UNANIMISMO - Pronto. José Sócrates fez o Congresso do PS como quis. Não teve oposição. No seu partido já conseguiu o que quer para Portugal - é muito educativo olhar para o que ele fez no PS para entender o que acha ser o seu modelo ideal de funcionamento para o país – unanimismo, oposição calada, rivais afastados. Quatro anos a polir a imagem e a manobrar a comunicação deram nisto: um partido, uma voz, uma imagem, um homem.
TENSÃO – A crispação entre o Governo e a Presidência vai ter tendência a subir e não me admiro se a máquina de contra-informação do Governo começar a fazer das suas depois de Cavaco Silva se recusar a fazer as eleições legislativas em conjunto com as europeias e, sobretudo, depois de vetar a lei de restrição da actividade da comunicação que o PS pretende impôr, conhecida por «Lei do Pluralismo e não concentração dos meios de comunicação social», fruto das ambições de Augusto Santos Silva.
DÚVIDA – Ao lado de Manuela Ferreira Leite não haverá ninguém que a impeça de dar sucessivos argumentos ao PS, como foi o caso da desastrada declaração sobre o Congresso do PS? É que foi essa declaração que deu a Sócrates o pretexto para a transformar no bombo da festa.
LER – A «Monocle» é cada vez mais a revista das cidades, com o mundo dividido pelas grandes urbes e não por países. Nesta nova edição de Março o destaque vai para o que há a descobrir em Berlim (com um belo guia de compras na cidade),o mercado de arte na Europa, locais para descobrir o que de melhor há para comer no Cairo e para a história do artista plástico Oscar Bronner que fundou o jornal «Der Standard» porque não encontrava nada decente para ler em Viena. Para reter fica a indicação de que a música nova que vale a pena ouvir está no programa «Morning Becomes Eclectic» de uma estação de Los Angeles que faz reganhar o gosto pela rádio – a boa novidade é que pode ser ouvida on line em
www.kcrw.com (o arquivo de emissões recentes do programa indicado está disponível e indicado no site).
RECORDAR - Não resisto a referir a extraordinária conferência que Kjell Nordstrom proferiu na semana passada em Lisboa, por iniciativa da empresa de consultoria Strategos e deste «Jornal de Negócios». A sua intervenção foi focada nas tendências económicas e sociais e permito-me destacar o que ele apontou como uma tendência irreversível, a urbanização das sociedades, que levará as cidades a tornarem-se no principal pólo de actividade. Segundo Nordstrom, no mundo inteiro, em 2020, 75% da população viverá em cidades e em 2040 a percentagem atingirá os 90%. As consequências disto na forma de viver, de produzir e de consumir serão gigantescas – os países, defendeu o conferencista, terão tendência serem subalternizados em relação às cidades – por exemplo fará sentido falar de Lisboa, Porto, Madrid, Barcelona, Valência e Bilbao e não em Portugal ou Espanha. Dá que pensar…
OUVIR – A prova que Nina Simone era um caso raro de talento e de genialidade na interpretação vocal está num registo ao vivo, que a magnífica colecção «Verve Originals» agora disponibilizou. Gravado em 1987 no Vine Street Bar, em Hollywood, com Nina Simone ao piano e voz, Arthur Adams na guitarra e no baixo e Cornell McFadden na bateria, o disco inclui belíssimas versões de temas como «My Baby Just Cares For Me», «Just Like A Woman», «Stars», «Let It Be Me» ou «Sugar In My Bowl». CD Universal, disponível no mercado português.
COMER - Na Rua do Sacramento a Alcântara nº74 (perto do primitivo Hospital da CUF e do Ministério dos Negócios Estrangeiros) fica a Casa Toscano – Churrasqueira do Sacramento, um daqueles pequenos restaurantes, antigas casas de pasto ou mesmo tabernas, que com o andar dos anos se foram reconvertendo. Pois o local apresenta como especialidade o peixe muito bem grelhado na original brasa de carvão. A oferta diária de peixe fresco é vasta, a matéria prima é muito boa, e na sua época as sardinhas batem a concorrência de muitos outros locais. Para os apreciadores há uma raridade – cabeça de garoupa na brasa, em vez de cozida. As iscas da casa são famosas assim como a genuína «Dobrada à Porto» ou as caras de bacalhau. A casa vive de algum dialecto local – uma mesa para trinta é uma mesa para três pessoas, um viagra é um frasco de picante, meia perdiz é meio whisky, um mantorras é um peixe grelhado bem tostado no carvão e um alentejano é um queijinho de Évora. A casa está muitas vezes cheia mas a espera nunca é demorada. E a experiência vale a pena.
GOLPADA - Woody Allen está no meio de uma nova fase da sua carreira que se resume a isto: só faz filmes quando há Films Commissions a pagar. Depois de ter explorado o filão londrino, virou-se para Espanha com «Vicky, Cristina, Barcelona» e fez um postal ilustrado da capital catalã que é apenas salvo da vulgaridade pela presença fulgurante de Penélope Cruz, que faz Scarlett Johansson parecer uma anémica actriz amadora. Agora já se sabe que Allen vai filmar a Paris. Por este andar ainda cá chega… se entretanto alguém criar uma Film Commission que anda na calha pelo menos há quase 20 anos.
DEVORAR – Segunda-feira que vem é inaugurada no Museu Berardo (CCB) uma exposição fundamental para todos os que se interessam por fotografia. Intitulada «Arquivo Universal – O documento e a utopia fotográfica» aborda a missão e a história da fotografia, a sua existência enquanto documento, testemunho e representação histórica, através de 1000 imagens de 250 autores diferentes. A exposição foi organizada pelo Museu de Arte Contemporânea de Barcelona.
BACK TO BASICS – Nada é mais difícil do que a arte de manobrar para alcançar uma posição de vantagem – Sun-Tzu.