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(Publicado no diário Meia Hora de 25 de Junho)
Uma das especialidades da acção política é conseguir parecer que se faz muito, sem nada fazer de facto. Por exemplo José Sócrates e António Costa, um no país e outro em Lisboa, são mestres desse enredo. Falam, falam, prometem, prometem, inauguram, inauguram, mas depois vai-se a ver o que mudou e a coisa é bem pouca.
Dentro do mesmo género, mas menos elaborados, são por exemplo Mário Lino no Governo e Manuel Salgado em Lisboa. Os projectos que Mário Lino empenhadamente defende já se percebeu que não avançam, da mesma forma que Manuel Salgado gasta mais energias e recursos em exposições e no encerramento do Terreiro do Paço aos Domingos, que propriamente na reforma dos serviços de urbanismo e em medidas de recuperação da cidade.
Depois, há todo um outro género, que é o que vive de fazer o menos possível de acção política nas respectivas áreas, não se vá dar o caso de alguma coisa poder acontecer – é o que se passa com a Cultura, no país e em Lisboa (e no Porto também, mas isso é um caso de terrorismo do respectivo edil). No Palácio da Ajuda, onde fica o Ministério da Cultura, basta visitar o respectivo site da Internet para se perceber a ausência de definição de políticas, estratégias, prioridades ou reformas e nota-se que a acção mais pública do respectivo titular foi a inauguração de um museu dedicado aos comboios, que nem sequer está debaixo da sua tutela. Da mesma forma, a Vereadora da Cultura de Lisboa prima pela inexistência de qualquer actividade que não seja acabar com iniciativas que existiam e não se lhe conhece um pensamento sobre como tornar Lisboa uma cidade que acolha e promova a criatividade.
Poder-se-ia dizer que é falta de capacidade de comunicação. Não creio, é inacção. É não querer aparecer a tomar medidas, é não estar convicto do que se faz, é evitar tomar posição. Em política, cada vez mais, o que está a dar é não fazer nada, dizer o menos possível, esconder projectos, evitar concretizar.
A actual retórica política destina-se a afastar os cidadãos do debate, procura fechar o círculo da participação cívica, esforça-se por reduzir o número de protagonistas. O processo político em Portugal é cada vez mais autista, cada vez menos interessado no que fica para o futuro. Não é de estranhar que Portugal seja o mais pessismista dos 27 países da moribunda União Europeia.
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