POLÍTICA - É muito curioso ver como os norte-americanos encaram e debatem as eleições presidenciais. Mesmo publicações científicas não hesitam em dar conselhos aos seus leitores sobre a forma como devem analisar os candidatos. A edição de 26 de Setembro da prestigiada «Science» sugere que cada leitor faça a sua análise a partir deste raciocínio: « como encara cada um dos candidatos a Ciência? Quais são as suas prováveis nomeações para os cargos científicos de designação presidencial?» E vai mais longe: é bom aconselhar os candidatos, questioná-los em debates com perguntas concretas sobre políticas concretas na área da ciência. E o circunspecto «New England Journal Of Medicine», de 2 de Outubro, não hesita: «Devemos ver quais os pensamentos dos candidatos sobre políticas de saúde, sobre a reforma do sistema e que soluções criativas trazem para esta área». Que bom seria se em Portugal as instituições e as pessoas começassem a pensar e a agir assim.
SARAMAGO – Curioso e educativo o comunicado da Federação dos Invisuais dos Estados Unidos sobre o filme «Blindness», baseado no romance «Ensaio Sobre a Cegueira», do Nobel José Saramago. Excertos: «Condenamos e deploramos este filme, mau para a causa dos invisuais. Os invisuais, neste filme, são retratados como incompetentes, sujos, viciosos e depravados. Aparecem retratados como sendo incapazes de fazer as coisas mais simples como vestirem-se e tomarem banho ou até encontrarem o WC. A verdade é que os invisuais geralmente podem fazer quase tudo o que as pessoas com visão fazem». Ora que dirá Saramago desta politicamente correctíssima análise do seu romance?
COISAS - Pragmatismo, pragmatismo é o Estado encomendar milhares de computadores a um fabricante que anda às voltas com um processo de incumprimento fiscal. Esta semana soube-se que os fabricantes do «Classmate» da Intel em Portugal, baptizado como «Magalhães» pelo Governo, têm sérios problemas com o fisco e assistiu-se a uma muralha de silêncio do Eng Sócrates, que até aqui tem sempre elogiado fartamente a empresa. Ora aqui está o caso de um fabricante que gosta de ter o Estado como principal cliente…e pelos vistos financiador…
TELEVISÃO - Olho para os últimos números de audiências dos três principais canais e constato a persistência da SIC no terceiro lugar. Olho para a programação destes três canais e vejo demasiados pontos de contacto e falta de uma oferta diversificada. Olho para os resultados e vejo uma TVI triunfante, a aumentar a sua distância na liderança. Ponho-me a olhar para a Impresa e os seus sinas de instabilidade (por exemplo na área comercial) e começo a pensar: será que o total dos leitores da «Visão» e do «Expresso» - um total de 1,3 milhões de pessoas - se revêem na programação da televisão do grupo? Poderá existir um canal generalista para públicos mais exigentes em termos de conteúdos? Como é que o futuro 5º canal se irá implantar, em termos de tipologia de programação, neste universo saturado de novelas, concursos e entretenimento corriqueiro? Num mundo que começa a questionar a eficácia dos sistemas tradicionais de planeamento publicitário e compra de espaço comercial em televisão -. o que quer dizer começar a pôr em dúvida o critério único dos GRP’s - a questão da qualidade das audiências volta a estar em cima da mesa. Fará sentido anunciar em simultâneo o mesmo produto, por exemplo, na «Visão», «Expresso» e «Sic»? Uma metodologia relativamente recente, que analisa os pontos de contacto dos públicos com os media, defende que esse tipo de planeamento é um desperdício numa sociedade em que o consumo da comunicação é cada vez mais fragmentado.
LER – Mais um debate lançado na edição de Outubro da revista »Monocle», cada vez mais indispensável para pensar o futuro das cidades. A revista defende que não basta ser criativo, é preciso ser produtivo e sublinha a importância das pequenas indústrias, das pequenas manufacturas e do comércio especializado para dinamizar e tornar únicos os centros urbanos. Quem se passeia nas animadas ruas de cidades como Nova Iorque é isso mesmo que constata – comércio diversificado sempre aberto, abundante escolha, pequenas oficinas ou ateliers um pouco por todo o lado mesmo no centro de Manhattan. É isso que faz a vida de uma cidade. Qualquer candidato às próximas autárquicas numa cidade devia folhear com atenção as edições deste ano da «Monocle» - poderia fazer um manifesto eleitoral diferente e bastante mais inteligente que o habitual somatório de lugares comuns. Nesta edição por acaso a revista recomenda cinco locais lisboetas: o Hotel Heritage Solar no Castelo de S. Jorge, o restaurante Galito, a loja «A Vida Portuguesa» (abundante sortido de galos de Barcelos com decorações inesperadas), os gelados de «A Veneziana» e o terraço do Bairro Alto Hotel. Boas escolhas.
OUVIR – O disco é surpreendente: mistura interpretações orquestrais com duetos entre guitarra e plano, recupera as vozes de James Taylor ou Renée Fleming em temas tradicionais e clássicos. A ideia veio de dois músicos de jazz, do pianista Dave Grusin e do guitarrista Lee Ritenour e inclui originais dos próprios e versões de obras de Fauré, António Carlos Jobim, Ravel ou Handel, entre outros. «Amparo» é dos discos mais surpreendentes e excitantes deste ano. CD edição Decca/Universal Music.
COMER – Regresso ao velho «Pote», no número7 D da Avenida João XXI, já a chegar ao Areeiro. Ao jantar, a meio da semana, sala meio cheia, serviço simpático – algumas caras que me lembram rostos de há uns 30 anos. O «Pote» é um clássico da zona da Avenida de Roma e mantém-se em grande forma – tal como as favas que nesse dia me serviram. Do outro lado da mesa o salmão grelhado estava suculento e no final um pudim flan à fatia, sem ar sintético, e um melão honesto, tudo a preços simpáticos. Telefone 218 486 397.
BACK TO BASICS – Num mundo cheio de opiniões em segunda mão, o importante é conhecer os factos em primeiro lugar – lema do «New York Times».