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(Publicado no diário «Meia Hora»)
Ele há dias em que até me apetecia simpatizar com o Governo. No início pensei que Sócrates teria uma genuína intenção reformista, mas ao longo destes anos fui perdendo as ilusões. Cada vez que uma crise grave sobreveio e a dureza das reformas propostas provocou desgaste na opinião publica, Sócrates resolveu o problema livrando-se das políticas e, se necessário, dos membros dos governo que se propunham executá-las. Correia de Campos, como bem recentemente confirmou, foi vencido pelo desgaste dos protestos. Mário Lino, que e um animal político, percebeu a tempo que mais valia engolir todas as patacuadas que disse sobre a inevitabilidade da Ota para assumir a opção que ele próprio classificou de impossivel, Alcochete. Mas o que interessa, no fundo, é a falta de determinação de Sócrates em manter-se solidário com políticas quando elas ameaçam os votos que sao o seu oxigénio. No recente comício de Guimarães percebeu-se que daqui até às eleições o que interessa é conseguir segurar votos.
O mais curioso neste cenário é que a decisão de voltar atrás nas reformas mais complicadas se deu um ambiente de maioria absoluta, com uma assembleia domesticada e uma oposição esfrangalhada e paralisada. Mesmo assim em vários sectores fundamentais as coisas ficaram por metade - saúde e educação - e noutros nem isso - como acontece de forma gritante na Justica, porventura o mais ineficaz de todos os Ministérios do Governo de Sócrates. É verdade que a modernização administrativa - e os vários derivados do simplex - avançou e hoje ,numa série de áreas, a vida é mais fácil. Mas as melhorias verificadas neste sector são, por exemplo, apagadas pelos abusos e excessos contra os cidadãos no gritante caso das Finanças, com os automatismos das punições fiscais a deixarem muita gente revoltada. Feitas as contas não é certo que este Governo tenha na sua matriz o respeito pelos direitos dos cidadãos.
Com eleições a um ano e com as propbabilidades de voltar a obter a maioria absoluta bastante ameaçadas, Sócrates encontra-se num dilema: não pode continuar a alimentar polémicas, vai precisar de muitas cedências para manter Manuel Alegre sossegado e tudo isso, por outro lado, vai fazer a erosão do centro direita que acreditou nele nas ultimas eleições.
Se com maioria absoluta o resultado está a ser o que se viu, sem maioria absoluta Sócrates arrisca-se a ser uma caricatura de si próprio e, pior que isso, o futuro nao augura nada de bom em termos de governação. Se a oposicao existisse e desse conta do que pretende fazer, esta podia ser uma ocasião de ouro. Mas como a oposição anda enredada em mostrar como tem um sono tranquilo, quer me bem parecer que temos pela frente um longo período de oportunidades perdidas, de reformas metidas no saco e de progresso adiado.
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