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(publicado no diário «Meia Hora» de 11 de Junho)
Hoje estou um bocadinho sentimental. Estou com saudades da rádio, da rádio que me acompanha desde miúdo, de ouvir emissões e programas, de sentir variedade e diferença, sem ser apenas uma enorme e monótona lista de discos que se repetem dia após dia, ou uma algazarra de conversas sem sentido nem utilidade
Lembro-me de quando ouvia rádio, ao pé da minha mãe, ela a querer que eu estudasse e fizesse os trabalhos de casa, e eu à procura das estações que tivessem música nova. Lembro-me de noites na casa dos meus avós, no Alto Alentejo, a procurar distantes rádios estrangeiras em onda curta e onda longa. Anos mais tarde lembro-me de ter gravado partes do álbum branco dos Beatles a partir de uma emissão em onda curta da BBC, no exacto dia em que ele foi apresentado em Londres.. Nesse tempo, não se espantem, não existia Internet, nem My Space. nem You Tube. As ondas curtas e longas eram o nosso terreno de exploração numa época em que o único computador que conhecíamos era o que aparecia em «2001-Odisseia No Espaço», o filme de Kubrick entretanto largamente ultrapassado pelos acontecimentos.
A rádio foi progressivamente sendo morta por programas que queriam ter graça mas não tinham nenhuma, por notícias ansiosas, por gravações de declarações a favor e contra repetidas vezes sem fim, a propósito de tudo e de nada. O estilo editorial «procura a reacção» deu cabo das notícias e, em boa parte, da rádio..A tentação de a rádio concorrer com a TV matou a própria rádio que hoje precisa de se reinventar.
Há pouco tempo voltei a ouvir rádio pela manhã para ouvir como o dia se desenha, Gosto da rádio que não se repete, que é capaz de me dar as duas primeiras horas do meu dia de forma diferente. Primeiro fartei-me das emissões de rádio que pareciam más emissões de televisão, depois fartei-me das emissões de televisão, sempre como mesmo bloco de notícias repetido vezes demais.
Acredito que a rádio se vai reinventar, acredito que é na diversidade, nos programas e nas diferenças, que a rádio vai ressurgir. Se calhar com programas mais curtos, entre os podcasts e blogs radiofónicos, utilizando redes sociais, facultando preferências personalizadas, se calhar com maior atenção ao que é local e de interesse para as pessoas, se calhar menos presa à agenda política de Ministros e de partidos. Eu gostava que fosse assim.
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