Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A NOVA CORRUPÇÃO – Nos últimos tempos tem-se assistido ao surgimento de uma nova corrupção, que não tem a ver nem com vantagens pecuniárias, mas sim com vantagens políticas, poder e um recorrente espírito messiânico (o caminho da razão, a certeza de bem fazer, os detentores da verdade, os que só querem o bem do próximo desde que feito por eles). O maior exemplo deste espírito de corrupção política e ideológica está na Câmara Municipal de Lisboa e é personificado por José Sá Fernandes. Eleito pelo Bloco de Esquerda, foi-se distanciado da força que o elegeu com o também messiânico slogan «O Zé faz falta». Nos últimos tempos a sua posição confunde-se com a do PS e ele pouco mais é que um alter ego de António Costa- sempre em nome do bem colectivo. Esta forma de estar na política, ziguezagueando, é uma nova forma de corrupção do sistema, de total desrespeito pelos eleitores e de uma nova forma de demagogia e de populismo tão perigosa como todas as outras.
AS EXPLOSÕES – Sucedem-se as explosões nos bairros sociais da periferia das grandes cidades. O fenómeno não é novo nem nacional, existe um pouco por todo o mundo mas seria bom que, aqui, os responsáveis pelo que foi feito e os actuais responsáveis analisassem as causas e estudassem medidas. A «reinserção social» defendida pelas almas cândidas em meados dos anos 80 e princípios dos anos 90 tornou-se num barril de pólvora com rastilho curto. Ao longo dos anos o Estado, as polícias e as autoridades diversas deram sucessivos sinais de impunidade e de alheamento de tudo isto. Retomar capacidade de dissuasão, voltar a garantir segurança e conseguir exercer autoridade não vai ser tarefa fácil e, sobretudo, não se conseguirá concretizar apenas com palavras – este é o outro lado, mais fundo e perigoso, da crise do sistema judicial português.
POLÍCIA – Há semanas a polícia e os bombeiros foram chamados, por amigos e familiares, para arrombarem uma casa onde residia um casal de idosos que há dias não dava sinais de si. Uma vez dentro de casa depararam-se com um cenário de horror e destruição, com ambos os idosos com sinais de agressão e maus tratos, necessitando os dois de cuidados hospitalares. Pois a polícia, presente no local, não recolheu provas, não procurou indícios, não isolou o local, não abriu uma investigação. Limitou-se a fazer figura de corpo presente para a abertura da porta e fechou os olhos à realidade à sua frente. Será isto uma coisa normal?
AS FÉRIAS – O Primeiro Ministro foi a banhos depois de ter anunciado como exclusivo do seu Governo uma coisa que afinal que já existia há meses em vários países (o computador Magalhães que é o Classmate concebido pela Intel para os países do terceiro mundo). No regresso de férias anuncia como grande triunfo a criação de um call center da PT na zona de Santo Tirso, mas as duas centrais sindicais lançam críticas à política de emprego do Governo. Pior que isso, é brindado com uma declaração do seu amigo Hugo Chávez, que publicamente anuncia ao mundo que Sócrates lhe garantiu em Lisboa que a economia portuguesa estava estagnada. Pior ainda, tudo indica que não vai conseguir fazer a propaganda que desejaria em torno dos resultados portugueses nos Jogos Olímpicos.
CULTURA -. Da maneira que este Governo tem funcionado, mais vale repensar a existência, em próximos executivos, de um Ministério da Cultura. Falta de peso político, falta de estratégia e decisão, perca de iniciativa para a área da Economia e Turismo, paralisia das instituições, ausência de projecto, actividade residual. Para que serve manter uma máquina assim?
PETISCAR – Delicados filetes de linguado com açorda (fritos no ponto), amêijoas fresquíssimas, azeitonas excepcionalmente bem temperadas e, a rematar, a melhor talhada de melão do ano. Onde se passa tudo isto? No restaurante Rosita, na Estrada Nacional 10, na esquina com a estrada que liga a Brejos de Azeitão. Em cima sala para não fumadores, em baixo sala para cigarros. Fecha à quinta, ementa variada – picanha muito bem fatiada é uma alternativa para os carnívoros. Telefone 212 189 133.
LER – Um dos meus livros destas férias tem sido «Tóquio Ano Zero» de David Pearce, um «thriller» passado no Japão, em Tóquio, logo a seguir ao fim da Segunda Grande Guerra. Investigações sobre violações e assassinatos de jovens raparigas cruzam-se com o renascer do crime organizado, com a perseguição às autoridades do período da guerra, com a miséria que alastra pelo país. É um retrato pouco conhecido no ocidente, a miséria a conviver com o sexo, o cruzamento da investigação policial com as tradições e convenções milenares de uma sociedade em clara ruptura. Na origem a história, real, de um serial killer, Kodaira Yoshio, e do detective Minami que tenta deslindar os mistérios envoltos em jogos de poder. A escrita de Pearce é além disso notável, com um sentido rítmico perturbante e envolvente, por vezes a sugerir poesia no meio das mais complexas situações. Nota positiva para a boa tradução, de Rita Graña, para a editora «Tinta da China».
OUVIR – Esta semana destaco mais um disco da fabulosa colecção «Verve Originals» distribuída por cá no início do Verão. É uma gravação ao vivo, protagonizada por B.B. King e foi feita no Apollo Theatre em 10 de Novembro de 1990, com King a ser acompanhado pelo pianista Gene Harris e a Philip Morris Super Band, recheada de grandes músicos. É um disco de blues absolutamente imperdível, que abre com a versão de BB King para um original dos U2, «When Love Comes To Town» e passa por temas clássicos como «The Thrill Is Gone», «Sweet Sixteen» e «Since I Met You». CD «BB King Live At The Apollo», Verve Originals, Universal Music.
BACK TO BASICS –Oitenta por cento do segredo do êxito reside em aparecer o mais possível – Woody Aleen.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.