(Publicado no diário Meia Hora de 5 de Maio)
O que eu gostava para Lisboa era que fosse constituída uma Frente Para a Qualidade de Vida dos lisboetas. O que eu gostava para Lisboa era que a autarquia se empenhasse em manter o que está bem, recuperar o que precisa de obras e preservar o que merece ser estimado. O que eu gostava era de ver menos prédios derrubados, mais prédios recuperados, menos fúria de nova construção. E gostava muito de ver ruas limpas, bem tratadas, com árvores, passeios largos, esplanadas – o que se vê em outras cidades de pior clima e em Lisboa é uma raridade.
A Avenida da República e as avenidas novas são um exemplo do mal que foi feito à cidade ao longo dos anos. Belos edifícios foram demolidos só para que novos e geralmente desinteressantes prédios fossem erguidos. Em Portugal privilegia-se infelizmente a demolição e a construção em vez da preservação. Ao lado do local onde trabalho, um centenário e elegante edifício de gaveto foi apodrecido para ser demolido. Perdeu-se a mercearia que fornecia produtos rurais de boa qualidade e a alternativa única de compra está nos supermercados, todos iguais. Tudo isto vais descaracterizando a cidade, tornando-a mais incómoda para quem nela vive, tudo isto diminui a qualidade de vida, a possibilidade de escolha e, também, a diversidade das actividades económicas.
Outro exemplo? - Quem manda em Lisboa não se preocupa em resolver os incómodos, só isso explica que as obras do Metropolitano, que esventram toda a área do Saldanha, tenham sucessivos prazos de conclusão, cada vez mais longos. Estes atrasos não são penalizados? Quem manda no Metro?
Em ano de eleições lá aparece a recuperação dos quiosques – o que é uma boa medida, por sinal entregue e alguém que tem cuidado da tradição dos produtos portugueses – Catarina Portas. Mas mesmo a maneira como a Câmara tratou do assunto cheira mais a propaganda do que a estratégia, e o contraste com o abandono a que outros espaços são votados e à falta de medidas integradas (a Avenida da Liberdade é o exemplo mais gritante), provoca a maior desconfiança.
O que eu gostava era que espaços como o jardim do Campo Grande fossem bem cuidados, não fossem deixados quase ao abandono, que tivessem bons locais de encontro, esplanadas simpáticas e bom serviço. O estado em que o Campo Grande está é uma ofensa à cidade – simbolicamente em frente a um edifício onde estão alojados muitos dos serviços da Câmara Municipal de Lisboa.