entre 35 e 64 anos, assim como os indivíduos das classes mais elevadas, são quem tem mais afinidade com este meio. Outro estudo, o Press Insight, indica que os temas de política e de sociedade são os mais relevantes para os leitores, assim como os espaços de opinião e notícias desportivas. Em contrapartida, quase seis milhões e meio de portugueses costumam ler notícias online, ou seja 88.1% dos utilizadores de Internet. Com toda esta dispersão é certo que vai voltar a ganhar importância o contacto pessoal com os eleitores e a capacidade de cada candidato mostrar, cara a cara, que conhece bem o chão que pisa.

 

SEMANADA - Nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto 10% das casas estão vazias; em 2024 o Estado pagou 2,8 milhões em rendas de imóveis alugados para o programa Arrendar para Subarrendar, mas, apesar de ter havido 2732 candidatos ao referido programa, apenas 62 desses imóveis estão ocupados; um em cada cinco portugueses reforma-se antecipadamente; em 2024 verificaram-se cinco despedimentos de grávidas por dia, um significativo aumento face a anos anteriores; as mortes infantis no Barreiro, Montijo e Moita, concelhos do distrito de Setúbal, são o dobro da média nacional; no domingo passado estiveram encerradas seis urgências, a maioria em Lisboa e no Vale do Tejo; o Estado faturou 185 milhões de euros por dia em impostos no ano passado, mais 4,5 milhões de euros/dia em relação a 2023; a subida das receitas fiscais deu-se devido a ser arrecadado mais dinheiro em IRC, IVA, ISP e Imposto do Selo; em 2024 os impostos custaram 6400 euros a cada português; pelo menos cinco mulheres foram já mortas este ano em contexto de violência doméstica; no ano passado a GNR recebeu 40 queixas de violência doméstica por dia; em Janeiro registaram-se quase 11 mil acidentes rodoviários que provocaram 34 mortos e 134 feridos graves; na Grande Lisboa 30% dos alunos não conclui o ensino secundário e 17% dos alunos do Norte também não chegam ao fim desse ciclo; Portugal é um dos países da Europa onde menos se dorme, uma média de 6 horas e 51 minutos por noite durante a semana.

 

O ARCO DA VELHA - Em 2024, foram emitidas cerca de  meio milhão de autodeclarações de baixa de curta duração e quase cem mil utentes pediram duas vezes a autodeclaração de doença, esgotando a utilização máxima anual prevista na lei.

 

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VITRAIS -   “The Matter Of The Glazed Fence” é o título da quarta exposição da artista alemã Sabine Hornig na Galeria Cristina Guerra. Uma grande escultura metálica, curiosamente intitulada “Wahlkabine” (Cabine de Voto) domina a entrada da galeria. À sua volta estão 15 outras obras, placas de vidro suspensas com fotografias e composições em tinta cerâmica, imagens de Berlim, Tbilisi e Nova Iorque e, no piso inferior da galeria  naturezas mortas de flores, evocando a tradição da pintura clássica. As obras em vidro evocam vitrais, às imagens de cidades são sobrepostas frases e declarações sobre temas como a migração, a desigualdade urbana e a guerra. A utilização da transparência do vidro e da possibilidade de dupla leitura que as peças suspensas proporcionam múltiplas interpretações. No texto que acompanha a exposição a artista afirma que estas suas obras “criticam a manipulação de verdades e fronteiras, traçando paralelos com a recorrente aceitação da arbitrariedade política eda autoridade descontrolada”, ao mesmo tempo que “reflecte sobre a fragilidade da liberdade e a vulnerabilidade da participação social”. A exposição fica patente  até 15 de Março, Na Cristina Guerra Contemporary Art, Rua de Santo António à Estrela 33.

 

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ROTEIRO - Braga é este ano a Capital Nacional da Cultura e um dos espaços de arte da cidade, a Zet Gallery (Rua do Raio 175), apresenta até 15 de Março uma exposição de Alexandre Batista,“Assuredly I am a flame”, um conjunto de obras inéditas sobre vários suportes, que vão do desenho e da pintura, ao vídeo, passando pela fotografia e pela escultura-instalação, entre outros (na imagem). Em Lisboa, na Galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2C), “Corpo a Corpo” apresenta obras de Maria Beatriz e Bárbara Fonte. Maria Beatriz é um nome importante da arte portuguesa, que morreu em 2020, e Bárbara Fonte é uma das novas artistas que integrou uma residência organizada pela Ratton. Esta é uma oportunidade para rever alguns dos trabalhos de Maria Beatriz, que nos últimos anos de vida viveu em Amsterdão. Ainda em Lisboa, na Galeria Foco (Rua Antero de Quental 55)  Luísa Salvador apresenta até 12 de Março novos trabalhos de pintura sob o título “Retomar o Passo”. E na Galeria de exposições temporárias do Museu de S. Roque está patente até 13 de Abril a exposição cinco relíquias, cinco fotógrafos” com um olhar  sobre as relíquias feito pelos fotógrafos Pedro Ferreira, Lucília Monteiro, Beatriz Vilhena, Sebastiano Raimondo e Paulo Serafim, sob a coordenação de Paulo Catrica.

 

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MEMÓRIA - No meio das transformações marcantes ocorridas nos anos 80 existe por vezes a tendência para nos esquecermos de um dos mais terríveis momentos dessa década -  falo do surgimento da epidemia de um vírus até então desconhecido, o vírus  da sida. O francês Anthony Passeron escreveu o seu livro de estreia, “As Crianças Adormecidas” a partir da morte de um familiar, um tio. Passeron percorreu a história silenciada da sua família, um silêncio que caíu em tantas outras famílias, ao mesmo tempo que recorda o que acontecia em paralelo no campo científico, quando investigadores tentavam, dos dois lados do Atlântico, encontrar tratamento para a epidemia, desde que o vírus foi identificado em 1983. O livro faz uma narrativa desses tempos, cruzando memórias íntimas com a História e detalhando o que se passava nos centros de investigação que procuravam uma cura. É também o retrato de uma época que oscilou entre o caos e a criatividade, marcada por um luto muitas vezes asfixiado pelo estigma. O livro, escrito numa perspectiva de história familiar e de uma visão francesa do que se passava,  ganhou o prémio Première Plume de melhor obra de estreia em França. Antoine Passeron é professor de  Literatura e de História e Geografia e “As Crianças Adormecidas” é o seu primeiro livro, de 2022. Está editado pelos Livros do Brasil.

 

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JAZZ - O quarteto da pianista de jazz alemã  Julia Hülsmann , tem um novo álbum, “Under The Surface” com dez novos temas, metade originais compostos pela pianista e a outra metade fruto da colaboração dos outros músicos que participam na gravação. O quarteto que a acompanha  integra Uli Kempendorff   no sax tenor,  Marc Muellbauer   no baixo, Heinrich Köbberling  na bateria e Hildegunn Øiseth  no trompete. A sonoridade é muito marcada pelo trabalho do saxofonista e do trompetista, que é uma estreia. O trabalho de ambos articula-se de forma perfeita em temas onde o desafio entre a  melodia e o ritmo estão sempre presentes. Julia Hülsmann nasceu em Bona em 1968, estudou piano clássico desde os 11 anos, e aos 23 anos foi para Berlim estudar piano de jazz e no ano seguinte integrou a German Jazz Youth Orchestra. Em 1997 formou seu próprio grupo e o seu primeiro disco data de 2000. Em 2015 gravou o muito elogiado “A Clear Midnight: Kurt Weill and America” , com o cantor  Theo Bleckmann. Este novo “Under The Surface”, editado pela ECM, para quem grava desde 2008, está disponível nas plataformas de streaming.

 

ALMANAQUE - Hoje chamo a atenção para a série de exposições de artistas portugueses fora de portas. Começo por Rui Chafes que apresenta em Paris, na Galeria Bernard Bouche, até 22 de Março, uma exposição conjunta com o também escultor alemão Bernd Lohaus. Os dois artistas não se conheciam e encontraram-se pela primeira vez para esta exposição. Em Madrid, até 19 de Março, Ana Vidigal apresenta obras recentes na Galeria Espacio Minimo, sob o título “Cuéntame del Viento”. Também em Madrid, até 22 de Março, Pedro Calapez apresenta na Galeria Fernando Pradilla a exposição “Desplazamientos”,  com uma série dos seus trabalhos em acrílico sobre alumínio. E no Luxemburgo, no Centro Cultural Português, Inez Teixeira apresenta até 25 de Abril uma série de aguarelas sob o título “Mensageiro Cósmico”. 

 

DIXIT  - “Nunca houve tantos partidos no meu espaço partidário e eu nunca estive tão órfão“ - Adolfo Mesquita Nunes

 

BACK TO BASICS -  “A Inglaterra e os Estados Unidos são dois países separados pelo mesmo idioma” - George Bernard Shaw

 

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O GRANDE BAZAR

pensamentos ociosos 5

por falcao, em 01.02.25

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Se me querem ver bem disposto basta largarem-me numa feira de velharias, a mirar as bancas. Uma das delícias de andar a ver o que por ali há é poder encontrar lado a lado coisas tão diversas como as que estão nesta fotografia: uma gravura de parte dos painéis de S.Vicente, uma fotografia de Marylin Monroe e uma imponente figura que evoca memórias de histórias de capa e espada. Nestas feiras coexistem toda a espécie de objectos, dos decorativos aos utilitários, de velhos cadeados a ferramentas em desuso, passando por placas publicitárias esmaltadas e até esses objectos quase perseguidos e cada vez mais raros que são os cinzeiros publicitários. Uma feira de velharias é um repositório de memórias abandonadas por alguém e de despojos vindos de uma casa que foi desfeita. Hoje em dia ao lado de múltiplas variantes de estampas de “O Menino da Lágrima” há LPs de todos os géneros, gravadores de cassettes e gira-discos que não funcionam, louças para todos os gostos, brinquedos variados de miúdos e crescidos e maquinaria diversa. Atrás das bancas está quem vive de despachar o que foi a vida dos outros. Por este andar um dia destes começam a surgir por ali, em ornamentais medalhões, as credenciais oficiais de políticos deixados cair pelos partidos respectivos, desde os colecionadores de malas até governantes que criam umas empresasinhas para arredondarem o mês e precaverem o futuro. O país, ao poucos , transformou-se num bazar.

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