(Publicado no diário «Meia Hora» de 10 de Fevereiro)
O Ministro Santos Silva é um daqueles acidentes da democracia – um regime masoquista que frequentemente permite a existência nos governos de inimigos confessos do debate de ideias e do pluralismo. Uma análise das principais intervenções conhecidas de Santos Silva mostra – logo desde o período pré-eleitoral que levou José Sócrates ao poder – uma forte marca de controlo e combate às diferenças, de desejo de interferência política nos media e um permanente abuso de poder em relação à oposição.
Teoricamente Ministro dos Assuntos Parlamentares, Santos Silva vive o cargo no exercício de uma maioria absoluta – se estivesse perante uma maioria relativa no Parlamento rapidamente se perceberia a sua inabilidade e a sua falta de capacidade de concretização de obra. Ele só consegue fazer o que não tem oposição possível. Quando se debate com oposição mostra uma total incapacidade de concretizar o que quer que seja.
Isto não é novidade na sua actuação – o personagem Santos Silva fez o tirocínio governamental nos governos Guterres de má memória. Aí foi um apagadíssimo e inútil Secretário de Estado na Educação, mais tarde Ministro da Educação, num cinzento mandato sem obra feita. Logo a seguir transitou para Ministro da Cultura, com a missão de resolver o caos em que o seu antecessor, José Sasportes, tinha deixado o Ministério – tarefa que não cumpriu, tendo a sua fugaz passagem ficado marcada pela paralisia da instituição. E isto, note-se, na área de especialização académica de Augusto Santos Silva.
Na sua actual função desde cedo mostrou o espírito arruaceiro, que agora o PS descobriu quando se insurgiu contra as divergências de Edmundo Pedro e Manuel Alegre e prometeu malhar nas diversas oposições à esquerda e à direita.
O principal traço da sua personalidade é uma prosápia e violências verbais que contrastam o ar apagado e de olhos no chão num diálogo cara a cara, a forma arruaceira como gosta de argumentar e a maneira como sacrifica qualquer diferença ao dogma do poder.
Deste homem, de quem não se conhece obra construída na vida real, à parte a sua actividade académica há muito interrompida, depende boa parte do controlo de informação sobre a rádio e televisão pública e a agência noticiosa. Na realidade ele é efectivamente o Ministro da Propaganda, um homem que só vive em regime de poder absoluto e que encara quem dele discorda como alvos a abater. É gente assim que está ao lado de Sócrates nas eleições internas do PS.