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UM CAIXOTE DE LIXO CHEIO DE VOTOS

pensamentos ociosos 13

por falcao, em 29.03.25

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O Bucha e o Estica ficaram assim, petrificados,  quando souberam que em Portugal vai haver novas eleições para escolher Governo, depois de apenas um ano de existência do actual e sem se perceber bem como isto aconteceu. Mais perplexos ficaram ainda quando perceberam que, assim,  nos próximos nove meses, o país vai ter três eleições - para o Parlamento, as autarquias e a Presidência da República. Três eleições - três - sem que, apesar de muitos apelos e estudos, tenha ocorrido nenhuma alteração da lei eleitoral, a qual, pelo modelo escolhido há meio século, provocou o desperdício de milhões de votos ao longo dos anos e deitou para o lixo mais de 670 mil votos só nas últimas legislativas - ou seja centenas de milhar de eleitores cuja opção não se reflectiu na composição do Parlamento. No fundo, com este sistema, há eleitores de segunda cujo voto não serve para nada, fora dos grandes centros, e outros, urbanos, que são os que contam.. Com o sistema actual os distritos de Lisboa e Porto elegem mais de um terço do total dos deputados e em outros círculos eleitorais, mais pequenos, do interior, que apenas elegem dois três ou quatro deputados, há muitos votos que não se traduzem em mandatos. A principal razão pela qual a Lei Eleitoral não é revista - apesar de existirem várias propostas que garantiriam maior representatividade dos votos expressos - é porque assim os maiores partidos garantem a continuidade do seu monopólio de poder, perpetuando a ineficácia de que têm dado mostras nos últimos anos. No fundo há também votos desperdiçados em quem os tem eleito, confiando que poderiam trabalhar para fazer reformas que tornassem o país melhor. Puro engano, como temos visto.

 

(Publicado originalmente às sextas feiras em SAPO.PT)

 



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publicado às 09:00

O POPULISMO CULTURAL EM ANO ELEITORAL

por falcao, em 28.03.25

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A POLÍTICA E A CULTURA - Com três eleições à porta, no espaço de um ano, seria interessante que os vários protagonistas dissessem aquilo que pensam sobre política cultural, um assunto de que fogem como o diabo da cruz ou, sobre o qual, na melhor das hipóteses, se limitam a dizer generalidades, banalidades e a tecer promessas sobre a percentagem do Orçamento de Estado atribuído à cultura, promessas que as mais das vezes não são cumpridas. E, no entanto, neste tempo em que tanto se debate a importância da tecnologia, a Inteligência Artificial e a liberdade de expressão e de criação, um debate sério sobre qual o papel do Estado  na cultura é mais importante que nunca. Por exemplo, há políticos, mais vocacionados para a tecnologia, que elaboram discursos sobre startups e unicórnios, mas depois desprezam a criatividade artística e  menorizam o valor do património,  da preservação e dinamização de arquivos que permitam estudar precisamente o processo criativo. Alguns desses políticos refugiam-se num discurso que elaboram em rejeição do elitismo e vão cair no populismo, io que é bem diferente da cultura popular. Estes políticos, sobretudo a nível autárquico, e infelizmente Lisboa é disso agora um exemplo, preferem promover festas e festinhas e o patrocínio de plagiadores, em detrimento do desenvolvimento de outras actividades, sob o argumento de que assim são aclamados pelo público - porque, é claro, trazem votos. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, os gostos discutem-se, sobretudo quando se reflectem nas políticas desenvolvidas e são pagos por dinheiros públicos. Utilizar fundos públicos para programações requentadas de muito discutível qualidade é abandonar o desenvolvimento de novos talentos e da criatividade - e é o inverso do que devia acontecer por parte de uma entidade pública. É importante que exista a compreensão e uma maior consciência por parte dos nossos políticos, autarcas e governos, de que a cultura é necessária para o desenvolvimento da sociedade e a defesa da democracia, e de que o sector público é, também no contexto de política cultural, fundamental para manter a igualdade de oportunidades. 



SEMANADA - A subida no preço da habitação ultrapassou os 9% em 2024; no ano passado foram transaccionadas 156.325 habitações por um valor total de 33,8 mil milhões de euros, o maior valor anual de sempre;  a emigração americana para Portugal em 2024 aumentou mais de 50%; existem 10.125 casas municipais ocupadas de forma ilegal em Lisboa; o número de crianças em risco e sem casa digna duplicou em 2023; a um ano do fim do PRR só foram entregues 7,7% das casas prometidas para 2026; em 2024 as receitas do turismo em Portugal atingiram 27,6 mil milhões de euros, o valor mais alto de sempre; há mais 37 mil utentes do SNS sem médico de família do que há um ano atrás; os pedidos de patentes portuguesas subiram quase 40% entre 2020 e 2024 e no ano passado  registou-se um recorde de 347 pedidos; a tecnologia informática e tecnologia médica são os principais setores, representando um quarto dos pedidos de patentes de Portugal no mercado europeu; mais de 40 mil pessoas trabalham nas 380 empresas portuguesas do sector das indústrias de defesa, que facturam em conjunto cerca de cinco mil milhões de euros; segundo o Relatório Anual de Segurança Interna existem casos identificados pelos serviços secretos e Polícia Judiciária de crianças e jovens portugueses a serem aliciados em grupos online internacionais por neonazis e também por radicais islâmicos; o mesmo relatório indica que estão referenciados grupos de WhatsApp criados por crianças entre os 10 e 13 anos em que se partilham conteúdos multimédia de pornografia e de violência extrema.



O ARCO DA VELHA -  Um  grupo de jovens armados entrou na escola secundária  Padre António Vieira, em Alvalade,com o objectivo de se vingar de um grupo de alunos daquele estabelecimento de ensino.

 

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SOBRE A LIBERDADE  - Aqui está um livro para os tempos em que vivemos: “Da Liberdade”, de   Timothy Snyder, um historiador norte.americano, professor na Universidade de Yale, especializado na História da Europa Central e Oriental. Snyder escreveu este livro tendo como pano de fundo os acontecimentos na Ucrânia, que visitou em 2023, já depois da invasão Russa. O autor sublinha que  a liberdade não se dá, não é uma herança: “No momento em que acreditamos que a liberdade é dada, ela esfuma-se”, acentua e relembra que liberdade e segurança são coisas que funcionam em conjunto. Snyder escreve que existem cinco pilares da liberdade: soberania, a capacidade adquirida de fazer escolhas; imprevisibilidade, o poder de alterar a nossa forma de agir com base no que conhecemos; mobilidade, a capacidade de circular no espaço e no tempo; factualidade, a possibilidade de ter consciência da realidade para a poder mudar; e solidariedade, o reconhecimento do que a liberdade é para todos. O autor recorda como a liberdade é o grande compromisso ocidental, cujo significado foi perdido de vista: “Demasiados de nós olham para a liberdade como a ausência de poder do Estado: pensamos que somos livres se pudermos fazer e dizer o que quisermos, e se nos protegermos da ação do Governo” - afirma. E conclui: “No entanto, a verdadeira liberdade não é tanto a "liberdade de", mas a "liberdade para" — liberdade para prosperar, liberdade para correr riscos com vista a futuros escolhidos por nós se trabalharmos em conjunto por eles”. Edição Bertrand.

 

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UMA EXPOSIÇÃO INVULGAR - Francisco Vidal é um dos mais interessantes artistas da sua geração. Nasceu em Lisboa em 1978, é português, angolano e cabo-verdiano e vive entre Luanda e Lisboa, começou a expor com regularidade a partir de 2005. Estudou Artes Plásticas e Artes Visuais nas Caldas da Rainha e em Lisboa e tem um Master em Fine Arts da School of Visual Arts da Columbia University, em Nova Iorque.  Até 8 de Junho apresenta a exposição “Escola Utópica de Lisboa”,  no Pavilhão Branco, localizado nos jardins do Palácio Pimenta no Campo Grande, um espaço que integra as Galerias Municipais de Lisboa. A exposição apresenta trabalhos feitos com jovens das comunidades locais em Luanda, Angola, e em Amares, no norte de Portugal, e dá seguimento  ao seu projecto Escola Utópica, que pretende  levar a escola para dentro do museu. Mas apresenta também numerosos trabalhos de Francisco Vidal, em diversos suportes, com diversas técnicas, criando um conjunto visualmente invulgar e com impacto. Segundo Francisco Vidal, tendo como uma das inspirações o livro de Pepetela “A Geração da Utopia”, concebeu uma mostra juntando instalações e performance, procurando criar “um espaço de partilha, de pensamento e de poesia, onde as pessoas têm tempo para si próprias” . A exposição sublinha o poder do desenho e da pintura, assim como “a importância do encontro e da troca, da empatia e da humanidade” e tem curadoria de Miguel von Hafe Pérez.

  

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ROTEIRO - Durante o tempo em que o MUDE esteve encerrado para obras, o Museu organizou uma série de exposições fora de portas um pouco por todo o país. Uma delas foi “Portugal Pop - A moda em português, 1970-2020”, que foi apresentada em 2022 na Casa do Design, em Matosinhos. Agora a exposição (na imagem, fotografia de Luísa Ferreira) é apresentada no Museu do Design, em Lisboa (Rua Augusta 24), até 12 de Outubro. Como sublinha o MUDE, a exposição apresenta a cultura de moda em Portugal, as mudanças ocorridas nos últimos 50 anos e a forma como as tradições culturais e as memórias coletivas influenciaram os vários autores representados, permitindo uma perspetiva sobre a moda nacional desde as vésperas da Revolução de 1974 até à atualidade. Bárbara Coutinho, directora do MUDE e curadora da exposição, partiu das técnicas oficinais e os saberes, e, conciliando-as “com ideias como território, portugalidade, pertença e memória, procura mostrar como elas se reflectem no trabalho dos mais de 30 designers de moda representados e a forma como são projetados para a contemporaneidade.” A exposição  mostra também o papel de relevo que muitos artistas portugueses têm dado à construção das suas imagens, sendo mostradas peças de oito figuras da nossa cultura: Amália Rodrigues, António Variações, Heróis do Mar, Teresa Salgueiro/Madredeus, Mísia, Sónia Tavares/The Gift, Joana Vasconcelos e Conan Osiris. Deixo para o fim uma exposição invulgar, numa livraria. Graças a um coleccionador que quis ficar anónimo a Livraria Bucholz (Rua Duque de Palmela 4) apresenta, por ocasião da morte do escritor Herberto Hélder, uma exposição com toda a sua obra e numerosas primeiras edições, há muito esgotadas.

 

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ALMANAQUE - Incluída no Festival Literário de Macau está uma exposição de fotografia de  Alfredo Cunha, “Novas Independências“ que explora o processo de independência dos países africanos de expressão portuguesa para assinalar os 50 anos desse momento histórico. Organizada em torno de cinco temas, a exposição inclui 52 fotografias e tem curadoria de  João Miguel Barros. Também no Festival Literário de Macau está patente uma outra exposição de um importante fotógrafo chinês da Mongólia,  Wang Zhengping.  No próximo ano João Miguel Barros, um advogado, fotógrafo e curador que vive em Macau, conta apresentar ali um projecto especial no qual as fotografias de Alfredo Cunha estarão em  diálogo com um grande fotógrafo chinês, estando prevista a edição de um livro. Segundo João Miguel Barros, “a apresentação enriquece o festival através da fotografia, promovendo um diálogo sobre identidade cultural e memória histórica, sem se limitar às palavras.” e “proporciona uma plataforma única para a reflexão sobre a literatura e a cultura, e cada vez mais, a poesia que se encontra nos contrastes da fotografia.”

 

IDEIAS FORTES - “A política que nos servem, hoje, é grandemente populista. E os líderes a concurso são esta espécie de caixas de ressonância, plagiando os sentimentos das massas para melhor as conquistarem. Dizer a verdade ao povo – sobre os desafios militares que a Europa enfrenta, o estado do Estado, as reformas que tardam e que não se fazem sem sacrifício – seria um desvio intolerável a esta cartilha. Quem quer liderar quando é mais fácil seguir os humores da turba?” - João Pereira Coutinho


DIXIT  - “A transparência não pode ser servida a conta gotas” - João Miguel Tavares


BACK TO BASICS -  “É preciso que tudo mude para que tudo se mantenha” - Giuseppe Tomasi di  Lampedusa em Il Gattopardo.

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



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ÉTICA? QUAL ÉTICA?

pensamentos ociosos 12

por falcao, em 22.03.25

 

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Às vezes os graffiti que se encontram nas paredes parecem feitos de encomenda para a situação política. Reparem neste - alguém se prepara para saltar por uma janela. Pode estar a entrar furtivamente nalguma casa; pode estar a preparar-se para fugir; ou pode querer saltar para o abismo. Cada um de nós pode escolher a opção que entender mais adequada. Olhando bem para isto creio que as recentes acções do primeiro-ministro actual cabem em duas possibilidades: estar a fugir ou  atirar-se para o abismo, com o país atrás. Já a primeira opção, entrar furtivamente numa casa, pode vir a retratar alguém que no PSD esteja à espera de ver o que sucede a Montenegro para ir tomar sorrateiramente o seu lugar. Algum escritor de romances policiais há-de um dia escrever uma história baseada na  investigação das razões que levaram Luís Montenegro a querer ser derrotado numa moção de confiança. Já a fuga é coisa frequente - Guterres, Durão Barroso e António Costa preferiram saltar para fora das responsabilidades que tinham ganho em eleições e, curiosamente, todos encontraram boas sinecuras para onde foram exercer os seus talentos, longe das agruras da pátria. Há algo de paradoxal nisto: durante anos labutam para ganhar eleições, percorrem o caminho das cruzes das reuniões partidárias de menu único de carne assada, distribuem beijos em feiras. E depois, uma vez almejada a desejada vitória, começam logo a querer mudar de ares. Mais do que as dificuldades do governo, parece-me que lhes custa terem uma acção política fora da chicana das campanhas eleitorais. Estão viciados no confronto e claudicam no encontro de soluções, na negociação, no fundo no exercício do entendimento democrático. Isto mostra-nos como, mesmo mais de 50 anos passados sobre a instauração da democracia, ainda se vive essa mesma democracia de forma imperfeita. Para estes políticos o governo é um carrossel que mandam parar quando se sentem indispostos. Cada um vai à sua vida, mas o que fica aos solavancos é Portugal. Não me lembro de ouvir nenhum dos dois grandes  partidos, PS e PSD, apresentar desculpas pelos actos cometidos pelos dirigentes que desertaram dos seus deveres. O título do “Financial Times” sobre a actual crise diz tudo: “Portugal faces fresh elections after government collapses over ethics scandal”. Talvez seja a altura de alguém explicar ao líder do PSD que há mesmo um problema de ética no seu comportamento.



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UMA OPERETA DE BAIXA CATEGORIA

por falcao, em 21.03.25

 

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A CRISE - Uma pessoa está uma semana fora do país e quando regressa descobre que o Governo caíu, que o Primeiro Ministro tropeçou nas próprias pernas e verifica que até parece que voltámos aos tempos em que os governos explodiam de seis em seis meses. Ponho-me a ver o que aconteceu e, graças a Ricardo Araújo Pereira e ao seu inestimável almanaque da vida portuguesa que é a primeira parte do “Isto É Gozar Com Quem Trabalha”, nome cada vez mais adequado ao estado da nação, arrepio-me a assistir ao  teatro de horrores em que o Parlamento se travestiu. De repente parece que as principais bancadas da Assembleia da República foram acometidas por uma virose e que não há terapia que melhore o seu estado. Tudo isto se assemelha a uma opereta de baixa categoria, com actores de quinta ordem, acompanhados por bandos de servis lacaios que se limitam a dizer que sim. Olhando ainda mais de perto para o que a bancada do governo fez no dia do debate da moção de confiança fico com a sensação que estiveram a jogar poker sem saber fazer bluff, jogadores inábeis numa mesa de casino clandestino. Continuo a achar que grande parte deste clima de instabilidade, de sucessivas quedas de governo, vem da Lei Eleitoral que temos. Não garante a representatividade real dos eleitores, afasta os eleitos dos cidadãos, estimula dirigentes habilidosos e mal formados nos partidos. Francisco Mendes da Silva escreveu um belo artigo no Público onde explica: “a sorte de praticamente todos os políticos com mais poder do PSD e do PS está dependente de serem escolhidos para os lugares de protagonismo pelo respectivo líder, mas completamente imune ao sucesso ou fracasso que esse líder venha a ter. O impulso para o enfrentarem, antes de eleições, é nulo.” Cito outro escrito que li por estes dias: “Os aparelhos partidários têm um poder paralelo ao do Estado. É um processo mais recente e resulta do aprisionamento dos partidos pelas jotas, por alguma gente sem outra forma de singrar na vida e por uma tentacular rede de interesses. É o Tutti-Frutti, por exemplo. Nestes aparelhos não há ideologias, há lugares. Nem sequer há política, há empregos. O interesse público é substituído por interesses individuais, que nunca se cansam”Mas, em vez de irem para o reformatório, que é onde muitos mereciam estar, vão para o Parlamento - e às vezes até para o governo.

 

SEMANADA - Nos últimos cinco anos o número  de denúncias de cibercrimes à Procuradoria-Geral da República aumentou mais de sete vezes; em 2023 das 2916 denúncias recedidas 30% diziam respeito a burlas no esquema “olá mãe, olá pai” e a tentativas de  cobrança de falsas dívidas de energia eléctrica; em 2024 os centros de emprego anularam a inscrição a 6232 desempregados subsidiados por não cumprirem obrigações previstas na lei, um número 13,5% superior ao verificado no ano anterior; em 17 freguesias de Lisboa foram detectadas redes de imigração ilegal; os cerca de 370 mil imigrantes brasileiros em Portugal enviaram para o seu país mais de 400 milhões de euros no ano passado; os emigrantes portugueses espalhados pelo mundo enviaram para Portugal no ano passado cerca de 3500 milhões de euros com Suiça, França e Reino Unido, por esta ordem, a serem os países de onde foi enviado mais dinheiro; segundo o Banco de Portugal a incidência do salário mínimo tem vindo a aumentar de 198,5% em 2015 para 31,4% actualmente; mais de 40% dos trabalhadores do alojamento e restauração recebem o salário mínimo, o mesmo acontecendo a 30,2% dos trabalhadores da construção e a 27,3% dos trabalhadores da educação e saúde; as quatro eleições que vão ocorrer em Portugal nos próximos dez meses têm um custo estimado de 137 milhões de euros; há 13 mil pessoas em fuga à Justiça e tribunais são incapazes de localizar milhares de arguidos e condenados.

 

O ARCO DA VELHA - Durante sete meses um grupo de cinco elementos aproveitava a hora das missas na região norte do país para roubar o que estava no interior dos carros estacionados perto das igrejas, incluindo os dos padres que celebravam a missa.

 

View of José Pedro Croft's site-specific work ©

UM NOVO MUSEU PRIVADO  -   Armando Martins é um dos grandes coleccionadores portugueses de arte e presença assídua em várias galerias e feiras de Arte. Começou a colecionar em 1974 e desde então adquiriu mais de 600 obras, que vão do final do século XIX até à actualidade. Agora tem o seu próprio Museu, o MACAM, dirigido por Adelaide Ginga (ver nestas páginas a reportagem de Filipa Lino), onde expõe a sua colecção e apresenta outros artistas. Este novo museu privado combina um hotel, construído no recuperado Palácio Condes da Ribeira Grande, onde durante muitos anos funcionou o Liceu Rainha Dona Amélia, na Junqueira, e que acolhe a exposição permanente da colecção de Armando Martins, e uma nova ala para exposições temporárias. Além disso, no exterior, estão obras encomendadas expressamente para o local como a de José Pedro Croft (na imagem, fotografada por Fernando Guerra), uma escultura de grande dimensão composta por três elementos ovais em aço e vidro colorido, localizada no terraço nascente da fachada do palácio e que pode ser vista da rua. Cristina Ataíde desenvolveu uma memorável escultura em mármore, que evoca uma montanha, colocada na fonte do jardim do antigo palácio, intitulada “Montanha- Água” e que remete para a relação entre os dois pólos que se complementam na natureza. Outras peças criadas para o local são da canadiana Angela Bulloch, que concebeu uma composição vertical de cinco poliedros irregulares que está num dos outros terraços e o artista espanhol Carlos Aires que criou uma instalação na antiga capela evocando um  diálogo entre a espiritualidade e a brutalidade da guerra. A colecção permanente é apresentada com o título ”uma colecção a dois tempos” e inclui nomes como Amadeo de Sousa Cardozo, Paula Rego, Júlio Pomar, Pedro Cabrita Reis, Maria Helena Vieira da Silva, Helena Almeida, Julião Sarmento, Marina Abramović, Olafur Eliasson, ou Thomas Struth, entre outros. No nova ala do edifício estão duas exposições temporárias, “O Antropoceno” sobre o impacto da actividade humana no planeta e a outra é “Guerra: Realidade, Mito e Ficção”, sobre a fragilidade da vida e a situação do mundo nos dias de hoje. Adelaide Ginga e Carolina Quintela dividem entre si a curadoria das exposições apresentadas. De salientar ainda que a nova ala tem a fachada coberta com azulejos tridimensionais da autoria da artista e ceramista portuguesa Maria Ana Vasco Costa, numa homenagem à tradição portuguesa de fabrico de azulejos.

 

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VER A NATUREZA - Uma boa maneira de saudar a primavera que agora dá os primeiros passos é olharmos para a natureza à nossa volta, que nesta altura do ano explode. É fantástico descobrir os ciclos da natureza observando a evolução da vida das árvores, como são as folhas, as flores que nascem nos ramos, o crescer dos frutos, é um espectáculo. Para tornar tudo ainda mais agradável é importante sabermos distinguir as árvores, como se chamam, qual a sua história e que episódios lhes estão associados. É isso que António Bagão Félix, economista e professor universitário, ex- membro de vários governos em diversas pastas faz no livro “Quarenta Árvore em discurso directo”, uma revisão de uma obra do autor que há muito se encontra esgotada e que se chamava “Trinta árvores em discurso directo”. Botânico amador, desenvolveu a sua observação desde plantas herbáceas, a suculentas e cactáceas, mais tarde de arbustos e, por fim, árvores. A cada uma das quarenta árvores o autor dá voz e carisma, imaginando que elas conversam com o leitor sobre as suas origens e geografias, relações com a cultura e o mundo. Na parte final do livro, há um sumário das árvores que, em Portugal, estão classificadas legalmente de interesse público ou mesmo como monumentais, assim como um curto glossário botânico. Para terem uma ideia, as páginas sobre o jacarandá começam assim: ”Cheguei a Portugal há para aí uns cento e cinquenta anos, vim do Brasil, onde passei a minha infância….Quando fiz a longa travessia achei, talvez precipitadamente, que não me iria dar bem com os ares de Lisboa”. A história começa assim e já sabemos que o Jacarandá  se afeiçoou a Lisboa e a cidade a ele. No livro, cada uma das árvores conta a sua história na primeira pessoa. Uma edição da Porto Editora.

 

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UNPLUGGED - Kristin Hersh, a vocalista e guitarrista dos Throwing Muses, é um caso à parte no mundo da música anglo-americana e o novo álbum da banda, o 11º em 40 anos de actividade, é prova disso mesmo. Neste disco, “Moonlight Concessions”, a sonoridade do grupo é muito diferente do habitual, assumidamente acústica. Este é um disco claramente comandado por Kristin Hersh, que além da voz e composição assina a produção. David Narcizo na percussão faz um trabalho mais minimal e discreto, Bernard George assegura um baixo eficaz e elegante e a surpresa é o violoncelo, que assume quase o primeiro plano, tocado por Pete Harvey. O álbum inclui nove canções curtas, tem um total de 29 minutos e as canções são como pequenas histórias que se sucedem umas às outras. A crítica tem assinalado a semelhança entre estas canções e as short stories de Raymond Carver. Mas de facto a voz de Kristin Hersh continua a ser o maior ponto de diferenciação. Disponível nas plataformas de streaming.

 

image-18.pngALMANAQUE - Em Nova Iorque, no Centro da Cidade, na Quinta Avenida, paredes meias com o Central Park, está a Neue Galerie, um discreto museu dedicado à arte e design da Áustria e Alemanha do início do século XX. Fica num edifício magnífico construído em 1914,  no primeiro piso podem ser vistas peças de design e mobiliário austríacas, assim como obras de nomes como Gustav Klimt (na imagem), Egon Schiele e Oskar Kokoschka; um piso acima encontramos um acervo de obras de arte e design alemãs, de nomes como Max Beckmann, Ernst Ludwig Kirchner, Paul Klee ou Marcel Breuer. A colecção permanente, que espelha um período particularmente rico da criação artística da Áustria e Alemanha, num tempo de incertezas políticas e convulsões sociais, é verdadeiramente impressionante, quer nas obras de pintura, no mobiliário ou nos objectos de design. 

 

DIXIT  - “O primeiro-ministro não ajudou ao esclarecimento, antes terá tornado tudo ainda mais opaco, mas questionável e mais problemático” - António Barreto

 

BACK TO BASICS -  “É melhor ser merecedor de honras e não as ter do que tê-las, não sendo merecedor delas” - Mark Twain

 

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ESTA OUTRA CIDADE

pensamentos ociosos 11

por falcao, em 15.03.25

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Cansado e  saturado de Lisboa deixei de ter a minha residência oficial em Lisboa. Foi a cidade onde nasci mas que hoje tenho dificuldade em reconhecer. Os anos Costa e Medina foram o princípio do descalabro e, infelizmente, estes já quase quatro anos de Moedas não melhoraram a situação. A cidade tornou-se desconfortável para os seus habitantes,  tem TVDE’s a mais, o trânsito está cada vez mais caótico, os condutores perderam no ano passado mais 60 horas no trânsito, um número que tem vindo a crescer, os transportes públicos continuam insuficientes. Basta descer a avenida da Liberdade para perceber que em muitas horas a maioria dos veículos são TVDE’s, frequentemente conduzidos à revelia das regras, cada vez mais envolvidos em acidentes, com o número de atropelamentos urbanos a aumentar. As zonas históricas foram recuperadas no edificado, mas descaracterizadas nos hábitos e moradores. A especulação imobiliária atira os preços de habitação para valores que estão entre os mais altos da Europa e até já os nómadas digitais se queixam.  O comércio tradicional, que vivia esmagado pela proliferação urbana de hipermercados, aproxima-se do grau zero, substituído por lojas de lembranças para turistas que vendem todas as mesmas coisas. De repente ou há lojas de luxo ou de pechisbeque made in China. Para muitos portugueses, viver na cidade é já uma miragem. Desde 2017 Lisboa perdeu cerca de 30 mil eleitores que abandonaram a cidade para concelhos periféricos, alterando a sua demografia, que tem menos população jovem e, paradoxalmente, também menos população mais idosa, incapaz de suportar os custos das novas rendas que os senhorios estabelecem. Uma cidade deve ser um território em transformação. Lisboa, na verdade, transformou-se muito. A dúvida é saber se, para os portugueses, tem progredido.

(publicado semanalmente às sextas o SAPO)

 




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UMA TEMPESTADE POLÍTICA UNIPESSOAL

por falcao, em 14.03.25

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HARA-KIRI - Um dos mistérios desta crise é saber o que levou Luís Montenegro a ignorar todos os avisos e todos os sinais sobre a situação pessoal em que se colocou e da qual não encontrou - ou não quis encontrar - uma forma de sair. O que explica a teimosia em recusar o óbvio? Ao longo de mais de uma semana assistimos a um lento hara-kiri no qual Montenegro foi mutilando a sua credibilidade. O que podia ter sido apenas uma questão pessoal,  escalou para uma crise política e para a queda do Governo. Aquilo que levou à situação em que nos encontramos não foram meros erros de comunicação, como Montenegro a certa altura quis fazer crer. Aquilo que levou à quebra de confiança no Primeiro-Ministro foi a evidência da sua falta de carácter. É curioso ler o que Manuel Carvalho escreveu sobre Montenegro no “Público”. Carvalho, um jornalista que viveu grande parte da sua vida profissional no norte, e que acompanhou a actividade de políticos e empresários nortenhos, descreve assim Montenegro: “Pragmático, cínico, realista, lúcido, sonso, cerebral, meste da dissimulação e da emboscada", useiro na “atitude manhosa perante os adversários que herdou da longa tradição de conflitos internos e golpes de bastidor do partido.” As acções de Montenegro nos dias mais recentes cabem dentro deste retrato. Já se sabia, pela forma como fala e intervém, que não gosta de ser contrariado, que acha ter sempre razão e que se considera acima de tudo e de todos. O que levou um homem assim a não perceber o efeito das suas acções? Ao seu lado perfilou-se todo o Governo mas nem todo o PSD. Os partidos não são equipas de futebol a quem se deve fidelidade. Em política a fidelidade e a coerência são aferidas face às ideias e não às pessoas. Quando surgem dúvidas há respostas que devem ser dadas e uma ética a respeitar: não vale tudo, não pode valer tudo. As eleições que aí vêm servem para avaliar quem esteve bem e quem esteve mal, o voto não é cativo. 

 

SEMANADA - Entre 2013 e 2023 o número de casos de doenças sexualmente transmissíveis multiplicou-se por 12 nos jovens entre os 15 e 24 anos; 20,6% das crianças até aos 15 anos vive em famílias sem capacidade para pagar pelo menos uma semana de férias por ano fora de casa; a região de Lisboa e Vale do Tejo só tem um quarto dos médicos de saúde pública que estão previstos; há cerca de 1,8 milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo; segundo a Marktest a utilização de plataformas de streaming de vídeo em Portugal tem crescido de forma consistente nos últimos anos  e 51% dos subscritores destes serviços declara assinar pelo menos duas plataformas de streaming; cerca de 5% da população portuguesa atrasa-se no pagamento de prestações de casa, renda da habitação e nalgumas outras despesas de primeira necessidade; segundo a Marktest em fevereiro  Pedro Nuno Santos, liderou o do top de exposição mediática nas televisões, ao protagonizar 125 notícias de 5 horas e 29 minutos de duração durante o mês, André Ventura foi o segundo  com 114 notícias de 5 horas e 29 minutos de duração, Luís Montenegro, registou a terceira posição, protagonizando 114 notícias de 5 horas e 24 minutos de duração e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi quarto, com 100 notícias de 4 horas e 20 minutos de duração.

 

O ARCO DA VELHA - 10% da população portuguesa não tem capacidade económica para poder regularmente uma actividade de lazer. 

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VIAJANTES - Quem gosta de viajar gosta dos livros e da escrita de Bruce Chatwin e Paul Theroux e ambos escreveram de forma apaixonada sobre a Patagónia, o “país de neblinas negras e redemoinhos no fim do mundo”, como Fernão de Magalhães descreveu o território que descobriu em 1520. Em 1985 Bruce Chatwin e Paul Theroux juntaram-se na Royal Geographical Society, em Londres, para uma conversa sobre esse território que fascinava ambos. Chatwin escrevera “Na Patagónia” e Theroux seguira-lhe a pista da aventura em “O Velho Expresso da Patagónia”. Dessa conversa nasceu o livro “O Regresso à Patagónia”. Bruce Chatwin começou por sublinhar como a Patagónia os influenciou: “Temos os dois a fascinação do exílio” e Paul Theroux foi taxativo: “Quando penso em viajar para qualquer lado, penso em ir para sul, associo a palavra “sul” a liberdade”. No texto de introdução ao livro, Francisco José Viegas, que dirige a Quetzal e aí tem construído a bela colecção “Terra Incógnita” dedicada a obras sobre viagens e viajantes, fala sobre a atracção que a noção de fim do mundo exerce e diz que essa “é uma das nossas obsessões históricas” e que é simultaneamente “o nosso sonho e o nosso pesadelo”. Ao longo do livro os dois escritores contam episódios que viveram na Patagónia, factos que descobriram sobre a história do território e da sua população. É uma conversa fascinante. Edição Quetzal.

 

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UM BANCO DIFERENTE - Um banco pode estar dedicado a gerir dinheiro ou pode ser um depósito de conhecimento. O BAC- Banco de Arte Contemporânea Maria da Graça Carmona e Costa, é um bom exemplo do segundo caso. Guarda, organiza, preserva e digitaliza obras, estudos, documentação, correspondência, esboços, maquetas, fotografias e diversos acervos de artistas, críticos e curadores. É na realidade um banco de dados fundamental para fazer a história da arte contemporânea em Portugal. Criado em 2019, para receber espólios artísticos em situação de emergência ou risco de se perderem, e proceder à respetiva investigação, o BAC nasceu da iniciativa e de um apoio de Maria da Graça Carmona e Costa (1932-2024), uma mecenas, coleccionadora e galerista que morreu sem ter conseguido que a Câmara Municipal encontrasse um espaço adequado aos objetivos do BAC, apesar dos numerosos esforços que fez. Para ela era claro que o BAC era fundamental "para a divulgação da arte contemporânea portuguesa, permitindo o seu estudo por académicos e universitários, professores, investigadores, alunos, e por outros profissionais que operam no meio" e por isso o BAC tem sido também apoiado pelo Instituto de História da Arte da Universidade Nova.  Mas infelizmente a autarquia é mais sensível a festejos efémeros do que a uma aposta em  entidades que salvaguardem o conhecimento e ao fim destes anos o BAC continua em instalações precárias. Mesmo assim, a sua reduzida equipa  tem vindo a fazer um trabalho notável com os acervos que lhe estão confiados. O BAC é uma iniciativa coordenada pelo Atelier-Museu Júlio Pomar, que está sob a responsabilidade da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural  de Lisboa e promove agora, pela primeira vez ,uma exposição , mostrando o seu universo de actuação. Com esta exposição que abre dia 20, “Boa Viagem, Muitas Maravilhas”, no Atelier-Museu Júlio Pomar a partir de dia 20 de Março (Rua do Vale 7),  a instituição pretende reafirmar o seu papel "como um centro de referência para o estudo e difusão da história da arte" e dar a conhecer algum do muito trabalho jºá feito. Ângelo de Sousa, Fernando Calhau, Lourdes Castro, Maria Beatriz, Mário Cesariny, Ana Vieira, Christo, Vieira da Silva, António Palolo, Alexandre Melo ou José Luís Porfírio são alguns dos nomes já presentes nos depósitos do BAC. A exposição é comissariada por Lígia Afonso, Marta Guerreiro e Rita Salgueiro. Na imagem do cartaz da exposição  está um esboço incluído no acervo de Ana Vieira.

 

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ROTEIRO -  O destaque desta semana vai para as novas exposições da Galeria Belo-Galsterer,   “Soft, Heavy and Unseen”, de Gwendolyn van der Velden, e “Feito Num Oito”, de Pedro Quintas. A primeira mostra uma série de trabalhos em papel, aguarelas que remetem  para o corpo da mulher (na imagem), e também máscaras cerâmicas de cores intensas;  a segunda mostra oito pinturas de Pedro Quintas em torno de variações geométricas, desta vez combinando linhas com círculos (Rua Castilho 71, r/c Esq).  Nos Açores, na Galeria Fonseca Macedo, pode ser vista até 30 de Abril a exposição  “Jardins Iluminados”, com obras de Cristina Ataíde, Beatriz Brum e Sofia Caetano. (Rua Dr. Guilherme Poças Falcão 21, Ponta Delgada). Entretanto o Museu Gulbenkian vai fechar, a partir do dia 18 de março até Julho de 2026,  para obras que visam proporcionar  melhores condições técnicas para exibir a coleção. No sábado, dia 15, o Museu estará de portas abertas até às 21h00 e apresenta uma programação especial que inclui visitas, e um concerto com Solistas da Orquestra Gulbenkian.  No Centro de Arte Moderna da Gulbenkian inaugurou a exposição “Arte Britânica- Ponto de Fuga”, que apresenta até 21 de Julho mais de 100 obras das colecções do CAM e da Fundação Berardo e de outras colecções nacionais e internacionais, algumas nunca expostas em Portugal, e que inclui trabalhos de 75 artistas, como Antony Gormley, Bridget Riley, David Hockney, Francis Bacon, Frank Auerbach, Marc Quinn ou Rachel Whiteread, entre muitos outros. Em Coimbra, no Teatro Académico Gil Vicente, por iniciativa do Centro de Artes Visuais, podem ser vistos até 30 de Abril trabalhos de Paulo Nozolino, da Colecção Encontros de Fotografia, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez.

 

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IMPROVISAÇÕES - O trio do pianista alemão Michael Wollny é uma das mais interessantes formações de jazz contemporâneas. A seu lado estão o baixista Tim Lefebvre,que tocou com David Bowie e o baterista Eric Schaefer. “Living Ghosts” é um álbum gravado ao vivo num dos concertos que o trio realizou na Alemanha em 2024. A presença do piano é dominante, em permanente diálogo com a bateria, com a ajuda do baixo. É um exemplo de jazz improvisado, construído à medida que os músicos iam tocando. Reza a crónica desta gravação que os concertos de 2024 não tinham uma lista de temas pré-definida nem arranjos escritos ou ensaiados. Tudo nascia no momento e esse é um dos encantos de “Living Ghosts” que vai buscar inspiração a composições de Alan Berg, Paul Hindemith, Duke Ellington (“In a Sentimental Mood”), Jon Brion (a balada “Little Person” ou Nick Cave (“Hand Of God”) o disco tem quatro temas, cada um deles bastante longo, dando espaço à criatividade dos músicos deste trio. Disponível nas plataformas de streaming.

 

DIXIT  - “É assim que os homens vivem? À beira do precipício e a preparar o desastre? Defendendo ferozmente a liberdade de mentir e fingir? É assim que os partidos sobrevivem, mas não é assim que os homens vivem” -  António Barreto


BACK TO BASICS -  “Idealismo é aquilo que precede a experiência, cinismo é o que se lhe segue” - David T. Wolf

 

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O PRAZER DE DESCOBRIR A HISTÓRIA ATRAVÉS DA ARTE

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por falcao, em 08.03.25

 

 

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Uma das coisas que me entristece em muitos museus portugueses é a falta de crianças, levadas a descobrir arte, descontraídas, sem cerimónias, sentadas no chão, contentes por olharem para um quadro, a ouvir alguém a contar a história do que se passa na tela como se fosse uma cena de Indiana Jones. Esta fotografia foi feita no Rijksmuseum, em Amsterdão, e mostra uma das mais célebres obras de Rembrandt, A Ronda da Noite, propriedade do município da cidade, depositada naquele museu. O quadro foi pintado entre 1639 e 1642 e mede 3,6 metros de altura e 4,3 de largura. Mostra a Guarda Cívica de Amsterdão sob comando do capitão Frans Banning Cocq e é geralmente considerada a obra prima de Rembrandt e uma das obras de pintura mais importantes do período Barroco. Reparem na cara dos alunos, a descoberta que se desenha nos seus olhos, a informalidade de estarem ali sentados no chão, com outras pessoas a passarem, e vários monitores que os acompanhavam a falar-lhes deste quadro e a responderem às suas perguntas. Repararam quantos têm o braço no ar? Nenhum tem ar de estar aborrecido, o que eles mostram é curiosidade, vontade de saber mais, de entrar por dentro do quadro e conhecer pormenores daquele período da História da sua cidade. Ter belos museus vazios de crianças (e por vezes de público) não serve para nada. Quantas crianças de Lisboa já visitaram o excelente Museu de Lisboa-Palácio Pimenta, ao Campo Grande, onde podem, por exemplo,  ver como era o Terreiro do Paço no século XVII através do do pintor holandês Dirk Stoop (c.1610-c.1686), ou a torre de Belém  mostrada num quadro de John Tomas Serres, no final do século XVIII, ou, ainda, como era a Antiga Fábrica de Tabaco de Xabregas, pintada num quadro de João Pedrozo  no século XIX ? Este Museu tem uma equipa disposta a acolher visitas de crianças, organizadas por escolas. Mas quantos pais já os levaram ao fim de semana a passear naquele magnífico jardim com pavões, que são a porta de  entrada para o Museu onde têm descobertas a fazer?



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DESCULPAS NÃO SÃO EXPLICAÇÕES

por falcao, em 07.03.25

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SOBRE A IMPUNIDADE  - Luís Montenegro é um advogado com carreira conhecida, um jurista habituado a ser chamado a dar conselhos a empresas. No entanto, parece que não falou consigo próprio quando tomou a decisão de, mesmo depois de se tornar Primeiro Ministro, manter na sua residência a sede de uma empresa, da qual continuou sócio por via do casamento, empresa que recebia avenças de diversos clientes privados, alguns com relações com o Estado. Durante semanas jurou que isso não constituía problema. A decisão, que anunciou no sábado passado, de ceder a empresa aos filhos, um ainda na Universidade e outro recém-licenciado, mostra que alguma coisa estava mal na situação que Montenegro criou. A maior declaração de culpa vem da decisão de passar agora a propriedade da empresa. A solução que encontrou foi uma boa habilidade, daquelas que os advogados costumam aconselhar aos seus clientes. Só não se percebe como é que o Dr Montenegro não explicou ao Sr. Luís que isso devia ser feito. Será que pensou que estava acima da Lei? Creio que António Barreto acertou no alvo quando há dias escreveu: “Não se compreende a razão pela qual um político, um alto funcionário não sente sequer o receio do abismo, o medo de ser apanhado (...) A resposta talvez seja o sentimento de impunidade”. Por mais que o Primeiro Ministro e seus Ministros digam que está tudo resolvido, a verdade é que não está explicada a situação, só está juridicamente resolvida. As suas desculpas não são explicações e os zigue-zagues de Luís Montenegro sobre esta questão não são o melhor para criar um clima de confiança num Governo que tem muitos pontos fracos, desde logo na Saúde. Montenegro não gosta de ser contrariado, acha que tem sempre razão e, como agora se viu, tem dificuldade em reconhecer quando erra. Além da crise que vai no mundo, temos também agora uma crise a desenhar-se em Portugal. Não precisávamos disto.

 

SEMANADA - As mortes por overdose aumentaram 16% em Portugal em 2023, face ao ano anterior, com o registo de 80 óbitos, 33 dos quais na Área Metropolitana de Lisboa; registou-se um aumento das overdoses por metadona, mas a cocaína continua a ser a droga que mais overdoses provoca; em Janeiro o Estado arrecadou  4,2 mil milhões de euros em impostos, o que significa que a receita fiscal aumentou 13,3% face ao mesmo mês do ano passado; os ganhos com o IVA subiram 38,6% (401,7 milhões) e a cobrança do imposto sobre combustíveis evoluiu 17,7% (49,4 milhões) e estes dois impostos indiretos representaram no conjunto 94% do crescimento da receita fiscal em janeiro; a Autoridade Tributária emite 3170 números de contribuinte por dia, dois terços dos quais são requeridos por cidadãos estrangeiros; dos 22,2 mil milhões de euros a receber ao abrigo do PRR já entraram cerca de 10 mil milhões, mas quatro anos depois do início  do plano e a dois anos do seu fim apenas 30% estão executados; o programa de apoio público à habitação, designado por 1º Direito, que tem de estar concluído até Junho do próximo ano, devia garantir habitação a 26 mil famílias em situação de vulnerabilidade, mas só entregou até fevereiro cerca de duas mil casas, ou seja 7% do objectivo; o preço das casas em Portugal disparou 136% entre o primeiro trimestre de 2015 e o terceiro trimestre de 2024 e só no ano passado o preço das rendas subiu 6,98%.

 

O ARCO DA VELHA - O Tribunal de Contas decidiu abrir um processo disciplinar a um seu juiz jubilado  suspeito de ter recorrido a prostitutos menores durante vários anos. 

 

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E, SE UMA BOMBA… - Ora aqui está um livro mesmo bom para ler por estes dias. Chama-se “Guerra Nuclear - Um cenário” e a revista Forbes considerou-o como “um thriller geopolítico de fazer gelar o sangue nas veias”, enquanto o New York Times o considerou uma leitura essencial. Annie Jacobsen, a sua autora, é finalista do Prémio Pulitzer e autora de vários livros e de programas e séries de televisão. Estudou em Princeton e foi capitã da equipa feminina de hóquei no gelo dessa universidade. O livro  parte de uma constatação: até agora, ninguém fora dos círculos oficiais sabia exatamente o que acontece se um Estado pária lançar um míssil nuclear contra os Estados Unidos. A autora fez dezenas de entrevistas inéditas a peritos civis e militares que construíram as armas e que conheciam os planos de resposta. Com base nisso criou este relato de como seria uma troca de bombas nucleares e revela os protocolos actuais que serão ativados no caso de um conflito, sendo certo que, como o livro indica, decisões que afetam centenas de milhões de vidas têm de ser tomadas em escassos minutos, com base em informações parciais, sabendo-se que, em caso de retaliação, nada conseguirá parar a destruição. Os capítulos do livro têm subtítulos como “os primeiros 24 minutos”, “os 24 minutos seguintes” e “para onde nos encaminhamos depois de um confronto  nuclear”. Gráficos, imagens e apontamentos e enquadramento histórico tornam este livro uma leitura fascinante para quem se interessa por estas questões. Edição D. Quixote.

 

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JAZZ COM BLUES - Billy Hart é um dos grandes bateristas de jazz e, aos 83 anos, continua activo e a gravar com o seu quarteto de duas décadas, onde é acompanhado por Mark Turner no saxofone, Ethan Iverson no piano e Ben Street no baixo. É esta formação, Billy Hart Quartet, que está também presente no disco agora editado pela ECM, “Just”, gravado em 2021 em Nova Iorque. O disco inclui dez temas, quatro delas compostas por Ethan Iverson e três de Hart e outras tantas de Mark Turner. Dois dos temas de Hart são novas versões de composições mais antigas, “Layla Joy” e “Naaj”. O disco tem, segundo Hart, um”conceito sonoro multi-direccional”, no qual os músicos que com ele trabalham têm um papel importante. O resultado é um disco que combina a tradição musical do jazz com momentos de evocação dos blues, como na faixa “South Hampton”, num virtuosismo de execução instrumental que combina a elegância com uma noção de ritmo e harmonia exemplares. Disponível nas plataformas de streaming.

 

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FOTOGRAFIAS - O Centro Cultural de Cascais volta a apostar na fotografia na sua nova exposição, focada na obra de Rodney Smith, com mais de uma centena de imagens que abrangem trabalhos feitos entre 1947 e 2016, ano em que morreu. Smith foi um fotógrafo norte-americano, com uma produção diversificada, mas sempre baseada num sólido conhecimento técnico, que combinou ao longo da carreira os seus trabalhos mais pessoais com encomendas de revistas como a Vanity Fair, a New York Magazine ou a Departures e fotografia publicitária para marcas como Neiman Marcus, Bergdorf Goodman e Ralph Lauren. Smith enamorou-se pela fotografia ao visitar a colecção de imagens do MOMA, estudou com Walker Evans e seguiu os ensinamentos de rigor técnico de Ansel Adams, escolhendo meticulosamente as câmaras, o filme e o papel fotográfico que permitiam proporcionar a materialização das suas fotografias como ele as imaginara. Sempre usando luz natural e película, Smith nunca retocava as suas fotografias. Em meados dos anos de 1980, após a publicação do seu primeiro livro, “In the Land of Light”, o seu trabalho chamou a atenção de diretores de arte e editores de revistas. Foi nesse período que Smith produziu alguns de seus trabalhos mais  significativos com fotografias feitas em lugares reais, mas com uma encenação que favorecia a fantasia e se aproximava do surrealismo. “Rodney Smith – A Alquimia da Luz” está patente até 25 de maio no Centro Cultural de Cascais (Avenida Rei Humberto II de Itália 16), numa iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais. 

 

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ROTEIRO - O destaque da semana vai para a exposição “O Brasil são muitos: um recorte da coleção do Instituto PIPA”, feita em parceria com as Galerias Municipais de Lisboa e que está no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional até 15 de Junho. Trata-se da primeira mostra internacional da instituição e reúne parte da colecção do Instituto Pipa (na imagem uma das obras expostas), um acervo construído ao longo dos últimos 15 anos, com trabalhos de duas dezenas de artistas que, segundo o curador da exposição, Luiz Camillo Osorio, “demonstra um Brasil marcado por polarizações políticas e conflitos culturais”. O instituto PIPA foi criado por Lucrécia e Roberto Vinhaes, uma arquitecta e curadora de arte e um engenheiro ligado ao imobiliário e fundos de investimento, ambos brasileiros, vivendo em Londres. Até 8 de Março na Sociedade Nacional de Belas Artes pode ver a exposição “Surrealismo - Um Salto no Vazio”, com obras de artistas portugueses e estrangeiros ligados ao movimento surrealista, e que integram a colecção da Fundação Cupertino de Miranda. Até 31 de Março no espaço Belo Campo da Galeria Francisco Fino (rua Capitão Leitão 76) pode ainda ver a exposição “Diplomacia”, de Diogo Pinto. Na Galeria Sá da Costa (Rua Serpa Pinto 19) pode ver até 29 de Março “Teogonia 1”, uma exposição que apresenta pinturas a acrílico sobre tela de Manuel Valente Alves e fotografias impressas sobre chapas de zinco de Carlota Mantero.

 

ALMANAQUE - Durante anos fui um leitor regular da revista britânica The Face, que foi editada entre 1980-2004. Descobri nas suas páginas, antes de serem conhecidos em Portugal, muitos nomes da música, da moda e das artes. Fiquei deslumbrado com a utilização da fotografia, o critério editorial das imagens e a sua paginação, uma obra desse génio do design gráfico chamado Neville Brody. Se o jornal Blitz foi o que foi, em muito se deve ao que vi e aprendi nas páginas da revista “The Face”. As fotografias eram assinadas por nomes como Anton Corbijn, Ellen von Unwerth, David Sims, Fredericke Helwig ou Corinne Day - que pôs a então desconhecida  Kate Moss no mapa e na capa da edição de Julho de 1990, tinha ela apenas 16 anos. Agora algumas das melhores fotografias publicadas na The Face podem ser vistas em Londres na exposição “Culture Shift”, dedicada à revista, que está patente na National Portrait Gallery até 18 de Maio.

 

DIXIT- “O homem pequenino e vestido de preto fez pouco daquelas fatiotas empoderadas, daqueles cabelos esticados, daquelas gravatas intermináveis que escondem tanto a barriga como uma fila de cabras esconde os Alpes. Deu-nos uma lição de dignidade que jamais será esquecida” - Miguel Esteves Cardoso, no Público.

 

BACK TO BASICS - “Fiz um curso de leitura rápida e li “Guerra e Paz” em 20 minutos. Percebi que a Rússia está envolvida” - Woody Allen

 

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