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Começar uma reunião com quase 45 minutos de atraso, gastar cerca de duas horas e meia no período de antes da ordem do dia, e começar já tarde e a más horas a discutir temas concretos da gestão autárquica - como a carga fiscal a aplicar aos munícipes, este o resumo do meu primeiro dia na Assembleia Municipal de Lisboa.
Comecemos pela sala - cadeiras confortáveis para trabalhar, painéis de informação de cada lado do palco onde se senta a Presidência da Assembleia, um deles apagado, o outro de difícil leitura - inúteis portanto. A presidência da Assembleia está em cima do palco, os vereadores da Câmara estão mais abaixo com uma cadeira de espaldar mais alto a assinalar o lugar do Presidente da Câmara. Por todo o lado os telemóveis não Têm descanso.
Poucos computadores à vista - não se detecta nenhuma rede wireless, os deputados que quiserem aceder à internet trazem a sua própria plaquinha com o seu portátil. Pelo meio dos trabalhos diligentes funcionários distribuem papéis e mais papéis. A modernidade aqui é uma palavra relativa.
O período antes da ordem do dia é muito curioso: moções de pesar, moções de celebração, moções de evocação, moções de crítica à Câmara Municipal. A discussão é superficial e aliás inútil: quando cada documento é votado a mesa limita-se a ver como vota cada partido e anuncia o resultado pela soma aritmética do máximo de lugares presentes de cada formação, sem se preocupar em contar os votos efectivos nem os deputados presentes. Como as posições estão antes definidas em cada bancada, mais valia que fosse a conferência de lideres a decidir logo o destino desta parte dos trabalhos - poupava-se tempo e ganhava-se produtividade, um conceito pouco popular naquelas paragens.
Em boa verdade, os deputados, individualmente, não têm nenhuma margem de manobra e fazem apenas figura de corpo presente - as divergências com as lideranças das respectivas bancadas são reportadas e reprovadas e as posições individuais são rigorosamente controladas. Na verdade o voto dos deputados de pouco serve, apenas se tem em conta a decisão da direcção de cada partido ou formação na Assembleia. Aos deputados que têm problemas em votar a favor de uma proposta apresentada pelo seu grupo partidário é sugerido que na votação abandonem a sala para não se correr o desagradável facto de existir um voto não conformista. Não sei porquê, enquanto assistia ao espectáculo, só me recordava de um livro de Nabokov intitulado «Convite Para Uma Decapitação», no qual se acompanham os últimos momentos de um condenado por «torpeza gnóstica», ou seja, por não se conformar com o pensamento estabelecido como conveniente pela maioria.
Neste admirável mundo novo, pelo menos para mim, percebe-se bem o bas-fond da política: terça feira, por exemplo, percebeu-se que a cisão dos eleitos pelo Movimento Cidadãos Por Lisboa, de Helena Roseta, já estava anteriormente combinada com o PS, por forma a organizarem-se de forma autónoma, como antes das eleições - apenas esconderam o facto para iludirem os eleitores com uma ideia de unidade, falsa como agora se verifica. Aquilo a que assisti foi à revelação de um acordo espúrio patrocinado por Manuel Alegre, que levou pela mão Helena Roseta ao altar de António Costa para uma farsa de casamento político com divórcio a prazo contratado. Parece que isto é fazer política. Eu, na minha inocência, acho tudo isto extraordinário.
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