(Publicado no diário Meia Hora de dia 30 de Junho)
A seguir às eleições europeias todos os quadrantes políticos, a começar pelo do Governo, mostraram preocupações com o aumento da abstenção e todos garantiram que o combate ao abstencionismo era uma prioridade. Falou-se muito na necessidade de dignificar a acção política. Num repente, que lhe passou rápido, o Primeiro Ministro até deu sinal de querer mudar de estilo. Foi sol de pouca dura, escassos oito depois voltou aos seus comportamentos habituais.
O que aconteceu na semana passada foi mais um empurrão para os abstencionistas e para os votos brancos e nulos – a verdade é que o folhetim da PT-TVI foi um manual sobre a utilização da ilusão e da mentira em política, um manual de desprezo pelos accionistas de empresas privadas em nome de interesses partidários.
Nos últimos dias todos ficámos a saber pelos jornais que aquilo que um Primeiro Ministro diz no Parlamento não tem que ser verdade, que os bastidores estão cheios de arranjos e combinações, que a falsidade na política é uma forma de estar que até parece natural. Com o comportamento assumido na semana passada no caso da PT-TVI o Primeiro Ministro e o Governo deram um mau exemplo que deve ter levado muita gente a pensar que mais vale uma abstenção do que um voto numa mentira.
Ainda o assunto não tinha esfriado e logo uma fonte do PS anunciou que tinha havido uma reunião para garantir apoios de nomes de centro-direita a José Sócrates nas próximas eleições. Nem 24 horas eram corridas e soube-se que os nomes propagandeados foram não a uma iniciativa partidária, mas a um jantar privado em casa do Ministro da Economia, que convidou vários convivas para trocar impressões, e não para manifestarem apoios ou desapoios. Um dos convivas, António Carrapatoso, deu-se mesmo ao trabalho de emitir um comunicado a distanciar-se das notícias veiculadas - e imagino que alguns outros o não tenham feito porque estão em cargos de nomeação governamental. Seja como fôr, o que aqui está em causa é de novo o paradigma da mentira como forma de actuação política, pelos vistos um comportamento recorrente nos círculos próximos de Sócrates.
Se isto continuar assim as campanhas eleitorais que estão a começar e que vão durar até meados de Outubro – quatro meses – prometem ser um manual de más práticas. Está instalado no Governo o espírito do vale tudo, de não olhar a meios para atingir fins. Quando a coisa chega a este ponto o resultado não pode ser bom.