Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
XADREZ – A notação da Standard & Poor’s foi a chicotada psicológica que fez PS e PSD entrarem de repente num cenário de total pragmatismo, à moda da «realpolitik», procurando entendimentos práticos em detrimento de bases políticas. No cenário actual esta actuação, orientada a resultados, vai proclamar a sua bondade e necessidade para assegurar interesses nacionais, requerendo que se comprometam princípios ideológicos. Até aqui tudo bem. Mas a «realpolitik» é um jogo de xadrez feroz e tenho alguma curiosidade em ver como Sócrates e Passos Coelho vão movimentar as peças. E quem no fim termina com a desejada expressão «xeque-mate».
PRODUZIR – Qualquer que seja o jogo de xadrez que os políticos decidam fazer, há uma curta nota na avaliação da Standard & Poor’s sobre Portugal que, sendo cínica, põe no entanto o dedo na ferida: as medidas de contenção são boas, mas correm o risco de não favorecer o desenvolvimento da economia. No fundo há um horizonte que não pode ser perdido: quando se tem dívidas tem que se produzir mais para garantir o pagamento do que se deve; o nosso problema é que o nosso crescimento económico é baixo. Temos que produzir mais, vender mais. Isto quer dizer, como sempre e em qualquer caso, estudar e definir uma estratégia, desenvolvê-la e não andar sempre aos zigue-zagues. Parece básico mas a realidade é que isto não tem sido feito.
CRISE –A posição da Alemanha em toda a crise europeia é muito ditada pela proximidade das eleições regionais do próximo dia 9 de Maio, em que existe o risco de se esvaziar a coligação que sustenta o Governo de Angela Merkel. A oposição acusa a chanceler de esmagar a classe média com impostos, que no fim são canalizados para outros países. O cenário de instabilidade no Reino Unido, com os Liberais Democratas a arriscarem uma votação histórica no próximo dia 6, também condiciona o desenvolvimento próximo de uma posição europeia sobre a situação grega - que é o mesmo que dizer sobre a crise que ameaça o euro.
SEMANADA – Quem não quer saber do que se passa na Grécia nem na Europa é Manuel Alegre que apresenta a sua candidatura presidencial formalmente dia 4; a Assembleia da República foi paralisada por uma greve dos funcionários de apoio; o melhor discurso das cerimónias do 25 de Abril coube a Aguiar Branco com as suas citações de Lenine a Sérgio Godinho, mas sobretudo com a forma como gozou com o preconceito e como mostrou que a liberdade deve estar acima das ideologias; a melhor citação da semana vai para Domingos Amaral, que no «Correio da Manhã», e citando o discurso de Cavaco sobre a necessidade de Portugal se virar para o mar, escreveu: «Se formos cínicos podemos sempre lembrar que já investimos no mar muito dinheiro com a compra de dois submarinos. Se calhar é esse o nosso maravilhoso destino marítimo: usar os dois novos e caríssimos periscópios à procura de um novo milagre económico…»
CURIOSIDADE – As Comissões de Inquérito na Assembleia da República têm servido para evidenciar uma coisa muito curiosa: pelos vistos há imensos gestores de grandes empresas que não fazem a mínima ideia do que se passa dentro das casas que são supostos administrar.
VER –A partir desta semana há uma nova razão para se ir ao Lux: ver as instalações que um grupo de dez artistas plásticos lá colocou e que nos próximos dez meses transformam todo o espaço. Com o título «O dia pela noite» este conjunto de dez instalações é a forma de o Lux assinalar o começo desta nova década. De entre os artistas escolhidos estão alguns dos mais promissores da nova geração. Sem querer fazer destaques deu-me especial gôzo ver a forma como Vasco Araújo trabalhou o espaço da discoteca, como Rodrigo Oliveira interveio sobre a parede do bar principal e a cabina do DJ e como João Pedro Vale cenografou a entrada do Lux. Mas todas as dez intervenções merecem ser vistas e vividas, do fundo da discoteca, passando por todas as escadas até ao topo do terraço. O conceito foi desenvolvido pelo Lux em parceria com a Fundação EDP - e Manuel Reis está de parabéns por mais uma grande ideia bem concretizada.
LER – Não é absolutamente nada inútil folhear e ler a revista «Inútil». É certo que é um raio de um nome para uma publicação, mas também é certo que o título chama a atenção e dá logo vontade de pegar no objecto para descobrir o que lá está. A «Inútil» é uma daquelas revistas movidas pela paixão de fazer e editar. A sua directora, Maria Quintans, usa a revista que criou como se fosse uma galeria onde mostra palavras, desenhos, fotografias, grafismos, textos. É como se cada novo número da «Inútil» (este, dedicado ao TEMPO, é o segundo) fosse uma exposição colectiva onde se exploram e mostram várias ideias e vários caminhos.
OUVIR – Doris Day nasceu em 1922, começou como cantora numa banda de jazz e tornou-se depois uma estrela de Hollywood. Nellie McKay é bem mais nova, nasceu em 1982, e tem desenvolvido a sua carreira como cantora e como actriz, nomeadamente em stand up comedy. «Normal As Blueberry Pie» é o título do CD que agrupa 13 temas que em tempos foram interpretados por Doris Day, desde «The Very Thought Of You» a «Crazy Rhythm» passando por »Send Me No Flowers»? ou «Do Do Do». Neste disco Nelli McKay fez curiosos arranjos e orquestrações , canta, toca piano e umas percussões ocasionais. É um disco inesperado e divertido, uma bela homenagem a Doris Day..
PETISCAR – Volta e meia gosto de voltar aos restaurantes que só frequento ocasionalmente, como acontece com o Casanostra. Nunca fui assíduo do local, mas das vezes que lá me sentei saí sempre bem servido. Com 24 aninhos de vida completados no início de Abril, o Casanostra está na esquina da Rua da Rosa com a Travessa do Poço da Cidade, e surgiu como um restaurante que se propunha mostrar que a comida italiana não se resume às massas e à pizza. A aposta foi bem conseguida e volta e meia ainda me consigo surpreender com pratos que não tinha provado – como uns fígados de pato acompanhados de polenta que estavam absolutamente magníficos. Feitos na frigideira, com um molho consistente e saboroso, tinham um tempero irrepreensível. Casanostra, Travessa do Poço da Cidade 60, telefone 21 342 59 31.
BACK TO BASICS – Numa crise tenham em conta os perigos mas estejam atentos ás oportunidades - John F. Kennedy
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.