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O VERDADEIRO PODER - O mundo está difícil, o nosso rectângulo à beira-mar plantado vai pelo mesmo caminho e no entanto há políticos com um persistente sorriso Colgate como se tudo estivesse bem. Infelizmente não é nada disso que se passa. Depois das recentes eleições a situação política tende a radicalizar-se, mesmo que finalmente o bom senso impere e se consiga um acordo parlamentar que garanta alguma estabilidade. Mas para isso é preciso que o PS e o PSD aceitem não debater egos dos respectivos líderes e pensar primeiro no país, ou seja, ir além de manter o poder, e mostrar que governar passa por resolver problemas das pessoas e não das respectivas tribos partidárias, e que estejam dispostos a mudar o que tem de ser mudado, a começar na justiça. Estava eu a pensar nestas coisas quando dei com um artigo escrito para a edição de Junho da revista “Monocle” por Joseph S. Nye, que entretanto morreu na semana passada aos 88 anos, um professor de Harvard, conselheiro de vários presidentes norte-americanos e que foi o criador do termo “soft power” - a capacidade de conseguir acordos com base no diálogo em vez da força. Para Nye o soft power de um país vem de três fontes principais: a cultura capaz de atrair outros; a forma como vive e assume os seus princípios democráticos e defesa dos direitos humanos e a liberdade individual e de expressão; e as políticas democráticas e de desenvolvimento que os governos e políticos assumem e concretizam. Tudo isto pode influenciar outros políticos e servir de exemplo e base de entendimento. O soft power é esta capacidade de influência e exemplo que os líderes partidários portugueses bem podiam praticar entre si. Podia ser que o ambiente político nacional ficasse menos fétido.
SEMANADA - Em 2024 cerca de 1600 enfermeiros pediram declaração para emigrar; nos últimos três anos mais de 2700 médicos pediram à Ordem certidões para exercer no estrangeiro; em 2024 a unidade especial de combate a carteiristas da PSP registou 5762 ocorrências e deteve 149 suspeitos; 25% dos alunos do ensino secundário estão em estabelecimentos de ensino privados; Portugal produziu 177 mil toneladas de azeite em 2024/2025, mais 10% que na época anterior, e as exportações cresceram 46%; há 60 mil hectares com amendoal em Portugal e nos últimos três anos a área de cultivo de frutos secos aumentou 50%; Portugal é um dos países europeus com menos pensões de reforma complementares acordadas entre trabalhadores e as empresas; Portugal é o terceiro país na zona euro para o qual a Comissão Europeia está a antecipar que ocorra um maior desvio relativamente ao compromisso assumido do cumprimento das regras orçamentais; quase 25% dos bebés nascidos em Portugal nos últimos seis anos são de ascendência estrangeira e Índia e Bangladesh já integram o top 10 das nacionalidades; um relatório do Conselho da Europa afirma que o sistema judicial é o ponto fraco no combate à violência contra mulheres e recomenda que se combatam “as atitudes patriarcais que permanecem entre alguns membros do sistema judicial”.
O ARCO DA VELHA - O inquérito que visava o presidente da Câmara Municipal de Vizela, Victor Hugo Salgado, por uma queixa de violência doméstica foi arquivado, apesar de os registos clínicos do Hospital de Guimarães, onde sua mulher foi assistida, revelarem uma fratura no nariz, uma escoriação e várias equimoses. A procuradora encarregue da investigação concluiu que aqueles elementos eram insuficientes e o autarca não foi interrogado pela magistrada nem constituído arguido.
AS MUDANÇAS DA VIDA - O escritor inglês Julian Barnes, agora com 79 anos, é um dos mais notáveis autores da sua geração, vencedor do Booker Prize, em 2011 e autor de 14 livros que se tornaram clássicos, como “O Papagaio de Flaubert”, “O Sentido do Fim”, “O Homem do Casaco Vermelho” ou “Elisabeth Finch”, entre outros. A estes junta-se agora “Mudar de Ideias”, que reúne cinco ensaios originalmente escritos há cerca de uma década para um programa de rádio e que foram este ano editados em livro pela primeira vez no Reino Unido. A tradução portuguesa, muito boa, é de Salvato Teles de Menezes, e foi agora publicada. Nestes cinco curtos ensaios o autor defende que uma pessoa inteligente deve ser capaz de repensar convicções antigas face à experiência que vai acumulando de vida e a novos factos que vai conhecendo. “Quando os factos mudam, eu mudo de opinião”, escreve logo no primeiro ensaio, “Memórias”. E, no ensaio “Política”, escreveu: “Apesar de ter votado em seis partidos diferentes durante toda a minha vida - e nalguns candidatos independentes em eleições locais- não me vejo como alguém que tem mudado de opinião (…) Os partidos políticos é que mudaram, guinando para aqui e para ali, esquivando-se à cata de votos; eu, votante, permaneço um homem de princípios”. “Palavras”, “Ler” e “Idade e Tempo”, reflexões sobre livros e a própria vida, são os temas dos outros ensaios que completam “Mudar de Ideias”. Julian Barnes estará na Feira do Livro de Lisboa a 14 de junho. Edição Quetzal.
FOTOGRAFIAS - Até que ponto é que a fotografia de moda, publicitária, ou de vida selvagem e natureza se devem considerar formas de expressão artística? Aqui está um tema que divide os apreciadores de fotografia. Não há uma resposta única para este tema mas há questões que podem balizar a discussão, como a capacidade de ver e descobrir, a capacidade de captar o instante, mas também a capacidade de imaginar, criar e ultrapassar a realidade, assim como o domínio da técnica, quer para a colocar em primeiro plano, quer para a subverter. David Yarrow é um fotógrafo britânico que tem trabalhado na moda, publicidade e vida selvagem. Em Lisboa pode ser vista até 1 de Junho a sua exposição “Storytelling”, que reúne trabalhos efectuados nos últimos dez anos e que integram o livro do mesmo nome. A exposição é iniciativa da galeria In The Pink, sediada em Loulé e dedicada exclusivamente à fotografia, que em Lisboa utiliza temporariamente um espaço na Rua de Santo António à Estrela 74 que no final do ano acolherá uma nova galeria. A exposição de David Yarrow integra três dezenas de fotografias, de grande formato, tiradas em vários locais de África e da Europa, como esta imagem que aqui se publica, intitulada “The Amalfi Coast” e que é um bom exemplo do processo de trabalho de Yarrow, muito encenado e produzido. Os preços das fotografias oscilam entre os 15 e os 75 mil euros e parte do produto da venda reverte para causas filantrópicas patrocinadas pela Fundação de Yarrow.
ROTEIRO - Esta semana todas as atenções se concentram na ARCO Lisboa, a Feira de Arte Contemporânea que se realiza na Cordoaria Nacional entre 29 de Maio e 1 de Junho e que vai este ano na sua oitava edição. Vão ser mostradas obras de 470 artistas e estão presentes 83 galerias de 17 países. A presença das galerias portuguesas, 30 no total, representa 36% da Feira, enquanto o segmento internacional se fixa nos 64%, reunindo 53 galerias, com especial relevo para a proveniência europeia, designadamente de Espanha, Alemanha e Itália, a que se junta o Brasil. A Feira organizar-se-á em três núcleos: o Programa Geral, que reúne 61 galerias; a secção “Opening Lisboa”, com uma seleção de 18 galerias e que dedicará atenção aos novos espaços e linguagens artísticas e “As Formas do Oceano”, integrando 5 galerias com um programa centrado nas relações entre África, a sua diáspora. Este ano há uma boa novidade: será permitida a entrada gratuita a jovens até aos 25 anos nas tardes de sexta-feira (30) e sábado (31), a partir das 15h00. Para além da ARCO Lisboa há muito para ver na cidade. Por exemplo, na Fundação Carmona e Costa há duas exposições novas: “Gatos” de Teresa Segurado Pavão, com o subtítulo “o som da chávena a partir na gaveta”, e descrita como “exercícios para aprender a lidar com a ruína” e que estará exposta até 20 de Dezembro. A outra exposição é “Código Civil”, de Carla Filipe (na imagem) que trabalha a relação entre texto e imagem, com recurso frequente ao desenho, baseada num trabalho de investigação em torno das leis que regulam a comunidade, e que estará exposta até 20 de Setembro. A Fundação Carmona e Costa fica na Rua Soeiro Pereira Gomes, Lote 1, 6º andar.
UM REGRESSO BEM SUCEDIDO - Depois de um interregno de 15 anos os Stereolab voltaram a estúdio para gravar um novo álbum de originais, intitulado “Instant Holograms On Metal Film”. Criados em 1990 pelo compositor e guitarrista inglês Tim Gane e a cantora e teclista francesa Lætitia Sadier, os Stereolab têm estado no limbo desde 2009 até agora, quando de repente surgiu este novo álbum. A sonoridade reconhece-se de imediato nas teclas e na voz de Sadler, a composição e produção claramente a evocarem o pop dos anos 90 e o som “easy-listening” que foi a imagem de marca do grupo nessa altura. Os títulos das canções estão igualmente na linha da tradição dos Stereolab: “Aerial Troubles”, “Colour Television”, “Electrified Teenybop!” , “Vermona F Transistor” ou “Esemplastic Creeping Eruption”, por exemplo. A voz e os teclados de Lætitia Sadier são como sempre a base do som eclético do grupo, fruto de influências que vão do experimentalismo do krautrock à electrónica, passando por vezes pelo jazz e percussões latinas (como em “Immortal Hands”) até sonoridades que lembram bandas sonoras de séries antigas de televisão. Destaco, a finalizar, o instrumental “Electrified Teenybop!” e “Flashes From Everywhere”, exemplos do prazer que claramente os Stereolab sentem em voltar a estas suas formas musicais. Disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - Até 21 de Setembro o Museu do Prado, em Madrid, apresenta uma exposição dedicada à obra de Paolo Veronese, um dos mestres do Renascimento veneziano, que viveu entre 1528 e 1588. A exposição reúne mais de uma centena de obras de Veronese, naquela que é a maior mostra realizada em Espanha sobre a obra do pintor. Esta exposição completa o ciclo dedicado aos mestres do Renascimento italiano e que no Prado já acolheu Tiziano , Tintoretto e Lorenzo Lotto.
DIXIT - “Caso António Costa não se tivesse demitido em 2023, ainda o PS governaria confortavelmente sentado numa maioria absoluta até Outubro de 2026 e, em vez da sua possível extinção, estaríamos agora a falar do domínio do PS sobre o sistema político” - Luciano Amaral, no “Correio da Manhã”.
BACK TO BASICS - “Evitem o excesso, deixem a moderação ser o vosso guia” - Cícero
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
Passo em frente a esta janela quase todos os dias, no meu passeio matinal para comprar jornais - sim, pertenço a uma espécie em vias de extinção. A janela espelha um prédio que, há muitos anos, foi uma bela construção, de janelas amplas e fachada larga e altiva, desenho marcado por cantoneira trabalhada que se foi desfazendo com o andar do tempo. Este último inverno deu-lhe um golpe forte, as coisas ficaram pior, o pedaço do passeio em frente foi isolado, não fosse alguma coisa cair. Agora colocaram umas chapas, que protegem a rua do desfazer do edifício. Quem passa vê ruínas, a porta entaipada e uma parede coberta de graffitis. Fazem-me impressão estes prédios assim, em decomposição, de janela aberta para a destruição. Fico sempre a pensar que o estão a deixar desmoronar-se, para depois construírem um mamarracho, em vez de o recuperarem. Ponho-me a imaginar como seriam as salas, que, de fora, parecem ter sido grandes e de pé direito alto. Visualizo corredores compridos, sei que atrás há um belo logradouro, agora parecido com uma malta selvagem. Estes pedaços de ruína no meio da cidade são o sinal do que correu mal na vida de alguém, talvez de uma zanga familiar entre herdeiros que não se entendem. Até pode ser que a história seja outra, mas o que quer que tenha sido, o resultado é este: um sítio destruído, para onde se espreita por uma janela arruinada. É um bocado o retrato do país depois das eleições. Em meio século tudo se decompôs, ninguém sabe bem como voltar a ganhar a confiança e construir, em vez de apenas contemplar a destruição e explorá-la.
A AFLITIVA SURDEZ DOS POLÍTICOS - Enquanto os líderes partidários derem mais ouvidos ao aparelho dos seus partidos do que ao que se diz na rua o voto de protesto continuará a ganhar peso e a tendência destas eleições irá acentuar-se ainda mais. Como bem afirma António Barreto, “as eleições democráticas, sempre justas, têm destas coisas: são escolhas, mas nem sempre são soluções”. O maior indicador saído destas legislativas é que uma grande fatia do eleitorado quer mudanças, não está satisfeito com o estado das coisas e não tem os velhos partidos em grande conta. Mesmo em relação ao PSD, que é o vencedor claro, ficará sempre a dúvida sobre se poderia ter alcançado a maioria absoluta se não fossem as polémicas em torno de Luís Montenegro. Aconchegado pelo resultado eleitoral, o líder do PSD levou a Spinumviva para o palco do seu discurso da vitória naquilo que, se não foi uma provocação desnecessária, foi uma atitude de muito mau gosto. Uma coisa é certa: no dia 18 de Maio o sistema político e partidário levou um cartão vermelho de mais de um milhão e trezentos mil cidadãos descontentes, quase um quarto dos eleitores. A esquerda, à excepção do Livre, que fez uma campanha mais próxima dos problemas que afligem as pessoas, foi o único partido a subir. O resto teve quedas estrondosas e, pela primeira vez em meio século, o espectro político do centro direita e direita teve dois terços dos deputados eleitos. O Chega, que há seis anos parecia um fenómeno passageiro e residual, cresceu ao ritmo do descontentamento e insatisfação das pessoas, sobretudo nas geografias onde a esquerda era tradicionalmente dominante e está taco a taco com o PS, o partido que mais anos governou em Portugal desde 1974. Luciano Amaral escreveu no “Correio da Manhã” um retrato do que se passou: “O resultado catastrófico do PS e o correspondente excelente resultado do Chega mostram algo que começava já a ser visível nas últimas eleições: o Chega não é sobretudo um problema da direita. É um problema de todo o sistema político, mas sobretudo da esquerda”. É cedo para saber o que se vai passar a seguir, mas deixo uma frase de João Pereira Coutinho: “Se houvesse juízo nos dois principais partidos, haveria um entendimento qualquer ao centro, com outra liderança socialista. Não para travar o Chega. Para travar as razões que alimentam o Chega. Haveria um combate sério à corrupção. Uma política de imigração regulada. E a longa lista de reformas – na justiça, na saúde, na fiscalidade – que o país reclama”.
SEMANADA - A um ano do fim do PRR na Europa nem metade da verba foi gasta pelos 27 países da União Europeia; os subsídios do PRR a startups localizadas em Portugal têm uma execução de apenas 30,6% com o prazo a terminar no final deste ano; o emprego público em Portugal atingiu novo máximo no final do primeiro trimestre do ano e aproxima-se dos 759 mil trabalhadores; quase 1600 enfermeiros pediram declarações para emigrar em 2024; em três anos mais de 2700 médicos pediram à Ordem certidões para exercer no estrangeiro; há 13 anos um médico ganhava 5,9 vezes mais que o salário mínimo nacional, valor que baixou para 3,9 vezes em 2025; o declínio da escola pública é evidenciado pela percentagem de alunos que estão no ensino secundário privado e que já atinge os 25% ; os acidentes com autocarros da Carris têm vindo a aumentar e em 2024 registou-se o número mais elevado de sempre - de acordo com dados da empresa foram registados 1519 “acidentes de exploração”; o crédito ao consumo atingiu em Março o montante mais elevado desde 2013, ultrapassando 777 milhões de euros; os portugueses jogam cinco milhões de euros por dia em raspadinhas; no dia Internacional dos Museus, que se celebrou domingo passado, 13 dos 37 equipamentos culturais do Estado estiveram encerrados total ou parcialmente, devido a obras em curso; a queda da economia portuguesa, de 0,5% no primeiro trimestre, foi o segundo pior desempenho em cadeia na zona euro, logo a seguir à Eslovénia e antes da Hungria.
O ARCO DA VELHA - Portugal é o segundo país da União Europeia com mais eleições em sete anos, apenas ultrapassado pela Bulgária.
UM MISTÉRIO DESENHADO - Para me acompanhar na última semana de campanha eleitoral escolhi um livro que relata a investigação de um mistério em torno de uma sucessão de assassinatos. Fiquei mais fascinado com o livro do que com a retórica dos políticos. “Strange Pictures - Imagens Estranhas” é um policial peculiar: as pistas para o crime são desenhos espalhados ao longo das páginas. O seu autor, japonês, assina como Uketsu e é apresentado como um web writer especializado no género de terror. Conhecido por usar uma máscara branca e um fato preto, também é YouTuber e tem mais de 1,7 milhões de seguidores. Os seus livros são considerados «mistérios desenhados» e o autor desafia os leitores a descobrirem as pistas escondidas numa série de imagens estranhas. Uketsu já vendeu perto de 3 milhões de exemplares no Japão desde 2021 e foi traduzido para 27 línguas. O verdadeiro nome e a identidade de Uketsu permanecem desconhecidos. Mas vamos ao livro: os esboços de uma jovem grávida descobertos num blogue aparentemente inofensivo escondem um aviso arrepiante. Além disso, o desenho aparentemente inocente de uma criança junto da sua casa contém uma mensagem secreta e sombria. E um rabisco feito por uma vítima de homicídio nos seus últimos momentos de vida conduz um detetive amador a uma espiral que revelará uma serial killer. Ao longo de “Strange Pictures”, cada imagem estranha que é descoberta contém uma pista. Quando todas se juntam revelam uma história complexa e sinistra. Com um final absolutamente inesperado. edição Singular.
ENIGMAS - Daniela Krtsch é uma pintora alemã que desde há alguns anos vive e trabalha em Lisboa. O seu trabalho, maioritariamente figurativo, está entre a realidade e a ficção e algumas das suas obras baseiam-se num olhar inesperado e na criação de atmosferas que deixam qualquer coisa em suspenso. Na Galeria Salgadeiras a artista apresenta uma exposição com dez obras novas, intitulada “Some day in may”. O crítico e historiador de arte Bernardo Pinto de Almeida escreveu a propósito desta exposição: “Dela se poderia dizer, parafraseando a célebre observação do filósofo, também alemão, Walter Benjamin, a propósito das imagens dos lugares de Paris capturadas por Eugène Atget — fotografias de espaços muitas vezes abandonados, e como que suspensos num tempo de estranheza —, que elas fixavam o que parecia ser o momento imediatamente anterior ao do ocorrer de um crime. Assim, também com a Artista, cuja obra está discretamente carregada de breves signos do pressentimento.” Na obra de Daniela Krtsch há uma tensão constante entre o observado e o observador, como se cada tela fixasse um gesto que pode desencadear outros. Até 27 de Julho na Galeria Salgadeiras, Avenida dos Estados Unidos da América 53D.
ROTEIRO - O destaque desta semana vai para uma exposição da espanhola Tamara Feijoo que fica até 21 de Junho na Appleton Square (Rua Acácio de Paiva 27). Sob o título “Breviário” a artista apresenta obras que formam uma colecção de peças que funcionam como amostras e experiências, como se fossem um livro de notas do que ela vai imaginando. A exposição mostra o trabalho de Tamara Feijoo no desenho e na pintura, trabalhados em vários suportes, muitos deles não tradicionais, mostrando o seu desejo de experimentar e arriscar. Em Sintra, no Museu das Artes de Sintra, localizado no edifício do antigo casino da vila, está até 31 de Agosto a exposição “Partida”, integrada no ciclo “Joga o Jogo” - um título que é uma evocação da antiga utilização do espaço e que mostra obras da colecção da Caixa Geral de Depósitos, obras de Pedro Cabrita Reis que fazem parte da colecção do Museu, fotografias do Arquivo Municipal de Sintra que revelam a história do edifício e a série “New Age Kids” um trabalho da fotógrafa Pauliana Valente Pimentel. No Museu do Oriente está até 12 de Outubro a exposição “Foto Arte Ganesh”, que resulta do espólio do fotógrafo goês Krishna Navelkar, ou Ganesh, o nome com que assinava os seus trabalhos. Ele registou quase quarenta anos de história, do fim do colonialismo português às grandes transformações sociais e políticas que moldaram a Goa moderna num arquivo único de um cronista que fixou em imagens o evoluir dos tempos.
O CANTO - No dia depois das eleições pus-me a ouvir o novo disco da colombiana Lido Pimienta, “La Belleza”. Fui atraído para o disco ao ler no jornal britânico “The Guardian” que o trabalho reunia o canto gregoriano à percussão sul americana do reggaeton e que o resultado era sublime. Nascida na Colômbia, mas a viver no Canadá, Lido Pimienta chamou o produtor Owen Pallett e, com a Orquestra Filarmónica de Medellin gravou este seu quarto álbum, onde canções de amor se misturam com reflexões sobre o seu país. Em meia hora e nove temas Lido Pimienta mostra como a sua voz e da sua forma de cantar conseguem combinar-se quer com as secções de cordas e metais da orquestra, quer com as percussões. Temas como “Ahora”, “Quiero Que Me Beses”, “El Dembow del Tiempo” e “Aún Te Quiero” mostram isto mesmo. O disco é emocionante e arrebatador, a produção é exemplar, a entrega da voz de Pimienta é arrebatadora. Há muito que um disco não me emocionava tanto. Edição Anti, disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - Em Paris há duas exposições de fotografia para ver. Na Fondation Cartier Bresson, até 12 de Outubro, está uma exposição de Richard Avedon centrada na sua série “In The American West”, realizada entre 1979 e 1984, que é pela primeira vez apresentada integralmente na Europa. E na Magnum Gallery está uma exposição de 40 imagens de Raymond Depardon, um dos grandes fotógrafos da agência com imagens de locais que percorreu, como França, Nova Iorque ou Escócia, entre outros.
DIXIT - “A sensação de abandono e desinteresse do poder político para os problemas reais das pessoas tem terreno para medrar. E agora há um partido que está formatado para capitalizar esse descontentamento” - Paulo Ferreira, no Observador.
BACK TO BASICS - As pessoas que querem compreender o funcionamento da democracia deviam passar menos tempos a reflectir sobre o que Aristóteles escreveu e mais tempo nos autocarros e no metropolitano a ouvir o que as pessoas dizem” - Simeon Strunsky
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
As pequenas lojas de bairro sempre me atraíram. Na minha rua existia até há pouco tempo uma retrosaria das antigas. Gostava de entrar, de falar com a dona, uma senhora já de alguma idade, muito simpática, sempre disposta a ajudar os clientes com sugestões. Muitas vezes entrava só para a cumprimentar, para ver as prateleiras da loja, as linhas, as lãs, os botões, os fechos, os rolos de tecido, a fascinante mistura de cores e materiais, sempre cuidadosamente arrumados nas prateleiras antigas, de madeira, bem conservadas, que existiam por toda a loja em torno de um belo balcão, também em madeira. Uma vez perguntei-lhe se a podia fotografar e ela, delicadamente, pediu-me para não o fazer mas disse-me que podia fotografar a loja à vontade desde que ela não aparecesse. Foi num desses dias que fiz esta fotografia. Agora, há umas semanas, a loja encerrou, tem a porta fechada e as montras tapadas. Por alguma razão a senhora deixou de ser uma companhia na rua. Não sei o que acontecerá ao interior daquela bela loja, nem como se sentem os vizinhos que ali paravam para dois dedos de conversa com a dona, sempre com um sorridente bom dia a quem entrava.. Resta-me ficar a falar com os meus botões, estes que guardei na memória e que aqui vos deixo com as suas cores e feitios.Termino, para não dizerem que não falo da situação política, com uma citação roubada à coluna de Miguel Esteves Cardoso no Público: “Não há planta tão trepadora como um gato. A planta trepa para poder crescer, para ter onde se agarrar. Mas o gato trepa por trepar (...) Também há políticos assim: sobem aos mais altos postos, gostam durante um minuto, mas depois não sabem o que fazer lá em cima.”
AS ELEIÇÕES - Não vale a pena fazer prognósticos antes do final de jogo - até porque a disputa eleitoral tem cada vez mais o aspecto de um confronto clubístico com muito pouco de racional. Existe a probabilidade de o resultado manter uma diferença tão pequena entre os dois principais partidos que a situação de instabilidade vivida nos últimos anos corre o risco de se manter, se não existir um acordo entre vários partidos. Nesta campanha eleitoral debateram-se muito temas marginais e muito pouco se disse sobre propostas de mudanças necessárias em áreas cruciais para que Portugal progrida. Apesar de o caminho da democracia ter já mais de meio século, o sistema político e partidário português continua avesso a coligações pós eleitorais entre partidos que garantam estabilidade. É certo, como já foi sublinhado nos últimos dias, que estes acordos só valerão a pena se tiverem por base um programa claro que defina reformas importantes: desde logo na justiça, mas também na habitação, na saúde, no ensino, na fiscalidade e, claro, na lei eleitoral - que evite que quase 700 mil votos não sirvam para nada, como aconteceu em anteriores legislativas. O caso da justiça é particularmente importante porque mexe com os cidadãos e empresas, porque dificulta os actos mais simples, perpetua a ausência de decisões e, em especial na justiça tributária, parte do princípio que primeiro há que pagar e depois que contestar, mesmo quando o erro seja claramente do Estado. A questão da fiscalidade, sobre os cidadãos e empresas, estrangula a economia e o desenvolvimento do país e perpetua o círculo vicioso dos baixos salários e alta carga fiscal. Na hora de votar vale a pena pensar quem tem ambição reformista, quem está disposto a fazer mudanças, quem as propõe e em que termos pugna por elas nos seus programas e na sua acção quotidiana. O único voto útil é o que mostre o desejo de reformas e fortaleça quem as pode influenciar.
SEMANADA - A taxa de mortalidade infantil em Portugal subiu 20% em 2024 face ao ano anterior; a região da Península de Setúbal regista o valor mais elevado, com uma taxa de mortalidade infantil de 3,7 por cada mil nascimentos, acima da média europeia; em 2024 mais 118.011 pessoas subscreveram seguros de saúde– uma média de 323 por dia – e no total já há 3,7 milhões abrangidos por esse tipo de seguro; em 2024 cerca de 138 mil pessoas foram pelo menos cinco vezes às urgências do SNS; nos primeiros seis meses deste ano estão previstas mais de 1600 aposentações de professores; em 2024 as queixas de assédio laboral aumentaram e quase 30 % dos profissionais relatam ameaças ou abusos; quase cinco milhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido a acidentes laborais; em Dezembro de 2024 residiam em Portugal 1,5 milhões de estrangeiros; a população empregada em Portugal chegou aos 5,18 milhões, um novo máximo histórico; em 2024 registou-se um aumento de 11% nas compras efetuadas com pagamentos electrónicos; segundo a REN o apagão de 28 de Abril cortou o consumo de 62,3 GWh de energia muito além dos 2 GWh de eletricidade que foi cortada na rede operada pela REN há 25 anos, no apagão parcial do país, devido a um incidente com uma cegonha; segundo o Instituto +Liberdade, nos últimos 10 anos, foram arquivados quase 3 mil processos de corrupção e crimes conexos e por cada 4 condenações, mais de 100 processos são arquivados.
O ARCO DA VELHA - Os senhorios que praticam rendas congeladas aguardam há meio ano o pagamento da compensação legislada e estão agora a ser confrontados com notas de liquidação de IMI, do qual a lei os isenta. O Fisco diz aguardar “orientações superiores” e aconselha a pagar primeiro e reclamar depois.
A TRANSFORMAÇÃO DA MÚSICA - João Gobern é um dos mais prestigiados jornalistas da área da cultura e espectáculo, com especial foco na música. Dirigiu publicações, faz programas de rádio, escreve livros e tem um saber enciclopédico sobre a música portuguesa. Depois de há uns anos ter escrito “Quando a TV parava o país” pegou agora no que foi descobrindo sobre a edição discográfica em Portugal e em mais algum trabalho de pesquisa e escreveu “Tira o Disco e Toca ao Vivo”. Ao longo de centena e meia de páginas conta como todo o sistema económico da música se modificou nos últimos anos e que no fundo está resumido no título: os artistas, os seus agentes e as editoras obtêm hoje maiores receitas dos concertos e digressões do que da venda dos discos, uma inversão daquilo que se passava há duas décadas. Como João Gobern sublinha, “antes, faziam-se concertos para vender discos. Agora, editam-se discos para conseguir concertos. A música mudou, até na forma como a consumimos. “O autor aborda a forma como o digital e as plataformas de streaming alteraram os hábitos de quem ouve música, provocando o declínio das lojas, levando a novos modelos contratuais entre artistas e editoras. O efeito das transformações efetuadas e dos avanços tecnológicos e a alteração do modelo de negócio tiveram efeitos nos criadores, instrumentistas e cantores e tiveram consequências estéticas. e muitas vezes não foram para melhor. No final, Gobern, referindo-se à situação dos músicos, sublinha: “eles têm hoje mais muros para enfrentar do que pontes para aproveitar, quando o salto tecnológico - dos meios de gravação às possibilidades de distribuição - poderia sugerir o contrário”. O livro é editado pela colecção Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
IMAGENS DO ORIENTE - A nova exposição da Ochre Space, uma galeria dedicada à fotografia e focada no trabalho de fotógrafos do Oriente, apresenta uma dupla exposição: To Add One Meter to An Anonymous Mountain mostra uma performance criada em 1995 por dez jovens artistas da comunidade Beijing East Village, que se deitaram, nus, em pirâmide, sobre uma montanha nos arredores de Beijing e fizeram história. A exposição mostra as três fotografias do final da performance, captadas por Lu Nan, Bagena e Robyn Beck que estão nas colecções de alguns dos mais importantes museus internacionais, o conjunto de fotografias que compõe a integralidade da performance, incluindo algumas fotografias totalmente inéditas de um anónimo que esteve no local e que nunca tinha revelado o material, e o vídeo amador original da performance, feito por Ji Dan. Na imagem está uma das fotos mais conhecidas, de Lu Nan, um dos mais importantes fotógrafos chineses que tem documentado extensamente a vida na China. Em simultâneo a Ochre mostra uma selecção de 22 imagens de RongRong, um dos mais importantes fotógrafos chineses da actualidade, e que viveu na comunidade artística Beijing East Village, documentando extensivamente o modo de vida e a actividade dos artistas dessa comunidade, que se tornou uma das mais importantes na vanguarda artística chinesa dos anos 90. A Ochre fica na Rua da Bica do Marquês 31 (à Ajuda), a exposição, que tem curadoria de João Miguel Barros, que dirige a galeria, decorre até 21 de junho de 2025 e está aberta ao público de quarta a sábado entre as 15:00 e as 18:30.
ROTEIRO - Em 1988 Pedro Cabrita Reis realizou na Galeria Roma e Pavia, no Porto, a exposição “Cabeças, Árvores e Casas”. Agora aceitou o desafio do galerista Pedro Oliveira, ligado na época a essa galeria, e apresenta até 28 de Junho 20 obras inéditas sob o título “outras cabeças, outras árvores e outras casas” (na imagem). Todos os trabalhos são mix media em papel. No texto escrito para a exposição original, em 1988, Pedro Cabrita Reis afirmava: “Vejo uma árvore e nomeio-a: árvore. E sei que é também madeira e poderei dizer casa, barco, caixão, mesa. Vejo uma árvore e nomeio-a: árvore. E sei que é também fogo e poderei dizer território, viagem, morte, festa.”. E mais adiante: “Pertenço aos que amam na errância das aparências a possibilidade de encontrar um sentido.” A Galeria Pedro Oliveira fica na Calçada de Monchique 3, no Porto. Em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes (Rua Barata Salgueiro 36) está patente até 7 de Junho a exposição "Sombras Rosas Sombras" de Maria Capelo, com curadoria de Nuno Faria. Na CC11, Rua do Vale de Santo António 50, um espaço dedicado à fotografia, Filipe Bianchi apresenta “Joy Bangla”, um ensaio fotográfico que retrata o quotidiano da comunidade bangladechiana no bairro do Intendente.
NOVAS CANÇÕES PORTUGUESAS - Hesitei antes de escrever, ando a ouvir este disco há umas duas semanas. Na primeira audição pensei que era apenas mais um disco de Rodrigo Leão. Sonoridades mais do mesmo. Mas depois, numa segunda audição, percebi que este “O Rapaz da Montanha” é um disco novo, de canções diferentes. A sonoridade é a de Rodrigo Leão, a sua marca própria. Mas estas canções vão buscar algo mais. Há uma influência maior da música popular portuguesa, desde a construção das melodias aos arranjos, passando pela forma de cantar, com destaque para a utilização de coros. Os temas reflectem preocupações com os tempos que vivemos. A maioria das palavras das canções foi escrita por Ana Carolina Costa, como é hábito, mas Gito Lima, Francisco Menezes e João Pedro Diniz também participam. Uma das grandes diferenças é que neste disco as canções têm uma linguagem mais directa que aborda questões concretas deste “país do “Se” que ficou por fazer”, como “Madrugada”. No disco participam Pedro Oliveira (a voz da Sétima Legião), que canta “Esperança”, escrita por outro dos Sétima Legião, Francisco Menezes, o acordeonista Gabriel Gomes, José Peixoto na guitarra clássica, Carlos Poeiras também no acordeão e Francisco Palma na voz. E, claro, como tem sido usual em trabalhos recentes de Rodrigo leão, também participam a cantora Ana Vieira – a voz principal do disco – Viviena Tupikova (violino), Bruno Silva (viola), Celina da Piedade (acordeão), Carlos Tony Gomes (violoncelo e autor dos arranjos de cordas), João Eleutério (guitarra, baixo e sintetizador), António Quintino (contrabaixo) e Frederico Gracias (bateria e percussão). A ilustração de capa é de Tiago Manuel. Deixo-vos com o apelo de “O Rapaz da Montanha”, a canção que dá título ao disco: “Lá em baixo não há nada/ mas há tanto p’ra fazer!”. Disponível nas plataformas de streaming.
DIXIT - “O conservadorismo está bem presente, uma vez mais, nesta campanha eleitoral. Num país que odeia reformas, ninguém fala delas, com raras e honrosas excepções” - Luis Marques, no “Expresso”.
BACK TO BASICS - “A justiça deve ser o pilar do funcionamento da sociedade” - Aristóteles
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
Como é que este anjo, encontrado por acaso na entrada de um prédio, segurando uma tocha, terá vivido o apagão? Sem a tocha acesa, para que servia ele? No dia do apagão toda a gente percebeu, de repente, que este nosso mundo de hoje fica virado de pernas para o ar quando não há electricidade. Há uns anos não haver electricidade queria dizer que se ficava às escuras quando fosse noite. Agora quer dizer que se fica sem telefone, sem acesso às funções básicas da internet, como os emails, sem poder ver notícias nos “sites” dos meios de comunicação, sem poder ver um filme ou ouvir um disco em streaming, nem encomendar qualquer coisa para comer num serviço de entregas. Durante um dia os velhos aparelhos de rádio, a pilhas, esquecidos num canto da casa, foram reis e senhores e a quase única forma de ir sabendo o que se passava. De repente desejei ter ainda um walkman a pilhas para ouvir uma cassette com as canções de que gosto mais - tinha uma (já não sei onde anda) com os Joy Division, os Smith, Nick Cave, Clash, Doors e Lou Reed. Bem gostava de os ter ouvido nesse dia. Até a campanha eleitoral em curso teve um apagão, debates foram adiados e os políticos pouco falaram - até porque não tinham quem os ouvisse. Mesmo quando a electricidade voltou percebeu-se que, da maneira que as coisas estão, com ou sem electricidade, os debates já não chegam a tanta gente como dantes. Quando comparados com os números do ano passado, os debates televisivos entre os líderes dos principais partidos registaram uma queda de 13% nas audiências do cabo e de 40% nos canais generalistas. O problema que motivou esta quebra, este desinteresse, não foi a falta de electricidade. Foi o facto de a maioria dos debates ser chato e sem assunto que interesse às pessoas. A indiferença aumenta, e isso não é nada bom sinal.
O CUSTO DE VIDA - Já que se fala de imigrantes tenho aqui uma coisa para contar: um ucraniano que conheço vive em Portugal há muitos anos. Homem sério, trabalhador, tinha um equilíbrio entre o que ganhava - que não é muito - e o custo de vida. Agora diz que Portugal é um país caro. Admite que começa a considerar se fica ou se parte. Se os emigrantes que cá estão legalmente começarem a pensar em partir, como vai reagir a economia? Mas vamos a factos concretos sobre os custos do dia a dia, tema ausente da campanha eleitoral. Este fim de semana o jornal “Público” fez um interessante trabalho sobre as preocupações dos jovens portugueses em véspera de eleições. Uma das inquiridas , que vive na Alemanha, Ana Rita Póvoas, afirma que gasta em supermercado na Alemanha o mesmo que gastava em Portugal, mas a sua renda de casa actual lá é muito mais baixa do que aqui e o seu ordenado superior. Outro caso: o jornalista Ricardo Dias Felner, que escreve regularmente no “Expresso”, está a frequentar um curso na Universidade de Viena e comparou preços de restaurantes, supermercados e habitação entre Lisboa e a capital austríaca. Vejam a comparação de preços de produtos idênticos entre supermercados em Lisboa e em Viena. Aqui vai , com a devida vénia, o que escreveu: seis ovos gama ML em Viena: €2,49, Lisboa: €2,39; Tomate San Marzano em Viena: €2,99, Lisboa: €3,69; Café solúvel em Viena: €4,99, Lisboa: €5,19; Vinagre, em Viena: €1,99. Lisboa: €1,79; Abacate, em Viena: €4,98/kg. Lisboa: €4,79/kg; Limão, em Viena: €2,29/kg, Lisboa: €1,99/kg; Pernas de frango, em Viena: €7,99/kg, Lisboa: €4,79/kg. Vinho branco bio, em Viena: €5,99, Lisboa €7,49; Sardinhas Nuri/Pinhais, em Viena: €3,90, Lisboa: €5,10 - até as sardinhas em lata produzidas em Portugal são mais baratas em Viena. Agora vamos aos restaurantes, seguindo mais uma vez Ricardo Dias Felner: um cachorro quente de salsicha Bratwurst num restaurante no centro de Viena, o Bitzinger, custou €6,50, menos €1,40 do que as salsichas da Wurst da Salsicharia, no Mercado de São Bento, em Lisboa. Um takumi ramen em Viena custou €15,80, exatamente o mesmo preço que o Ajitama, em Lisboa, cobra pelo seu ramen tontoksu. E um bowl de atum picante com abacate e algas, picles e arroz, custou em Viena €13,40, e o preço nos Poke House de Lisboa é 13 euros. E remata Ricardo Dias Felner: Um T2 em Viena custa menos €600 do que em Lisboa. Portugal está caro, sendo que aqui se ganha menos que noutros países. Quem fala disto nesta campanha eleitoral? E, sobretudo, como se resolve? Aqui está a pergunta a que nenhum dos debates eleitorais tentou sequer responder.
SEMANADA - Este ano, até final de Abril, a média diária de autobaixas solicitadas foi de 1266, um total de 198 mil; em três distritos quase metade dos bébes são filhos de mães estrangeiras; o número de estrangeiros em Portugal mais que triplicou nos últimos oito anos; no mesmo período houve mais 250 mil pessoas com cidadania; em cinco anos o numero de cidadãos portugueses que não nasceram no país passou de 12,7% para 16%; na agricultura e pescas 41% dos trabalhadores são emigrantes, no alojamento e restauração a percentagem é de 31%, em actividades administrativas é 28% e na construção civil é de 23%; no sector da construção há uma carência de 80 mil trabalhadores; a avaliação das casas subiu 16,9% em março e atingiu novo máximo; o debate realizado na semana passada entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos teve a mais baixa audiência nos debates realizados nos últimos dez anos pelos líderes dos dois principais partidos; um estudo da Pordata indica que 34% dos trabalhadores fizeram o ensino superior, enquanto entre os empresários o número é de 28%; entre 2022 e 2024, foram denunciados à Entidade Reguladora da Saúde 319 estabelecimentos que realizaram cirurgias estéticas de forma ilegal; em Abril as vendas da Tesla em Portugal tiveram uma quebra de 33%, na Suécia 80%, nos Países baixos 73%, em França 59%; mais de 60% dos partos em hospitais privados são cesarianas, o dobro dos partos cirúrgicos feitos no SNS; o sistema informático dos tribunais, Citius, está há cerca de duas semanas com falhas graves que impedem o cumprimento de prazos legais de notificação.
O ARCO DA VELHA - O conselho de fiscalização dos serviços de informações, que entre outras coisas investiga ameaças de cibercrimes, alerta que tem grande dificuldade em recrutar e reter pessoal qualificado.
UMA HISTÓRIA AMERICANA - “A Visita do Brutamontes”, é um romance da escritora norte-americana Jennifer Egan, vencedor do Prémio Pulitzer de Ficção em 2011. O livro, considerado um dos grandes romances norte-americanos deste século, foi originalmente editado em Portugal em 2012, e regressou agora às livrarias nacionais, com nova capa. O romance segue a vida de Bennie Salazar, antigo punk rocker, que está a envelhecer e se torna num executivo de uma editora discográfica que fundou e obteve sucesso. Sasha é a sua assistente, uma mulher impetuosa e cleptomaníaca e, apesar de Bennie e Sasha nunca chegarem a descobrir o passado um do outro, o livro mostra-os até ao mais íntimo detalhe. Da mesma forma percorre a vida secreta de um grande leque de personagens, de guitarristas pós-punk a ditadores de pequenos países, cujos caminhos se cruzam ao longo de muitos anos e muitos lugares como Nova Iorque, São Francisco, Nápoles e África. Jennifer Egan explora neste romance a interação do tempo e da música e a capacidade de sobreviver a mudanças e transformações, de forma muitas vezes hilariante e frequentemente inesperada. Edição Quetzal.
PINTAR NO AZULEJO - “Viagens entre Lisboa e Londres no Azulejo” é o título da exposição de obras únicas e originais de azulejo pintados por Paula Rego e Bartolomeu Cid dos Santos. Os dois artistas chegaram a Londres nos anos 50 e tiveram os primeiros e intensos contactos com o meio artístico londrino na Slade School of Fine Art. A Galeria Ratton, que se especializou em edições de obras em azulejo de artistas contemporâneos, trabalhou com Paula Rego e Bartolomeu Cid dos Santos desde finais dos anos 80. A viver e trabalhar em Londres, ambos os artistas foram convidados pela Galeria Ratton para empreender novos desafios e projectos de azulejaria ao longo dos anos. As “Viagens entre Londres e Lisboa” geraram sempre novas criações. A Ratton apresenta até 31 de Julho um conjunto de azulejos originais de 14x14cm pintados por Paula Rego e dois painéis originais executados pela artista em 1996, num trabalho para o Palácio Fronteira, em Lisboa. De Bartolomeu Cid dos Santos é apresentada uma seleção de azulejos e painéis individuais originais que há muito não eram apresentados ao público. Na imagem à esquerda está um painel de Paula Rego e à direita outro de Bartolomeu Cid dos Santos. A Galeria vai também apresentar alguns testemunhos escritos de Paula Rego e Bartolomeu Cid dos Santos numa publicação que será apresentada no dia 21 de Maio numa conversa que contará com a presença de Helder Macedo, Maria Filomena Molder e José Manuel dos Santos. A Galeria Ratton fica na Rua da Academia das Ciências nº2.
ROTEIRO - O Padrão dos Descobrimentos, que recentemente teve obras de conservação e melhoria, reabriu ao público com a exposição “O Milagre da Sardinha – Memórias e Mistérios de um Ícone Nacional”, que pode ali ser vista até ao fim do ano. A exposição mostra as muitas vidas da sardinha desde a Antiguidade até hoje, a sua imagem apropriada pela cultura popular e erudita e até pela publicidade. E procura responder a estas perguntas: como é que a sardinha se tornou um símbolo de Portugal e da cidade de Lisboa, em particular? Que acontecimentos, saberes e indústrias contribuíram para este fenómeno? Aqui está uma boa maneira de abrir o apetite depois de uma caminhada à beira do Tejo. Mais a oriente, rumando à Expo a boa notícia é que reabriu o Pavilhão de Portugal, desenhado por Siza Vieira. Agora nas mãos da Universidade de Lisboa, o Pavilhão de Portugal retoma a sua vocação inicial com a exposição “Meu Amigo e matalote Luís de Camões” que propõe uma leitura visual e literária contemporânea do poeta, cruzando literatura, arte e património. Entre as obras de arte originais, serão apresentadas esculturas de Simões de Almeida e Canto da Maya, pinturas de José Malhoa, Columbano, Lourdes Castro ou James Ward. Entre os desenhos, contam-se obras de Domingos António de Sequeira, Luca Cambiaso e Abraham Bloemaert e entre as fotografias, obras de Candida Hoefer, Thomas Ruff, Jorge Molder, Hiroshi Sugimoto e Luís Pavão. Na Casa Comum da Universidade do Porto a exposição “Uma viagem pelo asfalto, o rock no Porto nos anos 80” mostra documentos, objectos e fotografias que mostram a importância que a cidade tem tido na música portuguesa contemporânea.
UM PIANO - Para acalmar do ruído eleitoral não há nada como um bom disco onde o piano tenha lugar de destaque. A pianista chinesa Yuja Wang, 38 anos, gravou com a Boston Symphony Orchestra, dirigida por Andris Nelsons o álbum “Shostakovich: The Piano Concertos/ Solo Works” e a sua edição coincide com a evocação do 50º aniversário da morte do compositor russo Dmitri Shostakovich. A gravação foi feita no Boston Symphony Hall, uma sala com uma acústica excepcional. No disco estão incluídos os dois concertos para piano escritos por Shostakovich com uma diferença de 24 anos entre ambos e 6 peças de piano solo, da série de 24 prelúdios e fugas, Op.87 & Op.34. Edição Deutsche Grammophon, disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - A partir de 10 de maio, após obras que demoraram dois anos, abre ao público a renovada Sainsbury Wing da National Gallery, em Londres. O espaço acolherá uma nova selecção e montagem da colecção da instituição, com obras da Idade Média e Renascença de nomes como Leonardo da Vinci, Botticelli and Piero della Francesca. Ao mesmo tempo, a National Gallery, que celebra os seus dois séculos de existência, colocou em exibição toda a sua colecção, uma das mais importantes do Reino Unido.
DIXIT - “A corrida insana aos supermercados (no apagão) é o retrato de um país com fraca cultura cívica. Habituados a viver em paz, não nos sabemos comportar em crise. Habituados a consumir, não sabemos como partilhar.” - João Pereira Coutinho
BACK TO BASICS - “Nunca encontrei um homem que fosse tão ignorante ao ponto de eu não conseguir aprender alguma coisa com ele” - Galileo Galilei
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
Bric-a-brac avulso e bugigangas de uma feira de velharias deve ser das poucas coisas que hoje em dia se pode comprar com um euro. Em muitos sítios até um café já custa mais que isso. A moeda bicolor não chega para comprar um jornal diário, está as mais das vezes remetida a facilitar trocos. Das moedas mais pequenas, então, nem se fala: 50 cêntimos? 20 cêntimos? 10 cêntimos? 5 cêntimos? Todas elas são material para facilitar contas ou para arredondar as gorjetas e esvaziar o peso do porta-moedas. Mas há ainda menos: para que serve um cêntimo ou dois? Por estes dias fiquei estarrecido: o ano passado Portugal importou 26 milhões de moedas de um cêntimo e 34 milhões de dois cêntimos. São 60 milhões de moedas. Se fizermos a conta por alto, cada português levou com dez moedas destas cujo valor real é das coisas mais difíceis de explicar a alguém. Quando eu era miúdo havia na aldeia dos meus pais e avós, na loja do Senhor Pereira, rebuçados de tostão. Era uma coisa importante. Com cinco tostões trazia-se, negociando, meia dúzia de rebuçados para degustar à sombra de uma qualquer árvore, contribuindo para, anos depois, proporcionar a prosperidade a um dentista onde havíamos de aterrar. E hoje em dia? Há rebuçados de cêntimo? Ou, vá, de dois cêntimos? Qualquer coisa custa mais do que isso. Os ambientalistas já pensaram nos combustíveis fósseis necessários para transportar 60 milhões destas moedas? E já nem falo do processo de fabrico, que também há-de ser alguma coisa poluente. Antes do Euro, olhávamos para uma nota de 20 escudos e dizíamos tens aí 20 paus”? Uma nota de 20 escudos é hoje o mesmo que uma moeda de 10 cêntimos, já pensaram bem nisto? Ou seja vinte escudos, que era coisa que pagava umas imperiais, agora não dá para comprar quase nada.
(os pensamentos ociosos são publicados semanalmente na opinião de sapo.pt)
VOTO ÚTIL? - A instabilidade governativa não é uma novidade: desde as primeiras legislativas, de 1976, apenas seis dos 24 governos concluíram o mandato. Ao longo do tempo cresceram as distorções causadas pela Lei Eleitoral, um modelo criado há 50 anos. De acordo com um estudo elaborado pelo matemático Henrique Oliveira, do Instituto Superior Técnico, por causa dessa Lei, nas legislativas mais recentes, do ano passado, cerca de 1,2 milhões de votos (20,4% do total) não serviram para eleger qualquer deputado. São votos que se perdem nos círculos com menor número de deputados a eleger, como acontece numa boa parte do interior do país. Nos círculos eleitorais mais pequenos do território nacional - como Portalegre e Beja e nos círculos da emigração -, quase metade dos votos válidos não elegeram nenhum mandato. Em sentido oposto, cerca de 90% dos votos de Lisboa e de 84% no Porto servem para eleger deputados. O mesmo estudo mostra que o sistema eleitoral favorece os maiores partidos, que conseguem ver 90% dos seus votos convertidos em mandatos, enquanto os pequenos não conseguem passar dos 40% a 45%. Ou seja, a Lei Eleitoral está feita para facilitar maiorias políticas, mas apesar disso assiste-se à instabilidade governativa descrita acima. Em conjunto, o PS e os partidos que formam a AD recolheram mais de dois terços do total dos votos válidos em 14 das 17 eleições legislativas realizadas desde 1976. Um dirigente do Partido Socialista, Francisco Assis, reconhece que “este modelo funcionou durante muitos anos e está esgotado, confere demasiado poder aos aparelhos partidários e a quem os controla”. Um estudo da Pordata que recolhe dados eleitorais e resultados das legislativas desde 1976, mostra que desde que Portugal é uma democracia, o Partido Socialista formou governo por nove vezes, e sete destes governos ocorreram nas últimas três décadas. Assim, nos últimos 30 anos, apenas pouco mais de 8 anos corresponderam a um governo liderado pelo PSD. O PS esteve à frente do governo durante mais de 21 anos: entre 28 de outubro de 1995 e 5 de abril de 2002, entre 12 de março de 2005 e 20 de junho 2011 e, também, entre 26 de novembro de 2015 e 1 de abril de 2024. Aqui chegados, fica uma pergunta: para que serve afinal o voto útil?
SEMANADA - Em semana do apagão vale a pena lembrar que no sector do fornecimento de energia eléctrica registaram-se nos três primeiros meses deste ano mais 12% de queixas que no mesmo período do ano passado; um milhão de portugueses nunca vai ao dentista, 300 mil dos quais porque não têm dinheiro para pagar e o SNS só tem seis serviços de saúde oral; devido ao encerramento das urgências de obstetrícia, desde abril de 2024 nasceram cerca de meia centena de crianças em ambulâncias, em trânsito para hospitais distantes do local de habitação; segundo o INE em 2023 nasceram fora de hospitais ou de casa 302 bebés; o abandono escolar dos jovens com deficiência é o triplo dos que a não têm; em Portugal, em 2022, apenas 1,58% do PIB foi gasto com a protecção social das pessoas com deficiência, abaixo da média europeia, que é 1,87%; ao longo do último ano a Marinha portuguesa registou 437 acções de busca e salvamento, durante as quais foram salvas 388 pessoas; a comparência no Dia da Defesa Nacional é um dever de todos os portugueses quando completam os 18 anos, mas há mais de 10 mil cidadãos que faltam todos os anos e a maioria não justifica a ausência, nem regulariza a situação militar; no primeiro trimestre deste ano o número de pedidos de registo de invenções nacionais aumentou 19,3% para 241, segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
O ARCO DA VELHA - Um problema técnico atrasou de forma significativa a emissão de certificados de óbitos por via digital aos prestadores de saúde dos sectores social e privado, dificultando a realização atempada de funerais.
MANUAL DA SAUDADE - Se querem ter uma ideia como Miguel Esteves Cardoso era e escrevia antes de ser o MEC, que ficou conhecido pelo que escreve em jornais, revistas e em livros, este novo e inédito “Cartas para a Vila Berta” é a melhor forma de o descobrir. Em Outubro de 1975, data da primeira carta escrita para o seu amigo Carlos Vilela, e Setembro de 1979, data da última, Miguel Esteves Cardoso viveu em Manchester e fez na respectiva universidade o curso de Estudos Políticos. As cartas relatam a sua vida nesses tempos, dos 20 aos 24 anos. Carlos Vilela vivia em Lisboa, na Vila Berta, e nunca respondeu às muitas dezenas de cartas que Miguel lhe enviava, quase diariamente. Nessas cartas estão as suas impressões pessoais sobre a cidade para onde foi, o que lá viveu, as saudades que descobriu ter de Portugal. O Editor deste livro, Rui Couceiro, conta que “Miguel Esteves Cardoso escreveu e organizou estas cartas “já com o intuito de um dia as publicar” e sublinha que este livro “pode ser lido tanto com um primeiro volume da autobiografia do escritor, como enquanto romance de formação”. Por aqui passam as suas impressões sobre o que se passava à sua volta, as suas emoções e confissões, muitas pessoalíssimas. Em Dezembro de 1976, estava há pouco mais de um ano em Manchester, Miguel Esteves Cardoso conta a Carlos Vilela a sua aproximação à música que invadia a cidade e que se tornou numa das suas fontes de inspiração:“iniciei também a minha aprendizagem musical, leio livros, vou a concertos”. Pelo meio crescem as saudades e escreve: “estou tão apaixonado por Portugal”. No fim do livro, já a poucos dias de regressar a Portugal, escreve uma carta à Vila Berta basicamente com citações de Florbela Espanca, de Camões,de António Nobre, de Teresa Horta, de Bernardim Ribeiro, de Teixeira de Pascoaes e de Almeida Garrett. E deixa desenhado um fado que lhe vai crescendo na imaginação. (Edição Bertrand).
O DESAFIO DA PINTURA - Na Galeria Sá da Costa, ao Chiado, Pedro Chorão apresenta oito pinturas inéditas, acrílicos sobre tela, realizadas em 2024 e já este ano, sob o título “Diálogos Sensíveis”. São quadros que evocam memórias do artista e que resultam sempre de um longo processo de trabalho. No catálogo da exposição é publicada uma entrevista de Pedro Chorão a José Sousa Machado, o galerista da Sá da Costa. Nessa entrevista Pedro Chorão sublinha que “um quadro nasce pelo puro prazer da aventura e da atracção pelo desconhecido, imaginando e “sentindo” – mas também pela curiosidade e vontade forte de agarrar a ideia, seja ela a propósito de uma paisagem, um bicho ou uma ventania”. Pedro Chorão afirma que esta é uma das exposições “mais coesas que tem feito”. E sublinha: “Para mim o gozo todo está na procura do que ainda não experimentei. Pintar é resolver problemas. Os problemas são inúmeros e constantes. Tem que se ir resolvendo as questões que surgem, resolvendo problemas - é isso que é o trabalho da pintura. Trabalho para resolver problemas e o gozo é esse, é ter problemas para resolver. Cada quadro é um desafio completamente novo, sempre”. A Galeria Sá da Costa fica na Rua Serpa Pinto 19, ao Chiado e está aberta de segunda a sábado entre as 14h30 e as 19h00.
ROTEIRO - A Galeria Diferença (Rua de S. Filipe Neri 42) apresenta uma exposição de trabalhos pouco vistos e inéditos de Ana Hatherly, com edições póstumas certificadas, sob o título ”A Minha Escrita Secreta” (na imagem). No dia 8 de Maio pelas 18h00 André Gomes realiza no espaço da galeria, e a propósito desta exposição, a performance “O Pavão Negro” . Na Galeria Monumental ( Campos dos Mártires da Pátria, 101) Maria Pinheiro mostra até 24 de Maio a sua nova exposição de pintura “do fogo e do mito”. Em Braga, na Zet Gallery (Rua do Raio 75) Fernão Cruz apresenta até 18 de Junho a exposição “Sentinela” que, com curadoria de Helena Mendes Pereira, reúne um conjunto de oito trabalhos pensados como uma instalação única. Nas Caldas da Rainha, no Museu Leopoldo de Almeida, Miguel Palma e João Paulo Feliciano apresentam até 2 de Junho a exposição “Olho por olho, lente por lente” As obras de João Paulo Feliciano abrangem um período de 1993 a 2015, enquanto as de Miguel Palma são essencialmente as suas mais recentes criações. E em Lisboa, no MAC/CCB é apresentada até 28 de Setembro uma colecção de cartazes de propaganda política dos anos de 1974 e 1975 - “Cartazes sem Censura | 25 de Abril e a Revolução do «Verão Quente»” provenientes de colecções particulares.
O SAXOFONE - Passei os últimos dias a ouvir “Homage”, o novo disco do saxofonista norte americano Joe Lovano, acompanhado pelo trio do pianista polaco Marcin Wasilewski e que inclui o contrabaixista Slawomir Kurkiewicz e o baterista Michal Miskiewicz . Os mesmos músicos já haviam gravado em 2020 o álbum “artic Riff”. Agora com 72 anos, Joe Lovano consegue combinar a sonoridade do jazz norte-americano tradicional, que caracteriza a sua forma de tocar saxofone, com um trio europeu inspirado pelo free jazz - o tema que dá o título ao álbum, “Homage”, é disso um bom exemplo.. O entendimento entre músicos com formações e práticas tão diversas é surpreendente, sobretudo nos diálogos entre saxofone e piano como logo na faixa de abertura, “Love In The Garden”. O disco foi gravado em estúdio no final de 2023 em Nova Iorque, no final de uma semana de actuações no Village Vanguard, é editado pela ECM e está disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - Até 6 de Julho tem oportunidade de descobrir obras raramente vistas de Caravaggio, um dos grandes nomes do barroco, que estão expostas na Galeria Nacional de Arte Antiga, do Palazzo Barberini, em Roma. A mostra reúne, no edifício recentemente restaurado, 24 quadros que marcam a obra de Caravaggio. e inclui obras raras como “O Retrato de Maffeo Barberini”, que veio a público recentemente depois de 60 anos de sua descoberta e é um dos poucos retratos feitos pelo pintor. “Ecce Homo” é outra obra raramente vista que integra Caravaggio 2025. Redescoberta em 2021, a pintura faz parte da coleção do Museo Nacional del Prado, em Madrid. Outra obra há muito tempo não exibida na Europa é “Os Trapaceiros”, que pertence ao Kimball Art Museum de Forth Worth, nos Estados Unidos.
DIXIT - “Os sucessivos governos deixaram morrer a obstetrícia do SNS. Os hospitais públicos já não são para nascer” - Carmen Garcia
BACK TO BASICS - “A tecnologia é um instrumento para proporcionar ligações entre as pessoas e não para as substituir” - Josh Fehnert.
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
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