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MAU - Um desespero, a discoteca da FNAC no Chiado. Cada vez tem menos coisas, cada vez é mais difícil encontrar discos, sente-se falta de reposições, quando se quer não se encontram empregados para consultarem o sistema informático e dizerem se existe o que se pretende. No aniversário da Bossa Nova, esta semana, terça à noite, não existia um único João Gilberto e não sabiam quando viria. Nos livros a desarrumação persiste – fiquei por exemplo a saber que o portuguesíssimo João Pereira Coutinho é um autor brasileiro – pelo menos está nessa prateleira. Resultado, cheguei a casa e encomendei os discos que queria na Amazon, onde encontrei o que pretendia sem dificuldade. Acho que foi a única vez que saí da FNAC sem gastar um cêntimo. E tão cedo não volto lá.
IRRITANTE - Amigos meus, que gostam de praia, contam-me uma história alucinante – por causa das novas regras dos parques de estacionamento acabaram os bilhetes de dia inteiro ou meio dia nos parques das praias. Contaram-me que a ASAE terá exigido que os parques da praia de S. João (na Costa da Caparica), deixassem o sistema antigo e passassem à taxação ao minuto. O resultado é que ao fim de semana há filas imensas, chega a demorar-se três quartos de hora a sair, tem havido cenas de quase violência, cancelas forçadas e má disposição geral no fim de um dia que devia ser de descontracção. Pior – as longas filas com carro a trabalhar contribuem para a poluição, fazem gastar combustível, enfim tudo o que se devia procurar evitar. Ele há leis absurdas quando aplicadas cegamente, não há?
DESNECESSÁRIO - Estava esta semana no Aeroporto de Lisboa, na zona das chegadas, e dei com um belo quiosque da ANA que ao lado tem um cartaz sobre o museu da empresa, mostrando uma fotografia de Fidel Castro a sair de Lisboa no dia 17 de Maio de 2001. A fotografia é absolutamente anódina – não se percebe onde foi tirada, podia ser aqui ou noutro local qualquer. É irrelevante do ponto de vista documental e fotográfico. E no entanto é esta a imagem que é oferecida pela ANA a quem chega (ou a quem espera quem chega). Aguardo ansiosamente que ao lado sejam colocadas fotografias de Hugo Chávez , talvez abraçado a Mário Soares ou a José Sócrates.
LER – Sabiam que há portugueses envolvidos na história do faroeste norte-americano? Pois há e vale a pena conhecer como fizeram parte da construção da lenda. Dois autores norte-americanos, Donald Warrin e Geofrrey Gomes, ambos professores em universidades da Califórnia, o último de evidente ascendência lusitana, têm investigado a presença de portugueses na América. Logo a abrir o livro, os autores citam Frederick Jackson Turner: « O verdadeiro ponto de vista da história desta nação não é a costa atlântica, é o imenso oeste». Neste livro há índios, comércio de peles, a corrida ao ouro, a contrução de linhas férreas ou a criação de gado, todos presentes em histórias protagonizadas por portugueses, muitas ligadas à caça à baleia, actividade que trouxe a maioria dos imigrantes portugueses para a costa do Pacífico. Vale a pena destacar o excelente prefácio de Joel Neto (um dos melhores jornalistas da sua geração), que chama a atenção para a maneira como os portugueses sempre preferiram viver em comunidades fechadas, nunca se envolveram na política nem em actos cívicos relevantes, seja na Igreja ou no sindicalismo, ao contrário de irlandeses e italianos. O individualismo e a competitividade, sublinha Joel Neto, reinaram sempre – e talvez aqui, digo eu, se possa explicar muito do nosso triste fado e o enorme desalento que varre o país. Não percam este «Os Portugueses No Faroeste, Terra A Perder De Vista», de Donald Warrin e Geoffrey Gomes, edição Bertrand, 450 pgs.
OUVIR – Confesso que uma das minhas primeiras paixões musicais foi música antiga inglesa tocada em guitarra clássica (ou guitarra espanhola como os britânicos lhe chamam). Ao longo da minha vida, ainda nos tempos do vinil, apanhei alguns discos de um intérprete lendário, Julian Bream, um autêntico menino prodígio que começou a tocar em público aos 12 anos. Especializou-se em guitarra clássica e alaúde e, especialmente, num dos grandes compositores ingleses da época Isabelina, John Dowland. Mais tarde interpretou também repertório de Bach escrito para o instrumento e foi em torno das suas interpretações destes dois compositores que ganhou fama em finais da década de 50, tinha então pouco mais de 25 anos de idade. A Deutsche Grammophon pegou agora nas gravações originais da época, tratou-as digitalmente e editou um precioso álbum em que Julian Bream interpreta precisamente Dowland e Bach. Se não conhecem, nem imaginam o que estão a perder; se gostam da sonoridade da guitarra clássica e de música antiga, nem hesitem. («Julian Bream plays Downland and Bach», duplo CD Deustsche Grammophon)
IR – Amanhã, sábado dia 12, o quarteto de Branford Marsalis toca na Cidadela de Cascais, integrado no XXVII Estoril Jazz, um clássico que vem pela mão de Duarte Mendonça. Hoje mesmo, sexta-feira, é a vez do quarteto de Bobby Hutcherson. Para quem gosta de outras músicas, o Optimus Alive no Passeio Marítimo de Algés, uma produção dirigida por Álvaro Covões, que oferece hoje Bob Dylan e Nouvelle Vague e amanhã Neil Young e Ben Harper, entre muitos outros – trata-se, de longe, do melhor cartaz de todos os festivais de Verão – uma boa lição de qualidade para a miséria de elenco que tem sido o Rock in Rio em Lisboa.
BACK TO BASICS – Quando o pessoal não sabe dançar, diz-se que a sala está torta, anónimo.
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