(Publicado no diário Meia Hora de 14 de Outubro)
Ele há dias em que não se sabe muito bem o que se passa neste estimado rectângulo à beira-mar plantado. Dizem-se umas coisas, atribuem-se umas responsabilidades, clamam-se por louros, mas depois nada se passa e ninguém gosta de exercitar a memória. Querem exemplos? Aí vai.
Durante meses e meses falou-se do Tratado de Lisboa como se o mundo dele dependesse. Há um ano o Governo considerava o documento uma importante vitória diplomática portuguesa. O Tratado esvaíu-se, ninguém fala dele - muito menos no meio desta crise – e o mais certo é que dele não fique rasto na História.
Durante os primeiros dois anos deste Governo a Cultura andou em bolandas sem se perceber o que a Ministra fazia no Palácio da Ajuda. Depois mudou-se o inquilino mas ele só dá sinal de vida em algumas cerimónias oficiais. Para uma série de efeitos práticos o Ministro que desenvolve acções na área da Cultura é o da Economia. Exemplos? Basta ver o que está agendado para Serralves, um programa em torno da Criatividade, em que o protagonista governamental é Manuel Pinho.
O campeão do jogo de cintura é no entanto Mário Lino, o homem que garante que tudo vai avançar e se tornou especializado em guiar em marcha-atrás. Confrontado com a necessidade de dar trabalho aos empreiteiros, desdobra-se em projectos que vão sendo adiados, modificados, e lá vai permanecendo com um ar bonacheirão a estreitar a influência francófona em Portugal, marcando as suas mais bombásticas declarações com palavras francesas – para todos os efeitos ele ficará conhecido como Monsieur Jamais.
Outro sector que sofre de amnésia galopante e tem esquecimentos frequentes é o Ministério da Educação. Se confrontarmos as intenções anunciadas com as realidades actuais, as diferenças são enormes. Pelo meio esqueceu-se de fazer avaliações rigorosas aos alunos, optando por nivelar por baixo, e abandonou as avaliações aos professores. Mas o campeão do esquecimento é Sócrates, o mais legítimo herdeiro do cognome «O Promessas», surgido nos últimos anos. Das dezenas de promessas de reformas anunciadas vai chegar ao fim da legislatura com uma taxa de execução pobre e percentualmente diminuta. Espero que alguém lhe lembre, nessa altura, aquilo que ele vai ter tendência em esquecer – tudo o que falhou.