Uma das coisas que mais aflição me faz é a facilidade com que pessoas que nunca tiveram nenhuma experiência profissional relevante surgem, com tanta frequência, em cargos de responsabilidade dos partidos políticos e da vida política. Não são poucos os casos de pessoas que começaram a actividade nas juventudes partidárias e que ingressaram na política a tempo inteiro sem nunca terem tido um contacto diversificado e prolongado com o mundo real.
Estas pessoas chegam à política com pouca experiência de adaptação às mudanças, facilmente preferem alimentar guerras e abater inimigos a fazer negociações, habituam-se a viver no mundo da política, que é uma redoma com códigos e comportamentos próprios, viciam-se nos pequenos poderes e fazem análises a partir dos seus próprios interesses.
O retrato parece pessimista? Marques Mendes e José Sócrates, por exemplo, têm uma carreira essencialmente feita nos meandros da política partidária, com passagens reduzidas pela vida real, sem experiência de facto fora de organizações do Estado ou a ele ligadas. Estes políticos dependem dos seus partidos, da sua manutenção na política e muito rapidamente se enredam num terreno onde é fácil confundir-se o interesse colectivo com o interesse pessoal e onde a sobrevivência política se torna numa garantia de sobrevivência pessoal. O poder vicia e distorce a realidade.
Nestes últimos dias fiquei verdadeiramente espantado com algumas declarações de jovens que frequentaram a Universidade de Verão do PSD e que se declaram dispostos a ser políticos no velho modelo que hoje conhecemos - e que é a principal causa do divórcio cada vez maior entre os cidadãos e a política.
A política partidária actual representa um paradigma que está no fim de um ciclo que dura há cerca de 200 anos e progressivamente vai deixar de ter a importância que hoje lhe damos – é para este desafio de mudança que todos nos devíamos preparar. Aos poucos caminhamos para uma sociedade onde os políticos passarão a ser actores secundários e não protagonistas principais. A crise que atravessamos apenas fará acelerar a noção de que a actividade política não pode continuar a ser este jogo de habilidosos que desprezam de facto a vida das pessoas.