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PUBLICIDADE – Na minha actividade, a comunicação e a publicidade, o ano de 2009 foi difícil de passar e depositavam-se algumas esperanças de normalização em 2010. Com quase meio ano percorrido já se percebeu que o grande desejo é conseguir que não existam mais quebras de investimento. Depois de um arranque de ano promissor, a instabilidade geral tem levado os anunciantes a hesitarem, compreensivelmente, no timing das suas campanhas. Adiamentos, replaneamentos, cancelamentos são actividades que hoje em dia já quase ocupam mais tempo que o desenho normal de uma acção. O resultado de toda esta instabilidade não é bom para os anunciantes: perca de notoriedade, diminuição de eficácia, apagamento de marcas. Recuperar o que se perdeu vai ter sempre um custo – e nem sempre vai ser totalmente conseguido.
DESCONTOS – O mercado do espaço publicitário em Portugal vive de tabelas que não são cumpridas e de consideráveis descontos, que responsáveis de marketing de grandes contas pensam que podem sempre continuar a aumentar. Imagino que o que vou dizer não seja muito popular junto dos anunciantes, mas aqui vai: continuar a forçar descontos tem a prazo um efeito inevitável, que aliás já se está a sentir: diminuição da qualidade de conteúdos, seja na imprensa, na rádio ou na televisão. O aumento dos descontos traduz-se na diminuição da receita dos media e isto provoca inevitavelmente uma redução dos custos. Esta redução nos custos chegou ao ponto em que, a continuar a existir, compromete a qualidade dos conteúdos - e assim irá prejudicar as audiências obtidas e, finalmente, a eficácia das campanhas compradas com o desejado desconto reforçado. Quando se compra um espaço publicitário espera comprar-se contacto com audiências. Se os descontos que alguns anunciantes insistem em reivindicar aumentarem, eles poderão comprar o mesmo espaço – mas é garantido que estarão a destruir a qualidade e a quantidade da audiência. Aconselho os adeptos dos hiper-descontos a estudarem com atenção o que tem sido o êxodo de audiências – que é real e não uma previsão. A continuarem assim arriscam-se a conseguir grandes descontos e fracos resultados – ou sejam, exagerando, arriscam-se a anunciar no deserto – um deserto de que foram também responsáveis.
PRESSÕES – Numa altura em que quase toda a gente cede a pressões em nome da sobrevivência, é de saudar a coragem da PT em não ceder à pressão da Telefonica, de Espanha, no caso da proposta de compra da participação portuguesa no operador móvel brasileiro Viva. Mais do que pensar nos resultados imediatos, a PT está a pensar no longo prazo, a ter consciência dos limites criados pela dimensão do nosso mercado local e da necessidade de contornar esse limites, crescendo no exterior. Se o resto do país agisse como a PT nesta matéria talvez estivéssemos em melhor posição. O curto prazo tem sido o pecado mortal de Portugal nos últimos anos.
REALIDADE - Das promessas eleitorais, dos fantásticos planos feitos à pressa, passámos para um governo sem ideias, ziguezagueante, incapaz de mostrar uma estratégia. Leio nos jornais que o Governo, finalmente e de semblante contrariado, se prepara para fazer um esforço maior de reduzir o défice. Mas é com surpresa que vejo que esse esforço não é feito sobretudo de poupanças, de cortes nos custos e na despesa, mas fundamentalmente através das receitas de novos impostos. Da próxima vez que cada um de nós for votar vale a pena ver quanto se cortou na despesa e quanto se foi buscar ao aumento da receita, que é como quem diz, aos nossos bolsos. A política faz-se com resultados , com símbolos e com sinais. Um Governo que não dá sinais de querer aumentar a produtividade nem reduzir custos necessariamente está a dar um péssimo sinal para toda a sociedade.
FACTO - Os consumidores domésticos de electricidade em Portugal pagam hoje mais em subsídios do que em energia eléctrica propriamente dita, mostram os dados da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), nos documentos oficiais que suportam as tarifas fixadas para 2010.
PREVISÃO - Na situação em que estamos faz todo o sentido ler «The Next 100 Years», o livro publicado no ano passado por George Friedman, o mentor da Startfor, uma agência privada que se dedica a recolher e a estudar informação sobre as principais tendências mundiais. Do papel dos Estados Unidos na cena mundial à probabilidade de fragmentação da China, passando pelo conflito com a Al-Qaida, até ao apagamento da Europa Ocidental face a um novo bloco centrado na Polónia, o livro, escrito de forma cativante, leva-nos até ao cenário de uma terceira guerra mundial, no início da segunda metade deste século. Com base em abundantes informações e num grande conhecimento da geopolítica, Friedman descreve as próximas décadas como se estivesse a ler uma bola de cristal – mas tendo em conta o número de vezes em que ele acertou nas suas análises ao longo dos últimos anos, mais vale tomar alguma atenção ao que ele diz. «The Next 100 Years» - George Friedman, na Amazon.
OUVIR - Gil Scott Heron, 61 anos, não gravava há década e meia mas este novo «I’m New Here» é um belíssimo regresso, mostrando uma faceta mais intimista e melancólica de um dos precursores do hip-hop, um dos autores que melhor soube conjugar música com poesia. O título, curioso porque Gil Scott Heron faz neste disco um inesperado balanço da sua vida, serve de cartão de visita para a actual digressão que aliás passa por cá nestes dias: dia 15, sábado, na Casa da Música no Porto e dia 17, segunda-feira, na Aula Magna em Lisboa. O disco é verdadeiramente fora de série e os espectáculos têm tradição de serem memoráveis.
PETISCAR – O Funil está a funcionar há quase 40 anos nas Avenidas Novas com uma linha clara: comida tradicional portuguesa em ambiente confortável e recatado. Nas proximidades é do melhor que se pode encontrar, na relação qualidade-preço. Das lulas recheadas a favas guisadas com entrecosto, passando por cataplanas de borrego ou garoupa, as propostas são variadas. O serviço é atencioso e a garrafeira é razoável. Bom para uma conversa sossegada ao almoço. Avenida Elias Garcia 82 A, telef 217 966 007.
BACK TO BASICS – Ter dúvidas não é uma condição agradável, mas ter certeza é um absurdo - Voltaire
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