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(publicado no diário Meia Hora de 23 de Julho)
Se há coisa que estes últimos meses mostram é que o mundo passou a ser controlado pelos tiranos. Conjugando regimes onde a democracia é pouco mais que uma figura de retórica, baseados sobre fontes de energia natural de grande dimensão, muitos dos senhores do antigo terceiro mundo são agora verdadeiramente os donos do universo.
Ditam o preço do petróleo, trucidam as economias mais frágeis, atiçam a crise, fazem operações internacionais de bolsa que os tornam proprietários de grandes companhias do antigo primeiro mundo, impõem-se um pouco por todo o lado, fazem o que querem, como querem, quando querem. A sua arrogância é total, extravasa as suas fronteiras. Ditam condições, trocam negócios por apoios políticos que legitimem os seus regimes e forma de actuar.
Hoje, uma dessas figuras está de visita a Lisboa, Hugo Chavez, que nas últimas eleições no seu país usou como imagem de propaganda uma imagem sua ao lado de José Sócrates. Imagino que este périplo europeu que está a efectuar seja uma sucessão de «photo-opportunities» para uso em posteriores acções de propaganda.
Escudados na necessidade de obter vantagens económicas ou minorar os efeitos da crise onde se deixaram enredar, líderes europeus recebem (ou visitam) estas figuras, ignorando o que eles são na realidade, submetendo-se à sua chantagem, verdadeiramente aceitando fazer negócios com o Diabo.
Dentro das suas fronteiras a União Europeia exige o cumprimento de regras claras sobre os direitos do homem e o funcionamento da democracia – mas os auto-proclamados grandes defensores da Europa não se importa de fomentar regimes onde nada disso se aplica. O namoro do actual Primeiro Ministro português a figuras desta índole, as mais das vezes conotadas com uma esquerda que há muito se tornou mais reaccionária que qualquer direita europeia, é um facto que nos deve envergonhar. Não é um feito diplomático, é um ajoelhar perante tiranos – a semana passada Kadafi, esta semana Chavez.
Esta atitude, em matéria de política externa, conduz ao esvaziamento de valores fundamentais, coloca os princípios em segundo plano e, na prática, acaba por dar razão a todos os que defendem um princípio de actuação baseado num único lema: os fins justificam os meios. Não penso que seja uma boa forma de um país ser governado. A permissividade e o contorcionismo diplomático têm limites que Sócrates há muito ultrapassou.
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