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(publicado no diário «Meia Hora» de Quarta-Feira)
Nota: depois deste texto estar escrito e publicado, novos desenvolvimentos no sector PSD, basicamente em torno das preocupações expressas por Ângelo Correia, reforçam o clima de desconfiança em relação a Luis Filipe Menezes.
Nos últimos dias uma série de figuras, com prestígio e peso político, começaram a sugerir que talvez conviesse considerar a hipótese de Marcelo Rebelo de Sousa se decidir a ir tomar conta do PSD. Para além do mito sebastianista que varre ciclicamente a sociedade portuguesa, esta questão merece alguma atenção.
Na realidade a desilusão com a incapacidade de liderança de Menezes, o desapontamento com a sua actuação política tacticista, volátil, ziguezagueante e inconsequente, atingem sectores cada vez mais vastos daquilo a que designarei por área de influência natural do PSD. Estes sectores olham para o futuro, percebem o afastamento do PSD da realidade e vêem o espectro de um partido único em regime democrático, com o PS a continuar a ganhar eleições, a reboque do poder que Sócrates impõe, e toda a oposição destroçada, excepção feita ao PCP.
Para a oposição interna do PSD a questão é a de saber quando precipitar a mudança de Menezes, sendo que a maioria, entre comodismo, conveniência e algum receio, se inclinam para deixar o actual líder ser derrotado nas sucessivas etapas do próximo ciclo eleitoral, para depois ser afastado sem apelo nem agravo, daqui a uns dois anos. Isto parece muito certinho, mas arrisca-se, à velocidade a que a situação se degrada, a deixar o PSD num estado de anemia profunda e reduzida expressão e peso políticos. Daqui a dois anos, por este caminho, o PSD está moribundo. Provavelmente nessa altura fará mais sentido criar um novo partido que reanimar um tão degradado.
Por isso, para o PSD, talvez valesse a pena que, se Marcelo se decidir a avançar, o faça antes do calendário eleitoral, sabendo de antemão que irá ter uma vida difícil. Eu acho que, quanto mais cedo começar a mudança e começarem a ser mandados sinais claros para a sociedade de que as coisas vão mudar, melhor.
Há uns meses atrás dificilmente diria isto: que venha Marcelo, que regresse à política activa, que se rodei de uma boa equipa e que mostre que também ele pode ter aprendido com os erros que cometeu no passado: menos intriga palaciana, menos atitudes de analista, mais atitudes de líder político. Se isso acontecer, a vida democrática em Portugal poderá melhorar, poderá haver mais debate e alternativa credível.
Na realidade uma reforma do PSD no sentido de recuperar as elites terá efeitos para além das suas margens partidárias – provavelmente terá repercussão entre o PP e sectores liberais não organizados. Será que Marcelo e os seus apoiantes conseguem avançar?
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