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(Publicado no diário Meia Hora de 12 de Maio)
Esta semana li, algo surpreendido, um texto de propaganda sobre o que seria a política cultural da Câmara Municipal de Lisboa, protagonizada por António Costa. Publicada no sábado no «Público», a reportagem mostra um António Costa – pela primeira vez no seu mandato – preocupado com as questões da política cultural.
Presidente de uma vereação onde a Cultura é actividade acessória, confinada a estudos estratégicos de programa pré-definido e universo estreito, António Costa pouco mais fez do que mostrar como é presa de preconceitos e de lugares comuns, evitando falar de coisas concretas.
A estratégia de António Costa nesta matéria é curiosa: em vez de fazer uma política para a cidade, fez uma política e desenvolveu uma estratégia para querer seduzir pessoas, organizações e instituições ligadas às actividades culturais, dentro de um círculo razoavelmente restrito e com elevada dose de fidelidade política – na prática desprezou os públicos. O resultado é que a cidade perdeu aura, embora algumas pessoas tenham ganho ocupação subsidiada.
As iniciativas populares e o entretenimento – áreas marcantes da cultura popular contemporânea – têm-lhe merecido desprezo, substituídas por apoios avulsos a iniciativas muito especializadas e demasiado sectoriais. Mesmo num dos seus cavalos de batalha – a multiculturalidade, o seu mandato fica marcado pela extinção do África Festival, substituído por uma África.cont. que ainda ninguém sabe bem o que será e que, a bem dizer, não existe além do papel.
Mas o pior do curto mandato de António Costa em Lisboa tem sido a sua submissão ao Governo: foi assim com a Colecção Berardo, em que a Câmara devia ter imposto a solução do pavilhão de Portugal, na Expo, como equipamento receptor; foi assim no caso do inconcebível projecto do Museu dos Coches; foi assim na discutível transformação do Pavilhão dos Desportos num Museu do Desporto que ninguém sabe bem o que será e para que servirá.
O facto de em Lisboa conviverem instituições culturais nacionais com locais faz com que a Câmara deva ter voz activa nos equipamentos que estão na cidade. Mas como António Costa se demitiu desse assunto para não afrontar o Governo, Lisboa está no marasmo em que se encontra – à procura da fonte milagreira de onde brote o elixir que num instante transforme Lisboa numa cidade criativa – difícil quando se quer regulamentar e planificar a criatividade em vez de a deixar fluir.
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