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(Publicado no diário MEIA HORA de 6 de Janeiro de 2009)
Há poucos dias o Governo decidiu autorizar a realização de obras públicas, por ajuste directo, sem concurso público, até ao montante de cinco milhões de euros. A crise e a necessidade de agilizar a execução de novas obras, como contributo para a dinamização da economia, foram as justificações apresentadas. Cinco milhões de euros? - Estamos aqui a falar de obras de uma dimensão razoável, um milhão de contos em moeda antiga.
Como que por feliz acaso esta decisão surge em ano de eleições legislativas e autárquicas – e já se sabe como as obras são sempre um bom argumento eleitoral. Na realidade eu fico completamente espantado com o descaramento da decisão e, também, com o silêncio cúmplice de toda a oposição.
Está visto que vai ser um ano farto em rotundas, obras e obrinhas, arranjos e arranjinhos. O bom senso diz que muito provavelmente, em vez de algumas obras estruturais, mais caras, mais importantes em termos de futuro, mas mais difíceis de autorizar, vão ser malbaratados milhões de euros por esse país fora para satisfazer interesses locais, interesses políticos, interesses partidários.
Uma questão de bom senso e realismo obriga a dizer que, para além dos trunfos políticos que estas obras podem significar, elas podem também auxiliar a encher os cofres das campanhas partidárias graças a generosas e agradecidas contribuições daqueles que forem escolhidos por ajuste directo para tantas obras. Não vai faltar quem queira contribuir e não há-de ser difícil encontrar quem se disponha a receber. É neste pântano que cresce a corrupção.
Gostava de ouvir mais pessoas pronunciarem-se sobre isto, no meio de tanto apelo à moderação, no meio de tanta hipocrisia a propósito de contenção, no meio de uma carga fiscal que não para de aumentar e que atingiu o maior valor de sempre no ano passado.
Se havia dúvidas de que o regime estava podre e que os partidos que o sustentam para lá caminham, a prova final está aqui. É fartar, vilanagem.
Bem podem os estrategas dos programas dos partidos, a nível nacional e local, desdobrarem-se em promessas de rigor, em juras de honestidade, em declarações de respeito pelo dinheiro dos contribuintes. Os protagonistas desta farsa são os coveiros da confiança dos cidadãos. Não peçam, depois, que as pessoas participem e vão votar.
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