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No exacto dia em que começaram as celebrações oficiais do Centenário da República a imprensa diária informa que o défice disparou, que as empresas do Estado têm a dívida descontrolada, que o preço dos medicamentos sobe e que o Estado continua sem cortar na despesa. O balanço do regime no seu centenário é o maior desemprego das últimas décadas, uma justiça que não funciona, e problemas que se agravam na saúde e na educação. O endividamento externo de Portugal está a níveis nunca vistos, todos os dias há novos sinais de falta de confiança internacional no país, há uma crise política latente há meses - em boa parte culpada de toda a situação a que se chegou – um Presidente da República hesitante, um Governo autista, oposições oscilantes. Ao fim de cem anos de República os cidadãos desconfiam de políticos e de partidos, os números da abstenção em actos eleitorais continuam a crescer, o afastamento das pessoas da participação activa na política é cada vez maior. O país político é cada vez mais diferente do país real.
Vivemos há cem anos em República – os 16 primeiros anos foram de confusão e descalabro (com algumas semelhanças aos tempos actuais em matéria das finanças públicas), os 48 anos seguintes foram de ditadura e os 36 mais recentes foram ora de festa, ora de esperança, ora de desilusão – até aqui chegarmos. Se olharmos para o que se passava há cem anos atrás veremos que os principais males de que o país padecia continuam a existir. O regime mudou, mas não resolveu problemas nem melhorou, de facto, a vida política. O regime republicano em si poucas responsabilidades tem nos progressos que se verificaram - são fruto dos tempos, como aliás as monarquias do norte da Europa bem mostram. As comemorações a que agora iremos assistir são uma espécie de propaganda dos poderes instituídos, com gastos mais que discutíveis nos tempos que correm, e com uma alarvidade de expressões públicas que roça o indecoroso. Na realidade tudo se passa como se estes 100 anos fossem um mar de rosas, numa leitura acrítica e idílica do descalabro em que o país está a ser republicanamente governado. O descaramento é tanto que o Governo pretende aproveitar o 5 de Outubro para, nesse dia, inaugurar 100 escolas, depois de, ao longo dos últimos meses, ter imposto o encerramento de quase 4000 escolas. Mais do que uma celebração de um regime, as comemorações actuais são uma manobra de propaganda pura, que o actual Governo manipula em seu proveito, perante a complacência habitual do Chefe do Estado. A República não é uma ideologia, por muito que alguns pretendam. É apenas uma forma de organização do poder e por cá não tem dado grandes resultados.
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