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(Publicado no diário «Meia Hora» de 9 de Dezembro)
Um amigo meu, português mas que não vive em Portugal há muitos anos, tem um projecto, visto no seu país de residência, que gostaria de adaptar e trazer para Portugal. Lá fora o caso é um sucesso no centro de uma grande cidade, onde há consumidores que procuram produtos naturais e de qualidade. A conversa surgiu num jantar, com mais amigos, todos eles com alguma experiência.
Quando começámos a analisar a possibilidade de importar o conceito, surgiram logo várias questões prévias. Em primeiro lugar, em Lisboa, a proliferação de centros comerciais e de grandes superfícies dentro da malha urbana tornou qualquer aventura de comércio de rua arriscadíssima.
Depois, no que toca à desertificação, Lisboa é o pior de todos os exemplos. As sucessivas lideranças da autarquia continuam a privilegiar políticas urbanísticas que levam a que cada vez menos gente viva dentro da cidade. Depois, quem vive é castigado por taxas, burocracias, a Emel, várias agremiações oficiais de malfeitores ao serviço do Estado ou da Autarquia que têm por missão perseguir os cidadãos. Viver em Lisboa, no centro de Lisboa, é uma atitude de masoquismo - ruas fechadas ao fim de semana porque há festas, ou manobras publicitárias de carros ou simplesmente porque alguém na Câmara se lembrou de chatear os moradores e comerciantes – que por acaso são quem pagam os impostos que alimentam a voracidade da autarquia.
A cidade, ao longo dos últimos 20 anos, militantemente criou políticas urbanísticas – que aliás continuam – que atiram os habitantes para os subúrbios, que envelhecem a população residente, que proporcionam o encerramento do comércio de rua e das manufacturas. Lisboa deixou de ser uma cidade para se viver, é apenas um local onde se vai trabalhar. O resultado está à vista: Lisboa definha.
Quem abre estabelecimento comercial nas ruas de Lisboa tem que viver com a falta de estacionamento na maior parte dos locais e arrisca-se a levar em cima com as constantes obras do metropolitano que esventram a cidade anos a anos para além dos prazos estabelecidos (veja-se a pouca vergonha a que o metropolitano e seus empreiteiros sujeitam a Avenida Duque de Ávila).
A ideia do meu amigo é boa. Lisboa é que não tem uma política de acolhimento de boas ideias.
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