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ESQUINA 334 – 11 DEZ 09

 

PRODUZIR - O mundo mudou - e muito - nestes últimos anos. Numa recente conferência Augusto Mateus colocou o dedo na ferida: vivemos em sociedades que criaram instituições para distribuir riqueza, mas na realidade aquilo de que agora precisamos é que as sociedades se transformem e que criem e incentivem instituições que proporcionem os melhores mecanismos para assegurar a produção da riqueza – senão corre-se o risco de nada existir para distribuir e de o sistema ficar completamente desfasado da realidade. Para resumir, tem de existir um reequilíbrio entre os direitos e deveres de cada um.

A situação calamitosa das finanças públicas vem em boa parte deste desfasamento da realidade – persistir num modelo de compromissos passados, sem assegurar formas actuais de encontrar recursos para os cumprir só pode levar a mau resultado. A única forma de termos uma sociedade mais equitativa é assegurar que a sociedade seja mais produtiva e que assegure maior produção de riqueza.

 

PARTIDOS - Para que todas estas reformas sejam possíveis é fundamental que os partidos políticos assumam responsabilidades no ciclo de mudança e garantam a sua própria transformação. Na maior parte dos casos os programas e objectivos partidários estão desfasados de toda esta nova realidade e em vez de colocarem objectivos adequados aos novos tempos, persistem em promessas sem encararem o que é preciso fazer para que elas possam ser cumpridas. Os partidos políticos portugueses chegaram a uma crise de meia idade: a sua actividade pública e legal num quadro de democracia parlamentar está perto das quatro décadas. O sistema político, o sistema eleitoral e o próprio sistema partidário apresentam bloqueios e incongruências que se transformam numa grande incapacidade de acção e num progressivo envelhecimento das estruturas, dos militantes e dos quadros. De facto, á excepção do Bloco de Esquerda e do Partido Popular, os outros partidos parlamentares estão a dar sinais de esclerose, de envelhecimento da sua massa de apoiantes e simpatizantes e em graus diversos estão com disputas internas mais centradas em pessoas do que em ideias. A ausência de ideias e de vontade efectiva de as passar á prática é um mal generalizado que compromete a evolução do sistema.

 

CINEMATECA - Esta semana Maria João Seixas foi nomeada Directora da Cinemateca . Curiosamente as diversas notícias não referiram que durante vários anos ela foi, com Renée Gagnon, responsável por uma empresa, privada mas bastante subsidiada, que tentava distribuir filmes portugueses no mercado internacional. Essa é, na realidade, a sua mais forte experiência profissional no universo do cinema. Mais do que opinar sobre a pessoa escolhida, interessa-me opinar sobre o que a Cinemateca deve fazer – conservar, estudar, divulgar a produção nacional, preservá-la para o futuro. Por muito que isto custe a algumas almas bem pensantes, a razão de ser da Cinemateca é a conservação de um arquivo audiovisual moderno e não a programação da sala de projecção da Barata Salgueiro. O que interessa verdadeiramente saber é qual a estratégia que Maria João Seixas defende para a instituição – e eu espero bem que não seja um programa de acção principalmente exibicionista, em vez de um programa dedicado à organização, exploração e ampliação dos arquivos portugueses de imagens em movimento. Tenho para mim que quer Félix Ribeiro (que fundou a Cinemateca), quer Luís de Pina deram o grande impulso para que a Cinemateca tivesse um acervo importante e bem organizado. Bénard da Costa deu seguimento à componente arquivo, ao mesmo tempo que desenvolvia a componente de exibição – infelizmente pelo meio José Manuel Costa, que concebeu e criou o Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (uma estrutura exemplar na dependência da Cinemateca), abandonou a instituição sem que as causas estivessem explicadas – embora se adivinhasse que o desinvestimento na área que tutelava possa ter estado na origem da sua decisão. O equilíbrio entre estas duas áreas é decisivo para o futuro, sobretudo numa fase em que o vídeo e o digital alteraram completamente o universo do filme como o conhecemos actualmente. Sob pena de as próximas gerações terem um acervo e um património de imagens inferior, em termos de diversidade, qualidade, representatividade e actualidade, ao que a minha geração teve a felicidade de poder usufruir, é absolutamente fundamental que sejam definida uma estratégia para que a Cinemateca actue no século XXI e não permaneça apenas como uma simpática instituição do século XX.

 

SEGUIR – No próximo dia 16, na Rua de Santo António à Estrela 31B, a casa Leiria e Nascimento realiza um leilão de design e artes decorativas do século XX, com peças muito interessantes em vidro e cerâmica, mas também mobiliário de autor. Parte das peças vem do recheio original da Casa de Serralves. O catálogo pode ser consultado em www.leiriaenascimento.com. Este leilão marca o início da colaboração entre o coleccionador e galerista Victor Pinto da Fonseca com a empresa leiloeira.

 

LER – Se gostam de um bom policial não percam o mais recente romance de Francisco José Viegas, «O Mar Em Casablanca». Jaime Ramos, o detective de serviço à obra do escritor, percorre o país com algum desalento enquanto a sua investigação o faz recordar episódios da transição colonial. É um livro escrito com os pés no presente, cheio de referências a episódios passados, a adivinhar os efeitos futuros da transformação que se está a operar na sociedade portuguesa por via da crescente actividade, em todos os domínios, dos ex-colonizados em Portugal. (Porto Editora, 234 páginas)

 

OUVIR – Simples, quase ingénuo, divertido, o novo disco de Bob Dylan (o segundo este ano, o 47º da sua carreira) é uma recolha de temas tradicionais de Natal em interpretações muitas vezes inesperadas, desde «Here Comes Santa Claus», até «O’ Little Town Of Bethelem», passando por «I’ll Be Home For Christmas» ou «Silver Bells». Ao todo são 15 temas tradicionais, com arranjos muito curiosos, numa produção do próprio Dylan sob o nome de Jack Frost. Dylan doou todos os seus direitos, a título perpétuo, para a organização «Feed America» nos Estados Unidos e a duas outras organizações internacionais similares para as vendas fora dos Estados Unidos.(«Christmas In The Heart», Bob Dylan, CD Columbia).

 

BACK TO BASICS – «A arte é a mais intensa forma de individualismo que o mundo conhece» - Oscar Wilde

 

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