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NEGOCIATAS – Nos últimos anos são muitos os casos de negociatas feitas à sombra da política – quase se tornou num hábito adquirido. A forma como se encara a questão das finanças na política é a grande culpada deste assunto e, na minha opinião, tem três planos de análise, todos eles em situação crítica: o financiamento partidário (cuja nova Lei é melhor que as anteriores mas ainda muito insuficiente); as limitações ao custo das campanhas; e os vencimentos dos titulares de cargos políticos. A questão dos limites aos custos das campanhas é das situações que mais proporciona o actual estado de coisas. Na verdade, ao estabelecer limites objectivamente baixos para os tempos que correm, fomenta-se o financiamento encapotado – já que os dinheiros não declarados se destinam em teoria  a pagar as despesas que ultrapassam os limites, situação que toda a gente sabe que existe na maioria dos partidos. O dinheiro ilegal que entra nos partidos serve para isto e a sua existência desculpa muita coisa. Nas autárquicas a situação ainda é pior – quer em relação aos partidos, quer em relação aos independentes (que são penalizados e nem o IVA podem deduzir – um escândalo!). A hipócrita forma como se proíbe a aquisição de publicidade em campanhas políticas fomenta o aparecimento de empresas, muitas vezes ligadas a pessoas dos aparelhos dos partidos, que exploram materiais de publicidade exterior não regulamentada, que desenvolvem marketing digital, que produzem sites, gerem actuação nas redes sociais, produzem filmes e por aí fora, tudo numa actividade semi-encoberta para não ofender a lei. O evoluir da tecnologia e do mercado impossibilita o pensamento angélico da Lei – um mundo onde a propaganda política e partidária nunca é paga e é feita de voluntariado. Em nome da igualdade (fictícia) de oportunidades para os concorrentes a eleições, na verdade fomenta-se o financiamento ilegal e proliferam empresas informais que concorrem abusivamente no mercado da publicidade e da comunicação – em resumo, é uma fantochada. Fantochada igual é a da remuneração dos cargos políticos – quando meros assessores de gabinetes governamentais ganham mais que deputados ou quando assessores de autarquias ganham mais que vereadores, o mundo está virado ao contrário. Enquanto isto não fôr mudado, prosseguirão os escândalos e há terreno para a corrupção e o compadrio medrarem.

 

ESCUTAS – Duas perguntas: Se Sócrates, como repetidamente disse em público, nada se interessava nem sabia sobre a TVI, porque era então esse um tema de conversa entre ele e o seu amigo Vara? E outra pergunta, mais dura: até que ponto as simpatias politicas, públicas, do Presidente do Supremo, Noronha do Nascimento, pesaram na sua decisão – nomeadamente de não haver qualquer pronunciamento antes das eleições legislativas quando o material já estava na sua posse? E, claro, é polémico – vários juristas o admitem - que caso existam suspeitas de relevância criminal numa conversa em que o escutado estava a ser vigiado dentro dos limites da Lei elas não possam ser investigadas. Por acaso a Lei que fundamenta a simpática decisão do Presidente do Supremo deriva de uma proposta do próprio Governo Sócrates. O cidadão comum, que não é jurista, acha que há coisas feitas por favor, conveniência e compadrio em todo este caso. Quando a política e a justiça vivem envolvidas num manto de mentiras e cumplicidades quem fica pior é o regime – a ética republicana anda mesmo por baixo em véspera de faustosas comemorações.

 

CULTURA – Por ocasião da tomada de posse deste Governo escrevi que a nomeação de Gabriela Canavilhas podia ser um bom sinal. Mas as suas primeiras declarações à imprensa, pondo a tónica na necessidade de, na Cultura, transformar o pouco de que se dispõe em muito, fazem-me lembrar as fatais declarações do seu antecessor, José António Pinto Ribeiro, que também entrou a matar com o lema de fazer mais com menos. A questão da política cultural é dupla: desde que Sócrates é Primeiro Ministro esta área tem tido uma completa ausência de estratégia e, por outro lado, tem objectivamente cada vez menos orçamento. De nada servirão as declarações de Sócrates sobre a importância do sector se continuar na prática a subalternizá-lo e a levar os seus Ministros a defenderem que a melhor omolete é a que se faz sem ovos. No fundo a Ministra da Cultura sabe que precisa de mais meios para poder criar uma nova estratégia – não faz sentido cair nos erros dos seus antecessores.

 

OUVIR – Tenho uma devoção especial pelos Eeels – estou a falar da banda rock norte-americana e não das enguias da Murtosa em conserva, que por acaso também fazem as minhas delícias. Eu gosto dos Eeels porque fazem canções simples, parecem genuínos e tocam de uma forma absolutamente arrebatadora,. Sou fã do seu mentor, Mark Oliver Everett, conhecido como E. , desde o disco «Beautiful Freaks» de 1996. Una anos depois, se a memória me não falha na altura do álbum «Daisies Of The Galaxy», eles actuaram ao vivo no Lux, em Lisboa e eu fiquei rendido à energia que saía de toda aquela simplicidade. De modo que quando este ano vi um novo disco da banda nem hesitei - «Hombre Loco», subtitulado «12 Songs Of Desire» é mais um trabalho magnífico. Se querem ter uma ideia do assunto procurem no youtube o video the «The Look You Give That Guy», protagonizado pela modelo, actriz e escritora Padma Lakshmi (avassaladora!), que faz olhinhos ao próprio Everett. Transcendente – musical e visualmente.

 

VER – Uma das revistas de que procuro não perder nenhuma edição é a portuguesa «L+Arte», sem dúvida a melhor publicação na síntese entre arte contemporânea, apresentação de novos artistas, noticiário de artes plásticas e o mundo das antiguidades. Destaque na edição de Novembro para o portfolio de António Olaio, para o artigo sobre a retrospectiva de Amish Kapoor em Londres e para um bom artigo de antecipação sobre as próximas Feiras de Arte em Lisboa e em Vigo.

 

LER – «Blackpot» é uma novela policial, até agora inédita, de Dennis McShade, ou seja, Dinis Machado. Tem 58 páginas, foi publicada pela Assírio & Alvim e lê-se de um jacto. Percebe-se também que foi escrita de um jacto, depois de muito pensada e estruturada. Tem uma narrativa veloz e formalmente invulgar e uma acção decalcada de uma tempestade. Se eu fosse realizador de cinema pegava já nesta história e filmava-a. Está escrita para ser um filme.

 

BACK TO BASICS –Raramente a verdade é pura, e nunca é simples -

Oscar Wilde.

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publicado às 09:54



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